História Azul e Outras Cores - I Você I

O resto do fim de semana passou rápido, comigo passando todo o sábado na casa de Annabeth e o domingo junto com a minha mãe, assistindo filmes do Chaplin pela milionésima vez.

E a segunda-feira chegou. Dali á uma semana, haveria mais um campeonato de natação. Dessa vez, na escola C. East. Eu já estava começando a ficar nervoso, mas por sorte tinha meus amigos para aliviar a tensão.

- A vida é ótima! – Leo Valdez exclamou assim que se sentou ao lado de Jason Grace no ônibus escolar. – Ela é tão boa que eu poderia beijá-la de tanta felicidade.

- O que aconteceu? – Annabeth riu ao meu lado.

- Calipso é oficialmente a minha namorada! – Leo sorriu. – Eu a pedi em namoro no sábado e ela disse sim!

- Como foi o pedido? – Frank perguntou, sorrindo pela empolgação de Leo.

- Eu e ela estávamos no McDonalds... – O latino começou. – Então eu simplesmente me ajoelhei naquele chão gorduroso, tirei o anel que nós conseguimos de brinde no fliperama do bolso e pedi...

- Sua aliança de compromisso foi um anel de fliperama? – Jason deixou o queixo cair.

- Sim! – Leo sorriu apaixonado, erguendo a mão e exibindo um anel amarelo de plástico no dedo anelar. – Muito romântico, não é?

- Claro. – O loiro riu baixinho.

Leo seguiu falando sobre outros detalhes do seu pedido de namoro á Calipso: de como ela ficara linda com a expressão surpresa, de como eles dividiram um Milk-shake depois e de como os dois colocaram os anéis nos dedos um do outro como se fosse a troca de alianças de um casamento.

- Ok, senhor apaixonado... – Charles sorriu para o irmão caçula, se levantando da poltrona quando o ônibus parou em frente a Goode. – Vá atrás da sua Julieta...

Leo abriu um sorriso animado e correu pelo ônibus para acompanhar Calipso, que já estava do lado de fora. Pela janela, conseguimos ver os dois pombinhos se beijando e pulando de felicidade ao olharem os seus anéis amarelos de plástico que combinavam.

- Eles crescem tão rápido... – Charles fez uma voz emotiva e fingiu que enxugava uma lágrima.

- Vamos logo para aula. – Jason riu e nos empurrou para fora do ônibus.

(...)

Passei a gostar mais das aulas de história.

Eu ainda ficava com um pouco – leia-se muito – sono, mas conseguia me concentrar melhor agora. Devido principalmente a uma pessoa que me impedia de perder a concentração: Annabeth Chase.

Era difícil para ela se manter focada também, porém a loira era muito melhor nessa tarefa do que eu. Por isso, toda vez que eu percebia que estava perdendo o foco e pensando em coisas aleatórias, olhava para ela até que Annabeth notasse e me olhasse de novo com um olhar de “preste atenção na aula, Cabeça de Algas!”.

E funcionava.

- Então, alguém tem alguma pergunta? – O senhor Brunner olhou para nós depois de terminar a sua explicação sobre a Guerra de Secessão. Contudo, o sinal indicando o término da aula soou.

Não era por que eu estava gostando mais das aulas que eu ainda não pudesse ficar aliviado quando elas terminavam. Ainda era segunda-feira e eu só gostaria que aquele dia terminasse o mais rapidamente possível.

Peguei minhas coisas para ir até a próxima aula e estava andando para fora da sala para esperar Annabeth quando ouvi a frase que ás vezes me assombrava nos meus pesadelos:

- Perseu? Fique aqui um pouco. Precisamos conversar. – Disse o professor.

Me virei lentamente e andei de volta até a mesa de Quírion enquanto os outros alunos saíam da sala. Annabeth ainda estava colocando as suas coisas na mochila e notei o olhar confuso dela em mim.

- Ah...ok. – Falei, comprimindo os lábios e me sentindo nervoso. O que eu havia feito dessa vez?

O senhor Brunner abriu um sorriso tranquilo, contrariando todas as minhas expectativas desastrosas.

- Paul comentou comigo que a sua mãe está revisando um livro, é verdade? – Perguntou ele.

Pisquei, surpreso diante da pergunta.

- Sim. – Respirei aliviado. – O senhor Blofis está ajudando minha mãe.

- Isso é ótimo! – Quírion exclamou, e eu apenas assenti. Nunca soube muito bem como me comportar diante de professores. – Ela já sabe quando o livro será publicado?

