1. Spirit Fanfics >
  2. Até que a Morte nos Una >
  3. Por acidente

História Até que a Morte nos Una - Por acidente


Escrita por: Nuwandah

Notas do Autor


Finalmente, consegui fazer esse festival *0*
Inner: Ufa! e.e
Bem, as coisas vão esquentar mais um pouquinho daqui pra frente~ Espero que acompanhem *w*

Capítulo 13 - Por acidente


Fanfic / Fanfiction Até que a Morte nos Una - Por acidente

Fazia quase uma semana desde que Sakura e eu fomos à sua antiga casa para conseguir alguma coisa que causasse ou que contribuísse para o término da estadia de Sakura no mundo físico. Uma viagem quase em vão, se não fosse por essa “pista” que nos levou a outra “pista”... Tinha, agora, um endereço inexato da atual casa dos pais de Sakura que, coincidentemente, aliás, muito coincidentemente, é na mesma cidadezinha pacata que eu jurei a mim mesmo jamais voltar. É, destino, você é demais...

Outra coisa incômoda, e que aconteceu naquele mesmo dia foi aquela sensação estranha que tive quando Sakura sorriu para mim e disse “foi divertido passar esses dias com você”. Não tinha ideia do que era aquilo, e o pior, em praticamente todos os ensaios de valsa seguintes senti a mesma coisa. Minhas mãos soaram, meu rosto formigou... Tudo contribuindo para o meu maior desconforto. Ô saco...

Era domingo, único dia que eu tinha uma folga, diferente dos outros alunos que não foram convocados para dançar e precisavam ir todos os dias para a escola arrumar os preparativos. Bem, ao menos em uma coisa eu tinha que ser beneficiado, né? Podia dormir até um pouco mais tarde e...

Meu celular, ao lado da minha cama, no criado-mudo, começou a tocar e me arrancou do motivo da minha maior felicidade do dia.

Joguei a minha mão para pegar o celular, puxei-o para perto do meu rosto afundado no travesseiro e o levantei um pouco, apenas para que meu olho direito tivesse alguma visão da tela. Mesmo com a vista embaçada ainda, consegui ler o nome de Naruto.

- Maldito... – Rosnei enquanto apertava o botão para aceitar a chamada. – O que foi?
         - Sasukeeeee!! – O infeliz gritou logo que ouviu minha voz, afastei imediatamente o celular da orelha fazendo uma careta, mas logo o pus de volta, era a minha vez de gritar.

- Seu idiota! O que pensa que está fazendo em pleno domingo?

- Viu, Naruto? Eu disse que o Sasuke devia estar dormindo ainda. – Ouvi Suigetsu dizer ao longe. Provavelmente, Naruto estava com o celular no viva-voz.

- O que vocês querem? – Perguntei com uma voz não muito agradável e nada paciente.

- Ah, o Naruto fez besteira de novo. – Foi Kiba falando.

- Não me surpreendo.

- É, mas dessa vez, o Naruto acabou quebrando umas coisas do festival, sabe como ele é desastrado, né? O diretor ficou irado e disse que não daria os pontos de participação no festival pra ele.

- Aham, mas o que eu tenho a ver com essa história? – Disse, me segurando para não desligar o celular na cara deles.

- Já ia chegar ai. Depois de um pequeno escândalo, o Naruto convenceu o diretor a dar os pontos pra ele. Mas o Naruto não conseguiu fugir da punição, e vai ter que fazer um trabalho de 40 páginas sobre linguagem e argumentação, já que ele, segundo o diretor, “se acha tão bom nisso”. E bem... Claro que não vamos nunca conseguir algo tão completo na biblioteca da escola ou na internet, já que é um trabalho praticamente de nível universitário. – Já tinha entendido tudo.

- Vocês querem que eu pegue uns livros emprestados com o meu irmão para o Naruto fazer o trabalho, certo?

- Isso mesmo. Faz esse favor?

