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História Belas Criaturas (fanfic Lady Dimitrescu) - Feliz aniversário, Judith!


Escrita por: Arwen_Nyah

Notas do Autor


Olá! Estou de volta e para compensar trouxe o maior cap até agora, espero que gostem e PRESTEM ATENÇÃO AOS DETALHES, TEM MUITAS COISAS IMPORTANTES!

Por favor comentem, me deixem saber o que estão achando, é muito importante e ajuda o meu trabalho! POR FAVOR!!!!!!

BOA LEITURA!

Capítulo 22 - Feliz aniversário, Judith!


Cassandra apreciava pequenas coisas. Embora suas irmãs parecessem inclinadas a acreditarem que só se importava com a caça e a matança, sua mãe parecia conhecê-la melhor do que isso, ainda que contasse com ela quando se tratava de capturar algo ou alguém; Agatha também parecia notar que Cassandra tinha lá suas particularidades, conseguiu enxergá-la além da foice ensanguentada e da fome por violência. Juditth, por sua vez, se tornou a irmãzinha mais nova que a admirava por tudo o que fazia, o que não substituiu Daniela como caçula vez que seu papel era mais o de ser pega nas peças e armadilhas de Cassandra; no começo achou irritante toda aquela admiração sem motivo, bem como o fato da criança segui-la por onde conseguia ou se surpreender com as menores coisas, mas passou a apreciar o tempo juntas e foi bom ser admirada por alguém mais novo – novamente, sua relação com Daniela era baseada em implicância de irmãs.

Já Ella era um capítulo a parte. Inicialmente Cassandra não a levou a sério, chegou até mesmo a apostar com Bela e Daniela sobre quanto tempo o “bichinho” de sua mãe sobreviveria no castelo, sendo que ela apostou que não passaria de uma semana; Ella a surpreendeu mais a cada dia, sempre tentando se aproximar delas quando todos os humanos fugiriam, Cassandra nem tinha certeza se acabaria com Agatha não fosse sua madrasta. Foi a primeira vez que tal cargo foi ocupado no castelo Dimitrescu, e apesar de não ter gostado no início, Cassandra gostou de ver sua mãe feliz e a convivência com Alcina se tornou muito mais fácil pra todo mundo.

Uma de suas atividades preferidas era cavalgar por aí quando estava quente o suficiente. Bastava esquentar um pouco para que Cassandra ordenasse que a criada responsável pelos estábulos selasse seu cavalo, então vestiria suas roupas de montaria e sairia por aí sem se preocupar com caçadas, suas irmãs ou o mau humor de sua mãe caso tivesse um encontro com seu tio Karl aquele dia; sabia que Daniela ficava meio louca com a chegada da primavera, praticamente correndo em círculos nos jardins quando sua mãe finalmente permitia que saíssem do castelo, e que Bela ficava contente com intensidade do trabalho no vinhedo e toda a documentação chata, mas Cassandra preferia cavalgar através de suas trilhas preferidas e, caso algo ou alguém cruzasse seu caminho, melhor para ela e pior para ele.

Ainda que não ficasse ansiosa com a chegada do inverno, nenhuma delas o fazia de fato, estava curiosa para saber como seria com Judith no castelo; ter Ella já foi uma experiência nova e até mesmo divertida, apesar de tudo tinha que admitir que a loira foi uma boa companhia nos meses em que passaram trancadas atrás de portas pesadas e janelas vedadas.

Pelo que parecia, este ano teriam uma estufa como extensão do castelo, conforme o prometido por seu tio como pedido de desculpas por ser um babaca meramente funcional a construção já havia se iniciado e vários trabalhadores da fábrica migraram para o castelo; para a alegria de Bela, Velaska trabalhava como segunda responsável na construção, o que aumentou de forma significante sua presença e o tempo em comum que tinham. Cassandra precisava se lembrar de provocar a irmã pela forma como babava pelos músculos em exibição da namorada, com o início do verão Velaska usava camisas com mangas rasgadas com cada vez mais frequência, tanto pelo calor como para impressionar Bela e estava funcionando. Às vezes Cassandra sentia um pouco de vergonha alheia pela irmã, mas tentava não julgar porque também não conseguia tirar os olhos de Agatha.

Aquela tarde sentiu uma vontade quase incontrolável de sair do castelo, ansiava por sentir o sol em sua pele e sentir-se energizada pelo calor, talvez uma caminhada pelo pátio ou terrenos do castelo ajudasse com aquele sentimento inquietante mas percebeu que precisava de mais do que isso; então ordenou que selassem seu cavalo e trocou o vestido vinho pela camisa branca e calças justas de montar, as botas de cano comprido foram resgatadas do fundo do armário e Cassandra decidiu que poderia muito bem sair por aí e seguir uma das trilhas pela floresta. No caminho, ainda nos corredores do castelo, encontrou Agatha que acabara de verificar Judith em seu quarto; apesar do castigo, sua mãe acabou sendo muito flexível com a criança e permitiu que Daniela passasse tardes com ela, sempre inventando novas brincadeiras ou servindo cházinho com as bonecas ao redor da mesa; além disso, Judith só saía para suas lições e sempre acompanhada por Agatha, Ella ou até mesmo Daniela. Não foi difícil convencer a namorada a acompanhá-la, principalmente usando aquelas roupas que se ajustavam perfeitamente a seu corpo, e a chegada de Ella garantindo que Judy chegaria na hora certa para as lições foi o que faltava para convencê-la.

Assim, viu-se aproveitando o calor agradável do verão que ainda permitia uma brisa fresca e o cheiro pingente proveniente da floresta. Havia abundância de cores, cheiros e sons; por todos os lados Cassandra podia ouvir coelhos, lebres e raposas correndo para suas tocas ou mesmo de um arbusto para o outro, animais corriam por todos os lados ao procurar por comida e as flores e frutos liberavam um cheiro tão doce que podia senti-lo a quilômetros de distância. Ainda assim a melhor sensação era dos braços de Agatha ao seu redor, Cassandra não permitiu que a namorada tomasse um cavalo só para ela com o intuito de ficarem juntas e tê-la tão perto, o corpo praticamente colado ao seu, era a melhor experiência que poderia ter.

O cavalo negro seguiu a trilha com calma e experiência, o animal era bem treinado e forte, refletia perfeitamente a personalidade de Cassandra e ela o adorava com todas as forças. Apenas sua mãe tinha noção da intensidade de seus sentimentos, novamente suas irmãs não faziam ideia de como Cass amava aquele animal e sentir-se extremamente protetora com ele; certa vez vira a criada dos estábulos sendo rude ao lhe prestar os cuidados e acabou sendo o prato principal aquela noite, sua família se banqueteou com a carne da infeliz criatura e não houve mais maus tratos ao seu cavalo.

- Preciso trazer Daniela aqui para caçar – Cassandra comentou como quem não quer nada, mas sabendo bem que Agatha adorava quando era uma “boa irmã mais velha” – Ela vai enlouquecer com todos esses animais, às vezes ela fica tão animada que não sabe para onde ir primeiro.

- Você é uma boa irmã mais velha – Agatha a apertou com um pouco mais de força e deitou a cabeça em sua omoplata – Fico feliz que pense na Daniela.

- Oh, ela vai correr em círculos por aí enquanto grita de alegria e persegue o que conseguir.

- Qualquer coisa?

- Qualquer coisa – Cassandra respondeu distraidamente – Mas uma vez ela matou um coelhinho por acidente e chorou a tarde toda.

Agatha riu e, como sempre acontecia, Cassandra adorou o som. Era amor de verdade, pensou, só podia ser.

- No que está pensando? – perguntou ao desejar ouvir a namorada mais uma vez – Vamos, me diz.

- Eu não sei, não estava pensando em nada exatamente – Agatha voltou a apertá-la e riu baixinho – Já sei, nunca pensei em você como uma amazona mas está na cara que é ótima nisso.

- Bom, não tivemos muito tempo juntas antes do último inverno, mas é isso que eu sempre faço quando saio sozinha. E estava muito frio pra sair, você sabe...

- Eu sei, amor.

- De toda forma, estivemos ocupadas durante a primavera mas eu gosto bastante de cavalgar por aí, é bem calmo.

- E qual o nome do seu cavalo?

Cassandra afagou o pescoço do cavalo negro e seus lábios se contorceram em um sorriso pequeno, havia uma mancha branca e comprida em seu focinho e ela adorava a dualidade entre as cores que pareciam refletir sua personalidade, denso e profundo mas também sereno de uma forma como ela nunca seria.

- É Príncipe Terridan, príncipe Terry pra abreviar.

Agatha riu, não de forma cruel mas como fazia quando Cassandra fazia algo que considerava bonitinho e de forma totalmente não intencional.

- Príncipe Terry?

- Eu tinha acabado de ler um livro sobre um reino mágico e distante quando mãe me deu ele, achei que seria um nome apropriado mas não conte para ninguém, elas não sabem que ele tem um nome.

- Por que não?

- Mãe sabe é claro, ela elogiou minha escolha e disse que era muito boa, mas as minhas irmãs não sabem e prefiro que continue assim.

Para a maioria das pessoas isso seria uma surpresa absoluta, mas sua mãe era de fato uma ótima mãe. Alcina as acolheu como filhas e por várias vezes repetiu que teve certeza disso no momento em que as viu pela primeira vez, e isso ainda surpreendia Cassandra; claro, sua mãe as mimava demais às vezes, mas ela não estava reclamando disso.

- Adoro saber essas coisas sobre você, é especial.

Cassandra sorriu.

- Me conta algo sobre você agora.

Levou um minuto ou dois para que Agatha respondesse e quando o fez Cassandra poderia ter caído do cavalo tamanha a surpresa.

- Minha antiga casa não fica longe daqui.

Por um lado era bom ouvir Agatha mencionar a palavra “antiga” antes de se referir a “casa”, o que significava que sua casa atual era junto de Cassandra. E embora seu primeiro pensamento tenha sido o de dar meia volta e retornar ao castelo, pensou melhor e tomou uma decisão da qual provavelmente se arrependeria.

- Quer ir até lá?

- Tem certeza?

- É claro – respondeu já se arrependendo mortalmente – Posso conhecer sua irmã...

- Pérola.

- Isso. Pérola.

Um nome um tanto quanto estranho na opinião de Cassandra, mas não diria isso em voz alta para a namorada.

Cassandra seguiu pela trilha conforme Agatha indicava a direção que deviam seguir, a medida que avançavam tornava-se mais difícil prosseguir e o caminho estreitava por entre as árvores até que chegaram a uma bifurcação e a ruiva acenou que deviam tomar à direita para chegarem ao seu objetivo; estavam nos limites do vilarejo, longe o bastante para que o castelo, seu lar, se ergue-se majestoso e distante no horizonte. Havia uma pequena plantação de trigo à certa distância, um trator velho e coberto de ferrugem que já havia visto dias melhores, e uma casa modesta mas de aparência bem cuidada rodeada por uma cerca frágil e que servia mais para demonstrar os limites aos aldeões do que realmente servir de alguma segurança.

