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História Belas Criaturas (fanfic Lady Dimitrescu) - Problemas no Paraíso


Escrita por: Arwen_Nyah

Notas do Autor


Olá, pessoas!

Já dei esses avisos no Instagram, mas pra quem não me segue:
Sexta vou visitar minha madrinha que está muito doente, precisamos nos despedir porque o tempo está acabando, por isso não estou no clima de escrever hot e vou precisar de alguns dias.
Os comentários de vcs estão salvando a minha sanidade, prometo responder todos.

Espero que gostem do capítulo!

Por favor, comentem ❤️

Capítulo 37 - Problemas no Paraíso


A vida encontra um jeito de seguir. A evolução foi um direito adquirido pelos seres humanos após milhares de anos caminhando sobre a face de terra, por dominar os seres vivos e alcançar o topo da cadeia alimentar.

Ainda assim, após meses da sua nova vida, Elleanor ainda tinha dificuldade em entender o salto evolutivo pelo qual passou.

Não devia ser assim, era antinatural que qualquer ser vivo pudesse assistir a evolução da sua espécie em um salto tão violento. Mudanças assim deveriam ser lentas e graduais, onde cada pequeno avanço levaria anos, talvez gerações inteiras, para acontecer de fato.

Mas ali estavam eles, confinados em um vilarejo isolado do mundo externo, provando que a evolução da raça humana estava mais perto e era mais palpável do que qualquer um poderia imaginar mesmo nas mais insanas alucinações.

Por algum motivo Elleanor não acreditou que passaria pelo mesmo processo, algo a fez acreditar que teria que lidar apenas com a imortalidade ao lado de Alcina e que então poderiam viver uma vida tranquila; esse se tornou um pensamento recorrente enquanto estava deitada sozinha a noite encarando o dossel da cama com Alcina dormindo ao seu lado, as gêmeas no berço no quarto ao lado, e chegou a conclusão de que uma parte sua acreditava que nada mudaria já que não entraria em contato direto com o cadou, se suas filhas seriam capazes de contaminá-la com o que havia em Alcina deveriam “purificar” os efeitos colaterais.

Tudo pareceu bem por algum tempo, Ella teve seus bebês perfeitos e a vida em si parecia perfeita, suas filhas mais velhas estavam em segurança e nada poderia abalar a força e a soberania da casa Dimitrescu.

Mas então Miranda (a maldita Mãe Miranda!) havia cometido seu maior erro ao tocar suas filhas e com isso despertou um lado de Elleanor que nem mesmo ela sabia que existia.

Sempre se viu como alguém capaz de fazer qualquer coisa por suas filhas, de planejar jogadas inteligentes e virar o jogo se fosse preciso, mas nunca se viu tão perto de avançar sobre Miranda e tentar arrancar a carne dos seus ossos usando apenas as próprias mãos.

Por um momento, um muito breve e que não passou de um lampejo nos olhos da Miranda, Ella viu a raiva e o desdém ao olhar para Daniela e temeu que atacasse sua filha apenas como retaliação por tê-la ameaçado de forma tão direta; tudo em que pode pensar foi em manter Dani em segurança, trazê-la para perto e precisou se controlar para não se jogar sobre Miranda (nem Alcina conseguiria segurá-la se tentasse).

Mesmo que Miranda tenha recuado em um primeiro momento, Ella teve medo que todo o acontecido resultasse em retaliação e isso a fez passar os próximos dias em estado de alerta, mas no fim nada aconteceu. Miranda não disse uma palavra sobre o assunto nas reuniões e , nos meses que se seguiram, fez visitas esporádicas ao castelo e se comportou bem até demais para a opinião de Ella.

As semanas se tornaram meses e quando menos esperavam a neve começou a derreter, como sempre acontecia nessa época do ano a primavera causou certa sensação com todas as mudanças, mas Ella e Alcina esperavam alguma tranquilidade já que as garotas não precisariam mais passar os dias trancadas no castelo.

Naquela manhã em especial Ella tirou Alice do berço e a levou para a cama, queria amamentar as gêmeas a tempo de poder tomar café da manhã em família, o que não era lá muito fácil; sempre parecia haver um contratempo ou as gêmeas precisavam dela, Alcina a esperava para comerem juntas todos dias, mas Ella não pediria que todas as filhas alterassem a rotina diariamente para isso. Alice resmungou e se contorceu, não parecia exatamente de bom humor aquela manhã, e precisou de algumas tentativas para segurá-la de modo que não a fizesse fazer uma careta de choro.

- Alcina, pode, por favor, pegar a Theodora?

- É claro, draga mea.

Jamais se cansaria de ver Alcina pela manhã, ainda sem maquiagem e usando apenas o robe de seda perolado agora que o tempo estava agradável o suficiente, sua beleza natural nunca deixaria de encantá-la.

Alcina foi até o cômodo adjacente e mesmo de onde estava Ella pode vê-la se debruçar sobre o berço da filha.

- Oi, meu amor... Você foi abandonada? Oh, não... Mamãe Ella abandonou você sozinha no berço? Deixou o neném sozinho?

Ouviu o chorinho dolorido e manhoso de Theodora, assim pode imaginá-la fazendo um biquinho doce ao balançar os bracinhos para que Alcina a resgatasse da prisão solitária que seu berço se tornou.

- Tudo bem, a mamãe vai pegar você agora.

Theodora parecia um pacotinho ainda menor nos braços de Alcina, seus olhinhos ainda estavam brilhando com as lágrimas que não derramou e o beicinho ainda estava lá enquanto tentava não tirar os olhos da sua mamãe preferida.

- Aqui.

Ella a pegou dos braços de Alcina e Theo reclamou um pouco, mas parou ao ser colocada junto ao peito para mamar.

Alcina a olhou por um momento e sentou-se na beirada da cama.

- O que acha que falar sobre o assunto que você não quer falar?

- Não.

- Draga mea...

- Não – Ella respondeu com firmeza – Só aconteceu uma vez, tentamos de novo e não deu certo então vamos superar isso e seguir em frente.

Encararam-se por um longo minuto, nenhuma das duas parecia disposta a realmente ceder.

- Draga mea – Alcina tentou falar com calma – Sei que está frustrada, mas precisa aprender a controlar as habilidades que adquiriu com o cadou.

- Aconteceu uma vez, quando eu queria arrancar a cara da Miranda da cabeça dela. Talvez possa ter sido um gatilho. Ela ameaçou nossas filhas e eu reagi.

- Se fez isso, então deve conseguir fazer de forma consciente também.

Ella suspirou. Alcina não entendia sua frustração em não conseguir repetir a transformação, e pressioná-la a continuar tentando não estava melhorando as coisas.

- Não posso.

As palavras escaparam dos seus lábios como fiapos, como esperança em pedaços tão pequenos que seria o  impossível tentar juntar tudo de novo.

- Certo, draga mea, eu entendi.

Não respondeu ou agradeceu a compreensão de Alcina mesmo sentindo que suas palavras eram verdadeiras, só não conseguia mais falar sobre isso.

- Não há com o que se preocupar, draga – Alcina prometeu – Nada vai ameaçar nossa família.

- Miranda...

Alcina soltou um muxoxo descontente e levantou-se rapidamente, o que fez Ella desconfiar que estava prestes a defender Miranda e caso fizesse isso teriam muitos problemas.

- Diga o que está pensando, Alcina.

- Mãe Miranda não é fácil de lidar, é sempre um jogo de poderes, influências e política... – Alcina fez uma pausa – É como pisar em ovos.