- Tá, mas... – Mudei meu tom de voz calmo para um alterado. – Por que vocês, bando de retardados idiotas, não deixaram para me ligar mais tarde?!

Kiba riu.

- É que o Naruto tava muito desesperado. Ele queria saber logo se você ia conseguir os livros, e o único jeito que conseguimos dar para fazê-lo calar a boca foi ligar para você.

Só não xinguei todos que estavam no outro lado da linha naquele momento porque ainda estava muito cansado e queria logo voltar a dormir.

- Ok, então eu levo os livros amanhã. Tchau. – Encerrei a chamada imediatamente e, logo depois, arranquei a bateria do meu celular e o devolvi à cômoda.

Pronto, sem mais perturbações por um domingo inteiro.

- Sasuke-kuuunn! – Sakura entrou no meu quarto eufórica, atravessando a janela fechada. Já até tinha acostumado com o seu comportamento fantasmagórico.

Quase derrotado, deixei que minha cabeça, ainda um levantada por causa da ligação inconveniente de Naruto, se enterrasse novamente no travesseiro. Eu nunca tinha paz.

- O que foi agora? – A perguntei entre os dentes, pouco me importando se Sakura podia me ouvir, já que o travesseiro abafava a minha voz.

- Um circo no parque! – Ela quase gritou, de tão excitada.

O que Sakura disse foi tão estranho e sem sentido de início, que levantei minha cabeça, mais interessado.

- Um o quê?

- Um circo no parque! Eu vi lá em baixo um cartaz anunciando que um circo vai fazer uma apresentação ao ar livre no Parque Shiba!

- E?

- Como “e”? Vamos lá ver eles!

Ah, só me faltava essa. Sakura querendo me arrastar a algum lugar só por diversão.

- Nem pensar. – E voltei ao encontro do meu travesseiro, preparando-me para algum discurso incentivador que Sakura, provavelmente, já tinha planejado.

Mas não ouvi a voz dela. Teve apenas um silêncio que, com o passar dos segundos, começou a me parecer perturbador.  É, eu aprendi que uma Sakura quieta demais é sinônimo de preocupação.

Apoiei-me nos meus cotovelos e olhei para trás na diagonal, em frente à janela, onde Sakura ainda estava. Seu olhar chegou a me assustar no momento que os encarei. Era como se ela me mandasse uma mensagem telepática dizendo “como se você tivesse escolha”.

- Tudo bem, vamos ver essa apresentação, mas só depois do festival. – Falei para Sakura, esperando que ela parasse de me olhar daquele jeito medonho.

- Aaah, obrigada, Sasuke-kun, você é um amor! – Ela agradeceu, dando um sorriso feliz, porém maquiavélico, que me soou pior ainda.

As mulheres dão medo...

 

Finalmente, depois de horas, dias de treinamento, o dia do festival chegou. Foi decidido que ele seria realizado no Colégio Amabane, uma escola mista de Ginza. Lá estava infestado de alunos de todas as escolas participantes e outras não envolvidas, além de visitantes e ex-alunos.

- Uaaau! Como aqui é grande! – Sakura se surpreendeu apenas com a fachada da escola.

É, pelo menos, nisso eu tinha que concordar com ela. O Amabane era uma escola com quase dois mil estudantes, é claro que o tamanho do lugar era proporcional à quantidade de alunos, e isso tornava as estruturas monstruosas em relação a espaço. Um lugar perfeito para fazer um evento do porte daquele festival.

Como a apresentação das danças seria apenas à tarde, e eu teria que me juntar ao grupo de valsa depois do almoço para nos arrumarmos, tinha a manhã inteira livre para fazer o que quisesse. Decidi ver o que minha turma estava fazendo no Café.

Depois de olhar um dos mapas espalhados na escola, localizei o andar e a sala em que a turma 2-B do Colégio Seika se encontrava.

