[SeungRi On]
Por um momento, foi como se eu estivesse flutuando no meio do Vazio, tranquilo e puro, como um bebê que estava prestes a nascer. Eu não sentia dor, sofrimento, saudades, nada. Apenas tranquilidade. E paz, por um momento, paz.
Mas aos poucos a escuridão se dissipou, e eu ouvi um barulho ritmado de máquinas. Estava cansado demais para abrir os olhos, e na verdade nem queria, estava desejando ter morrido. Abri meus olhos devagar, como se cada movimento me causasse algum tipo de ferimento grave, e minha visão foi invadida por uma forte luz branca. Por um momento pensei que havia alcançado meu objetivo e partido dessa pra melhor, mas logo meus olhos se acostumaram e eu percebi que aquela luz era na verdade uma simples lâmpada misturada a um teto branco e impecavelmente limpo. Aos poucos, minha visão foi se ajustando e eu percebi estar num quarto, um quarto de hospital. Estava tremendo de frio.
Avistei um borrão castanho perto da janela, sentado num pequeno sofá. Ele parecia cansado, tanto que sua coluna parecia esguia. Demorou um tempo até perceber que aquela figura era Daesung.
— Hyung... — Tentei chamá-lo, mas minha garganta doeu de uma forma como se tivesse sido queimada com um maçarico. A voz quase não saiu, e Daesung não me percebeu acordado.
Ele realmente estava cansado; a julgar pela luz forte no quarto, deveria ser de noite, provavelmente madrugada. Daesung lutava para manter os olhos abertos, vez ou outra deixando a cabeça pender para baixo e cochilando por alguns segundos, mas então ele percebe que estava dormindo e volta para seu posto.
— Hyung... — O chamei mais uma vez, dessa vez mais alto, sentindo minha garganta arranhar. Daesung olhou para mim de relance, e arregalou os olhos, levantando num pulo. Seu sono pareceu ter passado num instante.
— SeungRi-ah! Você, você... V-Você... — Daesung não conseguia conter sua emoção, abrindo um sorriso de orelha a orelha. — Meu Deus... Meu Deus! E-Eu vou chamar um médico, espera...
— Hyung... — O chamei antes que ele pudesse sair. Minha garganta parecia ter se acostumado a palavra "hyung". Daesung voltou até mim imediatamente.
— O que foi?
— O que... — Engoli a seco. Tossi por alguns segundos antes de continuar. — O que aconteceu?
Daesung parou, mordendo o lábio inferior. O encarei, esperando uma resposta.
— Você... Realmente não lembra...? — Ele perguntou, assustado. Balancei a cabeça negativamente. — Bom... Você...
Foi quando me lembrei. A água, a sensação de estar queimando por dentro e, finalmente, a tranquilidade. S/N iria embora. Provavelmente já havia ido.
Eu queria chorar, mas nem força pra isso tinha. Um apitar irritante e rápido começou numa máquina que estava conectada a mim por um eletrodo no meu peito, indicando que minha respiração havia acelerado. Meu peito começou a doer. Daesung começou a se desesperar.
— Eu vou chamar um médico! — Ele exclamou, e saiu correndo para fora do quarto. Tentei não pensar naquele maldito assunto, daquele maldito dia em que partiram meu coração de jeito. Não havia razão para chafurdar. Eu me recusava a chafurdar. Chafurdar era tarefa para elefantes, pessoas depressivas e elefantes depressivos.
Eu odiava ficar sozinho. Aquilo não era pra mim. Meus hyungs sempre me diziam que eu não conseguia dormir de tão elétrico que era - por isso minhas olheiras - mas eu sempre achei que, se não fosse, todos poderiam me ver como eu realmente era.
E viram.
Ainda havia aquela voz na minha mente, que dizia: continue andando, ou a ilusão vai se destruir.
Olhei fixamente para o teto, sentindo meus olhos arderem. Pensei em locais aos quais não pertencia e em como, às vezes, acreditava que, assim como acreditava na passagem do tempo e na alegria de viver a injustiça cruel e absoluta do destino, não havia no mundo um lugar tranquilo para mim. Nem jamais haveria. Não deves tentar o Senhor, teu Deus.