- O que quer dizer com isso?

Como se tivesse repentinamente notado o que estava dizendo, Alcina balançou a cabeça e fez um gesto como quem diz para deixar pra lá.

- Não se preocupe, draga mea

Ainda assim, Ella insistiu.

- Mas se Miranda tentar...

- Então faremos o que for preciso para proteger nossa família – Alcina garantiu e se aproximou de Ella, tocou seu rosto para que olhasse em sua direção e naquele momento até mesmo os bebês pareceram entender a importância do que estava acontecendo e permaneceram quietinhos – Sempre nossa família em primeiro lugar. Você e nossas filhas, draga mea. Sempre.

- Todas as seis.

- É claro, draga mea – Aldina riu baixinho – Todas as seis. Não é porque três delas são adultas que deixaram de ser nossas filhas. Se me dissesse que além de três filhas crescidas eu teria três bebês, eu não acreditaria.

Ella riu.

- Amor, Judy não é um bebê.

- Sim, ela é.

O fato de Judy querer trazer uma menina mais velha para dormir em seu quarto estava tirando o sono e a razão de Alcina, se fosse possível sua esposa já teria cabelos brancos e isso não era exagero algum.

- Ela é uma adolescente – Ella reforçou – Não pode impedi-la de crescer.

- Eu sei – Alcina suspirou – Não quer dizer que seja fácil.

Uma batida na porta as interrompeu e fez Ella sorrir, tirou as gêmeas dos seios e as deitou sobre cama.

- Pode entrar, Daniela! – disse ao ajeitar a camisola para se cobrir.

Todas as manhãs Daniela aparecia muito animada para ver as irmãs, era sua primeira parada obrigatória do dia antes de encontrar Judith para fazerem alguma coisa juntas, foi  um acordo feito pelas duas para que nenhuma se sentisse deixada de lado; mas ao contrário das outras manhãs, Dani não parecia exatamente animada e arrastou os pés até se jogar na cama.

- Qual o problema, querida?

Daniela resmungou uma resposta com o rosto pressionado no colchão e não puderam entender uma só palavra que deixou seus lábios.

- Tente de novo – Alcina pediu: - E dessa vez levante o rosto para que possamos te ouvir.

- Eu disse que... – Dani fez uma pausa ao se ajeitar – Naomi está sendo chata e não quer passar  o tempo comigo.

- O que ela fez? – Alcina perguntou.

- Não – Ella resolveu interferir – Dani, por que ela não quer passar o tempo com você?

- Naomi disse que precisa trabalhar, mas eu disse que ela não precisa e ela não me ouve!

Ella respirou fundo.

- Dani, Naomi precisa mesmo trabalhar. Mas, se você estiver disposta, eu posso ir até lá com você e falo com ela pra resolver tudo isso.

- Eu quero! – Daniela se animou de novo – Vamos! Vamos!

- Um segundo, segure a sua irmã – pediu ao estender Alice para Dani – Volto já.

Deixou Alice com Daniela e Theodora segura (e muito mais feliz) nos braços de Alcina e correu para preparar para o dia, vestiu-se o mais rápido que pode e pressionou um beijo na bochecha da esposa.

- Volto logo – Ella prometeu ao pegar Alice e entregá-la para a esposa que segurou as gêmeas de modo desajeitado – Vamos, Dani.

- Mas...

Ella puxou Daniela da cama e fez um gesto em direção a Alcina.

- Não. Estou resolvendo isso, amor.

Saíram do quarto antes que Alcina pudesse apresentar qualquer objeção, Alice e Theodora resmungaram mas pelo menos não começar a chorar ao ver que Ella estava longe, um hábito que estava sendo adquirido nos últimos dias.

- Não quer saber o que mais aconteceu? – Daniela perguntou – Será que a Naomi está chateada comigo porque eu pedi pra amarrar ela na cama de novo?

- Muitas informações, Dani! Mas isso não é importante agora...

Não tiveram que procurar muito até encontrar Naomi, ela estava a caminho da ala das filhas com um cesto cheio com o que parcela ser roupa de cama limpa e parou ao vê-las se aproximando.

- Naomi – Ella chamou ao soltar a mão de Daniela – Muito ocupada?

- Ah... – Naomi pareceu confusa e olhou para o cesto em seus braços – Não exatamente...

- Ótimo, então Daniela tem algo a dizer – Ella deu um empurrãozinho em Daniela para que desse um passo em frente – Vamos, Dani, peça desculpas a Naomi.

- O que?!

Daniela a olhou como se tivesse crescido uma segunda cabeça em seu pescoço.

- Você disse que ia resolver o problema da Naomi não querer ficar comigo.

- Estou resolvendo nesse exato momento – Ella explicou – Sua namorada está ocupada e por isso não pode passar um tempo com você, então peça desculpas pela sua atitude e tenho certeza que poderão fazer planos para mais tarde.

- Não é justo!

- É justo. Naomi, o que você vai fazer agora?

- Trocar a roupa de cama do nosso quarto, Dani não gosta que as criadas entrem lá.

- É que podem fazer mal para o Abel!

Apesar do protesto infundado, e até mesmo um tanto quanto infantil, Daniela respirou fundo e fez um beicinho emburrado que com certeza funcionava mais com Alcina do que com Ella.

- Dani...

Daniela suspirou vencida, aproximou-se de Naomi e lhe deu um beijo rápido no rosto.

- Me desculpe por ter brigado com você, Ratinha, foi bobo e não vou mais fazer isso.

- Eu aceito as desculpas, mas não faça de novo, não gosto de brigar com você.

Ella assistiu a tudo em silêncio, gostava de ver como Daniela só precisava de um pequeno empurrão para fazer a coisa certa. Então quando Dani tirou a cesta dos braços de Naomi não ficou nada surpresa com a atitude.

- Vou carregar isso pra você.

- Não precisa...

- Precisa sim, estou pedindo desculpas.

Naomi ficou na ponta dos pés para beijar o rosto de Daniela, mas ainda precisou que a ruiva se abaixasse para poder alcançá-la.

- Estou orgulhosa de você, Dani – Ella sorriu – Divirta-se.

- Pode deixar.

Deixou-as a sós, não queria assistir o que quer que estivessem prestes a fazer para selar a paz recém conquistada. De qualquer forma era uma confusão a menos ou, como gostava de dizer, um incêndio a menos para ser resolvido.

Ao retornar aos seus aposentos, encontrou Alcina tentando ajudar as gêmeas a ficarem sentadas na cama; há algumas semanas elas estavam demonstrando sinais de que estavam prontas para o novo salto de desenvolvimento, e enquanto Ella estava esperando pacientemente que isso acontecesse Alcina parecia estar bastante ansiosa pela próxima façanha dos bebês; sua esposa havia apoiado as gêmeas em um travesseiro alto e macio, segurou-as e sorriu quando as suas abriram sorrisos banguelas em resposta.

- Muito bem, agora é a hora da verdade.

Alcina as soltou e por um breve momento Theo e Alice ficaram sentadinhas, mas não durou muito e as duas se inclinaram lentamente, cada vez mais rápido, até atingir o colchão macio e gargalharam enquanto se mexiam em uma confusão de perninhas e bracinhos gordinhos.

- Oh, tudo bem, vamos tentar de novo em alguns dias.

 - Acho que elas estão adorando isso – disse Ella ao se aproximar – Se divertindo com a mamãe.

Ao vê-la, Alice se agitou e estendeu os braços gordinhos em sua direção.

