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História Através dos Séculos - Capítulo único - Tudo que não perdemos


Escrita por: iambyuntiful

Notas do Autor


E aí, pessoal? Feliz halloween!

O NCT e eu andamos muito ligados ultimamente e, enquanto eu escrevia essa nomin, saiu o comeback do 127 também com tema de vampiros. Eu chamo de destino e vocês? n

Esse plot foi doado para mim pela @nickyeowl (user no twitter), e eu estava muito ansiosa para que halloween chegasse e eu pudesse escrever! Me diverti muito ao decorrer dessas vinte e uma mil palavras e com esse trem descarrilado que é o Jaemin, e espero que vocês também se divirtam!

A fanfic foi betada pela Analu, @tartareuguines, e eu agradeço muito! Seus comentários sobre a fanfic fizeram o meu dia. A capa é obra da @Bomma, a coisinha mais perfeita do universo e está tão lindaaa!! Muito obrigada às duas <3

Espero que gostem e nos vemos lá embaixo~ <3

Capítulo 1 - Capítulo único - Tudo que não perdemos


ATRAVÉS DOS SÉCULOS

Capítulo único — Tudo que não perdemos

 

 

A imortalidade conseguia ser muito tediosa.

 

Na Jaemin teve sua cota de experiências para se dar conta disso — vivo há mais de sete séculos. Chegou um momento em que o mundo não tinha mais nada a oferecer porque tudo que um dia foi novidade tornou-se tedioso. Não havia sido dessa forma que imaginara que seria sua vida após a transformação que o levou direto dos braços da morte, mas era o que tinha e Jaemin aprendeu, depois de algum tempo, que havia algumas coisas com as quais era melhor que não discutisse.

 

A vida — ainda poderia chamá-la assim? — enquanto vampiro era diferente de tudo que havia imaginado. Ouvira dezenas de histórias, uma pior do que a outra, a respeito das criaturas da noite que o assombrou por noites a fio. Histórias sobre como eram andarilhos e atacavam sem ver quem ou sobre como torturavam suas vítimas até que não restasse uma gota de sangue. Jaemin viveu até seus vinte e um anos aterrorizado com a ideia de trombar com um vampiro sem querer, até que se viu frente a frente com um quando menos esperava.

 

Vivera em tempos muito difíceis, sabia reconhecer isso hoje ao olhar para trás. Chegara aos vinte e um anos quando muitos de seus irmãos não tiveram a mesma sorte, padecendo por diversas enfermidades que eram comuns à sua época. Contudo, não fora sortudo o suficiente para evitar também se infectar e ali, deitado em sua cama sem qualquer perspectiva de voltar a deixá-la novamente, Jaemin pensou que o fim chegou cedo demais.

 

Imaginou ter ouvido os lamentos de sua mãe e as súplicas para que o salvassem, mesmo que lhe custasse tudo, mas Jaemin havia creditado aos delírios que já não eram incomuns. Creditou também às alucinações a visão de caninos branquíssimos, a dor excruciante em seu pescoço e a sensação de estar sendo levado para muito longe sem nunca ter deixado sua casa. A voz de sua mãe se tornou distante, mas seus soluços e pedidos de desculpas jamais deixaram seus ouvidos.

 

Jaemin voltou a acordar muito tempo depois, sentindo-se mais forte e mais vivo do que jamais havia se sentido em sua vida, e, então, percebeu que já não era mais o mesmo. Não havia sinais de sua mãe por perto, tampouco do antigo casebre onde ele e sua família viviam. Jaemin agora estava rodeado por dois homens — até então desconhecidos — que lhe explicaram tudo que era necessário que soubesse.

 

Seu nome era Na Jaemin. Tinha vinte e um anos e, para todos os efeitos, estava morto. Seu corpo se mantinha vivo por conta do veneno que agora circulava por suas veias e o preço a se pagar por desafiar a implacabilidade da morte era viver nas sombras e sobreviver tomando do sangue dos que ainda viviam. Vampiros, os estranhos disseram, mas demorou um pouco para que Jaemin se acostumasse com o som dessa palavra.

 

Aos poucos, aprendeu que os estranhos se chamavam Kim Doyoung e Jung Jaehyun e foram eles quem ensinaram ao recém-criado como o vampirismo funcionava. Alguns mitos foram jogados por terra — Jaemin estivera muito surpreso ao perceber que não eram nômades e andarilhos como havia imaginado —, outros permaneceram. E, com o passar dos anos, Jaemin se acostumou à nova vida que possuía.

 

Aprendeu como todos os vampiros viviam juntos sob a jurisdição de Conde Drácula — a alcunha que Taeyong recebera dos humanos e que permaneceu utilizando, Jaehyun contou, certa vez — e que sempre se movimentavam após algumas décadas para que os humanos não desconfiassem que não estavam envelhecendo. Jaemin percebeu, não muito depois, que o senso de comunidade era muito forte entre aquela espécie e que talvez essa fosse a razão pela qual sobreviviam mediante tantas caçadas.

 

Eram mais fortes quando lutavam uns pelos outros e Jaemin não demorou a se sentir pertencente àquele grupo. Não havia chances de que voltasse à sua antiga família e, por isso, era melhor que começasse a se adaptar àquela que escolheu adotá-lo ao invés de deixá-lo morrer.

 

Conheceu Huang Renjun quase um século após sua transformação — Renjun era um recém-criado trazido para a comunidade por Kun, um dos mais antigos vampiros que possuíam. Recordava-se de como Doyoung o disse que seria bom que tivesse amigos da sua idade e Jaemin tentou dizer que era no mínimo cem anos mais velho do que aquele rapaz, mas Doyoung já não mais o estava ouvindo, então resolveu dar uma chance.

 

Renjun era dono de um humor peculiar, muitas vezes ácido e com um sorrisinho petulante seus lábios como quem sabia que estava irritando os demais. Jaemin o adorou de cara; o recém-criado entendia suas piadas e não se importava com os longos períodos em silêncio que precisava para recarregar suas energias, além de nunca ter exigido de si nada do que já não estivesse disposto a entregar. Em uma amizade improvável, construíram um laço difícil de ser quebrado e pelo qual Jaemin era mesmo muito grato, mas do qual também nunca deixaria Renjun saber.

 

Renjun foi seu primeiro par para a tão falada Festa de Halloween de Conde Drácula.

 

Essa festa já existia muito antes dos humanos se habituarem ao conceito de Halloween e acontecia a cada cem anos, mas Jaemin nunca tivera a curiosidade de aparecer. Era conhecida por ser a festa onde Taeyong comemorava mais um século de casamento com sua amada e trazia um clima de romantismo muito além do que Jaemin estava disposto a aguentar sozinho.

 

Estar com Renjun era divertido porque, estando ambos solteiros, tinham a chance de zombar dos casais que se apresentavam e como jamais se tornariam esse tipo de vampiro. Era uma noite divertida, regada a sangue batizado com o melhor que o álcool de cada época podia oferecer e, por mais seis séculos, Jaemin se habituou a essa rotina: Renjun e ele sempre apareceriam juntos à Festa Centenária de Halloween e teriam boas risadas em uma noite repleta do melhor sangue que já tinham bebido.

 

Bom, até que Renjun conheceu Lee Donghyuck e, então, Jaemin já não tinha mais tanta certeza assim.

 

O ano já era 2021 e Jaemin tinha desistido de contar quanto tempo havia se passado desde sua primeira morte. Já estava habituado ao vampirismo e as condições de vida que lhe foram impostas; com o passar dos séculos, artifícios também foram descobertos para que pudessem se misturar aos humanos e era graças ao colar que trazia preso em seu pescoço que Jaemin podia participar da universidade ao lado de seu melhor amigo e dezenas de outros vampiros que aparentavam sua idade.

 

Não era a coisa mais divertida do mundo, mas Renjun era um maldito rato de biblioteca e que não via outras maneiras para que passassem a eternidade e, bom, Jaemin tinha suas próprias razões para estar naquela sala de aula.

 

Foi no final de outubro que Jaemin viu sua rotina se desestabilizar de vez.

 

“Renjun”, Jaemin o chamou, seu tom de voz mais manhoso como era de costume quando precisava pedir algo ao rapaz. Renjun o encarou com uma sobrancelha arqueada, desconfiado como sempre. “A festa do Taeyong está chegando. Os convites já foram enviados, não foram?”

 

“É verdade”, Renjun comentou. “Cem anos realmente se passaram muito rápido dessa vez. Será se já chegamos ao nível em que os anos se parecem com dias?”

 

“Eu já não sei nem mesmo que dia da semana estamos”, Jaemin deu de ombros. “Mas como vamos fazer esse ano? Tem algum dress code que você quer tentar dessa vez? Foi muito divertido no século passado quando aparecemos usando apenas—”

 

“Na verdade”, Renjun pigarreou, interrompendo uma história antiga e vergonhosa envolvendo menos roupas do que deveriam para uma época em que tudo era um grande escândalo, “eu tenho outros planos para esse ano.”

 

“Que espécie de planos você pode ter que não me contou até agora?”, Jaemin quis saber. “A festa é daqui alguns dias!”

 

“Você sabe do Haechan, não é?”, Renjun questionou. Era impossível que não soubesse — Lee Donghyuck fazia questão de ser notado e reconhecido por todos, pelos bons e maus motivos. “Eu estava pensando em levá-lo como meu acompanhante esse ano.”

 

Jaemin precisou de alguns minutos para se habituar com o que havia acabado de ouvir. Huang Renjun, o rapaz com quem convivera pelos últimos seiscentos anos e de quem aguentou as melhores e piores fases ao seu lado, estava disposto a trocar sua companhia por Lee Donghyuck. Um humano. Jaemin com certeza já havia ouvido piadas melhores, mas algo no rosto de Renjun indicava que ele não estava brincando.

 

“Você está querendo levar um humano para uma festa repleta de vampiros?”, Jaemin perguntou para se certificar.

 

“Não vamos ter problema!”, Renjun se prontificou a justificar. “Donghyuck tem a minha marca. Nenhum vampiro poderá se aproximar dele com qualquer intenção, então estaremos seguros.”

 

“Não é com a segurança dele que eu estou preocupado”, Jaemin descartou rapidamente, “é porque todos sabem que a gente sempre vai junto e agora você vai aparecer com um humano! E quanto a mim? Não posso aparecer sozinho, Injun.”

 

Jaemin não gostava nem um pouco do olhar no rosto de Huang Renjun e tinha certeza de que aquilo era influência de Donghyuck. Seu amigo estava passando muito tempo com o humano e com certeza estava aprendendo alguns comportamentos reprováveis, como zombar de seu recém-descoberto desespero por não ter mais uma companhia para a festa mais importante para sua espécie.

 

Ele já sabia qual era a resposta de Renjun antes mesmo que o outro abrisse a boca.

 

“Bom, você sempre pode convidar o Jeno”, Renjun deu de ombros. “Já passou da hora, não é?”

 

Esse era o mal de conviver por alguém por tantos séculos como Jaemin havia feito com Renjun: ele conhecia todos os seus pontos fracos e não tinha medo de pressioná-lo nos momentos mais indevidos. Jaemin abriu a boca e fechou-a algumas vezes, sem conseguir pensar em nada para retrucar aquela proposta absurda. Renjun tinha aquele sorriso petulante de seiscentos anos antes e era em momentos como esse que Jaemin se detestava por ter dado ouvidos a Doyoung.

 

Provavelmente teria passado seus setecentos anos sozinho e sem amigos porque Renjun era seu amigo mais próximo? Sim, mas não seria obrigado a ouvir um disparate como esse.

 

“Ninguém convida o Jeno para a Festa de Halloween”, Jaemin o recordou. “Ele sempre foi sozinho.”

 

“Mas isso não é uma regra, é?”, Renjun devolveu. “Todo mundo só tem medo de receber um não dele porque ele nunca pareceu precisar de ninguém, está até que bem contente em ir sozinho às festas e não precisar dar satisfações a qualquer um. Mas isso não quer dizer que você não pode ser o primeiro a convidá-lo e quebrar esse ciclo de medo que Lee Jeno rejeite alguém.”

 

Jaemin estreitou os olhos, amaldiçoando toda a existência de seu melhor amigo, mas recebeu um dar de ombros como resposta; Renjun claramente não estava se importando e não voltaria atrás de sua decisão em levar Donghyuck à festa. Para falar a verdade, Jaemin conseguia entender porque ele gostaria de fazer isso; Renjun e Donghyuck estavam saindo há algumas semanas e, para ter recebido a marca, Donghyuck provavelmente já sabia sobre seu mundo e não estava disposto a criar problemas. Parecia natural levar seu quase namorado a uma festa tão romântica quanto a de Taeyong, mas entender as razões de seu amigo não queria dizer que Jaemin estava feliz com isso.

 

Ir sozinho era humilhante depois de todos os séculos que passou disposto a zombar dos casais com seu melhor amigo, principalmente se sua companhia o tivesse trocado por agora também estar formando um casal. Não comparecer à festa, por outro lado, também era humilhante porque era como assinar seu atestado de derrota por ser o único entre os dois a estar sozinho.

 

Jaemin olhou na direção em que Lee Jeno estava sentado, algumas cadeiras à sua frente e sem nenhum sinal do professor que estavam esperando. O vampiro tinha um semblante calmo e centrado no livro que estava lendo, como se estivesse completamente absorto ao que acontecia ao seu redor. Nada parecia ser suficiente para incomodá-lo e Jaemin precisava reconhecer: tinha, sim, certo medo de receber um não caso fosse o primeiro a quebrar a bolha em volta de Jeno.

 

Mas ninguém — e principalmente Renjun — poderia culpá-lo pelo receio que acumulava, afinal de contas, falar com sua paixãozinha de mais de quinhentos anos deixaria qualquer um nervoso. Imagine, então, se fosse para convidá-lo para a festa mais romântica dos últimos cem anos?

 

Jaemin tinha certeza de que não conseguiria passar por isso sem envergonhar a si mesmo e desejar que Doyoung e Jaehyun jamais tivessem ouvido as súplicas de sua mãe para que o salvassem.

 

Jeno olhou para trás de repente, percebendo seu olhar fixo na mesma direção em que estava, e Jaemin desviou o olhar rapidamente, atrapalhando-se com o celular que girava nas mãos, distraído. Amaldiçoou a si mesmo dessa vez, por não ter o mínimo de coordenação quando estava nervoso. Ouviu a risada de Renjun, o tom zombeteiro zunindo em seus ouvidos ciente de que estava dando o melhor espetáculo para seu melhor amigo.

 

Huang Renjun ainda iria lhe pagar. Caro.

 

X

 

Não é como se Jaemin tivesse duvidado do que Renjun lhe dissera — conhecia o amigo há seiscentos anos e era um tempo considerável para que soubesse que Renjun nunca estava, de fato, brincando.

 

Mas quem poderia culpá-lo por ter esperado que ele estivesse?

 

Para falar a verdade, Jaemin não havia dado muita bola para o anúncio de seu amigo. Ok, ele estava quase namorando Lee Donghyuck e havia motivos muito plausíveis para querer levá-lo para a festa mais romântica do século, mas Renjun também era seu melhor amigo e ele claramente o favoreceria frente a um humano pelos séculos de irmandade que possuíam. Jaemin tinha certeza de que no fundo do coração há muito tempo parado de Huang Renjun, ele venceria essa disputa com Lee Donghyuck.

 

Renjun entenderia que ele não conseguiria chamar Jeno para a festa depois de alguns dias assistindo-o ensaiar seu pedido e nunca saindo do mesmo lugar, assim como ele também entenderia que alguns sacrifícios precisam ser feitos em nome de uma amizade e que Jaemin valia a pena. Afinal de contas, era ele quem continuaria ao lado de Renjun com o passar das décadas porque, em algum momento, Donghyuck não estaria mais ali.

 

O problema é que, bom, não tinha muito como vencer Donghyuck nesse quesito e Jaemin aprendeu da pior forma.

 

Faltava exatamente uma semana para o Halloween quando Renjun apareceu com Donghyuck de tiracolo, o humano abraçado ao braço do mais velho e com rosto apoiado em seu ombro. Donghyuck exibia um sorriso petulante para quem quer que estivesse disposto a olhar em sua direção, como se tivesse acabado de ganhar um prêmio que muitos desejavam. Não que estivesse de todo errado; Renjun era mesmo um tanto quanto popular entre os humanos que não desconfiavam sobre sua verdadeira natureza por trás do rostinho angelical.

