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História BACK TO BACK: About A Girl - Stadium Arcadium


Escrita por: FinnSkada

Notas do Autor


Só dois capítulos para o fim <3
Boa leitura!

Capítulo 14 - Stadium Arcadium


Fanfic / Fanfiction BACK TO BACK: About A Girl - Stadium Arcadium

Acordei de madrugada, com o vento frio entrando pela janela e fazendo as cortinas dançarem de uma forma macabra. Minha mão e a de Mike entrelaçada, embebidas de suor, permaneciam juntas. Vi um pequeno saco de papelão no criado mudo de marfim e deduzi que Will havia estado ali. Mike dormia profundamente. A boca entreaberta, o cabelo amassado, a cabeça inclinada para esquerda, o braço jogado por cima do tórax ferido.

Me levantei, sem soltar sua mão, e o cobri novamente. Ele se mexeu um pouco, por fim, abriu os olhos.

-Você já vai? - Murmurou.

-Não, só estava te ajeitando – Confirmei enquanto voltava a me sentar.

-Você é a melhor enfermeira que uma magrela poderia ser – Ele riu, sorri em resposta.

-Eu espero que sim… Pode dormir, eu vou ficar aqui.

-Achei que você fosse embora, porque o nosso prazo acabou.

-Prazo? -Algo vibrou dentro de mim. Aflição. - O que acabou?

-Eu só dormi com você por três ou quatro horas… Achei que como tinha acabado esse tempo, você já ia embora… - Ele abriu um sorriso sonolento – Não me deve mais nada...

-Não sou tão calculista como você, Michael Wheeler – Respirei aliviada – Agora cala a boca e descansa.

-Você não é mais tão boa enfermeira assim... – Ele fingiu desapontamento.

-Pode apostar que eu sou. – Deitei a cabeça sobre a maca.

Voltei a dormir rapidamente. Estava exausta por tudo. O mundo parecia perder a cor, a graça. Eu não queria acordar, eu sabia que quando acordasse teria que finalmente enfrentar meus pesadelos. Tudo aquilo que varri pra debaixo do tapete durante anos. Todas aquelas vozes, fantasmas e deja vús. Tudo me aguardava pro confronto. Mas eu não estava pronta. Na verdade, eu nunca estive tão despreparada.

Quando abri os olhos, experimentei ver o mundo em preto e branco por alguns segundos. Tudo inconstante e vazio, fictício e sem forma. Fumaça em forma de objetos. Minha mão entrelaçada com a de Mike, nós entre os dedos eninhados como fios. Senti uma dor por todo o braço, aquela posição havia acabado comigo.

Me soltei de sua mão com cautela, receio de que ele acordasse. A luz do sol entrando exibida pela janela, acusava o relógio de parede. Oito e quarenta. Agora havia uma bandeja com maçã, banana e um pãozinho judiado, também no criado mudo. Fiquei tentada a pegar a maçã, mas Mike não podia ir até a cantina comprar alguma coisa. Eu poderia. Abri o saco de papelão supostamente trago por Will. Uma lata quente de coca cola e uma fatia de pizza amassada. Minha cabeça doía como se houvesse explodido um míssil dentro dela. Recoloquei o lanche na bandeja e cambaleei para fora da sala, tomando cuidado pra não fazer ruídos. De frente para a sala, em poltronas desgastadas, vi a mãe de Mike, e sua irmã, Nancy, debruçada sobre ela. Dormiam pesado, pareciam tão exaustas quanto eu. As bolsas presas nos pulsos, caídas sobre os colos, as bocas entreabertas e os cabelos bagunçados. Continuei minha caminhada inaudível até chegar a escada larga de corrimão cheirando a álcool, para fora do hospital.

Senti um gosto ruim na boca. Pensei que fosse o mal hálito matinal, mas não era. O gosto era quase tóxico. Enchi a boca de saliva e cuspi, numa calçada irregular. Nada de anormal. Continuei andando, chutando pedrinhas, latas de refrigerante, pedaços de plástico ou o que estivesse em minha frente. Evitava pensar. Quando cheguei em casa, me agachei e tateei a chave debaixo do tapete. Abri a porta e entrei rapidamente. Tranquei ela atrás de mim e me encostei na mesma, como se eu pudesse desmoronar. Tudo estava escuro e estranhamente gelado. Olhei ao redor. “Talvez seja a última vez que eu esteja aqui.”