- Vem aqui – Ella arrulhou ao pegar o bebê e passou a mão por seu cabelinho que começava a ficar arrepiado – Eu disse que vocês deviam nascer parecidas com a sua outra mamãe, mas insistiram em ser parecidas comigo... Se tivessem me ouvido, teriam muito mais cabelo agora.

- Elas são lindas como você, draga mea – Alcina sorriu ao pegar Theodora – Eu amo o fato de que elas tem os seus olhos.

- Como eram antes, você quer dizer.

- Ainda amo seus olhos, draga mea, não importa a cor que eles tenham, não quando o seu brilho ainda está aí.

- Certo, você ganhou alguns pontos.

Ella sorriu e se aproximou para beijar Alcina, o que fez Theodora reclamar.

- O que? Estou atrapalhando seu tempo com a mamãe?

- Não, não está – Alcina sorriu ao aconchegar o bebê junto ao peito – Ela só é um pouco ciumenta.

Alice também resmungou em seus braços, elas estavam fazendo isso com muita frequência como se tentassem reproduzir os sons que suas mães produziam ao falar. Ella não conseguia deixar de se surpreender com o quanto bebês podiam ser incríveis e absorviam tudo ao seu redor, quando Judy nasceu ela ainda era muito jovem para se atentar a esses detalhes, mas agora parecia realmente fantástico assistir seus bebês.

- O que você disse? – Ella fingiu entender o que a filha estava resmungando e sorriu – Nós devemos deixar a mamãe trabalhar sozinha a tarde toda enquanto nós ficamos brincando? Acho que é uma ótima ideia!

Alcina riu.

- Eu preciso mesmo trabalhar, mas podemos passar algum tempo juntas mais tarde.

- Claro, amor.

Trocaram um beijo rápido quando Alcina lhe entregou Theodora que, diga-se de passagem, não gostou muito de ser deixada por sua mãe preferida. Apesar disso, Theo ficou feliz em observar Alcina andando pelo quarto ao se preparar para começar o dia, não conseguiram se sentar e comer em família mas talvez dessem mais sorte no jantar, ainda assim o dia começou de forma bastante tranquila, pelo menos para a família Dimitrescu.

Uma hora depois, assim que Ella conseguiu comer alguma coisa tendo as duas filhas dependuradas nela como bebês preguiça fazem com suas mães, resolveu levar as meninas até o jardim para que pudessem aproveitar algum tempo ao ar livre agora que estava quente o suficiente.

- Ella!

Virou-se ao ouvir seu nome, Agatha e Judy se aproximando rapidamente mas o que a surpreendeu foi ver que a adolescente segurando a mão da sua ex babá.

- Cassandra está ocupada no porão – Agatha tentou manter o tom neutro – Então estou pensando em visitar a minha irmã, caso não precise de mim nesse exato momento é claro.

- Está tudo bem – Ella garantiu – Pode ir.

- Certeza?

- Sim, vou levar as meninas pra brincar no jardim e talvez se sujarem um pouco antes que Alcina veja.

Essa oportunidade pareceu animar Judy.

- Posso ir junto?

- Claro.

Deixou que Judy pegasse Theodora no colo e esperou até que a ajeitasse para ficar segura.

- Você não tinha planos com a Daniela?

- Tinha e procurei por ela, mas aí ouvi um gemido e voltei correndo – Judy suspirou – Ainda bem, ou seria traumatizada pelo resto da minha vida.

O nojo em sua voz fez com que Agatha e Ella rissem, o que fez com que as gêmeas gargalhassem também.

- Não vai ser nojento quando for a sua vez – Agatha provocou – Então não fique assim.

- Ela é minha irmã, vai ser nojento de qualquer jeito não importa a idade que eu tenha.

- Já entendemos – Ella riu – Então vamos, logo vai ser a hora da soneca das suas irmãs e se quiser poder fazer algo juntas, só nós duas.

- Isso é legal.

Por mais que doesse para Ella admitir, Judy vinha ficando meio de lado sempre que os bebês tinham um salto de desenvolvimento e tudo se tornava uma bagunça porque queriam ficar agarradas às mães; Alcina tinha trabalho a fazer e atender Mãe Miranda, Agatha a ajudava quando a esposa não podia, mas no fim tanto Theodora quanto Alice queriam ficar mais tempo no peito, então Judith acabava em companhia das irmãs mais velhas ou de Velaska, com quem estabeleceu uma estranha proximidade desde que saíram juntas para o vilarejo. Nem sempre Ella e Alcina conseguiam passar um tempo a sós com Judy, e com certeza nunca as duas ao mesmo tempo, mas a adolescente não reclamava ainda que às vezes a visse sozinha meio cabisbaixa e perdida em pensamentos.

- Se continuar esquentando, e não chover – Ella ressaltou essa parte – Podemos ir ao vilarejo nos próximos dias.

- Podemos levar Theo e Ally pra conhecer o Klaus e os filhos dele, ainda não foram apresentados e você não conhece o Joseph.

Judith não olhou em sua direção, estava muito preocupada em balançar Theodora de cima para baixo para fazê-la rir, e Ella sentiu uma onda de ternura pela filha mais velha. Ainda que se sentisse deixada de lado, Judy estava tentando incluir as irmãs mais novas em algo que devia ser só delas.

- Talvez futuramente – Ella sorriu – Dessa vez seremos só nós duas.

- Isso é bom também – Judy fez uma careta quando Theo agarrou uma mecha do seu cabelo e rapidamente soltou seus dedos gordinhos, por isso ganhou um grunhido em protesto como resposta – Você é muito pequena pra ser mal humorada assim.

Ella gargalhou.

- É, ela herdou o temperamento da sua mãe.

- É como se ela detestasse a vida dela – Judith soltou um muxoxo e tentou fazer o bebê rir, mas Theo ainda parecia muito brava por ter sido impedida de agarrar o cabelo da irmã e a encarou com o rostinho franzido – E a vida dela nem é difícil!

É claro, era bem mais difícil ser uma adolescente presa em um castelo com três irmãs adultas já casadas e duas irmãs bebês ; de alguma forma, e Ella entendia isso, devia parecer que não existia um meio termo saudável para Judy, mas se certificaria de encontrar uma forma.

Acabou por decidir levar os bebês até os estábulos, andaram lentamente por entre as baias enquanto apontava para os cavalos; Alice gostou, mas estava mais preocupada em esfregar o nariz em seu rosto e enche-lo de baba ou em tentar achar uma posição confortável para deitar a cabecinha em seu ombro, mas Theodora ficou completamente fascinada e, embora não tenha gargalhado ou soltado seus gritinhos agudos, mal conseguia piscar como se não quisesse perder um segundo sequer daqueles animais maravilhosos.

- Você ainda não tem idade pra isso, mas quando crescer vamos te ensinar – Judith prometeu – E vai se sair bem.

- É, ela vai.

Sair dos estábulos se mostrou uma tarefa mais difícil do que imaginaram a princípio. Ao notar que estava sendo afastada dos cavalos, Theodora chorou e esperneou nos braços de Judy como se tentasse se libertar ou talvez, o que também era uma hipótese, chamar mamãe para vir ao seu resgate.

Colocá-las na grama também não foi uma experiência bem sucedida. Ella tirou suas meia e sapatos e tentou colocá-las no chão para sentir a textura, mas Alice ergueu as perninhas e Theodora não parecia mais feliz do que a irmã.

- Viu? Eu disse – Judith riu – Elas odeiam isso.

