9:00 | Roger Pov.
— Acorda, meu amor...
— Brian?! O que você tá fazendo aqui?
— Eu vim dar a você o que você merece. — segurou Roger pela gola da blusa e beijou seus lábios suavemente. — Eu sei que você estava querendo, o jeito que me olhava essa noite... Vem, me dê mais um beijo, Roger, eu sei que você quer...
— NÃAAO!
— Vem, Roger!
— NÃO, EU NÃO QUERO MAIS, ME SOLTA! — implorei para que tirasse as mãos de mim, mas ainda sentia ele me agarrar pelos braços.
— ACORDA, MENINO! — jogou um copo de água no rosto dele.
Abri os olhos e me sentei olhando para baixo tentando entender o porquê de eu estar molhado... E sentado no chão?! Olhei ao redor e demorei alguns segundos para assimilar que eu estava na varanda e não no meu quarto, e quem estava agarrando meu braços era minha mãe e não o Brian. Me levantei e senti tudo ao redor girar e minha visão escurecer; Era minha pressão indo para a puta que pariu, mas depois voltou e pude andar normalmente. Minha cabeça doía tanto que me lembrei o motivo de eu ter prometido para mim mesmo mês passado que nunca mais ia beber.
— Roger, se eu te pegar bebendo de novo vou te dar uma surra.
— Eu já sou de maior, mãe, eu posso fazer o que eu quiser.
— Mas quem limpa o seu vômito na varanda sou eu! Seja mais responsável, Roger! Faça uma amizade que te leve pro bom caminho, arrume uma namorada, um emprego, qualquer coisa! Mas faça alguma coisa, meu filho!
Fiz um biquinho olhando para baixo igual sempre fazia quando era pequeno para sentirem pena de mim e não arrancarem meu couro pelas minhas cagadas do dia a dia. Funcionou. Sempre funciona.
— Ah... — ela suspirou e colocou as mãos no rosto do filho. — Se prepara pra tomar café. E liga pro Farrokh, ele queria falar com você mais cedo, mas você ainda não tinha acordado.
— Tá bom.
Subi as escadas ainda meio zonzo e se tinha uma coisa que não saía da minha cabeça era aquele sonho terrível que tive com o Brian. Ele estava... Beijando a minha boca... Deitado comigo na minha cama... Beijando a minha boca. Por um milésimo de segundo eu pensei que não foi tão ruim assim, só posso estar ficando louco, foi ruim sim, foi péssimo, deve ser efeito da ressaca.
Ainda tentando parar de pensar no Brian, digo, no sonho, entrei no banheiro e me despi. Após escovar os dentes, liguei o chuveiro na água morna e entrei no banho, deixando a água escorrer por todo o meu corpo durante alguns minutos. Com bastante shampoo e bastante espuma, tirei toda a catinga da ressaca. Depois de sentir meu corpo mais leve, enrolei uma toalha na cintura e fui até meu quarto colocar uma roupa. Vesti uma camiseta e uma calça qualquer, dando graças a Deus que é sábado. Meus planos eram ficar o dia todo na cama, até que lembrei que tenho que descer e ligar para Fred, que provavelmente quer conversar sobre ontem, ou melhor, hoje mais cedo, e sobre a banda.
Não queria pensar muito nisso... Ou talvez só não quisesse tocar no nome do Brian para ser sincero. Embora estivesse encucado demais com esse sonho, ainda estava com o rancor de ontem guardado, por aquele idiota ter me respondido olhando nos meus olhos. Quem ele pensa que é para falar comigo daquela forma?! Mesmo que eu ainda esteja com nojo da cara dele, admito que achei corajoso da parte dele ter me encarado e batido de frente, aposto que por não me conhecer que ele fez isso. E esse sonho bobo foi apenas um efeito colateral da bebida.
Desci as escadas secando o cabelo com uma toalha pequena e pensando em contar esse sonho para o Freddy, ele sempre sabe o que me dizer para me fazer esquecer, mas tô com vergonha até de lembrar do sonho agora. Então vou só ligar e ver o que ele quer por agora, mais tarde eu encontro ele e quando estivermos sozinhos eu conto. Hoje vou tentar esquecer do rosto do Brian.
— Residência dos Bulsara.
— É o Roger, o Freddy tá aí?
— Bom dia, Roger. Só um minuto. — disse a irmã de Freddy.
— Bom dia...
— Muito bom dia, meu lindo amigo, dormiu bem? — cumprimentou o moreno que pela voz aparentava estar de bom humor.
— Não.
— Cassete, Roger. Só pela sua voz dá pra ver que você tá acabado.
