Min Yoongi – Sexta-feira. 14:17am
A sala de cirurgia parecia uma reunião. Uma jovem garota, conseguiu mobilizar um grupo de cirurgiões de estimo em menos de 10 minutos, e enquanto eles quebravam a cabeça em busca de novas opções para salvar a vida daquela garota aberta em nossa frente, nós internos dávamos o nosso melhor para acompanhar. Era impossível seguir o raciocínio de quem tem anos de experiencia a nossa frente, mas fazíamos o possível para não ficar para trás. De dar leves palpites a fazer o que era pedido com rapidez e eficácia, nós estávamos lá, objetivando crescer nosso nome e aumentar nossas habilidades.
Em meio aquela cirurgia perigosa e acirrada, eu tive a oportunidade de ver Park Jimin operando de perto para finalmente entender o que Taehyung vivia dizendo: ele tinha uma técnica fenomenal, provando que se tem o prestígio que possui hoje, é porque se esforçou o dobro para isso. A constatação não me causa arrependimento a respeito das coisas que eu falei dele, precisaria de mais do que isso para conseguir. Eu ainda possuía desafeto por Park Jimin e tampouco tentaria consertar isso, mesmo que ele tenha deixado claro o quanto vai me obrigar a o engolir, como ele mesmo pronunciou. Mesmo assim, ali, dando sua vida e amor por aquilo que mais saber fazer, eu me sinto inspirado por ele, por ter admiração ao trabalho que faz e não pela pessoa que se mostrou ser para mim.
Ao fim da cirurgia, a garota não conseguiu sobreviver. Mas saímos da sala com a certeza de ter tentado todo o nosso possível para que ela permanecesse viva. Pois essa era nossa essência. Não importa se perdemos hoje, tínhamos que estar pé, para tentar vencer amanhã.
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O som da porta sendo trancada atrás de mim me alarmou, visto que eu estava de costas para ela. Mesmo assim, eu sabia que era ele. Escolhiamos sempre o quarto mais distante de quaisquer olhos, visando privacidade, além do fato de tentarmos constantemente manter nosso relacionamento em segredo. Era estranho imaginar que havíamos brigado por conta de Park Jimin, já que sim, não havíamos nos falado desde então. Mas o ver tomando iniciativa era no mínimo prazeroso, mas cotidiano. Eu era orgulhoso o suficiente para ficar até mesmo meses sem falar com ele, pelo menos no estágio atual do nosso relacionamento estranho e casual.
- Você não pediu desculpas a ele. – Foi a primeira coisa que ele disse e eu apenas dei de ombros. Ouvi o som do mesmo sentando-se na cama e suspirando com minha resposta.
- Mas pelo que pude perceber, ele não esperava arrependimento algum. Acho que por agora, não precisa se meter nesse problema, pois como você mesmo disse, é um problema meu.
Ele ficou em silêncio, e eu finalmente me virei para o encarar. Era estranho explicar como que eu e Hoseok chegamos na situação atual, pois foi tudo tão natural. Nos conhecemos no hospital e nos encontramos em uma festa, quando ficamos pela primeira vez, depois disso se tornou quase uma rotina. Tínhamos um dia próprio, as sextas-feiras. Quando ambos estivessem livres, era o momento que tirávamos para ter uma vida a dois longe das paredes do hospital. Toda aquela situação casual nos era cômoda. Não ficávamos com mais ninguém, mas também não assumiamos que estávamos num relacionamento sério. O status de namoro, não era necessário pelo que tínhamos e do meu ponto de vista, estava bom assim. Assumir um relacionamento com Hoseok a publico tinha muita coisa em jogo, e minha carreira estava em primeiro lugar em tudo na minha vida, de modo que eu jamais a colocaria em risco por conta de um relacionamento.
A situação com Park Jimin fora proposital. E eu sabia plenamente que não iria me sair tão mal por conta disso. Já ocorreram situações piores no hospital. Se fosse expulso do programa por isso, Kim Seokjin poderia se preparar para o processo que o aguardaria.
De qualquer modo, eram esses os fatos. Eu objetivava passar pelo meu internato e residência de forma tranquila, sendo minha tribulação com o Park um caso a parte. E Hoseok me conhecia o bastante para saber disso. Havia coisas que apenas ele sabia. Não por eu não confiar em Taehyung para contar minhas vivencias, mas sim pelo fato de que o Jung me entendia muito bem. Eu e Taehyung crescemos em meios diferentes. Nem tudo que eu lhe falasse era totalmente absorvido e vice versa.
- Tem razão. Não vou me meter. – Comentou ele e eu permaneci em silencio. – Mas tem certeza que não serei eu que sairei perdendo. Tenho quase certeza de que a presença de Jimin no hospital será permanente.
- Não precisa se preocupar. Foi um caso a parte. – Sorrio ácido. – Ao contrário dele, eu sei dividir bem meu trabalho com minha vida pessoal.
Ele apenas negou com a cabeça antes de se deitar na cama encarando o teto. Eu não era nenhuma criança de modo que ele sabia que não iria adiantar me dar sermão, preferi deixar o assunto como encerrado. Não estava a fim de ficar brigado com ele por pessoas alheias ao nosso relacionamento.
- Vai estar em casa hoje? – Acabei por perguntar, recebendo um meio sorriso em resposta.
- Se não ocorrer nenhuma emergência, tenho a sexta livre. – Ele me encarou com o mesmo sorriso. – Ou tinha. Quer marcar horário? Ainda não terminamos a trilogia de senhor dos anéis.
- E se Deus quiser não iremos terminar. — Retruco revirando os olhos. Se eu pudesse dizer um contra de Hoseok seria o vicio por filmes visto que não é muito a minha praia. – Já parou para pensar quanto tempo você perdeu vendo filmes podendo ter feito algo mais produtivo?
- Já. E para ser sincero, não me arrependo. Nem tudo é carreira. Não troco as risadas que eu dei nos filmes do Adam Sandler por quase nada nessa vida.
As vezes eu queria ser como Hoseok por um único dia, para saber como era viver nesse mundo que ele tinha na mente. Mesmo sendo um homem extremamente responsável e sério na grande parte do tempo, era como se ele tivesse um ponto do cérebro que contrariasse toda a forma qual ele agia. A melhor palavra para o definir seria excêntrico. Mas mesmo não achando inteligente algumas de suas manias, eu o admirava por ter algo qual o fizesse feliz fora os bisturis e cirurgias.
Estava prestes a ir me deitar com ele, almejando um pouco de descanso após aquela cirurgia deveras demorada, mas como se previsse meus pensamentos mesmo a distância, vejo meu pager apitar. Jimin estava me chamando em algum dos quartos no andar de cima. Me contentei em revirar os olhos, ao ritmo que me organizava para sair do quarto.
- Mas esse homem não deve morrer nunca. – Comento o fato, já que estávamos falando do mesmo a minutos atrás. – O trabalho me chama.
