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História Back to you - O incidente


Escrita por: HellHeir

Notas do Autor


Ok, algumas considerações iniciais.
1) Eu sinto muito que deixei vocês tristes, meus bebês, mas vocês sabem que eu precisava fazer isso.
2) Só quero deixar claro que esse capítulo foi escrito a muito tempo atrás, em janeiro ou até dezembro (porque alguns capítulos, mesmo sendo póstumos, eu acabo escrevendo antes se fico inspirada com ele e vou mudando conforme passa o tempo). Vocês vão entender mais pra frente o motivo de eu estar falando isso (e provavelmente vou falar disso de novo nas notas finais).
3) Eu sinto informar que a fic tá acabando então segurem os corações, os lenços de papel e a emoção, porque já já o desfecho vem e eu to doida pra saber o que vocês vão achar.

"And you expected me to stay there without knowing if you were safe? Annabeth, if anything ever happened to you... I... I couldn't..." "I know. I couldn't either."

*Divirtam-se*

Capítulo 16 - O incidente


Na sexta-feira daquela mesma semana a aula não seria de educação física como normalmente acontecia. O horário havia sido trocado naquela semana por conta da falta de um professor e a maioria dos alunos estava tendo aulas teóricas no momento.   

Annabeth e Piper estavam numa das salas, junto com Percy, que se sentava no fundo com outros garotos. Jason, Leo e Grover estavam em outra aula e o restante não havia comparecido (por terem que repor aquela aula outro dia), mas eles haviam combinado de se encontrarem mais tarde para falar sobre o final de semana. 

Percy viu quando Annabeth pediu permissão para sair e a observou enquanto ela ia para fora da sala, não conseguindo prestar atenção na aula, não quando só conseguia se lamentar por todo o ocorrido do começo da semana. Os dois não haviam se falado muito naqueles últimos dias e ele estava sentindo muita falta daquilo, mais do que se permitia demonstrar. 

Mas sua atenção logo foi para outra coisa. 

Os alunos ouviram um barulho alto vindo do lado de fora e pararam o que estavam fazendo, notando que o professor também estava achando aquilo estranho. Mas em seguida vieram outros tantos barulhos iguais a aquele e então a luz vermelha que havia em cada sala foi acesa e frente a eles e todos sabiam o que aquilo significava.  

Eles estavam no meio de um tiroteio. 

– Piper, Helen, fechem as cortinas. Os outros pro chão, em silêncio, e comecem a mandar mensagens pros amigos e a avisar a polícia – o professor falou e correu até a porta, segurando a maçaneta, apagando as luzes e olhando para o lado de fora pelo vidro. 

No ano passado, numa outra escola em Nova Iorque, havia acontecido um tiroteio e muitas crianças e adolescentes ficaram feridos e outros acabaram morrendo. As outras escolas tomaram medidas de segurança e o colégio Meio Sangue fez o mesmo, instalando luzes para as situações de risco junto aos alarmes de incêndio e treinando os professores e alunos.  

Por isso, assim que o professor viu que o corredor estava vazio e que, apesar do som de tiros continuar, estava longe dali, ele lembrou de seu treinamento e tomou decisões rápidas. 

– Comecem a puxar essas mesas, rápido – ele sussurrou e os alunos seguiram suas ordens enquanto ele ainda observava o lado de fora e se encolhia a cada disparo, rezando para que os outros estivessem bem. 

Piper se sentou no chão ao lado de Percy, nos fundos da sala, perto da outra porta (que só podia ser aberta pelo lado de dentro). Ele viu a amiga chorando e segurou sua mão com carinho. 

– Não consigo falar com Annabeth – a garota sussurrou e Percy virou o rosto em sua direção. 

– O que? 

– Ela deixou o celular na sala quando foi ao banheiro – Piper ergueu o aparelho da amiga para que Percy visse. – E Jason também ainda não respondeu, Leo disse que ele saiu pra beber água – ela encostou a cabeça na parede e voltou a chorar. – Eu só espero que eles estejam bem. 