O lugar estava bem mais organizado do que eu pensei que estivesse. Algumas cortinas de veludo vermelhas foram penduradas na entrada para dar um ar mais agradável e “elegante” ao ambiente. Um balcão de madeira forrada foi instalado logo no início da sala. Um aluno de terno, fazendo o papel de recepcionista segurava um bolo de papéis de conteúdo colorido e chamativo, que anunciavam o Café e algumas coisas que havia nele.

Entrei na sala modificada não como um cliente, mas apenas como um daquele grupo. Assim, pude dispensar qualquer tipo de recepção indesejada.

- Eei, Sasuke! Chegou tarde, hein? Pagar mico na frente de todo mundo tem as suas vantagens, dattebayo! – Naruto veio me cumprimentar com o seu jeito sempre “discreto”.

- Não tem por que eu chegar cedo se não preciso ajudar voc... – Parei de falar imediatamente quando me virei para falar com Naruto e pude visualizá-lo. Talvez estivesse em choque.

Aquele cabeça-oca, que tem fama de “revoltado”, que usa o uniforme do jeito que quer, sempre indo contra as normas da escola, estava de terno, uma gravata preta e uma camisa social vermelha por baixo, tudo perfeitamente alinhado ao corpo, graças a todos os botões abotoados, não faltando nenhum.

O cabelo, que sempre estava bagunçado por ver raramente uma escova, estava dividido de lado e penteado de modo escorrido.

- Ppfff! – Tentei não rir, trincando os dentes e apertando os lábios, mas não consegui. Aquilo era demais para eu poder me segurar. Coloquei uma mão na boca para tentar abafar o som da risada. – Naruto... você tá... ridículo! – Falei para ele entre os risos quase descontrolados.

- Não é como se eu quisesse estar assim, Senhor Dançarino! – Mesmo rebatendo, Naruto não conseguiu me afetar, continuei rindo escancaradamente dele. – Aah, não está tão ruim assim. – Ele olhou no reflexo do vidro da janela, provavelmente vendo pela primeira vez o resultado final de sua arrumação e, imediatamente, desarrumou o cabelo, voltando-o à forma que eu conhecia. Também desabotoou um botão e afrouxou a gravata. – Melhor agora?

- Você não faz ideia... – Respondi a ele, tirando uma lágrima do canto do olho direito.

Naruto parou de fazer a expressão idiota que sempre faz e me olhou mais sério, como se tivesse notado alguma coisa, e depois sorriu.

- O que foi? – Perguntei-o, estranhando o modo que ele me fitava.

- É que essa é a primeira vez que te vejo rir... Isso me deixa feliz, dattebayo! – Ele jogou as mãos para trás, apoiando-as na nuca.

Só quando ele falou que eu me toquei que tinha rido de verdade. Quando foi a última vez que fiz aquilo? Que ri? Sinceramente, não conseguia lembrar.

O comentário de Naruto acabou deixando o clima meio desconcertante para mim, no final das contas. Resolvi mudar de assunto logo.

- Vou olhar as outras salas. Tente não fazer nenhuma besteira, ok? – E saí da sala, ouvindo Naruto me xingar de alguma coisa já rotineira.

Rodei por mais ou menos duas horas naquela escola, e ainda não tinha certeza se já tinha visto todas as atrações, que eram mais do que variadas, indo desde casas de terror até as de chá e massagem.

Quando eu estava procurando algum lugar para almoçar, acabei avistando Naruto novamente, que já acabara o turno e procurava um lugar que vendesse, provavelmente, ramen.

- Hey, Sasukeee! – Ele pulou em meio à multidão e balançou o braço quando me viu. Naquele momento, cogitei seriamente a possibilidade de fingir não tê-lo visto e sair andando discretamente para o lado oposto, mas não o fiz, deixei que ele me alcançasse.

- Descrição mandou lembranças. – Censurei Naruto quando ele parou na minha frente.