Antes de sair, ele segurou meu pulso com delicadeza me fazendo parar antes de se levantar e segurar meu rosto em seguida, depositando um beijo em minha testa. Eu achava engraçado como Hoseok tinha umas manias respeitosas, que não condiziam com sua idade, por assim dizer. Em momentos, falava coisas sem sentido, como frases de algum filme que ele gostava, mas em outros agia como agora. Um cordial cavaleiro. Soltei um suspiro, antes de despedir dele sem mais delongas. Com o tempo que estávamos juntos, eu havia me acostumado com suas manias estranhas, mas não mudava o fato de que eu refletia a respeito delas sempre que possível.
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Precisei respirar fundo algumas vezes antes de bater na porta do quarto onde Jimin dizia estar. Mesmo que fosse óbvia a minha antipática para com ele, eu ainda sim vivia num pé de guerra. Ao nível que tentava não criar abertura por não gostar dele, evitava ao máximo o tratar mal por ser meu superior. Pois claro, se ele não fosse, eu certamente já teria o mandando para todos os lugares que se possa imaginar. Quando ele permitiu minha entrada, eu apenas revirei os olhos entrando no quarto.
Jimin estava sentado na cama analisando alguns exames, e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele se pronunciou primeiro.
- Seokjin me arrumou um caso interessante para hoje. — Ele iniciou ainda vidrado na papelada sem me direcionar o olhar. — É bastante raro, então imaginei que não tivesse visto ainda. Como foi designado meu interno, queria saber se quer entrar comigo.
Eu estava num misto de choque e entusiasmo. Tão grande que não conseguia se quer esconder minha expressão, tanto que o Park, quando finalmente colocou os olhos em mim, franziu o cenho. Era óbvio que eu adoraria auxiliar numa cirurgia daquelas, mas o ver oferecendo a mim era um tanto que estranho. Quer dizer, havíamos criado uma desavença de qualquer forma, então imaginava que ele facilmente faria da minha vida um inferno. Mas bem, não parecia o caso.
- O que foi? Você não quer? — Ele acabou por perguntar, e como eu bem imaginava a cara que estava fazendo naquele instante, não era de se esperar.
- Não, é só que.... Não esperava que fosse me chamar. — Admiti e ele manteve uma expressão neutra. — Quer dizer, você de longe se dá melhor com o Taehyung por exemplo.
Ele suspirou ao ritmo que negava com a cabeça. Naquele ritmo, eu apenas me encostei na parede, e coloquei as mãos no bolso do jaleco. Ele ficou em silêncio por alguns instantes, enquanto observava mais um pouco aquele exame, antes de o entregar para mim.
- Você provavelmente desse ser a primeira pessoa a qual eu falo isso em voz alta. Eu vou aceitar o cargo de chefe de cardiologia desse hospital. — Ele disse simplista e eu novamente não consegui esconder a surpresa. Ele ignorou e prosseguiu. — Isso faz de mim seu professor. E eu não tenho mais idade para arrumar problema por coisa idiota, e acho que você também não. Não vou atrapalhar o seu desenvolvimento em medicina por causa disso. Você também deveria começar a colocar mais isso como prioridade por sinal. Há coisas que simplesmente não valem a pena.
Me mantive em silêncio, enquanto observava o exame, mesmo que não estivesse prestando atenção no conteúdo de fato. O que ele disse pode ser interpretado por dois modos, pelo menos no meu ponto de vista. E talvez eu tenha entendido errado, mas eu estava doido para falar aquilo de uma vez. Levantei o olhar para ele, pronto para responder.
- Acha que estou errando? Em estar num tipo de relacionamento com meu superior, não é? — Acabei por rir de forma sarcástica. — Quer dizer, justo você dizer algo que dê a entender isso é meio hipócrita não acha?
Mais uma vez o silêncio vindo do Park. Contudo, sua expressão ocupou um peso que eu não conseguia entender. Quer dizer, ele não era a pessoa mais fácil de se ler, ao contrário de mim que era totalmente transparente a respeito de minhas emoções. Observei seus movimentos. Ele ajeitou os papéis e se ajeitou na cama, de forma que suas costas ficassem encostadas na parede. Tirou da sacola de plástico — que até então havia passado despercebida por mim — um saco de balas de goma. E em seguida, abriu um sorriso como se tivesse realmente achado graça do que eu disse. Mais uma vez, eu estava lá, de cenho franzido, perdido em suas ações.
- Eu acho tão engraçado o livro da minha vida que vocês escreveram no hospital. É tão sem pé nem cabeça que a única certeza que eu tenho, é que se vocês fossem escritores, é certeza que iriam passar fome. — Ele ironizou enquanto levava um doce aos lábios, sem tirar aquele maldito sorriso debochado.
- Pois bem, até onde eu ouvi, não achei furo nenhum na história. É bem simples na verdade.
- Quer ouvir a versão verdadeira? Essa eu permito que você espalhe para o hospital inteiro sem dó. — Respondeu ele para a minha surpresa. — Mas claro, isso se você tiver coragem para contar.
Sua última frase fez com que um arrepio atravessasse meu corpo. Não tinha resposta para lhe dar. Naquele ponto, eu já não sabia se queria sanar minha curiosidade ou não me envolver mais com ele sem ser no antro profissional. Mas no meio disso tudo, havia um porém interessante: eu não era tão fácil de convencer de modo que a chance de eu não acreditar no que seja lá ele tinha para dizer era grande. Contudo, algo me dizia que ele já sabia disso. O meu silêncio foi como uma resposta para ele, que continuou a falar, e eu, ainda não havia decidido se queria ouvir ou não.
- Vamos ao primeiro ponto importante, eu nunca traí Jeon Jeongguk. Isso foi um boato que cresceu na época, e que até mesmo ele acreditou. Segundo ponto, eu não tive nenhum caso com Shin Hyunjoon, e para ser sincero, um dos maiores desejos da minha vida é nunca o ter conhecido. — Ele iniciou e eu me mantive quieto prestando atenção, até suspirar, não entendendo aonde ele queria chegar exatamente.
- Olha, eu não entendo o porquê de você querer me contar isso. O que você disse até agora é meio o óbvio do que você diria.
- Estou falando porque eu quero. — Ele foi direto. — Eu quero te contar. Até porque, ser criticado a cada esquina, mesmo que eu tente ao máximo não demonstrar, cansa. E se eu vou mesmo ficar por aqui, que mal tem contar? Quem sabe assim me deixem em paz. Como eu disse, pode espalhar se quiser, e se tiver coragem para isso.
E mais uma vez eu me mantive em silêncio. E mais uma vez ele continuou.
- Não estou a fim de entrar em detalhes. Para você, se quiser detalhes, pergunte ao Hoseok. — Ele prosseguiu simplista. — A verdade Min Yoongi, é que Shin Hyunjoon não é o anjo que todo mundo comprou. Quer dizer, me diz, qual sentido teria um médico influente como ele sair do hospital por conta do que aconteceu? — Eu fiquei em silêncio, visto que não tinha pensado por esse lado. — Pois eu vou esclarecer para você. Shin Hyunjoon foi preso, após ser acusado de abuso sexual. O inferno que eu passei com aquele monstro por anos você nem imagina. E não Yoongi, não estou inventando. Ao contrário de vocês eu não tenho tempo para confabular histórias. — Respondeu simplista e ríspido. Naquele instante eu me arrependi de não ter o impedido de falar.