- Elas vão se acostumar. Você se tornou uma excelente exploradora assim que conseguiu ficar de pé, com elas não vai ser diferente.

Aos poucos as gêmeas pareceram se acostumar com a nova textura do ambiente e Ella precisou impedir Theo de colocar grama na boca, mas elas estavam crescendo e explorando o mundo ao seu redor e foi bonito se assistir.

Só voltaram ao castelo quando as gêmeas começaram a dar sinais de que estava na hora da soneca e então Ella passou duas horas inteiras com Judy conforme havia prometido. Estava aprendendo que ser mãe era ter que dar um jeito de se dividir entre as filhas, ainda que isso fosse exaustivo.

[...]

A funcionária dos estábulos selou rapidamente o cavalo de Cassandra para Agatha, já estava habituada ao animal ainda que sem a presença de sua esposa e seria mais fácil guiá-lo através da trilha do que qualquer outro; além disso, duvidava que ela realmente se importaria em ter levado o cavalo, caso viesse a saber sobre sua saída solitária o que irritaria Cassandra seria o destino final e não o meio utilizado.

Com a chegada das gêmeas e o inverno rigoroso Agatha não teve a chance de sair do castelo para visitar a irmã mais nova e isso a estava enlouquecendo aos poucos, não gostava de imaginar o cenário que encontraria ao chegar lá, mas adiar novamente não era uma opção viável naquele momento.

Montou o cavalo com facilidade, preferia usar calças a montar de lado e isso realmente ajudou, detestava a sela lateral, e incitou-o a seguir em frente.

Não foi difícil encontrar a trilha através da floresta, ali ainda estava úmido mas não exatamente frio, nem mesmo a neve sob os galhos das árvores resistiu ao aumento da temperatura e Agatha desconfiava que em breve todo aquele lugar estaria florescendo rapidamente; só desejou não ser perseguida por algum animal que acabava de despertar faminto da hibernação, Cassandra realmente jamais a perdoaria por ter sido devorada por um urso qualquer.

Mas seus medos mostraram-se infundados enquanto percorria a trilha tortuosa, tudo parecia calmo exceto pelos pássaros que faziam uma algazarra ao voar de uma árvore para a outra em busca de comida, mas Agatha não se importou porquanto seu canto serviu-lhe de companhia enquanto seguia sozinha. Não sentia medo dos humanos que poderia, porventura, encontrar; o brasão da casa Dimitrescu que repousava em seu peito era o suficiente para assustar a maioria das pessoas que moravam naquele lugar esquecido por Deus, e somente um tolo tentaria tocá-la sob a ameaça de pena de morte que a acompanhava diariamente. É claro, haviam lá alguns forasteiros descuidados e mal intencionados, mas desde que não encontrasse nenhum ficaria tudo bem.

Com a chegada da primavera pode ver até mesmo alguns animaizinhos correndo por aqui e ali, em sua maioria raposas e coelhos que Daniela provavelmente amaria assistir e Agatha tentou se lembrar de que deveria contar a ela mais tarde sobre isso enquanto tentava esconder de Cassandra o que estava fazendo.

Levou vinte minutos para chegar até a propriedade que pertencia a sua família, um pouco mais do que o esperado vez que diminuiu o ritmo para conseguir aproveitar o ar livre e a experiência de estar fora do castelo após meses de reclusão. Foi a primeira vez que realmente se viu trancada lá dentro, sem qualquer possibilidade de sair mesmo para uma volta rápida, e pode entender perfeitamente a agitação de sua esposa; talvez conseguisse convencer Cassandra a sair com ela mais tarde.

Desceu do cavalo e amarrou-o junto a sebe da cerca que já estava meio torta e provavelmente precisaria de manutenção em breve, mas duvidava que seu pai tinha notado isso.

A casa pequena, o velho poço e a bica que ainda forneciam água, o celeiro decadente e a estrutura que serviria como chiqueiro lhe eram tão familiares quanto a sua nova casa. Mesmo após anos no castelo como esposa de Cassandra aquela ainda seria a sua nova casa e essa, a que estava a sua frente, a primeira casa que teve, mas não era um lar realmente.

Aproximou-se com cuidado, estudou a área em busca do pai e respirou aliviada ao não conseguir vê-lo, embora ele não tenha impedido sua aproximação desde que Cassandra o ameaçou alguns anos atrás, o fato de que ele poderia ser imprevisível ainda a preocupava; não estava na época do plantio, não tão cedo, mas era esperado que estivesse arando a terra ou, no mínimo, procurando contratar um trabalhador que o ajudaria em troca de um salário miserável e explorador.

A porta da frente rangeu ao abrir-se, por um momento ninguém apareceu, mas então Pérola, parecendo mais um fiapo de gente do que realmente sua irmã, mostrou-se e após um segundo de deliberação correu em sua direção para lançar-se em seus braços.

Ao contrário do que acontecia normalmente, com Pérola feliz por vê-la, desta vez caiu em um choro convulsivo ao abraçar seu pescoço tal qual fazia quando era apenas uma garotinha. Coube a Agatha acolhê-la da mesma forma que fazia com Judy, acariciou seus cabelos e tentou murmurar palavras reconfortantes, não queria correr o risco de assustá-la ainda mais.

- O que aconteceu?

Não obteve uma resposta além das lágrimas que já manchavam a sua camisa branca, algo de muito errado devia estar acontecendo ali.

- Precisa me dizer o que está acontecendo pra eu te ajudar.

Ainda que Pérola tentasse lhe contar o que havia acontecido, Agatha não conseguiu entender muita coisa entre os soluços e lágrimas.

- Vamos, querida, você precisa se acalmar – Agatha usou o mesmo tom que costumava usar com Judith – Respira fundo. Preciso que se acalme...

Aos poucos, mas sem se afastar um centímetro sequer, o choro diminuiu e ela se acalmou o suficiente para que os soluços se tornassem apenas suspiros sentidos; com o choro diminuindo, Agatha pode prestar atenção em outras coisas que não fossem as lágrimas da irmã, e notou as marcas arroxeadas em seus pulsos.

- O que... – Agatha se afastou da irmã e puxou o braço dela – Ele fez isso com você?

- Sim.

Mesmo sem querer ver o resto, mas sabendo que precisava fazer isso, Agatha levantou lentamente o olhar até o rosto de Pérola e ofegou. Outro hematoma cobria parte da sua bochecha direita, mas o pior eram as marcas de dedos ao redor do seu pescoço.

- Eu vou matar aquele desgraçado!

A ameaça nunca foi tão real, pela primeira vez estava realmente considerando deixar que Cassandra fizesse o serviço.

- Arrume suas coisas, você vem comigo pro castelo!

- Eu não posso ir, Lady Dimitrescu não vai me aceitar lá.

- Sim, ela vai. Tenho certeza que Lady Ella não vai se opor se eu pedir e Lady Dimitrescu não costuma negar nada a e el...

- Estou grávida.

Um arrepio desagradável percorreu seu pescoço.

- Ele fez isso?

Pérola negou com um aceno rápido e Agatha respirou aliviada de novo.

- Conheci um bom rapaz, ele pediu a minha mão em casamento mas papai não gostou nada, e aí...

- Aí você contou que está grávida e ele te bateu?

- Sim.

- Pega suas coisas e vamos embora – Agatha mandou novamente – Rápido! Precisamos ir antes que ele volte!

- Tarde demais.

