Ele esta diante de mim, talvez sejam as luzes ou simplesmente o fato de estar sorrindo, mas seus olhos nunca brilharam tanto quanto neste momento.
- Que sorte lhe encontrar aqui. - A voz de Hastings parece quase um sussurro.
Meus lábios me traem e sorriem.
- sorte? - Disse.
Ele me encarou, seu cenho estava franzido.
- Por acaso a senhorita não acredita em destino? - Ele parecia estar me desafiando.
- Destino, sorte, tudo isso é o que é! E para mim nenhum dos dois faz o menor sentido.
Ele pareceu interessado no assunto.
- Vejo que tem uma opinião forte a respeito desta temática, será que posso lhe pagar um sorvete para debatermos melhor?
Foquei em seu rosto, algo nele, na verdade tudo, me desafiava.
- Eu acho melhor não, na verdade a minha amiga está me esperando e eu não devo deixa-la sozinha.
- Sua amiga não seria aquela que está na barraca de flores? - Ele apontou para uma das barraquinhas, Emma sorria enquanto Robert lhe entregava um buquê de rosas.
- Parece que ela não está sozinha.
Ok.
Precisava pensar em alguma outra desculpa.
E rápido.
- Eu...
Ele baixou os olhos, depois fitou os meus e uma corrente elétrica atravessou meu corpo.
- Bom, vejo que minha companhia não lhe é agradável, mas foi muito bom revê-la Senhorita Philips. - Ele deu um leve aceno e me deu as costas.
- Lily! - Eu gritei sem pensar.
Ele olhou para trás e parou de andar.
- O que disse? - Ele parecia confuso.
- Me chame de Lily!
Ele sorriu.
- E eu aceito o sorvete. - Por algum motivo que eu desconhecia eu não parava de sorrir.
- Então Lily - Ele começou a se aproximar até que ficou bem perto de mim. - Você prefere morango ou chocolate?
Iniciamos uma conversa inspiradora sobre os sabores de sorvete e sobre como seria ótimo se houvesse uma variedade maior.
Caminhamos por entre as barracas, até que chegamos a barraca das flores.
- Então, Conte-me sobre suas aventuras, Lily! - Ele observava os lírios, tocava delicadamente suas pétalas.
- Minhas aventuras? - Perguntei enquanto lambia o sorvete.
Ele voltou sua atenção para mim.
- Sim, você parece ser uma dessas garotas aventureiras.
Eu o observei, curiosa para saber como ele havia chego a esta conclusão.
- Eu? Uma garota aventureira? O senhor deve estar me confundindo com alguma de suas conquistas.
Assim que terminei a frase me arrependi.
- Me desculpe... eu não quis insinuar...
Então, do nada, ele começou a rir.
A rir não, gargalhar.
Eu fiquei imóvel.
- Desculpe. - Ele disse depois de se recuperar do ataque de riso. - Acho que é a senhorita que está me confundindo, não sou de ter conquistas.
E dito isso ele me encarou profundamente.
Novamente, aquela sensação de dejaví tomou conta de mim.
- Não é o que se comenta na sociedade.
Na verdade nunca ouvi nenhum boato sobre Hastings, a não ser que ele era muito rico e bonito, e que todas as moças solteiras o queriam, mas de fato, nunca soube que correspondeu a nenhuma delas.
Ele levantou uma das sobrancelhas.
- E o que se comenta?
Eu estava ficando constrangida.
- Nada de mais. - Falei enquanto observava um vaso com girassois.
Ele passou os dedos pela bancada onde as flores estavam expostas.
- Eu não me importo com os boatos - Ele falou por fim e algo naquela frase parecia estar sendo dirigida especificamente para mim.
Eu não olhei para ele, em vez disso fui em direção à barraca de doces.
- Porque você é sempre tão escorregadia?
Dessa vez eu me virei e acabei muito, muito, muito perto dele.
Centímetros nos afastavam.
Eu sentia sua respiração, quente, forte. Por algum motivo eu fitei sua boca, parecia tão convidativa, tão vermelha, tão...
- Will! - Uma voz feminina e melosa me tirou do transe. - Que surpresa vê-lo aqui e com ela...
Me afastei de Hastings e a vi.
A mesma garota que estava nos jardins no dia anterior, a mesma que fazia chacotas sobre mim e minha mãe.
- Miranda está é Lily! - Hastings nos apresentou e eu me detive em um leve aceno.
- Olá, senhorita Philips! Não tive o prazer de cumprimenta-la ontem, mas devo dizer que a senhorita está muito mais bem arrumada hoje. - Seu tom era cortante.
- Lily está tão linda quanto ontem! - Por algum motivo Hastings fez questão de dizer isto.
Miranda pareceu surpresa com a declaração dele.
Eu não fazia a menor questão de discutir com aquela garota, eles que se matassem.
