Depois de uns bons minutos de Mateus pedalando e eu no passageiro, finalmente chegamos no food truck.
-Por que a gente não chama o Jim para se juntar a gente? – Ma sugere assim que já estávamos na fila para fazer os nossos pedidos.
-Não sei se ele viria - digo incerto.
-Por que?
-Ele conheceu a gente hoje – digo.
-Verdade... Aliás, você por um acaso não acha estranho nossos pais fazerem uma “reunião” de segunda-feira? – diz Ma.
-Não, – digo com humor – Para eles qualquer dia é bom para se encontrar e beber.
-Bom saber que eles se encontram a qualquer hora - diz Ma.
-Eles são assim desde que eles eram mais novos que nós dois - o explico.
-Hm... Inclusive, se você quiser me explicar sobre a fama do meu pai, já pode começar - diz ele me fazendo rir.
-Quando os nossos pais eram jovens eles eram bem conhecidos pela cidade, até as cidades vizinhas sabiam quem eles eram – começo a explicar.
-Famosos pelo o que exatamente?
-Uns por serem de famílias muito tradicionais, todos por serem ricos e bonitos e outros por... – hesito um pouco em terminar a minha frase.
-Por? – insiste Ma, porém nossa vez de fazer os pedidos chegou.
Fazemos nossos pedidos; pegamos nossas senhas; e nos sentamos em uma mesa vaga.
-Então? – Ma insiste novamente.
-Uns deles eram conhecidos... por serem...
-Por serem? – Ma já estava impaciente.
-Por serem problemáticos, eles entravam em uma briga com facilidade – digo e Mateus liga os pontos rapidamente.
-O meu pai era um desses, não era?
-Sim... – assumo – Assim como o pai de Aaron também era um desses.
-Isso explica a proximidade dos dois – diz Ma – Então é por isso que meu pai é famoso? As pessoas sabem que ele não está mais no ensino médio, né?
-Sabem, mas não é por isso que ele é um nome conhecido até hoje.
-Alan, - me chama me fazendo o olhar – Desembucha.
-Há uns bons anos atrás, o seu pai se envolveu com uma mulher que não tinha uma fama nada boa, porém ele não quis saber das opiniões dos amigos dele, muito menos da família, e então essa mulher engravidou e eles foram morar longe, depois ninguém mais tinha notícias dele, até que essa mesma mulher passou pela cidade sem o seu pai e não falou com ninguém, apenas com seus pais e foi embora, mas o seu pai nunca mais apareceu, aí como naquela época ele era super conhecido, quando viram ele dentro de um carro, entrando na cidade, com o filho a uns dias atrás, no caso, você, a cidade inteira lembrou dele – desembucho.
-Isso explica os olhares estranhos das pessoas para o meu pai quando a gente se mudou – diz ele absorvendo as informações.
-O que mais chamou atenção, foi que a mulher não veio junto – comento e Mateus apenas fica maquinando em sua cabeça os fatos.
E então a nossa senha brilha no letreiro e eu me levanto para buscar os lanches.
-Obrigado – diz Mateus assim que coloco a bandeja em cima da mesa.
-Você está bem? – pergunto vendo que ele está pensando demais.
-Sim, eu só não sabia dessa história, meu pai dizia que tinha conhecido minha mãe em Barubu, não em Cabral – diz ele ainda reflexivo, mas aparentemente decidiu não ficar queimando a cabeça com isso, pois mudou de assunto novamente: - E o seu pai? Qual ele era? Rico? Encrenqueiro, que nem meu pai?
-O meu pai era o rico e bonito – o digo.
-E o que fez ele ficar feio? – diz Mateus e nós dois rimos.
-Muitas mulheres ainda o acham bonito – digo com humor e Ma sorri.
-E o que fez ele trabalhar na cantina? – ele me pergunta depois de uns segundos.
Eu sabia que ele estava curioso, afinal, um homem que só trabalha em uma cantina não teria condições de bancar o H.F. para os dois filhos.
-Minha mãe... roubou meu pai, deixou a conta dele zerada, e se não fosse pelo tio Hugo, o tio Dálio, o tio Leandro – Mateus fica com uma interrogação na cabeça – Leandro é o pai do Ravi – digo e ele logo entende – E o tio Felipe, pai do Ivo...
-O sogrinho? – Mateus me interrompe e o mesmo ri de seu próprio comentário e eu apenas o ignoro.
-E a minha família ajudaram o meu pai a arrumar um emprego e a pagar as contas por um tempo até ele conseguir se virar sozinho, já tio Hugo foi uma ajuda a mais, ele nos deu bolsas no colégio, assim eu e Lu conseguimos estudar lá – continuo e Mateus presta atenção em cada palavra – Levou uns cinco meses, mas meu pai conseguiu de reerguer, ele trabalhou na cantina e vendeu doces por fora do colégio e também vende doces em uma feirinha que tem todo final de semana em Cabral, na praça central. Agora ele está juntando dinheiro para a reabrir o negócio da família que a minha mãe fez o favor de tirar dele, um buffet – Ma fica me olhando por uns segundos e então solta:
- Quem diria que por trás deste rostinho bonito tinha uma história trágica? – diz Ma e eu jogo uma das minhas batatas nele, o fazendo rir - Então vocês não fazem a mínima ideia de onde ela pode estar?
-Não, a polícia está atrás dela, mas ela sumiu que nem um fantasma – o explico.
-Escuta, eu sei que você explicou quem é o tio Leandro e o tio Felipe “barra” sogro, - diz Ma me fazendo jogar outra batata nele - Mas quem é o tio Hugo? – pergunta Ma com outra interrogação na cabeça.
-Hugo da Fonseca.
-O diretor? – pergunta ele incrédulo.
-E o atual dono do colégio Hermes da Fonseca.
-Alan, – diz ele me fazendo o olhar – Você é cheio de surpresas – diz ele me fazendo rir.
-Bem, agora é a sua vez – digo fazendo Ma me olhar – O que fez o seu pai voltar para Cabral? – e o sorriso dele some.
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