Me recompus para ir até a geladeira beber um copo de leite. Foi o que eu fiz. Tomei um banho demorado em seguida. Me troquei. Os malditos jeans surrados, o tênis da noite anterior e uma blusa cinza de capuz. Eu me sentia tão morta, tão incapaz. Eu tinha certeza que havia assinado um contrato com o diabo e que iria encontrá-lo naquela tarde. Suposições tão idiotas. Se eu contasse tudo o que sentia a alguém, o que as pessoas diriam? Eu me sentia miseravelmente louca. A mesma cabeça que alimentava as vozes que sopravam em meus ouvidos, debochava de mim. Me ridicularizava. Não posso acreditar que estou imaginando tudo isso.

Já eram quase doze horas quando olhei no relógio, e fui, covarde, para a Hawkins energia. Eu deveria esperar por Lucas, mas eu não sei conseguiria controlar minha boca perto dele. Não sabia como devia reagir, ou fingir agir. Tinha ânsia de que tudo aquilo acabasse logo. Seja o que for. Eu só não aguento mais… Eu só quero que acabe.

Meu corpo foi atacado com calafrios por todo o caminho silencioso que fiz. A melancolia que eu sentia, era assustadora. Por um momento, tive a fantasia de caminhar para a minha própria morte. O meu próprio fim.

“Eu sou o monstro.”

Haviam um grupo de jovens sérios na entrada. Alguns conversavam entre si, outros, encostados a parede, aguardavam um portão largo de arame se abrir. Troy era um deles. Ele me olhou um lançar de desprezo por alguns segundos e depois pareceu me esquecer. Eu não queria me enturmar. Eu só queria que acabasse. Alguns homens fardados abriram o portão. Estavam severamente armados. Houve um que tinha três revólveres espalhados pela cintura. Somos só adolescentes imbecis. O que poderíamos fazer?

Senti alguém pegar em meu ombro.

-Onde você se meteu? - Era Lucas.

-Eu acho que nos desencontramos. - Menti.

-Você acha? - Ele sorriu – Mike está bem?

Assenti com a cabeça. Ele não disse mais nada. Ficamos lado a lado até sermos ordenados a entrar e perguntarem nossos nomes. Fomos colocados numa fila, antes de entrar no laboratório. Aquele lugar era extremamente familiar e as recordações, apesar de não tê-las concretas na minha mente, eram horríveis. Minha boca secou completamente. Sentia minhas mãos baterem ao lado do corpo.

-Vamos por aqui – Uma senhora madura, loira de cabelos curtos, falou friamente. Éramos como lixo sem utilidade. Tecnologia ultrapassada. Me senti ridiculamente descartável.

Entramos numa sala cromada. Parecia ser tudo de um alumínio muito polido. Como um elevador largo e comprido. Fomos colocados lado a lado, num ajuste meio infantil. Notei finalmente que éramos poucos, cerca de dezoito ou vinte. Lucas estava ao meu lado, peito erguido. Parecia orgulhoso, prestes a ganhar uma medalha.

-Bom, como vocês já sabem, serão realizados testes pra ver se estão todos aptos a continuarem conosco – A mulher voltou a se pronunciar. Tinha rugas finas nos cantos dos olhos e da boca, as mão gesticulavam automáticas, movimentos ensaiados. Haviam também homens armados em cada uma das quatro extremidades da sala – Vamos examinar seus sentidos. E outros sentidos que possam vir a ter. O primeiro, será o exame de sangue, para analisarmos a condição do sangue de cada um. Depois a visão, a audição e por fim, colocaremos cada um individualmente num tanque de privação sensorial.

“Hoje é um dia muito especial. Hoje nós vamos fazer contato.”

-Os que forem qualificados, permaneceram conosco para mais testes. Vocês estão colaborando para algo grande. Para o futuro. Obrigada. - Ela agradeceu ríspida.

