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História Beating Again - Pesadelo


Escrita por: venusjkm

Notas do Autor


Primeiramente, quero avisar que por mais pesada que seja essa parte eu não entrei em detalhes por motivos óbvios. Sendo assim, como podem ver, esse capítulo pouco passou dos 5k. Eu realmente quis ser objetiva e breve, é por isso que vocês vão perceber claramente a pobreza em detalhes. Foi totalmente proposital. Por mais importante que esse capítulo seja, prefiro deixar ele como um capítulo de transição.

As partes em itálico são narrações do Jimin. Ele está contando a história dele, então é como se ele falasse com vocês e com o Jeongguk ao mesmo tempo. Quando lerem irão entender.

Perdão a qualquer erro, eu pesquisei bastante para escrever esse capítulo e como sempre não acho que está muito bom. E também tenho recadinho nas notas finais, por favor, não pulem.

Boa leitura

Capítulo 9 - Pesadelo


Fanfic / Fanfiction Beating Again - Pesadelo

Park Jimin – Sábado. 15:27h

    Eu encarei o céu, sendo agraciado pelo calor do sol que momentaneamente me trouxe paz. Logo, o desconforto tomou conta do meu corpo, fazendo um suspiro escapar dos meus lábios. A última vez que eu falara sobre aquilo com detalhes provavelmente foi com Kato a um bom tempo. Eu encarava Jeongguk e sua expressão curiosa, o mesmo emanando tanto desconforto quanto eu. Estávamos do lado de fora do hospital, na parte de trás, onde havia uma área quase esquecida, e eu me mantive sentado no muro do local por uns bons segundos até formular como começar aquele assunto. Minha cabeça já estava doendo, e era certo de que eu precisaria de um bom tempo sozinho para me acalmar. E talvez até mesmo uma garrafa de vinho.

- Para começar, quero que tenha certeza absoluta de que eu não traí você. Nunca se quer pensei na possibilidade. – Avisei e ele assentiu engolindo em seco. Sabia que se contestasse eu iria dar meia volta de desistir daquilo. – Mesmo durante nosso relacionamento tinha bastante coisa acontecendo. Não sei se foi por causa do meu jeito, porém, ainda assim é estranho que justo você não tenha percebido algo diferente em mim em alguns momentos.

- O que exatamente isso quer dizer? – Perguntou e estalei a língua no céu na boca.

- O quão você conhecia.... ele? – Retruquei sua pergunta com outra, porém ele pareceu não ter entendido me forçando a respirar fundo e dizer aquele maldito nome. – O quão você conhecia.... Shin Hyunjoon?

    Jeon pareceu ter sido pego de surpresa pela questão, e realmente parado para pensar a respeito daquilo. Meu coração batia rápido e eu sentia minhas mãos tremerem ao mesmo ritmo que suavam. Se minha mãe me visse agora, estaria arrasada, sem a menor dúvida.

- Ele era o chefe da cardiologia do hospital. Se não me engano tinha dois filhos e era casado. Um bom profissional.... – Ele coçou a nuca. – Mas depois daquilo, ele se demitiu e nunca mais ouvi falar nele.

- Errado. – Alertei olhando para o céu. – Existe um erro, no que disse. Ele não se demitiu, ele foi demitido no mesmo dia que foi preso. – Dirigi minha visão a si apenas para ver aquela expressão surpresa. – Aquele homem ficou preso por algum tempo, mas.... soube que ele foi solto a uns 3 anos. Desde então, não exerce mais a função de cirurgião. Até porque ele não pode.

      Ele abaixou o olhar parecendo surpreso. Ninguém sabia daquilo naquele hospital, além de Seokjin. Eu nunca sei exatamente por onde começar a contar a minha história; a contar sobre quem era Shin Hyunjoon ou sobre como eu consegui sair vivo de tudo isso. De qualquer forma, seria incorreto dizer que tudo começou naquela noite. Pois foi um efeito dominó, uma peça caindo de cada vez. Até porque ele não me destruiu de uma vez, foi aos poucos. Foi a cada semana; a cada dia. A cada minuto. Levando isso em conta, é mais fácil pegar a história do início, por mais que eu não em lembre quando exatamente ela começa.