 

Jaemin sentiu uma pontada em seu estômago, algo que ele creditou ao sentimento de traição quando o amigo se aproximou ainda com Donghyuck ao seu lado e o humano aumentou ainda mais o sorriso ao encontrá-lo. Donghyuck não tinha nada contra ele, é claro, assim como Jaemin até mesmo gostava um pouco do humano, mas Renjun com certeza havia contado a ele sobre a festa e Haechan perderia a própria vida antes de perder a chance de fazer piada consigo.

 

“Jaemin!”, a voz de Donghyuck o alcançou, fazendo-o se contorcer um pouquinho frente a iminência do desastre.

 

“Olá, Donghyuck”, Jaemin o cumprimentou. “Pensou bem sobre o que eu te disse, Renjun? Considerou mesmo seiscentos anos de companhia?”

 

“Ah, mas seiscentos anos de companhia não podem dar ao Injun o que eu posso quando a gente—“, Donghyuck começou a falar, mas a mão de Renjun correu até sua boca para silenciá-lo a tempo. Jaemin agradeceu; era novo demais para tantos traumas de uma vez só.

 

“Eu tenho uma resposta final”, Renjun respondeu com um dar de ombros, “e acho que você consegue vê-la bem.”

 

Jaemin ainda não havia parado para notar — em partes porque isso também significava sua derrota —, mas Donghyuck exibia uma marca diferente em seu pescoço, quase sempre inclinando o rosto na direção contrária para deixá-la ainda mais exposta. Era um aviso claro e Jaemin não precisava olhá-la muito para saber a quem pertencia; era um mecanismo que sua espécie havia desenvolvido para que não houvesse brigas desnecessárias por humanos já reclamados.

 

Em toda sua existência, Renjun tinha a chance de oferecer sua marca a apenas um humano e ele havia mordido Donghyuck, marcando-o para que nenhum vampiro confundisse aquele rapaz com um humano disponível. Donghyuck parecia feliz e muito satisfeito com a mordida que parecia uma simples picada de mosquito para qualquer um, mas que emanava o veneno de Renjun para qualquer vampiro próximo o suficiente.

 

Foi dessa forma que Jaemin percebeu que, bom, não tinha mesmo como vencer aquilo. A marca era o maior sinal de compromisso entre um vampiro e um humano e não poderia ser colocada caso o humano não estivesse de acordo; talvez tivesse perdido alguma etapa do relacionamento entre seu melhor amigo e aquele humano, ou então estivesse lendo os sinais da maneira errada. Talvez só estivesse acostumado a ter Renjun apenas para si por todos esses séculos e não percebeu quando passou a dividi-lo com outra pessoa, de uma maneira que nem Jaemin o tinha alcançado.

 

Estava feliz por seu amigo, isso era óbvio. Renjun merecia toda felicidade que pudesse encontrar e se isso estivesse atrelado a Lee Donghyuck, Jaemin estava mais do que satisfeito em apoiá-los.

 

Mas isso não significava que estava feliz por os dois terem decidido o status de relacionamento deles às vésperas da festa mais importante para um vampiro. Como diabos Renjun ousava deixá-lo sozinho às vésperas da festa de Taeyong e ainda assim continuava a se intitular seu melhor amigo?

 

Jaemin estava indignado.

 

“Sabe de uma coisa?”, Donghyuck voltou a falar, sentando-se ao lado do namorado. Renjun sempre se sentava com Jaemin para as aulas, mas Donghyuck nem mesmo fazia as mesmas matérias que eles. “Renjun me contou algo muito interessante.”

 

Jaemin olhou de soslaio para o amigo que desviou o olhar em seguida; não era de feitio do vampiro fugir de seu olhar dessa forma, o que só podia lhe indicar que Renjun provavelmente havia feito algo que não deveria. E ouvir aquilo de Lee Donghyuck, a própria encarnação do diabo, fez Jaemin se estremecer frente ao potencial de calamidade que vinha a seguir.

 

“O que ele disse?”, Jaemin perguntou. “Seja lá o que for, é mentira. Você não deveria confiar em vampiros, a gente se alimenta do seu sangue, não somos confiáveis e—”

 

“Corta essa, Renjun é inofensivo, se bobear eu ofereço mais perigo que ele”, Donghyuck o cortou com um rolar de olhos. “Ouvi dizer que Lee Jeno também é um de vocês. E que você meio que gosta dele.”

 

Jaemin jamais se sentira mais traído em sua vida do que ao ouvir aquelas palavras de Haechan.

 

“Você contou para ele?”, Jaemin questionou, dessa vez cutucando o amigo para que o olhasse. “Qual é o próximo passo? Contar para o Jeno?”

 

“Escapou sem querer!”, Renjun se desculpou. “Eu só estava tentando explicar ao Haechan porque nós íamos sempre juntos à festa e como dessa vez não iríamos, eu pensei que você poderia... Aí eu acabei dizendo o nome do Jeno sem querer.”

 

“Eu achei muito fofo, não se preocupe”, Haechan se apressou em complementar o namorado enquanto Jaemin dividia seu olhar chocado de um para o outro. “Não é todo dia que eu vejo setecentos anos de covardia reunidos em uma pessoa só.”

 

“Eu vou matar o seu humano e não há marca alguma que me impeça de torcer o pescoço dele”, Jaemin avisou olhando para Renjun. O outro vampiro apenas deu de ombros. “Você deveria escolher melhor as suas palavras quando fala com alguém com muito mais força do que você, Donghyuck.”

 

“Corta essa também, você oferece ainda menos perigo que o Injun”, Haechan deu de ombros com um risinho debochado. Jaemin gostaria de saber como havia ofendido Taeyong pessoalmente para que estivesse lidando com tamanho carma. “Se você quiser, eu posso falar com ele por você e—”

 

“Não!”, Jaemin interrompeu sem nem estar disposto a ouvir o que vinha a seguir. Qualquer possibilidade que colocasse Donghyuck de frente a Jeno o aterrorizava por completo. “Você não precisa se incomodar. Está tudo bem. Eu tenho setecentos anos, sou um vampiro adulto e posso perfeitamente ir a uma festa sozinho.”

 

Renjun o encarou como quem duvidava muito que isso fosse verdade porque, na verdade, nem Jaemin acreditava em si mesmo. Donghyuck parecia ter comprado ainda menos sua mentira, encarando-o com uma sobrancelha arqueada, dividido entre o descrédito e a piedade. O vampiro o odiou um pouquinho mais naquele momento por estar zombando de sua cara dessa forma.

 

Não estava tudo bem ir à festa sozinho, mas era uma possibilidade menos aterrorizante do que deixar Jeno à mercê de Donghyuck, ainda que Haechan fosse o humano entre os dois. Jaemin poderia lidar com uma noite de humilhações se isso significava continuar conseguindo encarar Jeno sem desejar uma estaca em seu peito. Já era difícil conseguir manter a pose quando o outro vampiro o apanhava olhando-o, Jaemin não queria nem imaginar como faria com sua vida se Donghyuck se metesse.

 

Ouviu um suspiro ao seu lado, voltando a encarar o amigo com curiosidade. Renjun tinha os ombros caídos, como sempre ficava quando tinha algo a dizer que Jaemin não ia gostar de ouvir. O vampiro já sentiu o receio ferver em seu estômago só pelo pensamento; as coisas já não estavam ruins o suficiente? O que mais a vida lhe tinha reservado para que sofresse?

 

“Desembucha”, Jaemin disse.

 

“Sabe o Mark? Aquele que estuda com o Haechan e tudo mais?”, Renjun perguntou. Jaemin assentiu; Mark era outro vampiro que conheceu quando foi transformado e ele tinha pouco mais que cinco décadas a mais do que ele como vampiro. “Quando eu fui apanhar o Donghyuck na sala dele, eu o ouvi comentar que ia convidar o Jeno para a festa. Então, se você está disposto a fazer isso, acho que deveria fazer antes que Mark Lee passe na sua frente.”

 

Jaemin sempre soube que não deveria confiar no sorriso bonito e no rosto de bom moço de Mark Lee.

 

Olhou para Jeno, um pouco indeciso sobre o que deveria fazer. Não queria perder a chance para Mark Lee, mas também não sabia se tinha coragem suficiente para se levantar e ir até o outro. Jeno continuava da mesma forma dos outros dias; alheio ao que se passava ao seu redor, com um livro diferente dessa vez. Jaemin se recordava de já ter lido aquele livro.

 

Será que poderia usar isso a seu favor? Quem sabe começar uma conversa informal, introduzir o assunto até que pudesse oficializar o convite... Jeno não se importaria, certo? Eram apenas dois colegas conversando sobre um livro em comum e Jaemin achava até mesmo um pouco irônico Jeno estar lendo Crepúsculo. Talvez fosse alguma piadinha que ele não havia captado no senso de humor do outro.

 

“Vai logo, Jaemin, eu estou ouvindo seus neurônios fritarem e são a última coisa viva em você”, Donghyuck o cutucou.

 

Jaemin, então, se levantou e fez o caminho até onde Jeno estava sentado na frente da classe. Não havia muitos alunos ao seu redor, até mesmo os humanos já tinham se dado conta de que ele preferia ficar sozinho ou qualquer coisa do tipo, e o Na agradeceu por não ter tanta plateia assim. Já bastava sua cabeça gritando consigo e dizendo como estava se envergonhando indo até ali quando Jeno nunca nem demonstrou querer ser seu amigo, que dirá qualquer outra coisa.

 

Mas já estava ali, certo? Então, Jaemin reuniu toda coragem que possuía — e não era muita — e disse a coisa mais inteligente que se passou por sua cabeça:

 

“Você não acha engraçado que de tudo que a gente poderia fazer nesse livro, a Meyer escolheu que a gente brilhasse?”, Jaemin questionou de repente, fazendo Jeno erguer o olhar do livro e encará-lo surpreso.

 

Certo. Talvez nem tão inteligente assim.

 

O vampiro já estava começando a preparar a sequência de desculpas em sua cabeça, disposto a esquecer até mesmo sobre o pedido para ir ao baile consigo, quando Jeno abriu um sorrisinho pequeno, mas suficiente para formar o eye smile que fazia Jaemin suspirar sempre que o via:

 

“Sempre me perguntei como eles conseguiam driblar qualquer sinal do Sol para não brilharem na frente de alguém”, Jeno brincou. “Certamente não estávamos na cidade quando Meyer mandou seu manuscrito para essa editora.”

 

“Ela deveria ter nos esperado”, Jaemin devolveu. “Achei bastante irônico que estivesse lendo Crepúsculo, entre todos os livros.”

 

“Gosto de literatura jovem”, Jeno deu de ombros. “Faz eu esquecer que tenho seiscentos e cinquenta anos de idade. Além do mais, o último livro que li foi Drácula de Bram Stocker e tenho certeza de que Taeyong não autorizou essa biografia.”

 

Jaemin riu em resposta, surpreendido com a facilidade que possuía em falar com o outro vampiro. Talvez porque Jeno tinha essa aura ao seu redor, uma vez que se inseria em sua bolha, que fazia com que tudo parecesse mais familiar e hospitaleiro; talvez fosse aquele sorrisinho constante no canto de seus lábios. A verdade é que quase fez com que Jaemin se esquecesse da razão de estar se tremendo ali ao lado do outro vampiro.

 

Olhou para trás de maneira discreta, encontrando o olhar curioso de Renjun e Haechan, e respirou fundo, voltando a olhar para Jeno. O vampiro havia fechado o livro para dedicar atenção a ele e Jaemin achou mesmo muito considerativo da parte do mais novo.

 

“Falando no Taeyong”, Jaemin começou, um pouco incerto, voltando a sentir a ansiedade borbulhar, “a festa de Halloween é em uma semana, né? Você vai?”

 

Jeno deu de ombros. “Acho que sim”, respondeu. “Taeyong não nos deixaria em paz depois questionando porque não fomos celebrar o casamento dele como se fosse nosso.”

 

Jaemin riu mais uma vez, dessa vez sem saber se por estar nervoso ou porque o comentário era mesmo engraçado. Respirou fundo mais uma vez e, brincando com seus dedos em um sinal claro de nervosismo, lançou de uma vez:

 

“O que você acha de irmos juntos?”, perguntou. “Quer dizer, tudo bem se você não quiser. Sério. Eu sei que você vai sozinho todas as vezes e tal, mas eu achei que poderíamos... Sabe, seria legal se nós dois... Quer saber? Você não precisa—”

 

“Eu adoraria, Jaemin”, Jeno o interrompeu dessa vez com um sorriso maior. Jaemin parou por alguns segundos para entender o que ouviu. “Ninguém nunca me convidou, por isso sempre vou sozinho. Talvez não gostem tanto assim de mim. Você sempre vai com aquele seu amigo, não é?”

 

“Renjun? Nah, ninguém liga pro Renjun hoje em dia”, Jaemin descartou com um risinho bobo. “Está tudo bem mesmo por você irmos juntos?”

 

“Acho que vai ser divertido”, Jeno concordou. “Te vejo no Halloween, então?”

 

“No Halloween”, Jaemin concordou, mantendo o sorriso em seu rosto. “Vou te deixar terminar seu livro. A Bella fica com o Edward no final.”

 

“Não acredito que você me deu um spoiler”, Jeno brincou. “Eu preferiria mais se Alice e Jasper fossem o casal principal, mas acho que vou ter que me contentar com isso.”

 

Jaemin riu pela última vez do comentário do mais novo antes de deixá-lo em paz, confirmando que o veria dentro de alguns dias, e voltou para sua mesa. Renjun e Haechan continuavam a encará-lo como se a vida dependesse de sua resposta, mas Jaemin ainda estava nas nuvens demais para lembrar que esperavam algo de si. Jeno havia aceitado seu convite. Jeno era seu par para a festa mais romântica do século.

 

“É isso, acho que ele pifou de vez”, ouviu Haechan comentar. “Você vai ter que me transformar agora ou vai ficar sozinho pela eternidade, Injun.”

 

Nem mesmo a possibilidade de ter Lee Donghyuck acompanhando seu melhor amigo pela eternidade conseguia tirar o sorriso de seu rosto.

 

X

 

Na véspera de Halloween, a ficha ainda não tinha caído totalmente para Na Jaemin.

 

Se alguém lhe perguntasse como havia sido a sensação de chamar Lee Jeno para a festa mais romântica do século, Jaemin diria que, dentre todos os sonhos que já teve fazendo isso, tinha um top 5 para escolher. Não parecia real — Jeno era alguém muito distante de sua realidade, como se fosse um vampiro muito mais velho e inalcançável graças a hierarquia que os dividia. Contudo, pelo contrário, Jeno era ainda mais novo do que ele e completamente real.

 

Seus pais — Jaehyun adorava quando os chamava assim, enquanto conseguia ver o olho de Doyoung tremer — já tinham dito, certa vez, que não havia razão para que se sentisse tão nervoso ao lado do outro vampiro. Jeno era um recém-criado de Johnny e, sendo o melhor amigo dos vampiros que o tinham criado, era esperado que ele e Jeno também se tornassem próximos em algum momento. Jaemin sentia muito os ter decepcionado nesse quesito porque cinco séculos se passaram e ele quase era capaz de se sentir humano de novo por tamanho nervosismo.

 

Jaehyun ficara orgulhoso quando contou aos dois que tinha convidado Jeno para a festa e que ele tinha aceitado o convite e Doyoung o encheu de recomendações sobre o que evitar na festa agora que estava com um encontro. Jaemin demorou algum tempo associando a ideia de que aquilo era um encontro — ignorando tudo que Doyoung disse após isso e recebendo uma reprimenda,  em seguida, quando o mais velho percebeu.

 

Tinha mesmo um encontro marcado com Lee Jeno e não tinha nem mesmo como dizer que não possuía interesse romântico naquilo quando a festa inteira se tratava de romantismo. Taeyong nunca poupou esforços para demonstrar todo seu sentimento por sua esposa e Jaemin ouvira murmúrios dos mais velhos de que a desse ano prometia superar o último milênio.

 

Para Renjun, seria incrível; seria a primeira vez de Donghyuck em meio a tantos vampiros e ele já seria apresentado na melhor festa dos últimos séculos. Para Jaemin, contudo, dar-se conta disso só acendeu um pouquinho mais a chama da ansiedade em seu estômago para que nada desse errado e para que não passasse vergonha na frente de Jeno. Deus sabia como essa poderia ser, bom, sua última chance de impressionar o outro vampiro.

 

Doyoung lhe dissera para que ficasse tranquilo, que fosse ele mesmo e Jeno com certeza gostaria dele; contara até mesmo sobre como foi quando ele e Jaehyun se apaixonaram e como ele costumava ser ainda mais ranzinza do que hoje e, ainda assim, Jaehyun não havia desistido. O Jung, por sua vez, deu-lhe incontáveis dicas de encontro, provavelmente aprendidas ao longo dos séculos para reinventar seu relacionamento com Doyoung. Jaemin até tentou gravar algumas delas, mas percebeu, um tempo depois, que Jeno não funcionava nem um pouco como seus pais.