Aquela mulher não ficou mais de um segundo após essas palavras. Marchou até a porta e saiu. Entrou em seguida um jovem de óculos e um senhor grisalho. Os soldados nos orientaram a ficarmos de novo em fila. As portas foram fechadas e eles iniciaram os exames de sangue. Pingavam gotas do sangue de cada um em um líquido azul borbulhante. Quando chegou minha vez, percebi que não nos olhavam nos olhos. O procedimento era automático. Estenda o braço para frente, feche a mão e aguarde. Depois um “Fique” ou “Saia”, era direcionado a nós, e obedecíamos copiosamente.

-Fique. - O velho falou entre os lábios finos e secos. Me apontou uma extremidade da sala, preenchida apenas por um guarda. Apenas andei até ele e permaneci lá. Não movia um dedo, não ousava ajeitar um fio de cabelo teimoso que serpenteava pela testa. Eu estava com medo. Com medo de ser a única ali. E eu fui.

Os outros foram encaminhados pra outra sala. Eu fui escoltada por aqueles homens fardados por dois lances de escada, até uma sala, aparentemente normal, se não fosse todo aquele cromo perturbador. Só havia uma mesa. E duas cadeiras. Uma cadeira para aquele mesmo homem. Brenner. Outra para mim.

Dois guardas ficaram na porta. Fiquei em pé, olhando nos olhos do demônio.

-Por favor, sente-se – Ele apontou para a cadeira com a mão estendida. Se inclinou pra frente, enquanto me acomodei a sua frente – Você é Jane, não é?

-Sou – Balbuciei.

-Ótimo, Jane. É um belo nome. Um belo nome para uma bela garota – Ele tentou soar simpático mas falhou miseravelmente – Vi o seu teste sanguíneo, e nossa... Você é exatamente quem eu estava procurando.

-Para o quê?

-Jane, acredito que você saiba do que se trata, pelo menos superficialmente, já que se inscreveu no nosso programa – Ele gesticulava com as mãos como a mulher que eu havia visto pouco tempo atrás – Nós queremos expandir. Expandir fronteiras, do mundo, do espaço e tempo. Queremos descobrir do que somos capazes…

-Porque sou a pessoa que você estava procurando? - Perguntei, o mais firme que pude.

-Ora, você está com amigos aqui. Vimos seus testes. Você não é como esses garotos da outra sala. Não, não – Ele sorriu novamente. A luz branca refletiu em seus dentes artificialmente brancos – Você tem poderes. Psíquicos.

-Não tenho poder nenhum...

-É claro que tem. Eu soube quando a vi ajoelhada na entrada do auditório. Tanto como sei agora. Nós vamos chegar muito longe com você. Você vai ajudar muito as nossas pesquisas. Antes de iniciarmos o tratamento com as pílulas e tudo mais, queremos ver do que você é capaz, estando totalmente pura.

-Pílulas? Que espécie de pílulas? - O terror começou a invadir cada uma de minhas células. Eu sabia do que ele falava. Eu sabia. Meu Deus, eu sabia. Preciso sair daqui. Eu sei do que ele está falando, meu Deus, eu sei…

-Mescalina, LSD… - Ele riu – Tudo que os jovens querem. Uma boa viagem. Vai ser uma boa viagem pra você, Jane…

-Eu não. Eu não quero. - Meus joelhos tremiam debaixo da mesa. Tenho absoluta certeza de que minha pressão caiu. Despencou.

-Você assinou, não assinou? Veja bem, essa é a sua ficha. - Ele ergueu folhas de papel grampeado, todas com a minha letra feia, dizendo “Jane Ives” - Você assinou, mocinha. E não me faça essa cara. Vamos romper grandes barreiras graças a você.

Um flash. Foi um flash e os guardas junto a porta caíram ao chão. O baque foi alto e alarmante. A expressão de Brenner foi de pseudo simpatia para a fúria em um segundo. Ele se debruçou sobre a mesa e agarrou meu punho. Sangue fresco descia das minhas narinas até a boca. Nos meus lábios, o gosto de ferrugem.

-O que você pensa que está fazendo? - Ele rosnou ameaçador – Você pode deter dois guardas, mas você pode deter um exército? Nesse prédio tenho mais de quinhentos homens. Todos armados e prontos pra estourar seus miolos. É o que você quer? - Ele falou ainda mais perto do meu rosto. Os olhos estreitos me confrontavam – Ou você prefere que façamos uma visita a sua mãe, hein? Você é tola o suficiente pra escrever tudo sobre você nesta maldita ficha, vir matar meus homens e achar que vai sair ilesa?

