Durante a manhã Molly designou a todos uma tarefa, ela prepararia o almoço para esperar Gina e Luna, e as contaria sobre o mais novo morador da Toca.
Ficou sob a responsabilidade de Draco recolher uma cesta de maçãs, o que deixou Ronald muito bravo, pois ele teria que limpar o galinheiro - tarefa que foi facilitada com magia, mas ele queria ter um motivo para reclamar de Malfoy.
Suor escorria pela testa do loiro enquanto ele colhia as frutas sob o sol escaldante e milagroso na Inglaterra, mas não removeria o casaco, ele não queria ter que encarar a marca e sabia que os outros também não.
Harry, que regava as plantas perto do loiro, se assustou quando viu o mesmo cair de joelhos, transpirando extremamente pálido.
- Draco! - exclamou, correndo até ele.
- Minha pressão baixou, é só. - escorou-se ao tronco de uma das macieiras. Harry conjurou um copo de água e o ofereceu, Draco pegou, bebendo tudo em um único gole, a sensação de tontura diminuindo aos poucos.
- Tire essa jaqueta, você nunca ficará cem porcento com ela no seu corpo.
- Não. - conjurou mais água, derramando em sua cabeça.
- Eu sei porque não quer removê-la, mas olhe ao redor, só estamos eu e você aqui, e eu prometo não te julgar.
Draco olhou ao redor desconfiado, mas a sinceridade nos olhos do herói era inegável, assentiu e removeu a jaqueta, sentindo alívio imediato. Pegou uma das maçãs dentro do cesto, comendo-a enquanto encarava o menino-que-sobreviveu. Em seu braço tinha uma das coisas que mais feria a existência do mesmo, mas ele estava ali, o apoiando. Potter idiota.
- Você sabe que não precisa fingir ser bom comigo. - passou às mãos pelo cabelo molhado, empurrando para trás. Harry suspirou.
- Eu não finjo, acredito no bem e na mudança e eu espero um dia te ver ao meu lado nessa guerra.
- Você realmente acredita que um dia eu e você iremos estar do mesmo lado? - riu irônico. - Não importa a idade, você sempre será o inocente Potter.
- Eu sei que você não é totalmente ruim.
- Também não sou totalmente bom.
- Ninguém é. - levantando e voltando para sua tarefa. Draco observou o moreno até terminar sua maçã.
Voltou a colher frutas e não voltou a vestir a jaqueta.
[...]
Olhava para baixo, depositando o cesto pesado de frutas ao lado da porta dos fundos.
- O que ele está fazendo aqui? - uma voz alta, feminina e agressiva soou na direção de Draco, que deparou-se com Gina erguendo a varinha em sua direção. Não exitou em fazer o mesmo, a encarando de cima.
- Ginny, não machuque ele! - Harry se colocou na frente de Draco com as mãos erguidas, surpreendendo a todos ali. - Sua mãe vai lhe explicar.
Malfoy foi o primeiro a baixar a varinha, sabendo que a menina não faria nada contra a opinião de Potter. Estava muito surpreso, o eleito escolheu ele para defender, ao invés de se colocar na frente da ruiva e pedir ao loiro que não a machucasse. O que faria muito mais sentido.
Ele era o ex-comensal ali e ela era a pessoa que ele conhecia intimamente há anos. Sorriu sem conseguir conter. Potter...
A ruiva foi levada pela mãe até a sala, o trio de ouro acompanhou, Luna também estava ali e foi junto. Draco não queria encará-la, era o responsável por alimentá-la quando a mesma foi aprisionada em sua casa. Todos os dias ela lhe encarava, em uma estado deplorável, os olhos azuis desesperados, implorando para que ele a ajudasse a fugir. Todos os dias fingia não escutar, largando a comida para ela e saindo o mais rápido.
- Gostando da vida de camponês e das vestes de segunda mão, Malfoy? - Fred provocou, sentado à mesa.
- Ou prefere um banquete, um terno bem passado e uma sessão de cruciatos? - George dessa vez.
Ou ao contrário, ele não sabia. Eram idênticos.
- Não me enche. - afastou-se, saindo da cozinha para o pátio, ficaria recluso até o almoço.
Os gêmeos não se deram por vencidos, seguindo ele.
- Você sabe que se Gina não quiser sua presença aqui terá que ir.
- Ninguém quer minha presença aqui. - cortou as provocações.
- Será? Harry parece disposto a te defender. - o tom sugestivo cutucou algo em seu interior.
Draco virou-se para o gêmeo em questão, era o sem orelha que falava.
- Eu e ele concordamos com uma trégua, não sou mais aquele que conheceram, a guerra muda a todos. E eu acho que se vocês concordarem em fingir que eu não existo, posso fingir que vocês não existem. - ele realmente estava tentando, mas aqueles dois ruivos estavam sendo chatos para caralho.
- Sua presença é um incômodo e você não é e nunca vai ser bem vindo. - o com orelha disse.
- Você quer um pedido de desculpas? Tem traumas com bullying? Vai chorar?
- Quem chora para o papai é você, loirinho.