Era uma questão clara. Estava num misto de sentimentos, e não sabia mais o que falar. Talvez por ser algo que jamais passasse pela minha cabeça, o choque foi maior. Naquele momento eu não queria ser alguém tão transparente. Queria conseguir mascarar minhas emoções igual Park Jimin fazia, pois mesmo que contando, a provável pior merda da sua vida, ele falava com leveza, como se estivesse num diálogo comum. Mesmo assim, seu olhar entregava a tristeza. Não dava para esconder tudo, e agora eu conseguia distinguir e entender o que seu olhar enigmático significava: dor.
- Acho que não preciso continuar. Você já entendeu, não é? — O deixei sem resposta. Agora, se quer conseguia o olhar. — Para bom entendedor, poucos palavras bastam.
Não soube dizer, quantos minutos haviam de passado sem que nenhum de nós dissesse uma se quer palavra. Eu me sentia mal, por ele e por tudo que eu havia dito, mesmo que meu orgulho não me permitisse pedir perdão. E eu imaginava que ele não gostaria de desculpas vindas de alguém que agora, sentia pena dele. Pois era isso que eu sentia, mas não diria em voz alta. Não soube dizer em que momento eu me sentei no chão, e me debrucei sobre meus joelhos. Eu me comovia com sua história, mas não mudava que a gente de fato, não se dava bem. E ele sabia disso, e por conta desse fator, eu continuava a certo ponto, sem entender o viés de suas ações.
- Não precisa se martirizar ou se sentir culpado. — Ele disse de repente. Se levantou da cama, e tirou mais um saco de balas da sacola o jogando no meu colo enquanto arrumava suas coisas. — Te contei isso, não só como forma de fazer você tirar essa ideia idiota de traição na sua cabeça, mas como lição. Você está fazendo medicina, Yoongi. Seja tratando crianças, adultos ou idosos, é preciso empatia. E se você não aprender a ter, não importa o quão inteligente você seja. O quão bem você opere, jamais será um bom médico.
Suas palavras foram como um soco no estômago.
- Não quero que sinta a necessidade de gostar de mim só pelo que te contei. Só quero que entenda que você não é ninguém para críticar e apontar dedo a respeito do certo ou errado. Pois da mesma forma que eu tenho um fardo pesado para carregar, outras pessoas também tem. E você jamais vai saber sem que elas contem. — Ele finalmente voltou a me encarar. — Você tem tudo para ser um ótimo cirurgião, Min Yoongi. Não desperdice o seu talento com idiotice. Nunca quis dizer que seu relacionamento com Hoseok é um empecilho. O empecilho, é você deixar subir a cabeça coisas que não deveriam ser sua prioridade. A minha vida jamais te disse respeito, para que você a levasse tão a sério.
Em seguida ele caminhou em direção a porta, mas antes que saísse, ainda de costas ele disse.
- E sinto muito pela forma que te tratei naquele dia. Acho que pedir desculpas antes teria evitado muita coisa. Eu não estava num bom dia, e descontei em você. — Ele abriu a porta e antes de sair finalizou. — Espero você na cirurgia mais tarde.
Eu me mantive parado encarando a porta já fechada por vários segundos, ainda extasiado. Encarei o saco de balas, e o abri levando um doce aos lábios, me sentindo um grande idiota.
- Ah, céus. Então era isso que Taehyung estava falando, sobre ele inspirar as pessoas. — Encarei o teto e soltei um suspiro irritado. — Mas eu ainda não gosto dele.
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Park Jimin — Sexta-feira. 14:58am
Eu sai daquele quarto me sentindo leve, a seu modo. De fato, eu não me importava se Yoongi levasse aquele assunto a diante, pelo simples fato se que me pouparia muito trabalho. Mesmo assim, eu tinha plena certeza de ele não o faria. Não por falta de coragem, e sim por algum tipo de respeito. Isso estava estampado na cara do garoto. Ele era alguém fácil de ler. Conviver com ele por um dia me fez notar o quão carente de certas coisas ele era, e que talvez eu tenha errado na minha dedução a respeito de seu relacionamento com Hoseok. Algo me dizia, que da mesma forma que Jeongguk fez despertar coisas boas em mim naquela época, Hoseok fará o mesmo com ele. Mas o diferente, é que o Min era seguro de si o bastante para não colocar o peso de toda sua segurança no Jung.
Naquele dia, eu havia acordado decidido e estava confiante a respeito de minhas escolhas. Havia feito uma cirurgia incrível pela manhã, e agora, seguia para o meu segundo desafio do dia: conversar com Seokjin. Não era exatamente um desafio, contudo, ficar em Seul definitivamente exigia demais de mim, e oficializar isso me deixava extremamente nervoso. Quando parei na porta da sala do Kim, precisei respirar fundo algumas vezes, até finalmente tomar coragem para bater na porta, sendo prontamente respondido. Girei a maçaneta, e para mim surpresa — ou não — meu futuro chefe não estava sozinho. Meu olhar cruzou com o de Jeongguk que apenas sorriu ladino, me obrigando a desviar rapidamente. Desde aquela noite, nós não havíamos conversado direito e eu nem sabia se queria de fato que aquela conversa ocorresse.
- Será que é possível a gente ter uma conversa sem a interferência dele? Quer dizer, até quando vamos conversar sozinhos, é sobre ele. Ela está ficando estranho. — Comento irritado com a maneira que Jeongguk parecia me perseguir a todo custo.
- Eu sei que vocês me amam e não vivem sem mim. — Debochou o neurologista.
- Também não exagera. Se seu nome não sai da nossa boca, é porque você só nos da trabalho. — Retrucou Seokjin enquanto indicava a cadeira a frente dele para que eu sentasse e assim o fiz. — E então, em que posso ajudar, Jimin?
Encarei o Jeon que estava sentado no sofá da sala, pouco afastado de nós. Ele piscou para mim e eu revirei os olhos cruzando os braços, ao ritmo que voltava minha atenção para Seokjin. De fato, não tinha como esconder minha decisão dele por muito tempo, então que fosse ele soubesse de uma vez.
- Eu... Resolvi aceitar o cargo de chefe da cardiologia daqui. — Fui direto. Se enrolasse demais poderia mudar de ideia quem sabe.
Ambos ficaram em silêncio por alguns instantes, provavelmente digerindo o que os foi passado, até que Seokjin finalmente demonstrou alguma reação. Arregalou os olhos surpreso, e engasgou com a própria saliva. Em seguida, pegou o copo d'água que repousava em sua mesa e bebeu de uma só vez.