“Sim”

-Não… - Murmurei, numa confusão de lágrimas e sangue em meu rosto.

-Bom pra você. - Ele me soltou com um empurrão.

Abaixei a cabeça e vi as lágrimas caírem em meus jeans. Ele puxou um walkie talkie e falou:

-Código onze. Agora.

A sala foi invadida por homens fardados como os que derrubei num impulso. Na verdade, não sei se os matei, não sei o que lhes fiz, no fim das contas. Eles invadiram a pele nua dos meus braços, me agarrando como se eu fosse um animal perigoso, prestes a atacar, mas eu jamais conseguiria reagir. Me carregaram como um saco de lixo por todo o corredor, exposta a olhares de estranhos fardados como eles, estranhos de jaleco, todos eram estranhos pra mim. Fui jogada em outra sala cromada, os joelhos grosseiramente beijando o chão duro e frio, em seguida os cotovelos e as mãos. Uma mulher grande e bruta me ergueu por um braço e me virou de costas para a parede. Posicionou minhas mãos para o cromo liso e gelado e encostou algo cortante em minha pele.

Vi minhas roupas caírem, em retalhos pelo chão. Quatro peças de roupa, facilmente descartadas. As lágrimas brotaram do meus olhos, ainda mais desesperadas. Eu não tinha nem um fiapo de voz pra reagir contra aquilo.

-Tire esses sapatos. - Ela ordenou.

Eu o fiz, rapidamente. Permaneci em pé, no canto da parede.

-Vista isso – Ela me entregou.

Me entregou aquilo que eu via todas as noites, nos meus pesadelos. Uma espécie de maiô comprido, as pernas eram parcialmente cobertas, por seu comprimento ir até ao meio da coxa, e o tórax ficava coberto como se fosse uma regata comportada. Haviam placas retangulares na base do tórax e somente uma nas costas. Agradeci a Deus por não ter espelho. Deus sabe o quão doloroso seria me ver naquela roupa, eu jamais poderia.

-Vamos. - Ela disse por fim. E nós fomos.

Lá estava eu, em meio a olhares curiosos de cientistas sádicos. Subimos um lance de escada e ela me apontou um grande tanque azul, em forma de tubo. Parecia de vidro blindado. Reconheci ele imediatamente. Ela me passou para homens que me ajustaram numa espécie de escada, uma superfície com apoios, que desceria até o término daquele tubo cheio de água. Após subir nele, desci lentamente, e quando já estava praticamente imersa dentro daquilo, um dos homens colocou um capacete transparente em minha cabeça. Olhei para cima. Fechado. Eu estava presa.

Brenner estava a minha frente, com os braços cruzados, como se estivesse ansioso pelo espetáculo. É o que eu sou agora. Um tigre enjaulado fazendo showzinho para seres humanos medíocres. É o que eu faço.

É o que as aberrações fazem.

Uma camada preta apareceu horizontalmente sobre o vidro, cobrindo ele totalmente, Me impossibilitando de ver qualquer coisa fora dali. A água fria se apropriando do meu corpo, me fez sentir ser mais uma gota daquela imensidão. Parte dela. Minhas lágrimas pararam. Meus olhos fecharam. Eu sei onde estou.

Inicialmente, tudo era fumaça. Tudo poluído, o ar era sujo, contaminado. Respirei fundo. Tudo se tornou preto. O preto era a única cor do ambiente. A superfície do chão era coberta por uma camada rasa de água empoçada. Dei um passo. Outro passo. Milhares de vozes começaram a falar. Umas gritavam, outras riam, algumas falavam seriamente, outras choravam. Caí ajoelhada com as duas mãos na cabeça. Não conseguia me concentrar.

-"Se concentre em uma" – Ouvi a voz de Brenner, suprema, acima das outras, me guiar.

Respirei fundo. Me levantei devagar, com os joelhos e as palmas das mãos molhadas. As vozes foram diminuindo. Uma a uma. Até me restar somente uma. Uma voz familiar.

