Eu estava sentado em meu lugar e me pus a abrir o caderno para correção do exercício de casa, e então eu os vi entrando. Era a diretora que estava acompanhada do Nano. Sorri ao vê-lo e pude notar um sorriso tímido e discreto formar em seus lábios quando ele me viu.
- Que lindo! - Escuto Penélope, ou melhor, Punky, dizer.
Punky era minha colega há uns três anos, nunca fomos o que se pode chamar de amigos, mas eu achava ela legal, até aquele momento.
- Professora, esse é o Stéfano, ele fará parte dessa turma a partir de hoje. - Disse a diretora.
- Seja bem vindo Stéfano. - Falou a professora Catherine, de Biologia.
- Obrigado. - Falou timidamente. - Mas pode me chamar de Nano.
- Ok, pode se sentar em qualquer classe vazia, Nano. - Falou a professora.
A diretora saiu da nossa turma e Nano sentou na classe a minha frente, sorri ao vê-lo sentar tão perto de mim. Acho que eu teria um motivo para gostar da escola.
XXX
- Estou feliz que seremos colegas. - Falei durante o recreio.
- Eu também. - Sorriu timidamente.
Enquanto lanchávamos, Punky e Solange, ou melhor, Sol, vieram até a gente, digo, até o Nano, porque elas praticamente ignoraram minha existência.
Sol era a garota mais chata da minha turma, era esnobe, se achava demais, queria ser o centro das atenções e era muito galinha, só nesse ano ela já tinha ficado com todos os garotos da minha sala (eu fui o único que não cai na conversa dela) e ainda tinha ficado com metade dos garotos das outras turmas de ensino médio, com certeza ela também daria em cima do Nano, que pelo pouco que eu o conheço, acabaria caindo na lábia dela, o foda é que ela finge de apaixonada, fica uma ou duas vezes com o cara e depois que ela consegue ir pra cama com ele, ela termina, não queria que ela fizesse isso com o meu amigo, ele poderia acabar se apaixonando e eu não quero que ele sofra, ele não.
As duas garotas fizeram várias perguntas para o garoto, que ficou visivelmente sem graça, perguntaram de onde ele tinha vindo, quantos anos tinha e até se tinha namorada, dá para acreditar nisso? E eu lá do lado dele vendo tudo em silêncio e agradecendo mentalmente à minha mãe por ter me dado educação e por me me ensinar que um homem nunca deve mandar uma mulher tomar naquele lugar, porque a vontade de fazer isso foi enorme.
- Graças a Deus. - Falei assim que elas se retiraram.
- Quê? - Me olhou surpreso.
- Ah, pensei que elas não fossem sair daqui nunca.
- Qual o problema? Não gosta delas?
- Da Punky eu até gosto, mas da Sol eu não gosto nada, ela já ficou com mais da metade do colégio, e descarta todos após ir pra cama com eles, abre teu olho.
- Pode deixar, eu sei me cuidar. - Sorriu. - Mas, o que foi? Ela te deu um fora e você ficou mordido?
- O quê? Claro que não, eu sou um dos poucos do colégio que nunca foi pra cama com ela. E… Bom, ela não faz meu tipo.
- E qual é o teu tipo?
O olhei por alguns milésimos de segundos, seus olhos se encontraram com os meus e mentalmente eu me fiz aquela pergunta, tentei pensar qual era o meu tipo, mas eu não sabia, se eu nunca tinha namorado e nem me apaixonado por uma garota antes como eu poderia saber qual era o meu tipo?
- Eu… Eu não sei. - Baixei a cabeça.
- Não sabe? - Me questionou meio incrédulo.
- Eu nunca gostei de ninguém antes, como posso saber?
Ele me deu um leve sorriso enquanto eu fiquei meio sem graça, ainda bem que em seguida o sinal da escola tocou acabando com nosso recreio.
XXX
Assim que Leslie e eu chegamos em casa encontramos nossa residência em pleno silêncio, nos olhamos sem saber onde nossa mãe e Gary estavam e começamos a procurá-los.
Fomos até a cozinha e vimos nosso padrasto cozinhando, o que era estranho, já que ele detestava cozinhar.
- Oi. - Falamos.