- Provavelmente no ano que vem. – Respondi.

- Me avise quando o livro sair. – O senhor Brunner deu mais um sorriso. Retribuí o gesto, e então vi Annabeth parar ao meu  lado.

A loira me lançou um sorrisinho.

- Olá, querida. – Quírion falou para ela, sorrindo de novo.

- Oi, Quírion. – A garota sorriu de volta.

O olhar do professor foi de mim para Annabeth repetidas vezes.

- Sabem, acho que nunca comentei com vocês o quão bom estava aquele trabalho sobre Maria Reynolds, comentei? – Ele perguntou, com um brilho travesso nos olhos. – Porque estava muito bom mesmo. Tiraram um 10 merecido!

- Obrigado. – Agradeci.

- Vocês dois formam uma bela dupla. – Quírion continuou sorrindo, e senti minhas bochechas corarem.

- Descobrimos isso graças a você. – Annabeth riu. – Nós que agradecemos. – E entrelaçou os dedos nos meus. Senti minhas pernas ficarem bambas.

- Vocês estão... – O senhor Brunner deu um sorrisinho implicante, olhando para nossas mãos entrelaçadas. – Como é que os jovens dizem hoje? Ficando...?

- Algo assim. – A loira respondeu, rindo baixinho.

Quírion abriu um dos maiores sorrisos que eu havia visto na vida.

- Eu sabia que juntar vocês daria certo! Essa foi uma das melhores decisões que já tomei na vida.

- Espera aí, você juntou a gente porque... – Franzi o cenho, confuso.

- Porque estava tão na cara que vocês dois se gostavam. – O professor riu, arqueando as sobrancelhas. – Cansei de notar Perseu olhando para você, Annabeth, no meio da minha aula com uma expressão apaixonada.

E foi ali que eu senti que iria desmaiar.

Annabeth riu de novo, me olhando de soslaio.

- Mas eu também notava você, senhorita Chase. – Quírion continuou. – Não parava de virar os olhos casualmente para a direção da mesa de Perseu, não é?

A loira arregalou os olhos e ficou tão corada quanto eu.

- Enfim, estou feliz por vocês. – O senhor Brunner disse, orgulhoso e com um brilho nos olhos. – Podem ir, não quero que se atrasem muito para a próxima aula.

Lentamente, levei Annabeth para fora da sala. Nós teoricamente teríamos que ir para as outras aulas agora, mas puxei a loira para longe dos corredores, ouvindo ela rir e perguntar o que eu estava fazendo. Corremos até o campo de futebol da Goode que sempre estava vazio aquela hora, e paramos apenas embaixo das arquibancadas metálicas.

- O que você... – A garota riu, recuperando o fôlego depois da corrida. – Nós temos aula, Percy.

- Perder uma ou duas aulas não vai matar ninguém... – Falei, sorrindo e a puxando pela cintura para mais perto de mim.

- Onde está aquele garoto que estava super preocupado com a escola há um mês? – Annabeth riu, mas não se afastou. Pelo contrário, apenas envolveu meu pescoço com os braços.

- Ele saiu por um tempo, logo está de volta. – Comentei, e a loira riu baixinho antes de menear a cabeça, soltar um suspiro e me puxar para um beijo. Estávamos ficando muito bons naquilo. Tão bons que, ás vezes, nos esquecíamos de que o fôlego era um fator importante no meio de um beijo, e de que nós precisávamos respirar.

- Então... – Respirei fundo quando nos separamos. – Você olhava para mim no meio das aulas, hum?

A loira me deu um tapa fraco no ombro, o que me fez rir.

- Talvez. – Ela respondeu.

Arqueei as sobrancelhas.

- Você parecia legal. – Annabeth continuou. – E eu só estava curiosa. As pessoas falam sobre você e os garotos nos corredores, ok? Mas eu ao menos sabia disfarçar melhor.

Revirei os olhos.

- Então quer dizer que, caso Quírion não tivesse nos juntado naquele trabalho, nós nunca iríamos nos falar direito? – Perguntei, fazendo um beiçinho.

- Não... – A loira sorriu. – Provavelmente algum outro professor teria notado que eu e você não parávamos de nos olhar e nos juntariam.

- Bom, não tenho nada que reclamar, você tem? – Sorri, e Annabeth sorriu junto. Afastei um cacho loiro do rosto dela e aproveitei para deixar uma carícia em sua bochecha. A loira corou, e senti a face dela quente contra a palma da minha mão. – Ah...você é tão você.

- Isso é para ser um elogio? – A garota riu baixinho.