Na frente da casa havia uma plantação singela, uma pequena horta que tomava o lugar do jardim, e uma jovem trabalhava ali sem se dar conta de sua aproximação; distraída como estava, continuou colhendo alguns vegetais e colocava-os na cesta ao seu lado enquanto cantarolava baixinho.

- É ela.

- Sua irmã?

- Sim – Agatha respondeu em um sussurro – Ela parece bem.

- Vá até lá falar com ela, eu espero por você.

Ajudou Agatha a desmontar do cavalo, mas não fez nenhum movimento para segui-la enquanto se aproximava da irmã, era um momento só delas e não interviria a não ser que fosse estritamente necessário; mesmo durante passeios despropositais com aquele, quando a intenção não era caçar, Cassandra ainda levava consigo a sua foice e a usaria se fosse preciso.

Os passos de Agatha finalmente chamaram a atenção da garota mais nova e ela ergueu a cabeça em direção ao som. Primeiro foi como se estivesse em choque e não pudesse acreditar no que seus olhos viam, mas logo um grande sorriso se abriu em seu rosto e ela ergueu-se, esquecendo-se completamente da tarefa que desenvolvia, e ficou olhando para sua irmã mais velha como se ela fosse uma miragem que poderia desaparecer a qualquer minuto. Quantas vezes a jovem Pérola havia encarado aquele caminho ao imaginar sua irmã voltando por ele? Quantas vezes sonhara acordada apenas para que a dura realidade se abatesse sobre ela?

Cassandra não conseguia mensurar o que aquele reencontro significava, Agatha jamais entrara em detalhes sobre sua partida e ela simplesmente assumiu que a namorada decidiu que trabalhar no castelo era uma melhor opção, mas começava a desconfiar que havia mais por trás disso. Ela mesma não entendia o sentimento por trás do reencontro, nunca havia se afastado da mãe e das irmãs; Cass desconfiava que poderia ter tido uma família antes de Mãe Miranda e o mofo, talvez uma irmã ou irmãos, um pai e outra mãe, mas tudo isso ficou para trás após o término de uma vida diferente; nesta nova realidade sua mãe era Alcina e Cassandra a amava devotamente.

Observou atentamente Agatha avançar e encontrar a irmã no meio do caminho, ambas lançaram-se em um abraço apertado e saudoso em uma cumplicidade profunda.

- Você está aqui! – exclamou Pérola – Está mesmo aqui.

- Estou…

Cassandra reparou que embaixo do lenço amarrado à sua cabeça para protegê-la do sol, Pérola tinha cabelos escuros, praticamente negros como uma obsidiana, e em nada parecia com Agatha; a irmã mais nova era também mais baixa e franzina em relação a sua namorada, a pele era um ou dois tons mais escuros como se fosse acostumada a ficar sob o sol forte na fazenda.

- Sentia sua falta, passarinha.

Mesmo à distância pode sentir o carinho que emanava das palavras de Agatha, como abraçava a irmã mais nova e parecia feliz. Um lampejo de insegurança a atravessou, e se Agatha decidisse abandoná-la e permanecer ali?

- Quem é ela?

Olhos tão verdes e curiosos quanto os de Agatha a observavam à distância, a jovem pareceu envergonhada ao notar sua presença, ou talvez fosse medo em seu olhar.

- Está tudo bem, ela é Cassandra, minha namorada – Agatha a soltou brevemente para se virar em sua direção e estendeu a mão – Cass, por favor…

Cassandra entendeu. Desmontou Príncipe Terridan e o amarrou junto a cerca decrépita, tentou parecer menos com uma ameaça e mais como uma pessoa normal embora fosse impossível não notar a discrepância entre suas roupas em relação as usadas pelos camponeses e o andar orgulhoso de uma Dimitrescu.

- Essa é Cassandra – Agatha a apresentou – E Cass, essa é a minha irmãzinha Pérola.

Pérola lhe acenou timidamente e Cassandra devolveu o gesto.

- Papai não vai gostar de ver ela aqui.

- Não me importo se ele vai gostar ou não, estou aqui para ver você.

Então havia algum problema com o pai, algo que Agatha manteve para si mesma e não desejou dividir com Cassandra. Já estava começando a se arrepender de ter sugerido a visita, se tivessem seguido o passei pela trilha e voltado ao castelo nada disso estaria acontecendo.

- Como você está? – Agatha perguntou parecendo preocupada – Ele está te tratando bem? Está cuidando de você?

- Mais como eu cuidando dele – Pérola riu parecendo sem jeito – Você sabe, desde que mamãe morreu você cuidou dele e agora é a minha vez desde que…

E se interrompeu, como se percebesse o que estava prestes a dizer.

- Desde que eu fui embora – Agatha completou pela irmã – Você pode dizer isso, foi o que eu fiz mas eu precisei. Sabe que jamais te abandonaria por vontade própria.

- Eu sei, você sempre cuidou de mim. Para onde você foi? O que tem feito? Tenho tantas perguntas!

- Eu trabalho no Castelo Dimitrescu, agora sou babá da irmã mais nova de Cassandra – Agatha virou-se em sua direção e sorriu – Não estive tão longe assim, apenas não podia visitar.

Pérola pareceu entender e assentiu lentamente para a afirmação da irmã.

- Fay Dunhall… Você se lembra dela, não é? Nossa vizinha, ela foi dada como uma dádiva à Mãe Miranda, um tipo de presente por nos proteger durante tanto tempo – Pérola falou quase em devoção – E ela nunca voltou para visitar, deve estar ocupada servindo a Mãe Miranda assim como você servia Lady Dimitrescu, não é?

Mais provável que estivesse morta, pensou Cassandra, seja numa das experiências de Mãe Miranda, dos lordes, ou transformada em vinho por sua mãe. Talvez tenha servido de adubo para os jardins de sua tia Donna, ou virou comida de peixe. Muitas possibilidades, nenhuma delas agradável.

- Isso mesmo – Agatha assegurou – Tenho certeza que é isso.

- Papai teria me mandado no lugar dela, até disse que mandaria, se soubesse cozinhar as próprias refeições, mas disse que tenho alguma utilidade por aqui e por isso não fez uma troca com os outros aldeões. A mãe dela está inconsolável e parece não entender que é uma honra a filha ter se voluntariado para atender Mãe Miranda, começou a gritar que a Deusa já havia levado sua irmã mais velha e agora levava sua única filha, foi muito triste.

Agatha suspirou, ela sabia muito bem o que significava ser levada por Mãe Miranda.

- Pobre Morgan...

- Ela abandonou o marido e foi morar em uma cabana na floresta, raramente vai ao vilarejo trocar caça por outros mantimentos.

O nome Morgan chamou sua atenção, como se fosse a lembrança de um sonho muito antigo e já esquecido, talvez algo da sua vida humana que já não importava mais. No entanto, algo a deixou curiosa, e talvez não fizesse mal perguntar sobre a mulher misteriosa que perdeu a filha e parecia ser sensata o suficiente para saber que ela não estava bem.

- Ninguém a visita ou tenta ajudá-la?

Pérola negou.

- Ninguém quer estar com alguém que é claramente contra Mãe Miranda, isso pode fazer ela parar de nos proteger.

Isso fez Cassandra querer rir, tinha uma resposta na ponta da língua para dar mas antes que pudesse abrir a boca foi interrompida por um som de escárnio ríspido. O homem veio dos fundos, trazia uma enxada sobre o ombro e a jogou no ao vê-las, suas roupas estavam sujas e ele não parecia exatamente feliz em ver visitas principalmente ao se virar em direção a Agatha.

- Você!

- Pai...

- O que está fazendo aqui?! – ele avançou rapidamente com o dedo levantado em direção a Agatha – Achei que tinha sido claro ao dizer que devia ir embora e não voltar mais!

Sem pensar duas vezes Cassandra se colocou entre os dois para proteger a namorada, não era tão alta quanto Daniela mas ainda era maior do que o homem desconhecido e intimidante o suficiente para fazê-lo temer.

- Cuidado com as próximas palavras – Cassandra avisou – Elas podem ser as últimas.

- Cassandra, esse é o meu pai.

O homem grunhiu ao ouvir Agatha o chamando de pai.

- Já disse que não sou seu pai e foi uma escolha sua!

- Ótimo, John então – Agatha disse ao segurar o braço de Cassandra – Ele era meu pai antes de me expulsar.

- E você pode ir embora de novo! – o homem bradou – Estávamos muito bem sem você aqui depois que tentou arrastar o nome dessa família na lama.

Pérola se aproximou e Cassandra notou que ela dividia várias características físicas com o pai, o que significava que Agatha devia se parecer muito com a mãe.

- Eu sinto falta dela, pai.

- Não sente nada! Essa aí virou as costas pra nós quando se deitou com a filha dos Balick no celeiro deles!

Cassandra se virou para Agatha que deu de ombros.

- Quer falar sobre todas as criadas que já levou pro seu quarto?

- Não, mas isso me surpreendeu.

Isso pareceu enfurecer o homenzinho ainda mais, a veia em sua cabeça pulsava tão alto quanto seu rosto estava vermelho.

- Saiam já da minha propriedade! Se não saírem eu mesmo tiro vocês duas! Como se atreve a voltar aqui com essa aí....

- Essa aí? – Cassandra deu um passo a frente e sacou a foice que trazia presa ao cinto – Tem ideia de com quem está falando?!

- E com quem seria?

- Lady Cassandra Dimitrescu – respondeu orgulhosamente – Filha de Lady Dimitrescu.

Deliciou-se com o medo que tomou a expressão do homem, ele deu um passo atrás e se tornou bem mais cauteloso a voltar a falar.

- Não quero problemas com você.

- Pode ter certeza que não quer – a despeito de Agatha tentar segurar seu braço, Cassandra avançou com a foice em punho e pressionou a ponta contra sua jugular – Não vou te matar aqui, mas quero deixar claro que Agatha pode ver a irmã quando quiser e você não vai impedir, não vai ser rude, ou melhor ainda não olhe para ela ou fale com ela! Estamos chegando a um entendimento aqui?

O homem assentiu ansiosamente.

- Ótimo. Porque sabe, minha mãe não vai se importar se um aldeão desaparecer... Talvez minha tia Donna precise de um novo jardineiro, mas acho que você daria um bom adubo.

- Sim...

- Suma da minha frente!

O homem praticamente se virou e correu em direção a casa, esqueceu-se até mesmo da filha mais nova que ainda estava ali com Cassandra e a filha renegada.

- Cass – Agatha suspirou – Não precisava ter feito isso.

- Precisava sim, ele não pode te impedir de ver sua irmã – Cassandra guardou a força – Eu tenho duas e não conte isso a elas, mas não ia querer ficar longe delas.

- Você é...

- Não termine essa frase, não quero ninguém por aí achando que posso ser sentimental. Vou te dar um momento com a sua irmã.

Cassandra beijou o rosto de Agatha, tomando cuidado de não beijar seus lábios na frente da irmã mais nova, e caminhou lentamente até o cavalo; afagou o focinho de príncipe Terridan e sorriu quando ele pareceu se inclinar em direção ao seu toque. Viu Agatha abraçando Pérola com força, mesmo àquela distância pode ver que sua namorada tinha lágrimas nos olhos e parecia desolada em precisar partir; esse era seu maior medo, que Agatha quisesse ficar e decidisse abandoná-la, mas então sua preocupação passou a ser outra. E se Agatha voltasse com Cassandra para o castelo e ficasse infeliz por estar longe da irmã? Cara, ela realmente amava aquela mulher!

