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História Behind the roses - IX - So close yet so far


Escrita por: wellcarryon

Notas do Autor


GENTE!!! Voltei!!! Não me matem pela demora ^-^ Boa leitura!

Capítulo 9 - IX - So close yet so far


Na calçada do lado de fora da cozinha, com uma caneca fumegante de café em mãos e um casaco quentinho protegendo seu corpo do frio, Frank observou as nuances de azul que conquistavam o céu conforme o sol surgia no horizonte, em algum lugar fora de sua vista.

Concentrando-se no som do vento, na porcelana quente em contato com a pele desnuda de suas mãos e em sua própria respiração, Frank sentiu uma tranquilidade renovadora. Havia algo libertador em estar sentado no concreto frio da calçada nas primeiras horas da manhã, com apenas o verde e o azul estendendo-se à sua frente, a parede lateral da casa dando apoio para suas costas.

Se ele contasse isso para alguém, provavelmente soaria estranho ou loucura. Mas era apenas um momento de pausa. Um momento em que ele não era Frank Iero, um empregado, atolado em dívidas e aniversariante do dia. Não. Era apenas parte de tudo ao seu redor.

O café aos poucos esfriou, o sol afastou-se do horizonte e tomou seu lugar no céu azul, pintando de dourado as folhas nos galhos mais altos das árvores, e os ruídos que indicavam o início de mais um dia surgiram em seus ouvidos, substituindo tudo o que ele tivera minutos atrás. Como sempre acontece com a sucessão de momentos finitos – que são eternos apenas na memória de quem os vivenciou, e com os quais se constrói uma vida – o momento de Frank também terminou.

Lançando um último olhar ao redor, Frank ergueu-se do chão, limpou a poeira das calças e abandonou seu lugar à sombra, encaminhando-se para a cozinha com resignação.

Ao abrir a porta, o cheiro de torradas recém preparadas invadiu seu olfato. Bob estava em pé à beira da bancada, servindo-se de uma xícara de café, e olhou rapidamente em direção à porta quando Frank entrou.

– Você me assustou! – exclamou, deixando escapar uma risada nervosa. – Você nunca acorda a essa hora... Está tudo bem?

– Claro, eu só estava tomando um ar – respondeu Frank. – Me desculpe.

– Tudo bem – disse Bob, erguendo sua xícara e bebendo um gole de café, para em seguida devolvê-la à bancada com uma careta. – Ah, antes que me esqueça...

Surpreendendo Frank, Bob o abraçou com animação, tão forte que por um minuto Frank pensou que fosse sufocar.

– Feliz aniversário! – exclamou ele, soltando Frank e dando dois tapinhas em seu ombro esquerdo.

– Como você sabe? – perguntou Frank, perplexo. Esperou Bob voltar sua atenção para o café para então massagear discretamente o peito.

– Seu currículo – respondeu Bob, acrescentando duas colheres de açúcar ao café e tornando a bebê-lo, dessa vez com uma expressão satisfeita.

Dando-lhe as costas, Bob sentou-se à mesa, sobre a qual o prato com as torradas emanava fumaça. Com uma expressão de súbita compreensão, Frank assentiu para as costas do colega.

– Bem, obrigado – agradeceu.

Voltou-se para a pia e lavou sua caneca. Ao terminar, acomodou-a no escorredor e encaminhou-se para a entrada da cozinha, onde esbarrou em Ray, que surgira repentinamente pela abertura da porta.

– Bom dia... Você por aqui? – disse ele, em um tom contido de pilhéria.

– Ok, eu não durmo tanto assim – defendeu-se Frank. – Vocês estão exagerando.

Seguiu caminho até seu quarto, ouvindo uma risada baixa vinda de Ray.

– Feliz aniversário! – gritou ele da cozinha. Frank gritou de volta um agradecimento e sentou em sua cama.

Era interessante, de alguma forma, ouvir Ray lhe felicitar por seu aniversário. Ele sabia que era bobo pensar nisso, mas geralmente Ray mantinha-se distante. O contato mais próximo que tivera com o colega até então foi quando os três assistiram ao jogo de basquete no quarto dele, ou as poucas trocas de olhares quando presenciavam algum ataque de fúria do chefe. Ray era muito mais próximo de Bob, e isso era totalmente justificável pelo fato de que se conheciam há muito mais tempo.

Uma vibração de seu celular sobre a escrivaninha despertou-o de seus pensamentos. Esticando o braço, pegou o aparelho e desbloqueou a tela. Era uma mensagem de Julian, lhe felicitando pelo dia. Digitou uma resposta de agradecimento e devolveu o celular ao móvel.