- É o maior elogio de todos. – Constatei, beijando-a de novo. E de novo, e de novo e de novo. A verdade era que eu poderia beijar Annabeth Chase até o fim dos tempos e não me cansaria nunca.

- Você é tão você também. – A loira disse minutos depois. – A pessoa mais você que eu conheço.

Ficamos em silêncio por alguns segundos, até que Annabeth resolveu quebrá-lo com uma pergunta para a qual eu definitivamente não tinha uma resposta pronta:

- Percy, se eu te convidasse, você viajaria comigo?

Fiquei parado. Viajar?

- Viajar? – Perguntei, franzindo o cenho.

- É...viajar.

- Para onde?

- São Francisco, Califórnia.

- Quando?

- No ano novo.

- Por quê?

Annabeth coçou a nuca.

- Ah...porque meu pai me convidou para ir passar o ano novo com ele e...a sua família. E eu achei que seria legal ir, mas não quero ir sozinha então...pensei em chamar você. Mas se você não quiser...

- Espera, espera! – A interrompi. – São Francisco, Califórnia, ano novo... - Falei, abrindo e fechando a boca diversas vezes. Eu conseguia me imaginar viajando com Annabeth. Nós dois tirando fotos na ponte Golden Gate, curtindo o inverno na costa oeste...

Mas ao mesmo tempo, viajar com Annabeth significava que eu passaria o ano novo longe da minha mãe.

- E conhecer o meu pai. – A loira completou, repuxando os lábios.

- E conhecer o seu pai. – Continuei. – Ai meu Deus, conhecer o seu pai.

- Se você não...

- Eu... – Pestanejei. – Me dê um tempinho para pensar.

- Ok. - A garota assentiu e piscou os olhos, abrindo um sorrisinho. – Agora você poderia continuar me beijando, o que acha?

Soltei um suspiro de alívio, e a beijei de novo. A verdade era que eu estava muito feliz por não ter se instaurado um clima estranho entre mim e Annabeth depois da minha resposta meio indireta.

Depois que nos afastamos, uma ideia se ascendeu na minha mente em meio a tantos pensamentos bagunçados.

- Você quer sair comigo na sexta? – Perguntei, sem nem ao menos ter tempo de ficar com vergonha.

- Quero. – Annabeth respondeu sem pestanejar.

- Para um encontro.

A loira arqueou as sobrancelhas.

- Fazemos encontros agora? .

- Se você quiser... – Falei, repuxando os lábios para esconder mais um sorriso.

- Eu quero. – A garota riu.

Ficamos ali por mais algum tempo, mediando as horas a medida que os sinais da escola soavam e o som chegava até o campo. Muitos beijos depois, eu e a loira decidimos sair de lá para ir até o refeitório na hora do almoço.

- Onde vocês se enfiaram? – Jason gritou assim que nos sentamos a mesa. – Ah, não respondam. Eu realmente não preciso saber.

Ri.

- Como você conseguiu fazer Annabeth sair da aula, Jackson? – Leo arregalou os olhos. – Ela nunca perdeu uma aula sequer! Quando não apareceu na turma de Cálculo Avançado, eu e Jason achamos que o mundo estava acabando!

- Usei as minhas habilidades de persuasão. – Falei, sorrindo.

- Nojentos. – Charles fez uma careta que sumiu segundos depois. – Ai meu Deus, Silena está ali! - E se levantou rápido antes de correr na direção de um grupo de líderes de torcida – onde inclusive, estava Calipso e Piper McLean. Ele chamou Silena Beauregard, uma garota bonita de cabelos pretos e olhos azuis, e os dois andaram para longe.

- O que foi isso? – Perguntei.

- Ele quer se declarar para ela. – Leo explicou, roubando o suco de caixinha intocado que Charles deixara na mesa. – Já que eu pedi Calipso em namoro, agora é a vez dele.

Soltei um riso e segui conversando com meus amigos. Algum tempo depois, Charles voltou com um sorriso grande no rosto. Ele nem ao menos reclamou que Leo havia roubado seu suco. Apenas dissera “sou um namorado agora” antes de ficar sonhando acordado.

Logo o sinal para a retomada de aulas soou e, embora eu quisesse muito voltar a ficar com Annabeth debaixo das arquibancadas do campo de futebol, me obriguei a ir para as salas.

Mas eu sabia que as aulas iriam passar rápido, assim como o restante dos dias da semana. Estava aliviado e esperançoso. Porque afinal, eu tinha um primeiro encontro oficial na sexta-feira.