O dia estava claro, o Sol já havia nascido há mais de uma hora e o calor de mais um dia de verão vigorava, acalentando uns, irritando outros.
– Se você desmaiar eu vou te deixar no mesmo lugar. - A morena disse sem ao menos se dar o trabalho de tirar os olhos do livro recebendo um resmungo da amiga.
– Eu não sou uma fracote, não vou desmaiar, idiota. - A esverdeada passou a fita sobre seus cabelos medianos, os prendendo em um rabo de cavalo alto. – Não sou que nem aqueles mariquinhas.
– Não se trata disso, sua estúpida. - Fechou o livro olhando a outra terminar de se vestir. – Ficar exagerando nesses exercícios em plena manhã não vai te ajudar em nada.
– Você só diz isso porque é a porra de uma sedentária. - Cruzou os braços sob o peito.
A morena suspirou jogando o livro na mochila e se levantando da cama, não podia negar aquilo de toda forma, mesmo que estivesse certa sobre os exageros. Parou de frente da esverdeada com um sorriso debochado no rosto.
– Pelo menos você tomou banho dessa vez, Zorah-ya. - Riu da expressão emburrada da outra.
– Cala boca, Lawliet. Você está parecendo a Perona com essa encheção de saco.
– Banho não é vaidade, idiota. É higiene. - Revirou os olhos.
Ambas as garotas eram amigas desde muito novas. As duas possuíam genialidades fortes, talvez sendo por isso que se davam tão bem apesar das inúmeras brigas e discordâncias que tinham, porém, no fim, se compreendiam como ninguém.
Trafalgar Lawliet era uma garota consideravelmente calma, retraída e até mesmo pacífica, porém também se estressava facilmente, era muito teimosa – tal qual Zorah – e agressiva quando necessário, principalmente quando se tratava de vingança.
Já Zorah era completamente explosiva. Sua paciência era curta e se irritava ainda mais rápido que a amiga. Porém, com os amigos mais próximos, era, mesmo que de uma forma um tanto bruta, bastante carinhosa.
– Ah, que seja. - Jogou a própria mochila sobre os ombros e se dirigiu à porta do quarto. – Só anda logo.
– Não me dê ordens!
Ambas desceram as escadas até a sala de estar da casa da menor, onde um ruivo ainda de pijama as recepcionou com um sorriso.
– Bom dia, meninas.
– Bom dia, Shanks. - Responderam em uníssono.
– Vão tomar café da manhã? - Se encaminhou até a cozinha com as duas em seu encalço.
– Eu já tomei café em casa, obrigada.
– Bom dia, Lawliet. - Mihawk que preparava a comida, se virou para as duas já bem acostumado com a presença da morena em sua casa antes mesmo que acordasse ou da ausência de sua filha em horários como aquele, já era tradição elas irem juntas para a escola. – Não vai comer, Zorah?
– Não, não. Vou pegar só uma maçã, lá eu compro algo. E cadê a chata da Perona?
– Ela está com cólica, vai ficar em casa hoje. E não fala assim da sua irmã, Zorah. Tenha respeito.
– Tá, claro. - Resmungou um "fresca" e "mimada" com a resposta e se despediu. – Tchau, pai. - Deu duas batidas no ombro do mais velho e se encaminhou para saída com Lawleit segurando seu pulso. – Tchau, Shanks.
– Boa aula para vocês. - Apenas acenou já com a boca cheia de ovos mexidos.
– Valeu. - Gritou da sala. – Vou dormir na Lawliet hoje, tá!
[...]
O sinal da terceira aula já havia tocado, indicando o horário do intervalo e todos os alunos caminhavam apressados no corredor para aproveitaram o tempo livre ou se encaminharem ao refeitório.
– Eu odeio aula de cálculo. - Zorah reclamou pela enésima vez.
– Porque você é burra. - Puxou o braço da esverdeada que iria virar no corredor contrário.
Lawliet possuía 18 anos e, apesar de ter a mesma idade que Zorah, já estava no último ano, isso porque a esverdeada já havia perdido um ano. Por isso ambas tinham aulas diferentes, mas sempre se encontravam nos corredores, ainda mais que Zorah possuía um péssimo senso de direção e era Lawliet quem a auxiliava à ir até os lugares corretos.
– Você é uma estúpida. - Resmungou se livrando do aperto da outra quando chegaram aos armários para guardar os livros que não seriam mais usados – Lawliet no caso, já que Zorah havia esquecido de todos em casa. – E uma nerd irritante.
– Ah, olha lá o nosso calsazinho de sapatas preferidas! - A atenção de ambas foi atraída para um grito no meio do corredor acompanhado de um coro de risadas.
– Exatamente, bem quando você bate uma pensando na gente, idiota! - Lawliet gritou de volta fazendo as risadas aumentarem.
– Eu queria estar quebrando a cara desses desgraçados agora.
– Se você levar outra advertência por quebrar o nariz de alguém vai acabar sendo expulsa, e processada.
– Humf. Eu sei, mas o Bellamy e a trupe de idiotas dele seriam os próximos da minha lista. - Zorah revirou os olhos. – Mudando de assunto, você vai vir na tal gincana dos calouros?
– Ainda não sei.
– Ah, fala sério. Soube que sua turma vai fazer o trote com eles.
– Por isso mesmo. Se você que não é da sala está sabendo, nem imagino os professores. - A morena finalmente se voltou ao seu armário tentando organizar a pilha de livros que havia ali – além dos necessários das aulas. – Você sabe que eles proibiram depois daquela pegadinha besta do ano retrasado que deu aquela merda toda.
