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História Avenida 41 - Hoje, não.


Escrita por: knshm

Capítulo 1 - Hoje, não.


Não vou te deixar correr os olhos por mim outra vez, Hoseok. Nós dois concordamos que hoje, não.

Estamos em público em mais uma das festas que eu adoro e ele detesta, cumprindo nosso papel de ter um ao outro apenas às escondidas. Ele só vai fumar suas porcarias enquanto a música toca, eu só vou ficar provocando pra brincar com o significado do termo limite. Aí vamos nos esbarrar algumas vezes, aproveitando que todos estão chapados demais pra notar nossa proximidade, mas não exibiremos o suficiente pra denunciar o que realmente acontece entre a linha dos nossos olhos.

Ele vai fingir que está prestando atenção em quem surge, tentando conquistá-lo.

E eu vou fingir que não estou interessado em saber se a sua boca está tão gostosa quanto a bebida no seu copo.

Desse jeito, seguiremos a noite.

Nós funcionamos de uma maneira insana. Hoseok é o caos de olhos puxados e cabelo colorido, eu sou alguém que se aproximou querendo melhorá-lo, e que falhou de um jeito miserável nessa intenção. Quando percebi que não se pode consertar o que já nasce com defeito, tratei de ser diferente dos outros: fiz ele enxergar sentido na bagunça que o habitava.

"Ei, moço. Me serve aquele: à moda da casa." Lembro da voz cem por cento grogue, nos minutos cruciais do domingo onde apareceu. Era sua terceira vez na semana frequentando o mesmo boteco, e assim como todo atendente de bar, eu tentava mostrar que não ligava pros problemas dele contanto que me rendesse dinheiro.

À moda da casa era uma mistura de uísque com o que o atendente – vulgo eu – quisesse botar na taça.

"É pra já." Respondi forçando simpatia, mas aquilo só soou tão estúpido quanto todo o resto do mês que ele vinha tendo.

A madrugada tem dessa crueldade com quem não foi feito para servir às ruas. As estradas gritam palavras reais, o ar que envolve vai drenando a paz até te fazer achar que pode explodir a qualquer instante, e cada segundo captado nos relógios é uma razão a mais pela qual você sente que precisa desaparecer. Nesse meio só sobrevivem os fortes.

Algo nas olheiras fundas e na tremedeira das mãos ásperas de Hoseok me dizia que ele era, definitivamente, forte.

A dor no peito dele era tanta. Notei isso conforme o assistia ficar todo fodido com mais goles.

"Cê não é meio novo pra trabalhar aqui?" Eu ainda não sei porque me perguntou isso. Seus olhos estavam tão nublados que eu contava os segundos pra que desmaiasse. Ele não conseguia enxergar um palmo à frente do rosto, quem dirá opinar se eu era jovem ou não.

"Você não é meio velho pra beber energético? Só quem consome isso aqui são os moleques de dezoito anos, e você." Dei trela pra conversa sem nenhum motivo aparente. Bem, eu realmente achava bizarro o fato de ele tomar energético, mas eu não costumava puxar papo com os clientes, por mais intrigantes que parecessem. Bêbados não sabem dialogar.

"Quantos anos cê acha que eu tenho?" Se debruçou no balcão, deixando apenas a cabeça levantada na minha direção. Sua imagem alterada continua a mesma coisa boba daquela época: sorrisos demais, gestos demais, palavras demais.

"Você tem músculos mantidos com muitos suplementos e poucos exercícios, roupas muito boas pra um mero vagabundo que perde noites na mesma avenida, conversa rasa pra achar que pode atrair alguém..." Iniciei uma avaliação sobre o pouco dele que eu conhecia, sobre sua casca. "Eu te daria uns trinta anos." Aquela só não era uma afirmação verdadeira porque eu já tinha o visto em algum outro canto do bairro, perambulando com amigos meus.

Ele sorriu.

"Se eu lembrasse a minha idade, eu te diria..." Balançou os braços e por pouco não derrubou a garrafa de cerveja que tinha se esforçado tanto pra comprar. "Sabe, cê é uma gracinha..." Acariciou minhas bochechas bem rápido, abrindo uma gargalhada maliciosa à qual se entregou por uns minutos. "Mas parece não ter menos de dezessete... e isso me deixa culpado..."

Fui servir outras pessoas enquanto deixava suas cantadas fajutas de canto. Quando retornei, enxuguei alguns copos ainda olhando pro seu rosto, desaprovando sua silhueta perdida como nunca tinha feito com nenhum outro cara que se pôs em frente aquele balcão de madeira.

"Cê não vai me dizer quantos anos tem, mesmo?" Indagou depois de me encarar de volta.