Passava poucos minutos das sete da manhã, e ele já havia recebido um número de felicitações maior do que poderia esperar. Era cedo para dizer, mas até que tudo parecia estar correndo bem... Só precisava manter a calma e seguir com seu plano para o dia. Espreguiçou-se demoradamente, levantou da cama e pegou o envelope com o dinheiro que já deixara separado na noite anterior. Estava na hora de riscar alguns itens de sua lista.

 

O táxi que chamou levou dez minutos pra parar em frente ao portão, e mais alguns para levá-lo até a residência do dono de sua antiga casa. Suas mãos estavam novamente suadas quando bateu a porta do carro e caminhou até a entrada da casa. Apertou o botão da campainha, e não pode deixar de perceber a surpresa com a qual foi recebido, como se o homem não esperasse vê-lo tão cedo. Isso o incomodou profundamente, mas limitou-se a cumprir com o acordo e entregou-lhe o dinheiro, tornando a entrar no táxi tão rápido quanto a cortesia lhe permitia.

Terminou a corrida no centro da cidade, onde se encaminhou para a sorveteria – como da última vez. Isso poderia ou não se tornar uma rotina, mas ele estava fazendo as coisas um pouco diferentes agora. Sua intenção era ter um bom dia, e um bom dia em sua concepção deveria ter sorvete. Escolheu um pote de tamanho médio, encheu-o com bolas de sorvete de morango e chocolate e adicionou alguns extras, como confeitos e granulados.

Com sua sobremesa calórica em mãos, encaminhou-se para a praça mais próxima e sentou-se em um banco sob a sombra das árvores para saboreá-la. Minutos depois, sentindo os dedos doloridos pela temperatura do sorvete e sua alma congelando pouco a pouco, Frank abandonou o banco e deslocou-se até o centro da praça, onde um enorme chafariz estava iluminado pelo sol.

Sentou-se na borda do mesmo e deixou que o sorvete derretesse um pouco no calor antes de voltar a comê-lo. Enquanto devorava cada colherada, deixou seu olhar vagar pelas pessoas que caminhavam tranquilamente pelo local.

Estava distraído quando uma pessoa em meio às outras chamou sua atenção – cabelos loiros esvoaçando ao vento, enquanto corria para atravessar a praça. Quando alcançou o centro, Julian encontrou o olhar de Frank e aproximou-se, apoiando as mãos nos joelhos e ofegando.

– Hey, o que aconteceu? – perguntou Frank, oferecendo-lhe seu sorvete quase totalmente derretido.

– Estou muito atrasada – respondeu ela, abrindo a boca e aceitando a colher que Frank lhe estendeu. Ele bem quis se sentir envergonhado com isso, mas estava descobrindo que em sua amizade com Julian não havia espaço para vergonha. – A chave de casa quebrou na fechadura e o chaveiro demorou a chegar – continuou, com a boca cheia. – Preciso ir, Frank. Nos vemos à noite!

E com isso ela retomou sua corrida, desviando por centímetros de bater em uma mulher que estava distraída com seu celular, e pulando por cima de uma coleira de cachorro. Frank balançou a cabeça, mal disfarçando uma risada, e terminou de comer seu sorvete.

A terceira parte de seu plano envolvia uma demorada ida ao mercado, direto para as prateleiras dos doces. Depois de argumentar sobre o quão importante seria decorar a casa para o Halloween e deixar uma cesta de doces em frente ao portão, para que o Sr. Way não tivesse trabalho com os jovens durante a noite que passaria sozinho (Frank quase riu quando disse essas coisas), ele finalmente conseguiu o que queria.

Carregando uma cesta do mercado, tomou o cuidado de fazer com que não sobrasse espaço dentro dela, escolhendo uma enorme variedade de doces, uma abóbora de plástico para colocá-los dentro e um pacote de balões laranja, conforme deslizava em frente às prateleiras. Com tudo em mãos, dirigiu-se ao caixa, onde pagou as compras, e finalmente voltou para casa.

Ele desfrutou de um momento de auto repreensão por seu egoísmo, pois na verdade tudo o que ele queria era gastar dinheiro com o Halloween sem se preocupar se estava gastando demais. Mas essa repreensão não durou muito. Após o almoço, dedicou o seu tempo a fazer um fantasma com um lençol e um balão, e a encher mais alguns balões para pendurar nas colunas do portão. Terminou tudo quando o sol já estava começando a se pôr, então se apressou em colocar a abóbora cheia de doces e prender os balões do lado de fora. O resultado ficou simples, mas estava bonito.

