História Be Your Everything - Love

Narrador POV

Camila acordou, mas teve preguiça de se levantar e até mesmo de abrir os olhos. Era sábado, ela não tinha aula e não precisava se levantar. Podia até dormir mais e...

Tentou se mexer, mas percebeu um peso em cima dela.  Abriu os olhos e viu que Lauren tinha a cabeça repousada em sua barriga, um dos braços jogados displicentemente por cima do seu quadril e o resto do corpo esparramado na cama. “Parece um anjo dormindo... Tão linda.” Camila pensou e não resistiu em levantar uma das mãos e embrenhar suavemente no cabelo de Lauren, pensando em como uma pessoa podia fazer tanta diferença em sua vida em tão pouco tempo.

- Oi... – Camila falou baixo quando viu Lauren se mexer e abrir os olhos, erguendo o olhar para encarar Camila como se estivesse se perguntando onde estava. – Bom dia. – Lauren sorriu.

- Bom dia pequena. – Falou se arrastando para longe de Camila sem muita vontade e deitando a cabeça no travesseiro. – Que horas são?

- Não faço a mínima ideia. – Deu de ombros e Lauren esfregou os olhos. – Tá melhor? – Camila perguntou preocupada.

- To sim. – Disse e fez menção de se levantar.

- Não, fica ai. Eu trago seu café aqui. – Lauren voltou a se deitar.

- Se você insiste... – Camila negou com a cabeça e tentou não rir.

- Tá adorando se paparicada né?

- To. – Falou rindo um pouco e ensaiou se espreguiçar, mas se encolheu de dor no segundo seguinte.

- Cuidado amor... – Camila prendeu a respiração e engoliu em seco, desejando que pudesse ter engolido a última palavra também. Lauren se limitou a sorrir.

- Café na cama, chamou de amor... Acho que vou cair da moto mais vezes. – Ela riu. Camila ficou séria e fez um bico.

- Muito engraçado. Nem pense nisso, você quase me matou de preocupação. – Lauren parou de rir e o bico de Camila aumentou, lembrando-se do que ela sentiu quando sua mãe lhe deu a notícia.

- Desculpa, eu só tava brincando. – Pediu acariciando a mão da menina.

- Tá bom.

- Bom dia meninas. – Sinu surgiu na porta e, se ela ainda estava em casa, era porque era muito cedo ainda. – Dormiram bem? – Perguntou e as duas assentiram.

- Ainda não foi para o trabalho, mãe?

- To saindo agora, só vim ver como vocês estavam. Até de noite.

- Até, mãe. – Camila sorriu acenando e Sinu voltou para dentro do quarto, encarando Lauren.

- Comporte-se. – Avisou.

- Pode deixar.

No fundo, Sinu não desconfiava tanto assim de Lauren. Ela até confiava nela, sabia que era uma boa menina. Mas, depois de ver sua reação depois que ela a ameaçou da primeira vez, tinha que confessar que se tornou uma diversão pessoal para ela ameaçar Lauren. E, claro, prevenir é melhor que remediar. [...]

- Sim, mãe, eu tenho certeza que to bem. – Lauren falou pacientemente no celular, vendo Camila andar de um lado para o outro no quarto, arrumando as roupas que havia acabado de tirar da corda em seu guarda roupa. – É, relaxa. Sim. Não, ela tá no trabalho. Não. A Camila tá aqui comigo. Sim. É. Eu to sim. É. Mãe? Depois eu quero falar com você sobre uma coisa. – Disse séria, já pensando em falar sobre Camila. – Não, não é sobre mim. Sim, mas eu disse que depois iria falar. Não. Tá. Beijo. Também te amo. Tchau. – Desligou o celular e o observou cair sobre a cama quando ela o largou.

- Pronto Lolo, guardei suas roupas.

- Obrigada pequena, não precisava. – Sorriu um pouco e voltou a zapear tediosamente os canais da televisão. Nada que prestasse ou que ela já não tivesse visto. – Isso é uma merda. – Resmungou, mas Camila ouviu.

- O que? – Lauren encarou o teto e bufou.

- Ficar o dia inteiro deitada nessa cama. – Camila riu com a língua entre os dentes. Lauren realmente não parecia o tipo de pessoa que ficava o dia inteiro bestando e era engraçado vê-la desse jeito, embora achasse que Lauren não via graça alguma nisso tudo. – Não tem nada para fazer.

- Tem sim. – Antes que Lauren pudesse perguntar o que era, Camila se inclinou em cima da cama e grudou seus lábios nos dela, iniciando um beijo lento.