Eu vi Mike. Mas não era o Mike que conheço. Seu rosto era infantil, apesar das mesmas sardas estarem lá. Vestia uma camisa branca, com gola e listras verdes.. O cabelo próximo ao rosto, um corte comum para os garotos mais novos. Ele tinha uma expressão afável, envergonhada. Ele falava sozinho, para o nada. Pra imensidão negra e vazia.

-Quando tudo isso acabar, você não vai mais ter que comer sobras como um cachorro. Minha mãe cozinha muito bem e…

-“Esse não.”- Brenner ordenou do lado de fora. Não dei ouvidos.

Com quem Mike falava? Cheguei mais perto dele. Parecia nervoso a ponto de explodir. Não era nervosismo de aflição, ele estava feliz. Tão feliz que poderia explodir. Eu queria abraçá-lo. Eu só queria estar com ele. Mesmo que não fosse real.

-É um baile brega, no qual você vai no ginásio e dança…

Com quem Mike falava? Sobre o que ele falava? Eu estava a sua frente. Não conseguia me mover. Ele era a luz em meio aquela escuridão. As bochechas salpicadas de sardas, o cabelo preto em contraste com a pele branca. Eu só queria ficar com ele mais uma vez, antes de que minha vida se transformasse numa prisão.

-“Conecte-se a outra pessoa. Não é ele quem estamos procurando” - Brenner insistiu.

Abraçei Mike. Ele pareceu não sentir. Continuava falando, falando e falando. Ele se inclinou pra frente num impulso e deu um beijo no vazio. O que estava acontecendo? Antes que eu descobrisse, ele começou a desaparecer. Como pó, quando vem o vento. Mike não estava mais lá.

Comecei a correr, e gritar seu nome em meio aquele vazio. Não havia resposta, não havia nada, nem ninguém. Meus pés batiam na água e ela respingava em minhas pernas. Cai duas ou três vezes. Na última vez que caí, fiquei no chão. Chorei. Chorei tanto que acho que não estava mais em meio a água. Estava em meio as minhas lágrimas. Na completa escuridão, emergida em meu próprio desespero.

Dizem que quando você morre, a vida, toda a sua vida, passa como um flash, bem diante dos seus olhos. Foi o que eu vi. Foi o que eu puxei. O que eu conectei. Toda a minha vida. Quem sou eu, como nasci, como vim parar aqui... Como rasparam minha cabeça, como eu, aos onze anos de idade sabia o que era um tanque de privação sensorial. Como eu era abusada, torturada, humilhada. Como eu fugi. Como eu fugi e achei Mike. Como Mike me achou e como ele me perdeu.

 

"Sinos ao redor de Saint Petesburg, quando eu vi você.

Espero ter o que você merece, e é aqui que eu encontro."

Meu rosto foi iluminado por uma lanterna. Era uma chuva descompassada, em meio a floresta. Eu havia fugido mais uma vez, dessa vez de camisa amarela, havia um desenho de hambúrguer. Benny. Pobre Benny, eu falhei mais uma vez. Mais uma vez alguém não pode me ajudar e Mike me apontou a lanterna. Ele estava ensopado, em cima de sua bicicleta. Estava com dois garotos. Mike me apontou a lanterna. Mike me mostrou a luz.

 

"Fumaça ao redor do seu rosto perfeito, eu estou caindo.

Empurrando uma vassoura para o espaço, e é aqui que encontro o caminho."

Eu estava bem. Mike me deu seu casaco, me levou com ele. Ganhei uma roupa macia e com cheiro bom. Ganhei uma cama. Ganhei comida de Mike. Ele não era rude comigo. Tinha paciência, falava gentilmente. Lucas tinha um pé atrás comigo, mas eu me sentia segura. Mike me chamou de El. Disse para chamá-lo de Mike. Eu estou bem. Boa noite, Mike.

 

"Sozinho em meu quarto da floresta, e está trovejando.

Nunca pensei que eu desabrocharia, mas é aí que eu começo."