Foi com grande satisfação que Frank voltou para dentro de casa, juntou suas roupas e entrou no banho. Só então o significado da quarta parte de seu plano ganhou sua luta emocional, e sua calma foi forçada a dar lugar para a ansiedade, que lhe provocou a sensação de ter o estômago voando de asa-delta em seu abdome.

~

Gerard encarou seu reflexo no espelho por um instante, antes de posicionar o tapa-olho sobre seu olho esquerdo. Isso lhe ajudava a parecer um pouco menos com uma aberração parcialmente transformada, e mais como uma pessoa qualquer. Correu o olhar pelo restante do rosto... Ademais, não havia muito a fazer, exceto usar os cabelos como cortina para cobri-lo um pouco. O capuz do casaco se encarregaria do resto.

Checando uma última vez se estava tudo certo, puxou o capuz sobre a cabeça e saiu de seu quarto, apagando as luzes pelo caminho até o hall, no andar de baixo.

Ele não sabia bem o que esperava – Toro e Bryar já haviam saído há algum tempo, ele os vira pela câmera –, mas ficou surpreso ao encontrar o hall vazio e um silêncio mortal pairando pelo andar.

Frank teria desistido? Percebera que a presença de Gerard seria tão interessante quanto se ele estivesse levando um cacto para passear? Mesmo que tivesse pensado muito em não ir, Gerard não queria ter de enfrentar a desistência de Frank. Não queria sentir mais uma vez o peso da rejeição, a qual era tão acostumado (embora a essa altura ainda não percebesse que a maior rejeição que recebia vinha de si próprio, e de mais ninguém).

Um pouco confuso sobre como proceder, e estranhando a casa vazia, embora não fosse de seu costume circular por ela, acabou deslocando-se para a porta do corredor que levava à cozinha. O som de seus passos era ampliado pelo silêncio do restante da casa, e a porta pareceu ranger como a de uma casa em ruínas quando a abriu. Estava tudo às escuras do outro lado. Tornou a fechá-la, e viu-se parado como um tolo no hall.

– Sr. Iero? – chamou. – Frank?

Não obteve nenhuma resposta.

Esperou alguns minutos, e estava prestes a subir novamente a escadaria e se afundar em uma cadeira no seu estúdio quando ouviu a porta da frente se abrir.

Frank entrou na casa, com a mochila que preparara às pressas – apenas para fingir que ia passar a noite fora como os colegas – pendurada em um dos ombros e coçando os olhos com ambas as mãos. Quando tornou a abri-los, estacou no meio do caminho. Gerard estava parado no hall, observando-o com uma expressão curiosa no rosto.

– Oh – deixou escapar. – Você está esperando há muito tempo?

Gerard balançou negativamente a cabeça.

– Faz apenas alguns minutos que desci.

– Me desculpe, eu estava lá fora me escondendo para que os outros não suspeitassem do fato de eu ficar para trás – disse, passando a mão pelos cabelos e sentindo alguma coisa presa a eles. Quando a removeu, descobriu que era uma folha seca de árvore. – Mas aparentemente eu cochilei – murmurou, olhando perplexo para a folha.

Direcionou seu olhar a Gerard, que o observava com uma expressão de divertimento. Mais uma vez estava servindo de piada para o chefe. Revirando os olhos discretamente – ou assim ele pensava –, pigarreou e continuou:

– Bem, se você estiver pronto, vou só deixar a mochila no quarto – disse, erguendo discretamente o queixo para assumir uma postura mais confiante.

– Sem problemas.

Com isso Frank passou pelo homem, abrindo a porta com determinação e entrando no corredor, e depois em seu quarto. Gerard o seguiu com o olhar, mantendo-o em suas costas até que ele desaparecesse de sua vista, quando então se permitiu sorrir com divertimento. A combinação de roupas de Frank não dizia nada – jeans e uma jaqueta sobre um casaco de moletom –, mas a máscara de Frankenstein posicionada em diagonal em sua fronte direita demonstrava um traço da personalidade do rapaz que Gerard achou interessante.

Olhou para baixo, para suas roupas pretas e sem nenhuma estampa, objetivando ocultá-lo no cenário, fazê-lo passar despercebido em meio às sombras da noite. Sua expressão esmoreceu um pouco, passando do divertimento à resignação. Por um instante, em um lugar não tão claro e acessível de suas emoções, desejou ser uma pessoa diferente; menos obscuro e mais agradável.