Agatha se aproximou lentamente, azo em que sua irmã adentrou a casa modesta e fechou a porta atrás de si.

- Ela quer ficar – disse sua namorada ao chegar perto o bastante – Acha que precisa cuidar dele como uma babá ou algo assim.

- Talvez um dia, amor – Cassandra segurou sua mão e a levou até os lábios para aplicar um beijo – Ela pode se tornar babá de alguém no castelo, Daniela ainda não tem uma.

Pelo menos isso fez Agatha rir.

- Daniela não precisa de uma babá.

- Então só vai dar certo se mãe resolver ter mais filhas, porque isso está fora de cogitação pra nós duas. Mas eu espero que elas escolham não fazer isso, estou velha demais pra ouvir um bebê chorando a noite toda.

Agatha gargalhou novamente, dessa vez de uma forma mais livre, e a puxou para um beijo rápido.

- Obrigada por isso.

- Pelo que exatamente?

- Por me animar – Agatha deu de ombros – Você sempre faz isso por mim.

- Fico feliz em saber.

 Beijou-a rapidamente antes de voltar a montar no cavalo e ajudou Agatha a fazer o mesmo, foi abraçada por trás e sorriu quando a namorada voltou a apoiar a cabeça em sua omoplata. Levaria alguns dias, mas Agatha ficaria bem e, talvez em algum momento, poderiam encontrar sua irmã mais nova outra vez; provavelmente Ella ficaria animada ao ouvir as novidades, poderia apostar qualquer coisa que assim que sua mãe permitisse que saísse do castelo sem supervisão ela e Agatha acabariam ali outra vez.

O caminho de volta foi silencioso, quase como se houvesse algo melancólico no ar e Cassandra não gostou muito disso. Não gostava de ver Agatha triste ou mesmo saudosa em relação o seu passado, estavam criando uma vida juntas e esperava que isso importasse mais do que um pai que a rejeitou.

- Cass?

- Sim, querida.

- Eu te amo. Obrigada por isso, apesar do meu pai ter aparecido foi bom ter ido até lá.

- Eu te amo e faria qualquer coisa por você – Cassandra fez uma pausa e ao voltar a falar não conseguiu manter o tom enciumado sob controle – Mas ainda quero saber sobre a garota do celeiro.

- Não vai matá-la.

- Você que está dizendo, não eu.

O resto do caminho foi calmo e o percorreram em silêncio, mas ao chegar no castelo e ver Daniela parecendo muito entediada sem Judith ou sua ratinha para ajudar a passar o tempo.

- Vou ver Judith – disse Agatha antes de pressionar um beijo rápido em seu rosto – Obrigada por tudo.

Esperou que Agatha subisse as escadas e desaparecesse no andar superior antes de se aproximar da irmã, talvez valesse a pena lhe dar uma chance e compartilhar algum tempo fraternal sem ameaçar jogá-la da torre ou fazer com que engolisse um sapo venenoso.

- Ei, Dani, fui a um lugar legal hoje. Tem raposas e coelhos, acho que você vai gostar.

Daniela se levantou do sofá onde estava jogada e olhou em sua direção.

- Legal, depois me diz onde é.

Cassandra podia simplesmente dar instruções para Daniela chegar até a trilha na floresta, ela conseguiria sem grandes problemas, mas algo a fez mudar de ideia. Nunca ligou muito para ser uma boa mais velha, esse era o papel da Bela enquanto ela só precisava ser a filha do meio rebelde e feroz, só que de repente se viu desejando fazer algo diferente.

- Eu te levo – prometeu – E vamos passar algum tempo juntas.

Daniela a olhou desconfiada e Cassandra não pode culpá-la.

- Vai me fazer colocar algo na boca?

- Não, eu prometo.

- Então tudo bem.

Talvez ela se arrependesse disso. Com certeza iria se arrepender no momento em que Daniela começasse a quicar pelas árvores como uma bola cheia de energia, mas não faria mal ser uma boa irmã mais velha por um dia.

[...]

Ella caminhou lentamente pelos corredores do castelo e ao ouvir a voz melodiosa de Alcina seguiu-a, o som vinha da biblioteca e, sem surpresa alguma, encontrou sua companheira sentada em sua poltrona com Judith e Daniela em seu colo; a condessa lia o que parecia ser um livro de fábulas, sua voz constante e calma parecia levar as palavras em sua direção. Dani tinha a cabeça pousada no peito da mãe e apesar dos olhos sonolentos continuava acordada, já Judy era um caso a parte e havia se enrolado em uma bolinha no colo materno e ressonava tranquilamente. Ella sorriu ao notar que a pequena menina estava praticamente escondida sob o seio de Alcina, completamente alheia ao que acontecia ao seu redor.

Alcina parou de ler ao notar sua presença e foi como se o encanto tivesse sido quebrado.

- Sim, draga?

- Acho que Judith precisa ser colocada na cama.

O livro foi colocado de lado e, com muito cuidado, Alcina levantou-se segurando Daniela e Judith, uma em cada braço, ao que a ruiva se contorceu para livrar-se da mãe e pareceu imediatamente mais desperta.

- Dani? – Ella perguntou – Está tudo bem?

- Sim – respondeu ao saltar dos braços de Alcina – Posso ir sozinha. Boa noite.

Dani desapareceu através das portas da biblioteca sem olhar para trás, parecia muito ansiosa ao deixá-las como se tivesse um compromisso inadiável.

- Quem diria que até Daniela me deixaria após se interessar por uma criada.

Ella não pode deixar de rir do tom indignado de Alcina.

- Daniela está com Naomi?

- Bela não soube me dizer, apenas que Daniela a faz dormir em sua cama todas as noites mas que prometeu não amarrá-la contra sua vontade.

- Precisa falar com ela sobre consentimento.

Alcina suspirou.

- Já falamos sobre isso mais de uma vez.

Sabia que bastaria uma palavra de Alcina para que Daniela deixasse a pobre criada em paz, mas sua companheira parecia encarar as donzelas do castelo como seres inferiores e, por mais que fosse contra tocar em uma mulher contra sua vontade sexualmente falando, não via problemas em castigos. Se Daniela estava apenas obrigando Naomi a dormir em sua cama, Alcina faria vista grossa e se preocuparia com outras coisas que requeriam sua atenção. Não havia como discutir quanto a isso, e enquanto a criada estivesse bem, Ella não se meteria.

- E onde está Bela?

- Provavelmente em companhia da namorada – Alcina respondeu ao se abaixar com cuidado para passar pela porta – Pelo menos ainda tenho Judith, não quero imaginar como vai ser quando ela se apaixonar.

- Você vai assustar qualquer pretendente e ameaçar quem quer que ouse partir o coração da sua menininha – Ella riu – Não negue!

Alcina continuou andando num ritmo lento e constante, ao que Ella a seguiu rapidamente para não ficar para trás. Por mais que se esforçasse, cada passada de Alcina dava duas das suas.

- Eu não ameaçarei qualquer um que partir seu coração, isso eu vou fazer antes – reforçou a palavra – Quem a machucar tem destino garantido em minha masmorra. Não se esqueça com o que fiz com os companheiros daquele verme maldito que ousou tocar em vocês.

Ella se lembrava bem. Embora Alcina tivesse um paladar refinado e preferisse sangue de donzelas, além do seu próprio é claro, as filhas não pareciam se importar com a fonte de carne e sangue que seriam postos em seus pratos, e os comparsas do seu pai serviram uma refeição grandiosa que foi degustada por dias.

Colocaram a criança na cama e Ella trocou seu vestido por uma camisola confortável. Estava quente o suficiente para não precisar de pijamas de flanela ou outro material grosso, então pode deitá-la na cama com cuidado e Alcina beijou seu rosto.

- Boa noite, querida.

Judith se agitou contra os lençóis macios e fez uma careta.

- Não, não estou com sono.

- Sim, você está – Alcina pareceu divertida – Hora de dormir.

- Não – Judith bocejou – Não é hora de dormir. Quer terminar a história.

Ella ajeitou as cobertas ao redor da irmãzinha e beijou seu rosto ao murmurar “bons sonhos”.

- Não, eu não quero dormir.

A voz saiu embolada devido ao sono, como se Judith as estivesse repetindo automaticamente e sem se dar conta do que falava, o que provavelmente era verdade.

- Você já está dormindo, querida – disse Alcina em tom brando – Durma e amanhã vai chegar mais rápido. É o seu dia especial e você precisa estar descansada para aproveitar.

Isso pareceu convencer Judith que esfregou o rosto contra o travesseiro e se encolheu até praticamente virar uma bolinha sob os cobertores. Lhe deram um beijo rápido antes de sair do quarto o mais silenciosamente possível para não correr o risco de despertá-la novamente, já no corredor Ella segurou a mão e de Alcina e sorriu quando o aperto foi devolvido.

- Junte-se mim em um banho, draga mea?

- Claro, Alci, eu adoraria.

Talvez Alcina estivesse planejando aquele momento durante algum tempo, ao chegarem aos seus aposentos o banho estava preparado e esperando por elas. Assistiu, quase hipnotizada, Alcina abrir o vestido e deixá-lo escorrer por todo o comprimento do seu corpo, revelando pouco a pouco cada curva e nuance; ela era perfeita e sabia disso, usava a seu favor para deixar Ella completamente entregue.

- Você é perfeita.

Alcina sorriu e a olhou por cima do ombro, seus olhos brilharam em reconhecimento pelo elogio.

- Obrigada, draga mea.

Ela sabia que era perfeita, que seu corpo era incrível, e aproveita-se disso; mais ainda, deleitava-se com os olhares admirados e desejosos de Ella. Alcina usava uma lingerie perolada que não ficaria bem na maioria das mulheres, mas nela assentava-se perfeitamente como se a cor apenas realçasse sua beleza natural. Como uma condessa cheia de classe, Alcina adorava renda, seda e cetim, então Ella sempre assistia embasbacada enquanto tirava as cinta liga e meias compridas.

- Tire suas roupas, querida, não desejo ser a única nua.

Ella despertou do transe colocado por Alcina e balançou a cabeça, lembrou-se de fechar a boca e sorriu envergonhada ao começar a tirar as próprias roupas. Não sentia vergonha de estar nua na frente de Alcina, a mulher já a havia visto de diversas maneiras, mas jamais seria tão bela e magnífica quanto ela; na verdade, em sua opinião, não havia no mundo viva criatura que chegava aos pés de sua condessa.

Cansada de esperar, Alcina a guiou para o banheiro e adentrou a grande banheira. Ondas de vapor saíam da água perfumada, o ambiente era iluminado por algumas velas que já queimavam e as envolviam em uma penumbra agradável. Com cuidado, Ella se aproximou e entrou na banheira e, como sempre fazia, deitou-se sobre o peito de Alcina.

- Isso é bom – Ella suspirou e aplicou um beijo próximo ao ombro de sua amada – Estar em seus braços é bom.