- Tá, tá... – Ele abanou o ar com a mão, sem dar muita importância para o que eu disse. – Vamos comer ramen?! – Ele falou com o brilho nos olhos que sempre tem quando fala sobre a sua comida predileta.

Na verdade, não estava muito a fim de comer tanta coisa, mas, se eu negasse o pedido de Naruto, ele insistiria até que eu cedesse.

- Ok. Tem uma barraca que vende ramen logo ali. – Apontei para uma barraca branca há mais ou menos seis metros de distância de nós.

Andamos, desviando e pedindo licença a todas as pessoas que estavam no caminho – o que era bastante – até alcançar a barraca, mas então, vimos que todas aquelas pessoas que passamos eram uma fila para comprar o ramen da barraca que pretendíamos comprar nosso almoço.

- Cara... Isso vai levar uns minutos. – Naruto comentou, já não tão animado quanto antes.

Passei a mão no bolso e tirei a quantidade de yenes necessário para pagar a comida, peguei uma das mãos de Naruto e pus o dinheiro nela, dando um falso sorriso amigável.

- O que é isso? – Naruto perguntou desentendido.

- É pra você pagar o meu ramen. Eu quero... – Estiquei o pescoço um pouco para poder ver as opções que estavam escritas em um grande cartaz. – ... o com tomate seco.

- Ei, ei! Você não vai ficar na fila?

- Claro que não. Não posso ficar cansado agora, tenho que me reunir com o grupo de dança daqui a pouco. – A desculpa era boa e Naruto pareceu aceitá-la, mas eu apenas não queria ficar ali, mesmo. Mero capricho meu. – Vou te esperar no banco em baixo daquela árvore, está vendo? – Apontei em direção ao último prédio da escola que, ao lado, possuía uma fileira de árvores com vários bancos, semelhantes aos de praça, em baixo delas. Apenas um estava desocupado.

- Estou, ttebayo.

Satisfeito, pus-me a andar até aquele lugar, que me parecia bastante confortável, depois de andar por tanto tempo naquela escola enorme.

- Que coisa feia você mentir para o Naruto daquele jeito, Sasuke-kun. – Sakura notou as minhas reais intenções e me repreendeu, mas pareceu que ela estava mais se divertindo com aquilo tudo do que outra coisa.

Não me dei ao trabalho de respondê-la. Apenas sentei-me no banco, cruzei os braços e deixei que meu corpo relaxasse.

- Olha só... Se não é o moleque Uchiha. Há quanto tempo. – Ouvi uma voz conhecida e ameaçadora, que me fez ajeitar o corpo imediatamente, deixando-o em estado de alerta.

Olhei para aquela maldita figura indesejada a minha frente, de cabelos negros e de corte em camada meio exótico. Toya e mais três companhias.

- Ah, droga. O que é agora? – Perguntei, já enjoado da presença dele.

- Sasuke-kun, você está bem? – Sakura deve ter estranhado a minha atitude.

- Devem ter jogado álcool no meu chá hoje de manhã. – Respondi-a sarcástico, sem me importar que quem eu estava respondendo era Sakura.

- O quê? – Toya perguntou confuso.

Bati com a língua entre os dentes, impaciente.

- Nada que seja da sua conta.

- O que disse, pirralho? – Ele segurou a gola da minha blusa, levantando um pouco o meu tronco.

- O quê? Vai me bater? No meio de toda essa gente? Dê uma olhada em volta. Você já está chamando a atenção de alguns. – Agarrei o pulso dele e o puxei, tirando a mão dele do meu uniforme, já farto daquele tratamento. – Andei pesquisando sobre você. Você é o filho do diretor, não é? – Sim, a minha “pesquisa” no outro dia era justamente sobre aquele babaca. Eu buscava arranjar algo bom que pusesse usar contra ele e já no início me veio o ouro: seu próprio nome, Mirose Toya, o mesmo Mirose do diretor. – Seu pai acha que você é um santo, mas que tal te desmascarar aqui e agora? O diretor está aqui, você sabe. Ele poderia muito bem estar vendo esta cena de algum lugar. Vamos acabar com esse teatrinho. Anda, me bate. Mesmo se ele não estiver olhando, tenho certeza absoluta de que, no mínimo, uma dúzia de pessoas vai gravar isso no celular e seu pai verá as filmagens mais tarde.