     Quando eu tinha 7 anos de idade, meu irmão mais velho, Park Jihyun, foi diagnosticado com miocardiopatia dilatada. Minha mãe havia ficado desesperada. Na época havíamos perdido meu pai a apenas 2 anos, e as coisas não estavam indo muito bem. Meu irmão que estava no auge dos seus 15 anos, não esperava chances de melhora por motivos óbvios: aquela doença se não tratada, poderia matar. E nós não tínhamos dinheiro para trata-la. Contudo a ajuda, veio literalmente de onde menos esperávamos. Em Busan, havia um pequeno hospital, onde meu irmão ficou internado pela primeira vez, e onde conhecemos um médico cirurgião chamado Kim Namjoon.

     Não sei nem expressar com palavras como agradecer aquele homem que pagou todos os custos hospitalares do meu irmão, e quando após 3 anos de tratamento o coração fora encontrado para fazer a bendita cirurgia, ele nos levou para o grande e estimado Hospital Central de Seul para fazer a cirurgia de alto risco.

   Naquele dia, eu não sabia que Kim Namjoon era um cirurgião de prestigio e que tinha dois prêmios de mérito na carreira, eu só o reconhecia como o herói que salvara meu irmão.

    Após a cirurgia, eu o segui pelos corredores. Ele parou, se agachou em minha frente e disse que havia colocado um novo coração no peito de Jihyun, e que agora ele ficaria bem. Na minha cabeça, aquilo era impossível, mas eu acreditei pois era ele falando. Eu ficava imaginando o quão incrível deveria ser colocar um novo coração em alguém; no quão divertido seria ver um coração de verdade, um diferente dos desenhos que estamos acostumados a fazer. Eu imaginava o quão legal seria tratar as pessoas e as fazer ficar tão feliz quanto eu e minha mãe estávamos naquele momento graças a uma operação me sucedida. A última vez que eu vi Kim Namjoon, fora no aeroporto na minha volta para Busan ao lado de minha mãe e meu irmão, quando humildemente ele me deu seu estetoscópio (qual eu guardava até hoje com carinho) e me disse que seria uma honra operar ao meu lado um dia.

       E foi assim que meu grande sonho se tornou ser cirurgião cardíaco. Foi assim que eu estudei durante minha vida inteira para ser o destaque e ingressar num grande hospital.

- Mas essa parte da minha história, você conhece. – Falei dando de ombros. Jeon sabia a imensa admiração que eu nutria por Kim Namjoon e o motivo pelo qual eu era um cirurgião nos dias de hoje. – A questão, é que meu erro provavelmente foi achar que todo cirurgião era bom, como Kim Namjoon. Da mesma forma que um cirurgião plantou um sonho no meu peito, outro o matou. – Eu cocei a nuca ao perceber ao errado na minha fala. – Espera.... não foi meu erro. Eu não tenho culpa de nada disso.

- Jimin, o que estava acontecendo que eu não vi? – Ele perguntou inserto talvez estivesse tendo ideia do que eu estava falando.

     No meu primeiro mês no HCS, eu literalmente, não interagi de forma significativa com ninguém do meu grupo de internos. E aquilo era preocupante para meus superiores de alguma forma. Além de não conversar com ninguém do meu próprio circulo social, eu me embolava para dar noticias para os familiares. A última gafe, fora quando eu disse que o filho de uma mulher tinha morrido e comecei a chorar junto com ela. Naquele dia, eu estava jogado em cima de uma maca na ala esquecida do hospital, imaginando quando eu seria chamado para a sala do chefe e então, expulso do programa de ensino. Soltei um muxoxo cobrindo o braço com a mão, e suspirei em seguida. Eu almejava paz, porém realmente levei um susto quanto meu nome fora chamado.

     Naquela época, eu caracterizava Shin Hyunjoon da mesma forma que todos, pois eu não o conhecia. Então, quando ele me chamara dizendo que queria me ajudar e me treinar para ser um bom cirurgião cardíaco, fora um dos dias mais felizes de toda a minha vida. Me lembro que naquele dia, eu liguei para minha mãe com tremendo entusiasmo.

    Mas eu não me lembro quando descobri quem realmente era Shin Hyunjoon.