– Como se você se importasse com isso. - Encostou as costas em um dos armário com um sorriso de lado. – Você só está fugindo da Eustass, né?
– Claro que não.
– Sei. Vai magoar menos se você dizer logo ao invés de ficar patetando aí. Ela vai entender que você é fiel ao seu único amor. - Lawliet afastou o rosto do armário no mesmo instante.
– De que merda você tá falando?
– Do Luffy.
– Eu não gosto daquele idiota.
– Não, claro que não. - Debochou enquanto a amiga ficava emburrada. – Inclusive olha ele vindo aí.
– Eu não vou cair nesse papo, idiota.
– Que papo, maluca? Olha ele ali. - Ainda com o cenho franzido virou na direção que a outra falava, vendo um moreno baixo, com uma pequena e adorável cicatriz abaixo do olho esquerdo no final do corredor ao lado de um loiro fazendo uma careta.
Lawliet sentiu o rosto esquentar quando o olhar do garoto se encontrou com o seu e ele sorriu acenando animado enquanto corria em sua direção.
– Olha aí você com cara de besta de novo. Vou deixar vocês conversarem. - A morena saiu de seu transe com as batidas da amiga em seu ombro. – Boa sorte
– Quê? Não! Me espera, Zorah-ya! - Lawliet se voltou apressada para seu armário, empurrado seus livros rapidamente e tentou fechá-lo às pressas, prensando seus dedos no metal no processo. – Ai buceta!
– Mademoiselle. - Ouviu a voz de Sanji próxima de si e logo o loiro estava segurando sua mão machucada. – Você está bem? Precisamos cuidar desse machucado.
– Eu estou bem, não se preocupe. - Puxou sua mão das dele. Sua vontade era de esmurrar a cara da amiga, mas ela já estava longe. Por sorte sabia bem como irritá-la sem precisar de esforço algum. – A Zorah-ya estava indo para o refeitório, é só você ir no caminho contrário que encontra ela.
A morena sorriu satisfeita ao ver o olhar do loiro se converter em um brilho apaixonado. Sanji intencionou segurar sua mão para depositar um beijo de agradecimento, mas foi impedido por um empurrão de Luffy.
– Tral! - Luffy abriu um imenso sorriso para a garota. – Eu tava te procurando.
– Qual seu problema, seu desgraçado? - Sanji ralhou irritado com o amigo, mas voltou-se sorrindo para Lawlie. – E muito obrigada, senhorita. Eu vou procurá-la.
Sanji apenas foi ignorado pelos dois enquanto saía atrás de Zorah.
Quando o pai de Zorah se casou com Shanks, ela acabou, por consequência, conhecendo Luffy, que era seu afilhado, e se tornaram amigos. Com isso, os inúmeros amigos dele vieram de brinde, incluindo Sanji.
Lawliet já a conhecia por seu pai, Corazon, e Mihawk trabalharem para o governo, o que as tornaram próximas desde novas, então, assim como Zorah, também se tornou amiga de Luffy e os amigos, mesmo que só se considerasse apenas amiga dele.
– Você vai para a gincana no sábado? - Lawliet se encostou no armário fechado revirando os olhos, por que todos estavam tão interessados nesse evento idiota?
– Ainda não sei. - O sorriso de Luffy diminuiu dando espaço à uma feição insatisfeita.
– Ah, sério? Eu queria brincar com você. - Lawliet riu nasalado com a fala de Luffy, vindo de qualquer outra pessoa com certeza teria um duplo sentindo, mas era impossível aquilo vim dele, ainda mais com aquela expressão inocente.
– Sabe que não somos mais crianças para brincar desse tipo de jogo, né? - Perguntou com um sorriso um tanto malicioso nos lábios e tentou cruzar os braços, mas a dor em sua mão a impediu.
Seu rosto se converteu em uma careta de dor e Luffy assumiu uma postura preocupada.
– Acho que é melhor a gente ir na enfermaria. - Luffy pegou a mão que não estava machucada de Lawliet, a puxando em direção à enfermaria. – E sempre vamos poder brincar do que quisermos, Tral.
Lawliet revirou os olhos.
– Não precisa exagerar, eu estou bem. - Apesar das palavras deixou-se guiar pelo garoto. – E por que você queria "brincar" comigo? A Zorah-ya com certeza vai.
– Porque eu quero ficar com você, ué. - Ele com certeza não percebia o duplo sentindo em suas falas e revirou os olhos, ignoraria aquelas falas ou sua mente daria um nó. – E você tá machucada, Tral. Você vive me levando para lá quando eu estou machucado.
– Isso porque você é pior que a Zorah-ya e está sempre metido em brigas e confusões.
– E você sempre cuida de mim shishishi. ‐ Luffy a olhou sobre o ombro com um sorriso grande no rosto enquanto apertava a mão dela. – Agora eu vou cuidar de você também.
Lawliet sentiu suas bochechas esquentarem com aquelas palavras. Possivelmente Luffy não dizia aquilo no mesmo sentido que a morena interpretava, mas era o suficiente para fazê-la sentir o coração falhar algumas batidas dentro do peito e fazê-lo rir animado com a expressão engraçada que ela fazia.
– Idiota. - Lawliet possuía um sorriso carinhoso nos lábios enquanto retribuía o aperto em sua mão.
Assim como Zorah, por mais que se negasse a admitir, Lawliet também possuía um lado carinhoso, e Luffy em específico, era um dos principais motivos para sua mudança de estado de espírito.
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