- Sasuke-kun! Você está louco? Está se arriscando demais! – Sakura pareceu extremamente nervosa com tudo o que eu dizia.

Ela ainda não entendeu, mas eu pude ver nos olhos de Toya: a situação estava sob o meu controle.

Ele se afastou um passo de mim, conseguia lê-lo claramente. Ele estava tentando pensar em uma forma de virar o jogo. Ainda nem tinha me dado ao trabalho de levantar do banco. Eu realmente não devia estar muito são naquele dia – com aquele trunfo nas mãos, quem não estaria? –, mas eu tinha certeza de que a minha cartada tinha sido certeira.

- Agora eu entendi por que você não morreu no metrô naquele dia, seu pedaço de merda. É como todos dizem: vaso ruim não quebra.

- Isso é verdade. E isso certamente se aplica a você. – Rebati, com a expressão neutra.

O rosto de Toya contorceu-se em raiva.

- Seu idiota, você fala, fala, mas pede para apanhar. A sua sorte é que...

- Sasukeee! – Naruto gritou a alguns metros de onde eu estava tendo a minha “discussãozinha”. Ele vinha correndo, com uma tigela de ramen em cada mão, jogava-as para cima freneticamente. Devia estar bem quente. – Me ajuda aqui, caramba! Tá quente! – Ele vinha correndo quase derramando o líquido quente nas pessoas, estava tão concentrado para que isso não acontecesse que não tinha notado a presença de Toya.

Graças a isso, ele continuou correndo em minha direção, sem se tocar que havia pessoas na minha frente, ou seja, que devia desviar. E seus olhos mantinham-se fixos nas tigelas.

O resultado foi mais do que esperado, claro, já que se tratava do desajeitado do Naruto. Ele continuou correndo, e só parou quando sentiu seu corpo chocar-se contra o de Toya. Tentou até parar, mas já era tarde, e boa parte do conteúdo das tigelas sujou e ensopou os dois. Quem pareceu ficar mais sujo foi o Toya, já que o ramen derramou para frente.

Levantei imediatamente por instinto. Caso ele se irritasse demais e tentasse atacar Naruto, eu teria que reagir.

- Seu retardado miserável! Olha só o que você fez! – Toya gritou para Naruto, agarrando, com ambas as mãos a blusa por baixo do uniforme desabotoado dele. Estava mais irritado por se sentir humilhado do que ter a roupa suja, pelo visto.

- Lembre-se que há muitas pessoas olhando, Toya! Ainda mais com esse seu showzinho pouco chamativo. – Falei firme, quase me pondo entre os dois. Esperava que ele fosse um pouco racional naquele momento.

Vi Toya tremendo de pura cólera, ainda com as mãos na camisa do Naruto. Parecia que ele estava tentando se controlar ao máximo. E, com força, ele empurrou Naruto para longe. Este precisou dar uns cinco passos para trás e ainda se agachar um pouco para que restabelecesse o equilíbrio e não caísse.

Com um olhar ameaçador, Toya apontou para o garoto a sua frente.

- Você já era, Uzumaki!!

Dito isso, ele se retirou, sendo seguido pelas “sombras”.

- Tô ferrado... – Naruto disse para si mesmo, ele ainda mantinha as tigelas seguras consigo.

- Ai... – Passei a mão no rosto, suspirando. – Você é um idiota, mesmo...

- O que eu faço agora, Sasuke? – Ele perguntou para mim, fazendo uma cara chorosa.

- Não precisa se preocupar.

- Não?

Não pude deixar de desenhar um sorriso malicioso nos lábios naquela hora.