     Não lembro em qual sala foi. Ou em que andar. Muito menos o dia, pois ocorreram tantas vezes que tampouco importava como foi a primeira vez. Eram os mesmos toques, as mesmas palavras e insinuações que faziam meu corpo tremer de medo. E não tinha escapatória; eu não tinha voz. Era apenas o interno que estudava muito, auxiliava bem as cirurgias, porém não falava com ninguém. Também não me lembro quando foi que para todos no hospital, Hyunjoon se tornou o meu protetor. Se tornou o homem bonzinho que estava treinando o interno antissocial. E foi a partir desse momento, em que eu tive certeza que estava no fundo do poço. Pois não adiantava pedir para parar, pois quanto mais desconfortável eu estava, mais feliz ele ficava. E eu não tinha ninguém para contar, pois era insignificante naquele local.

  A verdade, é que eu custei para aceitar, que não fora um acidente. Eu perdi a conta de vezes em que eu fui assediado, e acreditei que era apenas um acidente. Que na verdade, ele não queria ter feito aquilo. Eu abafei todas as insinuações na minha cabeça, fingia que não era comigo, que era normal. Mas não era. Aquelas palavras, aqueles toques, não era acidentes. Mas chegou um momento, que quando me dei conta, se tornou rotineiro voltar para casa chorando. Quando me dei conta, havia me habituado aquela sensação.

 Quando me dei conta, ser sozinho se tornou um sufoco, pois na minha cabeça, quanto mais sozinho eu estava, mais chances de ele aparecer tinha.

    Quando me dei conta, a cardiologia que era meu sonho, havia se tornado meu pesadelo. Pois ser cardiologista, significava passar mais tempo com ele.

- Sabe.... as vezes me pergunto, como ninguém percebeu, que num momento da minha vida, eu simplesmente larguei a cardiologia. Como ninguém percebeu que eu passei a fugir daquilo que eu mais falava. – Eu já não o encarava diretamente. Até porque, não conseguia. – Eu me abriguei na neurologia, por que a partir de um certo tempo, eu tinha você lá. Deu incrivelmente certo, ele parou de me incomodar. Mas nós nem sempre escolhemos os casos que vamos pegar então.... – Eu dei de ombros sentindo meus olhos arderem. – Era como um inferno. Sem escapatória.

- Eu.... – Tomei forças para finalmente o encarar e não estava surpreso com sua reação. Ele andava de um lado para o outro com a mão na boca. Os olhos estavam vermelhos, mas ele não chorava. – Eu nem sei o que dizer.... P-Por que não me contou? Eu iria te ajudar! Você sabe que sim!

- Não, não sei. Eu não cheguei na pior parte. – Engoli em seco secando as mãos suadas na camisa. – Até um certo ponto Jeongguk, eu realmente acreditei que se eu te contasse você iria me ajudar. Mas quando eu finalmente tive forças para o fazer, você virou as costas para mim. – Respirei fundo, aquele contato visual estava acabando comigo.  – Então, não. Eu não sei.

    Ele ficou em silêncio e eu apenas o deixei absorver aquela parte. A verdade, é que contar minha história não levava muito tempo. Pois eram simples os fatos, e se não fosse pela dificuldade de as palavras saírem da minha garganta ou de minha mente as organizar, eu não demoraria mais que 10 minutos para explicar a Jeongguk. Mas além da minha própria dificuldade, eu sabia que Jeon iria falar. Ele precisava assimilar, e independente da situação, eu sabia que aquilo lhe afetava. Que estava doendo nele. Pois dentre tantas coisas que eu deixei de acreditar, eu acreditava que ele ainda sentia amor e afeto por mim. Mas isso não muda o fato de que ele errou, e que naquele instante, ele finalmente entendeu como me machucou.

- Por que.... nunca denunciou? – Engoliu em seco, eu via suas mãos tremendo, só não sabia exatamente a razão: tristeza ou raiva. Talvez os dois. Entretanto, a questão abordada me fez rir, porém, sem humor algum no tom. Aquela fora a mesma pergunta que o policial me fez, minha mãe, doutora Kato e meu irmão. Todos questionavam o óbvio.