- Olá. - Parou de cozinhar e se virou para nós. - Como foram na escola?
- Bem. - Respondi. - E cadê a nossa mãe?
- Ah, ela não estava se sentindo muito bem e precisou ir ao médico, mas não é nada grave. - Deu um leve sorriso.
Olhei para minha irmã, que estava tão assustada quanto eu. Não, ele não podia ter feito o que eu achava que ele tinha feito, bater na gente era uma coisa (mesmo eu preferindo que ele batesse só em mim e não na Leslie), mas bater na minha mãe eu não permitiria.
- O que você fez pra ela? - Perguntei ao me aproximar dele.
- O quê? Eu não fiz nada. Tá maluco? - Voltou a cozinhar.
- Foi você, né? Fala, você que a mandou para o hospital?
- Eu não fiz nada, porra, vai pro teu quarto e me deixa quieto para preparar o almoço.
Leslie e eu nos olhamos, mas eu não conseguia acreditar nele, para mim aquele desgraçado tinha culpa, aquele olhar, aquele sorriso falso não me enganavam, era ele.
- MENTIROSO - Gritei tendo tua atenção para mim. - Você a bateu, não foi? Seu bosta. Eu te odeio.
- Jesse, não. - Falou minha irmã já preocupada.
Notei o olhar de Gary, um olhar de psicopata e eu já sabia o que aconteceria, talvez não tenha sido uma boa ideia confrontá-lo, mas eu precisava, pela minha mãe eu faria isso.
O homem se aproximou de mim e eu me afastei temendo-o.
- Vá para teu quarto. - Falou para Leslie.
- Mas…
- AGORA! - Levantou a mão para minha irmã, que se esquivou e saiu correndo.
Gary me pegou pelo braço e me levou até meu quarto, onde ele me atirou em cima da minha cama. O olhei com repúdio.
- Tá se achando o valentão perto da sua irmã, não é? - Se aproximou de mim.
- Não.
- NÃO SENHOR!
- Não senhor, eu só…
- Eu vou te ensinar a ser bem valente, então.
Ele tirou o cinto da calça e eu já sabia o que aconteceria em seguida. O homem começou a me dar inúmeras cintadas, nas pernas, nas costas, nos braços, na bunda, e doía tanto, eu chorava muito e ele pedia pra eu ser homem, pra eu ser valente e engolir o choro porque homem não chora, segundo a cabeça doentia dele.
XXX
Após as agressões fiquei aos prantos em meu quarto enquanto eu planejava como matá-lo mesmo sabendo que eu jamais teria coragem de fazer isso, afinal, não sou assassino.
Ouvi cantar o barulho dos pneus, deduzi que ele havia saído, então corri para o quarto da minha irmã, e assim que entrei, a vi sentada em um canto, como se estivesse se escondendo, e acho que estava. Me aproximei dela, e Leslie me abraçou.
- Tá tudo bem. - Falei.
- Até quando? - Me perguntou com os olhos lacrimejados.
- Até quando nossa mãe quiser viver com ele.
A abracei com as poucas forças que me restavam e de repente escutamos alguns barulhos vindos da sala, nos olhamos com medo de Gary ter voltado para buscar algo.
- Ué, cadê todo mundo?
Era a voz da nossa mãe. Rapidamente fomos até a sala e a abraçamos.
- Onde a senhora estava? - Perguntei.
- Me senti meio mal essa manhã, acho que minha pressão baixou, ai resolvi ir ao médico, mas agora estou bem. - Acariciou meu rosto.
Leslie e eu nos olhamos aliviados por mamãe estar bem. Acho que dessa vez tínhamos nos enganado mesmo, a culpa não era do Gary, ainda bem.
XXX
À noite eu resolvi ligar para Nano, estava com vontade de conversar um pouco com meu amigo, e ele me falou que no dia seguinte levaria a Marylin para a delegacia para saber se tinha alguém a procurando, inclusive, acho que isso já devia ter sido feito, mas ele achou melhor esperar um pouco. Eu me ofereci para ir junto até a delegacia, afinal, eu fazia de tudo para sair de casa e não ter que olhar para o infeliz do meu padrasto, e seria bom estar com o Nano.
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