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História Backstage - Saranghae


Escrita por: biagw

Notas do Autor


Desculpem a demora, pessoal, aí está mais um cap <3

Capítulo 24 - Saranghae


~~Francine~~

         Fiz as perguntas que me vieram à cabeça, eu não sabia bem como interferir – nunca fui boa com esse tipo de conversa. Yoongi ficou a maior parte do tempo encarando a parede em sua frente, me dando respostas curtas e diretas, fugindo do assunto. O frasco rodava entre meus dedos, era mesmo aquilo que a internet havia me dito horas antes.

         Já pensou em sair do grupo? Sim

         Já pensou em abandonar a carreira? Sim

         Está pensando em desistir? Sim

         A cada pergunta seguida de uma fria e direta reposta, eu me sentia mais prensada contra a parede. Nenhuma conversa fluía, as palavras se limitavam a sim, não, quase. Eu me sentia responsável, ao mesmo tempo em que me sentia incapaz, insuficiente, incompetente. Não era psicóloga, não era médica, não era uma mãe de verdade. Só podia tentar dar vagos conselhos e dizer o que provavelmente as outras pessoas já disseram.

Eu estava preocupada, tinha uma questão entalada na garganta, mas não tinha coragem pra fazê-la. Não sabia o que esperar como resposta, não sabia se estava preparada pra ouvir uma afirmação. Mas, não saber este tópico, poderia piorar a situação ou aumentar ainda mais minha preocupação.

Já pensou em algo contra si mesmo? Não. Ainda não

Formulei a questão da forma menos violenta que consegui; a resposta me consolou e acalmou um pouco – não tínhamos atingido um nível tão triste. Ou melhor, ainda não, como ele mesmo disse. Os comprimidos que eu havia encontrado foram como uma luz que se acendeu na minha cabeça, me deixando claro algo que eu já deveria ter percebido (ou pelo menos desconfiado). Estar tão sonolento, desligado e distante como Yoongi estava era claramente um sinal de que algo estava errado.

E sim, estava. O pequeno comprimido era uma espécie de antidepressivo, indicado pra tratamento de ansiedade ou casos de princípios de depressão. Eu não sabia se algum médico o havia indicado ou se Yoon o havia escolhido por conta própria, ele não me respondeu essa pergunta – mas era uma informação irrelevante frente ao resto da situação.

Eu, que nem posso me considerar como parte da loucura que atinge e rodeia o grupo, já sinto uma pressão enorme nos ombros, já sinto vontade de desistir e desabar às vezes. Fico imaginando o que os garotos sentem. Por um lado eles têm o amor e o apoio de todos os fãs e amigos; tem uns aos outros; tem experiências fantásticas ao redor do mundo. Por outro lado, ficam afastados de suas famílias; têm seus desejos e ações controladas; tem uma pressão gigantesca pra aguentar.

Como se eu já não estivesse preocupada o suficiente depois de todo o problema com Jimin ou o problema do Hoseok. Agora tenho que encontrar uma saída também pra Yoongi. Aish, eu não sei o que fazer pra ajuda-lo, isso me deixa extremamente frustrada. Ficamos alguns bons minutos em silêncio; devolvi o frasco ao dono (não teria o que fazer com ele, nem poderia impedi-lo de tomar. Seria pior ter uma abordagem agressiva ou autoritária agora); e respirei fundo antes da última fala.

“Quer falar sobre isso?” – perguntei, tentando olhar no fundo de seus olhos. Seu olhar me transmitia uma certa angústia e tristeza, mas sua expressão era muito segura, como se não pudesse deixar nada escapar – “Eu sei que não sou ninguém da sua família, nem uma psicóloga hiper qualificada, mas pode confiar em mim se precisar. Ninguém deve passar por isso sem contar com alguém...”

         Tentei passar uma tranquilidade pelas palavras e forcei um pequeno sorriso. Queria apenas que ele soubesse que não estava sozinho e que, por mais difíceis que fossem as provas do dia-a-dia, eu estaria ali sempre pra ajuda-lo no que fosse necessário. Yoon assentiu, encarando o chão por poucos segundos. Me levantei, pensando em sair do quarto, mas antes o encarei mais uma vez.

         Até então eu poderia dizer que Yoongi era o membro mais sério e centrado do grupo; ele dificilmente deixava seus sentimentos a mostra, conversava comigo sem a mesma intimidade dos outros, se aproximou pouco da minha irmã. Mas tudo isso vinha piorando de uns tempos pra cá; ele sorria menos, falava menos, brincava menos; se calava mais, fugia mais, se escondia mais. Não, ele não era simplesmente o mais reservado ou tímido. Na verdade ele estava precisando de ajuda. Nada de frieza e desinteresse como alguns pensaram ou ainda pensam.