 

Gerard chamou um táxi, e eles esperaram pelo carro do lado de fora do portão, enquanto ele próprio observava com curiosidade a decoração em sua calçada. Ray comentara algo sobre o assunto, ao que ele recordava ter concordado vagamente, sem realmente prestar atenção. Agora um fantasma tomava conta de um recipiente cheio de doces, e alguns balões se agitavam com o sopro do vento, pendurados em uma das colunas do portão.

– Você gostou? – perguntou Frank, seguindo o olhar do chefe.

– Sim, ficou ótimo – declarou, voltando-se para o rapaz.

Frank não pode conter um largo sorriso, o que fez com que Gerard sentisse seu coração palpitar. Envergonhado, sorriu e desviou o olhar para a rua, percebendo que o táxi estava chegando a poucos metros de distância.

Os dois entraram no veículo e seguiram o caminho até o parque em silêncio. Quando chegaram, Frank não pôde conter a animação ao ver tudo iluminado com pisca-piscas, lanternas de abóboras e decorações de Halloween por toda parte. Enquanto ele olhava ao redor com um brilho infantil e extasiado no olhar, Gerard o observava de rabo de olho e ajeitava o capuz sobre a cabeça. Os dois pagaram suas entradas para um casal de atendentes fantasiados de zumbis, e receberam um folheto contendo todas as atrações e atividades da festa.

– Eles espalharam saquinhos de balas pelo parque! – gritou Frank, dando um pequeno pulo de animação, mas logo se contendo ao perceber o que estava fazendo.

Frank parecia uma criança animada, com os olhos brilhantes alternando entre uma coisa e outra que lhe chamava atenção, e mesmo apreensivo, Gerard se divertia ao observá-lo. Os dois continuaram caminhando por uma trilha, iluminada com lanternas a intervalos regulares, e passando por barracas variadas, até que Frank avistou duas pessoas vindo em sua direção. Quando se aproximaram, ele reconheceu uma delas como sendo Julian, em uma fantasia de gata siamesa, muito fiel, com direito aos detalhes do rosto e dos pêlos pintados de marrom com exímia perfeição. Havia uma garota com ela, que vestia a mesma fantasia.

– Frank-enstein! – gritou Julian, abraçando-o. – Feliz aniversário – sussurrou em seu ouvido, antes de afastar-se. – E...

– Gerard – disse seu chefe, estendendo a mão para ela com um pouco de nervosismo.

– Gerard – repetiu ela, sorrindo abertamente enquanto o cumprimentava. – Eu sou a Julian. – Em seguida, gesticulou indicando a outra garota. – Esta é Ella, minha namorada rabugenta.

Ella tinha cabelos castanhos ondulados, crescidos até a altura dos ombros, e seus olhos eram claros, talvez verdes. A iluminação do parque, somada à maquiagem elaborada, não permitiam que mais detalhes fossem absorvidos. Ela revirou os olhos diante do comentário de Julian, mas cumprimentou-os sorrindo.

– Eu estou tentando dizer para ela que nossa fantasia é um pouco ridícula, mas ela não me dá ouvidos – disse.

– Eu gostei muito – comentou Frank, vendo Julian dar uma voltinha para que ele pudesse vê-la em todos os ângulos.

– Nós estamos aqui para ganhar, eu já falei – disse, batendo com o ombro na namorada, que mais uma vez revirou os olhos antes de colocar um braço sobre seus ombros. – O que vão fazer?

– Hm, sei lá – disse Frank, lançando um olhar rápido na direção de Gerard. – Acho que vamos circular por aí.

– Tudo bem, nos vemos mais tarde então! – disse Julian, puxando Ella consigo para longe dos dois.

Sozinhos outra vez, Frank e Gerard caminharam em silêncio por mais alguns metros antes de algum deles se pronunciar.

– Você quer beber alguma coisa? – perguntou Frank.

– Hum, uma Coca-Cola parece ótimo.

– Certo, vou buscar então... Você vai ficar bem sozinho? – perguntou, sem jeito.

– Claro – respondeu Gerard, caminhando em direção a uma árvore, na qual se apoiou, puxando mais o capuz sobre a cabeça e adquirindo um ar sombrio. – Vou ficar bem aqui.

Frank sorriu e se afastou. Voltou minutos mais tarde, e entregou uma latinha de refrigerante pra Gerard.

– Obrigado.

Ficaram em silêncio, bebericando o refrigerante e olhando ao redor. Não havia crianças na festa, apenas jovens e adultos fantasiados usando desde as roupas mais infantis às mais elaboradas e grotescas. Um vampiro passou comendo uma salsicha, e Frank desviou o olhar para não rir. Olhou para cima, e algo chamou sua atenção.

