História Beautiful Crime - Badass

Ao se levantar, Lydia é ajudada por Mitch em tirar os aparelhos que colocaram nela. Ele entrega a um dos homens que estava com ele na mesa de computadores e logo o homem sai, deixando-os sozinhos por alguns segundos, até Irene e Hawkins se aproximarem.

— Golpe baixo — Lydia fala ao mesmo tempo que amarra o cabelo em um coque bagunçado.

— Eu vomitei quando passei por isso, você se saiu bem — Hawkins brinca, mas recebe o olhar em que todos o repreendem sem muito esforço — Desculpe, não foi por mal.

— Quem ela colocou no holograma? — Mitch pergunta voltando a prestar atenção no verdadeiro assunto.

— Hernandez. — Irene parece fria em suas palavras, sem vergonha nenhuma do que causou a Lydia — Você colocou razão acima da emoção. Ótimo, Lydia.

— Você colocou Hernandez? O homem que a bateu, a torturou, você quer foder com a cabeça dela? — Mitch esbraveja, cerrando os olhos.

— Mitch, está tudo bem. — Lydia que está ao lado dele, o olha. Porém, Mitch parece que vai torrar Irene com os olhos de tanta raiva que sente da mulher.

Lydia reconhece que colocar Hernandez em forma de holograma é um teste perfeito. Se ela se soltasse em lágrimas e desespero seria um argumento vivo para ela não seguir em frente como agente. Se sente aliviada por ter colocado a força que ela possui acima de seu trauma, mesmo que no fundo as lembranças ainda a atinjam.

— Não, Mitch. Eu não quero mexer com a cabeça dela, esses testes são frios mas são precisos, você sabe muito bem disso. — Irene se defende — Pare de tratá-la como uma criança.

Ele coloca a mão na cintura, tenta falar alguma coisa, mas bufa sendo vencido pelo argumento de Irene. Se chateia da forma que ela fez, mas não consegue evitar de se sentir orgulho de Lydia por ter enfrentado um trauma.

— Como eu imaginei — Irene debocha de Mitch e se retira, deixando Hawkins, Lydia e ele sozinhos.

— Eu realmente vomitei na primeira vez, então, bom trabalho Lyds. — Hawkins volta ao seu comentário inicial, fazendo Lydia sorrir.

Mitch não deixa de apreciar o pequeno momento de cumplicidade entre Hawkins e Lydia. Sempre se perguntou porque ele a tratava tão mal, com tanta indiferença. As coisas mudaram não só entre eles dois, mas também para Mitch e ele. Estão mais próximos e qualquer tipo de provocação evaporou como poeira na relação deles.

— Não vou negar que estou com vontade — Lydia fala, gesticulando como se fosse vomitar e assim faz Hawkins pular pra trás — Brincadeira — Ela dá de ombros e Mitch sorri com o jeitinho dela.

— Então, como foi o treino hoje? — Mitch pergunta.

— Ela me derrubou acho que dez vezes — Hawkins responde, dando um tapinha leve nas costas de Lydia — Sua garota está se saindo bem, Rapp.

— Ela não é minha garota.

— Eu não sou a garota dele.

Lydia e Mitch falam em uníssono e logo se entreolham, envergonhados.

— Sei — Hawkins estende a palavra e brinca — Começa assim, gafanhotos.

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  O ambiente da lanchonete está calmo, com poucas pessoas. É possível ouvir alguns burburinhos ao redor de Hawkins, Lydia e Mitch enquanto eles conversam animadamente. Mitch e Lydia estão sentados um do lado do outro enquanto Nicolas está do outro lado devorando sua batata frita ao mesmo tempo que os outros dois comem sanduíche.

Nunca na vida que Mitch e Hawkins imaginariam estar nessa situação amigável. Antes era Hawkins por si e Mitch e Lydia como um só. Agora estão conversando e se socializando de uma maneira amigável que deixa tudo se tornar confortável.

— Ok, eu tenho uma piada. — Hawkins se espreguiça na cadeira de maneira debochada e esfrega as duas mãos se preparando. Mitch e Lydia riem, porém somente Mitch revira os olhos. — O que foi? Eu nem contei!

— Vá em frente — Rapp coloca os cotovelos apoiados na mesa.

