História Asas Para o Amor (Romance Gay) - A Surpresa

Jesse

Dois dias depois…

Eu havia saído para passear com meu pai, infelizmente Leslie não pôde ir, pois acabou indo ao aniversário de uma amiga.

- E como você está? - Ele me perguntou.

- Estou bem. Agora tô bem. - Sorri enquanto o observava. - Senti sua falta.

- Eu também, carinha. Não teve um dia sequer que eu não tenha pensado em vocês. - Seu olhar era tão sincero.

Papai foi o melhor pai do mundo, extremamente amoroso, ele não nos deixava faltar nada, eu era muito pequeno quando ele se foi, mas nunca esqueci do amor que eu sentia por ele e do quanto eu sofri quando ele nos deixou, nunca tinha entendido o porquê, por muito tempo pensei que eu tivesse feito algo que o fez sofrer, ou que ele tinha se cansado de jogar bola comigo, somente depois de alguns anos eu percebi que eu não tinha culpa da decisão dele.

- Você não vai mais embora, né? - Perguntei.

- Nunca mais. Nem se você quiser.

- E eu não quero. Nunca vou querer.

- Ótimo, porque agora você e sua irmã terão que me aturar pra sempre.

- E que o ‘’pra sempre’’ demore muito para chegar. - Falei.

Papai sorriu, acho que com o que eu havia dito e então, continuou tomando seu sorvete. Era tão bom tê-lo por perto novamente. Enquanto eu o olhava saboreando sua sobremesa, eu pensei em contar para ele sobre mim e Nano, mas tinha medo dele não gostar mais de mim por causa disso, só que… Alguma coisa me dizia que papai não era esse tipo de pessoa.

- Pai… - Falei tendo sua atenção voltada para mim. - Eu… Eu estou… Eu estou ficando com uma pessoa. 

- Sério? Que legal, filho! Será que eu posso conhecê-la?

- Hã… Acontece que… Bom… Não é ela.

Papai ficou mudo por alguns segundos, o que me deixou meio apreensivo, mas talvez ele só estivesse digerindo a informação.

- Ah, entendi… Bom, se você quiser me apresentar ele.

- Você não se importa?

- Do quê? De conhecê-lo? Não, eu ia gostar.

- Não. Você não se importa de eu gostar de garotos? Já que o ‘’certo’’ é…

- O certo é ser feliz. - Me interrompeu. - Sabe... Quando eu olhei pela primeira vez pra você e pra sua irmã, eu jurei para mim mesmo que vocês seriam as pessoas mais felizes do mundo, não importava quem fossem, claro… Não cometendo nenhum crime e nem usando drogas, obviamente. - Eu ri. - Pena que eu não pude acompanhar os momentos felizes de vocês.

- O importante é que agora você está aqui.

- E sempre estarei. 

                                                                                     XXX

À noite, Nano e eu saimos para jantar, o levei ao meu restaurante preferido, escolhemos uma mesa na parte externa, pois era toda iluminada, dava um ar meio romântico.

- E como está a sua relação com o teu pai? - Perguntou Nano.

- Está ótima. Ele é incrível. Estou amando tê-lo de volta na minha vida.

- Fico feliz em te ver bem, tão contente... - Pegou levemente em minha mão que estava em cima da mesa.

- Obrigado. - Entrelacei meus dedos nos seus. - Ah, ele gostaria de te conhecer.

- Sério? - Perguntou surpreso. Acenei a cabeça positivamente. - Ah, legal. Eu adoraria conhecê-lo também.

- Eu já disse que você é incrível?

- Hoje não. - Sorriu fazendo eu sorrir também.

De repente olhei discretamente, sem Nano perceber, para o cara que estava no DJ e pisquei para ele, era o nosso sinal. E então começou a tocar a música que eu havia pedido para ele colocar quando eu desse o tal sinal, que era ‘’Maior Desejo, do Léo Xavier’’.

- Eu amo essa música. - Falei. - Hã… Você quer… Quer dançar comigo?

- Dançar? Com você? - Perguntou surpreso.

- É. Você quer?

- Tá. Quero.

Nos levantamos e fomos até a pista de dança. Confesso que eu estava meio envergonhado, por dançar com Nano em meio a uma pista vazia, com vários outros casais (héteros e LGBT´s) nos olhando, eu realmente não sei de onde tirei coragem, mas tudo fazia parte do meu plano e eu não podia mudar minha decisão.