– Um saco de balas! – exclamou, apontando para cima.

– O quê? – perguntou Gerard, que estava distraído. Ele olhou para Frank e seguiu com o olhar por seu braço até um galho da árvore acima deles, onde um saquinho laranja estava acomodado.

– Eu vou pegar – disse Frank, lhe entregando seu refrigerante.

– O quê?! – repetiu Gerard, espantado. – Não, você vai cair!

– Ouvir isso de alguém que sobe no telhado de casa no meio da madrugada é um pouco irônico – retrucou Frank, ao que Gerard estreitou os olhos e fuzilou suas costas com o olhar.

Frank se agarrou à arvore e escalou-a até alcançar o galho. Jogou o pacote para o chão ao lado de Gerard e começou a descer, aterrissando ao seu lado com um pequeno baque.

– Pronto! – disse, oferecendo o saco de balas à Gerard depois de pegá-lo do chão.

Gerard pegou uma das balas e começou a desenrolar o plástico, depois de devolver o refrigerante de Frank. Mais uma vez o silêncio recaiu sobre os dois, enquanto Frank misturava o refrigerante com a bala que comia. Depois de algum tempo, ele passou a observar Gerard, com olhar de genuína preocupação.

– Você está bem? Digo, sobre estar aqui?

Gerard encontrou seu olhar e percebeu seu significado.

– Estou – respondeu, olhando em volta. – Na verdade, esse ambiente sombrio... Estou me sentindo em casa.

Frank riu, e sua risada soou como música para os ouvidos de Gerard, que o acompanhou.

– Vamos ver um filme? – perguntou Frank, indicando o caminho para o cinema ao ar livre com a cabeça.

– Claro – respondeu Gerard, seguindo-o.

Eles caminharam lado a lado até a área onde um enorme telão havia sido instalado. Diante dele, muitas pessoas se acomodaram em grupinhos no gramado, deitadas ou sentadas, para assistir ao filme que estava sendo transmitido – sexta-feira 13. Frank e Gerard escolheram um lugar ao fundo, onde a visão da tela era melhor, e sentaram-se.

Durante trinta minutos ambos estiveram absortos no filme, que ainda estava no começo quando chegaram. Quando se cansou da posição em que sentara, Frank inclinou-se para trás e se apoiou nos cotovelos, esticando as pernas. Essa foi a gota d’água para que parasse de prestar atenção. Com as vozes, gritos e efeitos sonoros como plano de fundo, além de uma música quase inaudível que vinha do outro lado do parque, ele acabou se deitando completamente na grama, tirando a máscara da cabeça para ter mais conforto e flexionando um braço para usá-lo de travesseiro.

O céu estava lindo acima de sua cabeça. Aquela área fora escolhida para o cinema por ser livre de árvores, o que não atrapalharia a visão de ninguém. Com isso, Frank podia ver um grande pedaço do céu e das estrelas brilhando a milhões de quilômetros de distância contra o fundo negro.

Com a mão livre, arrancou uma folha da grama e a esmagou entre os dedos, deixando a mente vagar por um instante. Não soube quanto tempo se passou, mas de repente, viu pelo canto do olho Gerard se levantar.

Confuso, seguiu-o com o olhar, vendo-o caminhar até uma árvore a alguns metros de distância. Enfiando o braço em um buraco no tronco, acima de sua cabeça, ele retirou um saquinho de balas de cor escura, que por isso facilmente se camuflara no esconderijo e não havia sido encontrado. Voltou para o gramado ao lado de Frank, entregando-lhe o pacote.

– Você está pegando o jeito – comentou Frank, se erguendo nos cotovelos e abrindo o saquinho para pegar uma bala, ao que Gerard apenas sorriu em resposta.

Ao longe, viram Julian e Ella passarem com mais alguns pacotes, e Frank fez um sinal positivo para a amiga.

– Vocês já eram amigos antes? – perguntou Gerard, em um tom baixo para não atrapalhar aos demais.

– Não, nos conhecemos na lavanderia.

– Oh – murmurou Gerard. – E então simplesmente viraram amigos?

Frank lançou-lhe um olhar desconfiado, com os olhos estreitados. Gerard parecia genuinamente interessado.

– Bem, não foi assim – começou. – Ela foi a primeira pessoa em meses que não me olhou com ar de superioridade ao me dizer alguma coisa, então ela conquistou o lugar dela.