- Em quem você acha que acreditariam? Qual discurso era mais relevante? – Novamente retruquei sua pergunta com outra. – No interno quieto e opaco ou no cirurgião renomado amado por todos por ser extremamente gentil e amigo? Você mesmo o conheceu! Sabia que aos olhos de todos ele era um anjo. – Jeon não contestou. – Sem contar que é assim que as coisas funcionam. Sabe como me chamam no hospital? Aproveitador. Dizem que eu fiquei com ele para ganhar pontos na cardio. – A primeira lágrima que desceu por minha bochecha foi totalmente involuntária. Eu realmente não ligava para o que diziam. Mas não mudava o fato de que doía bem no fundo, independente do quanto eu negasse. – Você tem ideia do quanto isso doeu na época? Ouvir da sua boca a mesma coisa?

     Ele congelou momentaneamente. Pois eu quebrei de certa forma a ordem cronológica das coisas. Eu sabia que Jeon estava tentando não enxergar a verdade, por mais que no fundo soubesse de tudo. Como já dito, doía nele, e isso é inegável. Naquele instante, ele finalmente deu sinais que de que iria chorar. E eu decidi que deveria apressar as coisas.

- Eu disse que você se tornou meu escape. – Respirei fundo novamente. – Quando começamos a namorar, ele me deixou em paz. Por um tempo. Mas, você acredita que ele teve a coragem de dizer que estava com ciúmes? – Eu franzi os lábios. – Ele teve a coragem de ameaçar você. E é assim que entra o principal motivo pelo qual eu nunca te contei nada.

- Ele me ameaçou...? – Repetiu com a voz embriagada. As lagrimas desceram de forma silenciosa e ele sequer fez questão de tentar esconder. – Você.... você aguentou tudo isso por minha causa?

- Não se preocupe, não te culpo por isso. Além de também não me arrepender. – Abracei meu próprio corpo. – Não sei se foi ingenuidade, mas eu realmente me assustei quando ele te ameaçou. Eu.... não queria que mais ninguém se machucasse, preferia que ele me machucasse mil vezes á o ver tocar num fio de cabelo seu. Então eu me calei e guardei para mim. Pelo menos até aquele dia.

     Eu me lembrava daquele dia. Quando ele me puxou pelo braço e disse que se eu contasse a alguém ele iria injetar tanto potássio na veia de Jeongguk que nem o melhor cirurgião cardíaco do mundo poderia o salvar. Naquele dia, eu chorei até pegar no sono. Aquele homem já havia me machucado tanto, que não importava se ele estava blefando ou só dizendo a primeira coisa que lhe veio à mente para me manter do seu lado e de boca calada. Eu tinha imenso medo, e esperava de tudo vindo dele. Mas por incrível que pareça, nunca imaginei que ele chegaria aquele nível. Que ele me machucaria daquela forma.

    É dessa forma que chego a parte final da minha história. E para ser sincero, realmente considero final pois tenho a impressão que a partir dali, não escrevi na para complementar ela; como um hiato, mas sem previsão de volta. Eu constantemente sinto como se não respirasse da forma de devida. E se estou nessa terra, é por amor aos outros não a mim. Eu posso ter uma aura de superioridade, mas é apenas para que eu seja respeitado ao contrário do que ocorreu no decorrer de tantos anos da minha vida. Independente do quão eu saiba que nada do ocorreu fosse culpa minha, fora impossível não criar minha própria barreira. Pois eu prometi a mim mesmo que nunca seria imponente. Prometi que teria voz a respeito do meu envolto.

- Você se lembra que saiu mais cedo que eu naquele dia, certo? – Perguntei e ele assentiu. – Você foi para casa primeiro, mas pouco minutos depois entrou um paciente com parada cardiorrespiratória devido a uma doença, e ele me designou como seu interno. – Minha boca estava seca, e eu foquei no céu pela milésima vez durante aquele diálogo em busca de alguma força superior. Afinal, eu de alguma forma ainda era supersticioso. – Shin Seojin sempre gostou de você, e você sabia disso. Acho que na situação, ela achou uma oportunidade de separar a gente. Mas ainda é surpreendente o fato de que deu muito certo. Ela viu uma cena distorcida, e as vezes penso que se eu estivesse no lugar dela teria pensado a mesma coisa. Contudo não muda o fato de que ela estava errada, e foi esse erro que possivelmente piorou a minha situação. Uma simples ligação fez tudo ruir. Não acha estranho ela ter se demitido um tempo depois? Joohyun me enviou uma mensagem dizendo que ela se sentia culpada.

