“Golpe”, palavra que ganhara tamanha banalidade nos últimos tempos. Associada, hoje, a todos aqueles que não superaram as expectativas de um fã frustrado.
Afinal, somos todos humanos. Acho extremamente necessário naturalizar o “pé na bunda”, o “não quero” e o “não preciso de um motivo”. É certo que responsabilidade afetiva é um dom a ser cultivado e praticado por todos, mas também deve filtrado, uma vez que estar preso a responsabilidades pode ser extremamente destrutível, manipulador e enganoso.
É completamente inconcebível, para mim, poupar certas pessoas de certas verdades. Prefiro dizer às claras o que penso, desde que se trate de mim, do que engolir meu ranço. E está tudo bem. Não nascemos para ser um santuário das perfeições e do agrado coletivo. Portanto, desde que não sejamos inconvenientes ao cuspir verdades que ninguém nos perguntou, não devemos nos culpar por sermos um “foda-se ambulante”.
Martin Lopez podia ser um sentimento para mim, podia ser alguém a quem não desejava machucar. Mas o que eu fazia chama-se “justiça” e como li certa vez em “o segredo dos corpos”, a justiça não foi feita para agradar a todos, mas para ordenar o que tende ao caos.
Ao feri-lo, feria a mim, ao engana-lo enganava a mim. Mas quando se trata do meu trabalho, o “eu”não importa. É tudo pela manutenção da ordem de um pacto social.
Pela manhã, assim que deixei a mansão dos Lopez, entrei no táxi segurando o choro pelo que estava prestes a fazer. Em poucos minutos não me contive e as lágrimas desceram como uma torneira.
Era o fim do império dos Lopez, o fim de toda aquela confusão que vivenciara desde minha mudança a Nova York.
Assim que cheguei ao departamento policial com todas as provas de que precisávamos em meu telefone, Dominic estava à porta com seu café amargo olhando em minha direção.
Dominic- Como vai senhorita Margaret?
Não consegui responder. Sabia o que precisava fazer. Toda a minha ética e todo o meu profissionalismo me mandava entregar o telefone em suas mãos. Mas uma outra parte de mim me impedia de fazê-lo. Como eu poderia destruir a vida de Martin? Aquilo significava manda-lo a um presídio por muitos anos.
Dominic- Um gato comeu sua língua? O que faz parada aí?
Marga- Preciso lhe entregar algo…
Dominic- Tudo bem. Mas antes, preciso lhe informar que a festa dos Lopez acontecerá na noite de amanhã.
Marga- O que? 😳
Dominic- Ao parecer, Felícia, a filha nojenta dos Lopez, adiantou as coisas e te tirou da jogada.
Marga- Não pode ser…
Dominic- É inconcebível que esteja fora da jogada a essa altura do campeonato. Como deixou que isso acontecesse?
Marga- Não sei o que dizer…
Dominic- Pois eu sei. A senhorita se descuidou. Sua única responsabilidade era se passar por uma organizadora de eventos, se infiltrar e conseguir provas contra os Lopez. Como não o fez, também não vejo razão para que siga aqui…
Marga- Do que está falando?
Dominic- Estou dizendo que não precisamos mais de seus serviços. Vou manda-la de volta a Wichita.
Assim que aquelas palavras saíram da boca de Dominic, me aproximei, tomei sua mão e entreguei meu telefone.
Dominic- O que é isso?
Marga- Quando vim para essa unidade, eu disse que era a melhor. Pois bem, eis aqui a resolução do caso Lopez em suas mãos.
Dominic- Do que está falando?
Marga- Que neste telefone estão as provas pelas quais vim a Nova York.
Dominic- Você conseguiu? 😳
Marga- Nunca mais me subestime Dominic. Você só tem a perder…
De certa forma, entregar as provas a Dominic me deixou com uma sensação de dever cumprido. Mas eu não podia deixar de me sentir culpada. Voltei para o meu apartamento e chorei em posição fetal no chuveiro.
Mais tarde, quando a noite já batia, recebi a visita de nada mais nada menos do que Felícia Lopez, a megera.
Marga- Senhorita Felícia, o que faz aqui?
Felícia- Olá, Margaret. Preciso conversar sobre algo com você…
Marga- Claro, entre por favor.
Felícia entrou e se sentou no sofá olhando em volta sem que eu lhe desse tal liberdade. Embora soubesse o motivo de sua visita, eu não podia mostrar que já sabia.
Marga- A senhorita aceita uma água, um café?
Felícia- Não, obrigada. Vim apenas para lhe informar que eu e minha família estamos nos abstendo de seus serviços.
Marga- O que? Não entendi…
Felícia- Está demitida senhorita Margaret!
Marga- Olha, senhorita Felícia, sei bem que tenho deixado a desejar na logística de organização de sua festa, mas já estou com tudo pronto. Inclusive iria lhe informar que a festa já podia acontecer…
Felícia- Não é necessário. Não tome como algo pessoal senhorita Margaret. Sei que passou por momentos conturbados e nós lhe recompensaremos por seu empenho e horas trabalhadas.
Marga- Essa não é minha preocupação. Só gostaria de entregar a vocês o que foi combinado…
Felícia- E você entregou…
Marga- Como assim?
Felícia- Martin me informou sobre sua relação com ele…
Marga- Relação? 😳
Felícia- Não se preocupe. Acho bom que Martin queira se comprometer seriamente. Já era tempo…
Marga- Eu não…
Felícia- Está tudo bem querida. Por mim está tudo certo. Só não posso tolerar que minha cunhada seja apresentada em nossa festa como uma organizadora de festas. Não é bom para nossa reputação mostrar que nos envolvemos com funcionários. Você entende não é mesmo?
Marga- Eu não sei o que dizer…
Felícia- Te esperamos amanhã na festa! E bem-vinda à família Lopez querida Margaret! 🥰
Quando acho que não é possível piorar, as coisas pioram elevadas ao quadrado.
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