-Tio Asriel?? Tia Chara??- comecei a gritar, desesperado, voltando às propriedades do castelo. Alguns guardas me paravam para perguntar o que tinha acontecido, mas eu nem mesmo ouvi eles. Continuei correndo pelos arredores do castelo gritando por eles. Eu estava com suor escorrendo pelo rosto, meu coração batia acelerdo e minha respiração estava ofegante. Nunca me senti com tanto frio e com tanto calor como naquele momento. Eu tentava me teleportar para todos os lugares do castelo, mas não achava nem o tio Asriel nem a tia Chara.
Quando eu havia me teleportado para o jardim do castelo dei de cara com o tio Asriel, e recuei rapidamente, quase como um susto.
-Uou! Francis, a Cinn não te contou que eu—
-TIO... A CINN... ELA...- falei ofegante, pondo as mãos na cabeça. Eu não havia piscado a quanto tempo? Meus olhos ardiam. O rosto de tio Asriel passou de calmo para sombrio. Ele segurou nos meu ombros e olhou diretamente para meus olhos.
- O QUE ACONTECEU.- ele falou num tom de voz que eu nunca havia ouvido. Nem quando ele nos dava bronca. Era sério e frio. Diferente de tudo o que eu já vi.
Respirei fundo. Eu tinha que manter a calma. Era tudo um choque grande demais pra um dia só. Mas eu consigo. Eu consigo...
-Eu...- um grande peso decaiu sobre meus ombros. – Foi minha culpa. Me desculpe.
Eu conseguia sentir seu olhar pesado e autoritário sobre mim. Continuei, sem olhar em seus olhos:
-Eu tive a ideia de ir com o pessoal para o subsolo. – eu esperava um grande bravejar da parte do meu tio, mas não ouvi nada. Seu olhar apenas continuava mais frio que antes. E sobre mim, fixamente, querendo ouvir o resto.
-Quando estávamos indo pra lá, eu tive uma sensação estranha... N-não que isso importe, eu acho. Mas eu vi que a Cinn também estava esquisita. Perguntei se ela estava bem, mas ela só respondia que sim o tempo todo. E... Ela parecia cada vez mais estranha, principalmente na sala do trono e quando chegamos em Snowdin.
Ele permanesceu em silêncio, sinal para eu continuar.
-E o pessoal foi... visitando o resto do subsolo enquanto eu estava com a Cinn. Depois ela me pediu para ir pras ruínas sozinha. –agora pude ouvir um suave gunhido de desaprovação vindo da parte dele. – eu... Eu nem sabia que aquele era o nome do lugar! Enfim... ela pediu para ir sozinha, e eu... Eu deixei. Depois eu vi umas coisas sobre...
Agora olhei nos olhos dele- vi coisas sobre a tia Chara. Meu pai... Estava falando sobre ela.
Agora ele fechou os olhos com pesar e deu um longo suspiro, cambaleando levemente pra trás. Então ele sabia de algo.
-Certo... Eu...- ele suspirou- eu te explico isso depois, está bem? O que aconteceu com a Cinn?
-Bem... Eu fiquei com medo de que algo estivesse errado ali, e pensei que já era hora de ir. Quando eu me teletransportei para perto da Cinn... – eu me arrepiei, lembrando da cena- ela estava com uma expressão doentia. Seus olhos estavam com um brilho vermelho que eu nunca havia visto, e o lugar estava cheio de poeira...- e sussurrando, finalizei- e ela estava matando um monstro.
Passaram-se dois segundos. Depois disso, Asriel saiu dali e foi andando rapidamente em direção à sala.
-Espera, onde que você—
-Eu vou ver a Cinn eu mesmo. Obrigado por ter vindo Francis, mas é melhor ficar aqui agora- ele pegou e celular e começou a ligar para alguém.
-O quê? Mas... Mas eu quero ajudar! Me fala o que tá acontecendo com a Cinn!
-Não dá pra explicar agora, Francis!- ele disse num tom severo, e eu me calei.
-Anda, Chara, atende...- consegui ouvir ele resmungar ao telefone.
****
Chara estava saindo da reunião. Ela ainda tinha muito o que refletir sobre o fato de ter monstros meio revoltados. “Isso não vai ajudar na nossa condição”, pensou. “Esses idiotas realmente não sabem fazer a coisa certa?”
“Olha quem fala”, pensou logo em seguida.
O seu telefone tocou. Começou a procurar ele na bolsa, e logo em seguida, atendeu.
-Azzy?- perguntou ao ver o número.
-Chara, eu estou indo pro subsolo- Asriel disse, saindo do castelo, colocando seu manto por cima dos ombros- Cinn foi pra lá e está com problemas.
-Como assim, ela foi pro subsolo??- Chara agora disse num tom mais alto, que ecoou por toda a sala, fazendo alguns monstros e humanos olharem pra ela. Ela se afastou um pouco mas, já com raiva, e sussurrou: - Como assim ela foi pro subsolo?
-Não dá pra explicar agora. Ela está lá e está... – era possível ouvir o pesar em sua voz- está matando monstros.
As mãos de Chara gelaram. Seus olhos se arregalaram e ela sentiu todo o seu corpo estremecer até ficar quase totalmente rígida, como uma estátua.
-Asriel o que você vai fazer?- perguntou depois de alguns segundos, ainda sem choque. Ela sabia muito bem o que estava acontecendo.
-Eu vou no subsolo, encontrar a Cinn e tentar controlar ela. Talvez eu possa fazer ela voltar ao normal.
-Não. Não Asriel, as coisas não funcionam assim! Me espera, não vai no subsolo sozinho!
-Chara, confia em mim! Eu sou o pai dela, ela vai me escutar!
Agora o medo já preencheu a alma de Chara quase totalmente. Ela sabia o que uma criança com uma faca poderia ser capaz de fazer.
E não tinha autoridade no mundo que fosse capaz de parar.
-Azzy, ela não vai te ouvir! Por favor me espera em casa! Eu estou indo pra ai! Só por favor não tenta encontrar a Cinn! Tá me escutando?? Não encontre a Cinn!
-Eu tenho que ir agora. Já sai do castelo e o Francis vai ficar!- ele falou agora olhando pra Francis que estava o seguindo. Voltou a andar- eu vou achar Cinn e convencer ela. Eu sei fazer isso. Eu vou conseguir!
-Asriel, você não vai conseguir, por favor me escuta, e fica em casa!- agora ela já tinha lágrimas nos olhos. Ela sabia o que estava acontecendo com a Cinn e tinha quase certeza que ele não conseguiria convencê-la.
E Chara sabia o que iria acontecer se ele não conseguisse isso.
-Asriel?? ASRIEL??!!- agora o telefone tinha desligado. Chara caiu de joelhos e sentiu o fôlego faltar. Algumas pessoas se formaram ao redor dela perguntando se ela estava bem. Mas não. Ela não estava bem.
Sua filha estava com o espectro, e o seu marido caminhava em direção à morte certa.
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