Me aproximei de Nano, coloquei minhas mãos na cintura dele e ele fez o mesmo comigo, nós dois dançamos juntinhos sem tirar os olhos dos olhos do outro.

- Essa música é linda. - Falou Nano.

- Eu também acho. E… Eu escolhi pensando em você.

- Sério? - Perguntou surpreso. - Eu amei. - Sorriu.

Assim que a música terminou, apareceram quatros garçons (todos meus amigos, de tanto que eu frequentava aquele restaurante), cada um tinha um cartaz em mãos, eles pararam lado a lado perto da gente, e então, mostraram o que estava escrito nos cartazes, no primeiro dizia apenas ‘’Nano,’’, no segundo estava escrito ‘’quer’’, no terceiro ‘’namorar’’ e no última dizia ‘’comigo?’’.

- O que é isso? - Perguntou ao ler o que dizia nos cartazes.

- É uma pergunta. - Fiquei de frente para ele. - Responde. Você quer namorar comigo? Quer ser meu namorado?

- Eu… - Era nítido sua surpresa. - Eu… Claro… Claro que eu quero. Quero muito. Sempre quis.

Me aproximei dele e esquecendo totalmente que tinha várias pessoas nos olhando, eu o beijei, beijei com muita vontade, com muito desejo, escutei algumas pessoas nos aplaudindo, o que me deu uma imensa alegria e um calorzinho gostoso no coração.

Ah, caralho, eu estava namorando, e melhor ainda, eu estava namorando com o Nano, o que mais eu poderia querer? Era tudo o que eu queria para mim. 

                                                                                     XXX

- Você é maluco, sabia? - Falou enquanto nos dirigíamos para nossas casas.

- Sou mesmo, sou doido, louco, maluco, por você. - Falei lhe arrancando um lindo sorriso.

- Ai, meu Deus! Eu tenho o namorado mais babão do mundo. 

Sorri e dei um selinho no garoto, lhe arrancando um tímido sorriso, adorava vê-lo sem graça.

- Para comemorar o nosso namoro, eu queria poder dormir com você essa noite.

Arregalei os olhos com medo do que pudesse estar passando pela cabeça do garoto, pois se ele tivesse pensando em sexo… Não… Por mais que eu tivesse vontade, eu não… Eu não conseguia, e isso me deixava com tanta raiva, raiva de mim, raiva do meu corpo, as vezes raiva até da vida.

- Não, calma, eu pensei só em dormir mesmo, juntinhos, como já fizemos antes, sem mais nada, eu juro. - Falou.

- E eu acredito em você. - Sorri e lhe roubei um selinho. - Mas infelizmente hoje não vai dar, Gary resolveu pagar de ‘’legal’’ e quer fazer uma sessão de cinema em família lá em casa.

- Ah, que droga! Mas com certeza não vai faltar oportunidade.

- Não mesmo. - Dei um selinho nele.

                                                                                         XXX

FLASHBACK ON

30 de agosto de 2009

Mais de dois meses haviam se passado desde que eu contei meu segredo para a minha professora, e desde então, a minha vida mudou bastante, será que posso dizer que foi para melhor? Acho que sim, pois agora eu já não tinha mais o papai, e… Ah, eu sentia tanta raiva dele.

Leslie e eu havíamos ido para um lugar estranho cheio de pessoas estranhas, que eu nunca tinha visto antes, era tudo tão novo, ao mesmo tempo em que eu estava feliz, também estava assustado, queria a minha mãe, queria que ela voltasse logo de viagem, sentia tanta falta dela, não entendi para onde ela tinha ido que demorava tanto para voltar.

- Viu Leslie, agora tudo vai ficar bem. - Falei enquanto observava minha irmã brincando com alguns brinquedos.

Ela me olhou e sorriu, parecia que havia entendido o que eu havia lhe dito, mas eu sabia que não, afinal, era só um bebê, e se nem eu entendia direito, ela muito menos.

- Oi. - Falou uma jovem moça ao se aproximar de mim.

A olhei e então a vi bem perto de mim. Era ela. Era a minha professora, meu anjinho da guarda, minha melhor amiga.

Volta e meia ela ia me visitar, e eu adorava quando isso acontecia, era tão bom estar com ela, me sentia amado, protegido...

- Angie! - A abracei com tanta força, que não sei como não a machuquei.

