Chaeyoung
Quando eu era criança meu avô costumava me contar histórias sobre guerras e romances do século XIX. Ele me contava sobre a história trágica de uma família amaldiçoada com sangue de inocente. Sangue do sangue derramado. Era a história de uma bailarina que fora prometida em casamento a um jovem ganancioso que a impedia de seguir seu sonho, que era ser uma bailarina. Eu não lembro direito o que acontecia, mas lembro que a história era bem trágica, pois a bailarina morria e a única coisa que restara dela era fora um quadro que ficava no Museu da cidade. Por mais que eu gostasse dessa história e cresci ouvindo-a, ela meio que foi saindo de minhas lembranças.
Da primeira vez que meu avô me contou essa história ele me deu um colar de pedra esmeralda. Ele me dizia que esse colar era muito valioso e que ele se conectava com a história da bailarina. Eu, criança ingênua, acreditava no poder mágico da pedra esmeralda, mas aos 17 anos não tinha mais como acreditar nela, mas usava o cordão por achar que era uma lembrança do meu avô, que já se fora.
Era manhã quando acordei para ir para a escola. Fui ao banheiro e me olhei no espelho, meus curtos cabelos estavam bagunçados e minha cara sonolenta. Escovei os dentes, lavei o rosto, troquei de roupa e pus um boné na cabeça. Desci para a cozinha para tomar o café da manhã. Mamãe e meu irmão já estavam acordados. Eles estavam sentados a mesa.
- Aí mamãe, o Chae acordou. – Falou meu irmãozinho de 11 anos.
- Qual é, seu idiota? – Disse me aproximando dele e bagunçando seu cabelo. Seu nome é Kai e ele é meu meio irmãozinho irritante. Meu pai havia morrido quando eu tinha 3 anos, então mamãe se casou de novo anos depois.
- Não comecem, seus encrenqueiro. – Mamãe comentou animada. – Agora comam rápido e vão para a escola.
Eu e Kai terminamos de comer e fomos para a escola. Nós estudávamos na mesma escola, mas sempre que chegávamos lá nos separávamos.
No caminho eu e kai sempre passávamos em frente ao Museu. Eu nunca mais entrei lá depois que meu avô morreu. Não fazia sentido, não era um lugar que me atraia.
Quando cheguei na escola levantei o capuz e pus os fones nos ouvidos. Coloquei as mãos dentro do bolso no casaco e entrei na escola sem encarar ninguém. Eu não gostava daquela escola e as pessoas eram babacas. Eu não tinha muitos amigos, na verdade eu só tinha uma amiga, minha melhor amiga, por quem eu tinha uma paixão secreta, seu nome era Solar, um nome tão lindo quanto ela. Pena que ela tinha namorado. Ela jamais saberá do meu amor platônico.
Fui até o campo de futebol que era onde ela sempre ficava lendo toda manhã. Me aproximei dela e a beijei na bochecha, ela sorriu para mim, seu sorriso era tudo.
- Bom dia. – Eu disse.
- Oi Chae. Bom dia. – Ela disse com o sorriso mais lindo do mundo.
- E aí, tá lendo o quê hoje? – Olhei para o livro que ela estava em mãos.
Solar ergueu o livro e me mostrou a capa “Orgulho e preconceito”.
- Romance de época, bem a sua cara. – Sorri.
- Como assim? – Ela me olhou de modo desafiador.
- Você é toda delicada, – Comecei – e esse tipo de livro combina com você.
Ela estava sorrindo. Seu sorriso era tão lindo, que me fazia ficar apaixonada a cada dia.
- Se um livro de romance tão bom combina comigo então fico feliz pela comparação. – Solar sorriu.
Eu a encarava tão serenamente que nem percebi que ela se levantava para ir em direção ao seu namorado. Quando finalmente sai dos meus pensamentos senti vontade de vomitar ao ver Solar e seu namorado. Eu não gostava dele, como a maioria das pessoas. Peguei minha bolsa e sai de lá, não queria ser uma vela.
Fui para a sala de aula e como de costume não prestei atenção no professor, fiquei olhando através da janela. O tempo estava nublado e provavelmente iria chover muito.
Quando a aula acabou transitei pela escola com os fones nos ouvidos. Eu ouvia um grupo chamado Twice e quando eu estava ouvindo música não prestava atenção em nada, então esbarrei em um dos garotos valentões da escola.
- Ei, preste atenção. – ele se virou para mim de modo bem intimidador.