 

E a quem ele queria enganar? Estava mais do que óbvio que ele se atrapalharia todo e esqueceria qualquer dica que ouviu.

 

Naquela véspera de Halloween, associado à felicidade que ainda fervia em seu peito, Jaemin se sentou à biblioteca ao lado dos amigos com a ansiedade e o nervosismo fazendo morada em seus ombros ao se dar conta de que, na noite seguinte, estaria ao lado de Jeno mais uma vez.

 

Havia levado uma semana inteira para que essa realização se abatesse sobre o vampiro e Jaemin se amaldiçoou por um instante porque nem mesmo estava pronto para lidar com essa pressão. Amaldiçoou também seus pais por darem a entender que estava em um encontro porque, até então, não tinha esse peso para carregar e a vida ainda era bonita.

 

Analisou muito suas opções antes de decidir que deveria contar para Renjun e Donghyuck como estava se sentindo. Renjun era uma opção segura — por mais que gostasse de zombar de Jaemin por vezes, o Huang sempre o levava a sério quando percebia que algo o incomodava de verdade. Donghyuck, por sua vez, parecia rejuvenescer às custas do sofrimento alheio e não perderia a chance de zombar de sua cara assim que ouvisse seus problemas. Mas a quem mais ele poderia recorrer quando eram suas únicas opções?

 

“Eu nem preciso estar olhando para o Jaemin para saber que ele está se martirizando por alguma razão de novo”, Donghyuck comentou sem tirar os olhos do livro que estava lendo.

 

Jaemin se surpreendeu com o quanto estava sendo previsível nas últimas semanas. Donghyuck aprendeu a lê-lo muito rápido e não gostava nem um pouco de como ele fazia parecer fácil. Olhou para Renjun sentado ao lado do namorado que o respondeu com um dar de ombros, como se concordasse com o comentário do humano. Jaemin suspirou pesado; não é como se ele não estivesse mesmo se martirizando, afinal.

 

“Você deveria estar estudando”, Jaemin devolveu. “Quem precisa passar nessas provas para se salvar é você.”

 

“É fácil falar quando essa é a quinta vez que você faz esse curso”, Donghyuck devolveu. “Vocês deveriam ao menos variar as escolhas, ficam aprendendo a mesma coisa todas as vezes. Que coisa chata.”

 

“A imortalidade lhe faz ter certo apreço pela rotina”, Renjun comentou. “Mas e você, Jaemin? Eu vejo fumaça saindo das suas orelhas.”

 

“Meus pais me fizeram perceber algo e não tenho conseguido pensar em outra coisa desde então”, admitiu. “É bem bobo, para falar a verdade.”

 

“Não duvido nem um pouco”, Donghyuck comentou ignorando o olhar feio que recebeu do vampiro. “E aposto que tem a ver com Jeno. Ele já aceitou o pedido, relaxa, a festa é amanhã. Ele não vai cancelar contigo.”

 

“Não era sobre isso, mas obrigado por me dar um novo motivo para pensar demais”, Jaemin rolou os olhos. “Doyoung comentou sobre ser meu, bom, primeiro encontro. Eu não tinha pensado como um encontro até então e agora não consigo deixar de pensar.”

 

“Não tinha como ser outra coisa, não é, Nana?”, Renjun questionou. “É a festa do Taeyong. Você nunca vai achar outro evento mais propício para um encontro.”


“Quem sabe é também a festa onde você encontra a coragem que perdeu nos últimos séculos e se declara para ele”, Donghyuck opinou, apoiando o rosto em sua mão, o cotovelo por cima do livro que deixou de ler.

 

“Você deveria estudar”, Jaemin frisou, “e não zombar das fragilidades alheias.”

 

“Eu já aceitei a bomba que vou levar nessa matéria”, Donghyuck deu de ombros. “Além do mais, o seu drama é mais divertido. Por que não se declara de uma vez? Tira o band-aid de uma vez só.”

 

“Não é fácil assim”, Jaemin negou. “Eu vou ver a cara do Jeno para sempre. Não é como vocês, humanos, que podem desaparecer da vida uns dos outros quando desejarem. Como acha que posso olhar para ele depois que receber uma rejeição?”

 

“Como você sabe que vai receber uma?”, Donghyuck devolveu. “Eu não sabia nem que Renjun era um vampiro quando falei que gostava dele. Hoje ele me faz até de bolsa de sangue particular.”

 

“Detalhes íntimos demais da vida do meu melhor amigo que eu não quero saber”, Jaemin retrucou. “Talvez eu só seja diferente de você, Haechan. Renjun com certeza me entende.”

 

Renjun não tinha como negar isso, não quando passou algumas semanas comentando sobre Haechan com Jaemin, mas sem coragem alguma de se aproximar do humano por temer a reação que teria ao descobrir sua verdadeira natureza. Jaemin até duvidava que o amigo tivesse comentado alguma coisa sobre esse período com o namorado e era bom amigo o suficiente para levar esse segredo consigo para o túmulo, de novo.

 

“Haechan tem um ponto”, Renjun comentou. “Jeno pode ser tão tímido quanto você e nunca deu qualquer pista, mas... E se for a chance que faltava para vocês? Vai perdê-la assim?”

 

Jaemin odiava seus amigos por conseguirem fazer com que pensasse em algo que já tinha determinado como certo; não tinha chances de que se declarasse para Jeno, não quando corria o risco de receber uma negativa em seguida e não saberia onde se esconder de sua humilhação. Contudo, e se essa fosse a chance de provar que era um cara legal de quem Jeno poderia gostar? Tinham literalmente todo o tempo do mundo para conhecerem um ao outro e Jaemin tinha certeza de que conseguia ser alguém bem bacana.

 

Suspirou, cansado demais para pensar mais a fundo sobre o problema que tinha. Havia um caminho à sua frente que se bifurcava em duas opções e o vampiro não conseguia ver nem mesmo um atalho que lhe desse uma pista sobre o destino final. Por qual caminho deveria percorrer? Qual era a decisão mais acertada a se tomar? O que seus pais fariam em seu lugar?

 

Seu monólogo pessoal, contudo, foi interrompido por um exclamar surpreso vindo de Haechan e Jaemin seguiu a direção onde o olhar do humano estava depositado.

 

Lee Jeno.

 

É claro que Jeno estaria na biblioteca sem que houvesse necessidade de estar, uma vez que tinha certeza de que o outro vampiro não precisava estudar para aquilo tanto quanto ele ou Renjun. Onde mais poderia ter imaginado que ele estaria, conhecendo-o como o fazia e sabendo que ele não vivia sem um livro a tiracolo? Escolhera o lugar errado para ter sua crise existencial e só poderia culpar Haechan por precisar estudar e nem mesmo estar fazendo isso.

 

“Parece que a chance resolveu bater à sua porta”, Renjun brincou. “Vai lá falar com ele, Nana. É o destino.”

 

“Você só pode estar ficando doido se acha que vou fazer isso”, Jaemin negou de imediato. “E envergonhar a mim mesmo?”

 

“Mais do que você já faz evitando o garoto como se ele fosse o próprio Van Helsing?”, Haechan opinou.

 

Jaemin o ignorou com muito prazer. “Sem chances”, determinou. “Eu estou muito bem surtando sozinho e eu só preciso ver o Jeno amanhã e—”

 

“Tarde demais, bebê”, Renjun o interrompeu. “Se você não vai até ele, aparentemente ele vem até você.”

 

Jaemin notou por sua visão periférica a aproximação de Jeno e desconfiava de que Haechan tivesse acenado para ele, para que identificasse onde estavam. Colocou seu melhor sorriso no rosto, engolindo o nervosismo mais uma vez, mesmo que parecesse impossível.

 

O vampiro não demorou a se aproximar, sorrindo para os três, educado como sempre. Trazia em seus braços Lua Nova, a continuação do livro que Jaemin o viu lendo nos últimos dias, o que quase o levou a fazer um comentário bobo antes que Jeno dissesse qualquer coisa. Ao invés disso, sorriu em retorno, mantendo-se em silêncio porque era a decisão mais acertada se não queria se envergonhar.

 

“Posso ficar aqui com vocês por um momento?”, Jeno questionou. Os vampiros à mesa notaram o olhar do Lee em Haechan, percebendo ser um humano, e como sua expressão corporal suavizou ao notar a marca no pescoço do rapaz.

 

“Claro”, Renjun respondeu quando Jaemin nada disse e o chutou por baixo da mesa. “Fica à vontade. Nós estávamos mesmo comentando sobre a festa de amanhã.”

 

Jeno abriu um sorriso ainda maior, trazendo à tona o eye smile novamente e fazendo Jaemin conter o suspiro na garganta. Seu olhar se voltou ao Na em seguida, como se tivesse se recordado de algo com o mencionado.

 

“Eu estava mesmo querendo falar com você sobre a festa”, Jeno começou. Jaemin então pensou se Haechan estava certo ao falar sobre Jeno desistir de ir consigo às vésperas do evento. “Eu estava pensando e... Você acha muito careta combinarmos nossas gravatas amanhã? Eu não sei se parei no tempo e os costumes mudaram, mas...”

 

Jaemin não sabia como Jeno conseguia ser ainda mais encantador do que já era aos seus olhos, mas, de alguma maneira, ele conseguia se superar todas as vezes. O vampiro nem mesmo havia pensado na possibilidade de combinarem suas roupas, uma vez que não tinha se dado conta de que estava em um encontro, mas Jeno pensara nesse detalhe e isso aquecia seu coração.

 

“Claro”, Jaemin concordou com um sorriso bobo. “O que acha de azul?”

 

“Azul é ótimo”, Jeno concordou. “Acho que combina com você.”

 

Se seu coração ainda tivesse condições de dar um batimento que fosse, Jaemin tinha certeza de que já teria parado a essa altura.

 

Renjun e Haechan permaneceram quietos com a interação dos dois vampiros, surpreendentemente sem nenhum comentário que pudesse envergonhar Jaemin. Jeno ainda trocou algumas palavras com os outros dois antes de se levantar, alegando que tinha outros assuntos para resolver e que só tinha se aproveitado do fato de ter encontrado Jaemin ali para fazer sua proposta. Jaemin já sentia sua falta antes mesmo que o vampiro se levantasse da mesa.

 

“Te vejo amanhã, Jaemin”, Jeno sorriu para ele. “Não se esqueça da gravata azul!”

 

Era a única que Jaemin sabia onde estava entre as suas, mas Jeno não precisava saber disso. “Pode deixar”, concordou. “Até amanhã, então. Boa sorte com o Lua Nova, é o mais chato dos quatro.”

 

“Você vai me dar um spoiler a cada vez que nos encontrarmos?”, Jeno brincou.

 

“Bom, a Bella quebra a mão nesse livro”, Jaemin devolveu a brincadeira. “Ainda quer saber como?”

 

“Eu te conto amanhã quando eu descobrir”, Jeno piscou. “Até amanhã também, vocês dois!”

 

Jeno se afastou em seguida, com um aceno de Renjun e Haechan, e Jaemin desmontou em sua cadeira quando o Lee já não estava mais à vista. Estar com Jeno parecia confortável e tranquilo até que Jaemin se visse sozinho mais uma vez e repensando cada palavra que disse ao outro, imaginando em que momento havia se envergonhado de novo e como poderia corrigir isso no próximo encontro dos dois.

 

Haechan o encarava com um olhar inquisidor que Jaemin gostaria muito de fingir não estar vendo.

 

“O que foi?”, perguntou quando viu que o humano nada diria.

 

“Nada”, Haechan deu de ombros, “só é meio patético ver alguém com tantos anos de vida passando vergonha desse jeito. Ele piscou para você, Jaemin, pelo amor de Deus.”

 

“Eu estou passando pela crise da meia idade, ok?”, Jaemin devolveu.

 

“Aos setecentos anos”, Renjun pontuou.

 

“Eu sou um vampiro jovem”, Jaemin rebateu. “Agora se preocupem com o namoro de vocês e me deixem surtar em paz.”

 

Donghyuck apresentou um suspiro desgostoso e Renjun deu de ombros, acostumado ao amigo que tinha. Na mente de Jaemin, contudo, nada existia além da piscadela que recebeu de Jeno como despedida e como aquele vampiro era capaz de desestruturá-lo por completo fazendo nada demais. A festa na noite seguinte seria sua ruína, Jaemin tinha certeza disso, mas nem mesmo isso era capaz de impedir que se sentisse ansioso em voltar a vê-lo.

 

Quem sabe Renjun e Haechan tivessem razão pela primeira vez. Quem sabe as dicas que recebeu de seus criadores tivesse alguma utilidade, afinal. Na noite seguinte, poderia fazer Lee Jeno perceber que era o cara certo para ele e quem sabe ganhasse uma chance.

 

Se conseguisse, ao menos, controlar seu nervosismo o suficiente apenas para não causar a maior vergonha de sua existência.

 

X

 

Dizer que Jaemin estava surtando de nervoso era um eufemismo.

 

A piscadela de Jeno no dia anterior ainda vivia em sua mente, repetindo em um looping como se seu cérebro o odiasse o suficiente para não lhe dar nem um minuto de paz. Seguido do pedido feito pelo outro vampiro para que combinassem suas gravatas, um antigo costume feito por casais todas as vezes que compareciam às festas de Taeyong, Jaemin tinha um combo de informações suficientes para que não conseguisse parar de tremer as mãos por estar  nervoso.

 

Ouvira incontáveis vezes de seus criadores que era apenas um encontro e que ele tinha setecentos anos de vida, já vira muita coisa no mundo para que algo assim o deixasse tão apreensivo. Contudo, qualquer mudança ocorrida no mundo em seu quase um milênio de vida não era nada comparado ao que Jeno fazia consigo ao abrir apenas um sorriso. O mundo não mudara o suficiente para se comparar ao que só o eye smile de Lee Jeno era capaz de fazer.

 

Havia desistido de falar com Renjun também, ainda que seu melhor amigo tivesse mandado uma mensagem na noite anterior perguntando se ele ficaria mesmo bem durante a festa e se não gostaria que ficassem os quatro juntos. Uma parte de Jaemin quis muito responder que sim, porque Renjun certamente o impediria de dizer aquilo que não deveria, mas sabia que não estaria sendo justo com o amigo também. Aquele era um encontro romântico para Renjun e Donghyuck e a última coisa que Jaemin gostaria era de atrapalhá-los em um momento importante para os dois.

 

Além do mais, pensando bem, seria mesmo meio estranho estar com Jeno e os outros dois ao mesmo tempo. Como poderia explicar ao vampiro que não confiava em si mesmo o suficiente para ficar apenas com ele e não entrar em pane?

 

Munido com toda a coragem que reuniu enquanto terminava de se arrumar e verificou cinco vezes a gravata escolhida — de um azul marinho bonito e discreto e que combinava com a palidez de sua pele —, Jaemin fez seu caminho até o ponto de encontro com Jeno, repetindo para si mesmo que não era nada demais, apenas um encontro como qualquer outro e que, quem sabe, Jeno poderia estar tão nervoso quanto ele para esse encontro.

 

Donghyuck era um maldito diabinho colocando ideias em sua cabeça, mas Jaemin não conseguia evitar pensar em como seria se, por um acaso, Jeno pudesse devolver seu interesse. O outro vampiro nunca dera qualquer indício a seu respeito, assim como nunca havia dado sobre ninguém; Jeno parecia estar tão bem com sua própria companhia que Jaemin chegou a duvidar se ele algum dia nutriu algum sentimento por alguém.

 

Quem sabe essa fosse a sua chance de descobrir, certo? Renjun lhe dissera para ir com calma e mostrar quem era sem tentar impressioná-lo e Jaemin era capaz de fazer ao menos isso. Ao menos, era isso que ele achava.

 

A Festa de Halloween de Conde Drácula sempre acontecia na mansão onde Taeyong estivesse vivendo, cercado pelos luxos que a farsa de novo rico lhe trazia. O bairro escolhido ficava um pouco mais distante do centro da cidade onde a maior parte dos vampiros mais jovens viviam, por conta da faculdade, e trazia um clima de tranquilidade e aconchego que Taeyong sempre apreciou. As casas ao redor traziam a mesma imponência e sabiam ser uma região em que os vizinhos não os importunariam por qualquer coisa.

 

Parecia o local perfeito para que o Rei dos Vampiros fizesse sua moradia e reunisse toda sua espécie em uma grande e memorável festa.