Também não era sábio tentar os anjos. Nem mesmo os caídos.
Balancei a cabeça para me livrar daquele pensamento, e foi quando a porta do quarto se abriu. Ver todo aquele bando de médicos e enfermeiros me deixou irritado, e cansado, mas eu não tinha forças para contestar. Meu estado já estava ruim desde que eu havia começado a recusar comida e sair do quarto.
Todos ali foram reduzidos a apenas borrões brancos na minha visão, se remexendo de um lado para o outro. Ouvi um deles me chamar, e por um momento eu pude voltar para o silêncio.
[…]
Minha vista entrou em foco mais rápido do que na primeira vez, mas isso não significava que eu me sentia menos cansado. Eu tinha a impressão de que poderia dormir um mês inteiro, se deixassem. Talvez para compensar todas as noites mal-dormidas.
— Ele acordou! — Ouvi a voz de Ji Yong, que parecia desesperado.
Percebi algo gélido no meu peito, e a julgar pelo homem de jaleco ao meu lado, parecia ser um estetoscópio. Me afastei instintivamente quando o percebi ali.
— Ei, ei, calma. — Ji Yong me abraçou e sussurrou ao meu ouvido, com a voz mansa. — Ele só está te examinando.
— Como ele está? — TOP apareceu no meu campo de visão.
— Ele teve uma leve queda de pressão, por isso dormiu novamente. — O médico assentiu gentilmente. — Você sente alguma coisa, Seunghyun?
— Frio. — Disse, minha garganta já não arranhava tanto. O médico sinalizou para uma enfermeira no canto da sala e ela se dirigiu a um enorme armário de cor bege, que eu não havia notado ali. De lá, ela retirou um cobertor maior e mais grosso, e me cobriu. Meus hyungs a ajudaram. Ela também pegou um pequeno termômetro e entregou ao médico.
— Melhor? — O médico sorriu. Assenti. — Que bom.
— É normal ele sentir esse frio? — Ji Yong perguntou, afagando meu cabelo com delicadeza. O médico então pegou o termômetro e o colocou debaixo do meu braço por alguns minutos.
— Se estiver com febre, sim. — O médico respondeu, e acrescentou, sério: — É muito mais aconselhável fazer uma tomografia torácica antes de qualquer diagnóstico. Seunghyun sobreviveu a um quase-afogamento, mas existem várias outras complicações que podem acontecer na sua saúde.
— Tipo...? — Daesung se manifestou. Olhei ao redor; Young-Bae não estava lá.
— Na maioria das vezes, o quase-afogamento causa complicações pulmonares, como pneumonia e síndrome do desconforto respiratório. — O médico explicou. — Embora possa parecer que a vítima está em estado de recuperação depois do resgate de afogamento, ela pode já ter sido exposta a repercussões graves devido à falta de oxigênio no corpo.
Ji Yong me apertou mais em seu abraço. Sua respiração acelerou.
— Graves como?
— Lesões cerebrais, por exemplo. — O médico suspirou. — Seunghyun poderia estar em coma, ou em um estado vegetativo permanente.
Tive uma série de tosses repetitivas, e o médico teve que parar de falar por um momento. Ji Yong passava a mão pelas minhas costas enquanto eu tossia, como se estivesse tentando aliviar meu pulmão.
— A maioria das vítimas sobrevive 24 horas após o incidente inicial de quase-afogamento — O homem voltou a falar. —, mas ainda pode morrer de complicações relacionadas depois disso.
— Morrer?! — Ji Yong arregalou os olhos. O médico riu alto.
— Mas vocês procuraram ajuda imediatamente. A julgar pelos sintomas de Seunghyun, ele deve estar apenas com uma pneumonia comum. — Ele tranquilizou Ji Yong. O termômetro apitou, e o médico viu minha temperatura. — Ele está com febre. Vou solicitar uma tomografia torácica para diagnosticarmos com mais precisão.
O médico sorriu novamente, e saiu andando calmamente do quarto. A enfermeira pressionou alguns botões embaixo da cama e ajustou a altura para que eu pudesse ficar um pouco sentado. Não demorou muito até ela sair da sala também. Ji Yong sentou-se ao meu lado e sorriu gentilmente.