O perfume, lavanda se tivesse que adivinhar, a envolveu e relaxou, assim como os toques suaves de Alcina por suas costas e braços. As marcas ainda estavam lá e um dia seriam substituídas por cicatrizes, por vezes Ella tentava esquecer que existiam mas Alcina fazia questão de lembrá-la como era linda.

Fazia algum tempo que não desfrutavam de um momento como aquele, não desde o ataque; a última vez, quando Alcina se esqueceu de seus ferimentos e a tocou com maestria ao levá-la ao orgasmo sem tirá-la da cadeira onde estava, não puderam terminar apropriadamente e então houve toda a situação com Miranda. Agora, completamente nua nos braços de Alcina, se deu conta de como sentiu falta, de como era bom o contato entre suas peles.

- Senti sua falta...

A confissão saiu em um sussurro, quase como se declarasse algo vergonhoso, mas Ella entendia que para Alcina era difícil admitir certos sentimentos. Estavam juntas todos os dias, passava as noites em seus braços com a cabeça apoiada em seu peito, mas fazia algum tempo que se encontravam em situação semelhante, em contato sem qualquer peça de roupa entre elas.

- Eu também, amor.

Segurou os ombros de Alcina e se içou para cima para beijar seus lábios.

- Também senti sua falta.

Ella juntou seus lábios e dessa vez Alcina aprofundou o beijo, moveram-se em perfeita sincronia como sempre acontecia quando estavam juntas, como se sentissem exatamente do que a outra precisava. Mordiscou o lábio de Alcina e em resposta a mulher a apertou com um pouco mais de força, como se não desejasse que se afastasse.

Alcina pressionou beijos em seu pescoço, descendo lentamente em direção aos seus ombros enquanto as mãos vagavam por seu corpo, tocando e explorando intimamente; Ella gemeu e mordeu o próprio lábio para evitar mais sons constrangedores como aquele quando Alcina mal começou a tocá-la, mas foi impossível não reagir quando unhas arranharam suas coxas e foram em direção a sua bunda. Duas poderiam jogar aquele jogo, e Ella distribuiu beijos pelo rosto de Alcina, mordiscou seu queixo e desceu até seu peito; fez questão de olhos nos olhos da mulher, adorando a luxúria que encontrou ali, e fechou os lábios ao redor do mamilo enrijecido para então sugar com força.

Os seios de Alcina eram deliciosos, grandes e macios, e Ella mal conseguia ficar longe deles. Circulou o mamilo com a língua e sugou com a mesma intensidade com que agarrou o outro, Alcina jogou a cabeça para trás e gemeu de forma quase pecaminosa; sua mão grande agarrou os cabelos de Ella para mantê-la no lugar, seus quadros mexeram quase de forma involuntária e a casa sugada um som gutural escapava da sua garganta.

- Continue – Alcina ordenou – Seja uma boa menina e obedeça.

Ella mordeu com mais força, o que lhe tendeu um aperto com igual intensidade. Não conseguia tirar os olhos de Alcina, ela era uma visão e tanto com os olhos semicerrados e lábios entreabertos para deixar escapar os gemidos mais pecaminosos sobre a terra.

Dedos longos acariciaram seu sexo, deslizaram por dentre suas dobras e tocaram o clitóris sensível; surpresa, Ella quase parou o que estava fazendo, Alcina voltou a puxar seus cabelos para lembrá-la que devia estar com a boca ocupada.

Alcina a tocou habilmente, mas se recusou a penetrá-la para dar-lhe o que precisava.

- Vou te levar para a cama – Alcina disse com a voz rouca – E fazer melhor uso da sua boca.

Ella mal conseguiu responder, apenas acenou e se deixou ser levada por Alcina até a cama. A mulher a secou diligentemente, esfregou a toalha com um pouco mais de força entre suas pernas para provocá-la.

- Alci – Ella gemeu – Por favor.

- Ainda não, draga.

Alcina a empurrou até que se sentasse na cama e então se aproximou lentamente, como uma loba se preparando para atacar, e com um sorriso predatório no rosto colocou o pé sobre a cama deixando.

- Agora seja uma boa garota.

Em outros aspectos Ella poderia ser considerada a companheira de Alcina em igualdade, mas no quarto tinham uma dinâmica diferente e Lady Dimitrescu ditava as ordens.

Alcina passou os dedos pelos cabelos e Ella e segurou com firmeza, guiando-a em direção ao seu sexo. Ella a lambeu devagar, apreciando seu sabor, e pressionou a parte plana da língua sobre o clitóris inchado de Alcina, fechou os lábios ao seu redor e sugou e isso fez a condessa jogar a cabeça para trás e gemer.

O gosto de Alcina era forte, pungente e profundo assim como ela; a loira pode sentir a unidade escorrer por seu queixo e agarrou as coxas de Alcina, arranjou como podia ainda que soubesse que ela pouco sentiria, e em momento algum deixou de correr a língua através de suas dobras molhadas e apreciar seu gosto.

- Boa menina, continue assim – Alcina gemeu e rebolou contra seu rosto – Não pare...

Ella não poderia parar mesmo que quisesse, chupou com vontade e esfregou o rosto contra o sexo de Alcina como se dia sanidade dependesse disso.

Alcina rebolou com mais força contra seu rosto até que Ella mal podia respirar e gozou demoradamente em sua boca, seu corpo estremeceu e cobriu a loira com sua umidade. Se afastou devagar, o corpo ainda trêmulo devido ao orgasmo e então acariciou o rosto de Ella.

- Boa menina – Alcina elogiou ainda com a voz rouca – Agora deite-se e abra as pernas pra mim.

Ella obedeceu prontamente, precisava que Alcina a tocasse o quanto antes; deitou-se na cama e afastou as pernas, sentiu-se ficar ainda mais molhada ao notar o olhar da condessa sobre seu corpo e subiu na cama para se aproximar como se estivesse prestes a atacá-la. Alcina beijou suas coxas e poderia ter achado o gesto romântico, não fosse o olhar predatório dirigido a ela.

- Alci, por favor! Eu preciso de você.

O sorriso da condessa cresceu consideravelmente.

- Meus dedos ou minha língua? Vamos, você precisa dizer o que quer.

- Os dois, eu preciso de tudo.

- Você foi uma boa menina – disse Alcina ao pressionar beijos por suas coxas – Merece uma recompensa.

O primeiro golpe da língua de Alcina a fez gemer alto, a condessa agarrou seus quadris para mantê-la no lugar e aumentou as investidas; Ella agarrou seus cabelos e puxou com força, ao que Alcina pareceu não considerar como impertinência. Com cuidado, Alcina circulou sua entrada com a língua grande e a penetrou, preparando-a para seus dedos, e quando usou dois para entrar nela, Ella ofegou ao sentir suas paredes se esticarem para acomodá-la.

Alcina a estocava enquanto sugava seu clitóris, adorava como tentava mexer os quadris em busca de mais contato mas ditou o ritmo como queria. Usou uma das mãos para apertar o seio de Ella enquanto a outra a mantinha no lugar, a estimulação extra foi o suficiente para levá-la ao orgasmo.

A condessa continuou com os movimentos enquanto os últimos espasmos percorriam o corpo de Ella, até que caiu exausta na cama e se arrastou enquanto pressionava beijos por toda a extensão da sua pele.

- Descanse, draga mea, vou querer mais de você.

Tudo o que Ella pode fazer foi sorrir satisfeita. Jamais poderia ter o bastante de Alcina.

[...]

Judith nunca comemorou seu aniversário ou mesmo o dos irmãos, não havia espaço para comemorações em sua antiga vida, então quando mamãe e suas irmãs entraram no quarto aquela manhã ela não sabia o que esperar. Agatha a ajudou a se vestir e ficar pronta para o dia, na verdade Judith fazia quase tudo sozinha e o papel da babá era garantir que escolhesse roupas adequadas que seriam aprovadas por mamãe, mas ainda assim era bom não ter que fazer tudo sozinha.

Seu vestido, que ela adorou diga-se de passagem, era feito em camadas de tecido quase translúcido mas que ao ser sobreposto criou um tom suave de rosa, para completar havia asas de borboleta com pontos multicoloridos e brilhantes. Não era o tipo de roupa que podia usar em seu dia-a-dia, principalmente com todas as lições e a exigência de mamãe de que permanecesse adequadamente vestida, mas Judith gostou mesmo assim.

Mamãe foi a primeira a entrar em seu quarto e foi logo seguida por suas irmãs, Judith não perdeu tempo ao ficar de pé sobre a cama e se lançar como pode sobre Alcina que a pegou mesmo com a surpresa.

- Não pise de sapatos na cama – Alcina ralhou sem estar realmente estar brava, Judith pode notar isso em sua voz, e sorriu – Feliz aniversário, pequenina.

Judith adorava estar nos braços da mamãe e por isso envolveu os braços ao redor do seu pescoço e a impediu de colocá-la novamente no chão, o que arrancou risadas de todos mas não se importou com isso.

- Oh, vejo que o vestido lhe caiu perfeitamente bem – Alcina notou – É um presente de tia Donna e foi ideia da Angie.

- Vou agradecer, mamãe – respondeu ainda sem soltar Alcina, era difícil deixá-la ir quando tinham um momento assim e mamãe parecia entender isso, já que dizia que Judith logo cresceria e não desejaria mais tal proximidade. O que para ela não fazia sentido, jamais deixaria de querer estar com mamãe e suas irmãs – E convidar Angie para tomar chá de novo.

- Boa menina.

Judith gostava de Angie, a boneca era divertida e por vezes ácida, nem sempre entendia as coisas que falava mas Daniela insistiu que entenderia as referências quando fosse mais velha e tivesse idade pra isso. Às vezes Judith odiava ser a caçula, mas não em momentos como este quando todas queriam mimá-la um pouco.

- Ei, mãe, que tal dividir um pouco? – Daniela reclamou – Estou ficando velha aqui.

Alcina riu e a beijou uma última vez antes de passá-la para os braços de Daniela. Outra coisa sobre ser a caçula em uma família como aquela, é que não raramente Judith era passada de uma para a outra como se fosse uma boneca ou algo parecido; muitas vezes Daniela a carregava por aí sem se importar com seus protestos, a única que não fazia isso de forma alguma era Cassandra que nem a tratava como criança.

Diligentemente, Judith foi passada de uma irmã a outra e todas a abraçaram e desejaram feliz aniversário. Cassandra lhe deu dois tapinhas na cabeça e a empurrou em direção a Bela mas tudo bem, Judy adorava as provocações da irmã mais velha.

Ella foi a última e ao chegar sua vez a beijou ternamente no rosto.

- Feliz aniversário, Judy. Espero que de agora em diante todos os seus aniversários sejam felizes.

E seriam. Judith estava feliz por estar onde estava, por ter encontrado uma nova família e, principalmente, uma mãe de verdade. Ela não era uma garotinha boba, sabia que sua nova família não era como as outras e que havia mistérios rondando aquele castelo que não queriam que soubesse; mamãe era muito alta, mais do que qualquer pessoa, e suas irmãs podiam se transformar em nuvens de moscas e voar por aí – já havia visto mais de uma vez – e mesmo assim não se importava nem um pouco, não quando estava tão feliz ali.