- Claro. Agora você vai provar do seu próprio veneno e vai ter um monte de gente te vigiando.

Naruto deixou a cabeça cair desanimado. Parecia que, mesmo sendo ele um dos que vivem me vigiando, ele não gostava nem um pouco da ideia de ser um vigiado. Encarou o resto dos ramens em suas mãos.

- Foi mal, não sobrou muito do ramen. – Ele estendeu para mim a tigela com quase um terço do seu espaço interno preenchido de macarrão e tomate seco.

Peguei-a, dando um sorriso de canto.

- Tudo bem. Não ia dar para eu comer tudo, de qualquer forma. Tenho que ir em quinze minutos.

Naruto acabou abrindo o seu tão normal sorriso alegre.

- Ah, ainda bem, dattebayo. – E, parando em um rápido pensamento que teve, seu sorriso tornou-se um pouco maldoso. – Se bem que eu acho que valeu apena perder um pouco de ramen, já que foi pra sujar aquele filinho de papai idiota.

Sorri mais uma vez. Tinha que concordar com ele de novo. Desagradar o Toya soava muito agradável para mim e, pelo visto, para Naruto também.

Apenas torcia para que não pagássemos o preço por aquilo um dia.

Resolvemos deixar toda aquela confusão de lado e almoçar logo, afinal, tinha um compromisso em pouco tempo. Comemos no mesmo banco que eu estava enquanto esperava Naruto. Ele volta e meia comentava sobre alguma coisa boa no que tinha acontecido, mesmo estando com o pescoço na mira de Toya por isso. Essa era uma qualidade de Naruto, sempre otimista, vendo o lado bom de tudo. Até que me lembrava um pouco a Sakura.

Comi com mais calma que deveria, mas ainda terminei antes do meu tempo estourar.

- Estou indo, Naruto. É melhor você ficar com os outros. Não acho que seja muito bom você ficar por aí sozinho. – Falei para ele, levantando-me do banco.

- Eu sei disso, ttebayo...

Enquanto andava, acabei me tocando de uma coisa. Tê-lo defendido de Toya, e agora, dado um conselho... Estava me preocupando com Naruto. Afe, estava andando demais com a Sakura. Talvez o “jeitinho” dela estivesse me influenciando. Ah, claro que não. Que pensamento besta. Se ela tivesse me influenciado em algo, teria sido em ter essa ideia.

Com pensamentos sem muita importância como esse, entrei em um dos prédios e subi os andares, até chegar à sala de dança reservada para o Colégio Seiko e o Kaede.

- Sasuke-san, boa tarde. – Maya veio me cumprimentar logo que adentrei à sala.

Ela e as outras garotas, pelo visto, estavam terminando de se maquiar e arrumar o cabelo. Maya estava com o cabelo dividido de lado e, na divisa, sua franja se separava e deixava uma parte de sua testa visível. Uma mecha lateral estava puxada um pouco para trás e presa por uma presilha com um laço singelo por cima. A maquiagem estava entre o discreto e o exagerado: ao mesmo tempo em que ela parecia natural, alguns pontos estavam bem destacados para que os traços do rosto parecessem ocidentais.

- Boa tarde.

- Chegou bem na hora. A Hotaru-sensei acabou de chegar com nossas roupas. Ela deixou a sua comigo. – Ela me entregou um cabide envolvido por uma capa preta com zíper, que cobria toda a roupa.

- Obrigado.

Ela sorriu em resposta.

Troquei de roupa na sala ao lado, onde os outros garotos faziam o mesmo. Sakura ficou no outro cômodo, claro. Ela estava fascinada com a produção das garotas. Perguntei-me se ela sentia falta dessas frescuras femininas que lhe foram privadas.

Vesti a roupa tentando não pensar nisso, enquanto os outros garotos que se arrumavam ali faziam uma pequena bagunça.