Gerard assentiu, como que absorvendo a informação.

– Não quero ser grosseiro – acrescentou Frank, analisando melhor o que dissera e pensando que podia tê-lo ofendido. – Não quis dizer nada de mau. É só que, bem... Tudo tem sido novo para mim. Quando eu cheguei, eram tantas regras e rotinas para aprender em tão pouco tempo, um lugar ao qual eu não estava acostumado, uma vida totalmente diferente da que eu tinha antes... Tudo tão caro e luxuoso e ordenado. É a sua vida, não a minha. Por isso eu estranhei, mas não que não ache legal. Não é uma crítica.

– Eu entendi – respondeu Gerard, desviando o olhar. Frank achou que ele pudesse ter entendido demais.

– Eu adoro meu emprego! É ótimo... – acrescentou ainda, percebendo que seu tom de voz soava desesperado, algo que por mais verdadeiro que fosse, não precisava ficar tão evidente.

– Eu não vou te demitir por compartilhar sua vida, Frank – disse Gerard, acrescentando um tom sarcástico à frase. – Eu realmente entendi. Você estava se sentindo solitário e deslocado, e alguém lhe estendeu a mão. Não é nada demais. E eu não sou seu chefe agora, não é? Você não está de uniforme.

Frank observou-o, procurando alguma coisa em seu rosto. Gerard estava concentrado em enrolar um dos papéis vazios das balas que comera.

– Você quer sair daqui? Digo, caminhar mais um pouco? – perguntou Frank.

– Por mim tudo bem – respondeu Gerard, erguendo-se do chão.

Frank imitou-o, recolhendo sua máscara do gramado e recolocando-a na cabeça. Observou Gerard mais uma vez, procurando qualquer evidência de que havia ultrapassado um limite, mas não encontrou nada explícito. Ele se viu suspirando com frustração. Era muito difícil ler Gerard Way.

Gerard permaneceu imerso em pensamentos, tornando a caminhada de Frank solitária e silenciosa. Este, por sua vez, desviou-se ocasionalmente da trilha que tomaram para pegar pacotes de balas que até então não haviam sido encontrados.

Frank estava começando a pensar em uma forma de distrair Gerard quando avistou uma barraca onde era possível esculpir abóboras. Andou até ela, sendo seguido por Gerard, e pagou por uma abóbora, a qual imediatamente começou a esculpir. Ao fim da noite, a abóbora mais bonita ganharia um prêmio.

De um jeito ou de outro, sua ideia acabou funcionando. Gerard abandonou seus pensamentos para observá-lo fazer um trabalho que não se destacava muito dos demais, e após alguns minutos, para a surpresa de Frank, acabou pagando por uma abóbora também.

– O que você vai fazer? – perguntou Frank, vendo Gerard arregaçar as mangas da jaqueta que vestia.

– Você vai ver – respondeu Gerard simplesmente.

E com isso, começou seu trabalho sob o olhar inicialmente descrente de Frank, mas que em seguida transformou-se em admiração. Na maior parte do tempo, Frank não percebeu o que estava saindo através das mãos de Gerard, apenas a concentração com que ele o fazia, fosse o que fosse. Mesmo no escuro, com o capuz cobrindo seu rosto, Frank podia ver as linhas de concentração que surgiram em seu rosto, seu olhar fixo e atento na tarefa à sua frente, completamente entregue a ela.

Frank só conseguiu desviar os olhos de Gerard quando o rosto dele se suavizou e ele afastou-se para admirar o resultado final. Frank se sentiu impelido a fazer o mesmo, e surpreendeu-se completamente.

– Wow – deixou escapar. Um Frankenstein estava esculpido na abóbora, com exímia perfeição. – Se você pretendia me comprar com essa abóbora, parabéns. Você conseguiu. Como aprendeu a fazer isso?

Gerard deixou um sorriso escapar, algo que, aos olhos de Frank, pareceu muito honesto. Não como um dos vários sorrisos de divertimento que geralmente lhe eram direcionados, mas algo genuíno, significativo.

– Bem, foi há muito tempo. Meu irmão e eu costumávamos fazer essas coisas para o Halloween. Eu ficava com as abóboras, e ele... – Uma sombra de tristeza passou por seu rosto. – Bem, não importa.

Frank involuntariamente ergueu a mão para reconfortá-lo, e estava a meio caminho de alcançar o ombro de Gerard quando percebeu o que estava fazendo. Recolheu a mão, desviando-a para seu próprio pescoço e coçando-o para disfarçar. Quis dizer que sentia muito, mas pensou que não seria adequado. Em vez disso, colocou as mãos nos bolsos.