Mamãe sentou-se na cama e fez um gesto para que se aproximasse, colocou Judith em seu colo e isso a fez parecer uma garotinha ainda menor. Por um instante analisou as mãos grandes de mamãe, sabia que eram fortes e poderiam machucá-la com facilidade mas isso nunca acontecia em sua nova casa.

- Presentes! – Daniela exclamou animada – O meu primeiro!

Judith nunca havia ganhado tantos presentes antes e, com certeza, nunca foram coisas tão bonitas. Sua não tão pequena pilha de presentes continha livros de histórias com princesas, dragões, florestas encantadas e maldições a serem desfeitas; caixas de chocolates com bombons decorados com pequenas flores coloridas, dois vestidos novos, bonecas e Daniela até mesmo tentou lhe dar uma espada, mas mamãe restringiu seu uso durante as lições com Cassandra para evitar, em suas palavras, que Judith cortasse o próprio dedo ou algo assim.

Daniela tinha o costume de esquecer que Judith ainda era uma criança e por isso mesmo era sua irmã preferida, a única que não a tratava como um bebê, e geralmente podiam ser encontradas causando certa comoção pelos corredores do castelo. Como quando colocaram uma aranha no uniforme da criada que não gostavam, foi divertido ver Ophélia gritar e se debater; depois de tudo, Daniela lhe deu cobertura e ambas afirmaram para Ella que não tinham nada a ver com aquilo, sua irmã não gostou nada mas mamãe não ligou nem um pouquinho sequer.

- Agora, algo muito importante – disse mamãe ao beijar o topo da sua cabeça – Bela, querida, seja gentil e mostre a ela.

Obediente como sempre, Bela estendeu uma pequena caixa de veludo azul em sua direção e Judith a tocou com a ponta dos dedos, era macia ao toque e gostou da cor.

- Abra – Bela insistiu – Você vai gostar.

Com cuidado, Judith levantou a tampa da caixa e teve um pouco de dificuldade com as dobradiças, mas por fim conseguiu e ofegou ao ver o que repousava no cetim preto que ficava ao fundo. Um colar em menor escala, mas exatamente igual, ao que suas irmãs usavam todos os dias, com todos os pingentes estranhos com significados que ela ainda não entendia, mas ainda assim era como o das irmãs mais velhas!

Judith ofegou e passou os dedinhos pelo colar, as espadas de formatos diferentes, aquela bolinha que não sabia o que era... E o melhor de tudo, em sua opinião, era a gargantilha que devia ficar presa em seu pescoço com a pedra roxa.

- Eu amei!

- Poderá usar esta noite – Alcina passou o polegar por seu rosto e apertou levemente sua bochecha – Teremos um jantar importante. Lembra-se disso?

- Sim, mamãe.

O jantar que ocorria aquela noite estava causando certa comoção no castelo, mamãe esperava que agisse com perfeição, Daniela estava nervosa e Cassandra rosnava mais do que o normal, até mesmo Ella lhe instruiu a ficar calada e sempre por perto para que nada demais acontecesse. Judith não entendia o problema, era seu aniversário e algumas pessoas que ela não conhecia viriam para o jantar, mas Dani explicou que Mãe Miranda era perigosa e aconselhou a não ficar sozinha em sua presença. Se Daniela tinha medo, Judy achava melhor não se aproximar muito.

Com todos os seus presentes devidamente guardados, com exceção da espada que foi mantida no arsenal, mamãe disse que teriam um longo dia pela frente e mais duas surpresas para ela. Judith não estava acostumada com isso, com toda a atenção e presentes, e foi difícil entender porque mamãe achava aquilo tudo tão importante.

Como sempre costumava fazer, Judith caminhou ao lado de sua mãe e segurou um punhado de seu vestido ao invés de sua mão, precisava de duas ou três passadas para acompanhá-la devido ao seu tamanho, mas nada lhe dava mais prazer e por isso mesmo recusou-se a ser carregada por ela; já estava se tornando uma menina grande, uma moça como a Sra. Constantin gostava de dizer, mas mamãe ainda a via como uma garotinha (e Judith gostava mais da segunda versão).

No hall de entrada, sobre uma mesinha que até a noite anterior não estava lá, havia um castelo que muito provavelmente devia ser maior do que ela; era uma peça magnífica, realmente, de onde estava Judith contou doze torres, cada uma com sua própria janela e cortinas aparentes, pequenas florezinhas coloridas adornavam o parapeito e os tijolos pareciam ter sido moldados um a um com esmero cuidado.

- É pra você – mamãe a empurrou levemente para que desse um passo em frente – Fiz uma encomenda especial para Donna.

Bela segurou sua mão e a incentivou a se aproximar. A parte de trás se abria no meio, formando duas portinholas, para ter acesso ao interior do castelo e todos os seus cômodos cheios de móveis perfeitamente talhados em madeira; escadas, banheiro com banheira de porcelana, camas, armários e cômodas, tudo perfeito.

O castelo era mais comprido do que imaginou a princípio, cada cômodo possuía piso e móveis estilizados; vários quartos, banheiros, salão de jantar, sala, biblioteca com pequenos livros coloridos nas estantes. Mesmo em sua tenra idade sabia que aquilo era uma obra-prima, algo construído com esmero para ela, um presente que a maioria das crianças jamais imaginaria receber.

- Isso também é seu.

Bela lhe estendeu uma caixa de madeira pesada, com um fecho dourado na parte dianteira, e na tampa estava entalhado claramente o brasão da casa Dimitrescu. Judith passou os dedinhos sobre as marcas na madeira e sorriu levemente.

- Posso abrir.

- Você deve abrir – Bela instruiu – Acho que vai gostar.

Dentro, repousadas sobre cetim vermelho brilhante, havia sete pequenas bonecas perfeitamente esculpidas. Judith reconheceu a si própria como a menor delas, suas três irmãs que usavam vestidos pretos semelhantes e podiam ser distinguidas pelas cores do cabelo, Agatha devia ser a boneca com cabelos vermelhos ao lado de Cassandra, Ella usava um vestido azul tinha os cabelos loiros ainda longos, e mamãe que era a maior de todas e tinha um chapéu preto no alto da cabeça.

Ela não só tinha uma réplica em menor escala do castelo, mas também toda a sua família e ficou feliz por Agatha ter sido inclusa mesmo sendo sua babá.

- Eu amei! – Judith deu pulinhos de alegria – Amei! Amei! Amei!

- É tudo pra você, querida – disse mamãe ao se aproximar e tocou seu ombro – Feliz aniversário.

Sem conseguir se conter, Judith deixou abraçou as pernas da mãe ainda que de forma desajeitada por estar segurando a caixa com as bonecas.

- Obrigada, mamãe.

- É o seu dia, querida.

Toda a preocupação com o jantar daquela noite desapareceu, era impossível se preocupar com algo tão trivial e abstrato quando se tinha oito anos e um dia perfeito pela frente. Judith tomou café da manhã com Ella, brincou com Daniela em seu quarto – o castelo foi rapidamente movido para lá -, e teve uma lição de piano com mamãe antes que uma visita inesperada aparecesse. Aparentemente, aquele dia seria cheio de surpresas e ao alcançar o saguão de entrada com Ella em seu encalço – e também mamãe e suas irmãs ainda que não soubesse disso – encontrou Dimitri esperando por ela, parecendo desajeitado e um pouco amedrontado por estar ali, segurando uma rosa vermelha em uma mão e tentando parecer calmo.

- Oi, Judy – disse ele assim que a viu – Isso é pra você. Feliz aniversário.

Ouviu as irmãs soltando um “ouuunt, eles são tão fofos!” coletivo e isso a fez corar mais do que receber a rosa.

- Obrigada.

Dimitri era uma cabeça mais alto do que ela, cabelo loiro escuro cortados como os dos príncipes dos desenhos em seus livros e tinha covinhas que apareciam quando sorria. Apesar das diferenças iniciais e da briga após o garoto ter ofendido sua mãe, os dois haviam se acertado e se tornaram bons amigos; inclusive, o pai de Dimitri parecia bem feliz com sua amizade, sempre insistindo que brincassem juntos e resolvessem suas diferenças de modo pacífico.

- Mamãe, Ella – Judy virou-se em sua direção – Podemos brincar no meu quarto? Quero mostrar meus brinquedos a ele.

- Claro – Ella foi a primeira a responder – Vão em frente, mais tarde uma criada levará algo para vocês.

 Enquanto subiam as escadas, Judith teve certeza que ouviu Ella dizer “ Alci, ele é só um menininho!” e algo sobre não precisar jogá-lo do alto da torre do campanário. Se Dimitri ouviu, nada disse a respeito.

- Uau, você tem muitos brinquedos – Dimitri se admirou ao olhar ao redor do quarto – Quem te deu tudo isso?

- Minha mãe – respondeu como se fosse óbvio – Ela me dá qualquer coisa que eu quiser. Mas agora temos assuntos mais importantes a tratar.

Sentaram-se em sua mesinha de chá e enquanto dividiam uma das caixas de chocolate, combinaram os detalhes do plano perfeito; Judith precisava da ajuda de alguém de confiança e não podia ser uma de suas irmãs ou Agatha, seria arriscado e não haveria oportunidade melhor então por que não arriscar e fazer o que precisava ser feito de uma vez?

- Você tem certeza? – Dimitri perguntou – E se ela pegar a gente?

- Não vai, confie em mim.

- Tudo bem – Dimitri suspirou dramaticamente – Mas só porque você prometeu.

- Pode confiar, eu faço tudo e você só fica de guarda.

Judith o segurou pela mão e o puxou para fora do quarto, o corredor estava deserto e era exatamente o que ela esperava.

- Fique ali – indicou o local onde o corredor faz a curva – Se uma das minhas irmãs aparecer, você grita “Judith, mata logo essa aranha!”, entendeu?

- Elas vão acreditar que eu tenho medo de aranhas?

- Claro que sim, agora vai!

Mesmo desconfiado, Dimitri seguiu suas ordens e assumiu seu lugar na esquina do corredor, o amigo acenou em sua direção para que continuassem em frente e Judith avançou em direção à porta mais próxima da sua. O quarto de Daniela estava muito bem organizado, com exceção da pequena pilha de livros em sua mesa de cabeceira e da grande, e instável, sobre a escrivaninha, Dani não gostava que mexessem em seus livros; não havia dúvidas de que Naomi havia arrumado o resto do quarto, Judy gostava dela por respeitar os desejos de sua irmã mesmo que às vezes mamãe desse ordem que os livros fossem guardados novamente na biblioteca.

Ajoelhou-se ao lado da cama e puxou uma caixa de madeira que Daniela escondia bem embaixo do lado onde dormia, eram pequenos tesouros que havia mostrado a Judith e agora precisava de um deles para o bem da irmã mais velha.