         Naquele momento eu confirmei que teria que aguçar mais ainda meu olhar, que estava deixando passar sinais importantes. Naquele momento eu vi que tudo que aquele menino estava fazendo era guardar suas dores, enfrentando seus medos e inseguranças sozinho. E, quando vi as lágrimas em seus olhos, me senti a pior pessoa do mundo – não porque tivesse alguma culpa, mas porque não podia fazer nada. Nada além de acolher aquele que precisava da minha ajuda.

         E então ele não era mais o garoto tímido e calado que eu julgava ser apenas mais quieto e distante, não era mais aquele Suga que só se soltava quando podia falar sobre música ou estar no palco. Agora era Min Yoongi, um menino que precisava compartilhar seus obstáculos, precisava de ajuda pra vencê-los. Precisava de um ombro para derramar as lágrimas entaladas por tanto tempo.

         Eu não quis falar mais nada ou arriscar algum conselho inútil e clichê de mãe postiça. Eu apenas permiti que colocasse um pouco daquela angústia pra fora. Sei que o choro de uma tarde não é suficiente pra mudar a vida de uma pessoa, mas pode ser mais importante do que parece. Nunca tínhamos conversado com essa intensidade antes; nunca tínhamos nos aberto dessa forma antes; nunca tínhamos derramado lágrimas em frente ao outro antes.

“Não importa o que aconteça, eu sempre estarei aqui”

“Não importa o quão difícil seja, eu quero que divida comigo, ok?”

         Não muito tempo atrás eu prometi que seria mais que uma irmã. Eu disse que seria como uma mãe que cuida e protege. E agora – repetindo essas frases, acariciando as mechas loiras e secando as lágrimas que escorriam pelo rosto pálido – eu estava reforçando essa promessa. Nada vai acontecer com esse garoto. Eu não vou permitir.

~~Kwan~~

         Hye estava se arrumando fazia horas. Ela havia saído da aula de violino mais cedo pra conseguir cumprir o horário que havia combinado com um dos garotos que conhecemos no apartamento da Fran. Parecia até que estava mais interessada no músico do que em aprender a tal música no piano. Conheço bem esse papinho de aprender, eu também falava que queria treinar alguma sequência quando queria me encontrar com Francine.

“Pronta, criança?!” – gritei minha irmã da sala, abrindo a porta pra receber minha mãe (ela ficaria cuidando de SooHeun enquanto estivéssemos fora)

“Estou descendo” – ela gritou de volta, correndo pelas escadas

         Minha caçula tinha o violino em mãos e estava completamente arrumada – inclusive com a maquiagem. Nossa mãe a encarou, rindo de toda a animação que Hye apresentava. Eu nem podia falar nada, estava basicamente da mesma forma pensando em reencontrar Francine num jantar. Havia preparado cada pequeno detalhe, havia consultado o restaurante que costumávamos ir; queria que tudo fosse especial. Sabia que ela gostaria de uma surpresa do tipo.

“Vamos” – Hye passou por mim, se despedindo de SooHeun e da nossa mãe, e já saiu na frente indo em direção ao carro

         Me despedi do meu pequeno e sai seguindo Hye, que já estava impaciente parada ao lado do carro. Ri de sua preocupação por um possível atraso. Eu estava mais nervoso que nos dias anteriores, parecia ter voltado aos vinte anos. Em cada hora do meu dia eu me via pensando nela, em como estava depois de tanto tempo, eu como nos reencontramos. No beijo que aconteceu no corredor do prédio.

         Por que Francine tinha que continuar tão linda em todos os sentidos? Seu sorriso encantador continua ali, assim como seus olhos cheios de brilho e seu coração enorme. Por todos esses anos sempre me vi pensando em como teria sido minha vida se não tivéssemos nos separado. Por diversas vezes me culpei por ter sido fraco demais, por ter permitido que tudo acontecesse daquela forma. Mas minha certeza de que ainda a reencontraria, mesmo que fosse no leito de morte, nunca se foi – e felizmente esse encontro aconteceu antes do que eu esperava.

(...)

“Me disse que não tinha filhos” – sorri, enquanto íamos para o elevador. Fran me encarou, sem entender – “Se você não é mãe desses sete eu não sei mais o que poderia ser”

         Fran sorriu, envergonhada. Fiquei poucos minutos no apartamento, apenas o tempo que ela precisava pra terminar de resolver tudo que precisava. E isso se resumia em literalmente cuidar dos garotos não tão pequenos que estavam ali. Francine dava instruções a um; perguntava se os outros haviam jantado; distribuía abraços e beijos tão carinhosos quanto o de uma verdadeira mãe. Antes de sairmos ela passou um milhão de recados maternos do tipo ‘me liguem se precisarem de algo’, ‘não esqueçam de jantar’, ‘fechem as janelas antes de dormir’...