Então Percy não pensou direito antes de garantir que o professor estava distraído e abrir a porta devagar. Piper percebeu o movimento do amigo tarde demais. 

– Percy, não! – a garota disse e tentou segurar seu braço, mas ele já estava do lado de fora. 

Piper olhou para os lados para ver se mais alguém tinha reparado naquela cena, mas os outros estavam ajudando com as mesas para bloquear. Ela apenas respirou fundo e mandou diversas mensagens para o garoto e se encolheu quando o barulho dos tiros começou a ficar mais alto, rezando para que os amigos estivessem bem. 

*** 

Percy saiu correndo da sala e foi pelo corredor até os banheiros mais próximos. Tentou entrar no feminino de uma vez, mas a porta estava trancada. Ele bateu algumas vezes com mais calma e chamou o nome de Annabeth. Esperou alguns segundos, começando a ficar nervoso e a olhar para os lados, mas logo uma mão puxava sua camiseta e braços se fecharem em seu pescoço quando a porta foi fechada atrás de si. 

Ele passou os braços pela cintura de Annabeth e a apertou com força quando percebeu que ela chorava. 

– O que você tá fazendo aqui? – ela sussurrou e Percy conseguiu finalmente respirar aliviado por ela estar bem. 

– Garantindo que você está bem – Percy respondeu no mesmo tom e a loira o soltou. 

– Seu idiota, você devia ter ficado na sala – Annabeth disse brava e bateu com os punhos fechados no peito, ainda chorando muito. – Faz ideia do risco que correu? 

– E esperava que eu ficasse lá sem saber se você estava segura? Annabeth, se alguma coisa acontecesse com você... eu... eu não... 

– Eu sei – ela o interrompeu quando percebeu seu nervosismo e levou as duas mãos até seu rosto, o segurando com delicadeza enquanto ficava na ponta dos pés para beija-lo suavemente, mantendo o rosto perto do dele ao se separarem. – Eu não conseguiria também. 

Percy assentiu e voltou a abraçar a garota, com ainda mais força daquela vez, e depositou alguns beijos em sua cabeça antes de voltarem a se separar. Ele lhe entregou seu próprio celular e voltou a se aproximar da porta. 

– Diz pra Piper que você tá bem – ele disse e colocou a mão na maçaneta, mas Annabeth o puxou pelo braço. 

– Onde você pensa que vai? 

– Jason também sumiu, eu preciso... 

– Você precisa ficar seguro porque você lá fora é só mais um problema pros policiais! 

– O que? 

– Se quem entrou aqui conseguir fazer algum refém, os policiais vão ter muito mais trabalho pra conseguir liberar todo mundo são e salvo!  

– Mas Jason... 

– Jason é meu irmão e eu tenho certeza de que ele está bem! – Annabeth falou mais alto e bem mais séria do que jamais falou e Percy estremeceu com aquilo. – Ele é esperto e cresceu comigo e com Thalia, ele sabe se esconder muito bem. Ele está bem! 

E Percy sabia que ela dizia aquilo mais para convencer a si mesma do que para tentar impedi-lo de sair. 

– Ok, ok – Percy a puxou para outro abraço, sentiu Annabeth tremer quando outros tiros foram disparados. Ele conferiu se a porta estava mesmo trancada e puxou a garota para se sentarem no chão, mandando mensagens para Piper dizendo que estava bem e perguntando por Jason. 

A notícia logo se espalhou, os que não estavam no colégio naquele dia já mandavam mil mensagens para saber se os outros estavam bem. Percy deixou o celular de lado e continuou fazendo carinho nos cabelos da amiga, sabendo que ela ainda estava chorando e a sentindo tremer com cada barulho. Não demorou muito pra eles ouvirem barulhos na porta e então a polícia se identificando e dizendo que podiam sair.  