 

Para sorte dos vampiros, a maior parte das casas nas redondezas estava dando sua própria festa de Halloween, competindo entre si quem tinha a música mais alta ou a decoração mais assustadora. Jaemin passou por algumas bem convincentes e fantasias de vampiros muito estereotipadas que lhe fizeram querer rir. Se soubessem que ele, vestido com um terno preto de corte ajustado ao seu corpo e com tão pouca maquiagem em seu rosto, era um vampiro de verdade, envergonhar-se-iam das fantasias com caninos enormes e capas espalhafatosas que escolheram usar.

 

Os filmes realmente conseguiram estragar sua espécie para os humanos de vez.

 

A festa de Taeyong era uma das mais discretas na região e para onde todos seus companheiros estavam se dirigindo, evitando chamar atenção como tinham sido orientados no convite. A última coisa que precisavam eram de penetras imaginando ser uma festa melhor e descobrirem o que acontecia uma vez que passavam por aqueles portões.

 

Em frente ao portão, assim que chegou ao local, Jaemin avistou Jeno que olhava de um lado para o outro discretamente, como se buscasse por alguém. Uma nova onda de pânico começou a crescer em seu peito. Não obstante, também havia feito com que ele esperasse por si, atrasando-se pelo caminho enquanto se distraía com humanos com quem nem mesmo se importava. Como poderia começar de uma maneira pior?

 

Jeno, ainda assim, abriu um sorriso assim que avistou se aproximando um Jaemin com a cabeça fervilhando em desculpas a serem pedidas, e que foram esquecidas no momento que viu aquele sorriso. Sorriu de volta em um movimento involuntário, completamente bobo com a atenção que recebia e para a qual não conseguira se preparar o suficiente nos últimos dias.

 

Como podia Lee Jeno existir quando só isso já era tão injusto com todos os outros vampiros?

 

“Você chegou”, Jeno comentou. Jaemin abriu a boca para se desculpar pelo atraso, mas foi cortado em seguida pelo outro. “Eu estava um pouco... Ansioso, então eu vim mais cedo. Você chegou na hora exata.”

 

Jeno ergueu o celular no qual estivera mexendo antes de avistar Jeno, mostrando o horário exato do início da festa. Jaemin piscou uma, duas vezes, abobalhado pela ideia de que Jeno estivera ansioso para encontrá-lo, mas dispensou o assunto com um dar de ombros descontraído. Jeno aproveitou desse momento para olhá-lo com atenção, seu olhar vistoriando Jaemin da cabeça aos pés até que voltasse a olhá-lo.

 

“Você está muito bonito hoje, Jaemin”, Jeno o elogiou. “É algum tratamento especial que estou recebendo ou você também vinha assim com Renjun?”

 

Se Jaemin estivesse bebendo qualquer coisa naquele momento, já teria arruinado a camisa insuportavelmente branca de Jeno e a gravata azul escura que ele vestia, tamanho o choque com o comentário feito pelo outro. Jeno riu, como se esperasse por sua reação e isso o divertisse muito. Jaemin se recuperou não muito tempo depois, procurando pela dignidade que mal chegara e já havia perdido em algum lugar.

 

“Obrigado, você também está”, Jaemin devolveu ao elogio. Jeno estava insuportavelmente bonito com aquele terno delineando seu corpo tão bem e os cabelos penteados de maneira despojada de propósito, combinando com o sorrisinho de canto que ele mantinha. “Mas você sempre está, não é? Quer dizer, não que eu olhe muito, mas você é muito bonito, então... Quer entrar?”

 

Jeno riu mais uma vez e Jaemin só poderia torcer para que ele estivesse, ao menos, achando bonitinho seus esforços em parecer estar tendo uma conversa normal enquanto cada palavra que deixava sua boca só servia para envergonhá-lo um pouquinho mais. Jaemin deu um sorriso normal, indicando o caminho para que seguissem até a festa e Jeno fez conforme orientado, caminhando à sua frente.

 

Os jardins da mansão de Taeyong eram muito bem cuidados pessoalmente por sua esposa que todos sabiam ter um grande apreço por flores. Havia roseiras por todo lugar, uma preferência especial de Conde Drácula, e que forneciam um clima ainda mais romântico ao lugar quando associadas à decoração com os balões de luzes dispostos de maneira estratégica sobre bancos espalhados aqui e acolá. Parecia um bom lugar para casais que estivessem tentando escapar do salão de festas por um momento em busca de privacidade.

 

Jeno já estava ao seu lado quando passaram pelas grandes portas de entrada, encerrando a distância entre o hall de entrada e o salão de festas de onde a música já começava a ecoar. Jaemin olhou ao seu redor, encontrando dezenas de casais espalhados pelo local e se dirigindo para o mesmo lugar que ele e Jeno e subitamente sentiu-se deslocado, como se não devesse estar ali. Deveria estar fazendo o mesmo que eles? Jeno estranharia se apanhasse sua mão?

 

A resposta para suas dúvidas veio da iniciativa do próprio Jeno em apanhar sua mão, encontrando um sorrisinho tímido quando ergueu o olhar para encará-lo. Jaemin relaxou em seguida, sorrindo também para indicar que estava tudo bem e seguiram dessa maneira até o salão de festas, sem chamar atenção de ninguém porque agora se misturavam bem à multidão de casais aglomerados.

 

Se os jardins estavam bonitos com sua decoração, não havia a palavra certa para definir aquele salão além de majestoso. O salão de festas de Taeyong era grande e espaçoso, com um grande lustre pendendo do teto e que agora estava repleto de velas acesas. A luz amarelada dispersava pelo ambiente criando um ambiente confortável, principalmente para vampiros que não podiam estar expostos a alta luminosidade se pudessem evitar. Havia mesas espalhadas por todos os cantos do salão, com dezenas de travessas com ponche que Jaemin sabia ser feito com sangue.

 

Havia também algumas mesas com comidas que nenhum deles tocaria, é claro, mas outros vampiros trouxeram seus humanos de consorte e Taeyong havia pensado em tudo para que todos tivessem uma boa festa. Imaginou se seria capaz de encontrar seus amigos próximos a uma dessas mesas e, em um vasculhar rápido pelo salão, não foi difícil encontrá-los.

 

“Renjun e Donghyuck estão ali”, Jeno apontou. “Deveríamos ir dar boa noite a eles antes de deixá-los sozinhos.”

 

“É uma boa ideia”, Jaemin concordou. “Donghyuck não tem qualquer receio de nos enxotar de perto deles quando estiver disposto a ter uma noite romântica, então deveríamos aproveitar enquanto podemos.”

 

Jeno riu pela piada feita, mas conhecia a fama de Haechan o suficiente para saber que não era por inteiro uma piada. Seguiram até o casal, com Renjun os notando à metade do caminho e cutucando o namorado para que se virasse. Donghyuck tinha em mãos um pratinho com alguns salgadinhos de festa, parecendo muito contente em já estar comendo ainda que a festa mal tivesse começado.

 

“Lee Donghyuck, como o conhecemos”, Jaemin brincou quando se aproximaram, colocando-se de frente ao amigo e com Jeno ao seu lado. “Satisfeito com a comida?”

 

“Na Jaemin, como nunca imaginei que teria coragem de ser”, Donghyuck devolveu na mesma medida, um sorriso maldoso se desenhando em seu rosto ao perceber como Jaemin retesou o corpo. “A comida está ótima, devo dizer, Conde Drácula realmente teve consideração em pensar em reles mortais como nós em uma data importante como essa. E falando em festa, vocês não estão atrasados? O que ficaram fazendo que não chegaram conosco?”

 

Jaemin conseguia ver no rosto de Renjun como ele estava se divertindo com os questionamentos de seu namorado, nem um pouco intimidado por estar buscando envergonhar dois vampiros. Questionou-se mais uma vez porque ainda se dava ao trabalho de chamá-lo de amigo quando nem mesmo conseguia controlar seu humano. Olhou para Jeno, percebendo-o ainda relaxado e tranquilo como se a provocação de Donghyuck não o atingisse.

 

“Os jardins são bem grandes, você deveria pedir ao Renjun que o mostrasse”, Jeno respondeu. “Jaemin e eu ficamos algum tempo admirando... As roseiras.”

 

Aquela era uma grande mentira porque tudo que Jaemin admirou até então fora o próprio Jeno, mas deixou que continuasse dessa forma. Não gostariam que Donghyuck tivesse acesso à informação de como permaneceram sem jeito um com o outro inicialmente após o elogio trocado. Algumas coisas eram pessoais demais para se tornarem motivos de risos.

 

“Ah, Renjun tem que me mostrar muitas coisas nesse lugar”, Donghyuck concordou com um sorrisinho malicioso. “Inclusive, o que acha de começarmos agora? Estou mesmo curioso.”

 

Donghyuck não tinha a menor vergonha em sua cara, mas Jaemin deixou que ele acreditasse que os havia enganado mascarando seu real interesse em levar Renjun para outro lugar, deixando o pratinho vazio no lixo próximo à mesa. Renjun apanhou a mão estendida do namorado, seu sorriso ganhando as mesmas nuances que o de Donghyuck, mas não sem antes se voltar a Jaemin e dizer:

 

“Não achei que você viria mesmo”, Renjun brincou, indicando Jeno com a cabeça discretamente. “Estou admirado, Nana.”

 

“Cala a boca, seu idiota”, Jaemin resmungou, empurrando-o levemente em direção ao namorado. “Gosto mais de você quando está se agarrando com Donghyuck porque assim os dois ficam calados.”

 

“Seu desejo é uma ordem”, Renjun devolveu a zombaria. “Se eu fosse você, tentaria fazer o mesmo. Quem sabe, não é?”

 

Renjun se foi com Donghyuck antes que pudesse reclamar mais uma vez e deu um risinho nervoso para Jeno, imaginando se o outro vampiro teria ficado desconfortável com as indiretas de seu amigo. Deveria ter imaginado que não poderia ter um encontro com seus amigos sem que buscassem envergonhá-lo de algum jeito — com os motivos certos, uma vez que sabiam que Jaemin não tomaria a iniciativa por conta própria, mas ainda assim.

 

“Eles são assim mesmo”, Jaemin comentou com um dar de ombros, “você não precisa ligar para o que dizem.”

 

“Não acho que eles estão de todo errados”, Jeno devolveu, surpreendendo-o. “Essa é a Festa de Halloween de Conde Drácula, não é? Nós não a temos todos os anos, deveríamos mesmo aproveitá-la.”

 

Jaemin se sentia fisicamente incapaz de entender qualquer sentido oculto no que Jeno havia acabado de dizer e algo lhe dizia que era apenas o começo de uma noite onde Lee Jeno não cansaria de surpreendê-lo, seja com seus sorrisos abertos e repentinos ou com palavras tão bem colocadas que lhe fariam pensar a respeito pela noite inteira.

 

E, ainda assim, Jaemin voltara a sentir aquele mesmo sentimento gostoso da antecipação fervendo em suas veias.

 

X

 

Estar sozinho com Jeno mais uma vez reacendeu todos os sinais de alerta para Jaemin.

 

Já havia sido difícil no começo, principalmente porque já tinha dado uma bola fora no momento em que o viu e não pôde guardar seus comentários para si mesmo. O problema é que agora havia também os comentários de seus amigos e a maneira como Jeno havia concordado com Renjun — sabia que não tinha como isso sair de sua cabeça e esse era o maior problema, uma vez que aumentava ainda mais as chances de falar algo que não deveria.

 

O que Jeno queria dizer com deveríamos mesmo aproveitá-la? Queria dizer sobre aproveitarem a festa como uma boa festa de Halloween, como faziam todos os humanos misturados aos humanos, ou se referia ao sentido mais literal daquilo que era proposto por Taeyong? A dubiedade de seus comentários estavam começando a deixar Jaemin maluco e ele nem mesmo podia demonstrar isso, uma vez que não gostaria de colocar-se em uma situação desconfortável caso tivesse entendido tudo errado.

 

A ideia de convidar Lee Jeno como seu par para essa festa parecia perfeita inicialmente, mas, se Jaemin soubesse que ficaria confuso dessa maneira, jamais teria concordado com a ideia estúpida de Renjun.

 

Jeno, por sua vez, era um bom observador. Não demorou muito tempo para que percebesse como Jaemin estava um pouco aéreo, como se estivesse em qualquer outro lugar menos ao seu lado. De início, nada fez a respeito; continuou ao seu lado próximo à mesa de comidas, cumprimentando algumas pessoas e deixando que Jaemin voltasse a si mesmo por conta própria — o que, bom, não aconteceu.

 

“Jaemin?”, Jeno o chamou, cuidadosamente. Jaemin piscou algumas vezes, olhando-o assustado. “Está tudo bem? Você ficou calado de repente e já faz algum tempo...”

 

Jaemin se xingou baixinho; não tinha como piorar ainda mais esse encontro. Tinha tendência a desligar do mundo quando se sentia confuso e usava desse tempo para pensar e clarear seus pensamentos, mas obviamente Jeno não sabia disso porque essa era a primeira noite que passavam juntos e já estava lhe dando uma péssima primeira impressão de não se importar com sua presença.

 

Sorriu para Jeno como um pedido de desculpas, endireitando sua postura e voltando a prestar atenção no mais novo. Jeno não parecia estar desagradado ou qualquer coisa do tipo; permanecia com o sorriso tranquilo e sereno de costume e Jaemin se questionou como ele poderia ser tão inabalável quando sentia que estava desmoronando a cada segundo.

 

“Sim, estou bem”, Jaemin respondeu com um suspiro. “Só... Fiquei um pouco aéreo, mas está tudo bem! Desculpe não estar prestando atenção em você, não sou exatamente fã de lugares cheios assim.”

 

“Eu entendo”, Jeno respondeu com um sorriso compreensivo. “Você preferiria que fossemos a outro lugar?”

 

“Não, vamos aproveitar a festa, é por isso que viemos, certo?”, Jaemin propôs. “Não vai acontecer de novo, eu prometo.”

 

Jeno assentiu, aceitando o proposto e, por um momento, permaneceram em um breve silêncio. Jaemin ainda sorria para o outro vampiro, com nuances de nervosismo na curva de seu sorriso porque não tinha a menor ideia do que deveria fazer agora. O que supostamente as pessoas fazem quando saem em um primeiro encontro com alguém que você conhece há séculos?

 

Para sua sorte, contudo, Jeno parecia ter uma ideia melhor.

 

“Acho que nós convivemos há séculos nessa comunidade e eu não sei muita coisa de fato ao seu respeito”, Jeno comentou, “você não acha curioso?”

 

De fato, era mesmo curioso. Viviam todos na mesma cidade desde que foram transformados e era impossível que não se esbarrassem porque o senso de proteção os unia e fazia com que se mantivessem próximos. Jeno sempre estivera em suas classes na faculdade independente da localidade que escolhessem e, ainda que o observasse de longe há séculos, havia detalhes da vida do mais novo que não tinha a menor ideia a respeito.

 

“Quem sabe hoje é um bom dia para mudarmos isso”, Jaemin concordou. “Mas eu adianto que a minha vida é bem tediosa. Quer dizer, eu tenho um único amigo há setecentos anos, então...”

 

“Acho que você está melhor do que eu porque há seiscentos anos ninguém se aproxima de verdade de mim além do meu criador”, Jeno riu. “Parece que não sou uma boa companhia.”

 

“Só podem estar malucos se acharam que você seria algo além de ótimo”, Jaemin se adiantou em dizer, atropelando-se com as palavras. Jeno aumentou seu sorriso, parecendo um pouco constrangido pelo elogio repentino. Jaemin se proibiu de se arrepender daquelas palavras apressadas porque o sorriso de Jeno valia a pena.

 

“Se você diz”, Jeno deu de ombros. “Mas eu quero saber sobre quem você era antes do vampirismo. Acho que boa parte do que a gente é hoje se deve ao fato de que deixamos de ser nós mesmos em algum momento.”

 

Jaemin foi pego de surpresa por um momento. Suas vidas como humanos quase nunca entravam em pauta durante qualquer conversa porque muitos acreditavam ser algo que deveriam deixar para trás. Para outros, era pessoal demais para que compartilhassem, como se buscassem esquecê-la e focar apenas no que tinham pela frente. Jeno estar interessado em como era sua vida antes de ser transformado era mais do que a busca por um assunto inicial.

 

Era a busca por conexão muito além do superficial, como se buscasse conhecê-lo muito além do que Jaemin estava disposto a mostrar a todos.

 

“Eu quase não me recordo de como era”, Jaemin respondeu depois de algum tempo. “Já faz tantos séculos que... Parece que foi em outra vida.”