- Você está falando sério!? — Ele exclamou incrédulo. — Então você vai ficar? Vai mesmo ficar em Seul.
- Bom, sim. — Cada palavra era como subir uma escada. Aos poucos chegando num novo degrau da minha vida. — Eu preciso voltar em Busan. Um fim de semana será suficientes. Preciso ver minha família, organizar algumas coisas que ficaram pendentes no hospital de lá e pegar algumas coisas que vou precisar. Já liguei para meu ex-chefe e ele está organizando a papelada para demissão.
- Eu vou com você! — Jeongguk exclamou de supetão.
- Mas não vai mesmo. Não quero você no meu encalço. — Repudiei rapidamente a ideia.
- Eu também tenho coisas para resolver em Busan. Não sei se lembra, mas eu também vim de lá. — Retrucou o Jeon e eu apenas revirei os olhos. Ele rapidamente mudou sua atenção para Seokjin. — Um fim de semana, Jin. Só esse e eu volto a trabalhar regular.
Seokjin me encarou e depois encarou a Jeongguk. E eu conhecia aquele olhar. Aquele maldito olhar e sorriso amarelo. Ele iria ceder. Respirei fundo me encostando na cadeira e encarando o teto ao ritmo que revirava os olhos.
- Vocês tem esse fim de semana! Na segunda feira quero os dois aqui cedo. Vou informar o RH da sua decisão. Segunda já vou ter seu contrato pronto. — Mesmo a contragosto por ele ter deixado Jeongguk ir, foi impossível não sorrir junto a ele. Era clara sua animação. — Nem consigo explicar o quão estou feliz com essa notícia. Precisamos comemorar, sem a menor dúvida.
- Bem, se minha cirurgia super requisitada acabar cedo, podemos fazer algo sim. — Digo me levantando e me despedindo de Jin brevemente. — Agora que vou ficar, vocês tem a obrigação de me ajudar a "viver". — Digo fazendo aspas com os dedos e mais uma vez Seokjin sorriu.
Com minhas últimas decisões, eu sentia que estava dando uma nova chance a mim mesmo, já que de fato, eu não estava vivendo por mim os últimos anos. Achei que não diria isso nunca mais, contudo, eu sentia uma enorme vontade de me divertir. Como nunca havia feito antes. Como se os anos que eu deixei para trás, jamais estivessem passados. Não era como se eu fosse velho, entretanto, não era mais o jovem adulto confuso igual quando sai de Seul. Nesse quesito, ficar aqui era a melhor opção. A certeza de que eu tinha, era que meus amigos me ajudariam nessa nova etapa que eu havia escolhido começar. Por mim mesmo e apenas isso.
Seokjin engatou em algum assunto com Jeongguk, a respeito da férias do moreno e eu continuei a ponderar, agora, sobre o próprio. A verdade, é que eu não sabia muito bem o que queria fazer, mesmo que algumas coisas estivessem claras em minha mente. O primeiro ponto era que eu definitivamente não queria um relacionamento sério agora, e que numa lista com todos os homens disponíveis no mundo, ao ritmo que Jeongguk estava em primeiro lugar ele também estava em último. Eu acreditava que sim, ele havia amadurecido e que estava em um constante amadurecimento igual a todos, mas era um risco. O fato de ter um histórico ruim com o garoto diminuía suas chances, pelo simples fato de que ele me lembrava coisas ruins de uma forma ou de outra. Nada constante, contudo esporádico.
E por estar buscando novos ares, não sabia se queria voltar ao passado. Contudo, ao ritmo que o que havia acontecido era um empecilho, também não era. Mesmo não sendo criança, Jeongguk era imaturo e eu não estava muito atrás nesse quesito. Dois completos idiotas. Eu havia o perdoado totalmente pelo que havia acontecido anos atrás, e imaginava que algumas pessoas certamente jamais gostariam de olhar na cara dele se estivessem no meu lugar entretanto, eu não conseguia ser assim. Aceitava plenamente o fato de que sim, tinha interesse nele e que sim era um opção, mas que não tinha certeza de nada disso por não conhecer 100% o Jeon Jeongguk de agora. Mesmo assim, não mudava o fato de que eu simplesmente não queria me relacionar com ninguém por agora. Contudo, eu era ansioso demais é já estava antecipando dilemas futuros.
- Ei, Jimin. Você vai de avião não é? — A voz do Jeon me chamando me forçou a voltar a realidade.
- Sim. E deixa eu adivinhar, vai pegar o mesmo vôo que eu. — Respondi revirando os olhos. - Mas sério Jin, ele realmente precisa ir?
- Preciso. Porque eu não só preciso falar com a minha família como preciso pedir desculpas para a sua. — Ele respondeu simplista. — Já tinha planejado fazer isso, a oportunidade só veio mais cedo.
- Bom, isso se minha mãe quiser falar com você. — Fui sincero e ele engoliu em seco. — Da mesma forma que sua família passou a me odiar, o mesmo aconteceu com a minha relação a você.
- A diferença é que a sua está com razão.
Não o respondi. Logo Seokjin mudou de assunto, e eu apenas agradeci. Não que ele estivesse errado. De fato, não havia motivos para que eu fosse o vilão de toda aquela história, mesmo assim, estava disposto a deixar aquela fase para trás definitivamente.
- O assunto está muito bom mas, agora eu preciso ir ver meu paciente de ouro, o futuro médico cardiologista Jeonghan. — Digo ao ritmo que me levanto, indo em direção a porta.
- Neurologista, você errou. — Disse Jeongguk me seguindo até a saída. Não fiz questão de virar para o olhar, apenas ignorei.
- Não, cardiologista. Ele me disse com certeza ontem. — Respondi dando de ombros. — Neurologistas são chatos, palavras do seu próprio filho.
- Mas francamente Jimin, está fazendo a cabeça de uma criança. Você não tem vergonha não? — Disse num tom brincalhão e eu apenas sorri. Quando estávamos longe o suficiente da sala de Jin, ele segurou em meu braço calmamente. — Agora falando sério, não vou mudar de ideia a respeito de Busan. Vou com você. Então se tiver alguma chance de eu falar com sua família, eu ficaria muito grato. Bem, você nem eles tem a obrigação de ouvir nada que eu tenho a dizer, mas.... Se não falar com eles, acho que nunca vou dar como encerrado. Não importa a reação deles, eu só... Quero me desculpar.
- Vou fazer o possível. — Respondo. Eu entendia seu ponto. Da mesma forma que eu necessitava contar a verdade para ele, e assim seguir em frente, ele precisava ao menos conversar com minha família para seguir a dele. Suspirei. — Mas eu realmente não posso prometer. Minha mãe está extremamente chateada comigo, só do fato de eu estar em Seul então não sei como as coisas vão ficar.
- Eu também queria saber se posso contar a verdade para minha mãe. Para minha família. — Ele perguntou e antes que que eu pudesse simplesmente dizer que sim ele continuou. — Não quero que eles continuem com um ódio de você que eu criei. Um ódio que não tem razão para existir.