- Vai se ferrar, orelha necrosada! - empurrou o ruivo pelo peito.
- Uau, um bruxo sangue puro brigando com os punhos? Essa é boa! - Fred disse antes de empurrar Draco também, colocando-se no lugar de George.
A movimentação chamou a atenção dos que estavam na cozinha, que saíram, vendo os dois homens próximos, cada punho segurando a gola do oponente.
- Hey! Que merda?! - Arthur se aproximou.
- Sr. Weasley, isso não vai dar certo! - Draco soltou Fred, recuando um passo.
- Ele está certo papai. - Ginevra intrometeu-se, chegando depois, junto dos outros anteriormente presentes na sala. - É a única coisa correta que já saiu a boca dele.
- Cala a boca, garota, e vai chorar pelo gay do Pot-
- Meus filhos! Acreditem na mudança de Draco e o deixem viver isso! Ele é um aliado útil! - Arthur interrompeu.
- Ele fere a nossa existência pai e a de Hermione! - George exclamou.
- A sua? - Draco debochou. - Você é um sangue puro, não venha se apropriar das minorias para chamar atenção!
- E você é o defensor das minorias agora? - o ruivo riu.
- Por favor, Malfoy, facilite! - Luna foi a voz.
Draco ignorou, continuando a encarar os gêmeos com as sobrancelhas franzidas e a mão próxima à varinha.
- Por favor. - Harry pediu dessa vez.
- Eu já disse o que eu pensava, se me ignorarem eu os ignorarei. Eu só quero paz. - Draco repetiu, na defensiva. Não seria o primeiro a atacar, já era o vilão sem fazer nada para merecer o título, imagina se fizesse algo...
- Meus filhos farão isso e acredito que se continuar fazendo as suas tarefas, viveremos bem, certo? - Molly cruzou os braços. Ali estava o autoritarismo de mãe.
- Certo. - os filhos e Draco disseram juntos, olhando-se de canto depois.
[...]
Após o almoço passou o dia inteiro sozinho entre as árvores do pomar com a companhia de um livro. O local ali era tão bonito que as vezes ele esquecia que um bruxo das trevas havia dominado o mundo e tornado tudo cinza e preto.
O livro era um romance, o que o fez se arrepender por tê-lo escolhido pela capa e saído rápido da sala de estar.
Orgulho e Preconceito era o nome, de uma tal de Jane Austen, nunca havia ouvido falar, provavelmente era literatura trouxa. Doía admitir, mas era um bom livro. Ia contra o clichê de amor a primeira vista, contava sobre um casal que se odiou ao primeiro olhar e como o amor deles foi sendo construído durante a narrativa, como o orgulho e o preconceito de cada um ficou em segundo lugar pelo amor deles, entre indas e vindas, mal entendidos...
Quando terminou a leitura o crepúsculo já se fazia presente no céu e ele o contemplou, aproveitando aquele momento em que absorvia toda a recente leitura e admirava o quão bela a natureza era naqueles campos.
Nunca foi de se importar com natureza ou qualquer tipo de vida que não fosse a dele e a de sua progenitora, mas conviver com a sensação de que cada momento pode ser seu último, obriga a sair da bolha e amar a vida. E mesmo sendo difícil as vezes, é uma experiência única e linda.
- Malfoy, venha, temos uma reunião na Ordem hoje. - Molly assustou-o. - Desculpe. - riu baixo.
- Não foi nada.
Draco banhou-se e vestiu sua roupa, que a matriarca Weasley limpou durante a manhã.
Encarou-se no espelho, penteando os cabelos, fios medianos em cima e navalhado nas laterais. Se sentia bem com suas roupas, mas odiava o motivo de usá-las antes.
Ficou de pé em um canto da sala enquanto encarava o chão, mas focado na conversa de Hermione, Ronald, Harry, Fred, Luna e Gina. Eles eram bons em ignorá-lo.
O gêmeo que faltava desceu as escadas com os cabelos molhados e Arthur organizou uma fila em frente a lareira.
Sirius e Remus estavam na sala de estar ajoelhados em frente a mesinha de centro, que tinha uma cartolina extendida sobre. Os dois homens estavam desnecessariamente próximos, causando certa angústia, uma de suas cicatrizes ardeu quando os encarou por mais tempo que o necessário.
- Que bom que você chegou, Malfoy. - Moody adentrou o local. O citado limpava as vestes da fuligem, tentando focar-se somente nisso. - Esperamos você o dia inteiro e confesso que esperei uma carta de Molly reclamando da sua presença na casa, mas ela não chegou.
- Uma pena para mim, não é, Moody? Eu ficaria muito confortável no antigo quarto da minha mãe.
- Você sabe desenhar, garoto? - Sirius chamou ele.
- Um pouco.
Harry foi o último a sair da lareira, ele vestia um casaquinho da adidas e calças jeans.
- Preciso que desenhe a mansão e as entradas secretas que disse.
- O que vocês farão? - não demonstrou nenhuma emoção, como sempre, apenas questionou, mas seu interior estava agitado como uma chave de portal.
- Uma invasão.
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