 

“Teoricamente, foi mesmo”, Jeno brincou. “A gente se esquece de quem um dia fomos porque nunca encontramos alguém para quem vale a pena recordar, não é? Eu também não tenho muitas memórias.”

 

“É como se eu sempre tivesse sido um vampiro”, Jaemin concordou. “Mas eu me lembro de algumas coisas bem pontuais, como... Bom, como o cheiro do pão sempre que minha mãe terminava uma fornada. Meus irmãos e eu sempre parávamos tudo que estávamos fazendo para nos sentar e comer com ela.”

 

Fazia tanto tempo que Jaemin não pensava nessas lembranças que a sensação de nostalgia que o acometeu foi nova; era como se voltasse a sentir o mesmo cheirinho mais uma vez, como se sua mãe estivesse prestes a colocar o pão retirado do forno naquela mesma mesa. Já fazia muitos séculos... Jaemin se perguntava como havia sido a vida de sua mãe e dos irmãos que sobreviveram depois de sua morte.

 

“Eu me recordo de como meu pai voltava tarde do trabalho, mas, mesmo assim, nunca falhou uma noite em nos colocar para dormir”, Jeno falou de repente. “Minha mãe era quem ficava conosco em casa. Queria ainda me recordar do cheiro da comida como você.”

 

“O sangue nubla qualquer memória quando somos recém-criados”, Jaemin deu de ombros. “Eu me recordo de como foi quando Renjun chegou à nossa comunidade e como foi horrível ensinar aquele idiota a se comportar com a sede.”

 

“Renjun não parece o tipo que deu trabalho”, Jeno pontuou.

 

“Ele esconde muito bem hoje em dia, mas eu conheço todos os podres dele”, Jaemin piscou.

 

Sentia-se um pouco mais confortável ao lado de Jeno agora, e imaginou se partilhar aquelas memórias tinha alguma coisa a ver com esse sentimento gostoso de conforto e familiaridade ao lado do outro vampiro. Jeno tinha o mesmo sorriso no rosto, instigando-o a continuar falando porque ouviria cada história e Jaemin gostava dessa sensação de ganhar a atenção de alguém como Lee Jeno.

 

Contou várias das histórias que possuía com Renjun de quando eram recém-criados até a ideia de irem sempre juntos à festa de Taeyong para zombarem dos casais. Jeno riu de cada uma delas, fazendo comentários pontuais sobre uma ou outra festa em que os tinha notado juntos e surpreendendo Jaemin porque não havia imaginado que em algum momento já atraíra atenção do vampiro mais novo.

 

Ouviu também algumas histórias de Jeno, quase todas sobre como estava sozinho em meio à comunidade e como seus laços mais próximos se resumiam a seu criador e Ten, outro vampiro criado por Johnny, mas que se tornara seu companheiro depois de algumas décadas e Jeno acabou se tornando o filho deles.

 

“Às vezes era embaraçoso”, Jeno comentou. “Por algumas décadas, eu morei com eles. Nossos sentidos serem tão aguçados é ótimo para caça, nos torna predadores invencíveis e tudo mais, mas... Tem muitas desvantagens nesse caso.”

 

Jaemin conseguia imaginar o desconforto e embaraço, mas não conseguiu conter a risada para si ao imaginar Jeno deixando a casa de seu criador para lhe dar privacidade. Não podia dizer que não passara pelo mesmo com Doyoung e Jaehyun — teve sua cota de vezes em que os interrompeu de alguma forma — e, por isso, conseguia entender o sentimento de Jeno, mas não deixava de ser engraçado. O vampiro, que parecia inabalável com tudo ao seu redor, sendo despachado de casa por sons como esses.

 

“É bom saber que você se diverte com o meu sofrimento”, Jeno brincou. “Sempre às ordens para servi-lo, senhor Na.”

 

Jaemin parou de rir aos poucos, mas manteve o sorriso divertido no rosto. “Não pude me conter imaginando como foi a cena de você explicando a Johnny e Tem por que você os estava deixando.”

 

“Top 5 piores experiências da imortalidade”, Jeno deu de ombros. “Talvez seja por isso que eu permaneça sozinho até hoje. Ten deve ter contado essa história e, então, os outros não se aproximavam de mim.”

 

“Eles não tem a menor ideia do que estão perdendo”, Jaemin respondeu, “ou talvez só tenham ficado maravilhados com a sua beleza e completamente intimidados.”

 

Estava mesmo tudo dando muito certo, trocando risadas e histórias antigas de situações embaraçosas que viveram; Jaemin poderia ter continuado dessa forma, poderia ter partilhado de alguma de suas muitas experiências com seus criadores. Ao invés disso, escolhera se sentir à vontade demais para compartilhar com Jeno uma opinião que não deveria ser dita.

 

Como poderia explicar um elogio tão direto dessa maneira? Como Jeno encararia? Sentiu o nervosismo voltar a atacá-lo, sua mente trabalhando a mil para encontrar a perfeita desculpa para as palavras que lhe escaparam, mas Jeno permanecia com o mesmo sorriso.

 

Jaemin daria tudo para saber o que se passava em sua mente naquele momento — estava envergonhado? Incomodado com o elogio tão direto? Se divertindo às suas costas como estivera fazendo com ele há pouco tempo?

 

“Quer dizer”, Jaemin pigarreou em seguida, ainda buscando as melhores palavras, “não é segredo que você é um cara muito bonito, mas eu não... Eu não queria falar... Desse jeito.”

 

“Você muda de ideia tantas vezes quando me elogia que estou começando a acreditar que é sem querer”, Jeno comentou seguido de um sorrisinho de canto quando percebeu Jaemin arregalar os olhos, surpreso.

 

“Não, não é isso!”, Jaemin se apressou em consertar. “Eu só... Quer dizer...”

 

“Está tudo bem, Jaemin”, Jeno o tranquilizou rindo um pouco de como o outro vampiro se sentira nervoso. “Você quer algo para beber? Quem sabe possa pensar em algumas histórias para que eu ria de você também e nós ficamos quites.”

 

Jaemin respirou fundo, concordando com um aceno e se moveram no salão em busca de uma das mesas com os ponches. Ainda se sentia nervoso, como se a qualquer momento pudesse trocar as mãos pelos pés novamente e se envergonhar o suficiente para que Jeno não o visse como nada além de uma piada. Deveria ter prestado mais atenção aos conselhos de seus criadores; poderiam ser bastante úteis agora para que soubesse sair dessa situação constrangedora onde Jeno estava plenamente ciente do quanto o achava incrivelmente bonito.

 

Olhou de soslaio para o outro vampiro conforme caminhavam, a maneira como Jeno permanecia com um sorriso, vez por outra cumprimentando algum conhecido por quem passavam. Controlou o suspiro em sua garganta; estar com Jeno estava sendo incrível, mesmo com todos os momentos em que dizia algo que não deveria, mas estava começando a fazer com que percebesse... Algumas coisas.

 

Quinhentos anos se passaram desde que vira Jeno em uma festa como essa pela primeira vez e, por muito tempo, Jaemin imaginou que se tratava unicamente de uma crush boba e duradoura porque, bom, não havia muita coisa a se fazer com a imortalidade e não havia muitos vampiros de sua idade que não estivessem comprometidos atualmente. Manter Jeno em sua cabeça trazia uma sensação gostosa de ter alguém, mesmo quando não tinha a menor intenção de contar a ele sobre essa crush.

 

Aproximar-se de Jeno não estava em seus planos, mas foi uma surpresa agradável perceber que podiam conversar como velhos amigos, como Jaemin conseguia contar coisas a ele que nenhum outro vampiro soubera a seu respeito, nem mesmo seus criadores. O sentimento de nervosismo ainda existia, é claro, e fazia com que se atrapalhasse com o que queria dizer, mas havia algo mais entre os dois.

 

O grande problema é que essa descoberta trouxe consigo a realização de que, bom, talvez não fosse apenas uma crush passageira e Jaemin não tinha certeza se estava pronto para lidar com isso, não quando nem mesmo conseguia falar por dez minutos com Jeno sem deixar que algo escapasse e fizesse o outro vampiro rir de si.

 

X

 

O clima de estranhamento já havia se dissipado quando alcançaram a mesa de bebidas, mas Jaemin continuava a pensar a respeito de sua recente descoberta.

 

O problema de se aproximar de Jeno era saber que todas as ideias que tivera a seu respeito não eram simples invenções de sua mente muito fértil em busca de algo no que se prender. Estava tudo bem anteriormente quando não tinha certeza de nada e era gostoso manter essa crush à distância. O problema começou, de fato, quando Jeno comprovou ser exatamente como o tinha imaginado, se não fosse ainda melhor.

 

Isso não deveria ser um problema, é claro. Se estava em um encontro, era ótimo saber que Jeno era uma pessoa agradável e divertida e que, ainda que sob ressalvas por rir de si todas as vezes que acabava se envergonhando ao dizer algo que não deveria, conseguia fazer com que se sentisse confortável rápido até demais. Mas não era tão ótimo assim quando sentia que estava afundando ainda mais nessa paixãozinha sem ter qualquer garantia de retorno.

 

Esse era outro problema causado pela falta de interações de Jeno com outras pessoas: ele era assim com todo mundo ou estava dando a Jaemin um pouco de atenção exclusiva? Ele faria piadas como fazia consigo caso seu encontro fosse com Renjun ou teria um vislumbre totalmente diferente do vampiro mais novo? Jeno não lhe dava muitas pistas a respeito e Jaemin sabia que era indelicado abordar o assunto porque a última coisa que precisava era que ele pensasse que desconfiava de sua índole.

 

Mas Jaemin nunca foi bom com sinais, e estava odiando ter que entender Jeno através de vários muito ambíguos enquanto o Lee continuava a sorrir para si daquele jeito que apenas ele era capaz, retendo todos os segredos do universo na curva de seu sorriso.

 

Jaemin suspirou baixinho, enchendo sua taça com o sangue batizado. Parecia bastante claro para o vampiro de que estava condenado, ainda que não soubesse exatamente a que. Estava nas mãos de Jeno e de qualquer que fosse o caminho que o outro vampiro decidisse que esse encontro tomaria.

 

Não poderia dizer, entretanto, de que essa ideia o desagradava. Se Jeno estivesse no controle, Jaemin tinha ainda menos chances de cometer alguma gafe e se envergonhar para sempre porque tudo que precisava fazer era seguir conforme a música mandava, certo?

 

Parecia um plano infalível.

 

A festa continuava a acontecer ao seu redor, o salão cada vez mais recheado de vampiros e alguns humanos ocasionais. Com a aglomeração de vampiros, as marcas tinham ainda mais força e podiam quase sentir o cheiro do veneno se espalhando pela região. Jaemin olhou para a taça em suas mãos e para um casal que se aproximava no qual a mulher era uma humana com uma marca bastante recente e soltou um risinho pelo nariz, ao que Jeno ergueu uma sobrancelha em um questionamento mudo.

 

“O que é tão engraçado?”, quis saber.

 

“Só estava pensando em como deve ser bizarro para os humanos verem travessas de sangue dispostas como ponche de baile de formatura desses filmes mais modernos”, Jaemin riu.

 

Jeno olhou para a travessa ao lado deles, com o sangue brilhando de volta, e deu um sorrisinho. Parecia como qualquer ponche de uma festa qualquer, mas a textura viscosa entregava com a proximidade o porquê de nenhum humano querer se aproximar daquele líquido. Jaemin parecia estar achando disso a coisa mais engraçada do mundo e Jeno... Bom, Jeno gostava de ver Jaemin rindo dessa maneira.

 

“Eles são companheiros de outros vampiros”, Jeno deu de ombros. “Devem estar acostumados a verem até o próprio sangue a essa altura.”

 

“Provavelmente”, Jaemin concordou. “Não sei dizer. Nunca tive um consorte humano para testar.”

 

Agora temos aqui uma injustiça”, Jeno brincou. “Como alguém como você nunca encantou um humano antes?”

 

Não era como se Jaemin nunca tivesse encantado algum humano. Na verdade, tivera sua cota de declarações a serem rejeitadas vindas de humanos que não tinham a menor ideia a seu respeito e que estavam apenas hipnotizadas por sua beleza. Recordava-se de como Renjun brincou consigo e esse imã que parecia atrair humanos até ele, até cair na própria maldição ao se apaixonar por Donghyuck.

 

O problema não eram os humanos; o problema estava em Jaemin e em como nada parecia atraí-lo o suficiente para tirar sua cabeça de Jeno. O mesmo vampiro que agora o questionava sobre como nunca estivera com um humano antes porque, aparentemente, era a coisa mais fácil para a espécie deles e quem sabe até o próprio Jeno tivera sua cota de consortes humanos antes. Afinal de contas, ele não teria passado seiscentos anos sozinho só porque Jaemin nunca viu graça em alguém além dele, certo?

 

Ofereceu um risinho envergonhado, baixando o olhar para sua taça antes de tentar respondê-lo. “Acho que só não esbarrei no humano certo”, deu de ombros. “Quer dizer, imagine se for como Donghyuck? Ele me chantagearia até a morte para transformá-lo e eu já morri uma vez.”

 

Jeno riu pelo comentário, bebericando de sua taça em seguida. “Acho que você tem razão”, respondeu. “A gente precisa ter cuidado com quem desejamos passar o restante da eternidade.”

 

Se Jeno ao menos tivesse ideia do quanto Jaemin desejava que fosse ao lado dele... Mas, obviamente, não havia qualquer chance de que dissesse isso em voz alta. Já tivera sua cota de gafes por uma única noite e estava, de novo, se saindo bem demais até então para estragar tudo mais uma vez.

 

“É uma decisão importante para a gente tomar sem pensar direito”, Jaemin concordou.

 

Parecia um assunto perigoso para ser abordado, principalmente quando tudo naquela festa parecia conspirar para casais apaixonados. Havia casais em qualquer direção que olhasse e Jaemin estava começando a se sentir intimidado por isso. Quando estava com Renjun, sabia que não havia qualquer pressão porque ele era seu melhor amigo e os demais meio que entenderam o porquê de irem juntos, mas agora com Jeno? O que poderia se passar na cabeça de quem os via juntos?

 

O que o levava de volta à questão que estava tentando evitar porque pensar demais claramente não estava trazendo quaisquer resultados: o que Jeno estava pensando sobre os dois?

 

Jaemin, então, escolheu o caminho mais curto: mudar o assunto. Se não conseguia lidar com a ideia do que Jeno tinha em mente a seu respeito, era melhor que voltasse à etapa em que conheciam melhor sobre o outro e, se antes falavam sobre seus passados, dessa vez faria diferente. Bebericou de sua taça mais uma vez, ponderando as palavras antes de formular sua pergunta:

 

“Para onde acha que Taeyong nos levará da próxima vez que mudarmos de localização?”, Jaemin perguntou. “Já viajamos por tantos lugares que nem mesmo sei se há algum que já não tenhamos estado.”

 

Sua tentativa de encontrar um novo assunto pareceu surtir efeito porque Jeno parou para pensar, um vinco se formando entre suas sobrancelhas evidenciando seu esforço. Jaemin manteve o sorrisinho discreto em seus lábios, aguardando pela resposta do mais novo. Conhecer sobre o passado um do outro significava uma conexão entre ambos, é claro, mas ponderar a respeito do futuro também demonstrava interesse em participar.

 

Ao menos, Jaemin esperava que Jeno enxergasse dessa maneira. Ninguém poderia culpá-lo por estar tentando ser discreto, certo?

 

Jeno passou alguns segundos ponderando sua resposta até que mais uma vez ergueu seu olhar e entregou a Jaemin um olhar determinado, com um sorriso animado no rosto. Jaemin precisou se recordar de que não era socialmente aceitável elogiá-lo todas as vezes que abria um novo sorriso só para que não se envergonhasse de novo.

 

“Você vai achar bobo”, Jeno avisou com um riso baixo, “e provavelmente um pouco irônico também, mas... Eu gostaria muito que voltássemos a alguma cidade litorânea. Sinto falta do mar.”

 

Jaemin esperou por qualquer resposta, mas não por essa. Contudo, parecia apropriado; Jeno provavelmente viera de alguma cidade litorânea quando ainda era apenas um humano e tinham tendências a guardarem suas raízes, ainda que muito escondidas e camufladas por instintos que não sabiam nomear. Parecia combinar com ele e Jaemin anotou mentalmente que não poderia morrer antes de ver como Jeno ficava com o mar às suas costas.

 

Seria possível que ele pudesse ser ainda mais apaixonante? Estava disposto a descobrir.

 

“Eu gosto do mar também”, Jaemin respondeu, “mas não suporto a areia, então eu nunca me aproximava da praia quando morávamos em alguma cidade que tinha uma.”