Percy foi na frente, destrancando a porta e esperando um segundo para sair, vendo pelo celular que Piper já estava do lado de fora com os outros (e com sua família) e que tudo estava bem. Ele passou o braço pelos ombros de Annabeth para que os dois fossem, a passos rápidos, para o lado de fora e a loira correu na direção de Piper quando a viu, a abraçando com força. Ela pegou o próprio celular e bolsa com a amiga e logo Percy estava ali com os meninos, todos se abraçando também. 

– Os policiais disseram que ninguém ficou gravemente ferido ou, vocês sabem, morreu – Piper disse e checou o celular de novo. – Mas Jason ainda não apareceu e... 

Annabeth estava pronta pra correr de volta pra escola quando viu cabelos pretos familiares no meio da multidão e logo Thalia estava ali abraçando os amigos e perguntando se estavam bem. 

– Cadê Jason? – ela perguntou e ficou séria quando nenhum deles respondeu, mas Percy segurou a prima antes que ela corresse de volta para a escola. – Percy, me solta! Eu tenho que... – então ela parou de falar ao ver o irmão saindo numa maca e com sangue na perna. Aquilo foi suficiente para matar os outros de preocupação. 

Correram até Jason e foram afastados dele, exceto por Thalia, que era sua irmã. Um dos policiais disse que ele havia levado um tiro na perna direita, mas que não era nada comprometedor, só que ele havia perdido muito sangue. Os outros perguntaram pra qual hospital os feridos estavam indo e agradeceram quando o homem lhes disse. 

– Ok, nós podemos ir com meu carro e... – Percy começou, mas foi interrompido quando um garoto pequeno e uma menininha o abraçaram pela cintura e pelas pernas, então ele os puxou para mais perto e sentiu o coração mais quente por sua família estar ali. 

– Nós estávamos preocupados, Percy – Tyson disse e o mais velho ergueu Estelle no colo sem soltar o irmão. 

– Tá tudo bem, Percy? – Estelle perguntou fazendo carinho no rosto do irmão e ele assentiu. 

– Tá sim. Obrigado por estarem aqui – ele sorriu e finalmente os soltou para abraçar os pais, garantindo que estava tudo bem. Quando se virou, ele viu Annabeth com sua irmã no colo e com Tyson no outro braço, sorrindo para os dois e dizendo que estava tudo bem. Ele sabia que ela estava fingindo normalidade e que estava doida pra ir logo pro hospital, mas também sabia que gostava muito de seus irmãos e que devia estar emocionada com a preocupação deles. 

Sua família ainda não sabia do término, ele não havia contado por estar um pouco sem coragem, especialmente quando se tratava de seus irmãos. Eles gostavam muito de Annabeth e ele sabia que seria difícil para os pequenos, por isso estava planejando toda uma explicação mais calma com eles para contar o que aconteceu. Os pais seriam mais compreensíveis, mesmo que gostassem muito da garota, mas Percy ainda estava adiando aquela conversa.  

Viu Annabeth abraçando seus pais e trocou um olhar com os amigos, pedindo silêncio, e eles pareceram entender que ele ainda não havia dado a notícia.  

– Nós estamos indo pro hospital – Percy se aproximou de sua família e segurou Annabeth pelos ombros. – Jason foi baleado na perna e perdeu muito sangue – ele disse aquela parte mais baixo para que os irmãos não ouvissem. – Se eles precisarem de mais doadores, nós já estaremos lá pra ajudar. 

– Nos dê o nome do hospital pra avisarmos seus tios – Sally pediu e o garoto concordou, saindo dali com Annabeth e os outros. Eles ficaram um pouco mais para trás e Percy tirou as mãos dos ombros dela assim que os pais lhes deram as costas. 

– Por que ainda não contou a eles? – ela sussurrou e viu o garoto dar de ombros. 

– Não vai ser fácil dizer isso pra Elle e pro Ty. Sabe que eles amam você. 