- Pode contar, eu não me importo. No estágio atual, eu estou contando para qualquer um que me encha o saco, almejando simplesmente paz. — Continuamos caminhando até o quarto de Jeonghan. — A questão é só que eu não quero que sintam pena de mim, sabe? Quero continuar minha vida normal. Mas sem deixar isso me limitar. E eu me dei conta de que quanto mais eu falo sobre, mais fácil fica, de lidar.
- Então continue falando. — Respondeu mesmo sendo o óbvio. — Eu só quero que você fique bem. E agora, sabendo que você vai ficar, quero que saiba que pode contar comigo também.
Eu apenas assenti e prossegui em silêncio até o quarto. A verdade, era que tudo ainda estava muito confuso, e que eu não fazia a menor ideia de quando as coisas iriam se acertar. A única coisa que eu tinha certeza, era que queria aproveitar coisas que havia deixado de lado. E que agora, notava estar com saudades da agitação de ter um círculo social. Idas ao bar, a festas ou rodas de estudo. Coisas que para alguns era tão banais e que para mim, se tornaram tesouros perdidos. Acabei por esboçar um mínimo sorriso. A sensação de não estar mais sozinho era tranquilizante.
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— Sexta-feira. 22:42
O som dos copos entrando em contato seguido das risadas ecoaram com tudo em meus ouvidos, ao ritmo que o assunto incessante permanecia presente. Era o terceiro brinde que fazíamos naquela noite, e eu não estava nem um pouco surpreso que a ideia de fazer um rodízio de drinks tenha partido de Hoseok. Me recostei no sofá acolchoado ao ritmo que levava a taça com um saboroso Dry Martini nos lábios. O Jung fez questão de pedir o tal drink, algo relacionado a homenagear os clássicos – e um tal de James Bond. Eu não entendi nem 1% de tudo aquilo, mas me juntei a ele naquela alucinação louca, enquanto ouvia eles conversarem entusiasmadamente a respeito da cirurgia que havíamos feito hoje.
No fim, a proposta de comemorar feita por Seokjin havia realmente vingado. E cá estávamos nós, comemorando minha contratação e decisão de ficar em Seul. Mesmo com as pequenas dúvidas que ainda me assombravam, eu me permitir sorrir e sentir a vibração alegre que aqueles que eu podia chamar de amigos transmitiam.
- Eu estava sentindo, cara! Estava sentindo! — Comentou Hoseok animado. — Acho que o Jimin não conseguiria ir embora nem se quisesse! A gente é incrível demais para ele abandonar.
- Hoseok as vezes eu fico impressionado com sua autoestima. — Respondo enquanto levo a bebida aos lábios. — Além do mais, fico chocado com seu carisma. Quer dizer, do jeito que a gente age, nem parece que nos conhecemos a menos de um mês.
- Ele é assim mesmo. — Respondeu Namjoon dando de ombros e suspirando. — Comigo foi a mesma coisa. Ele anda com aquela cara de sério pelo corredor e fica parecendo a pessoa mais fria do mundo. Mas quando você conversa com ele por vinte minutos, parece que você o conhece a anos. É quase um carisma ambulante.
- É a minha essência, senhores. — Disse o Jung erguendo o copo. — Eu sou extremamente versátil emocionalmente.
- Pois é exatamente isso que me preocupa. — Conclui Seokjin arrancando risadas de nós. — Mas sério, hoje eu estou disposto a sair arrastado pelo velho Wang.
- Então vocês vão continuar comemorando sem mim, porque assim, meu vôo é amanhã 7h. — A cara de decepção que Seokjin fez após meu comentário foi impagável. — E como vou levar o Jeongguk de encalço, vou precisar me preparar pelo menos algumas horas antes psicologicamente.
Hoseok e Namjoon trocaram alguns olhares estranhos, antes de rir e levar a bebida aos lábios. Tudo aquilo muito automático e eu apenas observei. Seokjin não ficou muito atrás, fazendo uma cara sugestiva. E quando eu estava pronto para os indagar a respeito do que diabos eles estavam aprontando, o garçom chegou com mais uma rodada de bebidas estranhas que Hoseok havia pedido. Mesmo assim, não deixei minha curiosidade de lado, mas como se o destino implorasse para que eles ficassem impunes em seja lá qual brincadeira eles estavam aprontando, meu celular vibrou e eu peguei o mesmo. Era raro eu receber mensagens, para ser sincero. O trio aproveitou a deixa para entrar em outro assunto, e eu apenas suspirei ao ver o nome de Jeon Jeongguk no visor.
Eu ainda achava interessante a forma que ele tinha de sempre aparecer quando eu estava pensando nele, nesse caso, não fora algo presencial, mas ainda assim significativo ao seu modo, pois o conteúdo da mensagem que ele havia me mandado, nada tinha a ver com qualquer coisa que estávamos passando, e fora quase impossível segurar o sorriso com aquilo.
Jeon Jeongguk
23h13: Banda de rock britânica com 5 letras? T-T
Eu me perguntava se estava me tornando um viciado em milkshake de morango quando me vi tomando mais um copo de 500ml. Era apenas o segundo do dia, e me assustava o fato de que eu bebia de forma tão natural que quando acabava, eu se quer percebia. Soltei um suspiro, meus dias eram tão tediosos ao nível de que minha maior preocupação era o fato de beber milkshake demais. Entretanto, as coisas estavam se tornando diferentes nos últimos dias, e eu me recordei disso quando o vi virando o corredor. Tentei ao máximo me encolher e não fazer contato visual, para que ele não percebesse minha presença ali. Mas quem eu queria enganar? Eu tinha certeza absoluta que ele estava atrás de mim.
A pessoa no caso tinha nome e sobrenome: Jeon Jeongguk.
Eu me achava uma pessoa estranha, isso até o dia que ele me parou com um único pedido: ser meu amigo. Fala sério! Ninguém nunca teve interesse nisso antes, porque justo ele resolveu isso do nada? Não fazia sentido e eu tinha certeza absoluta de que havia alguma coisa errada nessa história, mas eu não estava nem um pouco interessado em descobrir de modo que fazia o máximo para que ele não me notasse e me esquecesse com o passar dos dias.
Bem, o que não aconteceu.
Quando me dei conta, ele já havia puxado a cadeira a minha frente e estava ali, com uma lata de coca-cola e um sorriso enorme no rosto.
- Jimin! Eu estava realmente te procurando. – Ele levou a latinha aos lábios antes de continuar a falar. – Eu estava por aqui com uma amiga e lembrei que você morava aqui, então resolvi te procurar já que não sabia seu quarto.
Ah, mas eu sabia muito bem que ele estava ali. Bem, um fato interessante, é que estávamos no edifício da república onde eu morava, e ele estava nela, me procurando! Para mim não é necessário mais provas: esse cara está tramando alguma para mim. Tentei manter a pose mais firme que eu conseguia além de não transparecer meu nervosismo. Era um alívio ele não saber qual era o meu quarto, mas como dito anteriormente, eu sabia exatamente onde ele estava, além do fato de que a amiga dele não parecer tão amiga assim.