Agatha congelou ao ouvir a voz rouca do seu pai, aquele homem que a aterrorizou por anos antes que finalmente fosse embora, mas ela não era mais uma garotinha assustada com o que papai poderia fazer se ficasse com raiva, ela cresceu e se tornou a peça mais forte naquele jogo.

Respirou fundo algumas vezes e virou-se para encarar o pai, sua aparência não estava lá das melhores como se não tomasse banho ou trocasse as roupas há alguns dias e havia um corte em sua bochecha.

- Está vendo isso aqui? – ele sorriu com escárnio ao apontar para o próprio rosto – Cortesia dessa puta que você chama de irmã.

- Ela devia ter feito bem pior do que isso.

O homem riu e cuspiu no chão.

- Por que não vem tentar fazer o serviço? Vocês são iguaizinhas. Não sei o que fiz pra merecer duas filhas assim, sua mãe morreria de desgosto se ainda estivesse viva para ver isso. Quer saber? Talvez seja melhor ela ter morrido mesmo, assim não ia precisar ver que gerou duas vagabundas.

- Ainda acho que mamãe morreu de desgosto por ser casada com você – Agatha retrucou – Ela preferiu a morte a cuidar das filhas, mas te ver assim me faz entender.

Encararam-se pelo que pareceu ser um longo tempo durante o qual Pérola permaneceu segura atrás de Agatha.

- Vai embora daqui – seu pai mandou – E não volte mais.

- Nós vamos embora daqui e não vamos mais voltar.

- Ela fica.

- Ela vai comigo!

Não houve uma resposta imediata, mas pode ver a raiva crescente nos olhos do pai e ainda assim o próximo movimento pegou-a de surpresa. O punho pesado do seu pai atingiu-a em cheio no rosto, o som foi como o estalo seco de um galho se quebrando e a dor se espalhou rapidamente, Agatha foi praticamente arremessada e caiu aos pés da irmã que voltou a chorar ao ir atrás dela.

- Você está bem?! Em nome de Mãe Miranda – Pérola gritou para o pai – O que você fez?!

- Se não for embora daqui vai ser bem pior!

Agatha se levantou com alguma dificuldade e encarou o pai, seu rosto estava queimando de raiva e pode imaginar que estava tão vermelho quanto seus cabelos.

- Vai se arrepender de ter feito isso.

- Estou morrendo de medo. Some logo daqui e faça o favor de não voltar mais, se voltar pode ser a última vez.

E dizendo isso entrou em casa como se não tivesse acabado de ameaçar a esposa de uma das filhas de Lady Dimitrescu.

- Vem comigo – Agatha pediu à irmã – Vou cuidar de você, pode ter o bebê no castelo.

Pérola olhou para os lados como que para confirmar que o pai não estava perto insuficiente para ouvir.

- Valentin e eu vamos fugir em alguns dias, ele está juntando provisões, e vamos ter o bebê longe daqui.

Era uma ideia louca, completamente desesperada, e Agatha quis argumentar que seria melhor ter o bebê no castelo mesmo que não soubesse o que fariam com ele ou ela depois do nascimento.

- Vou te ajudar como puder – prometeu – Talvez algum dinheiro...

Sempre poderia vender algumas das joias que Cassandra lhe deu de presente ao longo dos anos, algo para ajudá-los a recomeçar. Puxou a irmã para um abraço e a apertou.

- Volto em dois dias, assim que a lua estiver alta no céu. Saia para me encontrar e vou te entregar o que puder conseguir.

- Mas...

- Vocês vão precisar com a chegada do bebê, acredite em mim.

- Certo – Pérola ergueu a mão e tocou o rosto de Agatha, mesmo o toque mais singelo enviou uma onda de dor e adivinhou que devia parecer bem feio – Sinto muito.

- Não é culpa sua – Agatha a abraçou – Eu prometo que volto.

- É melhor você ir ou ele vai voltar.

- Eu volto – Agatha prometeu.

- Sei que sim. Eu te amo.

- Também te amo.

Se perguntassem depois, e houve muitas perguntas vindas principalmente de Ella, Naomi e Velaska, Agatha não saberia explicar como realmente chegou ao castelo e só poderia imaginar que o cavalo sabia o caminho exato para voltar para casa. Seu rosto latejava, a dor pulsava e se espalhava, mas o pior era o ego ferido e a dor da humilhação.

Não prestou atenção ao seu redor, nem mesmo os pássaros cantando ou animaizinhos correndo felizes em seu mundinho perfeito conseguiram chamar a sua atenção, estava preocupada demais com a irmã mais nova para pensar em qualquer outra coisa que não fosse uma maneira de ajudá-la.

A criada responsável pelos estábulos não fosse uma palavra, mas o olhar que lançou em sua direção a deixou saber que seu rosto devia estar pior do que imaginava a princípio.

- Não é da sua conta – Agatha resmungou – Não diga nada a ninguém.

A pobre coitada assentiu rapidamente, embora não tivesse tanto medo de Agatha quanto de Cassandra sabia que era melhor obedecer, principalmente porque ela geralmente conseguia impedir punições piores.

De toda forma, não conseguiu escapar do interrogatório dentro do castelo. Ao adentrar as grandes portas pesadas, Agatha deu de cara com Ella segurando Alice junto ao seu corpo; a amiga abriu um sorriso ao vê-la, mas que logo diminuiu ao notar o hematoma.

- O que aconteceu com você?

Ella perguntou ao se aproximar.

- É uma longa história que prefiro não contar agora.

Como se entendesse que algo estava acontecendo, Alice estendeu os braços em sua direção e resmungou até ser pega ao que começou a esfregar o rostinho no que Agatha.

- Você quer confortar a Agatha? – Ella perguntou – Boa menina.

- Ela é um amor – Agatha arrulhou ao beijar o rostinho do bebê – Eu te amo. É, eu amo você sim...

Alice sorriu e encarou Agatha com seus grandes olhos azuis, um pouco de baba escorreu por seu queixo mas não foi ruim.

- Vai com a sua mãe – Agatha disse suavemente ao devolver o bebê – Eu preciso descansar um pouco.

- Eu entendo – Ella sorriu de modo tranquilizante – Se precisar de algo é só nos dizer, seja companhia ou bebês para escalarem você.

- Obrigada.

Jamais esperaria encontrar outra irmã, uma bastante corajosa e até mesmo insensata mas que estava disposta a cuidar de todos, mas Agatha se considerava com sorte por ter Ella. Ao se afastar em direção aos seus aposentos ainda pode ouvi-la falar com Alice e dizer algo que soou como “vamos, vamos procurar suas irmãs”, e adivinhou que não demoraria nada para Cassandra aparecer.

Sentou-se na cama e esperou pela esposa, assim como esperou pelo que estava por vir e pelo que precisava fazer. Não havia muitas escolhas naquele momento, a sensação de ser pressionada a tomar uma decisão que não tomaria em circunstâncias normais não era nada boa, sentiu-se empurrada até o limite e que tudo estava saindo do controle. Apesar de ter uma nova vida, segura e protegida no castelo tanto por ser a esposa de Cassandra como por ter se tornado a nora preferida de Lady Dimitrescu, Agatha ainda se sentia no dever de proteger a irmã mais nova e tomar conta dela não importava o preço que teria que pagar no fim das contas.

Sabia que apenas uma parte daqueles colares, anéis e braceletes valeriam uma pequena fortuna capaz de ajudar a irmã a recomeçar, mas teria que contar com a sorte de que conseguiriam fugir para começo de conversa. Precisava de algo além disso, uma garantia maior de um futuro promissor para seu sobrinho ou sobrinha que estava à caminho.