Annabeth deu um sorrisinho de lado e assentiu, indo par o lado de Piper conforme continuavam a andar. Grover foi na frente com Percy e Leo atrás com as meninas, e pouco tempo depois eles estavam estacionando em frente ao hospital. 

Percy, Piper e Annabeth cumprimentaram os pais de Jason e Thalia e foram ficar junto com a amiga enquanto esperavam por notícias. Nesse meio tempo, Annabeth havia falado com o pai e ele iria encontra-la no hospital dali a pouco, já que ele tinha que esperar todos os outros estudantes irem embora com os pais devido ao acontecido (porque o próprio Frederick era professor e, depois daquela notícia, todas as escolas estavam em alerta).  

Mais pessoas foram chegando no hospital e começaram a conversar sobre o que tinha acontecido, especialmente os alunos que esperavam por notícias dos amigos. 

– O homem cometeu suicídio – uma garota mais nova disse para os outros. 

– O que? 

– Quando a polícia chegou. Ele foi pra longe de todos os feridos e deu um tiro na própria cabeça em frente a todos. 

– A polícia disse que não encontrou motivações pra isso ter acontecido – outro garoto disse. – Já sabem o nome do homem, endereço, quem são os pais, mas nada que o ligue a esse colégio ou a algum trauma que pudesse levar a isso tudo.  

– Ele podia só querer ser ruim – Leo deu de ombros e aquela mesma menina negou com a cabeça. 

– Sim, mas ele não matou ninguém. Um dos meus amigos estava no meio dos feridos e disse que, quando ficaram perto dele, ele fez questão de mirar em seus braços e pernas, nunca na cabeça ou coração. Ele não estava querendo matar ninguém. 

*** 

Annabeth, Thalia, Percy e os outros (inclusive os que não estavam na aula, que fizeram questão de ir ao hospital dar apoio) estavam sentados na sala de espera impacientes. Eles já sabiam que Jason estava bem, seu ferimento já havia sido fechado e a cirurgia estava no fim, então logo eles poderiam visita-lo. Percy via que a ex-namorada ainda estava inquieta e que mexia insistentemente na perna, por isso segurou discretamente sua mão e a viu virar o rosto rápido. 

– Posso falar com você? 

– Claro – Annabeth assentiu e os dois saíram dali sem dar explicações, indo para o corredor que levava a cafeteria.  

– Você está bem? – Percy perguntou quando ficaram sozinhos e se encostou na parede de frente para ela. 

– Sim. Agora que sei que ninguém ficou gravemente ferido ou pior, já consigo ficar bem mais calma. 

– Ótimo. E seu pai? Voltou a falar com ele? 

– Sim, ele disse que as últimas crianças estão indo embora e então ele vem me buscar aqui – ela o encarou e segurou sua mão. – Embora tenha sido a coisa mais estúpida que você já fez e eu ainda quero muito bater em você por isso, obrigada por ter ido atrás de mim – Annabeth conseguiu abrir um sorrisinho. – Você não devia ter feito isso, mas eu me senti bem mais segura com você lá. 

– Eu faria de novo, eu juro. Mesmo que custasse você me bater de novo. 

– De novo? – ela riu. 

– Você tem um pulso forte, sabia? Bateu em mim com os dois punhos como se não fosse nada, mas doeu pra caralho – então Percy levou as mãos até onde a garota tinha batido antes e fingiu um drama, arrancando mais risadas dela. 

– Sinto muito – Annabeth disse e colocou as mãos por cima das dele. – Pode escolher o próximo filme que formos ver quando, você sabe, o clima ruim passar. 

– Essa é minha recompensa? Pensei que fosse mais generosa, Chase. 

Então ela revirou os olhos e ficou séria antes de subir na ponta dos pés e beijar o garoto, puxando-o pela cintura e sentindo as mãos dele passarem por seus cabelos e fazerem carinhos em suas bochechas. Os dois se separaram e ficaram com as testas juntas por alguns segundos, rindo baixinho e voltando a se abraçar. Percy encaixou o rosto no pescoço de Annabeth e disse que tudo ia ficar bem, percebendo que ela assentia enquanto ainda o apertava contra si. 