- Então, será que posso fazer companhia para vocês? - Miranda pergunta com a cara mais deslavada do mundo.
Eu dei de ombros.
- Eu não sei...
- Ah, por favor! Eu fiquei de encontrar algumas amigas, mas acabei sozinha.
A garota era uma atriz de primeira, daqui eu enxergava o bando dela, várias delas juntas.
- Na verdade, eu estava indo deixar Lily em casa! E eu dei minha palavra a mãe dela.
Eu encarei William e quase ri do desespero dele em tentar se livrar de Miranda.
- Vamos, Lily! Sua mãe já deve estar preocupada.
Hastings não sabia disfarçar e me deu uma piscada nada discreta para que eu o seguisse.
Eu tinha duas opções:
1 - Dizer que ele estava mentindo e deixa-lo com aquela garota doida; ou 2 - Fazer de conta de que tudo que ele havia dito era verdade e sair de fininho.
Eu realmente fiquei com pena dele quando a garota começou a encara-lo.
- Vamos! - Disse por fim. - Foi um prazer, Miranda! - Meu sorriso falso nunca pareceu tão verdadeiro.
- Até logo, Miranda.
Ela não disse nada e não esborçou nenhuma reação, apenas nos observou indo "embora".
- Ela ainda está olhando? - Hastings perguntou.
Olhei para trás sem nenhum medo e vi uma garota bonita com a cara péssima.
- Está. - Disse rindo.
- Então vamos andar mais rápido.
Saímos da visão de Miranda e paramos perto do carrossel.
- Ela gosta de você! - Falei enquanto sentava no banco de pedra, debaixo de uma macieira.
Ele me encarou, praticamente incrédulo pelo que eu havia dito.
- Não!
- Gosta sim! - Falei entre risos.
Ele me olhou sério.
- Mas eu não gosto dela.
Seu olhar parecia me atravessar, como uma flecha em chamas.
- Se você diz!
Ele sentou do meu lado, e para evitar seu olhar, foquei no céu. As estrelas brilhavam de uma forma única e jamais vista por mim.
Quando baixei o olhar ele me fitava , e eu não pude deixar de notar que observava cada parte do meu rosto e meus cabelos também.
Eu foquei em seus olhos.
Se eu pudesse gostaria de mergulhar neles, eram tão bonitos e sinceros.
- Lily...
Eu olhei para seu rosto como um todo.
- Sim.
- Você é tão linda! - Ele tocou minhas bochechas com seu polegar e meus olhos se fecharam com esse toque.
Eu não sabia o que está a acontecendo comigo.
- O seu cabelo... Nunca vi nada tão incrível, parece os de uma ninfa, daquelas que só se vê nos livros antigos...
Eu sentia sua respiração, agora mais cadenciada.
- Eu não posso...
Seu nariz encostou no meu, e aquela coisa, aquela que eu não sei explicar o que é, tomou conta de mim.
- Lily... Eu...
- Hastings...
Então ele encostou, bem de leve, seus lábios nos meus, e foi como ser beijada por um anjo, delicado, simples e inesquecível.
- Eu gosto de você, Lily...
Abri os olhos, e o vi de olhos fechados, nunca tinha reparado nos cílios dele, tão espessos...
- Você nem me conhece direito!
Uma força estranha tomou conta de mim e eu toquei seu rosto, desenhei com os dedos cada traço dele, indo mais devagar quando cheguei as lábios.
- Será? Porque eu sinto que te conheço a anos.
Ele abriu os olhos.
Como eu podia resistir a essas palavras? Porque de alguma forma eu também sentia essa conexão, uma coisa de almas.
- Lily, nunca encontrei ninguém como você... - Ele se afastou de mim e as minhas mãos, que antes estavam em seu rosto, agora estavam soltas no ar. - Estive nos quatro cantos do mundo e nenhuma garota mexeu comigo como você mexeu! Eu sou adulto, sei que não posso exigir que corresponda, mas quero que tu saibas! E se tu quiseres ser só minha amiga, eu te respeito, e também adoraria... Mas saiba que pra mim, tu és muito mais que isso.
Nós nos olhamos pelo que pareceu ser uma eternidade e vendo que ele esperava por um sinal, eu simplesmente encarei novamente as estrelas.
- Voce parece gostar das estrelas - Eu assenti e ele continuou - conhece a histórias das plêiades?
- Não! - Falei.
- Bom, tudo começou com um romance entre o titã Atlas e a ninfa Plêione, eles tiveram sete filhas, as Plêiades, elas eram ninfas belíssimas, assim como você - Quando ele disse isso eu senti minhas bochechas queimarem de vergonha - e acabaram sendo cobiçadas por Orion, que as caçou sem parar, Zeus com pena as transformou em estrelas, sete estrelas no total, porém só seis estrelas brilham no céu.
