Escrita por: Smillan_Always
De que me adianta saber nadar se a única coisa que tenho a minha frente é uma poça d’água?
. . .
Lucy
O gélido vento que jazia entre as paredes brancas da minha residência era um tanto quanto assustador. Questionei-me algumas vezes acerca dos pensamentos mórbidos que tivera ao longo do tempo, mas nenhum deles era extremamente produtivo ou conclusivo. Suspirei de modo pesaroso; até mesmo os dias pareciam mais cansados.
Agasalhei-me a fim de dar uma volta pela cidade. A luz solar que brilhava dentre as nuvens parecia se esforçar a esmo para tingir de rosa as bochechas daqueles que se arriscavam a vagar pela cidade fria, inclusive eu.
De súbito, parei em frente a Love & Lucky, a cafeteria na qual Natsu e eu passamos algum tempo nos divertindo como dois adolescentes bobos. Então, de repente, uma onda atingiu meu peito, acertando em cheio o coração; sentia sua falta, mas apesar de dizer isso em pensamento, minha boca ainda era orgulhosa o bastante para admitir em alto e bom tom.
Dispersei os pensamentos relativos a ele e tratei de caminhar até minha casa, onde a solidão mais uma vez seria minha maior companhia.
Seria.
– Lucy – seu timbre rouco me fez paralisar. – Oi.
– O que faz aqui? – Indaguei com cara de poucos amigos. Avancei em sua direção para abrir a porta, mas logo fui barrada pela sua presença gigantesca.
– Eu sei que apesar de você ser uma mula, sua cabeça é extremamente funcional a ponto de conseguirmos estabelecer um diálogo – a feição estampada em seu rosto era de riso, contudo, ela rapidamente sumiu ao ver que ele havia falhado miseravelmente ao tentar arrancar-me uma gargalhada. – Lucy, só me deixe falar com você, ok? Eu não viria se não fosse por um motivo extraordinário.
Pensei em protestar, mas conhecendo o gênio dele – às vezes pior do que o meu –, abri espaço para que entrássemos na tão vazia mansão Heartfilia.
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Na noite anterior
Natsu
– Quem é você?
– Uau, agora que eu não consigo mesmo entender como ela falava tão mal de você – um sorriso prensado estampou o seu rosto alvo. Sequer tive tempo para raciocinar, pois ela tratou de se acomodar em minha velha poltrona.
– Devo chamar a polícia? – cruzei os braços abaixo do peito, indignado com tamanha maluquice.
– Sim, claro – serviu-se do uísque que estava ao lado, na mesa de canto. – Os policiais vão adorar ver uma escultura renascentista perdida – seu olhar debochado fora complementado com a bebericada que ela dera no álcool, questionando quando eu iria me vestir.
Apressei o passo, trajando minhas roupas o mais rápido possível; tenho certeza que a caxemira verde estava do avesso.
– Certo – recostei-me à parede para observá-la gozar da minha melhor bebida. – Pode abrir a boca ou está difícil?
– Sou Erza. Erza Scarlet – um sorriso brotou em seus lábios, tão vermelhos quanto o próprio cabelo. – Eu sou amiga da Lucy e gostaria de falar com você.
– Não estou interessado – desferi, dando-lhe as costas – Da última vez não foi muito agradável e não é agora que irá mudar.
– Ela sente sua falta – meu corpo paralisou.
Lucy e saudades na mesma frase parecia contradição.
– Diga alguma coisa.
– O que quer que eu diga, senhorita Scarlet? – virei-me abruptamente com uma grande carranca. – Quer que eu me ajoelhe diante da magnificência da Heartfilia e peça encarecidamente para que ela me deixe dar aulas outra vez? – desdenhei.
– Você não sabe o que ela passou.
– E ela muito menos sabe de mim – cortei-a como uma faca recém-amolada. – Senhorita Scarlet, seja lá o que for, não dá o direito de Lucy me tratar como um animal ou uma escória. Um erro não justifica uma ação.
– Você tem razão, Dragneel. Mas já pensou no porquê de ela ser assim? – a ruiva se levantou e encaminhou-se até mim firmemente. – Escute, não cabe a mim dizer o que a aflige, muito menos emitir um pedido formal de desculpas em seu nome, no entanto, sou sua amiga e me importo a ponto de vir até aqui pedir para que fale com ela outra vez.
– Não conversamos – desviei o olhar.
– Então me diga que ao menos tentará – seu timbre sôfrego me fez suspirar pesadamente. – Eu não o conheço, mas eu a conheço. E me importo. E peço que considere.
– Não vou prometer nada a você.
– Não estou pedindo isso – a voz antes sofrida tornou-se firme outra vez. – Por favor, Natsu.
Nada mais disse, nem eu, nem ela. Apenas a observei sair, deixando para trás apenas um homem perdido e uma garrafa aberta.
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Presente
Lucy
– Então, professor. Gostaria de chá e biscoitos também? – encarei-o ao ver se acomodando preguiçosamente no sofá da sala de estar.
– Não vim brigar.
– Não estou incitando nada – como um raio, sua presença outra vez parou diante de mim; por que diabos estava me sentindo tão pequena agora?