A porta foi aberta e Cassandra entrou no quarto, encarou-a com os olhos astutos durante alguns segundos e, ainda em silêncio, aproximou-se para se sentar ao seu lado na cama.

- Sei que parece uma pergunta idiota, mas como você está?

- Viva.

Cassandra acariciou seu rosto e tomou cuidando para não tocar o hematoma sensível.

- Sabe que quem fez isso precisa pagar, não é? Foi o que pai?

- Digamos que sim.

- Digamos que vou estripar ele e jogar as tripas para os porcos.

Agatha riu baixinho e deitou a cabeça no ombro de Cassandra.

- Quero saber o que aconteceu lá? Por que não me avisou que estava de saída? Eu a teria levado e nada disso aconteceria.

- Eu só queria passar algum tempo do lado de fora, precisava ver minha irmã e você estava ocupada. De todo jeito, é uma longa curta história...

Contou de forma resumida sobre a gravidez da irmã, o namoro proibido e as agressões do pai, nem mesmo deixou de fora as palavras de baixo calão usadas contra ela ou Pérola, e durante todo o tempo Cassandra apenas escutou atentamente enquanto acariciava seus cabelos. Quando terminou de falar, sua esposa respirou fundo e afastou-se o suficiente para olhar em seus olhos.

- O que você quer que eu faça sobre isso?

- Eu não sei – Agatha suspirou, agora que estava nos braços da esposa foi difícil controlar as lágrimas, sentia-se segura para expressar os sentimentos que se abateram sobre ela – Pérola precisa de um lugar seguro pra ter o bebê...

- E o que podemos fazer?

Agatha não respondeu essa pergunta, apenas continuou a divagar.

- Seria tão mais fácil se ele morresse logo, assim Pérola herdaria as terras e poderia viver lá com a sua família... Ela poderia ter o bebê lá.

- Sim, ela poderia.

- Seria mais fácil se ele morresse, não é?

- É, amor – Cassandra beijou sua testa – Seria bem mais fácil.

Cassandra segurou seu rosto e fez com que olhasse para ela.

- Eu faria qualquer coisa por você, basta dizer.

Mas Agatha não conseguia dizer o que precisava, o que realmente queria, porque fazer isso tornaria real ainda que a ideia permeasse seus pensamentos já há algum tempo.

- Tudo bem – Cassandra assegurou – Eu te amo. Tudo isso vai se resolver.

- Obrigada, amor.

- Agora vou cuidar de você.

E como sempre acontecia, Cassandra fez as coisas ficarem melhores.

[...]

Assim que Agatha caiu no sono aquela noite, Cassandra saiu do quarto o mais silenciosamente que pode e fechou a porta atrás de si; Bela e Daniela já estavam a sua espera com o aditivo inesperado de Judith que já ajeitava o arco nas costas.

- Sem chances, você não vai.

- É claro que eu vou, você não pode me impedir!

Cassandra estava começando a se arrepender de ter ensinado tantas coisas àquela garotinha petulante.

- Vai pro seu quarto brincar com seus gatinhos – Cassandra mandou – Ou com sua casinha de bonecas. Não passou da hora de dormir?

Judy apenas cruzou os braços sobre o peito e a encarou em uma postura desafiadora que parecia muito a com sua própria.

- Deixa ela ir – disse Bela – Se ela quer ir, então que vá!

Daniela também deu de ombros e Cassandra entendeu que estava ao lado de Judith como sempre.

- Sabe o que vamos fazer, baixinha?

- Um, você é a mais baixa das três aí então não fale da minha altura assim. Dois, Agatha é como minha mãe e se alguém fez mal a ela acho que devo ir também.

- Errada ela não tá – Daniela murmurou – Nas duas suposições.

Cassandra deu um tapinha na cabeça de Daniela, mesmo sendo mais baixa era rápida o suficiente para acertá-la.

- Vamos logo então – e avisou para Judy: - Se ficar para trás é problema seu.

- Se eu ficar pra trás vai ser problema das minhas mães. De todas as três.

Daniela cutucou as costelas da irmã mais nova.

- Você é boa nisso.

- Eu sei, foram anos de prática.

Pelo bem de todos, Bela decidiu interromper a pequena discussão que se formava aos sussurros.

- Vamos indo, Cassandra precisa cobrar uma dívida e logo estaremos de volta.

Como a mais velha e responsável delas, o segundo quesito jamais mudaria, Bela as guiou através dos corredores e escadas até alcançarem o hall do castelo. Sua mãe estava ali perto da lareira com um dos bebês aninhado em seus braços, mesmo àquela distância Cassandra reconheceu Theodora e adivinhou que sua irmãzinha devia estar tendo uma noite bem difícil e não pretendia deixar mais ninguém dormir.

- Filhas... Onde as quatro planejam ir? – Alcina perguntou ao notar que as três mais velhas carregavam as foices e Judy tinha seu arco – Um passeio tardio?

- Cobrar a dívida – Cassandra respondeu – Ele merece pagar.

Sua mãe sabia o que havia acontecido, Agatha resolveu não se juntar a elas no jantar mas permitiu que Cassandra deixasse Alcina a par de toda a situação.

- É claro – Alcina fez uma pausa ao olhar para Judy: - Você fica.

- Mãe!

- Você é muito jovem, Ella não vai gostar de saber que está se envolvendo nisso.

Embora Cassandra quisesse deixar a garota, resolveu interceder por ela.

- Mãe, nós cuidaremos dela.

- E eu preciso ser mais como minhas irmãs mais velhas – Judy argumentou – Por favor, mãe, estou crescendo e posso fazer isso.

Alcina respirou fundo, estava claro que a ideia em si não a deixava satisfeita mas ter Judy mais parecida com elas era uma oportunidade boa demais para deixar passar.

- Você pode ir. Bela...

- Cuidarei dela, mãe – Bela prometeu – Não iremos demorar, vai ser bem rápido.

- Mas eu quero brincar! – Daniela reclamou – Cass disse que podia!

- Você pode – Cassandra a interrompeu – Mas no porão e não lá.

Apesar de não ser o que queria realmente, Daniela acabou concordando.

- Divirtam-se – Alcina desejou ao ajeitar o pequeno bebê em seus braços – Tenham uma boa caçada, meus amores.

As quatro despediram-se de mãe e saíram do castelo em direção à noite escura que se estendia ao seu redor.

Dessa vez Cassandra liderou, Bela nem mesmo disse uma palavra antes de dar um passo atrás e deixar que ela tomasse a dianteira; ninguém em sã consciência ficaria entre Cassandra Dimitrescu e seu pequeno acerto de contas, nem mesmo suas irmãs.

- Daniela – Cassandra pediu – Não perca a Judy de vista.

- Deixa comigo!

- E Judy, não se afaste por nada – disse em tom autoritário – Não vamos procurar por você no escuro, você veio porque quis.

- Eu não vou me afastar, acalme seus peitos! – a garota bufou - Nossa...

Um tanto quanto chocada com as palavras da irmã mais nova, Cassandra virou-se em direção à Bela e apontou-lhe o dedo.

- Isso aí é tudo culpa da Velaska, não sei se quero Judith passando tanto tempo assim com ela.

Bela a olhou de modo apático e ergueu o dedo do meio para Cassandra.

- Pelo jeito você também está passando muito tempo com ela – Cassandra rosnou – Querem saber, eu não me importo! Vamos logo com isso.