         Me lembrei de um dia ensolarado, num longo tempo atrás, em que passávamos férias na Itália depois de um breve espetáculo por ali. Naquele dia, no centro de Roma, brincamos que teríamos cinco filhos em escadinha que teriam nomes meio coreanos/meio brasileiros. Na época foi uma piada com um pequeno ponto de verdade. Era verdade que queríamos ter formado uma família, era verdade que tivemos planos pra isso. E, pelo jeito, Francine teria sido uma ótima mãe. Não me arrependo de ter tido um filho, SooHeun é meu maior tesouro, mas tudo teria sido bem diferente se aqueles sonhos adolescentes tivessem se concretizado.

“Por que está me fazendo ficar nostálgica?” – Fran sorriu, sentando-se na cadeira em minha frente

“É melhor escolher um lugar conhecido” – brinquei, encarando seu sorriso – “Eu sei que gosta daqui”

Pensei tanto durante o percurso que quando me dei conta já estava estacionado em frente ao restaurante. Não era um lugar muito grande ou com fama turística; era apenas um pequeno restaurante que ficava bem perto de onde era nossa antiga academia. Passamos vários almoços nesse mesmo lugar. Francine parecia feliz em voltar, ela olhava atentamente para todos os cantos conferindo se tudo ainda estava no lugar (parecia uma criança curiosa).

Quando eu era mais jovem, nunca havia pensado em encontrar uma mulher que gostaria de levar para o resto da vida. Meu objetivo, na verdade, era fazer a maior lista possível de garotas com quem conseguira ficar. Na Rússia eu era conhecido por sempre estar rodeado pelas bailarinas de todas as companhias, por nunca manter nada sério com nenhuma delas. Até que, naquele mesmo país, conheci uma ‘concorrente’ à vaga na Academia de Seul que estava criando fama por seu esforço, dedicação e perfeição.

A bailarina prodígio que parecia concorrer comigo era Francine, e foi quando a conheci que entendi todo o significado dos poemas de amor, das declarações de fidelidade, do encanto de uma só pessoa. Eu não precisava mais, nem queria, da companhia de todas as garotas daquele ballet. Eu só queria sua companhia, eu precisava apenas dela comigo. E minha vida foi dividida em antes e depois dessa única pessoa.

“Por que está com essa cara?” – interrompi meus pensamentos, vendo que Fran parecia desanimada enquanto apenas mexia no prato

“Não é nada” – respondeu, forçando um sorriso

“Continua mentindo mal” – pensei alto, e ela riu após ouvir

“Ainda me conhece tão bem” – disse, com um pequeno sorriso, encarando-me. Às vezes aquilo continuava me aparecendo um sonho – “Estou com alguns problemas na cabeça, mas não quero usar o momento pra falar deles”

“Problemas com seus filhos?” – perguntei, sem deixar de encará-la. Francine assentiu, sorrindo

“SooHeun não te deixa preocupado às vezes?” – questionou, abandonando o prato e voltando a me olhar. Assenti – “É mais ou menos o que estou passando agora”

“Então pode-se dizer que te entendo” – retruquei, tentando fazê-la sorrir (com um vago sucesso) – “Gosta mesmo dos meninos, não é?”

“Eles precisam de mim” – respondeu, mais séria, voltando a comer – “Mas não sei se sou suficiente”

“Tenho certeza de que é mais do que suficiente” – peguei em sua mão, olhando em seus olhos. Ela parecia cansada, mas não deixava de sorrir, ou de pelo menos tentar

         Aquela conexão, a que tínhamos anos atrás, eu podia senti-la naquele momento. Era da mesma forma. A cena se arrastou por vários segundo silenciosos, como se o cenário não existisse, como se tivéssemos parado no tempo, apenas olhando no fundo dos olhos um do outro. Seu olhar me transmitia a mesma sensação, não me deixava nenhuma dúvida. Aquela Francine era a mesma pessoa especial que conheci na Rússia, que abandonei na Coréia, que mudou meu mundo. Era ela, a mulher que sempre foi a mulher da minha vida.

“Eu senti tanto sua falta...”

E o que esteve entalado em minha garganta por tanto tempo veio a tona, eu não conseguia mais disfarçar ou segurar. Meu coração agora tomava posse dos meus sentidos e da minha razão.

“Eu te amo”



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