Gerard pareceu não perceber, e rapidamente se recompôs.

– Você gosta de cachorros-quentes? – perguntou a Frank, que assentiu em resposta, ainda sem jeito. – Hum, vamos, então? – Indicou a área de alimentação com um gesto.

Eles deixaram seus nomes juntamente com as abóboras, para o caso de algum deles ganhar o prêmio, e seguiram até um food truck. Gerard deslizou algumas notas para a mão de Frank, que ainda estava no bolso do casaco, e disse que escolheria uma mesa enquanto o outro fazia os pedidos. Logo Frank o alcançou, sentando-se de frente para ele em uma cadeira de plástico, e colocando à frente do chefe uma nova lata de refrigerante.

Eles ficaram imersos em um silêncio agradável, ouvindo a música que vinha dos alto falantes em uma área próxima, onde acontecia uma pequena balada. Frank desenhava com os dedos na lata úmida à sua frente quando Julian e Ella surgiram.

– Interrompemos? – perguntou Julian, indicando as cadeiras vazias na mesa.

– Não, claro que não – disse Gerard, para surpresa de Frank. – Fiquem à vontade.

Com isso, Julian acomodou-se em uma das cadeiras, enquanto Ella pediu mais cachorros quentes e voltou com duas latas de refrigerante.

– Então, como está indo a noite? – perguntou Julian.

– Está sendo boa – respondeu Frank, desviando ligeiramente o olhar em direção a Gerard, que os observava de cabeça baixa. – Comemos tantos doces que acho que isso vai ser um problema.

– Ah, tudo bem. Hoje vocês estão perdoados. E você, Gerard? Está se divertindo?

Frank quase podia se desesperar pelo chefe. Julian era a pessoa mais legal que conhecia atualmente, mas isso não tornava sua presença agradável naquele momento, pressionando Gerard a conversar quando ele não interagia com desconhecidos há séculos.

– Ah, claro – disse ele, parecendo um pouco desconcertado. – Frank é uma companhia muito agradável.

Julian assentiu, sorveu um gole de seu refrigerante e lançou um olhar carinhoso à namorada.

– Nós também estamos nos divertindo – disse. – Você trabalha com o que, Gerard?

Frank afundou-se em sua cadeira, tomando um grande gole de refrigerante e sentindo sua garganta arder, bem como seu nariz.

– Com arte. Pinturas, desenhos, essas coisas.

– Sério? E você é bom?

– Modéstia à parte... Sou sim – disse Gerard, um pouco envergonhado. – É que são anos de prática, faço isso desde a adolescência.

– Deve ser muito legal poder se expressar dessa forma. Não sei desenhar mais do que bonecos de palito – admitiu, arrancando risadas de todos.

– E você, Frank? Tem talentos artísticos? – perguntou Ella, tirando Frank de seu transe.

– Hm, eu toco guitarra e violão – respondeu, ajeitando-se na cadeira.

– Eu também! Estou ensinando Julian a tocar violão, ela já sabia algumas coisas, mas não era muito boa – disse, recebendo um chute por baixo da mesa.

– Bem, como Gerard disse, é questão de prática – disse Frank.

– Você toca, Gerard? – Ella perguntou.

– Piano – respondeu ele.

– Nossa, temos um homem culto à mesa – assobiou Julian.

A comida chegou, e o assunto sobre arte e música se desenrolou enquanto eles comiam seus cachorros-quentes. Logo, desviou-se também para outros lados, e os quatro, entretidos pela conversa, só perceberam que estava ficando tarde quando Frank olhou ao redor e percebeu que a quantidade de pessoas no evento diminuíra consideravelmente.

Decidiram que era hora de voltar para casa. Gerard mais uma vez chamou um táxi, e quando estavam de saída, o casal de atendentes zumbis que guardava a entrada perguntou seus nomes. Foi quando descobriram – nenhuma surpresa para Frank – que a abóbora de Gerard havia sido a vencedora. Como prêmio, uma caixa foi passada de Gerard para Frank, que a abriu com curiosidade e descobriu que estava recheada com bombons decorados.

– Você pode ficar com ela – disse Gerard, e Frank a carregou, satisfeito, até o táxi.

 

A volta para casa foi silenciosa, mas, dessa vez, era um silêncio agradável. Afinal de contas, a noite terminara bem. A princípio parecera que Julian estragaria tudo, mas a presença dela e de sua namorada havia tornado a noite mais interessante. Frank pode descobrir algumas coisas sobre Gerard, e sentiu que o conhecia um pouco mais, embora ainda houvesse um abismo entre eles.

