“Era uma manhã agradável de verão. O grande Sol começava a mostrar sua presença com os seus primeiros feixes acobreados cortando o azul acinzentado que a noite lhe deixara. A floresta acordava de seu longo e tranquilo sono, oferecido pelo inverno e outono estendidos daquele ano.
Pássaros e mais pássaros sobrevoavam as colinas, agora verdes, à procura de alimento. Alguns cervos e ursos passeavam pela floresta sem a menor preocupação, afinal o verão havia começado.
Peixes borbulhavam tímidos no riacho, apenas alguns, mais atrevidos, ousavam saltar e exibir suas habilidades para a grande Mãe Natureza.
Flores desabrochavam e lançavam seus perfumes no ar, atraindo insetos de todos os tipos. Tudo corria normalmente, como em todos os outros anos.
Ou quase tudo…
— Abaixar as âncoras rapazes! TERRA À VISTA!
A voz do capitão ecoou pela embarcação, fazendo os homens se movimentarem depressa e com uma agilidade incrível somente adquirida após tantos anos de viagens.
— Virar à bombordo! Cuidem dos cabeços! REMOS! IÇAR VELAS! VAMOS DESEMBARCAR!
Ordens e mais ordens eram rugidas pelo capitão que lutava contra a voz retumbante dos mares agitados.
— Njord está agitado com a nossa presença… — falou consigo mesmo.
Ouvia-se rangidos e estalos vindos da embarcação lutando contra o mar e os ventos fortes. Grandes ondas começavam a se formar com mais frequência, fazendo o barco balançar cada vez mais, algumas rachaduras começaram a aparecer no casco e as velas estavam começando a rasgar.
— Homens! Mais rápido! O navio não vai aguentar!
Essa fora a última ordem expelida pelo capitão antes de uma gigantesca onda afundar o navio.
[...]
Abutres se amultuavam na beira do mar, chamando a atenção de uma pequena fada que vagava pela floresta. Ela observou a cena com curiosidade, que animal estranho haveria lá?
Motivada pela sua coragem e curiosidade ela deu alguns passos na direção do estranho animal, espantando os abutres.
De início ela se assustou, era um humano. As histórias e lendas contadas pelo seu povo é outros povos mágicos dançavam por sua mente, porém, mesmo com medo, ela se aproximou e estudou o humano bem de perto.
Prendendo sua respiração, a pequena fada se debruçou sobre o humano para verificar se a lenda era real. De repente um par de olhos castanhos feito terra se abre, dando um pulo pra trás a fada se transformou em uma fina árvore.
— O… que? Mas… eu jurava que… — ele se sentou confuso e encarou a planta. — Devo estar ficando louco…
Dando os ombros, ele foi até a praia procurar restos de seu barco para tentar montar uma casa.
Se transformando em diversas plantas, a pequena fada o seguiu devagar.
— Eu não sei quem é você e nem o que você é, mas apareça agora!
Falou ele num tom rude a fazendo estremecer e se esconder na mata.
— Quem me garante que não irá me machucar? — respondeu ela ainda na forma de uma flor, escondida no meio da mata.
— Você está me seguindo, quem me garante que você não irá me machucar?
— Largue a faca que tens na mão.
Ele respirou fundo e jogou a faca com força no chão.
— Pronto, apareça agora.
Ela assumiu sua forma original e caminhou com passos tímidos para fora da floresta. Houve uma conexão de almas no instante em que seus olhos se encontraram, a partir daquele momento nada, nem ninguém poderia separá-las.
Durante um bom tempo, a fada continuou visitando o rapaz e o amor entre os dois apenas se fortalecia, apesar de todas as lendas e histórias aterrorizadoras sobre seus mundos diferentes.
— Minha luz, vá com cuidado. — falou ele com uma ternura extremamente doce na voz.
— Desejo o mesmo à você, querido.
Eles se abraçaram e trocaram carícias, estranhamente, por mais tempo que o normal, como se pessentissem o grande mal que cairia sob suas vidas.
Enquanto isso no palácio do povo velho.
Uma fada voava com rapidez até os rei e rainha. Chegando ofegante e aterrorizada, a fada se jogou aos pés de seus soberanos.
— Vossa Majestade Real! Nós… estamos com um gravíssimo problema.
— Diga-nos então Blair. — A grande rainha pediu-lhe com delicadeza.
— É a princesa… Ela está se encontrando com um humano.
[...]
A fuligem se espalhava manchando mais ainda os grandes campos, que antes eram verdes e floridos. O sangue dos dois povos era derramado, sujando a face da Mãe como se fossem lágrimas correndo.
O Caos ali reinava, marcado pela grande batalha entre o povo velho e os humanos, apenas uma figura vagava por aqueles terríveis campos, Morrighan.
Seu vestido branco se arrastava no chão por onde passava, assim como a ponta de suas enormes e negras asas. Os olhos mais cinzas que a fuligem olhavam para todos os cantos, seu poder e frieza era palpável. Seus longos cabelos pretos como a noite mais escura, esvoaçavam conforme a brisa passava e a pele pálida como a neve davam-na um apescto mais fantasmagórico e horrível do que em todos os contos já contados.
A Deusa parou em frente há um cavalo morto e o estudou com curiosidade.
— Levante-se… — a voz fria e sibilante vagou pelo terreno destruído.
Num instante, a fada saiu de trás do cavalo, ela carregava um fruto, que já mostrava sinais em seu ventre.
— Você dará origem a uma nova espécie, o povo antigo não mais reinará neste mundo e os humanos tomarão conta destas terras. Cuide para que essa criança nasça e cresça saudável e protegida, ela será de extrema importância para o futuro dessa nova nação e para o futuro do povo humano. — a Deusa sorriu para a trêmula fada. — Parabéns pequena, seu destino está velado. Proteja a criança do Grande Mal.”
A criança nasceu luas depois do fato e cresceu forte. O Grande Mal espreitava, aguardando o momento de agir, infelizmente para ele, o momento não era aquele e demoraria muitas luas para chegar.
A menina que continha o sangue dos antigos cresceu e se desposou com um homem de olhos faiscantes e poderes fantásticos, que apenas os grandes magos continham.
As linhagens se misturaram de acordo com as gerações e o poder foi enfraquecendo, há quem diga que ele ainda vive dentro de algumas pessoas e que está apenas adormecido.
Nos campos da grande batalha as rochas ainda guardam a história do Caos que se instalou naquela época.
Alguns afirmam ter ouvido vozes murmurantes e sofridas enquanto dormiam e passavam pelo local, os mais sábios druidas contam que as vozes e os espíritos dos antigos ali repousam e sussurram para nós, nos guiando para o nosso destino.
Apenas um triste canto pode ser ouvido por todos que ali passaram:
“À solta correrão o Caos e a Destruição
Entre o Céu e a Terra haverá a colisão
Em sangue e dor a noite chegará
O fruto forte a vida ceifará
E a densa floresta há de a décima folha partir
Apenas assim a paz reinará
Fazendo, então, o Caos ruir”
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