Sem dar mais atenção às irmãs, Cassandra assumiu novamente o posto de liderança e avançou pela floresta em direção à trilha já bastante conhecida, não raras às vezes que acompanhou Agatha por ela; poderia facilmente fazer o caminho com os olhos fechados, o cheiro da sua esposa ainda estava impregnado por ali, marcando exatamente o caminho percorrido por ela horas antes.

Nenhuma das outras lhe disse uma palavra sequer, não houve murmúrios descontentes ou tentativas de puxar assunto, suas irmãs pareciam tão compenetradas quanto ela em completar o serviço sujo; todas elas, e não apenas Judy, se apegaram a Agatha em algum nível, fosse ele mais distante e educado como Bela ou como uma criança cheia de energia (que muito se assemelhava a Judith) como Daniela. Nem mesmo Ella teve uma palavra a dizer sobre o que Cassandra planejava fazer, na verdade pareceu bastante condescendente ao procurar por ela para cuidar da Agatha.

Uma coruja piou bem perto dali e outros animais noturnos já percorriam seus caminhos através das árvores da floresta, mas sempre à uma distância delas como se pudessem sentir que eram predadoras maiores e mais poderosas; o instinto de sobrevivência que acomete uma presa é a parte mais divertida da caça, mas teriam bastante tempo para isso uma outra noite. Se Judith se comportasse poderia até mesmo começar a incluí-la em seus pequenos passeios noturnos, embora isso pudesse chatear Ella em algum nível.

Seguiram em fila e, no final dela, Daniela ajudava Judith a se mover sem tropeçar em algum galho ou pedra, infelizmente a mais nova Dimitrescu não enxergava tão bem no escuro, mas assim que deixassem a floresta para trás seria mais fácil enxergar com a luz da lua.

Uma parte dela queria fazer aquilo rápido, poderiam apenas voar até lá se a irmã mais nova não tivesse insistido em vir, mas havia outra parte que queria saborear o momento e caminhar pela floresta como se abrisse caminho através de um campo de batalha fazia parte deste momento.

No entanto, não demoraram a atingir seu objetivo. Antes mesmo de alcançar as últimas árvores pode ver a casinha em que Agatha cresceu, tudo parecia quieto e não fosse a luz bruxuleante em uma das janelas Cassandra poderia facilmente acreditar que estavam todos dormindo. Bem, não faria diferença no final, o resultado seria o mesmo.

Avançaram juntas e atravessaram a cerca que delimitava a propriedade, Cassandra fez um sinal muito conhecido para Bela e Daniela que saíram da fila e a flanquearam; sua irmã mais velha tomou o posto da direita e a mais nova à sua esquerda, já Judy a olhou sem saber o que fazer e Cassandra sorriu ao indicar o arco, anos de treinamento fizeram com que ficasse boa em identificar ordens e obedecê-las, então a garota tirou o arco das costas e posicionou uma flecha nele.

- Lá – disse Cassandra em voz baixa ao indicar a lateral da casa – Espere.

Judith obedeceu e correu até o local indicado, puxou a corda do arco e mirou exatamente na direção da porta da frente, o que deixou Cassandra meio que orgulhosa dela.

 Todas permaneceram em silêncio enquanto Cassandra aproximava-se da casa, bateu com força na porta e afastou-se para esperar a chegada do velho.

A porta foi aberta com violência e um estrondo que poderia ser ouvido por quem quer que porventura estivesse nas redondezas. A primeira coisa que viram foi a ponta da arma de caça e logo em seguida o velho apareceu parecendo meio trôpego e quase caiu da varanda, com certeza havia bebido e o cheiro de álcool e sujeira atingiu Cassandra que rosnou. Velho imundo! A camisa que um dia deve ter sido branca ostentava várias marcas que pareciam ser de lama ou comida e estava para fora da calça, a parte debaixo não parecia em melhor estado, os cabelos grisalhos e sujos já pareciam grandes demais como se houvesse parado de se importar.

-  Já disse que não quero problemas com vocês! – berrou ao apontar ao apontar a arma na direção de Cassandra e esse foi o seu segundo maior erro aquele dia – Vão embora daqui!

- E eu avisei para não tocar suas filhas – Cassandra disse muito devagar – Ou então nós teríamos problemas. E adivinha só? Temos problemas!

O velho engatilhou a arma e disparou duas vezes na direção de Cassandra que apenas se desfez em uma nuvem de insetos. As três irmãs Dimitrescu gargalharam enquanto Cass apareceu novamente, nenhuma arma seria capaz de causar qualquer ferimento em uma delas, não daquele jeito.

- Demônios!

- Sua filha não me chama assim – Cassandra provocou – Não sempre pelo menos.

A provocação fez o velho grunhir, suas mãos tremiam, fosse de medo ou de raiva Cassandra não se importava, e isso fez com que se atrapalhasse e deixasse as balas cair; a pequena distração permitiu que Judy se aproximasse e apontasse a flecha na direção da cabeça dele, o que deixou Cassandra orgulhosa.

- Se eu fosse você, não faria isso! – Judy avisou – Abaixa a arma.

- Cala a boca, pirralha!

Judith puxou um pouco mais a corda do arco, o rangido soou alto demais.

- Eu mandei soltar a arma, se não obedecer vou estourar a porra dos seus miolos!

A arma caiu aos seus pés e o velho a chutou na direção de Bela, mas seus olhos nunca deixaram Judith como se estivesse encarando um monstro recém criado.

Já Daniela parecia estar achando aquilo tudo hilário.

- Não é engraçado ver sua irmãzinha mais nova agindo como adulta? Estou orgulhosa.

- Eu ensinei – Cassandra comentou orgulhosa – Menos os palavrões, essa parte fica para Velaska e Angie.

O momento de distração foi o suficiente para que o velho tentasse fugir, talvez tenha pensado em se refugiar na casa como se isso fosse capaz de detê-las e ao pisar na varanda uma das tábuas rangeu sob seu pé. O grito de dor rasgou sua garganta e ecoou no silêncio que os cercava, Judy soltou a corda do arco e a flecha perfurou o calcanhar do velho que caiu de joelhos.

- Muito bem – Bela elogiou – Ótima mira.

- Eu tenho treinado – Judy sorriu – Que bom que fui útil.

Cassandra se cansou da brincadeira e aproximou-se do velho caído no chão, balançou a foice a cada passo adiante e sentiu certo prazer ao notar o olhar aterrorizado que recebeu em resposta.

- Não devia ter tocado na minha esposa.

Prendeu a ponta da foice na boca aberta do velho como se fosse um maldito peixe.

- Deve imaginar como me senti quando a mulher que eu amo chegou em casa machucada – fez uma pausa quando o velho começou a balbuciar de modo ininteligível – Patético!

As palavras saíram emboladas mas Cassandra conseguiu entender o principal.

- Agatha não ia gostar...

- É, Agatha não ia gostar nada! – Cassandra riu – Mas eu vou adorar cada segundo disso.

- Cass! – Daniela reclamou – Você prometeu que eu poderia brincar com ele também!

Cassandra revirou os olhos.

- Você vai ter o seu tempo com ele – prometeu – Quero que ele grite por dias.

Agarrou o homem pela gola da camisa suja e agradeceu mentalmente por estar usando luvas.

- Vamos levar você, e não adianta chorar ou implorar.

- Na verdade – disse Bela com um sorriso maldoso nos lábios – Se implorar vai tornar tudo melhor.