Os dois se separaram ao ouvirem a voz de Frederick e Annabeth abraçou o pai com força enquanto ele perguntava se os dois estavam bem. A garota assentiu e Percy disse que ia deixá-los sozinhos, voltando para junto dos amigos enquanto eles conversavam. 

– Quer ir pra casa? – o homem perguntou depois de abraçar a filha por um longo tempo. 

– Eles já vão liberar o Jason pra gente visitar. 

Frederick assentiu e os dois voltaram para a sala de espera com os outros. Annabeth voltou para o lado de Thalia, abraçando a amiga de lado, e seu pai foi falar com os pais da amiga. Eles ficaram de pé todos ao mesmo tempo quando o médico apareceu, o que assustou um pouco o moço. 

– Só a família por enquanto – ele disse e esperou. Os pais do garoto foram na frente e Thalia puxou a mão de Annabeth e Piper, dizendo para Percy ir também. 

Os quatro entraram na sala e Annabeth foi logo depois de Thalia abraçar o amigo, voltando a chorar e dizendo que estava preocupada. Jason riu, abraçando a loira com força e dizendo que estava bem. Recebeu um abraço de Percy e sorriu bastante quando Piper ficou ao seu lado e beijou sua mão, ouvindo-a dizer um “eu te amo” baixinho antes de abraça-la e dizer que também a amava.  

Percy e Annabeth foram os únicos a sair dali, dizendo para os amigos formarem grupos pequenos e irem se revezando para ir até o amigo visita-lo. Annabeth apenas disse ao pai que iria confirmar com Thalia se ela não precisava de nada e a morena disse que não, mandando a outra ir descansar. Percy estava esperando por Grover, o único que precisaria de carona pra voltar, e foi espera-lo do lado de fora do hospital.  

Ele viu quando Annabeth e o pai também saíram e, para sua surpresa, a loira foi até ele, pedindo um minuto ao pai. 

– Tá tudo bem? – ele perguntou ao ver a expressão triste dela. 

– Vem embora comigo – Annabeth disse e segurou as mãos dele com força, deixando de lado toda a história do término. – Por favor. Você pega uma roupa limpa, toma banho lá em casa, janta com a gente e podemos ver um filme. Só... só não me deixa sozinha hoje, Cabeça de Alga. 

– É claro, Sabidinha – Percy respondeu e sentiu seu coração se partir ao ver o quanto ela estava assustada. Annabeth era durona, era corajosa e era a mais provável de passar por uma situação de risco sem se machucar ou perder a cabeça, mas no momento ela só precisava de alguém que a confortasse até que aquele dia sumisse de sua memória. E Percy estava mais do que disposto a ser essa pessoa. – O que você quiser. 

– Obrigada, Cabeça de alga – ela conseguiu sorrir e sentiu um beijo em sua cabeça quando se abraçaram. Percy viu Grover saindo com os outros meninos e percebeu que o amigo chamava a atenção deles pro outro lado pra dar tempo aos dois.  

– Olha, eu tenho que levar Grover, então vamos fazer assim – Percy a afastou com gentileza e continuou segurando seus ombros. – Eu vou embora, tomo um banho, deixo Grover e vou direto pra sua casa depois disso. Meia hora, talvez quarenta minutos, é tudo que eu preciso. 

– Acho que consigo sobreviver – Annabeth murmurou e arrancou uma risadinha dele. – Não se atrase, Cabeça de Alga. 

– Não irei. Prometo. 

*** 

Percy cumpriu com todo o prometido. Foi até sua casa, demorou vinte minutos para tomar banho e se trocar e foi levar o amigo embora antes de ir para Annabeth. Antes de sair, ele procurou pelos pais, disse que Annabeth estava muito mal e que iria ficar com ela naquela noite, vendo os dois trocarem um olhar. 