Como o esperado, a caixa estava trancada e a chave para o cadeado repousava segura sobre o peito de Daniela, após décadas convivendo com Bela e principalmente Cassandra tornou isso necessário, mas há um pequeno detalhe que foi confidenciado apenas a Judith; do lado debaixo da caixa, em uma das quinas, caso prestasse bastante atenção poderia encontrar uma pequena rachadura e bastava usar a unha para puxar a madeira fina e revelar um compartimento secreto, não cabia muito mais do que algumas folhas de papel, mas de qualquer forma Judy só precisava do envelope que estava por cima.

Tentou colocar a caixa no mesmo lugar, mas era provável que Daniela sequer notasse. Já estava prestes a sair quando ouviu Dimitri dando o sinal, rapidamente escondeu a carta dentro do vestido e saiu do quarto; Cassandra vinha pelo corredor e os olhou de forma desconfiada, por um lado era bom que não fosse Dani, mas por outro Cass era sempre mais difícil de enganar.

- Aranha – disse Judith ao balançar as mãos fechadas em concha – Vou soltar lá fora.

- O que estão aprontando – Cassandra estreitou os olhos, mas notou que Judith estava no quarto de Daniela e pareceu decidir que não se importava o suficiente já que não era o seu – Quer saber, não ligo.

Juidht respirou aliviada quando Cassandra foi para o próprio quarto e fechou a porta atrás dela, por sua vez Dimitri parecia prestes a desmaiar.

- Sua irmã me assustou.

- Também me assustou – Judith tirou a carta de onde estava junto ao peito – Mas eu consegui.

- Tudo isso por uma carta boba?

- Não é uma carta boba, é uma carta de amor para Naomi.

- Quem?

- A futura namorada da minha irmã, mas é difícil explicar então vamos só entregar pra ela.

O guiou pelo castelo, por sorte já conhecia de cor a maioria dos caminhos e quase não se perdia mais, exceto quando tentava encontrar outra passagem para o porão e alguma criada a encontrava. Não era o que fariam hoje, havia acabado de sair do castigo e não queria acabar em outro; sua missão era muito mais importante e envolvia a felicidade da irmã, só precisava encontrar Naomi.

- Espera – Dimitri segurou seu braço e a impediu de continuar – Só a carta? Vai parecer estranho e até meio suspeito.

- O que então? – Judith mordeu o lábio inferior ao se concentrar e logo sorriu – Tive uma ideia.

Levou o amigo até os jardins onde encontrou a criada que cuidava dos canteiros de rosas e lhe pediu algumas brancas, como sempre acontecia quando queria alguma coisa não houve questionamentos; todas as criadas a obedeciam sem pestanejar, ninguém queria contrariar sua mãe ou fazê-la achar que não estavam cumprindo com suas obrigações.

Procurar Naomi não foi difícil. Primeiro verificaram a biblioteca para ter certeza que Daniela estava lá, e por sorte estava, Ella devia estar com mamãe no escritório e não podiam interromper, já Bela provavelmente estava babando na nova namorada e Cassandra em seu quarto, logo tinham o caminho livre pela frente.

 Encontraram-na já nas escadarias, provavelmente em busca de Daniela para saber o que devia fazer em seguida; Judith sabia que sua irmã mais velha se aproveitava para fazer os pedidos mais confusos e imprevisíveis, como brincar com elas ou se sentar para ler um livro na biblioteca, pobre Naomi ficava completamente perdida às vezes sem saber se obedecia ou se tentava escapar do que podia ser uma armadilha para puni-la. Para Judith não fazia sentido, Dani jamais faria algo ruim para Naomi.

- Lady Judy – Naomi a chamou e Judith fez uma careta, odiava ser chamada assim – Posso fazer algo por você?

- Não – a menina negou com um aceno – Nós é que temos uma coisa pra você.

Dimitri estendeu as cinco rosas brancas, todas sem os espinhos para que não a machucasse, a ambas sorriram ao notar a expressão surpresa e confusa de Naomi.

- São da Daniela – disse Judith com um sorriso enorme – Ela pediu pra gente entregar.

A expressão de Naomi passou de confusa para cética em questão de um segundo.

- Lady Daniela pediu que me entregassem isso?

Judith sabia que não seria tão fácil mas ainda assim a frustrou, pelo menos tinha uma carta na manga e estendeu o envelope com a carta escrita por Daniela.

- Aqui diz “Para Naomi”, ela pediu pra entregar isso também – Judith argumentou ao entregar a carta – Viu? É a letra dela.

Naomi esboçou um sorriso pequeno, singelo, mas que ainda estava lá e era um ótimo sinal, o que fez Judith dar um sorriso enorme em resposta. Agora só faltava que ela lesse a carta onde Daniela declarou seus sentimentos mais profundos e que não teve coragem de proferir em voz alta.

- Nós já vamos. Se eu fosse você, leria a carta e então falaria com a Dani.

- Tchau! – Dimitri acenou ao se afastarem – Leia a carta! – e então sussurrou para Judith: - Quase morremos por ela.

- Pois é.

O amor dói.

Judith gostava de Dimitri, era bem legal para um menino e mesmo quando discutiam conseguiam se resolver – agora sem precisar entrar uma briga física – então foi fácil passar a tarde ao seu lado, a maior parte do tempo brincando em seu quarto; não foi até que Ella disse que estava na hora de começar a se preparar para o grande jantar em comemoração que Dimitri foi escoltado em segurança para fora do castelo, se tivesse direito de escolha Judith preferiria passar o tempo com o melhor amigo.

Ela foi lavada, esfregada e penteada com tanta força que em determinado momento imaginou que Agatha queria arrancar sua cabeça; todo mundo estava muito preocupado com esse jantar, para piorar sua babá não participaria por não querer encontrar Mãe Miranda, de acordo com as conversas que ouviu Velaska também não iria por “preferir ficar longe daquela mulher”, então Judith achava muito injusto que ela e as irmãs não pudessem escapar do jantar chato.

- Não é justo – Judith reclamou quando Agatha terminou de ajudá-la a se vestir – Não quero ir.

- Sua mãe espera que esteja lá e seja uma menina perfeita. Você não quer decepcioná-la, não é?

- Não – Judith suspirou – Prometo me comportar.

- Essa é a minha garota!

Agatha ajeitou a faixa dourada em sua cintura, contrastava bem com o tecido preto e brilhante do vestido e ficava muito bem nela, pelo menos foi o que mamãe disse quando escolheu o modelito para aquela noite em especial.

- Agora vá lá pra baixo e espere suas irmãs, Cassandra já vai descer mas Bela deve estar esperando, ela é sempre pontual – Agatha beijou sua testa rapidamente – Vai passar rápido.

- Assim espero.

Judith abraçou Agatha antes de sair do quarto, ainda no corredor pode ouvir Daniela praguejando em voz alta e adivinhou que estava tendo dificuldade com o vestido ou o que quer que estivesse vestindo. Por sorte, acabou por encontrar Naomi no corredor e a mandou para o quarto da irmã, pelo menos assim teria ajuda.

Como dito por Agatha, encontrou Bela a postos e a espera de seus convidados no hall de entrada, em silêncio posicionou-se ao lado da irmã mais velha que apenas deu um tapinha em sua cabeça para reconhecer sua presença. Às vezes era como se fosse um filhotinho de cachorro que as mais velhas cuidavam.

O primeiro a chegar foi Heisenberg, as criadas abriram as portas do castelo para permitir sua entrada e Judith fez uma careta. Ainda estava com raiva do tio pelo que aconteceu a Bela, e talvez suas irmãs e mãe possam ter perdoado mas ela não.

- Bela – Karl tirou o chapéu puído em um gesto que devia ser cavalheiresco – Baixinha.

- Eu não sou baixinha – Judith retrucou.

- Ainda brava comigo? Até sua irmã me perdoou!

Bela levantou o dedo para o tio.

- Estou sendo educada, tio Karl, e feliz por Velaska estar aqui mas não está completamente perdoado.

- Vocês herdaram isso da sua mãe – Karl estreitou os olhos – Tenho certeza que de alguma forma isso aconteceu e Alcina estragou vocês. Ainda tenho um presente se quiser.

As irmãs trocaram um olhar e Bela assentiu para que Judith desse um passo em frente, ainda que fosse mais próxima de Daniela não deixava de procurar pelo apoio da mais velha das irmãs Dimitrescu. Karl lhe estendeu algo envolto em um pano sujo que sua mãe jamais permitiria no castelo e Judith o pegou um pouco receosa, o conteúdo parecia um canivete mais grosso do que o normal e parecia cheio de fios e pequenas engrenagens que não fazia ideia do que para que serviam.

- O que é isso? – Judith fez uma careta – Parece que tá quebrado, tio Karl.

- Não está quebrado é um canivete que eu mesmo fiz pra você e tem tudo o que uma menina da sua idade pode precisar, uma lâmina, um abridor de latas, pregos, dois metros de corda resistente caso precise amarrar alguém, um gancho, pederneira pra acender uma fogueira, lixa capaz de serrar metal, e aí coloquei um isqueiro caso não consiga usar a pederneira... – Karl listou – Também tem uma bússola, uma lupa em miniatura que você pode usar pra queimar formigas...

- Tudo o que uma menininha precisa? – Bela perguntou completamente incrédula – Ela ficaria melhor com uma boneca.

- Uma boneca? Que coisa mais chata!

- Obrigada, tio Karl. Eu adorei! – e realmente havia adorado, aquilo praticamente pedia que fizesse alguma travessura, mas naquele momento teve uma ideia de ouro e não podia desperdiçar a chance – Tio Karl, quer mesmo se desculpar?

Karl a olhou de modo curioso.

- Continue falando...

Judith estava prestes a ter o melhor aniversário de sua vida, passados e futuros.

[...]

Ella colocou o segundo brinco e olhou a própria imagem refletida no espelho. Não estava nada mal, o vestido azul marinho fazia seus olhos se destacarem, mostrava a quantidade certa de decote e dava destaque ao colar que Alcina lhe deu de aniversário.

- Você está linda, draga mea.

Virou-se para olhar a mulher que se aproximou tão silenciosamente quanto sempre.

- Nem chego aos seus pés, meu amor.

E era a mais pura verdade. Alcina usava um vestido preto que abraçava suas curvas nos lugares certos e foi feito especialmente para ela, os detalhes em dourado apenas valorizaram sua aparência e ela estava completamente maravilhosa. Alcina se inclinou em sua direção e beijou seus lábios rapidamente para não manchá-la com o batom.

- Você está completamente estonteante, draga mea – disse Alcina ao ajeitar a postura – Ninguém brilha mais do que você.

- Apenas ao seu lado.

Apesar de parecer piegas, Ella não conseguia simplesmente abafar o sentimento de pertencimento ao estar ao lado de Alcina; como sempre acontecia, sentir-se acolhida e protegida, e só podia esperar que tal sentimento se estendesse durante todo o jantar e enquanto permanecessem na companhia de Mãe Miranda.

Alcina pareceu sentir sua inquietação, como sempre acontecia, e a ergueu em seus braços fazendo-a gargalhar de surpresa.

- Alci, vai amassar meu vestido! – Ella ralhou em brincadeira e deu um tapinha no braço da mulher mais velha – Me coloque no chão, por favor.

- Em um momento, só preciso fazer uma coisa.