Afinal, amigos não transam. E eles estavam transando. E eu tinha certeza do fato, já que meu quarto era ao lado da “amiga” dele, de modo que eu era obrigado a ouvir tudo. E por essa razão, eu estava no refeitório do local, pois não aguentava ouvir aqueles sons horrorosos. Uma careta tomou meu rosto ao lembrar da situação e ele franziu o cenho. Encarou o caderno em minhas mãos e fez uma expressão surpresa.
- Isso é palavras cruzadas!? Minha nossa! Posso jogar com você? – Algo naquela fala parecia falsa.
- Você não parece gostar muito disso, por que forçou entusiasmo? – As palavras escaparam da minha boca como pluma e eu só tive tempo de ficar vermelho enquanto ele ria.
- Tem razão, não gosto. Mas posso te ajudar, quem sabe? Manda ai. – Ele se ajeitou na cadeira e eu suspirei. Seria uma longa tarde.
- Err.... – Observei o papel procurando alguma extremamente difícil. – Erva ornamental de origem asiática de folhas verdes ou azuladas com manchas brancas com 5 letras. E termina com a.
- Pilea. – Ele respondeu simplista e eu arregalei os olhos. – Minha mãe gosta dessa planta. Tem um monte em casa, algo relacionado a dar sorte na vida financeira.
Sorte de principiante, certeza absoluta. Eu estava preso naquele desafio a uma semana, já que me recusava a trapacear e buscar na internet. Engoli em seco indo para a segunda pergunta.
- Oh, essa é impossível você saber. – Digo com um sorriso de orelha a orelha. – Banda de rock inglesa responsável pelo sucesso Rock of Ages. 11 letras.
- Ah! Metal Praise, com certeza! – Ele disse animado. – Acertei não é? Olha, sou muito bom nesse jogo. Estou começando a gostar vamos ao próximo.
E assim se renderam as perguntas até que enfim terminamos aquela folha. Mas ao contrário dele, que parecia extremamente animado, eu estava apenas muito irritado. Quer dizer, como ele conseguia fazer as coisas com tamanha facilidade? Mas de certo modo, o fato de ter aquelas cruzadas para fazer era bom, já que assim não tinha que conversar diretamente com ele. Bem, mas havia acabado, e ele não parecia interessado em começar outra, mas eu também não estava nem um pouco interessado em ouvir suas histórias tediosas de homem hétero perfeito. Contudo, Deus infelizmente havia me feito como alguém que não conseguia esconder minhas reações, e a cara de desgosto e tédio enquanto eu bebia o milkshake estavam obviamente visíveis, mesmo que ele não parecesse ligar ou perceber.
Mas ai de repente, ele iniciou um assunto sobre suas amizades. Mas algo me chamou atenção naquela conversa, todas as amizades ao qual ele me dizia ter, eu já havia ouvido boatos de que ele teria ficado com tal pessoa. Foi quando meus olhos arregalaram, e eu senti minhas mãos soarem de puro nervosismo, e minha reação repentina finalmente o surpreendeu.
- Meu Deus, Jimin! Que bicho te mordeu!?
- Vo-você! Finalmente entendi o que está querendo comigo! – Retruquei com os olhos arregalados sentindo minha respiração acelerada. – Todos os seus amigos foram para a cama com você! E eu sei lá, para mim você era hétero então isso não faz sentindo algum, mas tenho certeza! E está fora de cogitação entendeu!? – Digo apontando para ele que parecia não entender nada.
- Mas do que diabos você está falando?
- Você me disse que estava atrás de um amigo! Só pode ser isso! Está totalmente fora de cogitação, não vou transar com você como todos os outros amigos! Céus, que medonho.
Ele ficou me encarando por vários segundos até começar a rir, ao ponto de sua barriga doer. Eu permaneci no mesmo lugar, esperando sua crise de risos passar enquanto permanecia certo da minha estupenda conclusão. Quando ele finalmente se acalmou levou a bebida aos lábios e respirou fundo.
- Bem, tem razão. – Meus olhos arregalaram mais ainda, mas ele logo prosseguiu. – Isso não faz sentido algum, pois eu sou realmente hétero. Nunca fiquei com um garoto, ou senti atração. – Ele deu de ombros.
- Mas então por quê? Porque tem me perseguido e insistido para ser meu amigo quando está claro que nós somos opostos e eu não tenho nada a ver com seus gostos ou círculo social.
- Ah, bem. Exatamente por isso. E eu realmente queria ser seu amigo, que dizer, você é bem engraçado Jimin. – Ele coçou a nuca enquanto eu franzia o cenho. – E meu círculo social é bem.... Fútil, se me permite dizer. Falso. Mas você parece ser verdadeiro. – Ele se levantou e sorriu fraco para mim. – Contudo, eu juro que não percebi que estava te incomodando. Então, desculpe tomar o seu tempo.
Foi quando ele deu as costas e saiu, me deixando ali, meio atônito. Me encostei na cadeira, me sentindo péssimo mais uma vez, por ter afastado mais uma pessoa por causa do meu jeito estranho e espalhafatoso.
Park Jimin
23h14: Queen. E céus, você certamente sabe essa. Além de cruzadas com você me trazer péssimas memórias.
Guardei o celular no bolso, tentando afastar aquela memória da minha mente. Havia sido humilhante, principalmente depois, quando eu resolvi me desculpar com ele mas não fazia a menor ideia de como o fazer. Fora quando Seokjin entrou na minha vida, graças a Jeongguk também.
VO aparelho vibrou novamente, e talvez eu tenha o pegado rápido demais para ver a resposta dele.
Jeon Jeongguk
23h16: Ah, mas valeu a pena ver você correndo atrás de mim por semanas pelo hospital. Péssimas memórias para você, ótimas para mim :)
Acabei deixando minha língua pressionar a bochecha, ao ritmo que reprimia um sorriso ao responder.
Park Jimin
23h16: Não me lembre dessa época, é definitivamente deprimente.
Jeon Jeongguk
23h16: Pois bem, ao que diz respeito a você, foi minha era de ouro. Me dê um crédito.
26h17: Estou de saída. Voltando a ser pai.
26h17: Guardem uma bebida para mim.
Não senti a necessidade de o responder e assim o fiz. Apenas guardei o celular mais uma vez, e me permitir divagar enquanto pensava em que diabos estava fazendo. Estava realmente, trocando mensagens com Jeongguk, de forma normal? Havíamos posto as cartas na mesa, mas tinha a impressão que tudo andava indo rápido demais, de forma que eu não conseguia acompanhar devidamente. E para mim, sendo alguém que ama ter controle das coisas, era péssimo. Não consegui reprimir o suspiro, mas logo fui tirado dos meus devaneios por Hoseok, que soltou um pigarro para chamar minha atenção.