— Você vai ficar bom logo. — Ele assegurou. Desviei o olhar.
— Aonde está o Young-Bae-hyung?
Ji Yong fechou a cara. Ele suspirou.
— Está bem longe para que não possa te machucar.
— Ele está na sala de espera. — Daesung cruzou os braços. Ji Yong revirou os olhos.
— Ele não vai entrar. — Rebateu.
— Talvez SeungRi queira vê-lo! — Daesung elevou a voz.
— Ahm... Hyungs... — Tentei chamar a atenção deles.
— Você muda de pensamento muito rápido, Daesung! — Ji Yong revidou. — Em um momento você estava ignorando Young-Bae, e no outro está o defendendo com unhas e dentes!
— Porque você não estava lá! Eu estava! Young-Bae-hyung não hesitou em pular na água para salvar o SeungRi, e você está sendo mal agradecido! — Daesung bufou, e eu tive a impressão do meu coração ter parado.
— O hyung... Fez o que? — Gaguejei, sentindo o ar faltar novamente. Tossi por alguns instantes, e Ji Yong tentou me acalmar.
— Ele quase te fez morrer. — Ele disse, com os dentes semirrados. — Você não vai gostar dele aqui.
Ouvi Daesung resmungar, e Ji Yong bufou. TOP respirou fundo e fechou os olhos por um momento, como se estivesse tentando manter a calma, e eu suspirei.
— Por que ele fez isso...? — Murmurei para mim mesmo, olhando para minhas próprias mãos. Ji Yong se retraiu.
— Ele não fez mais do que a obrigação dele!
— Ele ajudou o SeungRi! — Daesung rosnou.
— Pois deveria ter ajudado antes disso tudo ter acontecido! — A voz de GD falhou. Olhei com o coração pesado para meus hyungs travando uma guerra de palavras, e tive mais um ataque de tosse. Nenhum dos lados parecia inclinado a ceder.
— Parece que tentar ter outra conversa vai ser tão inútil quanto essas. — Disse TOP, calçando as luvas brancas.
— Se Daesung continuar tão persuadido. — Declarou GD.
— Se Ji Yong-hyung continuar sendo mal agradecido. — Daesung se irritou.
— Basta! — TOP declarou. — Ji Yong, não me peça que acredite que você nunca sequer cometeu um erro. Pare de condenar apenas a Young-Bae!
E com isso, veio outra entediante explosão de fúria de Ji Yong, seguido de Daesung que tentava defender TOP e Young-Bae. Perdi minha paciência.
— Deixe-o entrar! — Quase gritei, e minha garganta ficou ainda mais irritada. Eu gritei aquilo apenas por gritar, mas eu ainda não tinha coragem de encarar Young-Bae depois daquilo. Eu não conseguia encarar nem mesmo meus hyungs, de tão envergonhado que estava. Ji Yong se engasgou.
— Mas, SeungRi...
— Apenas o deixe entrar... — Declarei, praticamente esgotado. Ji Yong parecia não ter coragem de negar algo para mim, mas mesmo assim, se sentia incrivelmente desconfortável. TOP foi quem se levantou primeiro, seguido de Daesung.
— Eu vou procurar o Young-Bae. — Disse, e saiu da sala junto com o mais novo. Ji Yong me encarou, desolado, e balançou a cabeça negativamente.
[Young-Bae On]
Olhar para o chão branco do hospital ficou subitamente mais interessante do que qualquer outra coisa naquele dia, e eu não planejava fazer outra coisa além daquilo. Madame Ji Yong havia decretado que eu não poderia entrar no quarto para ver SeungRi, e eu também não objetei. Eu não sabia como poderia encarar SeungRi depois do que ele havia feito. Me sentia extremamente culpado, e se algo tivesse acontecido a ele...
Suspirei, tentando afastar aquele pensamento. SeungRi estava bem, era isso que Importava.
Eu pedi a S/N que fosse descansar um pouco em sua casa, mas ela relutou. Apenas Ayano conseguiu arrastá-la para casa, sob a condição de que eu ligasse assim que ocorresse alguma coisa. Eu não sabia se havia ocorrido realmente algo ou não, e para piorar, meu celular havia descarregado. S/N iria ficar chateada, com toda certeza.