Nossas roupas eram todas iguais. Apenas um terno preto, com uma blusa branca por dentro e uma gravata também preta. Tudo bastante simples.

Tive que ajudar alguns que tiveram a inteligência de desfazer o nó da gravata, já que eu era o único que sabia fazer um nó descente naquele lugar. Já fui a bastantes festas formais, graças ao negócio bem-sucedido dos meus pais, então, sempre soube me arrumar bem. Depois que ajudei aos outros, ainda tivemos que esperar do lado de fora, pois as garotas ainda estavam se trocando. Só quando a professora nos autorizou, pudemos entrar.

Os caras que estavam comigo e eu, sem exceção, nos impressionados com a visão que tivemos: todas as garotas já estavam arrumadas. Só então que eu entendi por que nossas roupas estavam tão simples.

O vestido delas era branco e armado, estava completamente coberto por uma renda com pedras brilhosas, em algumas partes, elas formavam desenhos. A manga, que era até abaixo do cotovelo, não possuía nenhum tecido, era apenas essa mesma renda, o que fazia da pele a “cor de fundo”. A saia possuía bastante tecido estrategicamente para dar mais movimento aos passos. No início desta, havia uma fita, que rodava toda a cintura e se fechava atrás em um laço quase do tamanho de uma palma. Todas estavam lindas, tive que admitir.

Dentre todas as meninas exuberantes, uma se destacou por estar vestida de um modo simplório, apenas uma saia e uma blusa. Os olhos de Sakura ainda brilhavam com o visual das garotas. Senti meu coração pesar um pouco. Com certeza, ela gostaria de poder usar uma roupa assim também. Ou, no mínimo, poder ao menos trocar de roupa...

Como o planejado, ensaiamos ao som de Voices of Spring, a música da apresentação e que, coincidentemente, acabou por ajudar Sakura a lembrar de algo sobre si mesma.

...

Ei, por que diabos eu citei Sakura? Muito convívio com ela estava realmente me afetando.

Depois de ensaiar mais um bocado, tivemos um tempo de descanso que duraria até a apresentação. Kurenai e Hotaru trouxeram para nós algumas bebidas para acalmar os nervos.

- Esses vestidos são tão lindos, né, Sasuke-kun? – Sakura me perguntou, sonhadora. – Como eu também vou dançar, seria ótimo se eu também pudesse usar um... – Nesta última parte, ela fez o comentário mais para si mesma do que para mim, mas não poderia deixar de respondê-la e permitir que ela continuasse se lamentando.

- Para ser sincero, prefiro mil vezes você com essa roupa do que com qualquer outra. – Dei de ombros. – Sei lá, me acostumei com você assim. Parasse que já é parte de você. Acho que você fica bonita do jeito que está e pronto.

Disse o que pensava de uma vez, mas, ao ver a reação de Sakura – completamente vermelha e sem jeito -, me arrependi de não ter pensado duas vezes antes de falar. Bem, não acreditava nem no que tinha acabado de fazer.

Eu realmente tinha dito... que a achava bonita?

Acabei por ficar constrangido com o que eu próprio tinha dito. Graças a isso, o silêncio reinou entre nós até o momento da apresentação.

Na hora tão esperada, fomos para trás de um grande palco com piso de madeira, com laterais e topo desenhados por cortinas vermelhas. Lá era onde as outras escolas participantes estavam fazendo o seu show.

- Aan... Sasuke-san. – Ouvi Maya dizer quando ela se aproximou de mim. – Aqui. – Ela estendeu um lenço lilás.

- Pra que isso? – Ergui uma das sobrancelhas. Ela abaixou um pouco a cabeça.

- Para dar uma cor à sua roupa. – Ela mesma dobrou o lenço e o colocou no bolso do meu terno, que ficava na altura do meu peito. – Olha, não está bem melhor? – Sorriu.

- Um pouco abusada, só acho! – Sakura parecia estar soltando fogo pelos olhos naquele momento. – Não gosto dela.

