Jesse
Ter Nano tão perto de mim estava sendo terrível, a sensação de ter seus lábios tão próximos aos meus e não poder beijá-los era agoniante, sem falar que bastava isso acontecer para o meu amigo do andar de baixo dar sinal de vida, o que era tão estranho, já que eu nunca tive essa sensação antes de conhecer o Nano, mas ele… Ah, merda, ele me deixava tão excitado, e um parque de diversão não era um bom lugar para isso.
- Nano, respira.
Comecei a soprar levemente o seu rosto, na esperança dele se acalmar, parecia pálido, fiquei com muito medo da reação dele.
- Como você tá?
Para meu desespero, ele não me respondeu, fazendo eu ficar mais preocupado, nesse momento eu já nem lembrava mais a minha excitação de minutos atrás, pois tinha percebido que o caso era pior do que eu imaginava.
Por sorte, o brinquedo parou em seguida, ajudei o garoto a caminhar e fomos até um banco, ajudei ele a sentar.
- Nano… O que houve? O que você tem? - Perguntou Marilyn ao ir correndo até onde estávamos.
- Ele ficou com medo da roda gigante. - Falei.
Pedi para minha irmã ficar cuidando do garoto, e então fui comprar uma garrafinha de água e um leque, que estavam vendendo por conta do enorme calor que fazia.
Ao voltar, dei a garrafinha para Nano, que bebeu quase toda com um único gole, e enquanto isso fiquei abanando-o com o leque.
- Tá melhor? - Perguntei.
- Aham.
- Você me assustou. - Disse Marilyn ao abraçá-lo.
- Desculpa, pequena. - O garoto a abraçou também.
- Tão grandinho e com medo de altura, se vocês deixassem eu iria de boa naquele brinquedo. - Falou Mary Bell arrancando risos da gente.
- Oh mocinha, nenhum de vocês vai ir em brinquedo muito alto ou radical demais. - Falei.
- Ah, isso é tão injusto. - Cruzou os braços e deu uma leve revirada de olhos.
Como Nano já estava bem melhor, para minha alegria e alívio, nós fomos em outros brinquedos, dessa vez Leslie foi no Samba, enquanto Nano e eu levamos as crianças para brincar na montanha russa infantil que tinha o formato de minhoca, eu até me ofereci para acompanhar minha irmã, pois achava sem graça ir em brinquedos sozinho, mas ela negou, disse que eu não precisava me preocupar.
Bom, apesar do susto, nós nos divertimos muito, fomos em vários outros brinquedos, como Crazy Dance, Barco Vick, entre outros, foi um dia e tanto.
- Jesse, será que as meninas podem dormir lá em casa hoje? - Perguntou Martin. - Podíamos fazer uma festa do pijama, as vezes a gente fazia lá no abrigo, era legal.
- Oh, maninho, eu adoraria, mas acho que o Gary não ia gostar muito, ele não curte tumulto, nem muita gente, bagunça, falação muito alta, e essas coisas.
- Ah, puxa. - Baixou a cabeça decepcionado.
- E se a gente fizesse a festa do pijama na minha casa? - Sugeriu Nano. - Eu vou adorar e tenho certeza que o Tião não vai se importar.
- Oba! - As crianças comemoraram.
XXX
Horas depois, estávamos na casa de Nano, confesso que eu pensei que Gary não deixaria a gente ir, mas Martin pediu tanto, que o homem deixou por conta da criança, que alegou que só iria se Leslie e eu também fôssemos. Ah, e a mãe da Mary Bell não gostou muito disso, pois falou que a menina nunca havia dormido fora de casa, ainda mais em um lugar cheio de homens, mas Leslie disse que estaria junto e também falamos que teria crianças pra ela brincar também, e a menina estava tão empolgada que a mulher acabou autorizando.
Nós fizemos pipoca, guerra de travesseiro, vimos a um filme da Barbie com os pequenos, eu achei muito chato, assim como o Nano, mas as crianças adoraram, depois brincamos de karaokê, e de salão de beleza com as maquiagens que Leslie havia levado, todo mundo entrou na brincadeira, foi super divertido.
- Eu estava pensando... Os pequenos podem ficar no meu quarto e nós ficamos aqui na sala. - Falou Nano.
- Bom, se vocês não se importam, eu preferia ficar com as crianças, afinal, alguém tem que controlar a bagunça. - Disse minha irmã.
- Ah, isso é. Então, as meninas podem ficar na minha cama, e você se importa em dormir em um colchão com o Martin?
- Claro que não, Nano, mas e vocês?
- Bom, tem mais um colchão sobrando, posso colocar aqui na sala pro Jesse e eu fico com o sofá.
- Negativo, você fica com o colchão e eu com o sofá. - Falei.
- Bom, eu sou sou o anfitrião, então eu é quem mando. - Me deu uma olhada intimidadora.
- Ok, senhor anfitrião. - Brinquei.
Nós fizemos cachorro quente de jantar, e estava muito bom, ah, estava gostando tanto de ver as crianças felizes, e enquanto observava -os, parei para notar que os três tinham algo em comum: eles já haviam passado por momentos terríveis, Martin perdeu os pais muito cedo e teve que viver em um abrigo, apenas agora estava aprendendo a ser amado, e eu fazia questão de demonstrar meu imenso carinho por ele, já Mary Bell quase foi abusada e morta por um filho da puta, e Marilyn havia sido abusada por um velho asqueroso e nojento que devia ser extinto da face da terra, ah, não era para nenhuma criança sofrer desse jeito.