— A avaliação do Uber estava dando ruim, qual o nome do filme? — Hawkins joga a incógnita.

A ruiva e Mitch colocam o cérebro pra pensar em uma piada provavelmente tosca, mas se esforçam pra responder a pergunta de Nicolas, que os encara esperando a resposta.

— A culpa é das estrelas, gente! Vocês são incrivelmente ruins nisso!

— Meu Deus! — Lydia gargalha, colocando a mão na boca.

— Hawkins, pelo amor de Deus! — Mitch fala no meio de uma pequena risada e se encosta na cadeira sem acreditar no nível de piada — Porque você não trabalha como comediante?

— Acredite em mim, eu tentei! — Hawkins se defende, rindo.

A atmosfera amigável e engraçada entre é construída enquanto todos riem.

Porém é cortada urgentemente com uma pequena gritaria dentro da lanchonete. Os três se entreolham e logo procuram o motivo do escândalo e ao olharem para a porta de entrada percebem um homem armado com uma pistola apontando aleatoriamente para as pessoas.

Todo mundo começa se espalhar pelo lugar para se desvencilhar da aproximação do bandido, enquanto gritam e imploram para o homem não fazer nada.

— Todo mundo no chão!

O assaltante esbraveja e por mais que os agentes sejam mais preparados para essas coisas, fazem o que ele pede. Os três pensam nas inúmeras pessoas inocentes que estão ali e atacar seria pior pra todos.

  O clima está pesado e tenso. Provavelmente todos ali deixam o medo escapar pela transpiração e pelos suspiros ofegantes. Alguns protegem os filhos, idosos estão retraídos no chão, todos estão abaixados sentindo o medo do pior acontecer.

Todos observam o assaltante se dirigir ao caixa da lanchonete e apontar a arma pra cabeça da atendente que está horrorizada com a ameaça.

— Eu quero tudo que você tiver ai! — O homem de pele branca e vestido por roupas pretas ordena com violência, dando uma leve coronhada na testa da trabalhadora — Anda, vadia!

A mulher se apressa para fazer o que o homem pede e vai colocando tudo em cima do balcão enquanto o criminoso verifica a movimentação das pessoas que estão sentadas no chão.

Ao seus olhos bater em Lydia e virar, é ela que se revolta com o que o homem faz. Odeia essa situação de ver pessoas inocentes a mercê de bandidos e isso faz com que seu sangue ferva e ela sinta vontade de fazer algo pra defendê-los.

— Não. — Mitch segura a mão dela ao perceber uma movimentação de Lydia — Não agora. Olhe.

Mitch faz sinal para o lado de fora e percebe um carro da polícia parando em frente a lanchonete.

— Merda!

O assaltante se irrita e em fração de segundos, puxa a atendente pelos cabelos e a atravessa com violência pela bancada que os separava. A mulher grita de dor e logo se vê presa com o braço dele em sua garganta e arma apontada lateralmente pra cabeça dela. Ela é refém e o perigo se estende mais ainda pela lanchonete.

— Por favor, não me machuque! — A loira suplica em desespero enquanto chora.

— Cala boca! — O assaltante grita, aumentando a pressão do cano na cabeça dela e todos podem perceber isso — Se alguém se mexer, eu atiro!

Mitch, Hawkins e Lydia se entreolham. Eles se sentem capazes de ajudar, podem ajudar, mas tudo requer cuidado por causa da refém.

— O que a gente faz? — Lydia sussurra para os dois

— Vocês, calem a boca! — O assaltante tira a arma da cabeça da loira e aponta para os três, que não fazem nada.

— Você não precisa fazer isso, sabe disso.

Lydia quebra o silêncio após a ordem dele e recebe a atenção que desejava do assaltante. Todos estão tremendo, encarando a cena incrédulos. Mitch e Hawkins se encaram inseguros com o que Lydia pode fazer, mas não há nada pra se fazer.

— E quem é você, ruivinha? — Ele pergunta, rindo.

— Ninguém. — Ela responde.

Lydia se movimenta lentamente e vai se levantando.

— Fica no chão! — O assaltante grita, apontando pra Lydia.

— Podemos negociar! — A voz de um dos policiais sai pelo auto falante do lado de fora.