Lauren logo se ajeitou até estar sentada na cama, apoiando as costas nos travesseiros e puxou Camila mais para perto, apertando de leve a cintura da menina quando sentiu a mais nova aplicar um pouco de força na mão que segurava os cabelos da sua nuca, puxando-os quase que inconscientemente. Suas línguas se encontravam e desencontravam, proposital ou ocasionalmente. Camila percorreu todo o braço de Lauren com a ponta dos dedos e dobrou-os em seguida, pousando preguiçosamente em sua barriga lisa, por cima da blusa.

A outra ficou tensa na mesma hora e tirou uma mão da cintura de Camila, sugando seu lábio inferior gentilmente enquanto pegava a mão de Camila e retirava de lá, acariciando-a com o polegar levemente antes de colocá-la em sua nuca. Lauren distraiu Camila com um beijo mais intenso quando percebeu que ela ensaiava se mexer e sentar no seu colo, segurando firme em sua cintura para que ela ficasse no lugar onde estava e achando mais sensato manter o controle agora do que ficar sem os dedos e a língua depois. E, claro, não era só sobre isso e sim sobre respeitar Camila e não se aproveitar da clara inexperiência dela com o assunto para se beneficiar em hipótese alguma.

Camila escutou um som baixo reverberar de sua própria garganta quando Lauren sugou sua língua e pôs uma mão em sua coxa, mas o som morreu abafado pela boca da outra, que lhe explorava com a língua de formas que Camila não achava ser possível. Lauren escutou o gemido e se amaldiçoou. “Puta merda”, pensou e mal teve tempo de processar isso quando uma mão pequena largou seu ombro e se enfiou debaixo de sua blusa.

Se alguém perguntasse a Camila o que deu nela, ela diria que não sabia e ainda coraria violentamente. Tudo o que ela tinha conhecimento no momento era Lauren. Os lábios dela. As mãos dela. A pele dela sob seus dedos. Os suspiros que ela soltava quando elas se separavam por uma fração de segundo. Mas ela queria mais. Queria, tinha necessidade de sentir mais de sua pele, de tocar mais do seu corpo e então sua mão obedeceu seus instintos e se colocou timidamente por debaixo da blusa de Lauren, tocando a pele quente de sua barriga com a ponta dos dedos.

- Para. – Lauren não teve a mínima intenção de ser delicada e rompeu o beijo num átimo, segurando o pulso da menina e tirando sua mão de lá.

- Mas o que... ? – Camila começou a protestar, não entendendo a razão de Lauren ter sido tão brusca e se perguntando o que ela havia feito de errado.

- Nada. – Lauren a encarava séria, muito séria e ainda segurava seu pulso, quase como se quisesse impedir que sua mão voltasse para lá. – Você não ia querer fazer aquilo. – Camila ainda não entendia.

- Por quê? Eu só... – Lauren a interrompeu.

- Chega desse assunto. – Soltou o pulso de Camila e cruzou os braços.

- Que? Não. – Camila falou decidida. – Lauren, o que tá acontecendo?

- Já disse que não é nada.

- O que eu fiz? – Lauren trincou os dentes.

- Eu já falei que não foi nada. Tá tudo bem.

- Quer parar de me tratar como se eu fosse retardada? – Camila disse em um tom que dizia que ela não estava muito feliz com tudo aquilo e Lauren se amaldiçoou inúmeras vezes mentalmente quando percebeu o que estava fazendo.

- Não, não, não é isso. – Seu tom de voz havia amenizado. – É só... É sério. Você não vai querer fazer isso.

- Por quê? Qual o problema? – Lauren soltou o ar devagar encarando Camila.

- Nenhum, eu... É só que... Tem uma cicatriz, bem aqui. – Lauren traçou uma linha diagonal por cima da blusa com o dedo indicador. – É bem feia. – Camila começou a entender o porquê daquilo, mas logo ficou confusa novamente.

- Mas você tinha me dito que já... – Camila parou no meio da frase e esperou que Lauren lhe entendesse. – Quer dizer, as pessoas tiram a roupa para fazer isso né?

- Sim. – Lauren prendeu o riso. – Sim princesa, elas tiram a roupa. Mas não precisa ser toda a roupa e eu só deixei tirarem minha blusa duas vezes.

- Porque deixou?

- Porque eu tava bêbada. – Admitiu sem vontade e Camila assentiu algumas vezes, entendendo.

- E você não queria que ninguém visse? – Lauren negou com a cabeça. – Nem eu?

- Não.

- Eu não ia... Fazer nada ruim. Eu acho você linda. – Camila admitiu, corando.