- A Joohyun.... ela sabe?

- Ela sabe tudo que o Seokjin sabe. Ela é outra pessoa que estava comigo naquele dia.

     Eu respirei fundo. Queria não ter guardado rancor de Seojin, mas era impossível. Até porque se ela tivesse evitado aquela ligação e não se metido na vida alheia muita coisa teria sido evitada. Entretanto, Jeongguk ter acreditado tão fielmente em apenas uma ligação era pior do que o fato dela ter ligado.

     Naquela noite, tudo deu errado de diversas formas. Um conjunto de ações erradas alheias repercutiram em mim. E foi quando eu conheci a dor.

–  Pois naquela noite, eu me perdi numa profunda agonia que nunca sumiu e sim dissipou.

     Eu lembro quando eu fui bipado. Fora por volta das 2:00 da manhã, e havia acabado de chegar um caso de acidente de trânsito no trauma e todos estavam ocupados, mas como eu estava responsável pelo homem que havia tido uma parada cardíaca, não pude fazer nada a não ser manter meu caso até que então fosse designado a outro. Devido a isso, era totalmente natural que eu fosse exatamente para onde Shin Hyunjoon me mandara ir. E eu estava tão cansado dele. Foi o primeiro dia em que eu cheguei no meu limite e demonstrei isso claramente a ele.

    E voltando ao conceito inicial dessa narrativa, quando ele me bipou eu me dirigi até o quarto no qual ele estava descansando. Aquele ciclo cansativo se iniciou novamente; entre quatro paredes, onde eu era obrigado a ouvir diversas piadas, onde eu era obrigado a permitir ser tocado por alguém qual eu sentia apenas repulsa. Mas eu cansei, e foi quando eu decidi que não deixaria as coisas daquela forma. Foi quando eu resolvi colocar fé na pessoa qual havia confiado tudo que eu tinha e pedir ajuda. Dentro de mim, o medo de que ele machucasse Jeongguk ainda era presente, mas eu senti que precisava pensar em mim e não me submeter mais aquele tipo de tortura. Eu senti que precisava ter voz.

     Eu pedi para que parasse, disse que iria contar tudo a todos. Que iria o denunciar. A minha voz, pela primeira vez, havia sido firme contra si. Mas por dentro, eu sentia um imenso medo. Contudo sentia que era meu momento de ser forte.

    Mas hoje, não sei se fiz a coisa certa. E por mais que não tenha sido minha culpa, eu ainda sinto que se tivesse mantido minha boca calada as coisas poderiam ter acabado de forma melhor.

    Naquela noite, Shin Hyunjoon me matou.

    Não de forma literal. Pois meu coração ainda batia, mas eu não estava mais ali. A minha alma estava a deriva e eu não sentia mais nada. Eu lembro de ter tido forças para gritar por ajuda uma vez antes de ter sua mão tampando a minha boca. Mas depois sequer foi necessário, eu já não estava mais ali. Eu sentia tudo. Mas não reagia a nada. A cada segundo, eu fui morto lentamente. E a cada movimento seu, eu perdia uma parte de mim.

  Eu perdi a noção do tempo. Quando me dei conta eu estava sozinho naquele quarto. Meu corpo doía, mas não tanto quanto minha alma. Eu encarava o teto e chorava de forma involuntária. As minhas memórias me massacravam aos poucos. Todas as expressões, todas as falas estavam vivas em minha mente. Eu me sentia sujo. Desprezível. Foi a primeira vez que eu verdadeiramente quis morrer. Eu queria sumir. Para deixar de sentir aquela dor alastrante que se abrigava dentro de mim.

     Não me recordo quando tive forças para sair daquele quarto. As minhas pernas se moviam sem rumo e minha mente estava nublada repassando tudo de ruim que me acontecera. Eu ficava imaginando coisas que eu poderia ter feito para evitar. Imaginava que seria mais fácil ter entrado de vez na sala da chefe e sair do programa para fugir desse pesadelo. Pois eu me culpava. Me culpava por ser tímido. Me culpava por não ter voz ativa. Me culpava por ser eu mesmo. Por ter o atraído. Eu me culpava pela minha própria existência e pela existência dele.