— Você realmente quer ser preso? — Lydia já está levantada com as mãos levantadas como sinal de refém. — Não precisa fazer isso.

O assaltante não responde, ele parece pensativo. Mas urgentemente empurra a atendente com violência e mira a arma pra Lydia.

Martin sente seu sangue congelar em suas veias. O terror a atinge com uma força angustiante, mas ela respira fundo e engole novamente para dentro, implorando por coragem.

O instinto de segurança de Mitch se engrena de um modo rápido e antes que ele pudesse se levantar, Hawkins segura o braço dele o impulsionando pra ficar do jeito que estava.

— Deixe. — Ele somente pede baixinho.

— Mas… — Mitch reluta.

— Apenas deixe.

Ao voltar o olhar pra Lydia, Mitch observa ela ainda parada. Ele está tão nervoso que sente seus olhos marejarem por vê-la em perigo. O medo de algo ruim acontecer com ela faz seu cérebro embaralhar.

— Eu disse pra ficar quieta, você me parece ser teimosa.

O assaltante se aproxima dela. Lydia finalmente pode vê-lo de perto. Os olhos verdes dele estão praticamente pulando pra fora de tão nervoso que ele está. O rosto dele está molhado de suor e logo ela percebe a insegurança nele.

— Acho que você confundiu teimosia com coragem.

Em um piscar de olhos tudo se tornou urgente pra Lydia. Ela segura o pulso do assaltante do homem com força e antes que ele pudesse atirar, impulsiona o braço dele pra cima e logo o tiro é estrondante pra todos ali, fazendo todos se retraírem com o susto. O homem a encara, olho no olho, com ódio, enquanto Lydia continua forçando o braço dele contra a força que ele mesmo faz para abaixar.

A força dele é compatível com a dela, mas logo Lydia usa da agilidade e usa o joelho para atingi-lo na barriga com força, fazendo-o arfar. Logo depois, usa de sua mão livre e soca ele pelo queixo fazendo-o enfraquecer e cambalear pra trás, soltando a arma que cai no chão.

Antes que ele pudesse, mesmo com dor, atacá-la, Lydia pega a pistola que era dele e coloca em direção ao homem. Lydia está com todo seu corpo pulsando em urgência por sentir a adrenalina que o momento sugou dela. Seu coração está acelerado como se fosse sair pela boca.

— Vadia — O assaltante ri nervoso.

— Mais uma palavra e eu miro certinho na sua boca — Ela fala calma, mas com tanto poder e determinação na voz que o faz se retrair — Pra trás. — Lydia começa a andar, da mesma maneira que ele segue andando de costas olhando de vez em quando pra trás.

Ao chegar na porta, o assaltante abre a porta ainda sob a mira de Lydia e quando vê, ambos já estão do lado de fora. Muitos encaram o acontecimento por curiosidade.

— Boa estadia. — Ela debocha e logo após, o assaltante é segurado por um policial e levado para o carro, enquanto o outro se dirige a Lydia e pega a arma do bandido.

— Meu Deus, eu amo mulheres — O policial diz, olhando para Lydia.

Ela sorri e observa o homem fardado se afastar. Somente havia um carro de polícia e logo sai com o bandido na parte traseira, que fulmina Lydia com o olhar.

Ao olhar pra trás, vê Mitch e Hawkins na porta da lanchonete.

— Ela está preparada. — Mitch fala baixinho pra o amigo, sem tirar os olhos da ruiva.

— 100% — Hawkins concorda, cruzando os braços.

Lydia sorri para os dois, feliz com o que acabou de fazer. Alguns minutos atrás se sentia confusa e dividida em relação ao que fazer, mas logo percebeu que seu instinto estava correto e logo ela se sentiu decidida em que atitude tomar. Uma situação como essa a deixou extremamente orgulhosa de si própria e o sentimento de familiaridade de momentos como esse tomou conta de sua alma.

Se em algum momento ela se questionou se realmente isso era pra ela, agora Lydia tem certeza que é isso que ela quer fazer.

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Lydia e Mitch entram no apartamento em um silêncio momentâneo, já que passaram o tempo inteiro, desde que saíram da lanchonete, conversando.