Quando me dei conta, os três ali presentes me encaravam com umas expressões sugestivas. Até mesmo Namjoon, o que me pegou de surpresa, já que eu havia acabado de conhecer. Mas a respeito de Seokjin, eu o conhecia tempo o bastante para saber o que viria pela frente.
- Então, Jimin. Vai nos contar com quem estava falando ou vamos ter que adivinhar por eliminação? – Iniciou Hoseok enquanto erguia a mão chamando o garçom para pedir mais bebidas.
- Ninguém muito importante. – Respondi da forma mais convincente possível, mas Seokjin logo riu.
- Então está querendo dizer que não está ficando com ninguém? Ninguém mesmo?
- Bem, eu acho que tenho certeza disso. Além do mais, você seria uma das primeiras pessoas a saber, Jin.
- ‘Cá entre nós, você parecia bastante calmo hoje. Normalmente parece um furacão loiro ambulante. – Comentou o Jung assim que fez o pedido da próxima rodada. – Só uma boa noite de sexo poderia trazer tamanha paz ao ser humano.
- Ah! – Tentei forçar uma risada o mais natural possível. – Vocês devem estar delirando. Se vão constatar algo, eu quero provas. E um advogado.
- Sinceramente, vou falar de uma vez. – Disse Namjoon antes de logo em seguida virar o a taça da bebida de uma só vez. – Você está com alguns chupões no pescoço.
Eu precisei de alguns segundos para absorver aquela informação. Em meio a isso, alguns flashs da noite passada surgiram em minha mente, de modo que as ações de Jeongguk se tornaram bem claras, e principalmente o momento em que ele fez um belo trabalho no meu pescoço. Me forcei a balançar a cabeça, para afastar aqueles pensamentos infelizmente – ou nem tanto – excitantes.
Tirei o celular do bolso rapidamente, e logo abri a câmera a fim de analisar a situação. Havia três pelo menos, mas nem tanto aparentes.
- Aquele idiota.... – Vociferei apenas para mim, logo virando para eles. – E é sério que vocês só me avisam isso agora? Depois de um dia inteiro com isso a mostra?
- Opa, em minha defesa, isso não é algo que você simplesmente chega e diz. – Diz Hoseok dentre risadas. – Bom dia Jimin, nossa que belo chupão no pescoço! Não, eu sou estranho, mas nem tanto.
- E eu acabei de te conhecer. — Se defendeu Namjoon.
- Como você bem disse, eu imaginava ser a primeira pessoa que você iria contar se algo assim ocorresse, mas vi que estava errado. – Seokjin caçoou com um sorriso escárnio e eu só queria esconder meu rosto numa vala.
- Mas diga, amigo, Jeongguk ainda é bom de cama? – Hoseok soltou de repente e eu engasguei com minha própria saliva.
Não era surpresa, graças ao nosso histórico, que fosse tudo ligado a ele de forma imediata, mesmo assim, não imaginava que fosse tão previsível. Mas eu não queria admitir que havia sim dormido com ele, então preferi apenas negar e mentir, mesmo que eu fosse tremendamente péssimo nisso.
- Jeongguk? Sério mesmo? Acham mesmo que eu dormiria com ele?
- Para de mentir! Ele me contou. – Respondeu Seokjin revirando os olhos e eu apenas suspirei levemente irritado.
- Aquele babaca, não acredito que e saiu correndo para te contar sem me perguntar ou nada!
- Ah, pois ele não fez isso. – Disse o Kim e eu entendi a merda que tinha feito. – E eu não acredito que caiu nessa.
- Pelo menos ele admitiu. – Até mesmo Namjoon estava zoando de mim. E nós havíamos nos conhecido a menos de 24 horas, era o cúmulo.
O assunto infelizmente rendeu mais duas rodadas de drinks aleatórios. Normalmente, eu teria ficado incomodado por entrar no assunto Jeongguk por tanto tempo, mas dessa vez não foi o caso. Na verdade, foi extremamente natural e até mesmo cômico. O caminho que a conversa estava levando me permitia rir sobre minha finada vida amorosa, e por incrível que pareça, estava me fazendo muito bem falar e rir de muita parte daquilo. Como nos velhos tempos. Um grupo de amigos jogando conversa fora num bar, algo que eu não fazia a muitos anos.
E como de tivesse sentido que seu nome havia sido mencionado vezes demais, senti as mãos pressionarem o estofado atrás de mim e logo aquele maldito perfume invadiu minhas narinas, me forçando a manter a expressão calma para não pagar mais vexame.
- Por que eu sempre sou o centro das atenções nos assuntos de vocês? – Iniciou Jeongguk num tom brincalhão, antes de enfim sentar ao lado de Hoseok.
- Pois cá entre nós, sua vida é bem mais interessante e movimentada que a nossa. – Concluiu Namjoon e os outros dois prontamente concordaram. – Bem, você e nossa saga para descobrir quem é o amante secreto de Hoseok.
- Ah, vocês só vão descobrir isso quando eu quiser que descubram. – Respondeu o Jung erguendo a bebida, antes de virar para mim e direcionar uma piscadela.
Mesmo que não fosse da minha conta, ainda era surpreendente o fato de que Yoongi e Hoseok fossem um casal. Bem, um casal estranho, mas ainda assim, um casal. Mas também, eu não tinha parâmetros para me firmar, ao menos não muito. Era como uma balança, eu tinha ótimas experiências com Hoseok, e péssimas com Yoongi, que me faziam não querem o conhecer a fundo. O sermão que eu havia dado hoje, foi puramente profissional. Eu sabia que ele não ia começar a gostar de mim só por conta da minha história triste.
- Mas o que você está fazendo aqui? – Jin direcionou a pergunta a Jeongguk. – Pensei que iria ficar com o Jeonghan.
- Ele dormiu. Já está bem tarde, não sei se vocês perceberam. Bem, pelo menos para crianças. – Ironizou, mas sua fala me alarmou de forma que rapidamente peguei o celular para ver a hora.
- Tem razão, já é uma hora da manhã. – Dei de ombros me encostando no estofado. – Nem parece que vamos viajar daqui a 6 horas não é mesmo? A propósito Jin, a Nara não liga de chegar tarde não?
- Não. E ela está na casa da Joohyun hoje então ai mesmo que vai ignorar totalmente minha existência. – Falou tranquilo e eu apenas me permiti ficar surpreso com a proximidade das duas.
- Bem, eu realmente não imaginava que elas estariam tão próximas.
- Sério? Jin e Nara são padrinhos da Yve. – Comentou Namjoon me deixando mais surpreso ainda.
O assunto tomou outros rumos e eu me permiti ponderar sobre várias coisas. Era totalmente do meu feitio ficar na minha mesmo durante uma reunião entre amigos como aquela, talvez Namjoon e Hoseok estranhassem, mas eu tinha certeza que Jin e Jeongguk não se importavam. A verdade era que eu tinha muita curiosidade de saber tudo que havia perdido nos últimos cinco anos a respeito da vida dos meus amigos, mas no momento eu era o centro das atenções, mesmo não desejando isso. Todos estavam intrigados com meu sumiço, mas cansava um pouco falar só de mim e dos meus problemas. Seria uma benção de alguém me chamasse para desabafar sobre os problemas de si mesmo, pois sinceramente, eu não aguentava mais ponderar a respeito dos meus. Levei a bebida aos lábios, ao ritmo que voltava a prestar atenção no assunto que circundava nossa mesa, e foi nesse meio tempo que Jackson apareceu com uma bandeja de bebidas.