E dizendo isso praticamente enfiou o nariz nos cabelos loiros de Ella e aspirou seu cheiro, o que fez um pouco de cócegas e resultou em um ataque de risadinhas. Mesmo após tantos meses a surpreendia como Alcina era uma criatura física que precisava do toque, do cheiro, de demonstrações de afeto para se sentir amada; talvez fosse mais preciso dizer que precisava dessas coisas para acreditar que era amada, e sentia igual necessidade em dispensar tais atos. Tendo consciência disso, Ella acariciou os cabelos negros de sua amada e esfregou o nariz em seu pescoço; Alcina cheirava divinamente bem, um de seus perfumes caros é claro, e Ella adorava.

Seu momento durou menos do que gostaria, já que Alcina a colocou no chão e disse que precisavam se apressar ou se atrasariam para o próprio jantar, e Ella sabia que a condessa preferiria morrer a ser tão deselegante em frente a Mãe Miranda e os outros lordes. Como sempre fazia, segurou a mão de Alcina enquanto caminhavam através dos corredores luxuosos do castelo, não se importava com a diferença de altura ou como mal alcançava a cintura da sua companheira, eram suas diferenças que as faziam perfeitas juntas.

Encontraram as três filhas mais velhas recepcionando Lady Beneviento às portas do castelo, a mulher usava o vestido e mesmo véu que lhe cobria todo o rosto assim como da primeira e última vez que a vira, é claro que àquela época Ella estava completamente tomada pelos remédios para dor, mas ainda se lembrava o bastante. Angie, a boneca de madeira, havia trocado o vestido de noiva puído por um que parecia muito um dos brancos perolados de Alcina, usando até mesmo um chapéu preto para completar o look e tentava agir de modo pomposo, claramente tentando copiar a condessa.

Alcina trocou algumas poucas amabilidades com sua irmã enquanto Ella tentava olhar discretamente ao redor em busca de Judith, mas mesmo Daniela deu de ombros para indicar que não sabia sobre seu paradeiro.

- E você se lembra de Ella, é claro.

Ella se adiantou um passo e segurou a mão que Donna gentilmente estendia em sua direção, na qualidade de companheira de Alcina deveria reverenciar apenas Mãe Miranda, mas gostava de como sua irmã era – aparentemente – calma.

- Lady Beneviento, fico feliz por nos encontrarmos em circunstâncias mais agradáveis. Alcina foi gentil o bastante para me contar sobre como me ajudou, não tenho palavras para agradecer.

Sua resposta foi um pequeno movimento da cabeça de Lady Beneviento, nenhuma palavra, mas Angie parecia ter muito a dizer.

- É, é, você está bem e parece melhor sem ter virado picadinho para o jantar das feras fedorentas. Donna e eu não os suportamos.

Ella riu baixinho.

- Tenho que concordar, Srta. Angie, pareço melhor em um único pedaço.

- Gostei dela! – Angie guinchou ao bater palmas com suas mãozinhas de madeira – Ainda bem que Donna te costurou direitinho, ou grandes peitos ali teria um ataque!

- Angie – Donna ralhou suavemente, sua voz mal passando de um sussurro – Seja gentil.

Alcina apertou a ponte do nariz e parecia prestes a perder a pouca paciência que tinha com a boneca, mas as portas se abriram novamente e a chegada de Mãe Miranda interrompeu a cena que se desenrolaria; o efeito que a líder causada se espalhou dentre eles com incrível rapidez, mesmo sem precisar olhar em sua direção Ella soube que Bela, Cassandra e Daniela se aproximaram como se assim pudessem se proteger, Lady Beneviento encolheu-se quase imperceptivelmente e Angie ficou anormalmente quieta. Enquanto Alcina se aproximava de Mãe Miranda para lhe dar as boas vindas, Ella não conseguia tirar os olhos da criatura que a acompanhava; braços humanos e esquálidos pareciam brotar da figura disforme e corcunda, uma bocarra cheia de dentes amarelados, tortos e grandes demais para a cavidade projetava-se logo acima do que poderia ser seu pescoço mas se parecia com um monte de caroços infeccionados e prestes a explodir; toda a sua forma era coberta por uma espécie de casaco preto encimado por uma coroa feita com ossos. Seja o que fosse, choramingava e murmurava sozinho para si mesmo, algo sobre a mamãe e irmãos, e parecia em constante agonia.

- Elleanor – a voz profunda de Mãe Miranda a despertou dos seus pensamentos – Vejo que ainda não conhecia Moreau, outro de meus filhos.

Moreau, a criatura, se aproximou em passos desajeitados e estendeu a mão que Ella aceitou, ele cheirava a peixes e algas podres.

- É um prazer conhecê-lo.

- Igualmente – Moreau virou-se em direção a Alcina e até mesmo ensaiou alguns passos, mas a condessa se afastou com uma expressão de desgosto e isso meio que fez Ella ter pena dele – Cadê a criança, irmã? Você disse que tinha uma menininha, você disse! Você disse! Cadê ela, irmã? Eu trouxe um presente!

Alcina tentou, muito mal, reprimir uma careta e olhou ao seu redor ao se dar conta de que Judith não estava ali.

- Onde está Judith? – perguntou para as filhas mais velhas que se revezavam para cumprimentar Mãe Miranda e o tio – Deixei claro para a babá que a queria aqui e que deveria estar pronta na hora.

Bela se adiantou em direção à mãe, mas foi interrompida antes que pudesse falar.

- Estou aqui, mamãe! – disse Judith ao descer os degraus que as separavam, a menininha usava um vestido preto com saia rodada e uma faixa dourada que terminava em um laço em suas costas e Ella sorriu ao notar que era a mesma paleta de cores de Alcina – Tio Karl chegou mais cedo e eu o estava recepcionando, sinto muito pelo atraso mas ele queria me dar um presente.

Ella cobriu a boca com a mão e disfarçou uma risada com um ataque de tosse, teve certeza que quase partiu três costelas ao se impedir de rir ao ver Heisenberg se aproximando com cara de poucos amigos, carregando uma das bonecas de Judith, um paninho e uma mamadeira cheia de um líquido amarelado. Ao que parecia, as filhas mais velhas de Alcina tiveram o mesmo problema que ela, sendo que Daniela mal conseguiu se controlar, e Judy parecia muito satisfeita consigo mesmo.

- Heisenberg – Alcina voltou a apertar a ponte do nariz, provavelmente teria uma enxaqueca antes do fim daquela noite – Pode se explicar?

- É claro que posso, essa aqui – balançou a boneca, uma das caras que Alcina havia encomendado especialmente para Judith com vestido cheio de babados, laços e cabelo castanho cheio de cachos perfeitos. Ao ser balançada, seus cabelos já despenteados voaram loucamente – é a Marocas, minha filha. A mãe dela morreu em um acidente na fábrica e agora sou pai solteiro, mas não um dos melhores já que a mamadeira dela cheira a uísque.

- Por que ela pode e eu não? – Angie se indignou – Marocas não chega a meus pés!

Heisenberg suspirou e tirou o que parecia ser um charuto de madeira de um dos bolsos internos do casaco e o deu para Angie.

- Está tudo bem, Donna, não vai fazer mal a ela.

Donna pareceu compreender que era um charuto falso e nada disse, por sua vez Angie o colocou na boca e fingiu tragar e soltar a fumaça inexistente no ar.

- Gostei disso – disse a boneca – Tem classe.

- Seriamente, Heisenberg – disse Mãe Miranda – Sente prazer em me envergonhar diante da família?

- Ei, sou só um tio preocupado em se desculpar com suas sobrinhas, essa foi a única maneira – Heisenberg se virou, sem dar atenção aos outros irmãos, e ainda levando Marocas nos braços voltou a caminhar em direção ao salão de jantar mas não sem antes dizer: - E envergonhar vocês é um bônus.

Seguiu caminho sem olhar para trás ou se importar com o que diziam a seu respeito, sabia que Alcina discordaria mas Ella admirava como as sobrinhas eram importantes para Karl a ponto de brincar de boneca com Judith para ser perdoado.

Para tentar mudar o foco, Alcina fez Judith dar um passo em frente.

- Mãe Miranda, essa é Judith, minha filha mais jovem.

Como foi instruída, Judith fez uma pequena reverência em direção a Mãe Miranda.

- Uma garotinha adorável.

Contudo, Ella notou, o elogio não chegou aos seus olhos que continuaram frios e inexpressivos.

- Muito prazer – Judith conseguiu dizer em voz baixa, claramente acuada – É um prazer conhecê-la e recebê-la no castelo Dimitrescu.

Perfeita, é claro, como uma miniatura bem treinada de Alcina. Mas bastou que Moreau se aproximasse de forma desajeitada, muito ansioso em conhecer a nova criança, que Judith ofegou audivelmente e se aproximou de Alcina para agarrar seu vestido como sempre fazia.

- Mamãe!

- Está tudo bem, querida, esse é o seu... Tio, assim como Karl – Alcina explicou com alguma dificuldade – Ele quer lhe dar um presente.

Judith tinha medo de bem poucas coisas e adorava suas bonecas estranhas, e tagarelou por dias sobre reencontrar Angie, mas Salvatore Moreau foi capaz de assustá-la e Ella conseguiu perceber sua expressão quase aterrorizada.

Por sua vez, Moreau parecia imune à reação da criança, ou já estivesse acostumado com a primeira impressão que causava, e aproximou-se para estender o que parecia ser um pote cheio de água suja do lago.

- Peguei ela pra você.

Judith aceitou o pote e o olhou atentamente.

- É um filhote de salamandra? Parece com um.

- É sim – Moreau sorriu, ou Ella supôs que estava sorrindo, ao ter o presente reconhecido – Eu mesmo peguei. Fui eu, sozinho que peguei pra você. Fui eu, fui eu sim.

- Obrigada – Judith respondeu ainda um pouco distante – Eu adorei.

- Eu disse, eu disse que ela ia gostar. Karl riu de mim e disse que a menina não ia gostar, mas ela gostou e sei que crianças gostam disso.

- Sim, Moreau, Karl estava errado – disse Alcina em tom de quem encerra a conversa – Melhor irmos todos para o salão.

O jantar transcorreu sem maiores problemas e Ella tentou prestar a atenção nas conversas paralelas que percorreram a mesa; foi um desenvolvimento novo ter tantas pessoas no castelo, e sem dúvida alguma formavam um grupo estranho, mas foi agradável. Alcina ordenou que servissem um prato cheio de queijos para Moreau, o cheiro não era exatamente agradável e Cassandra nem mesmo tentou esconder o desagrado, mas pareceu ter sido a escolha óbvia devido aos sons satisfeitos que ele fez enquanto comia. Também foi a primeira vez que presenciou Alcina e as garotas comendo um pedaço de carne extremamente vermelha para estar bem cozida, mas já estava muito acostumada a ideia para se importar realmente, e Judith não pareceu notar nada de diferente.

Ella sentiu falta de ter Agatha a mesa, estar com Cassandra a fazer da família mas entendia o sentimento de querer ficar longe de Mãe Miranda, e Velaska também não precisava passar por aquilo.

Depois do jantar acabaram indo para a sala de ópera onde algumas criadas serviram vinho e uísque, o último em especial para Heisenberg, e Alcina lhe garantiu que em sua taça de vinho não havia uma gota sequer de sangue de donzela, ao que Ella foi grata.