 

“A areia é um obstáculo que você precisa vencer se quer chegar ao mar e ter as ondas contra a sua pele”, Jeno devolveu. “Não gosto também da sensação de estar grudento com a areia, mas o mar... Acho que a sensação de tranquilidade que me passa faz valer a pena.”

 

“Você faz soar como se eu tivesse perdido a maior oportunidade que me entregaram”, Jaemin observou. Jeno tinha esse sorriso nostálgico no rosto, um olhar distante como se sua atenção estivesse em outro lugar, e Jaemin nunca o tinha achado tão bonito antes.

 

“Porque você perdeu!”, Jeno devolveu. “Da próxima vez que nos mudarmos para um lugar como esse, você irá até a praia comigo. Podemos vencer a areia juntos e eu posso te mostrar a magia do oceano.”

 

Jaemin estava disposto a procurar por Taeyong naquele exato momento e implorar pela imediata transferência da comunidade apenas para que aquela promessa pudesse ser cumprida, mas apenas assentiu, concordando com o proposto com um sorrisinho ansioso. Estava tudo sendo mais perfeito do que imaginava nessa noite, mas não seria ele a reclamar de qualquer coisa; quem sabe quebrasse o encanto se o fizesse.

 

Jaemin pensou em falar a respeito de sua cidade dos sonhos — muito oposta a de Jeno, uma vez que viera dos campos — quando sentiu alguém esbarrar consigo, desequilibrando-o. Talvez o álcool no qual seus drinques tinham sido batizados já estivesse fazendo efeito em seu organismo, contribuindo para sua perda de equilíbrio e consequente derramar do conteúdo da taça que ainda segurava.

 

Fechou os olhos por um momento, temeroso do estrago que havia causado. Conseguia sentir seus dedos melados pelo líquido viscoso, mas temia que pudesse ter derramado em Jeno também e como poderia olhá-lo após arruinar seu terno? Não poderia.

 

Quando abriu os olhos, contudo, Jeno o olhava com cuidado e atenção, segurando-o pelo antebraço para que pudesse ampará-lo e ajudá-lo a ajustar sua postura. Conseguiu ver alguns respingos de sangue na camisa branca de Jeno, mas nada que parecesse afetá-lo, uma vez que nem mesmo estava dando atenção a isso. O vampiro com quem esbarrou pediu desculpas pelo encontrão, disse não estar olhando para onde andava e Jaemin disse que estava tudo bem.

 

O esbarrão o jogou para mais próximo de Jeno e agora conseguia sentir seu cheiro ainda melhor do que antes e o embriagava ainda mais do que o drinque que estivera bebendo. Seu rosto também estava mais próximo e Jaemin conseguiu ver cada marquinha de expressão no canto de seus olhos, reflexo de todas as vezes que sorria tão aberto que seus olhos se tornavam meias-luas.

 

“Desculpe”, Jaemin pediu em um sussurro um pouco ofegante; nem mesmo percebeu que suspendia a respiração quando se aproximou tanto do outro vampiro. “Eu estava distraído e não percebi... Meu Deus, olha a bagunça que eu—”

 

Jeno arrancou qualquer palavra de sua boca quando ergueu sua mão em direção aos lábios, lambendo com cuidado o sangue que manchara seu indicador. A atenção do vampiro estava inteira disposta em sua mão e em limpá-la, mas Jaemin não conseguia olhar para outra direção que não fosse Lee Jeno. O que diabos aquele vampiro estava fazendo consigo e como diabos esperava que reagisse?

 

Era provavelmente a coisa mais erótica que já aconteceu consigo em seus setecentos anos e Jaemin nem mesmo sabia se Jeno tinha a intenção de o parecer.

 

O momento poderia ter durado um século ou apenas um segundo, Jaemin nem mesmo saberia dizer se o questionassem. Quando Jeno se afastou, ainda sentia sua mão viscosa pelo sangue derramado, mas muito mais quente graças ao vampiro que limpou cada dedo até a última gota.

 

E Jaemin continuava incapaz de fazer qualquer coisa que não fosse olhá-lo e questionar-se o que diabos havia acabado de acontecer.

 

Um pensamento se passou por sua cabeça, trazendo consigo a dose certa de desespero para se espelhar em seus olhos. Jeno não tinha como saber de sua crush nele, certo? Ele provavelmente estava brincando consigo por qualquer razão que fizesse sentido em sua cabeça, mas Jaemin não havia sido óbvio o suficiente para que fosse apanhado. Renjun o teria alertado, não é? Se todas as vezes que Jeno o apanhou olhando-o em classe ou todas as vezes que não soube o que dizer quando estavam frente a frente...

 

Não, Lee Jeno não podia saber de sua paixãozinha ou Jaemin tinha certeza que seria obrigado a desertar.

 

“Não poderíamos deixar que o sangue se desperdiçasse, não é?”, Jeno respondeu quando percebeu que Jaemin não diria nada. “Faríamos uma bagunça ainda maior e Taeyong não gostaria nem um pouco disso.”

 

Taeyong tinha, sim, sua mania por limpeza e todos sabiam que deveriam evitar o desperdício em suas festas, mas algo dizia a Jaemin que essa não era exatamente a razão por trás do gesto de Jeno, principalmente porque aquele sorrisinho se mantinha em seu rosto, como se soubesse de algo que Jaemin não e estivesse zombando de sua cara por isso. Deveria se sentir irritado por estar sendo deixado de fora de algo, mas, pelo contrário, sentiu-se instigado.

 

Lee Jeno era mesmo uma caixinha de surpresas e Jaemin estava curioso em descobrir o que mais poderia estar deixando passar naqueles sorrisos tão bem calculados quanto suas palavras, brincando consigo como se participassem de uma caça ao tesouro.

 

O que o esperava quando finalmente chegasse ao seu fim?

 

X

 

Jaemin lidou com as dúvidas que Jeno plantou em sua cabeça da única maneira que soube: continuando a beber.

 

Parecia a resposta mais acertada caso quisesse continuar a se soltar ao lado do outro vampiro e não permitir que as dúvidas o fizessem repensar cada passo que dava. Tinha plena consciência de que o sangue que bebia estava batizado por álcool e que não deveria estar bebendo tanto assim, mas Jaemin conhecia sua própria tolerância. Não seriam alguns drinques que o derrubariam.

 

Se Jeno tinha algum comentário a respeito, escolheu não o fazer, mantendo sua taça cheia em acompanhamento à Jaemin, mas não bebendo tanto quanto o outro vampiro. Jeno era gentil e mantinha aquele sorriso calmo que garantia a Jaemin de que estava tudo bem. Se alguma coisa desse errada, sabia que o vampiro estaria ali para ampará-lo — mesmo que isso lhe custasse toda a dignidade e uma certeza irrefutável de que não mais conseguiria encará-lo.

 

Não tinha outra escolha, certo? Seu melhor amigo havia sumido com o namorado desde o momento em que se separaram, no início da festa, e Jaemin não tinha ninguém para assegurá-lo de que estava indo bem desde então. Nem mesmo seus criadores estavam à vista, então restava a ele que confiasse em si mesmo e no encontro que estava proporcionando a Jeno.

 

O problema é que Jaemin não confiava em si mesmo tanto assim.

 

Sabia ser uma pessoa divertida, é claro, mas todas as suas piadas sempre envolviam um certo nível de autodepreciação que ninguém precisou alertá-lo de que não eram apropriadas para um encontro. Se retirasse essas piadas, seu repertório não teria nada além de algumas piadas sem graça que Renjun sempre rolou os olhos quando o contava — não queria correr o mesmo risco com Jeno.

 

Se o Jaemin sóbrio não era assim tão interessante, então quem sabe sua versão um pouco bêbada pudesse fazer melhor.

 

Foi por isso que Jaemin permitiu que o álcool corresse por seu corpo e o levasse para um novo ânimo onde tudo parecia um pouco mais engraçado. Seu sorriso já saía com mais facilidade, escorrendo por seu rosto a cada comentário de Jeno, suas palavras já não mais tão calculadas para que nada soasse estranho ao mais novo. Jaemin conseguia sentir a si mesmo mais livre, fosse isso bom ou ruim.

 

Jeno não parecia incomodado com sua mudança de humor, o que já era ótimo para Jaemin; quem sabe fosse exatamente disso que precisava para deixar de ser tão mecânico como estivera sendo até então e aproveitar daquela festa como Renjun o aconselhara a fazer.

 

O problema é que, bom, Jaemin havia se esquecido de um detalhe importante e que não podia faltar em nenhuma das Festas de Halloween de Conde Drácula.

 

Aquela era uma festa dada em homenagem a seu casamento e, por isso, o ponto alto da noite era quando Taeyong finalmente aparecia do alto da escadaria com sua esposa ao seu lado, guiando-a até o centro do salão para que dessem início à valsa. Todos os casais antecipavam esse momento porque ninguém podia dar início à valsa antes que Taeyong aparecesse; era o momento mais romântico da festa e Jaemin já tivera sua cota de experiências com Renjun.

 

Não é porque estavam ali para zombar dos casais que não poderiam dançar juntos e foram boas recordações depois que Taeyong entendeu que não estava tentando zombar de seu casamento só por não estar dançando apaixonadamente. Jaemin gostava da valsa porque, apesar de tudo, era bonito ver todo sentimento revestido em cada rosto por onde olhava.

 

Mas nem mesmo se passara por sua cabeça de que a valsa aconteceria enquanto estivesse com Jeno também.

 

A música começou a soar no momento em que Taeyong despontou no alto da escada, segurando a mão de sua mulher com delicadeza. Todos interromperam o que estavam fazendo para olhá-los — não porque Taeyong era a autoridade entre todos eles, mas porque era impossível olhar para outra direção uma vez que aquele casal estivesse presente. Os dois pareciam reluzir à luz das velas e o sorriso de Taeyong trazia tanto sentimento que Jaemin quase podia ouvir seu coração palpitar — não estivesse parado há setecentos anos.

 

A presença daquele casal era o segredo por trás do romantismo daquele momento, da dança que evocava as emoções escondidas e provocava confissões não planejadas. Jaemin olhou de soslaio para Jeno ao seu lado, encontrando-o sorrindo enquanto acompanhava o trajeto do casal até o centro do salão e se questionou como seria para ele. Jeno nunca viera acompanhado a uma das festas, então nunca tivera ninguém com quem dançar.

 

Seria a primeira vez para os dois de uma maneira romântica.

 

Estaria tudo bem para ele ou ele preferiria ficar assistindo os demais casais, com alguma desculpa boba quando questionassem por que não estavam dançando como todos?

 

Jaemin bebeu um pouco mais de seu drinque quando se percebeu fazendo perguntas demais para as quais não tinha a resposta sozinho e também não questionaria Jeno. A valsa teve seu início, com Taeyong conduzindo sua esposa pelo salão em passos ensaiados e elegantes, combinando com cada pedacinho da música que soava. Alguns casais começavam a preencher aquele espaço também, um pouco mais tímidos em roubar atenção do casal principal, mas que estimulava os demais a seguirem seus passos.

 

Encontrou Renjun um pouco mais distante, convidando Haechan para dançar consigo. O humano aceitou de bom grado com um sorriso imenso no rosto, apanhando a mão do vampiro e guiando-o ao centro do salão. Renjun também sorria ao acompanhá-lo e foi impossível para Jaemin não sorrir com aquilo.

 

Seu sorriso não passou despercebido por Jeno.

 

“O que foi?”, Jeno perguntou. “Sorrindo para o nada. Alguns diriam que está apaixonado.”

 

E não estava mesmo?

 

Ao invés de devolver a pergunta com esse questionamento, Jaemin deu de ombros, indicando com o queixo onde os amigos estavam. “Renjun sempre foi um porre, tão mal-humorado que, às vezes, eu me perguntava porque éramos amigos”, explicou. “Ele tem mudado desde que conheceu o Donghyuck.  Ele diz que não, mas eu o conheço muito bem. Acho que eu precisava ver esse momento entre os dois para sentir que essa mudança veio mesmo para ficar e que, bom, parece que eu vou ter que me acostumar a Donghyuck.”

 

Jeno também riu um pouco quando entendeu o que se passava com seu acompanhante. Não conhecia Renjun tão bem assim, não eram tão próximos quanto ele e Jaemin, e Donghyuck não costumava se entrosar consigo tão facilmente. Ainda assim, conseguia entender o que Jaemin queria dizer com aquilo porque a mudança parecia quase física enquanto os encarava. O sorriso de Huang Renjun espelhava o de Lee Donghyuck e Jeno sabia reconhecer paixão quando a via.

 

“É bom estar ao lado de alguém que traz o seu melhor lado à tona”, Jeno comentou. “Acho que Renjun deve estar mais feliz agora, não é?”

 

“É impossível estar ao lado do capetinha do Donghyuck e não deixar esse lado ranzinza para trás”, Jaemin deu de ombros, “então acho que sim. Você tem razão.”

 

Jaemin também adoraria estar ao lado de alguém que trouxesse seu melhor lado a tona e não que o fizesse se sentir nervoso por cada passo que dava, mas já havia desistido de um dia isso acontecer. Em partes, porque Lee Jeno era tudo que passava por sua cabeça há séculos e nada o deixava mais nervoso do que o vampiro e, por outro lado, porque havia aceitado que esse trem descarrilado de nervosismo era quem ele era. Não tinha o que ser feito.

 

Por um momento, permaneceram em silêncio assistindo os casais valsando, o salão aos poucos se enchendo com a música que parecia ainda mais alta agora. Jaemin voltou a olhar seu acompanhante discretamente, perguntando-se se Jeno gostaria de dançar consigo, mas sem qualquer coragem de fazer o convite. Era o que esperavam deles, certo? Um casal como qualquer outro, valsando uma música romântica, ainda que não fossem exatamente um casal e não precisassem de uma música romântica. Mas e se—

 

Jaemin saiu de seus pensamentos com um cutucar em seu ombro e um olhar curioso de Jeno.

 

“Você quer dançar?”, Jeno o convidou. “Essa é a parte mais importante da festa, eu odiaria se você a perdesse porque não consegui convidar antes.”

 

Jaemin derreteu por completo ao ouvi-lo e o que esperavam que respondesse? Que não gostaria? E ser o monstro sem coração a tirar aquele sorriso do rosto de Jeno?

 

Concordou com um assentir, aceitando a mão estendida em sua direção e acompanhando Jeno até o centro do salão. Havia casais demais espalhados para que prestassem atenção nos dois e, por um lado, isso era ótimo; acalmava um pouco a ansiedade em seu peito saber que não estavam sendo observados a todo momento e que ninguém estava assistindo seu decair quando, com certeza, acabasse se envergonhando em meio a dança.

 

Por outro lado, de que importava? Jaemin só conseguia ver o homem à sua frente sorrindo para si e com os dedos entrelaçados ao seu, como a música pedia.

 

Começaram a valsar lentamente, ainda conhecendo o terreno por onde passavam. Jaemin mantinha os olhos atentos ao rosto do outro vampiro que tinha um sorriso bonito como resposta. Quase conseguia sentir o calor passando pelos dedos entrelaçados e foi impossível que não sorrisse também porque em que momento de sua vida imaginou estar vivendo isso?

 

Não era como se não estivesse nervoso; isso era bastante óbvio que estava acontecendo, principalmente pela maneira como estava pisando nos pés de Jeno, vez ou outra, como se estivesse completamente desabituado a dançar valsa com alguém. Ainda assim, não era seu estado de espírito predominante porque Jeno fazia questão de reassegurá-lo de que estava tudo bem em cada sorriso.

 

Havia alguma coisa na companhia do mais novo que trazia a Jaemin uma tranquilidade diferente. Associado ao nervosismo que lhe fazia parte do sistema, causava uma bagunça de sentimentos em sua cabeça, sem que soubesse para qual lado dar mais atenção. Estava tudo bem se relaxasse como Jeno indicava? Ou era apenas um indício de que colocaria tudo a perder quando menos esperasse?

 

Sentiu falta do drinque que antes segurava, ciente que o álcool o ajudaria a se sentir menos indeciso. Contudo, não poderia deixar que isso chegasse até seu rosto e manteve o sorriso firme; Jeno não poderia desconfiar de nada porque a última coisa que desejava era fazer com que o outro pensasse que desgostava tanto de sua companhia que era necessário que apelasse para o álcool.

 

Se Jeno ao menos soubesse...

 

“Jaemin”, a voz de Jeno chegou a seus ouvidos em um sussurro. “Você está nervoso?”

 

Nervoso, certamente, era um eufemismo para o que esteve durante toda a noite, mas Jaemin deu um sorrisinho envergonhado, abaixando o rosto pelo constrangimento antes de respondê-lo.