— Ah! — Ouvi a voz animada de TOP, mas não ergui o olhar. O chão estava ficando extremamente interessante.
TOP e Daesung se sentaram ao meu lado e respiraram fundo ao mesmo tempo. Ergui uma sobrancelha.
— Ah, agora eu me lembro. — Daesung começou, e eu percebi que ele estava tentando puxar assunto. Ele continuou, mesmo sem o incentivo de TOP ou meu. — Não foi nesse hospital que morreu aquela atriz?
— Qual? — TOP franziu o cenho.
— Daquele dorama! Não me lembro do nome dela... — Daesung ponderou. — Foi numa explosão, eu acho. Duas atrizes se machucaram pra valer, mas só uma delas morreu.
— Ah, acho que sei quem é. — TOP assentiu. — Ela também era a namorada de um idol, não é? Também não me lembro o nome dele.
— Essa mesmo. — Daesung assentiu. — Ela era bem novinha. Quatro anos mais nova que o SeungRi, se não me engano...
— Vocês estão tentando fazer eu me sentir pior? — Perguntei, impaciente. Daesung sorriu.
— Estávamos tentando amenizar o clima! — Ele respondeu.
— Pois não estava dando certo, eu fiquei ainda mais tenso. — Fiz um bico. TOP colocou a mão no meu ombro.
— Sabe... Ele quer ver você.
Franzi o cenho.
— Quem?
— Dean Winchester. — Daesung ironizou. — O SeungRi, hyung!
— Ah. — Ergui as sobrancelhas. — Sério?
— Ele mesmo pediu. — TOP deu de ombros.
— E o Ji Yong?
— Ji Yong não está em posição de recusar agora. — Daesung assegurou. Desviei o olhar.
— Não sei não...
— Vamos logo, antes que ele mude de ideia! — TOP riu, animado, e me puxou para cima junto com Daesung. Eu não tive escolha, senão ir junto.
[…]
Quando chegamos ao quarto de SeungRi, eu não tive coragem de entrar. Fiquei parado na porta, encarando a maçaneta, sem conseguir dar um passo sequer. TOP tocou no meu ombro.
— Tudo bem. — Ele me tranquilizou, e eu respirei fundo. A porta foi aberta por Daesung.
Assim que entrei no quarto, o olhar de SeungRi foi diretamente para mim, e eu senti meu rosto queimar. Ji Yong não se importou em se virar para mim, mas eu pude percebê-lo se reprimir com a minha chegada. Pigarreei.
— Ji Yong, vamos... — TOP começou, e Ji Yong o interrompeu.
— Vamos sair daqui. — Disse, e se levantou. Antes, lançou um olhar para mim como uma caça lança a sua presa, e eu senti minha espinha gelar. Suspirei.
SeungRi foi o primeiro a falar.
— Por que você fez isso?
Pisquei, atônito.
— O que?
— Por que me tirou da água? — A voz de SeungRi estava rouca. Respirei fundo.
— Eu não podia simplesmente te deixar morrer. — Respondi, pigarreando.
SeungRi tossiu algumas vezes, e olhou para mim como quem olha para um santo. O que eu definitivamente não era.
— Mas eu fui tão horrível com você. Com todos vocês, aliás... — Ele justificou, desviando o olhar. — Por quê?
— Porque você é meu irmão. — Respondi, e os olhos de SeungRi marejaram. Desviei o olhar antes que pudesse vê-lo chorar. — E... Isso tudo meio que aconteceu por minha causa.
Ouvi SeungRi soluçar. Pressionei os olhos.
— Eu não queria enxergar o quanto você estava mal. — Respirei fundo. — Você sempre foi tão alegre... E você realmente tinha uma má fama com as mulheres... E eu pensei estar protegendo S/N de você.
— Hyung, isso não...
— Eu não sabia que você ia fazer isso. Eu juro que não sabia. — O interrompi, finalmente olhando-o nos olhos. Minha voz estava começando a ficar embargada. — Eu não queria... Eu nunca quis que você...
Senti um soluço subir pela minha garganta, mas eu o reprimi. Não podia chorar. Não agora.