- Sai da minha frente, idiota. – Eu o encarei com um sorriso desafiador.
- Como é? – O valentão se aproximou de mim e junto com ele os seus amiguinhos. Eram um total de 5 garotos altos e fortes.
- Cinco idiotas covardes. Seus lixos, vocês não são de nada. – Eu sorria.
De repente toda a escola estava olhando para a gente. Eles pareciam preocupados comigo, mas eu não me importava. Eu só queria provocar aqueles idiotas.
- Com quem você acha que está falando desse jeito? – perguntou o valentão.
- Sou eu que estou com os fones mas é você que não escuta, seu mané. – Eu continuava a provocar.
Os cinco garotos começavam a me cercar e eu tinha que saber para onde correr. A medida que eles foram se aproximando eu fui evacuado até começar a correr. Eu saí esbarrando em todos que estavam na minha frente. Eu passava por todos a toda velocidade, quando passei por Solar foi como se eu tivesse ficado mais lenta. Ela olhou para mim e eu para ela, mas passei, estava sendo perseguida. Corri para fora da escola, mas os idiotas continuavam correndo atrás de mim. Não havia um lugar para se esconder, então corri para o prédio mais próximo, que era o Museu. Eu entrei em disparado, eles também. Algo havia me chamado para entrar lá. Eu nunca mais havia entrado lá, mas o Museu não havia mudado nada. Ele continuava com aquela cor cinza frio, mostrando um local triste com esculturas e pinturas, mas sem ninguém.
Eu andava pelo Museu silenciosamente, tentando me esconder dos garotos e avaliando todas as obras que estava lá. Subi pela escada e fui para uma sala que ficava no andar de cima, onde tinha uma sala com quadros antigos. Fui até o final da sala, olhando admirada para todos os quadros, foi quando olhei para o último quadro e avistei a pintura de Mina Myoi, a famosa Mina, morta pela família em uma trágica guerra ou algo do tipo, não lembro direito, mas ela morreu em algum conflito no começo do século xx. Olhei para Mina, a garota da foto e percebi o quão linda ela era. Morreu aos 23 anos. Uma pena, morreu jovem e não conseguiu realizar o seu sonho de ser uma bailarina. Ah, qual era o meu problema? Por que eu estava sentindo pena de uma pintura? Mina Myoi já havia morrido há anos e isso não precisava me abalar assim. Só por que ela era bonita.
Ouvi passos. Apertei meu colar e dei um passo para trás, mas ao fazer isso perdi o equilíbrio e algo inusitado aconteceu, eu cai para trás, mas ao cair fui engolida pelo quadro de Mina. Era como se o quadro dela tivesse aberto um portal, me levando para um abismo escuro. Eu caia no meio da escuridão e gritava. Eu não conseguia pensar em nada, apenas sentia medo e gritava sem parar.
De repente um ponto de luz apareceu e foi crescendo. Eu estava me aproximando da Luz ou a luz estava se aproximando de mim, assim que a luz me engoliu me vi caindo do céu. Aquela não era a minha cidade. Eu estava sonhando? Eu não sei, só sei que eu caia. Era uma queda violenta. O vento batia forte contra mim, contra o meu rosto. Meu boné havia ido embora. Eu estava me aproximando rapidamente de um riacho. Então era meu fim ou eu iria acordar desse sonho realista. Se fosse um sonho então já estava na hora de acordar. O rio chegava cada vez mais perto.
- ACORDA CHAEYOUNG! ACORDA! – Eu gritava, mas nada de eu acordar, então me choquei contra o rio. Depois disso não lembrei mais de nada. Tudo ficou escuro.
Eu abri meus olhos vagarosamente, minha cabeça doía e eu me sentia molhada. Eu estava deitada em meio a um gramado e com a cabeça escorada em algo macio. Eu recobrava a consciência aos poucos e quando tudo ficou mais claro o rosto de uma garota se formou na minha frente. Espera, eu conhecia esse rosto. Era Solar? Não, não era Solar, era... Espera, isso era real ou eu ainda estava sonhando?
- Mina? – Eu questionei olhando para a garota.
- Como o senhor sabe o meu nome? – Mina indagou surpresa e um pouco amedrontada. Sua voz era doce.
Eu a encarei enquanto ainda estava deitada em seu colo. Tudo aquilo não poderia ser real, Mina já havia morrido. Será que eu estava sonhando ou eu tinha morrido? Fiquei com medo.
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