Ao descerem do táxi em frente à casa, Frank lançou um olhar para o pote de doces ao lado do portão, que estava com pouco menos da metade do conteúdo. Não satisfeito com a quantidade de açúcar que ingerira no dia, roubou um chocolate da cesta, e os dois adentraram o quintal. Grilos cantavam por todo o gramado, criando uma sinfonia que os seguiu até a porta de entrada.

Dentro da casa, Gerard pediu para que Frank esperasse, enquanto ele subiu a escadaria para o andar de cima. Segurando a caixa de bombons com um braço, e com a mão livre no bolso da jaqueta, Frank aguardou no hall, trocando o peso do corpo entre uma perna e outra.

Depois de poucos minutos, Gerard tornou a descer, entregando a Frank um envelope pequeno.

– O que é isso?

Gerard gesticulou com a cabeça, indicando que Frank deveria abri-lo e descobrir por si mesmo. Intrigado, Frank o fez, descobrindo um cartão branco desenhado à mão, de forma a parecer um cartão de cadastro de biblioteca, contendo seu nome e tudo. Encarou Gerard com olhar interrogativo.

– Você gosta de livros, eu tenho muitos, então esse é um cartão de sócio da minha biblioteca particular, ou algo do tipo – explicou Gerard, enrubescendo. – Feliz aniversário.

Sem jeito, abriu os braços, convidando Frank para um abraço. Este por sua vez, surpreso e sem saber como reagir, acabou aconchegando-se nos braços de Gerard tanto quanto a caixa que carregava lhe permitia. Percebeu o quanto eles pareciam feitos para ficarem ao seu redor, e como se sentia seguro ali.

Gerard o afastou rapidamente, com medo de que ele conseguisse perceber como seu coração batia rápido e descompassado.

Frank baixou a cabeça, envergonhado. Abriu a boca, mas não soube o que dizer. Concentrou-se no presente de Gerard, a fim de organizar a bagunça que sua mente se tornara naqueles poucos segundos.

O cartão era algo simples, mas ele foi tomado por uma felicidade inexplicável, tão grande quanto o seu constrangimento. Por fim, depois de um instante de hesitação, finalmente conseguiu murmurar um agradecimento.

– Não foi nada – murmurou Gerard em resposta.

Um silêncio carregado recaiu sobre eles.

– Então – começou Frank, pigarreando logo em seguida. – Vou dormir, amanhã será um dia cheio... Boa noite, Gerard.

Gerard encarou seus olhos verdes brilhantes e infantis.

– Boa noite – murmurou.

Com um último olhar, Frank deu-lhe as costas e afastou-se em direção à porta do corredor. Gerard começou a subir as escadas para o andar superior, mas parou de repente.

– Frank – chamou.

O rapaz se virou e o observou, curioso. Gerard abriu a boca para perguntar algo em que vinha pensando há alguns dias, mas então a lembrança do que Frank dissera mais cedo voltou à sua mente. "É a sua vida, não a minha."

Ele tinha razão. Não seria justo pedir algo assim a Frank.

– Nada, boa noite – disse rapidamente, dando-lhe as costas e subindo o restante dos degraus, sem olhar para trás.

Frank ficou parado no mesmo lugar, se perguntando o que diabos acabara de acontecer. Observou Gerard subir os degraus da escada com um ar resignado, até desaparecer no andar superior. Confuso, Frank virou-se e continuou seu caminho, carregando seus doces nos braços. Estava cansado, envergonhado e mal podia esperar para se jogar em sua cama e ter uma boa noite de sono. Sua cabeça estava cheia, mas quaisquer reflexões teriam de esperar.


Notas Finais


Então, eu demorei tanto pra atualizar por uma série de motivos e problemas, mas finalmente tô aqui com esse capítulo. Estive escrevendo ele durante todo esse tempo, acreditem se quiser, e um dos motivos pelo qual demorei era porque queria que ficasse ótimo. Durante o caminho, percebi que nunca ficaria ótimo, então esse foi o resultado final, depois de escrever, apagar e reescrever muitas vezes. Espero que tenham gostado pelo menos um pouco haha
Fica o questionamento: o que será que o Gerard queria perguntar pro Frank? Palpites? haha
Estamos vendo alguma coisa acontecer (8)
É isso aí, nos vemos no próximo, e o objetivo de atualizar a cada duas semanas continua valendo. Sorry pela demora, e até mais!


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