— Eu dormi na varanda, tive só quatro horas e meia de sono, tive um pesadelo, acordei dolorido, de ressaca e mal humorado. São exatas nove e quarenta e sete da manhã. Fala logo o que você quer.
— Eu lamento pela sua manhã péssima, amigo. E vou lamentar ainda mais...
— Não, Freddy...
— Sim, Rogy... Ensaio hoje às três.
— Não!
— Na casa do Brian. Duas e meia esteja pronto, ele vai passar aí pra te buscar e te ajudar a carregar a bateria.
— NÃO!
— Algum problema com a bateria?
— Não...
— Algum problema com o horário?
— Não...
— Algum problema com o Brian?
— ... Minha mãe tá me chamando pra tomar café, vou ter que desligar.
— Tá bem, coloca mais uma xícara na mesa que tô indo tomar café com você!
— Não, espera-
— Beijinhos!
E ele desligou. Fui até a cozinha e coloquei duas xícaras na mesa e a chaleira no fogo para esperá-lo. Eu adoro ver o Freddy empolgado, por mais que eu não demonstre. Acontece que o motivo da empolgação dele hoje era o motivo do meu desânimo, mas não sei ao certo. Pode ser que não seja isso, pode ser que o motivo da empolgação dele seja a banda e o meu motivo de mau humor seja o guitarrista apenas. O que me fez pensar que contar o sonho agora pudesse ser uma boa, para me livrar logo desse peso e passar o dia bem, de consciência limpa. Sempre conto tudo para Freddy, desde que nos conhecemos, ele é como se fosse o meu diário; Só não consigo entender porque ainda estou tão envergonhado por causa de um sonho. Foi estranho, mas já contei coisas piores e mais constrangedoras para o Freddy.
Ele chegou e já foi logo entrando. Ele já é de casa e minha mãe nem esquenta com isso, inclusive todos aqui em casa já se acostumaram faz tempo. Embora minha mãe não goste muito da nossa amizade porque acha que ambos não são boas influências um pro outro e por causa de todas as merdas que nós já fizemos juntos, ela aceita numa boa porque sabe que o Freddy é o mais decente de todos os amigos que eu já tive, sabe que ele é um bom rapaz. Os Meddows e os Bulsara se conhecem já faz um bom tempo e não querem estragar uma amizade de anos separando nós dois por causa de algumas merdinhas que acontecem de vez em quando.
— Cheguei! — exclamou o moreno se sentando na mesa ao lado de Taylor. — Precisamos falar sobre uma coisa que eu queria comentar com você ontem, mas você bebeu tanto que seus miolos evaporaram.
— O que é? — perguntou o loiro no maior desânimo enquanto servia as xícaras dos dois.
— Lembra que eu beijei uma garota na festa de formatura do terceiro ano?
— Mary Austin? — adoçou seu café enquanto ouvia o moreno falar empolgado.
— Sim. E depois eu tive uma quedinha pelo amigo universitário dela?
— Uhum. — mexeu o café para espalhar o açúcar.
— Foi quando comecei a me questionar se eu era bissexual, lembra?
— Sim, o que tem? — assoprou de leve o vapor do café quente e começou a beber devagar ouvindo o amigo atentamente.
— Bomba número um: eu acho que sou mesmo bissexual. Bomba número dois: o motivo de eu achar isso é porque ainda tenho uma quedinha por esse garoto.
— Tá e quem é o garoto?
— Bomba número três: o nome dele começa com B e o sobrenome é com M... — olhou para o amigo com um sorrisinho sutil nos lábios
— Bob Marley? — olhou para ele curioso e voltou a beber o café.
— Brian May!
No momento que ouvi ele dizer o nome do dito cujo, não consegui engolir o café quente e queimei a língua, logo cuspindo todo o líquido em cima da mesa. Que merda, hein. Por essa eu não esperava. Mil e uma coisas estavam passando pela minha cabeça naquele momento e com o que ele disse eu fiquei com um total de duas mil e uma coisas passando na minha cabeça a cento e oitenta quilômetros por hora. Não sabia o que pensar, nem o que dizer, tanto que fiquei olhando para a mesa molhada com o café que eu cuspi, sentindo a língua arder e latejar com a voz dele de fundo me chamando.
— Cara, tá tudo bem? Você tá branco, Roger. — afirmou Freddy olhando para o amigo com os olhos arregalados, tanto limpar o café com um guardanapo de papel.
— Queimei a língua, só isso. Pode deixar que eu limpo. — tomou o guardanapo encharcado das mãos de Freddy e colocou-o no lixo.
— Você tá estranho, o que aconteceu?