– Eu sei que não gostam disso... 

– Ela precisa de você, filho. E nós confiamos em você como confiamos quando ela veio aqui. Mande notícias sempre que possível, tudo bem? 

E Percy ficou imensamente agradecido com aquilo.  

*** 

– Nós vamos fazer nossa noite da pizza ou prefere outra coisa hoje, Annie? 

– É claro que vamos fazer a noite da pizza, é meu jantar favorito na semana – ela conseguiu sorrir um pouquinho e segurou a mão do pai quando ele pegou o telefone. – Mas hoje pode pedir duas. 

– Por que? Está com tanta fome assim? 

– Percy está vindo, pai – Annabeth disse e encarou o homem. – Eu o convidei pra passar a noite. 

– Mas, Annie, vocês dois terminaram, não foi? – Frederick parecia bem confuso com aquilo. 

– Sim. 

– Então – ele gesticulou com o telefone, tentando entender – por que o chamou pra cá? 

– Porque... – ela abriu a boca, procurando palavras para explicar como estava – eu me sinto segura com ele. Ele estava comigo o tempo todo e isso foi a única coisa que conseguiu conter uma crise de pânico que eu estava começando a ter. Quando nós ouvimos os tiros e ele entrou no banheiro pra se esconder comigo, eu... eu já estava perdendo o ar e chorando e não sei o que podia ter acontecido se ele não tivesse aparecido. 

– Eu não estou questionando o quanto ele te ajudou, filha. Só... não quero que se arrependa amanhã de manhã quando ele estiver aqui. 

– Não se preocupe, pai. Isso não vai acontecer. Eu... eu confio nele. 

– E mesmo assim terminaram? 

– É complicado. 

– Eu entendo, eu só quero que fique bem, princesa – Frederick disse e abraçou a filha com força. – E então, que sabores quer pedir hoje? 

Annabeth sorriu com aquilo e disse o que queria, indo para o banheiro se lavar e colocando seus pijamas antes de sair do quarto, secando e penteando os cabelos com calma para relaxar. Olhou a hora, vendo que faltavam oito minutos para o tempo de Percy acabar e, quando ouviu o barulho de um carro do lado de fora e seu celular apitando, foi abrir a porta para seu convidado.  

Percy deixou suas coisas no quarto de Annabeth e foi para a sala com ela e seu pai depois de vestir o pijama a pedido (ou seria ordem?) da garota, conversando pouco mais de quinze minutos com eles até a pizza chegar. Os três comeram enquanto ainda conversavam e foi quase como se nada tivesse mudado, pelo menos eles se sentiam assim. Percy estava se sentindo bem melhor por ver Annabeth bem e ficou de pé pra ir escovar os dentes quando acabou de comer. Frederick também se levantou e disse que estava indo dormir. 

– Estarei em meu quarto se precisar de qualquer coisa, tudo bem? 

– Sim, senhor. Eu te amo, pai – ela disse baixinho e Frederick viu seus olhos se encherem de lágrimas. – Acho que eu não digo isso o suficiente pra você. 

– Não se preocupe, meu amor. Eu sei que ama. E sei que você também sabe que é o maior amor da minha vida. E nada nunca vai mudar isso. 

Annabeth apenas sorriu e voltou a abraçar o pai, deixando que as lágrimas corressem livres por seu rosto. Ela ouviu a porta do banheiro ser aberta e se separou do homem a tempo de ver Percy voltando para a sala. Frederick beijou a cabeça da filha e a soltou, indo em direção ao seu próprio quarto depois de dar boa noite aos dois.  

Percy estendeu a mão para a loira e a puxou gentilmente para seu abraço, percebendo que ela ainda chorava. Ele não fez perguntas, apenas desceu as mãos até as pernas dela e a puxou para cima, indo em direção a seu quarto e a deixando sentada em sua cama. Se virou de costas para ela e começou a mexer em seu guarda-roupa, o que a deixou curiosa por alguns instantes. Annabeth ia fazer perguntas, mas ele voltou sua atenção novamente para ela, só que daquela vez tinha uma camiseta nas mãos, uma que ela reconheceu pertencer a ele mesmo. 