- Não é sobre isso, vê se tenta entender. – Lauren se ajeitou, de forma que pudesse ver melhor o rosto da menina. – Você não é como as outras garotas. Você é diferente, mas não do jeito que está pensando. Diferente na minha perspectiva entendeu? – Camila franziu o cenho e Lauren umedeceu os lábios, procurando outra forma de explicar. – Eu vou deixar as coisas bem claras para você, tudo bem? – Camila assentiu. – Eu não queria nada além de foder com as outras meninas. – A menina arregalou um pouco os olhos, mas entendeu. – E com você é diferente. Eu não quero transar com você, eu quero fazer amor com você, entendeu? Eu quero que você sinta tudo o que eu sinto quando eu te vejo, porque isso aqui – Lauren pegou a mão de Camila e levou até onde seu coração batia. Camila percebeu que ele batia acelerado, assim como o dela. – é por você.

- Me deixa ver. – Camila pediu e Lauren a olhou em dúvida. – Por favor. Me deixa ver, amor. – Lauren assentiu levemente.

Camila levou suas mãos lentamente até a barra da blusa de Lauren e a subiu um pouco, deixando seu abdômen exposto. Uma cicatriz de uns 13 cm passava diagonalmente por sua pele, acima do seu umbigo, em um tom rosada e ligeiramente em alto relevo em relação a sua pele translúcida. Camila não entendia muito sobre essas coisas, mas achava que poderia ser uma queimadura bem feia que deixou sua pele assim.

Não resistiu em levar a ponta dos dedos até a cicatriz, que tinha uma textura diferente do resto da sua pele macia, era como se ela estivesse tocando um plástico PVC um pouco mais macio, porque, querendo ou não, era sua pele ali.

- O que você tá fazendo? – Lauren perguntou quando viu Camila se abaixar até ficar com o rosto na altura de sua barriga e dar um beijo demorado em sua cicatriz.

- Você é linda. – Lauren ficou sem resposta e Camila pode ver seus olhos se enchendo de lágrimas. Ela sorriu lhe dando um selinho e deitou a cabeça no ombro da mais velha, entrelaçando seus dedos. – Como você arrumou isso? – Perguntou para Lauren, que ainda estava sem resposta, mas logo se recompôs e começou a contar.

- Eu tinha sete anos. O Chris, meu irmão mais novo, estava doente e minha mãe tinha ido dormir. Eu fiquei brincando de boneca no chão do quarto dele, não queria sair de perto dele. Até que ele reclamou de frio e eu inventei de fazer um chocolate quente para ele. Eu subi num banco para alcançar o fogão e pus a panela no fogo, só depois lembrei que não tinha pegado o leite. Desci do banco e fui até a geladeira pegar a garrafa do leite, mas deixei o fogo aceso. A panela era pequena, esquentou muito rápido, pois não havia nada dentro dela e, quando eu voltei para cima do banco com o leite, me atrapalhei toda para abri-la e tive que esticar o braço para por o leite na panela, achei a garrafa pesada. A panela ainda estava no fogo e, quando eu derramei o leite, foi de mal jeito e a panela virou. Eu tava esticada para por o leite e minha blusa tinha levantado. A panela estava pelando e encostou na minha barriga. Depois disso eu caí e a sorte foi que a panela continuou em cima do fogão, mas mesmo assim eu arrumei uma queimadura de terceiro grau, pois eu era criança e minha pele era muito sensível. Minha mãe acordou com os meus gritos e foi ver o que acontecia, mas já meio que era tarde demais. – Lauren terminou de contar e Camila suspirou.

- Mas que droga... – Falou meio que sem saber o que dizer e Lauren fechou os olhos.

- E o Chris ficou sem o chocolate quente dele. – Lauren percebeu o quão desconcertada Camila ficou por não saber o que dizer e quis desviar o assunto.

- Idiota. – Camila riu. – Achei que isso fosse sério.

- Mas é. Eu só gosto de fazer piada com tudo.

- Porque você é idiota. – As duas riram. – Lolo, quando você tava falando com a sua mãe no telefone sobre contar algo a ela... Era sobre mim, né? – Lauren assentiu.

- É, era. Mas relaxa, eu só vou fazer isso depois que fizer uma coisa.

- Que coisa?

- Você vai ver.

- Odeio ficar na curiosidade. – Camila fez um bico e Lauren beijou o topo de sua cabeça.

- Você vai gostar. Eu juro.

- Vindo de você, provavelmente vou. – A menina falou baixo, se aconchegando mais em Lauren e sentindo os olhos pesarem. – Eu posso dormir um pouco? Prometo que levanto antes da hora de fazer o jantar. – Lauren sorriu.

- Claro que pode. Bons sonhos, amor.