­- Eu lembro que o quarto era na frente da cabine das enfermeiras. E que Seojin estava lá. – Ainda olhando para o céu eu juntava forças para continuar a formular palavras. Entretanto, em algum momento durante a narrativa, as lágrimas começaram a descer com força. – Eu lembro de tudo. Sem nenhum segundo se quer escapar de minha mente; quando sonho com ele, são os piores pesadelos. – Evitei olhar para Jeongguk durante todo aquele momento, pois provavelmente se o olhasse, não conseguiria falar. – Quando eu saí do quarto, em algum momento eu consegui encontrar Seokjin que por alguma razão também estava me procurando. Eu estava tão abalado que não disse nada, foi quando minhas pernas perderam a força e ele percebeu que tinha algo errado. Algo muito errado.

     Lembro de Seokjin dizer que eu estava sem brilho nos olhos. Em algum momento, ele me arrastou para um quarto do hospital e chamou Joohyun. Eu não dizia nada, mas ele parecia sentir o que havia acontecido. Eu não conseguia parar de chorar e essa é uma das poucas coisas na quais tenho certeza que ocorreram após tudo. Eu lembro da minha vista turva por conta das lágrimas enquanto eu estava encolhido na cama e Seokjin e Joohyun discutiam sobre o que fazer. Me lembro de Joohyun se agachar em minha frente e perguntar o que havia acontecido enquanto inutilmente limpava as lágrimas que não paravam de descer.

    Lembro de Seokjin estar desesperado ligando para Jeongguk e dar desligado nas milhares de vezes qual ligou.

     Também me lembro de a chefe de cirurgia entrar no quarto aflita, fazendo as mesmas perguntas que Joohyun e Seokjin. Mas eu não tinha voz, e dessa vez, não digo num sentido figurativo. Eu realmente não conseguia dizer nada. As ameaças dele nunca me assustaram tanto. A frase ‘se contar sobre isso a alguém, acabo com você’ nunca me aterrorizaram tanto. Pois naquele dia, eu soube que não era da boca para fora. Que se ele quisesse, iria mesmo acabar comigo. Da mesma forma que havia feito a poucos minutos atrás.

   Lembro de Lee Yeonmin levar um susto ao encontrar a marca vermelha de uma mão no meu pescoço. A marca da mão dele, cravada em minha pele. Como uma forma de me fazer lembrar do pior momento de toda a minha vida. Lembro dela levantar minha blusa e ver todos os hematomas que ele havia deixado ali. Eu se quer tinha forças para impedir que fizessem qualquer coisa.

    Contudo, não faço a menor ideia de como tive forças para dizer o nome dele.

    Lembro do rosto de Seokjin fechar. Até hoje, não consigo decifrar a sua expressão no momento em que contei quem havia feito aquilo comigo. Não dava para discernir entre ódio e nojo, além de outras coisas. Naquele momento, Yeonmin me abraçou e Joohyun ligou para a polícia. As cenas passam rápido pela minha mente, e por mais que eu lembre de tudo, a cada instante eu me sentia atônico. Os sons pareciam distantes na minha cabeça e a cada segundo eu sentia vontade de correr até a sacada e me jogar de lá.

   Mas haviam poucas coisas que me prendiam nesse plano. Acima de tudo, eu me permitia pensar além de mim independente da situação, e isso me impedia de ir embora sem ver a minha mãe por uma última vez. Sem deixar com que ela cuidasse de mim até o momento em que realmente fosse insuportável. E no fundo eu tinha esperanças de que minha dor fosse amenizada, pois além dela, eu tinha Jeongguk. E eu me recusava a ir sem lhe abraçar uma última vez. Sem ouvir sua voz.

     Jeongguk era minha esperança para que conseguisse me recuperar de alguma forma. Pois eu sabia que aquilo nunca iria se apagar, mas eu o queria do meu lado para me reerguer. Porém, essa foi a segunda coisa da qual eu não esperava que fosse acontecer. Sem dúvida, não estava nos meus planos que Jeongguk também viraria as costas para mim.