- Oh meu bem… Como você está? - Perguntou ao me acariciar no rosto.

- Estou bem, gosto de morar aqui, mas… Mas preferia ficar com você, pelo menos, até a minha mamãe voltar para nos buscar.

- Oh, querido… Eu queria, mas… Não é fácil, existe uma coisa chamada ‘’burocracia’’, que existe para dificultar tudo, só quem pode ficar com vocês é alguém da sua família. Não é algo fácil, meu bem.

- Mas você podia tentar, né? 

Seu olhar parecia triste, o que me deixou da mesma forma.

- Ok, eu vou tentar. - Sorriu com os olhos tristonhos. - Mas… Não prometo que vou conseguir. Bom, eu passei aqui rapidinho só para ver como vocês estão.

- Eu estou bem, e a mana... - Olhei para ela que continuava brincando. - Ah, ela não está entendendo nada.

- Mas é melhor assim, né?

- É sim. Às vezes eu queria ter a idade dela para também não entender, para não lembrar... - Fiquei cabisbaixo, mas logo voltei a olhar para minha professora. - Prof… E o… E o meu pai? Ele vai ficar bem? Os médicos vão curar ele? Acha que um dia ele vai sair do hospital e que tudo voltará a ser como antes?

Era tudo o que eu mais queria, que papai se curasse e voltasse a ser um bom pai, o pai que eu amei algum dia, pois apesar de tudo, eu ainda tinha boas lembranças com ele, e isso era tão estranho, pois ao mesmo tempo que eu o odiava, também queria que ele se curasse e ficasse bom.

- Acho que sim, meu bem. E saiba, que tudo, tudo, tudo vai ficar bem, viu? Vai dar tudo certo. - Fez uma pequena pausa. - Bom, agora eu preciso ir.

- Eu adoro quando você vem me ver, mas odeio quando vai embora.

- Eu também, querido. - Sua voz estava tão triste, assim como o seu olhar. - Bom, deixa eu ir, prometo que quando der eu volto para te ver de novo, tá bem?

- Se não tem jeito... - Dei de ombros.

Ela me deu um beijo na testa e depois fez o mesmo com minha irmã. Fiquei a olhando ir embora, senti uma dorzinha no estômago, não queria que ela fosse, não sem mim.

- Jesse… - Tia Margarida me chamou. Me virei para a mulher de cabelos ruivos. - Por que você não vai brincar com os seus amigos? Eles estão lá no pátio brincando de pega-pega com o tio Alex.

- Não quero. Obrigado.

- E me conta… O que você quer fazer?

- Quero ir pra casa. Pra casa da profe Angie.

- Oh, Jess, eu sei, mas infelizmente não é fácil.

- É só isso que vocês sabem dizer ‘’não é fácil, é complicado, você não entende’’, mas o que eu não entendo é por que ninguém me escuta? Por que sou criança? Por isso não tenho direito a escolher o que quero? E você? Você me entende? Entende o que eu sinto? O que eu sinto aqui? - Coloquei a mão no coração. - Não, você não entende. 

Comecei a chorar e sai correndo em direção ao meu quarto, me joguei em minha cama e desabei em lágrimas.

FLASHBACK OFF

Guardei a foto, que estava em minha mão na gaveta da minha escrivaninha. Logo escutei alguém bater à porta do meu quarto.

- Entra. - Falei.

- O que você está fazendo?

- Nada.  Bom… Eu estava aqui lembrando da Angie.

- Sua professora, né?

- Aham.

- Sente muita falta dela, não é?

- Demais. Eu sempre quis saber como ela está, nunca mais a vi, e eu nunca a agradeci por tudo, se não fosse ela… Acho que só depois de anos eu pude entender a importância que ela teve em minha vida, ela foi essencial para o rumo que nossas vidas tomaram, e acho que eu serei eternamente grato mesmo que eu nunca mais a veja.

- Não fala assim. ‘’Nunca mais’’ é muito tempo. Já tentou procurá-la nas redes sociais?

- Já, mas não a encontrei, sem saber o sobrenome fica difícil, e talvez ela nem tenha redes sociais. - Baixei a cabeça tristemente.

- Tenho certeza que vocês ainda se encontrarão.

- Tomara. - Sorri e dei um beijo no rosto da minha irmã.

- Vem, o Gary já escolheu o filme.

- Ok, vamos…