Eu o olhava, admirada com sua inteligência.
- E porque só seis brilham? O que aconteceu com a sétima?
Ele sorriu.
- Há várias explicações, a mais famosa delas conta que seis das irmãs foram amantes de Deuses, e no entanto a irmã mais nova, Mérope, foi amada por um simples mortal e por isso seu brilho não é tão forte quanto os das outras.
- Mas ela não tem culpa, o amor não tem lógica!
Ele me olhava com tanto carinho.
- Eu concordo! Mas acho que ela foi a mais feliz entre todas, enquanto as outras eram apenas amantes, ela foi de fato amada.
Eu sorri quando ele disse isso, porém não pude deixar de pensar na minha situação e no quanto ela se parecia com a de Mérope.
Ambas fomos julgadas por amar alguém que não era para nós.
Será que assim como ela eu serei castigada?
- Lily - a voz de Hastings trouxe-me de volta à realidade.
- Diga.
Ele tocou minhas mãos e sorriu, no entanto, quando estava prestes a dizer algo, uma forte luz explodiu sobre nós.
Quando abri os olhos vi um homem, tirando fotos nossas.
- Que diabos você pensa que está fazendo? - Hastings perguntou.
Mas antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, o homem das fotos havia corrido.
- Que droga! - William passava as mãos na testa, claramente preocupado com algo que não dividia comigo.
- Fica calmo, é só uma foto! - Disse, tentando me aproximar.
- Você não entende, essa cidade, esse condado... eles fazem de tudo para ter sobre o que falar, essas fotos vão virar notícia, tenho certeza! Isso não podia acontecer.
Algo dentro de mim murchou, ele estava preocupado com a reputação dele, em ser visto com uma garota como eu, sem atrativos e sem dinheiro.
- Eu... - Quis dizer algo, mas infelizmente eu não sabia o que.
Então ele me encarou.
- Me desculpe, isso é tudo culpa minha! Se você não estivesse comigo, provavelmente sua reputação ainda estaria intacta.
Ele estava preocupado comigo?
eu quase ri.
- Você está preocupado comigo?
Ele me olhou, surpreso.
- Claro! Nunca foi a minha intenção te fazer passar por isso, na verdade acho melhor te levar para casa.
Eu me aproximei.
- Fica calmo! Eu estou acostumada a esse tipo de coisa. Só acho que não vai cair bem pra você sair no jornal comigo, eu nem sou fotogênica.
Ambos rimos e ele pareceu um pouco mais calmo.
- Eu vou resolver isso! Não vou deixar ninguém falar de você. - Ele prometeu e eu acreditei.
- Eu preciso ir agora! - Falei depois de ver o horário.
Ele assentiu.
- Eu posso te levar.
- O motorista de Emma vem nos buscar, só preciso achar ela.
Ele sorriu.
- Eu te ajudo a procurar.
Caminhamos pela feira, William acabou comprando alguns doces para que pudéssemos comer enquanto procurávamos Emma.
Eu já estava prestes a chamar a polícia quando a vi, no carrossel, com Robert.
Minha amiga estava linda, seus cabelos ruivos voavam enquanto o carrossel girava, ela sorria e parecia muito feliz.
- Ela gosta dele, não é? - Hastings indagou.
- Sim, mas como sabe? - Perguntei.
- Dá pra ver, como ela olha pra ele.
Eu observei novamente os dois, e ele estava certo.
Emma olhava para Robert como se ele fosse o único homem da face da terra.
Os dois saíram do brinquedo aos risos e Emma se surpreendeu ao me ver, ao lado de Hastings, esperando por ela.
- Vamos? Está na hora! - Falei.
Emma assentiu e voltou sua atenção para Robert.
Fomos escoltadas até onde o carro estava estacionado, Emma e Robert pararam atrás de uma das barraquinhas, enquanto William me acompanhou até a porta do carro.
- Então... Será que eu posso te ver?
Eu ri.
- Você já está me vendo.
- Eu quis dizer, amanhã, e todos os dias depois de amanhã.
Eu sorri, sorri de verdade.
- Tá falando sério?
Ele assentiu.
- Pode. - Falei.
Então um momento de tensão se criou entre nós.
Eu olhei para o lado e vi Emma vindo de mãos dadas com o tal Robert.
Sim, de mãos dadas.
o motorista parecia entretido com o seu cigarro e foi nesse momento que Hastings me beijou.
Na testa.
- Então, boa noite linda ninfa! - Ele disse baixinho, só pra mim.
- Boa noite! - Falei.
Eu entrei no automóvel e Emma fez o mesmo segundos depois.
Antes que o motor fosse ligado, olhei pela janela e vi William sorrindo.
Essa foi a última imagem dele antes do carro dar partida.
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