Fez-se uma pausa. SeungRi tossiu.
— Eu realmente amo a S/N, hyung.
— Eu também. — Respondi, e SeungRi desviou o olhar. Ele pigarreou. — Deveríamos ter conversado sobre isso antes.
— Deveríamos. — SeungRi assentiu. Uma pausa constrangedora se seguiu. — O que vamos fazer?
— Eu não faço ideia. — Abaixei o olhar.
Eu sabia que já havia muito tempo que SeungRi não se apaixonava, e eu sabia que ele estava começando a sentir os efeitos daquilo; Eu, quando namorava com Hyorin, senti o brilho do amor mais forte, e a dor da perda mais suave do que de fato era. Mas SeungRi não. Fora totalmente o contrário com ele. E a dor da perda o levou a fazer aquilo.
— Perdão. — Engoli a seco. SeungRi riu baixo, me fazendo sentir pior ainda. — Ame S/N. Ela lhe dá a felicidade, não?
— Como? — Ele não esperava ouvir algo daquele tipo. Foi minha vez de sorrir.
— Como é mesmo o poema de Marvell?
Cem anos serão de devoção
Aos seus olhos e ao seu olhar;
Duzentos para adorar cada seio,
Mas trinta mil para todo o resto;
Ao menos, uma era para cada parte,
E a última deverá mostrar seu coração...
As sobrancelhas de SeungRi se ergueram com as menção aos seios, mas seus olhos brilharam.
— E como sabe que tenho um coração?
— Ouvi falar que amar é ter fé. — E no entanto, eu já não tinha mais fé.
SeungRi tossiu novamente, ponderando, tentando aceitar o argumento. Separei um instante para torcer que SeungRi encontrasse conforto nos braços de S/N, para que vivesse uma vida que fizesse valer a pena todo o sofrimento por que passou.
— Me desculpa, hyung. — SeungRi disse por fim, e eu não consegui mais conter o choro. — H-Hyung?!
— N-Não é nada. — Tentei enxugar as lágrimas com as costas das mãos, e SeungRi colocou as pernas para fora da cama. — Não, não se levanta! Isso não é nada!
SeungRi parou no mesmo instante, e eu me aproximei. Ele sinalizou para que eu chegasse mais perto, e quando o fiz, ele me puxou envergonhado para um abraço. Meus olhos marejaram novamente. SeungRi nunca me parecera tão frágil.
— Me desculpa, SeungRi-ah. — Disse, e enterrei meu rosto no pescoço dele. — Me desculpa...
Passamos alguns minutos naquela posição, SeungRi apertando o abraço a cada pedido de desculpas que eu dava. Eu não sabia se aquela era uma forma de dizer "sim, hyung, eu aceito suas desculpas", mas de um jeito ou de outro, não queria parar.
— Há quanto tempo eu estou aqui? — SeungRi perguntou, olhando para as próprias mãos.
— Dois dias. — Respondi. SeungRi pressionou os olhos e respirou fundo. Abaixei o olhar. — Ela não foi embora. Fique tranquilo.
Ouvi SeungRi engasgar, e dei um sorrisinho. Havia muito que os dois precisavam conversar.
[…]
Eu queria arranjar uma forma de ligar para S/N e pedir para que ela viesse visitar SeungRi, e a única maneira de fazer isso foi com o celular de TOP, sob a condição que eu não mexesse em mais nada além disso. Saí do hospital para fazer a ligação, encontrando com uma figura de cabelo alaranjado curvada na calçada.
Era Ji Yong. E ele estava fumando.
Não era segredo para ninguém que Ji Yong estava tentando parar com o vício de fumar fazia algum tempo - ele revelou numa turnê -, e também não era nenhum segredo que estava sendo mais difícil do que parecia. Ele continuava usando o cigarro eletrônico ao invés disso, mas ali, era um cigarro normal mesmo, um cigarro que eu sabia que estava doendo fumar. Me sentei ao lado de Ji Yong, e ele não se moveu.
— Você prometeu que não faria mais isso.
— É. — Ele tragou o cigarro. — Eu prometi.
A fumaça se propagou no ar, e eu me senti mais culpado ainda. Ji Yong tossiu algumas vezes e soluçou, e uma lágrima percorreu o seu rosto. Ele respirou fundo.