Mike havia saído, porém retornou. Ele voltou para casa para ficar comigo. Ele me mostrou pequenas e preciosas coisas, como se inclinar na poltrona de seu pai. Me mostrou seus brinquedos. Me mostrou seu armário e me pediu para ficar dentro dele, porque se a mãe dele me visse, tudo daria errado. Tive medo, mas fiz. Confiei em Mike, e ele voltou por mim. Confiei porque Mike era diferente de todos os outros. Ele me pedia, não dava ordens. Mike me ensinou a prometer.

 

"Dias abandonados e jogos estereos, toda a noite, para a multidão que não pode,

e estou chamando…"

Sozinha em casa, subi do sotão para a sala de jantar. Havia uma caixa animada, uma televisão. Muitas e muitas coisas, pessoas e imagens. Coca cola. Lembro-me de Brenner sentado comigo em uma mesa, me submetendo a suas experiências desumanas para me recompensar com presentes medíocres e ilusões de felicidade. Com uma lata de coca cola. Desligo a caixa.

 

"A raça da mídia é como erva daninha ,

Mas o animal pega, o que o animal precisa.

Eu sinto muito…"

Subo ao quarto de Nancy. Vejo suas coisas de menina, coisas que jamais tive, coisas que eu jamais poderia ter. Há uma caixinha com música. Uma cama bonita e alta, suspensa do chão. Vejo suas fotos tendo uma infância feliz e normal, aquela que não pude ter. Vejo o rosto de Barb e sinto. Entendo que ela viu o que vi. Gritou como eu gritei. Os outros querem acreditar em Brenner, no governo e em Hawkins. Mas eles não podem deter o monstro. E eu sei que se pudesse, eles não fariam.

Barb, Will... Eu sinto tanto…

 

"E é aqui que eu encontro. Raios de poeira que envolvem sua cidadania.

Amável o suficiente para rejeitar, e é aqui que estou."

Vejo Hawkins. Cega. Uma cidade que os habitantes comem, dormem, trabalham e vivem. Apenas vivem. Eles não veem o mal, não querem ver. Quando o veem, não falam dele. Sou só mais uma. Sou um número. Onde estão os outros dez? Somos números. Eu sou um número.

Eu sou alguém que não era pra ser. Alguém que está aqui para se sujeitar. A Hawkins. Eu não tenho escolha, é para isso que fui criada. Não adianta mostrar algo quando não querem ver você. Eles não veem. Não escutam. Eles nunca me escutaram quando eu gritei. Porque eu sou um número.
 

Então vi Mike. Pra ele eu não era um número. Nem para Benny, nem para Joyce. Eu era alguém. Eu pude falar com Will. Pude deter Troy. Pude deter homens armados. Fiz um furgão voar pelos ares. Mike ofereceu a vida pela minha. E também tinha Dustin e Lucas... Eu era alguém importante. Eu era amada. Alguém gostava de mim mesmo que eu fosse só um número.

Eu tinha que salvá-los. Eu tive que salvá-los. De todas as coisas estranhas.

 

"O “Stadium Arcadium”, um espelho para a lua

Eu estou formando, estou me aquecendo

Estado de arte, até que as nuvens se choquem"

 

Eu sei quem eu sou. Sei o que fiz. De onde veio esse sangue em minhas narinas e onde estava minha mãe. Eu sei de tudo isso. Sei tudo que causei, e de tudo que evitei. Do portal que abri. Sei das vezes que Mike se aborreceu comigo, e eu chorei, sem ter o que fazer. Sei como me senti vestindo um vestido rosa e uma peruca. Esperança. Esperança de que eu seria uma garota normal. Porque eu era só um número. Eu sei quem eu sou.

 

"Coisas estranhas aconteceram, antes e depois do meio dia.

Eu estou formando, eu estou esquentando.

Para você."

 

 

Eu sou Eleven.


Notas Finais


Estamos chegando perto do fim sim, restando DOIS capítulos pra isso.
Outra coisa, a próxima fanfic não tem NADA a ver com "De volta a Hawkins", "Back to back", elas acabam aqui, ok?
O nome da música é Stadium Arcadium (Também é o nome do álbum maravilhoso que me inspirou muito a escrever essas fics), dos Red Hot Chili Peppers <3

Twitter: @FinnSkada
Instagram: @FinnLoboduro
Vejo vocês amanhã! Obrigada por todos os comentários! <3


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