Eu sabia que aquela proximidade sem uma permissão prévia tinha sido demasiada, mas não entendia por que Sakura estava irritada com algo que tinham feito comigo.

- Agora, Colégio Seiko e Colégio Kaede! – Ouvi uma voz masculina anunciar do palco.

- All right! Let’s go! – Sakura se esticou, em um breve aquecimento enquanto andávamos até o palco em meio a aplausos receptivos e nos posicionarmos. Sakura também, ela ocupou praticamente o mesmo espaço que Maya. Aposto que Newton enlouqueceria – mais ainda – se pudesse ver o que eu via naquele momento.

E a música começou a tocar.

Todos demos início à dança. Os passos estavam bem marcados e todos conseguiam mover-se ao mesmo tempo, o que dava um efeito mais impactante ao grande público que nos assistia.

Sakura fez umas graças. Quando não sorria para mim, fazia alguma careta, ironizando algum passo ou parte da música e, quando esta acabou, ela agiu como se todos pudessem vê-la.

- Eu sei que vocês me amam! – Ela acenou, brincando, para plateia, que nos aplaudia bastante. Pareciam ter gostado. Fizemos reverência e saímos, dando espaço para um grupo que dançaria street dance.

Estavam todos indo trocar novamente de roupa quando Maya tocou o meu ombro e me puxou para um corredor perto, onde não havia ninguém.

- O que foi? – Estranhei a atitude inesperada dela.

Ela parecia estar nervosa. Segurava os próprios dedos e os encarava.

- É que... bem...

De repente, enxerguei apenas cabelos rosas esvoaçando na minha frente. Sakura havia se posto entre nós.

- Essa garota não está planejando coisa boa, Sasuke-kun! Vá embora antes que ela faça algo! – Ela começou a dizer as asneiras de sempre. Maya continuou falando sem saber o que acontecia logo na frente dela:

- Nesses últimos dias, eu percebi que gosto mesmo de você e, por isso... – Ela se pôs nas pontas dos pés, ficando perigosamente perto do meu rosto. Sakura se virou para ela.

- Olha o que eu disse! Uma oferecida! – Maya se aproximou mais um pouco e Sakura recuou, chegando a dividir um pouco do espaço que meu corpo ocupava sem perceber. Ela voltou a olhar para mim para continuar falando. – Sasuke-kun, não dê ouvidos a el... – Ela parou atônita. Acabei ficando no mesmo estado.

Quando Sakura virou-se em minha direção, ela não havia calculado direito nossas distâncias, já que dera um passo para trás e, assim, nossos rostos acabaram se encontrando.

Mais especificamente, os nossos lábios.

Eles se encaixaram perfeitamente, como se estivéssemos nos beijando de verdade.

Logo em seguida, senti Maya fazendo a mesma coisa. Foi um selinho tão rápido que, quando ela se distanciou, Sakura e eu ainda nos encarávamos.

E, ainda por cima, algo a mais me intrigava... Antes de eu sentir os lábios de Maya tocarem os meus, tive a impressão de ter sentido os de Sakura. Foi por um breve momento, mas pareceu bem real.

Sakura foi a primeira a reagir. Deu um passo rápido para trás. Estávamos ainda bastante surpresos, mesmo ela tendo me “beijado” por acidente.

 

Continua...


Notas Finais


Pra quem ficou curioso, a foto do vestido das meninas da valsa está aqui, só que ele é menos rodado do que eu descrevi. É o sétimo. Desculpe se alguém não gostou, mas eu me apaixonei por ele *Q*
http://quenteefresco.blogspot.com.br/2011/06/debutante-it-vestidos-para-valsa.html

E então, gostaram dos acontecimentos desse capítulo? *---* Ah, os créditos do beijo acidental são da ~tae_min (a já citada aqui, Bianquinha *w*) Ela que me deu essa ideia e mais um monte desse capítulo *-*


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...