A camiseta havia vindo por engano na mala dela na última viagem dos dois, quando ela foi para a fazenda dos avós do garoto, mas ela havia esquecido de devolver. Percy sabia que ela estava com a peça e se ajoelhou na sua frente com a mais gentil das expressões e começou a tirar seus chinelos e a puxar sua blusa para cima. Annabeth não disse nada, apenas ergueu os braços e o ajudou quando ele tentou tirar seu short, deixando que ele a vestisse com a camiseta. 

– Eu sei que prefere dormir assim porque meu pijama é mais confortável – ele disse e recebeu um sorrisinho em troca, ficando bem feliz com aquilo. – Está pronta pra dormir? 

– Eu acho que vou tomar um remédio antes. Ainda estou agitada. 

– Me diz onde está que eu pego. 

Então a garota explicou o que ele deveria pegar e Percy saiu dali. Ela havia dito que os comprimidos estavam numa caixinha no balcão da cozinha, mas ele nem precisou dessa instrução, pois encontrou o pai dela ali, esquentando alguma coisa no fogão. 

– Percy? Tá tudo bem? – o homem perguntou e o garoto assentiu. 

– Sim, tá sim. 

– Quer chá? – Frederick indicou o fogão. 

– Não quero, não, Frederick. Obrigado. 

– Se importa de me responder uma pergunta? 

– Não, é claro que não – Percy se sentou num dos banquinhos do balcão e ficou ligeiramente nervoso com aquilo. 

– Por que exatamente vocês dois terminaram? 

– Annie não disse nada? 

– Só disse que estavam brigando muito. Mas não o porquê. 

– Pra falar a verdade, nem eu sei direito o motivo – ele viu que Frederick ainda estava confuso e percebeu o que havia dito. – Quer dizer, foram muitas brigas por motivos bobos, tipo ciúme, desencontros, falta de tempo... nenhum dos dois estava feliz com aquilo. 

Deuses, como ele estava errado. 

– Entendi. Ela estava bem mal durante o incidente, não é? 

– É – Percy ficou muito feliz por finalmente estar mudando de assunto. – Nós ficamos sozinhos e sem notícias dos outros o tempo todo. Ela não parou de chorar um minuto até irmos pro hospital e os médicos confirmarem que Jason e os outros estavam bem.  

– Eu imagino. Ainda mais com Jason no meio de tudo isso, ela o considera um irmão. 

– Sim, isso só deixou ela ainda pior. Mas ela já tá melhor, eu acho. O susto passou e ela tá quase dormindo. Só disse que quer tomar um remédio antes. 

– Ah, tudo bem – Frederick disse e entregou uma cartela e um copo d’água para o garoto.  

– Obrigado, Frederick. 

– Eu que agradeço, Percy. Por ficar do lado dela. 

– Não tem que agradecer, ela é minha melhor amiga – então ele viu a expressão do ex-sogro de surpresa. – Mesmo que a gente tenha terminado. 

– Claro – o homem sorriu e voltou a atenção para o fogão. 

– Percy, por que está demorando tanto? – eles ouviram a voz de Annabeth e viraram o rosto ao mesmo tempo, notando o quão surpresa ela pareceu ao encontrar os dois ali, especialmente por não estar apropriadamente vestida. – Pai – ela parou ao lado de Percy e tentou puxar a blusa que vestia para baixo. – Achei que já tivesse ido dormir. 

– Bem, eu estou indo agora – Frederick despejou a água quente na caneca e a pegou para levar até o quarto, junto com o próprio celular. – Boa noite pra vocês dois. 

Annabeth murmurou um boa noite e não conseguiu encarar o pai enquanto ele passava por ela, prendendo um sorriso enquanto erguia os olhos até o rosto de Percy. 