– Que droga, Lucy! Será que você não pode agir como um ser humano normal por alguns minutos? – ele balançou a cabeça e exalou o ar pesarosamente – Por favor – o tom de súplica me deixou desnorteada naquele instante; por que eu me sentia tão vulnerável agora?
Engoli o seco e assenti. Mandei minha lucidez para os infernos:
– Vamos para o meu quarto, eu não quero nenhum funcionário bisbilhotando minhas conversas.
Ele nada disse, apenas me seguiu. Apesar de ficar a poucos passos de distância da sala, ao lado dele parecia uma eternidade. Adentrei o cômodo espaçoso e deixei que se acomodasse em minha cama, cerrando a porta logo em seguida. Recostei-me a entrada e cruzei os braços, gesticulando para que ele abrisse a boca de uma vez.
– Sua amiga me procurou.
– O quê?
– Pelo seu semblante, já deve saber de quem se trata.
– Quando?
– Ontem à noite – o rosado me encarou como se tentasse achar algo em meu rosto. – Você realmente não sabe de nada?
– Tenho cara de quem sabe? – Disse de modo grosseiro enquanto retirava o sobretudo preto, pendurando-o. – O que ela disse?
– Que você sentia minha falta – ri nervosamente.
– O quê?
– E que não admitiria.
– Bullshit!
– E com o seu tom de voz e a sua feição, posso confirmar que ela estava certa – ele se aproximou com as mãos no bolso da calça cinzenta, sorrindo ironicamente. Espalmei as mãos em seu peito a fim de empurrá-lo, mas suas palmas maiores que as minhas prenderam-nas para si.
– Solte-me ou eu vou gritar.
– Não vou fazer nada, apenas tecer um comentário valioso. Conheço você há pouco tempo, porém, é como se você estivesse presente a vida inteira comigo – seus dedos cálidos acariciaram os meus, causando-me arrepios. – Você só age dessa forma quando não sabe o que dizer. Odeia ser contrariada, mais ainda, odeia ficar muda diante da verdade.
– Hahaha – ri uma vez mais. – Virou terapeuta? Vidente? Astrólogo? Eu sugiro que volte a carreira de professor, porque se seguir um desses rumos, vai fracassar.
– Como posso voltar se você não me aceitar? – suas mãos largaram as minhas. Natsu se virou para mim, caminhando em direção a varanda que havia ali e que incrivelmente, Virgo não havia trancado o acesso como das últimas vezes.
Fiquei imóvel, atônita e muda. Odiava essa sensação de impotência, todavia, naquele instante, de fato não sabia o que dizer.
– Não vou implorar – seu tom se elevou por conta da distância.
– Quer fazer isso por causa da conversa com Erza? – aproximei-me de soslaio, virando-o abruptamente para mim. Nem mesmo a brisa gelada parecia imune ao frio que havia entre nós.
– Não tomo decisões desse nível por conta de terceiros, Lucy. Confesso que a conversa instigou, mas não foi o que me fez mudar de ideia.
– Então o que foi? Que droga!
– Você, Lucy. Sinto sua falta.
– Não desdenhe de mim – disse raivosa caminhando de volta ao quarto.
– Não estou – a sua calmaria só me deixou mais irritada. – Falo sério. Por que é tão difícil de você crer em um sentimento genuíno?
– Porque sei que é mentira – falei convicta. – E não vou deixar me expor pra você para que se aproveite logo em seguida – o rosado riu, incrédulo. Ele balançou a cabeça e se aproximou perigosamente outra vez, fazendo minhas costas se chocarem contra a parede gelada.
– Lucy, você pode me chamar de burro, de ignorante, de qualquer merda que você desejar, menos de aproveitador – delicadamente, sua mão esquerda retirou alguns fios loiros de minha face, colocando-os atrás da orelha. O rosado se curvou um pouco a fim de ficar equivalente a minha altura. – Eu jamais me aproveitaria de você. E você pode não acreditar, não ligo, não vai fazer com que eu desonre a minha palavra. Não sou um covarde.
O meu peito desfaleceu ali. O seu tom severo, rígido e sólido me fez titubear. Seu rosto intimidante atiçou meu corpo, que já não mais parecia responder os meus comandos.
– Lucy? – seus olhos miraram os meus em busca de alguma resposta. Apesar de encará-lo, eu sabia que estava perdida. Era como se eu não o visse. Fechei-os com força e os abri outra vez, conseguindo capturar com precisão a faceta do meu antigo professor. – Você tá bem?
– Eu... Eu – suas mãos tocaram o meu rosto, segurando-o pelas bochechas quentes pela euforia exalada pelo meu corpo. Era como se toda a raiva que eu tivesse sentido fora canalizada em forma de frenesi.
– Ei, o que houve? Eu disse alguma coisa? – seus olhos musgos confusos cravaram a minha morte.
E mais uma vez, eu mandei tudo pro inferno.
– Professor... – Sussurrei.
– O quê?
– Perdão – mal tive tempo para pensar, apenas o puxei para mim e o beijei de modo desesperado e acalorado, a fim de aplacar aquele maldito desejo.
Bem:
Que se fodam as consequências.
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