Já passava da hora de Judith estar na cama quando Ella passou a procurá-la, não queria deixar a criança acordada até tarde e deixou isso claro para Alcina. Encontrou-a no corredor, voltando para a sala de ópera, e a fez se despedir de todos e embora não tenha encontrado Mãe Miranda imaginou que estivesse com Alcina, conversando em particular em algum lugar do castelo, e sentiu-se melhor assim ao poupar a menina de ter que encontrá-la cara a cara mais uma vez.

Levou Judith para o quarto e a ajudou a se trocar, a salamandra e o canivete dado por Karl foram colocados sobre a mesa de cabeceira e Ella sentiu vontade de suspirar ao notar que os homens não tinham a mínima ideia do que fazer com uma criança – pelo menos Marocas fora devolvida ao seu lugar de origem logo após o jantar. Judith estava em silêncio, como se contemplasse algo grandioso demais ou tentasse resolver um enigma muito difícil, por duas vezes Ella perguntou o que havia de errado mas a menina apenas murmurou que estava tudo bem, logo resolveu não insistir e se demorou um pouco mais pelo quarto à espera de que finalmente confessasse o que se passava em sua cabecinha.

Felizmente não demorou muito tempo.

- Ouvi Mãe Miranda conversando com mamãe.

- Judith – disse Ella em tom de aviso – Não é educado ouvir a conversa de outras pessoas, com certeza não era pra você saber sobre o que falavam.

- Mas eu não queria espiar, só estava procurando a mamãe.

- E então? Algo a deixou preocupada?

Judith assentiu.

- Mãe Miranda perguntou se mamãe queria ter uma filha com você, que ela podia fazer isso acontecer, e também perguntou o que mamãe acharia de ter uma filha de verdade.

Como se Ella não tivesse motivos o suficiente para não gostar da mulher.

- Mamãe disse que somos filhas dela de verdade, mas Mãe Miranda insistiu que não é verdade de verdade mesmo, somos adotadas.

Ella ajeitou o cobertor ao redor da menina enquanto pensava em uma resposta plausível e que fosse capaz de reconfortá-la, naquele momento não podia agir com raiva ou dizer tudo o que realmente se passava por sua cabeça.

- Mamãe disse de novo que somos filhas dela de verdade – Judith brincou com o cobertor – Ela disse sim.

- E é isso o que realmente importa, e não o que Mãe Miranda diz – Ella tentou sorrir – Olha só, Alcina conheceu suas irmãs e resolveu que seria mãe delas e então te conheceu e decidiu que também seria sua mãe. Entende como isso é muito melhor? Se tivéssemos uma filha, ela teria que ser mãe dele por obrigação, mas ela escolheu vocês porque ama cada uma de um jeitinho especial.

Isso pareceu animar Judith, mas ainda havia uma pontada de incerteza.

- Tem certeza disso?

- Absoluta. Sua mãe te ama e faria qualquer coisa por você e suas irmãs, ela me disse que vocês estão acima de tudo e de todas as coisas – Ella se inclinou e beijou o rostinho de Judith – Só me faça um favor, não conte para suas irmãs, está bem? Não queremos que sua mãe descubra que estava ouvindo escondida.

- Pode deixar. Eu juro que prometo que não conto.

- Então eu prometo que juro acreditar em você – sorriu ao fazer cócegas na menininha, principalmente porque conseguiu fazê-la rir – E tem mais uma coisa, se sua mãe e eu resolvermos ter um bebê vai ser daqui a muito tempo, tanto tempo que você já será uma mocinha e estará preocupada com outras coisas.

- Como o que?

- Como meninos, por exemplo.

- Meninos são nojentos.

- Ou talvez meninas – Ella corrigiu – Mas aposto que você não vai achar meninos tão nojentos assim, talvez Dimitri vire um belo raapz.Vai se apaixonar e sua mãe vai ficar morrendo de ciúmes...

Alcina escolheu aquele exato momento para adentrar o quarto.

- Falando de mim, eu vejo.

- Sempre, amor – Ella riu – Apenas dizendo a Judith que quando chegar a hora você vai caçar todos os meninos que tentarem roubar o coração dela, nós duas sabemos que você é uma mamãe ursa super protetora e ciumenta.

- Isso é verdade – disse Alcina ao se sentar do outro lado da cama. Mesmo que Ella já tivesse feito isso, Alcina ajeitou o cobertor de Judith mais uma vez e aplicou um beijo demorado em seu rosto – Eu vou matar qualquer um que tente roubar seu coração, então saiba que você não pode se apaixonar por ninguém e nem me deixar. Ouviu bem?

- Mas Bela e Cassandra tem namoradas.

- E por isso mesmo Daniela e você não podem me deixar. Só tem permissão pra namorar quando for mais alta que eu.

A gracinha fez Judith gargalhar, já parecendo tranquila quanto ao assunto abordado mais cedo.

- Você teve um bom aniversário? – Alcina perguntou ao acariciar o rosto da criança.

- O melhor da minha vida todinha.

- Que bom, querida – Alcina se inclinou e beijou o rosto da filha mais uma vez, deixando que Judith abraçasse seu pescoço e pressionasse beijos demorados em sua bochecha – Boa noite, amo você.

- Também te amo, mamãe.

Ella abraçou a garotinha mais uma vez, sem acreditar em como estava crescendo feliz e saudável, a beijou e disse que a amava ao que foi prontamente respondida. Judith já estava dormindo, completamente exausta, quando saíram juntas do quarto.

O resto da noite continuou tão normal quanto poderia, ainda que Ella sentisse vontade de esganar Miranda cada vez que a ouvia falar uma mísera palavra sequer. Quando todos se foram e se recolheram em seus aposentos compartilhados, Ella pode respirar fundo e aliviada pela primeira vez em horas.

Ambas tomaram seu tempo para se prepararem para a noite, e exausta como estava Ella não desejou nada além de deitar-se no peito de Alcina e se deixar abraçar até ser levada pelo sono. Sua companheira não tocou no assunto referente a Mãe Miranda e a possibilidade de, de fato, terem uma filha e nem mesmo se ouviu parte de sua conversa com Judith; isso significava que Alcina não estava disposta a compartilhar ou, ainda, que não tivesse gostado nem um pouco das palavras de Miranda questionando sua maternidade.

Já nos braços de Alcina, ouvindo o som reconfortante do seu coração batendo no peito, Ella teve coragem de perguntar outra coisa que rondava sua mente.

- Então, seu irmão Salvatore... – Alcina grunhiu ao ouvir o termo “irmão”, mas Ella a ignorou e continuou: - É isso que acontece se eu não for compatível com o cadou?

- Você é. Vai ser – Alcina respondeu em tom firme, mas a abraçou com um pouco mais de força – Você não se transformou em uma fera e isso é um ótimo sinal.

- Mas...

- Você será um sucesso, draga mea, mas se quiser desistir ou ficar com medo... – Alcina respirou fundo antes de continuar: - Eu entenderei e ninguém a forçará a nada.

Ainda que tivesse medo, Ella pensou em como seria sua vida como uma humana frágil, correndo o risco de morrer a cada dia e então envelhecer enquanto Alcina continuava imutável. Parecia uma piada de mau gosto, tempo nenhum seria suficiente ao seu lado se contasse de forma regressiva até o final inevitável.

- Não, eu não vou desistir – sua voz soou firme – Não posso viver sabendo que meus dias com você serão contados, eu a amo e não há nada que desejo mais do que passar a eternidade ao seu lado.

Alcina depositou um beijo carinhoso em sua testa e então em seus lábios.

- Eu te amo, draga mea, e fico feliz que também se sinta assim.

Aconchegaram-se uma a outra e Ella tentou esquecer todos aqueles pensamentos. Chegaria a hora de ser infectada, de se transformar em alguém semelhante a Alcina, e pensar dessa forma não a assustava, então decidiu que assim encararia seu destino e que seria melhor do que uma separação inevitável.

Enquanto isso, não muito distante dali, Cassandra abraçava Agatha como se temesse deixá-la partir, ainda se sentia muito protetora após o encontro no dia anterior com a família da namorada; além disso, não conseguia tirar o nome Morgan da cabeça como se fosse muito importante se lembrar de algo relacionado a ele.

Como se sentisse sua inquietação, ainda que parcialmente adormecida Agatha aplicou um beijo em seu peito e voltou a se aconchegar ali, ao que Cassandra se esqueceu de qualquer coisa que não se relacionasse com ela. Nada mais importava, Morgan ou a família horrível de Agatha, ela pertencia a Cassandra agora e a protegeria de tudo se fosse preciso.

Já Daniela dormia a sono solto, sem se dar conta de que as palavras escritas em uma carta roubada tiravam o sono de outra pessoa.

Por sua vez, Bela riu ao ser abraçada pela namorada. Era mais alta que Velaska, mas isso não a impedia se segurar Bela contra a parede mais próxima e beijá-la furiosamente; dessa vez, no entanto, encontravam-se caminhando de mãos dadas lentamente pelo jardim, aqui e ali faziam uma pausa para que Velaska olhasse para o céu e então soltava alguma curiosidade sobre constelações e estrela.

- Gosta de estrelas?

- Muito, acho lindas e fascinantes – Velaska admitiu com um sorriso. A brisa noturna bagunçou seu cabelo e lhe deu uma aparência ainda mais selvagem – Não tão lindas quanto você, é claro. Estrela nenhuma chega a seus pés.

Bela sentiu suas bochechas queimarem e o coração bater em disparada no peito. Ninguém nunca havia dito coisas assim para ela antes, e Velaska parecia o fazer com naturalidade e sem intenção alguma de agradá-la falsamente.

- Senti sua falta hoje à noite – Bela admitiu ao colocar uma mecha do cabelo de Velaska atrás da orelha – Queria que estivesse ao meu lado.

- Sinto muito, estrelinha. Eu também queria estar ao seu lado, mas simplesmente não conseguia, não com a Miranda lá.

Apesar de sorrir com o apelido carinhoso, Bela ainda se sentiu desanimada.

- Eu sei. Também não gosto dela, mas mãe diz que precisamos manter a classe e as aparências.

- Você está comigo agora, estrelinha, vamos aproveitar nosso tempo juntas e sem pensar nessa aí.

Bela estava mais do que feliz em concordar. Segurou o rosto de Velaska de forma tão delicada como se fosse uma peça de cristal e a puxou para um beijo; a sensação de seus lábios juntos, como pareciam se encaixar perfeitamente, e como nada mais importava quando estavam juntas.

Se qualquer uma das mulheres no castelo estivesse menos envolvida com suas questões, sentimentos e paixões, teriam sido capazes de ver a figura misteriosa se esgueirando até a torre do campanário


Notas Finais


Espero que tenham gostado!

E aí? Teorias? Ideias? Me ajudem a pensar no que pode ter no próximo capítulo!

Obrigada por lerem até aqui e por favor comentem pra eu saber o que acharam!

Aaah, Alcina com ciúmes do Dimitri foi tudo! Hahahahaha e Judy ainda é o bebê da mamãe


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