- Após eu prestar queixa na delegacia e ele ter sido preso, Seokjin me deu carona para casa. Eu precisava tanto de você, Jeongguk. Tanto. Precisava que você cuidasse de mim. Que me ouvisse da mesma forma que está fazendo agora. Era isso que eu precisava, pois eu estava quebrado. De uma forma que eu nunca imaginei que ficaria. E eu sabia que não tinha conserto. – A minha mão segurava com força o muro no qual estava sentado, apenas pera me dar sustento. – Mas você me deixou. Naquela noite, quando eu cheguei em casa você conseguiu me fazer acreditar que a culpa era minha. Você me fez acreditar, que durante todo aquele tempo, a culpa era totalmente minha. Você me disse que eu fiz aquilo pela carreira. Que eu não tinha talento algum, e que a única forma de me manter no programa fora assim. – A cada palavra, eu conseguia ouvir aquelas frases dolorosas vindo da boca dele mais uma vez em forma de memória, bem clara em minha mente. – Você me xingou dos nomes mais baixos possíveis. Disse que eu era um erro e apenas um qualquer. – Agora minhas mãos tremiam, e eu necessitei fechar os olhos. Era como me aprofundar de vez naquela noite. – Mas sabe.... uma das coisas que mais doeram, foi ouvir você dizer que já esperava. Por que eu fiquei com a ideia de que eu realmente era tudo que você disse a partir dali. A sua opinião sobre mim, era como a voz de Deus naquela época. Na minha mente, aquilo era o que todos pensavam de mim. Era o que eu aparentava ser, independente de ser verdade ou não. Você me quebrou, mas foram com palavras. Foi quando você virou as costas para mim e acreditou fielmente em qualquer coisa que lhe disseram. Foi quando você deu a entender, que tudo que eu passei durante aqueles anos e aquela noite, fora por minha culpa. E não faz ideia do quão difícil é tirar isso da mente. Pois você só aumentou o que eu já achava.

       Eu não ousava dizer uma coisa se quer. Mas também não conseguia o fazer. Havia perdido minha voz a muito tempo atrás. Eu não tinha forças para retrucar nada do que ele estava dizendo. Eu só sentia com se outra parte de mim fosse levada. Como se meu coração estivesse em puros estilhaços e nem o melhor artesão conseguiria o refazer. A cada palavra, Jeon Jeongguk me deixava sem chão. A cada palavra, e tirava o pouco do meu próprio eu que havia restado.

      Eu sentia o cheiro da bebida oriundo de si, da mesma forma que observava aquelas expressões que eu nunca tinha visto antes. Nunca tinha visto Jeon no fundo do poço.

      Lembro de estar sem reação quando fechei a porta do apartamento e segui em direção a saída no momento em que Jeongguk seguiu para o quarto do local. Eu não chorava ou gritava. A única coisa que fazia, era deixar minhas pernas seguirem um caminho aleatório pelas ruas frias de Seul. Contudo, foi um ato totalmente racional ligar par Seokjin e pedir para que ele fosse ajudar Jeongguk, pois independente da dor que ele havia conseguido aumentar naquele momento, eu ainda o amava e tinha profundo medo do que ele podia fazer apenas por minha culpa.

       Naquela noite, eu não fui a lugar algum. Não conseguia forças para ir a qualquer hotel. Eu ouvia meu telefone tocar durante toda a madrugada com os mesmos contatos brilhando na tela, entretanto, nenhuma das vezes fora o nome Jeongguk que me apareceu. Aquela madrugada, eu passei encolhido num banco de uma praça com o rosto entre os joelhos. Da mesma forma que antes, não chorava ou gritava. Tudo que havia me acontecido, ficava passando com um flashback lentamente, me torturando com um pesadelo. Um pesadelo qual eu não necessitava fechar os olhos para ver.

     Apenas pela manhã, lembro de conseguir forças para ir a algum hotel. Mas eu não sabia o que fazer a partir dali. Não tinha mais objetivos, ou ambições. Ser cirurgião, se tornara banal. E na segunda noite, fora quando eu tentei me matar pela primeira vez.