 

“Faz um tempo desde a última vez que dancei com alguém”, Jaemin se justificou, embora não fosse verdade. Bom, também não era de todo mentira — seu único parceiro de dança nessas festas fora Renjun que agora conduzia Donghyuck não muito distante de onde estavam. “Pisei demais nos seus pés?”

 

Jeno sorriu mais uma vez, pela enésima vez apenas naquela noite e Jaemin não conseguia se sentir cansado daquele sorriso. “Está tudo bem”, ele deu de ombros. “Eu posso conduzir a valsa, se você quiser. Você confia em mim?”

 

Jaemin ergueu o olhar novamente, encontrando os olhos brilhantes de Jeno em busca de sua resposta. Continuavam a valsar enquanto o Na o encarava em silêncio, a boca entreaberta como se as palavras buscassem saída, mas não soubessem como. Se ele confiava em Jeno? Não demorou a chegar a uma resposta positiva porque é claro que ele confiava, como poderia ter alguma dúvida disso?

 

Mas saber que Jeno estava disposto a guiá-lo e estar consigo por confiar de volta era algo que o deixava um tanto quanto deslumbrado. Talvez não estivesse sendo um desastre de noite; talvez estivesse mesmo mostrando a Jeno que era alguém interessante e alguém que valia a pena conhecer.

 

“Eu confio”, Jaemin respondeu por fim, recebendo um sorriso ainda maior do outro vampiro em resposta.

 

A postura de Jeno mudou quando passou a assumir o controle da dança e, para alguém que Jaemin nunca viu com outra pessoa naquelas festas, Jeno valsava muito bem. Fazia com que soasse fácil, natural estar de dedos entrelaçados ao dele e permitir que seu corpo se movesse ao ritmo do outro, com passadas longas e compassadas. Jaemin já não mais pisava em seus pés ou precisava olhar para o chão para saber que estava fazendo tudo certo.

 

Jeno fazia soar como se estivesse flutuando em seus braços e, aos poucos, fez com que o vampiro se sentisse relaxado naquele abraço, seu sorriso se estendendo por seu rosto em satisfação. Já não importava que houvesse outros casais com quem dividiam o salão ou que Taeyong estivesse muito próximo dali, ainda o centro das atenções como deveria ser.

 

Para Jaemin, era como se tivessem todo o salão para descobrir e estava disposto a fazê-lo caso Jeno continuasse a guiá-lo daquela forma. Parecia muito mais fácil valsar enquanto mantinha seus olhos fixos aos do outro vampiro, deslumbrado pelo conjunto reluzente que Lee Jeno formava, como se emanasse luz por conta própria.

 

Na Jaemin sabia que esses pensamentos eram frutos de sua mente ainda um pouco ébria e que talvez não estivesse se sentindo tão livre como estava agora se não fosse a dose de álcool em suas veias, correndo em meio ao veneno que lhe mantinha vivo. Ainda assim, sabia que grande parte desses pensamentos eram derivados da paixão que nutria pelo homem à sua frente e nunca conheceu uma mente apaixonada que não fosse fantasiosa em algum momento. Era o mínimo que esperavam dele, certo?

 

Precisava fazer alguma coisa quanto a esse sentimento e precisava fazer logo, enquanto ainda tivesse a coragem líquida correndo em seu corpo. Se Jeno o guiaria naquela dança, Jaemin só poderia torcer para que a confiança depositada naquele momento finito pudesse se estender até o final daquela noite.

 

X

 

A valsa pareceu durar uma eternidade, mas, pela primeira vez, Jaemin não tinha nada a reclamar da imortalidade.

 

Poderia passar o restante de seus dias naquele momento, no silêncio agradável entre ele e Jeno, quebrado unicamente pelo soar da música romântica e do som de seus passos em conjunto. Poderia passar o restante de seus dias contando cada pontinho brilhante naqueles olhos ou como o rosto de Jeno se modificava em cada sorriso, como seus dentes reluziam e Jaemin estava hipnotizado.

 

Contudo, sabia que não poderia. Uma valsa não dura a noite inteira e, aos poucos, os casais começaram a deixar o centro do salão e até mesmo Taeyong e a esposa se afastaram, começando a cumprimentar vampiros mais antigos como mandava o protocolo. Em determinado momento, Jeno e Jaemin também precisaram deixar o centro do salão e Jaemin não sabia o que deveria fazer com tudo que acumulou dentro de si durante aquele curto período.

 

Tinha uma taça em suas mãos mais uma vez e o álcool se misturava tão bem ao sangue que nem mesmo conseguia distinguir seu sabor. Sentia sua cabeça cheia e sabia que precisava fazer alguma coisa sobre isso. Todos os pensamentos que o inundaram enquanto Jeno o guiava por aquele salão voltavam com mais força e Jaemin, no fundo, sabia que precisava dar voz a cada um deles se quisesse ter a chance de contar cada pontinho luminoso nos olhos de Jeno.

 

Renjun e Donghyuck talvez tivessem razão. Quem sabe essa festa fosse o que precisava para dar vazão a seus sentimentos e criar a confissão que nunca imaginou que estaria fazendo, mas que, em algum momento, deixaria escapar. Quem sabe Jeno merecesse saber toda a verdade e, mesmo que não lhe correspondesse, talvez ainda fossem bons amigos depois de se conhecerem melhor naquela noite.

 

Havia uma esperança, certo? Jaemin não era bobo. Jeno estava agindo diferente consigo, de uma maneira que não imaginou que estaria quando o convidou e isso lhe dava esperanças. Embora houvesse uma chance de estar lendo os sinais errados, Donghyuck cortaria sua cabeça caso deixasse escapar essa chance. Queria que, ao encontrar os amigos após a festa, tivesse uma boa recordação para contar e não mais um arrependimento para sua lista.

 

Convidou Jeno para que fossem até os jardins quando a festa já começava a dar sinais de que estava estagnando. Horas se passaram desde que chegaram ali e Jaemin conseguia ver as mudanças sutis no céu noturno, indicando que não demoraria muito para que o Sol chegasse e precisassem terminar a festa se queriam continuar se passando por humanos. Atrairiam atenção indesejada caso continuassem uma festa sem que houvesse necessidade de descanso e era a última coisa que precisavam.

 

Jaemin sabia que tinha pouco tempo e quem sabe fosse justamente esse senso de urgência que lhe faltava antes. Não fosse agora, em que momento teria a atenção de Jeno para si e uma situação suficientemente justificável para que vomitasse baboseiras românticas?

 

Além do mais, havia o álcool. Jaemin sabia que não encontraria outra situação em que tivesse tantas justificativas para seu comportamento caso tudo desse errado ao final da noite.

 

Os jardins não estavam vazios, mas a maior parte dos vampiros ainda ocupavam a mansão de Taeyong e os casais espalhados pelo jardim buscavam tanta privacidade quanto aqueles dois e não seriam nenhum incômodo. Jaemin conhecia aqueles jardins — Doyoung era um amigo íntimo de Taeyong e já arrastara tanto ele quanto Jaehyun para algumas visitas — e, por isso, podia guiar Jeno pelas roseiras até que achasse um lugar tranquilo.

 

Encontraram um bom lugar não muito tempo depois, escondido entre as roseiras e com uma lâmpada iluminando o banco de pedra. Sentaram-se ali, guardando o silêncio em um primeiro momento, como se ainda estivessem imersos no momento que dividiram enquanto dançavam. A música ainda conseguia alcançá-los naquele ponto, mas era afastado o suficiente para que soasse como uma música ambiente e reconfortante.

 

Jaemin respirou fundo, olhando para Jeno, apenas para encontrá-lo olhando para si antes.

 

“Eu estou me divertindo muito essa noite”, Jeno comentou quando Jaemin o olhou, rindo baixinho como se estivesse envergonhado por ter sido apanhado. “Graças a você. Eu não estaria me divertindo se tivesse vindo sozinho, como em todos os séculos.”

 

“É bom saber disso”, Jaemin respondeu com um sorriso. “Eu venho tentando achar coragem para te convidar há literalmente séculos, mas... Pelo menos, dessa vez eu consegui.”

 

Jeno ergueu uma sobrancelha, curioso, e Jaemin soube nesse momento que havia falado mais do que o necessário. O que tinha contra simplesmente aceitar o agradecimento e dizer que também estava se divertindo? Por que precisava complicar a si mesmo com palavras que Jeno não deixaria de notar?

 

“O que quer dizer com isso?”, Jeno perguntou. “Séculos querendo me chamar para a festa do Taeyong?”

 

Jaemin engoliu em seco, respirando fundo e soltando o ar em seguida. Talvez essa fosse a hora. Não fosse agora, em que momento seria? Conseguia sentir as palavras se formando na ponta da língua, disputando entre si quais seriam as primeiras a deixar sua boca, pairar sobre suas cabeças e dar a Jeno respostas que Jaemin guardou para si por séculos. Poderia ser esse o momento. Não havia outro melhor.

 

Olhou para o outro vampiro, encontrando-o com um olhar curioso, mas paciente. Jeno não o forçaria a dar nenhuma resposta que Jaemin não quisesse e tinha certeza de que, caso desejasse dar a volta no assunto e distrai-lo, Jeno fingiria que havia dado certo e conduziria o assunto para longe do que o deixava desconfortável. Mas Jaemin não queria mais fugir.

 

Talvez fosse o álcool. Talvez fosse o desejo de provar Donghyuck errado e mostrar que não era covarde, só não tivera as chances certas até então. Ou ainda o anseio de fazer Renjun se sentir orgulhoso por, finalmente, enfrentar seu medo da rejeição. Talvez fosse por si mesmo, para acalmar o furacão que se formava em sua cabeça quando Jeno estava por perto e o desastre natural que o formava quando sorria para si.

 

Mas poderia ser também por Lee Jeno, pelo brilho de seus olhos, pelo sorriso de criança, pela gentileza e carinho que não esperou receber por toda a noite e um lado do outro vampiro que Jaemin sabia que ninguém mais conhecia. Talvez fosse sua vez de devolver um segredo e algo lhe dizia que Jeno o guardaria melhor do que ninguém.

 

Afinal de contas, confiava nele, não é?

 

“Você é bonito demais para ser de verdade”, Jaemin riu de seu próprio comentário, ciente que talvez não fosse o melhor início, mas era a verdade. Estava disposto a deixar que seus pensamentos saíssem sem que pensasse dez vezes antes sobre cada um, deixar que Jeno soubesse o que fazia com sua cabeça. “Eu nunca soube o que fazer quando estava perto de você. Algo em você me deixava tão nervoso que eu sabia que não diria nada com nada, que só iria me envergonhar na sua frente e depois me odiar por isso. Talvez seja exatamente isso que eu estou fazendo agora. Eu estou falando demais, não é? Bom, você faz com que eu não consiga pensar com clareza, então é como se eu vivesse um turbilhão de emoções ao mesmo tempo. Quem sabe você nem queira me ver depois dessa festa, mas eu queria que você soubesse que está sendo a melhor de todas para mim porque é você ao meu lado, como eu não achei que um dia conseguiria.”

 

Jeno ouviu cada pedacinho de seu monólogo sem o interromper, seus olhos atentos a cada mudança de expressão de Jaemin como se de fato precisasse de cada uma daquelas palavras. Jaemin engoliu em seco após terminar de falar, desviando o olhar de Jeno porque agora já não parecia mais uma ideia tão boa deixá-lo saber de tudo; não conseguia encará-lo como antes, não quando sabia que as chances de Jeno estar achando graça de sua cara eram muito grandes.

 

Jaemin não interpretou aquele silêncio da melhor maneira. Talvez Jeno estivesse buscando maneiras de chutá-lo que fossem gentis, como tudo nele era; talvez ele só estivesse achando graça e contendo o riso até que Jaemin fosse embora, educado demais para rir em sua cara. Jaemin não queria olhar no rosto alheio e encontrar a confirmação dessas suposições, mas foi incapaz de manter o olhar distante por muito tempo.

 

E Jeno sorria quando voltou a encará-lo, um sorriso muito mais aberto do que qualquer outro que viu durante a noite, um sorriso que Jaemin não tinha certeza do significado.

 

Parecia natural que imaginasse que o mais novo estava zombando de si e um biquinho se formou em seus lábios, contrariado. “Eu sabia”, resmungou baixinho. “Você está tirando sarro de mim. Eu sabia que isso ia acontecer, por qual razão você iria querer me ouvir dizer qualquer uma dessas besteiras?”

 

“Você entendeu errado”, Jeno respondeu. “É exatamente o contrário, Jaemin.”

 

Jaemin piscou uma, duas vezes, absorvendo aquela resposta que só serviu para deixá-lo mais confuso. Talvez tivesse bebido mais taças do que deveria e seu raciocínio estava um pouco lento. Jeno continuava a sorrir, paciente como em cada minuto daquela noite, esperando até que Jaemin entendesse o que queria dizer. O mais velho nada disse, o que fez com que Jeno continuasse a falar:

 

“Eu não me importo de vir a essas festas sozinho, nunca foi algo que eu me envergonhei ou coisa do tipo”, Jeno explicou. “Mas me deixou muito feliz quando você me convidou para vir com você porque, bom, talvez eu também tenha te admirado por algum tempo sem que você percebesse. Eu notei os seus olhares em mim, eu notei como você ficava nervoso, mas... Eu não sabia o que isso significava e eu não tinha coragem suficiente de fazer um movimento e correr o risco de ter entendido errado. Quando você me convidou, eu achei que seria a oportunidade perfeita para tentar porque... Você não me convidaria se não gostasse de mim, certo?”

 

Jaemin assentiu porque era verdade; gostava de Jeno e era bom que ele tivesse entendido o que quis dizer nas entrelinhas do monólogo que vomitou sobre ele. Ainda assim, não fazia sentido em sua cabeça que Jeno pudesse estar devolvendo seu interesse, dizendo-lhe que já nutria interesse antes mesmo do convite. Como nunca o tinha notado? Como seus amigos não perceberam quando estavam tão empenhados em zombar de si com Jeno?

 

“Você foi mesmo muito discreto”, Jaemin se ouviu comentar. “Eu... Eu nunca notei.”

 

“Me enturmar não é o meu forte, você deve ter percebido”, Jeno deu de ombros, rindo baixinho de si mesmo. “Eu não queria... Criar um clima desconfortável caso você me notasse, então me esforcei para ser sutil.”

 

Jaemin nem mesmo sabia porque Jeno havia escolhido essa alternativa porque, caso tivesse feito o contrário, poderiam estar juntos há muito tempo. Jaemin não precisaria ter sofrido nas mãos de Renjun e Donghyuck e sua cabeça não estaria um mar de confusões só por estar perto do outro vampiro.

 

“Se você quiser... Eu adoraria que voltássemos a nos ver depois de hoje”, Jeno propôs. Pela primeira vez, havia um sorrisinho tímido em seu rosto e ele desviava o olhar a cada momento, como se não conseguisse encarar Jaemin por muito tempo. Jaemin não pôde deixar de achar a coisa mais fofa do mundo. “Tempo é o que nós temos de sobra, não é?”

 

Eles tinham tempo de sobra, sim. Tinham toda a eternidade pela frente para que Jeno lhe explicasse em que momento o notou, quando despertou seu interesse, por quê nunca disse nada. Jaemin também poderia explicar sobre os quinhentos anos de sentimentos escondidos e como vivera até então pensando a todo momento sobre como Jeno era a pessoa mais bonita que já viu. Estava mais do que ansioso em fazer com que isso acontecesse.

 

A imortalidade conseguia ser muito chata, Jaemin sabia disso. Mas com Lee Jeno ao seu lado, a imortalidade era tudo que Jaemin mais queria.

 

“Isso... Isso é sério?”, Jaemin perguntou, ainda um pouco bobo. Parecia estar dentro de um daqueles livros que Jeno encontrava para ler e dos quais sempre acabava contando algum spoiler para o outro sem querer.

 

Jeno deu de ombros, mantendo o sorriso pequeno, mas afetuoso. “Eu não gostaria de nada mais, se você aceitar.”

 

Jaemin nunca quis tanto algo e esperava que o sorriso que surgiu em seu rosto, o suficiente para fechar seus olhos, fosse resposta suficiente para o outro.

 

“Eu posso te beijar?”, Jaemin perguntou de repente, incapaz de conter suas palavras graças a euforia que o dominava pelo momento. “Ou é muito rápido para um primeiro encontro?”

 

Jeno riu e fez com que Jaemin se sentisse mais tranquilo, menos nervoso por ter falado sem pensar. Sentados ao lado um do outro, Jaemin conseguia sentir seu joelho tocando o de Jeno, e o rosto do mais novo parecia mais próximo ao seu. As mãos de Jeno brincavam com as suas em um carinho gentil, gostoso, e que Jaemin já estava começando a se acostumar ainda que tenha acabado de começar.