Ela deseja mais do que qualquer coisa tirar a roupa que está vestindo, mas sente vergonha pelo fato de Mitch estar ali. O calor está consumindo seu corpo e logo se dirige pra janela para tomar um vento e a abre. Ao lado de fora, tem uma escada que começa no térreo do prédio e segue até o último andar em forma de ziguezague. Assim, Lydia se senta com uma perna para o lado de fora, com o pé pisando na superfície de metal e o outro pro lado de dentro.

— Você está bem? — Mitch pergunta, se aproximando dela. Ele passa por cima e vai pro lado de fora, se sentando no degrau da escada um pouco mais atrás da ruiva. Logo sente um vento atingir seu corpo e rapidamente se alivia com o clima gostoso.

Mitch observa a visão que que tem. Consegue ver os carros passando na rua e as pessoas caminhando enquanto conversam animadamente.

— Eu realmente fiz aquilo? — A ficha de Lydia parece não ter caído ainda, fazendo ela perguntar isso. Ela se levanta da divisória e se dirige até Mitch, se sentando ao lado dele na escada preta.

— Sim, você fez. — Mitch dá um empurrão com o braço em Lydia de maneira delicada — Badass.

— Para, eu vou ficar me achando! — Lydia sorri, devolvendo o empurrão amigável nele. — Eu mal consigo acreditar.

— No início eu fiquei relutante, preocupado, admito. Mas logo Hawkins me fez esperar pra ver o que você fazia e uau. Incrível. — Mitch fala. Suas pernas estão esticadas e levemente cruzadas, enquanto suas mãos estão no meio das pernas.

— Me sinto mais confiante, você sabe… Acho que isso foi o que eu precisava enfrentar pra me sentir pronta para algo a mais. No teste dos hologramas também me senti confiante. — Lydia comenta observando a observação da rua.

Mitch é dominado pelo o que Lydia lhe falou depois do teste. Ela havia se lembrado de algo e depois disso não tocaram no assunto. Mitch respeita o momento dela mas não vê o assunto como algo incômodo e por isso, não se segura.

— Então… você se lembrou de algo, uhn? — Mitch entra no assunto meio retraído.

Lydia o olha com seus olhos verdes surpreendidos. Ela realmente o olha, o encara.

O assunto é puxado tão de repente que ela se surpreende e trás de volta a memória. Pela primeira vez, ela consegue fechar os olhos e se lembrar de algo.

A lembrança é um gota. O que ela não se lembra, um oceano.

Mas essa gota a deixa feliz e esperançosa.

— Yeah — Os olhos deixam de encarar Mitch e volta para outro lugar qualquer — Você tentava me acertar, mas eu acertei você primeiro… — Lydia solta um riso nervosa, passando a língua rapidamente no meio dos lábios — E aquela frase simplesmente saiu da minha boca. Hawkins me contou que a gente brigava o tempo todo, essa memória me mostrou um pouco de como era.

— Era mais provocações do que briga. — Mitch sorri se recordando — Era o tempo todo. Até que um dia eu mesmo me desarmei e não aguentei. Enquanto você brigava comigo eu não me segurei.

— Você me beijou? — Lydia volta o olhar pra ele, seus olhos praticamente parecem brilhar.

— Beijei. Foi como um incêndio.

— Nós éramos assim? Como… fogo? — Lydia se preocupa com o que perguntou, mas entrou de cabeça no assunto e sente vontade de matar sua curiosidade.

— Era maior do que qualquer coisa — Mitch responde e logo corresponde o olhar de Lydia.

Os dois se olham sentados na escada. A escada é tão apertada que seus braços se encostam e eles podem sentir a aproximação entre eles ser explícita.

— Como você se sentiu? — Mitch pergunta, esperançoso com a resposta.

— Como se eu tivesse subido metade desses degraus. — Lydia responde com uma metáfora.

Lydia não consegue negar que apreciou a forma dos dois juntos. Lembrar de um momento deles fez seu coração se animar e o mínimo de sentimento dela aflorar delicadamente, como se tivesse sido regado pelas primeiras vezes.

Mitch sente seu coração se afundar em esperança, realizado com a comparação que Lydia fez.

Antes que pudesse seguir em frente como o assunto, seu celular treme em seu bolso e ao retirar, vê uma mensagem de Irene já exposta na tela.

Preciso de você e Lydia em Alexandria amanhã.