História Away - Be-Beyond

Eu era como um dramaturgo que não gosta de tragédia. 

Eu era como o ontem, sem amanhã. 

Eu era como um monstro debaixo da cama que tem medo do escuro. 

Eu era como uma explosão sem pólvora. 

Almejei ser muitas coisas que estavam além do meu alcance. Tão distantes quanto uma rua em Liverpool, ou uma cratera lunar. 

Você parece estar ainda mais longe. 

Eu quis ser tantas coisas por mim, quanto eu quis ser para você. 

Quando eu te conheci, vi perigo, mas você era mais doce que mel. Não julgue um livro pela capa. Mas ambos julgamos tudo. 

Você me via como um idiota, não é? Se lembrou desses pensamentos enquanto me beijava de baixo de um visco na páscoa? 

Sabe, eu esqueci a xícara de café dentro do armário outra vez. 

Quando abri, e vi ela ali, me lembrei de como eu me sinto fora de órbita agora. 

Muitas vezes as coisas não fazem sentido, porque o contexto chega tarde. 

Você era um delay em forma humana. Era engraçado, porque sua lentidão me deixava ainda mais agitado. 

E era animador saber que tinha como te completar. Mas quem disse que eu era sua metade? 

Dançar valsa com você, num parquinho, no fim da tarde, com crianças correndo à nossa volta, ia além do nosso senso comum, ou da cauda de um golfinho. Mesmo assim, o fizemos. 

Parecíamos adolescentes apaixonados? Ou jovens adultos que não tinham maturidade? 

Quantas vezes me fantasiei com penas de corvos, em viagens submersas em piscinas de prédios? 

Quantas vezes eu joguei contra você no xadrez, e ganhei quando o meu cavalo foi morto por seu rei? 

Quantas vezes nos afogamos em um pula-pula de algodão doce feito para bioquímica? 

Nenhuma. 

Quantas vezes te vi vestindo negro, com roupa, e alma e olhar, despejando toda a sua angústia sem contar nada? 

Tantas, incontáveis. 

Não é como dizem por aí. Nunca fomos opostos, apenas estamos em um plano diferente do outro. É por isso que ambos sabemos que não há lugar que nos acomode confortavelmente. 

Sempre haverá discordâncias. 

Eu era como uma guerra sem inimigos. 

Eu era como a noite sem escuridão. 

Eu tentei gritar sem ter voz. 

Eu tentei escrever horror, quando, na verdade, gostava de ler fábulas infantis. 

Você sabia disso. E nunca me avisou. 

E mesmo assim, era incrível para mim, te ver sendo você, sem extrapolar. Eu tentei ser assim, mas também não estava ao meu alcance. 

Você entende, não é? 

Eu sei que queria uma explicação mais apropriada aos acontecimentos, mas você sabe como eu sou. É por isso que não está aqui, por saber como eu sou. 

Eu sou Gustav, e não posso ser aquilo que você precisa, Irene.