– Bem, isso foi... estranho – Percy disse e lhe entregou a cartela de remédio e o copo com água, ficando extremamente realizado quando viu o sorriso que começava a nascer no rosto dela. 

– Eu prefiro fingir que isso não aconteceu – Annabeth respondeu e se aproximou dele enquanto tomava um comprimido.  

– Eu não vou discutir com você – ele disse e a segurou pela cintura, fazendo carinho por baixo da blusa que ela vestia enquanto ainda estava sentado no banquinho. – Quer voltar pro quarto? 

– Quero sim, mas... eu acho que preciso de um docinho antes. 

– Onde por aqui eu consigo te arrumar um docinho, senhorita Chase? 

A loira sorriu e indicou um dos armários da cozinha, sentando-se no balcão enquanto Percy ia até lá e pegava uma caixa de bombom que ela tinha ali. Ele voltou para perto dela e esperou a garota pegar um deles, deixando a caixa de lado enquanto esperava ela comer, fazendo carinhos em sua cintura e em suas pernas enquanto isso.  

Os dois ficaram ali por alguns minutos, comendo os chocolates e conversando um pouco antes de voltarem para o quarto de Annabeth. Escovaram os dentes e se sentaram na cama da garota um de frente pro outro em silêncio, não sabendo muito bem o que fazer. Percy fez o primeiro movimento ao segurar uma de suas mãos e erguer a outra até seu rosto, usando as duas para fazer carinho nela. Ela sorriu, se sentando mais próxima dele e fechando os olhos para apreciar aquilo.  

Quando ela voltou a encara-lo, sua expressão ficou mais séria e seus olhos não desviaram um segundo dos dele. 

– Obrigada por estar aqui – ela sussurrou e viu um sorriso crescer em seu rosto antes dele segurar suas duas mãos e as levar até os lábios, depositando beijos por cima delas. 

– Não tem que me agradecer. 

Annabeth sorriu e se ajeitou em sua cama, esperando que Percy fizesse o mesmo antes de deitar por cima de seu peito e deixar que ele os cobrisse. 

– Não me deixa sozinha – ela sussurrou e o apertou mais. – Hoje não, por favor. 

– Nunca, Sabidinha – Percy respondeu e a beijou na cabeça, fechando totalmente seu abraço ao redor dela na esperança de que a fizesse se sentir segura. 

Ele não sabia, mas estava funcionando de verdade. 


Notas Finais


Semana passada, quando eu terminei de postar o capítulo 15 pra vocês, eu fui dar uma checada pra ver qual era o próximo capítulo a ser postado (eu sempre faço isso pra prever as reações de vocês). Até o momento que eu li o nome do capítulo, a minha ficha não tinha caído que eu tinha escrito algo que, infelizmente, veio a acontecer (duas vezes) no mundo nessa última semana. Eu me senti ainda mais triste por isso, porque quando eu escrevi, eu só consegui pensar em várias problematizações que eu sempre faço pra política de armamento da população dos Estados Unidos e tal (que é onde a história acontece) e, quando eu me dei conta que o mesmo tá acontecendo aqui SEM um porte liberado pra população, eu só consegui odiar mais o filho da puta que as pessoas elegeram pra presidente porque ele quer facilitar o acesso pra armas (porque na cabeça desse animal isso não vai aumentar os casos de violência em TODOS os aspectos da sociedade).
De qualquer forma, minhas condolências as famílias dos alunos da escola de Suzano e meu desejo que isso pare de acontecer.
Perdão pelo clima pesado, foi MUITA coincidência o que tá acontecendo e eu só lamento por isso.
Apesar de tudo, espero que tenham gostado do capítulo (meio que espero que vocês foquem no casal e não tanto na situação em si).
Eu vou tentar voltar até quinta-feira (essa semana vai ser bem corrida), mas por favor não me odeiem se eu só conseguir aparecer segunda-feira que vem (juro que não vai ser proposital).
Beijinhos.
- A


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