Por volta de 23h começamos a nos ajeitar para dormir.
- Meninos, vou para o quarto com as crianças, boa noite. Ah, e não precisam se comportar, podem fazer tudo o que eu não faria. - Minha irmã deu um beijo no rosto do Nano e depois em meu rosto, e se retirou indo atrás das crianças.
- Do que ela estava falando? - Perguntou.
- Ah, não liga, é bobagem da minha irmã.
Nano deu de ombros e se ajeitou para dormir no sofá, o olhei por alguns segundos e logo deitei no colchão, fiquei vendo-o se mexer de um lado para o outro, era visível que ele não estava confortável.
- Anda, deixa de ser bobo e vem dormir no colchão, eu fico no sofá de boa.
- Não precisa, eu já dormi em um banco, lembra? Só preciso encontrar um jeito que eu fique bem.
- Ah, como você é cabeça dura, já disse que posso dormir aí, eu não ligo, sério.
- Não, eu não vou deixar você dormir no sofá.
- Então, dorme aqui comigo. - Sugeri.
O garoto me deu uma rápida olhada, e para minha surpresa disse apenas um ‘’ok’’, e deitou ao meu lado para minha alegria, fiquei super surpreso com sua reação.
- Fiquei preocupado com você hoje no parque. - Falei.
- Desculpa, não queria te preocupar. Ah, acho que nem te agradeci por você ter cuidado de mim. Valeu mesmo.
- Não precisa me agradecer, eu gosto de poder te cuidar. - Dei um leve sorriso.
- E eu gosto que você me cuide. - Sorriu de volta, fazendo meu coração acelerar. - Hã… Bom, acho melhor dormirmos, né?
- É, se você quer, pode ser.
Ele sorriu timidamente e se virou para meu lado oposto, o olhei ali deitado, queria me aproximar, queria lhe acariciar, mostrar o quanto eu gosto dele, o quanto ele é especial e importante para mim, mas eu sabia que não era algo recíproco, então, preferi virar para o outro lado, e minutos depois acabei dormindo.
FLASHBACK ON
21 de fevereiro de 2009
Eu estava na sala brincando com a Leslie, enquanto mamãe preparava o almoço, papai havia saído, ficou um tempo fora, e assim que ele voltou pra casa, já foi logo me mostrando um novo quebra cabeça que ele havia comprado para mim.
- Olha só, que legal, filhão, podemos montar juntos, o que você acha?
Apenas dei de ombros enquanto seguia brincando com um joguinho de peças geométricas com a Leslie.
- Não quer montar comigo? É dos Carros, que você adora.
- Depois.
À noite, eu estava deitado em minha cama quando mamãe entrou em meu quarto.
- Vim te dar um rápido beijinho de boa noite. - Ela disse docemente. - Amanhã, eu acordo cedo para trabalhar e preciso descansar.
- E a Leslie e eu?
- Ué, vocês vão ficar com o papai.
- E a escolinha? Tô com saudade das profes e dos meus amigos.
- Eu sei, meu amor, mas as férias estão quase no fim, tá bem?
- Tá. - Falei cabisbaixo.
Ela saiu do meu quarto e eu custei para dormir naquela noite, estava inquieto, com medo, olhava para todos os lados bastante assustado, estava tão escuro, não conseguia enxergar nada, droga, detestava a escuridão.
No dia seguinte, eu estava em meu quarto jogando um joguinho no meu vídeo game portátil quando papai entrou, me pegando de surpresa.
- E ai, filhão, o que você está fazendo?
- Tô jogando, não tá vendo?
- Posso jogar também?
Entreguei o vídeo game para ele e sai do quarto, fui até a sala, liguei a TV no canal de desenhos e fiquei assistindo Tom e Jerry, mas logo ele veio atrás de mim.
- Eu não estou gostando do teu comportamento, você anda muito mal educado. - Falou.
- Eu não quero ficar aqui, quero ir pra escola! - Gritei.
- Então vamos, eu te levo e você fica lá sozinho na frente da escola, que está fechada, quer? Vem, vamos. - Pegou a chave do carro.
O olhei com raiva, queria dizer tudo o que eu sentia, tudo que estava engasgado, mas eu não conseguia, não sabia me expressar, estava tudo tão confuso, papai tinha mudado tanto comigo, ele não era mais o mesmo pai carinhoso e cuidadoso que um dia eu amei.
- Ou você muda esse comportamento por bem ou muda por mal. - Pegou fortemente em meu braço.
FLASHBACK OFF
Acordei ofegante, minha respiração estava muito pesada. Porra, odiava cada vez que eu sonhava com o homem que um dia foi meu pai. Ao me acalmar um pouco, senti algo me segurando, então percebi que Nano estava dormindo abraçado em minha cintura, dei um leve sorriso e me virei levemente para ele, ficando de frente para o garoto, o abracei também enquanto ficava vendo-o dormir. Ah, Nano era como um antídoto para mim, ele podia não dizer nada ou dizer muito, podia estar acordado ou dormindo, mas o simples fato de tê-lo perto de mim já me acalmava e já me deixava bem melhor, ah, se ele soubesse o bem que me faz...
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