 

“Acho que somos velhos o suficiente para não precisarmos nos preocupar com isso”, Jeno comentou.

 

Jaemin não precisou concordar; Jeno tomou a iniciativa em encerrar o espaço entre seus rostos, selando seus lábios em um primeiro contato tranquilo, receoso. Jaemin aproveitou daquela sensação como se fosse o primeiro beijo em sua vida; como se ainda pudesse sentir o sangue correndo por suas veias, o coração descontrolado, o rubor em suas bochechas e o suor frio em suas mãos unidas às de Jeno. Seu corpo podia não funcionar mais como outrora, quando humano, mas Jeno lhe causava cada uma dessas sensações.

 

Era o melhor primeiro beijo de todos.

 

Passou a devolver ao beijo em seguida, movendo seus lábios contra os de Jeno em um ritmo suave, ouvindo o risinho baixo do outro em meio ao beijo. Jaemin também queria rir em felicidade genuína; vira dezenas de comédias românticas onde tudo era perfeito para o casal principal quando a cena do beijo acontecia, mas nada saíra perfeito para ele até então.

 

Seu caminho até ali fora regado por situações vergonhosas e nervosismos que demoraria a esquecer, mas era um caminho que o levou até Lee Jeno, aos olhos brilhantes tão próximos dos seus e que agora carregavam o brilho de uma constelação quando se afastaram um pouquinho. Era um caminho que o levou aos braços de Lee Jeno e, por isso, era um caminho que Jaemin estava mais do que disposto em percorrer tudo de novo, se necessário fosse.

 

X

 

Ainda não parecia real para Jaemin.

 

Mesmo após Jeno voltar a afirmar seu interesse e até mesmo sugerir o novo encontro — “Tem essa cafeteria que tem um conceito muito interessante e a gente podia ir lá pedir um café e nunca beber, só pelas fotos, o que você acha?” —, ainda parecia estar vivendo um grande sonho. Pelos últimos quinhentos anos, Jaemin sonhara com o momento em que teria coragem suficiente para deixar que Jeno soubesse de seu interesse e nunca imaginou que esse dia realmente chegaria; conhecia a si mesmo bem o suficiente para saber que havia altas chances de que desse para trás no último minuto.

 

Quem sabe devesse agradecer ao álcool que agora começava a diminuir seus efeitos, mas que tivera um papel importante para que reunisse a coragem que precisava. O fato de Jeno estar sorrindo para si agora, planejando um encontro como se fossem apenas dois humanos se conhecendo, não estaria acontecendo não fosse seu breve momento de coragem líquida. E, ainda assim, tudo que Jaemin conseguia fazer era encará-lo e sorrir como bobo porque não parecia real.

 

Mas era — Lee Jeno estava bem ali à sua frente, a mão ainda unida à sua em um carinho gostoso e gentil, repleto de sorrisos e risadas imaginando os atendentes encarando-os com seus cafés intocados por uma tarde inteira. Jaemin jamais estivera mais ansioso em sua vida para fingir ser um humano do que naquele momento que nem mesmo existia ainda, mas pelo qual já se via ansioso.

 

Seu primeiro ímpeto era esfregar na cara de Renjun e Donghyuck de que ele também conseguiu alcançar seu felizes para sempre — se dependesse de Jaemin, literalmente para sempre —, mas, ao mesmo tempo, tudo que Jaemin queria fazer era aproveitar daquele momento escondido nos jardins de Taeyong onde ninguém poderia alcançá-los, sua pequena bolha de felicidade fora da realidade, um sonho que sempre se imaginou vivendo, mas que nunca saiu de sua cabeça.

 

Jeno pareceu notar seu conflito interior, de toda maneira, porque ergueu o olhar das mãos unidas e encarou-o com uma sobrancelha arqueada. Jaemin esboçou uma careta confusa pelo súbito silêncio porque estava sendo a melhor parte de sua noite ouvir os planos de Jeno para seu futuro encontro e nada parecia mais importante do que isso naquele momento.

 

“Você parece distante”, Jeno comentou. “Eu estou te enchendo o saco ou sendo rápido demais para um segundo encontro?”

 

“Eu teria um segundo encontro assim que a gente saísse dessa festa, se você quisesse”, Jaemin se apressou em responder porque, apesar de um pouco embaraçoso para admitir em voz alta, era verdade. Faria qualquer coisa que Jeno pedisse. “Só estava pensando em como não parecia ser de verdade.”

 

Jeno sorriu, aquele sorriso que Jaemin já havia tomado como seu favorito porque fazia os olhos de Jeno diminuírem como meias-luas e tinha traços de malícia em cada curvatura. “O que mais preciso fazer para que você se convença de que é real?”, perguntou.

 

“Quem sabe um novo beijo”, Jaemin brincou.

 

Jeno deu de ombros, inclinando-se em direção ao mais velho e selando seus lábios por alguns segundos. Jaemin permaneceu de olhos abertos, perguntando a si mesmo o que havia feito para que alguém como Lee Jeno o estivesse beijando. Quando o mais novo se afastou, Jaemin tinha um sorriso bobo no rosto e Jeno parecia satisfeito pelo que havia causado.

 

“E agora?”, Jeno devolveu a brincadeira.

 

“Me parece real o suficiente”, Jaemin respondeu com um riso atrelado às palavras. “Nós deveríamos entrar. O Sol já está para nascer então acho que a festa está terminando e nós não gostaríamos de ficar presos nos jardins do Taeyong.”

 

Jeno pareceu concordar com a sugestão porque Taeyong era conhecido por sua pontualidade e os portões fechariam às seis da manhã em ponto, encerrando a festa até que a próxima chegasse. Levantou-se, dando a mão para que Jaemin o acompanhasse, o que o mais velho aceitou com um grande sorriso. Estava mesmo vivendo uma história clichê de comédia romântica e a melhor parte é que estava amando as recompensas de todas as vergonhas que passou para que chegasse até aqui.

 

Bom, agora ele poderia esfregar na cara de seus amigos que Lee Jeno era mais do que um simples acompanhante para a festa.

 

No interior do salão, a festa já dava indícios de que estava para terminar, com as pessoas se despedindo dos anfitriões e agradecendo pela noite antes de voltarem para o conforto de suas casas. Jaemin olhou rapidamente em busca dos amigos, ciente que Donghyuck poderia estar caindo de sono, mas não sairia de uma festa até que ela fosse oficialmente declarada como encerrada.

 

Como imaginou, encontrou-os próximos à mesa de comidas para os humanos. Cutucou Jeno para que fossem até eles e, como se entendesse exatamente o que Jaemin tinha em mente, o mais novo segurou sua mão enquanto caminhavam até os amigos com Jaemin incapaz de tirar o sorriso de seu rosto. A mão de Jeno era fria contra a sua, como era de se imaginar, mas o incendiava mais do que qualquer fogueira da qual já tinha fugido.

 

Renjun foi o primeiro a notar a aproximação dos dois, cutucando Donghyuck para que também olhasse. O humano se virou ainda mastigando seu quitute, mas Jaemin conseguiu ver a surpresa em seu olhar quando percebeu que Jeno ainda estava o acompanhando.

 

“Ora, ora, quer dizer que vocês também estão aqui ainda”, Donghyuck comentou. “A essa altura, imaginei que Jaemin já teria dito que estava cansado de tantos casais ao redor dele e encerrado esse encontro.”

 

“Você pensa muito pouco de mim, Donghyuck, mas não me surpreende mais”, Jaemin respondeu. “Como poderíamos ir embora antes de terminar a melhor festa do último milênio?”

 

“Renjun tinha razão quando disse que Taeyong se superou esse ano e eu nem mesmo estive presente nas outras”, Donghyuck deu de ombros ao concordar. “Você bem que podia ter aproveitado o clima para fazer alguma coisa, não acha?”

 

Não fosse o fato de que Jeno estava bem ciente de como Donghyuck não tinha filtros e, bom, Jaemin já tinha mesmo feito alguma coisa, estaria muito envergonhado nesse momento e buscando todas as maneiras de distrair Jeno do assunto só para evitar que ele entendesse a indireta. Dessa vez, contudo, Donghyuck não recebeu nada além de um sorrisinho de canto como resposta à sua provocação, o que o fez franzir o cenho em estranhamento. Algo estava errado.

 

Foi Renjun quem notou primeiro, para falar a verdade; Jaemin conhecia o amigo o suficiente para entender que seu silêncio derivava do fato de estar analisando muito bem sua posição com Jeno, a maneira como estavam bem mais próximos do que no início da festa e Renjun não precisava ver as mãos unidas às suas costas para entender que algo estava... Diferente.

 

“Aconteceu alguma coisa que a gente não sabe?”, Renjun questionou ao amigo, os olhos semicerrados em busca da mentira que Jaemin contaria.

 

“Por que deveria?”, Jaemin deu de ombros. “O Halloween é só uma data muito importante para pessoas como nós e Jeno e eu só queríamos aproveitá-lo ao máximo, como você nos aconselhou. A decoração não estava linda esse ano? Eu adorei as velas. É tão... Século dezoito.”

 

A risada de Jeno atraiu atenção de todos, ao que ele pediu desculpas pelo momento inapropriado. Jaemin também sorriu, incapaz de manter a fachada como gostaria. Não enganaria Renjun com aquilo, sabia disso, o amigo o conhecia há quase sete séculos. Tinham intimidade o suficiente para que Renjun entendesse e, ainda assim, nada falasse a respeito. Havia um momento apropriado para que o fizesse e sabia que não era agora.

 

Agora era o momento de permitir que Jaemin aproveitasse daquilo que tanto quis para si e que nunca pareceu possível — até finalmente ser.

 

“Ouvi falar que o século dezoito foi o favorito do Taeyong”, Renjun comentou, seguindo a deixa dada pelo amigo. “Combina com ele. E falando nisso, acho que está na hora de o cumprimentarmos e irmos embora, não acha, Hyuck? Eu já te vi bocejando umas dez vezes.”

 

“Ser humano realmente tira toda a graça dessa festa”, Donghyuck bocejou mais uma vez. “Bom, acho que não tem como negar isso. Vejo vocês dois na segunda-feira, infelizmente.”

 

Renjun também se despediu e Jaemin assistiu os amigos caminharem até onde Taeyong conversava com alguns vampiros mais velhos para que se despedissem. Sozinho com Jeno mais uma vez, o vampiro deu um suspiro, rindo para si mesmo pela pequena cena que criaram. Jeno o olhou com um sorriso divertido, como se toda a cena lhe divertisse mais do que qualquer piada que Donghyuck pudesse fazer.

 

“Por que não contou a eles a verdade?”, Jeno perguntou de repente. “Sobre a gente ter se beijado. Sobre o próximo encontro. Deveríamos ser um segredo e eu não sei?”

 

A última coisa que Jaemin gostaria era de manter em segredo que Lee Jeno inacreditavelmente retribuía seus sentimentos. Deu de ombros como resposta, virando para o vampiro com um sorrisinho travesso:

 

“Queria que esse momento fosse só nosso por enquanto”, respondeu. “Até que eu consiga acreditar que ele aconteceu mesmo.”

 

“Começo a acreditar que você só está falando isso pra eu te beijar de novo”, Jeno brincou.

 

Jaemin deu um risinho baixo porque, bom, quem sabe estivesse mesmo falando isso para receber um novo beijo porque nunca era suficiente, mas tinha seu fundo de verdade. Jeno parecia tão inalcançável até o começo dessa noite que o desenrolar dos fatos ainda parecia um pouco surreal, como se estivesse apenas vivendo um grande sonho causado pelo álcool em excesso que havia ingerido.

 

Entretanto, Jeno continuava ali e o toque de sua mão continuava a queimá-lo como gelo.

 

“Na verdade, eu não achei que pudesse ser alguém interessante o suficiente para chamar sua atenção”, Jaemin deu de ombros, como se não o afetasse contar sua maior insegurança. “Quer dizer, você precisa admitir que eu me envergonhei ao menos umas dez vezes nessa noite. Eu derrubei sangue em você, em mim mesmo, pisei nos seus pés enquanto dançávamos, falei mais do que devia... Como eu, ainda assim, consegui fazer com que você me notasse?”

 

“Eu venho notando você há muito tempo”, Jeno respondeu com um encolher de ombros tímido. “Você não tem ideia de como é incrível para mim, Jaemin.”

 

Se ainda corresse sangue em seu corpo, Jaemin com certeza teria corado. “Eu nem faço nada demais”, respondeu, um pouco tímido.

 

“Você não precisa”, Jeno o corrigiu. “Eu sempre notei você me olhando de vez em quando. Mas quando eu o olhava de volta, você sempre desviava tão rápido que acho que convenci a mim mesmo de que não era nada demais, que você provavelmente só estava distraído e não olhando para mim. Ainda assim, eu notava você brincando com Renjun, rindo de qualquer coisa, brigando com Donghyuck nos últimos anos... E não há um pedacinho do que eu assisti que não me tenha sido fascinante.”

 

Jaemin não era a pessoa com mais facilidade em lidar com elogios no mundo e sua resposta aos cumprimentos de Jeno foi um risinho baixo e constrangido, os olhos baixos e focados nas mãos unidas agora de frente a seus corpos. Jeno parecia ainda mais próximo, se possível, e sua voz não passava de um sussurro que reverberava contra os ouvidos do mais velho.

 

“É mais real do que você imaginava”, Jeno continuou a falar. “Espero que continue sendo por um bom tempo.”

 

“Eu também”, Jaemin confirmou com um aperto reconfortante nas mãos que segurava. Em seguida, riu mais uma vez como se tivesse acabado de se recordar de algo muito engraçado. Jeno o encarou confuso. “Desculpe, é só que... Renjun quebraria o meu pescoço se soubesse de tudo isso. Ele tem me aguentado falar de você pelos últimos séculos e eu nunca tomei a iniciativa em nada por puro medo de que você fosse me rejeitar.”

 

“Renjun não precisa saber disso”, Jeno piscou, “pode ser um segredinho só nosso. Quer dizer, se você aceitar o encontro que eu te propus, sabe, porque até agora eu não recebi nem um não como resposta.”

 

“E como eu poderia responder qualquer outra coisa que não fosse sim para você?”, Jaemin devolveu.

 

Em um ato de coragem — a felicidade descomedida podia ser um impulso maior do que qualquer quantidade de álcool —, Jaemin soltou suas mãos das de Jeno apenas para levá-las aos ombros alheios, dedilhando a região até alcançar a nuca do mais novo. Seus dedos se enroscaram nos fios sedosos e Jeno segurou-o pela cintura, puxando-o gentilmente em sua direção. Não importava que outros vampiros ainda estivessem presentes, que os murmurinhos começariam ou até mesmo que aquilo chegasse aos ouvidos de Renjun e passasse anos ouvindo-o reclamar sobre os séculos perdidos o aguentando se laminar sem necessidade.

 

Nada realmente importava para Jaemin quando Jeno se inclinou em sua direção, roubando um novo beijo com cuidado e delicadeza, rindo contra seus lábios e fazendo Jaemin sorrir também.

 

Era um preço justo o suficiente para se pagar.

 

Jeno se afastou apenas o suficiente para que seus narizes se tocassem e Jaemin abriu os olhos para encontrá-lo sorrindo para si. Tinha certeza de que poderia se acostumar àquela visão dali em diante e nunca estaria cansado de vê-lo sorrir.

 

“Me pareceu uma resposta boa o bastante”, Jeno brincou.

 

A imortalidade podia ser muito tediosa, Jaemin sabia disso. Contudo, jamais estivera mais agradecido por seu caminho ter se cruzado com o de Jeno através dos séculos e que finalmente o para sempre tivesse ganhado um propósito pelo qual estava ansioso.


Notas Finais


O POBRE JAEMIN MAIS NERVOSO IMPOSSÍVEL mas no final deu tudo certo porque Jeno seria incapaz de não se apaixonar também, não é? Felizes literalmente para sempre !

Espero que vocês tenham gostado! Qualquer coisa, to aí embaixo nos comentários pra saber tudo que acharam, no twitter eu também sou @iambyuntiful e estou lá pra batermos altos papos! Para dúvidas, sugestões, críticas, reclamações ou só para gente falar de nomin 24/7, meu ccat é esse: https://curiouscat.me/iambyuntiful <3

Lembrando que, caso desejem entrar no grupinho de leitores dos byunitos, é só me mandar uma MP aqui no Spirit ou uma DM no twitter! ;)

Até novembro com mais novidades heheheheh, e beijinhos~! <3


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