— Ji Yong... Você...
— Não fala nada. — Ji Yong me cortou. — Não me faça me sentir pior do que já estou me sentindo.
Na mesma hora, parei de falar. Ele suspirou novamente.
— Eu sei que você pensa que estou de birra apenas pra te ver enfurecido. — Continuei. — E realmente, atiçar a sua paciência foi divertido no início.
Ji Yong fechou o punho. Engoli a seco.
— Hyung, eu realmente amo a S/N. — Murmurei. — Eu nunca imaginei que... Que o SeungRi fosse realmente... Ficar dessa forma por causa dela. Eu não...
Senti um soluço subir minha garganta, e Ji Yong se levantou num movimento rápido. Ele não costumava ser forte, pelo menos não mais do que eu, mas adquiriu uma força do além ao me puxar pela camisa até me pressionar na parede. Seus olhos estavam vermelhos, mas não por estar fumando. Eram lágrimas.
— Nem ouse trazer essas suas lágrimas pra perto de mim. — Sua voz saiu embargada. Segurei em seu pulso. — Você... Você tem noção do que quase aconteceu aqui? Poderia ter sido muito pior!
— Mas não foi.
— Mas e se tivesse sido, hein? — Ji Yong retrucou, os dentes cerrados. Deixei um soluço sair sem querer, e ele me pressionou mais pelo pescoço.
— Se SeungRi tivesse morrido — Senti minha garganta arder. —, eu teria ido junto.
Ji Yong pareceu sem ação diante daquela resposta. As lágrimas caíam mais livremente pelo seu rosto. Ele ergueu o punho para bater no meu rosto, e por um momento eu pressionei os olhos, mas nada me atingiu. Ji Yong continuou na mesma posição, me fitando, as lágrimas caindo copiosamente.
— Você é meu melhor amigo... — Tentei dizer, mas Ji Yong me interrompeu.
— Quer me dar lição de moral sobre amizade quando você mesmo faz isso com o SeungRi. — Ele soluçou, e abaixou o punho. — Eu confiava em você, Young-Bae. Você... Você era a única pessoa em que eu confiaria a minha vida.
Aquilo foi como uma facada no peito. Ji Yong continuou.
— Em dezessete anos de amizade... Eu jamais esperaria uma coisa dessas vinda justo de você. — Ele abaixou o olhar, mas logo depois voltou a me fitar nos olhos.
— Você disse que me achava hipócrita por causa disso. — Respirei fundo. — Eu nunca fui tão honesto com você quanto estou sendo agora. Eu amo S/N, Ji Yong. Eu nunca amei alguém tanto quanto amo ela. E eu estava disposto a fazer tudo por ela. Tanto que, por causa disso... Não conseguia ver que a nossa família estava se destruindo. Que SeungRi, nosso maknae tão cheio de alegria... Estava definhando.
A guarda de Ji Yong baixou automaticamente ao ouvir a palavra “família”. Consegui retirar suas mãos do meu pescoço.
— Você costumava odiar os outros por minha causa, lembra? — Dei um sorrisinho, tentando amenizar a situação. — Não o contrário.
O mais novo arregalou os olhos e desviou o olhar. Era fato: Ji Yong odiava Daesung e SeungRi antes do nosso debut. Ele sempre dizia que apenas nós dois estávamos ótimos, e que não fazia sentido a YG estar fazendo aquilo conosco, que uma dupla apenas já bastava. TOP também sempre fez parte do nosso grupinho, mas ele também não aprovava mais de três pessoas ali. Já estávamos há seis anos juntos, passamos nossa infância juntos, fomos trainees juntos, debutamos juntos, juramos ser uma família e permanecermos juntos. Sempre foi assim. Deveria ser sempre assim.
— Há tão pouca distância um do outro — Ouvi uma voz feminina familiar. —, faz parecer que estão se beijando.
Ji Yong se virou assustado, e saiu de perto de mim imediatamente. A mulher deu um sorriso – que era obviamente forçado, considerando sua expressão triste – e se curvou levemente.
— Vim prestar minha solidariedade. — Era Hyorin.
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