— Nada, ué. Tá tudo numa boa. — começou a limpar a mesa com um paninho úmido sem conseguir olhar o amigo nos olhos ou ao menos disfarçar o rosto para parecer que estava mesmo bem.
Eu queria muito contar o sonho, já estava preparando as palavras, mas depois dessa... É melhor deixar quieto, vou guardar esse sonho para mim e esquecer disso. E quanto ao Fred, sua quedinha pelo Brian e todo o resto... Eu não sei, isso é tão estranho. Quero muito não me importar com isso, mas me importo, infelizmente! E eu nem sei o porquê, talvez seja porque o Fred é meu amigo e eu não vou com a cara desse sujeito. Fora isso, a preocupação com o meu amigo, eu estou pouco me fodendo. Só quero ver o Fred feliz e se para isso acontecer eu tiver que ignorar algumas coisas, que assim seja. Brian é irrelevante para mim.
— Você tá limpando a mesa, cara, você não limpa nem suas cuecas. — o moreno soltou uma leve gargalhada, mas logo desfez o sorriso da face vendo que o amigo não tinha visto graça, ou melhor, não tinha nem ouvido sua brincadeira pois parecia estar longe.
— É que... Sei lá. — o loiro não sabia mesmo o que dizer, era nítido no seu rosto que ele estava perdido.
— Ficou chocado?
— Eu sabia que o mundo era pequeno, eu só não esperava que fosse tanto... — o loiro riu meio sem graça olhando para baixo.
— Roger, você tem algo com o Brian? Pode falar, eu vou entender.
— Não! Fred, eu sou hétero, você sabe. Eu não quero nada com ele, credo! De onde você tirou isso?
— Calma, não foi isso que eu quis dizer, eu sei que você é hétero. Eu só queria saber se você tem algo contra ele.
— Ah... C-claro, sim, eu viajei, desculpa. É, Talvez eu tenha, mas isso não importa. Se você gosta dele eu posso ser legal.
— Que fofo! Eu te amo! Obrigado, mas eu juro que assim que eu encontrar outro guitarrista...
— Não! — interrompeu. — Não precisa substituir o Brian por minha causa, eu não me dou bem com quase todo mundo, você sabe.
— E você sabe que eu faria qualquer coisa pra você se sentir confortável, não é?!
— Eu também faria isso por você... Tá tudo bem, de verdade. Agora eu tenho que ir, tenho que fazer umas coisas da faculdade. — sorriu levemente se sentindo meio mal por mentir.
— Ui que centrado. Não esquece, hein. Duas e meia! — o moreno saiu dali com um enorme sorriso.
Por incrível que pareça, que eu me lembre, essa foi a primeira vez que eu estava mal, o Freddy veio me visitar e eu acabei mais mal ainda. E também acho que é a primeira vez que não conto algo a ele... Só espero que essa sensação ruim não me corroa por dentro. Assim que ele foi embora corri para o banheiro olhar minha língua. Estava ardendo demais e sabia que se não colocasse algo ali naquele momento, a queimadura iria arder durante todo o dia e me impedir de comer e beber direito. Então resolvi colocar um remédio em forma de spray. Minha língua, aliás, minha boca adormeceu em questão de milésimos de segundo. Foi como uma anestesia, talvez um pouco ardida no início me fazendo lacrimejar, mas fora isso não senti mais dor.
Morrendo de sono e de língua dormente, me deitei na cama de cabelo úmido mesmo. Comecei a pensar no ocorrido mais cedo enquanto olhava lá para fora e escutava os passarinhos cantarem.
— Tô pouco me fodendo, foda-se tudo isso, eu tô cagando, cagando e andando, é irrelevante, eu não ligo, não dou a mínima, foda-se! Foda-se se o Freddy gosta do babaca do Brian, foda-se o Brian, foda-se tudo! Foda-se, foda-se, foda-se, foda-se, foda-se, foda-se, foda-se, foda-se. — disse ele para si mesmo.
Repeti "foda-se" tantas vezes porque queria deixar de me importar com algo que não é da minha conta. Entretanto tudo que consegui foi sentir sono. Meus olhos pesaram e pensei em me levantar, por estar de cabelo úmido, já que sempre que durmo de cabelo úmido eles amanhecem de pé, todo amassado, embaraçado e com frizz... Porém a preguiça foi maior. Acabei adormecendo ali mesmo. Umas horinhas de sono a mais não fazem mal, não é?! Principalmente se vou ter um dia agitado hoje, então me dei esse luxo de descansar um pouco pelo menos por umas três horas, ou até minha mãe me acordar para almoçar.
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