Ele ainda estava vestido com roupas do restaurante que ele trabalhava, mas ao ver, não consegui segurar o sorriso e me levantar para o abraçar assim que o ele colocou a bandeja na mesa.
- O vovô disse que você irá viajar para Busan amanhã. Mas também disse que você resolveu ficar por aqui, então está óbvia a razão da animação dele. – Ele comentou o observando de longe e eu apenas soltei uma risada.
- Bem, só vou para resolver algumas pendências. Mas vou ficar. Então temos muito tempo para bater papo. – Logo, me virei para o pessoal que certamente estaria intrigado para o apresentar. – Preciso apresentar você ao pessoal. Esse é o Jackson, meu irmão mais novo, por assim dizer.
Jackson apenas acenou em cumprimento e o pessoal reagiu da mesma forma. Eu não esperava mais do que isso, afinal. Mas o que me chamou atenção, foi o claro ciúmes estampado na cara de Jeongguk e Jackson sustentando o olhar dele com puro desgosto. Foi nesse momento que eu resolvi terminar aquele encontro por ali mesmo.
A partir dali, eu prometi que só iria tomar mais aquela rodada e ir para casa. E bem, foi exatamente assim que aconteceu. Rapidamente me despedi do Vovô e de Jackson, que automaticamente me cobraram explicar o que ele Jeon estava fazendo tão próximo de mim. Eu apenas deixei o assunto para depois, prometendo aparecer na semana que vem para conversar melhor. Com os meninos foi mais rápido. Hoseok disse que seu namorado estava o esperando em sua casa, e eu apenas ri soprado. Sabia que namorados era um termo forte demais para ambos. Já Seokjin pegou um táxi junto de Namjoon. Aparentemente ambos moravam na mesma direção. E eu, que por estar no hotel que era consideravelmente perto dali, acabei indo a pé em direção ao mesmo. Mas obviamente, Jeongguk não ia me deixar sozinho nessa.
- Porque não pega um táxi e vai para casa também? — Perguntei e ele apenas riu.
- Vou ficar no hospital. Jeonghan deve receber alta semana que vem, mas as roupas estão acabando e Sooyeon vai dormir em casa. Ela não aguenta mais o hospital. — Jeongguk soltou um suspiro meio irritado e eu o encarei curioso. — Estou me sentindo negligente. Quer dizer, um péssimo pai. Escolhi o momento errado para surtar, por assim dizer. Mesmo meu filho estando bem agora, ainda há riscos. E eu acho que nunca fui tão ausente. Como eu consigo ser tão ausente, justo quando ele mais precisa?
- Acho que ele não pensa assim, de todo modo. Ele só tem elogios para você. Você é pai, mas ainda é humano. Nem mesmo eu, que convivo pouco com você, dúvido do amor que você sente por ele. — Respondi de forma sincera e o encarei com um sorriso mínimo. — Acho que eu nunca imaginei você sendo pai, Jeongguk.
- Para ser sincero, eu também não. — Concluiu coçando a nuca. — É uma coisa única, Jimin. Não consigo explicar a sensação. É totalmente diferente do amor entre duas pessoas. É como se fosse outra parte de você.
- De todo modo, a única certeza que eu tenho, é que vc é um ótimo pai. — Ele sorriu com a resposta. — As coisas aconteceram muito rápido, não é?
- Sim. Foi difícil de digerir. Mas Jeonghan foi meu maior suporte, acho que teria ficado doido se não tivesse ele ali para me centralizar. — Ele suspirou. — Fez com que eu focasse só nele, e esquecesse dos meus problemas. Pois eu percebi que não era nada, comparado a uma criança com risco de morrer apenas por ter seu coração batendo.
Eu se quer conseguia imaginar, se fosse comigo. Como um homem abertamente gay, jamais havia passado por minha cabeça a ideia de ter filhos ou de ser pai. Então não conseguia imaginar a dor que Jeongguk e Sooyeon havia sentido durante todos esses anos, com um filho doente e sem previsão de melhora. Quando me dei conta, estávamos quase chegando no hotel, contudo, não queria que aquele assunto acabasse. A seu modo, eu tinha interesse de saber tudo que havia acontecido com Jeongguk nesses últimos anos da mesma forma que todos estavam curiosos a respeito de mim. Quando chegamos em frente ao hotel, fiquei parado por alguns instantes, até lembrar de um fato interessante.
- Estou surpreso. — Falei e ele me encarou confuso. — Em momento algum você me perguntou a respeito do Jackson.
- Ah... — Ele revirou os olhos antes de sorrir fraco. — Eu estou tentando tomar meu posto de ficante ocasional. E isso inclui tentar ao máximo não me meter na sua vida. Estava me segurando, mas já que você puxou o assunto, quem é ele?
- Você definitivamente não presta. E eu não disse nada sério a respeito de ter outras vezes. — Retruquei e ele sorriu.
- Mas vão ter. — Disse se aproximando de mim. Se inclinou indo até minha orelha e sussurrou. — Porque você não vive sem mim.
A frase apenas me arrancou uma risada, qual ele tampouco ficou para ver. Antes que eu pudesse responder, o garoto me deu as costas, atravessando a rua em direção ao HCS enquanto acenava ainda de costas. Respirei fundo observando sua silhueta afastar. Quando nos separamos, Jeongguk era um garoto. Na verdade, tanto ele quanto eu. Ambos imaturos, mesmo batendo na porta dos 30. Como eu já havia dito antes, dois idiotas. Se passaram 5 anos, e eu havia deixado para trás o garoto. Um garoto que brincava a respeito de tudo, com um temperamento quente e totalmente irresponsável. Agora, eu encontrava um homem, totalmente diferente. Um homem que ainda tinha seus defeitos. Seu temperamento seguia o mesmo parâmetros, mas que agora, sabia honrar suas responsabilidades.
Eu estava confiante em minhas decisões. Não queria me relacionar com ninguém seriamente, mas nesse ritmo, também queria conhecer quem Jeon Jeongguk havia se tornado desde o dia que o deixei até hoje. Até o momento em que colocamos um ponto final naquele passado resolvido. Queria conhecer as suas qualidades e seus defeitos, e aceitar eles. Pois defeitos, até mesmo eu tinha, e como qualquer humano, não gostava de ser julgado por eles.
Com um sorriso idiota no rosto, dei as costas para ele adentrando o hotel. Mas antes encarei o céu, pedindo ajuda a Deus a respeito dos desafios que viriam pela frente, pois talvez, eu fosse bater de frente com minha mãe pela primeira vez.
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