- Eu tentei me jogar do Rio Han naquele dia. Os carros passando, e eu com a mesma roupa do hospital que usava no mesmo momento em que tudo desandou. E meu celular na mão. Eu não tinha nada a perder, ou fora isso que eu pensava naquele momento. – Respirei fundo abrindo os olhos, novamente focando no céu. – Foi quando minha mãe me ligou. E esse fora o único motivo pelo qual eu desisti daquilo. Pois eu percebi que eu não tinha nada a perder, mas se eu morresse naquele momento, ela teria. E eu não queria a fazer sofrer independente da dor que eu sentia naquele instante. Eu lembro de desligar o celular e voltar para o hotel, fora quando eu finalmente voltei a mim e comecei a raciocinar um pouco. Comprei roupas com o cartão de crédito, e me desliguei do mundo. Fiquei trancado naquele quarto por uma semana inteira, sem falar nada com ninguém. Evitando o máximo que dava dormir para não ter pesadelos. Todo dia, eu queria morrer. Pensava em várias formas possíveis. Mas sempre que pensava nisso, lembrava da minha mãe. Ela é a única coisa que me prende aqui até hoje. E naquela mesma semana, eu finalmente liguei meu celular. E dentre as diversas mensagens de Seokjin e Joohyun, havia uma de Kwon Nara. Mas não como minha amiga, e sim como sua advogada falando sobre quando eu poderia ir assinar os papéis do divórcio.

     Me lembro que naquele dia, eu chorei muito. Pois de alguma forma, no fundo, eu sentia que poderia voltar para Jeongguk. Mas quando recebi aquela intimação foi que eu tive a certeza de que eu não conseguiria o perdoar. Da mesma forma que ele nunca me perdoaria. Respirei fundo, não achava necessário aprofundar sobre como foi a minha recuperação perante tudo aquilo, pelo menos não naquela oportunidade. Pois minha cabeça já estava me massacrando o bastante. A doutora Kato me pede para evitar falar não numa questão de nunca falar, e sim de falar apenas quando necessário. Pois me machuca, e por mais que eu já esteja mais apto do que antes, não é algo que se fala para qualquer pessoa.

 A partir do momento em que conheci vovô e o Jackson, eu ganhei forças para ir para Busan. Dali começou meu tratamento, e consequentemente melhora. Não foi fácil, meus pesadelos me rondavam e a cada melhora eu encontrava um novo obstáculo e fora com muito esforço que cheguei aqui. Contudo, cheguei realmente ao meu limite em relação narração hoje. Sem contar que eu alcancei meu objetivo com exito, e consegui contar a Jeongguk a verdade.

- Acho.... acho que já disse o que você queria saber. Foi isso que aconteceu naquela noite, essa é a verdade Jeongguk. E como eu disse, eu nunca traí você. – Naquele instante, eu finalmente consegui o olhar e ver a sua expressão opaca. Ele não esboçava nada, contudo, as lágrimas que tanto havia prendido estavam ali, livres. – E sabe, eu posso ser tão sujo quanto você diz. Mas eu juro, que não foi porque eu quis.


Notas Finais


Eh isto gente, foi o melhor que eu consegui. Pois isso me machucou muito escrever. É uma grande realidade o caso retratado, e eu não queria pecar ao falar sobre ele. Com isso, me limitei ao básico e não me arrependo. Por mais que tenha me afundado ao buscar relatos, nunca são as mesmas coisas. Eu retratei os sentimentos do meu personagem de acordo com a personalidade dele.

Também queria dizer que se você passa ou já passou por casos com esse, por favor, não deixe de denunciar. Saiba que não está sozinha(o), e que felizmente a sociedade hoje está mais acordada a abraçar e levar em consideração a sua denuncia por mais difícil que seja. Eu amo muito vocês e irei sempre zelar pela segurança de cada por mais que não os conheça, pois vocês me salvam a cada dia por mais que não saibam.

Também queria pedir sugestões de hashtag em relação a fanfic para vocês comentarem no twitter já que alguns me disseram ser uma boa ideia. Por hoje, usem a hashtag #BeatingAgain09 já que não temos um definida.

Eu já peço desculpas do fundo do meu coração caso haja algo errado. Esse capítulo é muito sério e eu estou com o coração na mãe em postar ele (sério).

Se cuidem, bebam água e se alimentem bem. Aos estudantes, final de ano né? Não se cobrem demais, as notas não definem você e sua capacidade. Vocês são incríveis. Amo vocês do fundo do coração, qualquer coisinha me chamem no twitter: @leviackmin que eu irei de prontidão escutar vocês. Obrigada por tudo, e um beijão.


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