História Bastidores Retrato de Uma Jovem em Chamas - O Festival de Cannes

O dia de Cannes chegara.

Noemie acabara de desembarcar no aeroporto da cobiçada cidade do Festival de Cannes. 

Não conseguiu evitar o sorriso de satisfação ao ser abordada por um motorista do festival segurando uma placa de identificação com o seu nome. 

-Bonjour! Sou Noemie. - ela disse feliz. 

-Noemie Merlant? - perguntou o senhor educadamente. 

-Sim. Sou eu. - disse ainda sorrindo. 

-Acompanhe-me por favor. Dê-me suas malas? Obrigado. 

-Obrigada. 

Na ida para o hotel Noemie não conseguiu admirar a vista da cidade pois olhava o celular tentando ver algum sinal de Celine, Adele ou a produtora Marcelle. 

Ainda estava sem entender do porquê ter viajado num avião diferente das outras mulheres. Marcelle não explicara direito a razão senão dizer "Vamos todas no mesmo horário, mas só consegui num outro voo para voce. Primeira classe, minha querida. Apresente seu RG no aeroporto e não se atrase. Nos vemos no hotel". - disse desligando. 

Será que vamos ficar mesmo no mesmo hotel?, pensou Noemie apreensiva. O Festival de Cannes era famoso sim. Mas durava um mês e não era possível que um voo estivesse tão lotado assim. 

E Marcelle ainda dissera que era a mesma cia aérea na primeira vez que ligou..., pensou confusa. 

De repente, lembrou da última vez que falara com Adele. Naquele convite ousado de chama-lá para sua casa. De abraçá-la por trás e te-lá feito sair quase que correndo por medo. Lembrou das ligações insessantes de Celine no mesmo dia e dos ciúmes mal disfarçados... 

"Ah claro...." - caiu em si.

"Não havia mais assentos para mim... ", sorriu de canto de boca. 

Já no hotel começou a desfazer as malas. "Hotel Riviera" - murmurou olhando para o pomposo quarto com vista para a praia naquele hotel que era considerado um dos melhores e com um vasto corredor cheio de fotos das celebridades ali já hospedadas, em sua maioria convidadas do Festival.

Noemie estava feliz. Isso era inegável. Mas mal sabia ela que ficaria mais feliz na exibição do filme "Retrato de uma jovem em chamas" ao fim da tarde. 

Mal sabia Noemie que aquela tarde mudaria a sua vida para sempre. Mal sabia também que teria que fazer uma escolha e que está seria a mais fácil da sua vida, a princípio... 

... 

O FESTIVAL / A EXIBIÇÃO 

Se alguém perguntasse para Noemie como fora aquele fim de tarde. Ela sem dúvida responderia prontamente "nublado". 

Sim. O dia ainda estava claro. Mas relembrá-lo exatamente como havia sido era pedir para ela se situar numa grande nuvem cinza. 

Tudo parecia um estalo e Noemie ouvia ao longe os aplausos naquele grande teatro. O filme terminará. Todas se levantaram. Noemie só se levantou porque assim como havia feito desde que pisara no tapete vermelho, ela só estava imitando Adele, Celine, Marcelle e uma parte da equipe do filme que havia surgido por lá. 

O telão mostrava as feições de cada participante daquele elenco e de repente não conseguia nem lembrar da outra atriz coadjuvante. "Como é mesmo o nome dela?", Noemie pensava com vontade de chorar e rir, com vontade de gritar e sair pulando e abraçando suas colegas. Era preciso manter a calma, mas a verdade é que estava a beira de um ataque de nervos. 

Continuava aplaudindo. Sentia mãos a abraçando. Não sabia bem quem era quem.  Poucas horas antes só havia se encontrado com Celine, Adele já dentro do elevador onde faziam poses antes de entrarem na limousine. Todas falavam ao mesmo tempo. 

A produtora Marcelle, e as atrizes Valéria Golino e Luana Bajrami chegaram em seguida. Logo a equipe inteira do filme estava unida. 

Celine dizendo que era seu melhor smoking. O tecido aveludado era fino e talvez algodão. Ela dizia excitada. Adele reclamava, obviamente. Queria socar a maquiadora do hotel que só passava o rimel dentro do seu olho. Mas estava mordendo os lábios ao dizer isso, o que significava que sem dúvida ela também estava eufórica. Marcelle mexia as mãos sem parar. Algo atípico. Esfregava os dedos. Tirava e colocava os anéis. Mexia as pernas. 

Noemie sorria um sorriso nervoso. Ora monalisa. Ora com os dentes trincados como se fosse um sorriso falso. As vezes um calafrio tomava conta da espinha. Até que chegaram. 

Os flashes já entravam na limousine aos abrirem a porta. Noemie sentiu a mão de Adele e de Celine a guiando pelas costas o tempo todo. 

Era para andar ou parar?, perguntava-se sorrindo nervosa em direção aqueles flashes. 

Ouvia gritos. 

"Virem!" 

"Aqui!" 

"Voltem!" 

"Adele!" 

"Celine!" 

"Olhem para a direita!" 

"Esquerda! Esquerda!" 

Sentiu novamente a mão de Adele em suas costas. 

"Deus. Eles continuam sendo um saco..." - disse Adele entre dentes e sorrindo olhando para Noemie. 

"Continue assim. Calma e elegante. Vai ser rapidinho" - cochichou Adele em seu ouvido. 

Noemie pôde ver Celine se virar para Adele com uma cara de interrogação. 

"Nossa... Uau..." - disse Noemie sorrindo sem jeito. 

Celine aparentava estar mais calma e Noemie via  ela quase um olhar de piedade. 

Naqueles minutos que pareciam eternos Noemie olhou para Celine. Queria agradecê-la por aquela oportunidade. Era única. Era a primeira. Era finalmente ter as portas abertas do reconhecimento. 

Mas nada se comparava agora àquela sala de cinema. O filme "Retrato de uma jovem em chamas" sendo exibido pela primeira vez. O final sendo aclamado. Todos de pé. Um longo e extenso aplauso interminável. Uma onda de amor. De prazer. De ter chegado ao pódio. 

Noemie quis chorar. Celine a abraçou e a sensação que ela tinha era de pedir desculpas. 

Queria se ajoelhar ali e pedir desculpas a Celine. A mulher era dela. Jamais iria ficar com Adele sabendo que isso seria uma traição com Celine. 

Não trairia uma amizade. 

Não ficaria com Adele. 

Queria chorar e agradecer e pedir perdão por todo incômodo que causara. Noemie queria assumir toda a culpa se pudesse enquanto olhava para Celine. Parecia estar numa catarse de sentimentos. 

"Gostou?" - perguntou Celine em seu ouvido a abraçando de novo enquanto Adele a abraçava também. 

"Sim... Muito. " - disse Noemie chorando e sorrindo de felicidade. 

Respirou fundo. 

Jamais ficarei com Adele, pensou. Sendo grata a Celine. 

Sentiu então uma mão quente passar em seu pescoço enquanto todos a aplaudiam. Era Adele novamente a encarando e deslizando a mesma mão até a sua cintura e voltando ao pescoço. 

"Vamos beber já já" - disse Adele rindo emocionada. 

Noemie engoliu seco e voltou seu olhar para Celine que cumprimentava novamente os demais. 

"Vamos beber muito". - disse Noemie séria encarando Adele por dois segundos.

Olhou então sem jeito para o chão e riu com Adele. 

Celine voltou-se para elas:

"Vamos festejar, crianças. Vamos. Embora. A noite começou agora" - disse satisfeita.