"Que diferença vai fazer?" Revirei os olhos.

Não precisei de esforço. A cabeça maluca dele tentou mostrar o que o deixava tão inquieto, num desabafo não muito esclarecedor. Era um pouco do seu motivo de torrar toda a grana que tinha num bar sem qualidade, tão perdido quanto um peixe fora d'água. 

"Eu não sei..." Abaixou a cabeça e a afundou entre seus braços. Sua voz recuou de grogue para chorosa num piscar de olhos. "Estou tão... sozinho. Solidão, melancolia, indiferença... são emoções tão cruéis... E elas ficam comigo até o sol nascer no horizonte." Nas pausas entre as palavras ele puxava ar com muita força, desejando preencher o espaço seco que tinha no peito. "Não quero que elas me atormentem pra sempre, mas também... não quero que me deixem..." Batia os punhos no balcão, mesmo não estando irritado. O desamparo era tanto que sequer conseguia expressar algo além da tristeza. "É que os sentimentos passaram a ser minha única companhia. Nem ligo mais se são bons ou ruins contanto que fiquem do meu lado." Ao fim, elevou os olhos para mim novamente. "Você me entende, gracinha?"

A última frase quase me fez desistir da vontade de ajudar. Eu apenas insisti porque reconhecia uma boa decepção quando a via de perto.

Tipo um radar detector de auras frustradas.

"Talvez você precise continuar do mesmo jeito, aproveitando a lua zonza acima da cabeça, deixando a chuva cair mais forte. Aguentando as luzes desfocadas por de trás de uma visão de merda, lutando contra a queimação da pinga velha que ainda está aí, no topo da sua garganta." Atravessei a portilha do balcão para me sentar com ele, que seguia meus olhos para um ponto distante no teto do bar.  Parecia assistir um filme de lembranças só dele. "É ruim, mas possivelmente melhor do que ser magoado de novo, não é?"

"Sim..." Remexeu a cabeça e o sorriso no rosto dobrou de tamanho. "Acho que eu quero isso..." Não precisei continuar olhando para saber o que viria a seguir. "Eu quero só isso, gracinha. Só isso, só isso..." Suas lágrimas melavam o balcão inteiro e sujavam sua jaqueta também.

Custou algumas horas para que eu visse Hoseok correndo pro banheiro e vomitando, depois capotando de sono no chão da espelunca.

Não acordou até amanhecer, quando o gerente me mandou fechar o bar.

"Vamos, velhote. Hora de ir." Carreguei sua confusão pra fora e o amparei no meu carro até ele conseguir despertar totalmente, me deixando conhecê-lo sóbrio, ainda que metade dos seus aspectos estivesse coberto pelos efeitos da ressaca. Conversamos, Hoseok se desculpou pelo transtorno e disse que quando começou a gostar de bares mais do que deveria, jamais esperou dar um porre tão trágico em público. Eu falei que estava tudo bem, já que pouco tempo atrás eu estaria no lugar dele.

Hoseok lembrou sua idade e eu contei a minha verdadeira – que não, não era menos de dezessete. 

Ele quis ir pra minha casa ao em vez da própria. A gente se conheceu melhor comendo um almoço improvisado.

Ficou comigo por uma semana inteira. Eu estava me acostumando com a sua essência.

Sua caótica essência, presente até nos seus atos mais simples, porque as vezes ele levantava se sentindo tão mal que não me desejava um bom dia. Ou ia dormir cedo para evitar que eu o visse naquele estado, apesar de eu escutar seus surtos no banho com muita nitidez. Mas estava tudo bem pra mim, já que aos poucos eu resgatei ele das madrugadas nos bares, para levá-lo à rotina virada comigo.

Os novos costumes fizeram ele se perder mais.

Hoseok se apaixonou de novo num nível muito rápido.

Foi estranho como eu o aceitei, enquanto ele contava do seu passado, expressando desespero e suavidade ao mesmo tempo, passando longe das colocações binárias porque não tinha jeito de limitar sua desordem.

Disse que desde que amou alguém pela primeira vez, sempre pareceu distante. As pessoas com quem se envolvia passavam por ele achando que o conheciam, sendo que nunca foram capazes de constatar o tanto que vivia nele. 

"Eu acho que sou vago, Hyungwon." Deu outro trago no cigarro, olhando fixamente para mim. "Ou era, porque com você é tudo muito diferente." Eu gostava de sentir que era o seu foco, mas isso ainda não era maior do que o medo que eu sentia em machucá-lo. Apenas assenti. "Por que está fazendo isso?" Eu tinha dias falantes e dias silenciosos. Qual fosse o caso, Hoseok sempre era quem tagarelava menos. Por isso minha quietitude foi a maneira mais fácil de fazer ele perceber que havia algo errado. "Só agindo limitadamente enquanto eu falo, falo e falo...?"

Suspirei.

"Eu não tenho o que dizer porque eu não te amo." Era um fato tão óbvio que Hoseok nem parecia decepcionado. "Não o suficiente pra garantir que não vou ser mais um desses que te deixaram perdido."

Ele deitou a cabeça no meu ombro e apagou o cigarro.

"Você não é como eles..." Toda vez que repetia isso eu queria perguntar de onde diabos tirava tanta certeza, pois desde que me conformei com os contrastes deprimidos dele, aceitei que eu era só mais um destruidor em potencial. "Hyungwonnie, você acha que me tirou dos bares, não é? Acha que agora eu só vou lá pra te visitar e não estou nem aí pra bebidas." Não sabia onde aquela conversa ia dar, mas Hoseok sempre me surpreendia com referências bem-colocadas. "Só que não é assim, eu ainda sou um bêbado." Ele mexeu a cabeça devagar e roçou o nariz no meu pescoço, me causando sensações elétricas que eu não esperava sentir de novo tão cedo. "Você me deixa mais alucinado e sem rumo do que muita cachaça por aí."

Hoseok me beijou na sacada do meu prédio. Eu retribui conforme descobria que gostava de ser o álcool dele no sentido metafórico.

Só não sabia se eu seria capaz de dar efeitos colaterais mais suaves do que as garrafas de verdade.

Após um mês curto com mais descobrimentos, eu finalmente pude entender o que Hoseok queria dizer quando se referia à sua verdadeira face, qual as pessoas de antes não tiveram o privilégio de conhecer. Eu desvendei a parte real dele no nosso quarto escuro, na primeira vez que nós colidimos em chamas. Seus traços estavam contentes como nunca, e ele não precisava mostrar isso através de sorrisos – o fazia por meio de movimentos certeiros dirigidos à mim, como quando conduzia minha cintura por debaixo do lençol.

Hoseok estava limpo, sem a máscara triste que carregava pelos cantos. Posso dizer que sua versão autêntica é ambiciosa, confiante, anseia o mundo inteiro e não descansa sem tê-lo sob seu controle. Também entendi o motivo de ele ter esperado para se mostrar naquele cenário louco; já que eu era apalpado e gemia em resposta, suplicando tanto que mal me importava se tudo fosse levado pelo fogo de nós dois.

"Wonnie..." Suas mãos habilidosas me satisfaziam na área que queimava mais. Estava tudo distorcido através dos meus olhos, mas eu conseguia vê-lo sorrir com a língua entre os dentes, debochando da minha necessidade. O beijei de novo pra garantir que aqueles arrepios não escapariam de mim nem mesmo quando eu escorresse nos dedos dele. Hoseok desceu a boca pelo meu peitoral, espalhando-se em mim e mordendo meu quadril lentamente. "Se eu despir minha alma, você também se excita?"

Ele tinha lido essa frase numa pichação, na manhã onde fomos pra casa dele pegar suas roupas. Lembro que ficou encarando o letreiro, e por mais que eu fosse péssimo em interpretação, sabia que em algum momento eu teria de responder aquilo.

Mas não foi difícil fazer o resultado.

Só a nossa cama guarda as histórias dele. Ali Hoseok se deixou e em mim ele afundou.

"Sim..." Desci as mãos pelo seu peito suado e te conduzi pra dentro de mim, como confirmação daquela pergunta. "O que você tem internamente é o motivo do meu tesão." Porque o que há além do seu corpo é bem mais do que simples estética, me leva a um local mais distante que o céu e proporciona a jornada mais insana que o universo já presenciou. Você é infinito, garoto.

Eu estou do seu lado porque fui ousado o bastante. Aproveito que apenas eu te conheço nu.

Mas hoje, não.

Hoje é o último passo antes da minha vez de te mostrar quem sou.

Ou você acha que é o único com um lado oculto?


Notas Finais


EAEW SEUZ PUTOOOOOOOOOOOOOOOOOO

eu tinha escrito isso faz 1 tempo e inicialmente era um texto original, mas eu meti o loco e resolvi dar um pouco das personalidades que eu criei pra essas duas belezinhas chamadas shin hoseok e chae hyungwon. a frase/questao ''se eu despir minha alma, voce tambem se excita?'' eh propriedade de um tumblr chamado ceu de jupiter *^* e o enredo dessa one shoot foi construido enquanto eu ouvia duas musiqinha

o ultimo bar https://youtu.be/eA5M5ha17LU
vago https://youtu.be/FdWygULdVEY

flw eh nois


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