Bela usou a foice para perfurar a perna do velho logo acima da flecha de Judith e Cassandra fez o mesmo com a outra. Os gritos agonizantes poderiam ser ouvidos no vilarejo, mas nenhuma delas se importou com isso, o mais importante era mandar o recado certo.

O arrastaram pela terra e um rastro de sangue marcou o caminho que seguiram, o velho gritou e tentou se agarrar aos tufos de grama aqui e ali como se isso pudesse ajudá-lo de alguma forma. Era esse instinto que tornava tudo mais divertido, a forma como a presa abandonava qualquer racionalidade e agia principalmente com o instinto de sobrevivência que era inerente a todo ser vivo.

- Socorro!

- Eu adoro ver o medo nos seus olhos – Cassandra gargalhou – Ninguém vai vir ajudar!

- Ah... Cassandra... – Daniela chamou ao se aproximar segurando a mão de Judy – Olha ali.

A irmã de Agatha, Pérola, estava parada junto a porta de entrada e não pisou se aproximar ainda que os berros de dor do pai ecoassem pela propriedade. Mesmo de longe Cassandra notou as marcas nela e sentiu-se mais ansiosa pelo que estava por vir.

- Não se preocupe – disse Cassandra – Vamos cuidar de tudo.

- E sua irmã vai cuidar de você – Judy prometeu – Agatha cuidou de mim e vai cuidar de você.

Pérola disse uma única palavra e saiu trêmula anunciando o choro que se aproximava cada vez mais rápido.

- Obrigada...

Era de se refletir, pensou Cassandra, o quão ruim devia ser um pai para que uma filha agradecesse por sua morte.

- Não precisa agradecer – Daniela abriu os braços em um gesto teatral – Acabei de ganhar um brinquedo para os próximos dias!

Daniela agarrou a mão de Judith e a puxou para seguir as outras duas que tomaram a dianteira, arrastaram o velho todo o caminho de volta, suas lamúrias e pedidos de socorro afugentaram todos os animais que porventura pudessem estar por ali, mas talvez as risadas escandalosas de Daniela pudessem ter algo a ver com isso também.

O homem desmaiou antes que pudessem chegar ao castelo, então foi fácil levá-lo para as masmorras. Judith hesitou antes de descer os degraus que levavam a escuridão lá embaixo, não fazia isso há anos, mas Dani segurou sua mão e garantiu que ficaria tudo bem.

- Não precisa ficar se não quiser – disse Cassandra ao prender as mãos dos velhos em correntes presas à parede de pedra -  Já fez sua parte.

Judith titubeou.

- Certeza?

- Certeza – Bela assegurou – Não precisa ver isso

- Vá dormir – Daniela riu – Eu te conto tudo depois!

Assim que Judy saiu de cena Cassandra se aproximou do corpo que estava pendendo na parede, passou a foice pelo peito do velho e rasgou a camisa.

- Vamos nos divertir tanto...

As três gargalharam juntas de um jeito meio insano e Cassandra adorou cada segundo, assim como viria a adorar a diversão que se estenderia por dias.

Lá em cima, completamente segura e aquecida em sua cama, Agatha ressonava tranquilamente e todos os seus problemas teriam desaparecido pela manhã, Cassandra só não contaria a ela quanto tempo levaria pra isso.

[...]

Os dias se passaram sem maiores incidentes, Ella fingiu não saber que o pai da sua melhor amiga estava sendo torturado no porão e imaginava que a própria Agatha estivesse fazendo a mesma coisa, tudo o que lhe importava foi como as coisas pareciam ter sido resolvidas; estar em um relacionamento com uma das mulheres Dimitrescu exigia viver nesses tons de cinza, nem sempre dava para ser preto no branco. Ficou feliz por Agatha estar feliz, principalmente ao ouvi-la falar que a irmã mais nova estava noiva e se casaria antes de o bebê chegar.

Ella conseguiu ir ao vilarejo com Judy, mas não levou as gêmeas com a desculpa de que Alcina não gostaria. Embora soubesse que sua esposa realmente não gostaria nada disso, tentou passar um tempo a sós com Judith e foi bom simplesmente poder sair e não ser o alimento de alguém durante algumas horas; pode conhecer o filho do Klaus, Joseph, um bebê gordinho e risonho, e prometeu levar as próprias filhas na próxima vez que fosse até o vilarejo. Teria sido melhor se o amigo não tivesse contado sobre um acampamento na noite do festival da primavera, todos os amigos de Judith iriam participar e isso a a fez querer ir.

Sem surpresa alguma, Judy disparou assim que entraram no castelo e começou a gritar por Alcina para lhe pedir permissão. Assim que a garota sumiu de vista, Agatha apareceu com Theo em seus braços.

- O que aconteceu? – perguntou ao passar o bebê para Ella – Por que ela está tão animada?

- Acampamento com os amigos, mas essa alegria vai acabar assim que Alcina disser não.

- Acha que ela vai dizer não?

Ella lhe lançou um olhar como se dissesse para Agatha não brincar e as duas riram juntas, o que fez Theodora gargalhar como se tivesse gostado da brincadeira.

- Ela está de bom humor hoje.

- Sim, Cassandra estava com ela... – Agatha sorriu – As duas se entendem. E Alice está com a Bela.

- Isso é bom – Ella respirou fundo - Vou intermediar a discussão com Alcina e ver se consigo ajudar Judy.

- Boa sorte, sua esposa está na biblioteca com Daniela.

- Obrigada, vou precisar.

Ella ajeitou Theodora em seus braços e levou-a até a biblioteca, imaginou que talvez fosse mais fácil convencer Alcina desse jeito, mas bastou aproximar-se para ouvir que Judy estava tentando com todas as forças e já havia recebido um não da mãe.

- Por favor, mamãe!

- Eu já disse que não – Alcina respondeu já impaciente – Não quero você com aquelas crianças sujas.

- Mas, mãe...

- Não, Judith!

- Mas não vai acontecer nada demais, Klaus vai estar lá pra cuidar de todo mundo!

Alcina riu.

- E isso devia me deixar mais tranquila?

- Por favor, mamãe! – Judy choramingou – Eu sei me cuidar, a Cassandra me treinou muito bem pra isso!

- Judith Dimitrescu, eu já disse que não e não vou mudar de ideia.

Ella decidiu que aquele era um momento tão bom quanto qualquer outro para interferir antes que a discussão piorasse, mas Judy foi mais rápida.

- Quer dizer que sou velha o bastante pra caçar com as minhas irmãs e atirar uma flecha no pai da Agatha, mas não posso ir em um acampamento com os meus amigos? Você permitiu que eu fosse e até ficou orgulhosa, e olha que eu até vi como a Cassandra o prendeu no porão!

Sentindo o rosto queimar de raiva, Ella avançou e parou de frente a sua esposa.

- Como é Alcina? Você permitiu que Judy fosse com as irmãs para matar o pai da Agatha?

O silêncio que se instaurou foi tão pesado que poderiam ouvir os insetos de Daniela voando ao redor dos livros, mas a ruiva permaneceu quieta, de boca aberta e olhando de uma para outra como se assistisse uma partida de tênis; Alcina passou de irritada à mortificada e Judy arregalou os olhos ao notar que estava ali.

- Eu não sabia que era segredo – Judy ofegou – Sinto muito!

Alcina respirou fundo.

- Draga mea...

- Quer saber, agora não – Ella respirou fundo – Eu disse que não queria Judith envolvida nisso e você permitiu?!

- Foi ideia dela e ela estava perfeitamente segura com as irmãs.

- Você é a mãe! E o pior, sabia que eu não a queria envolvida nisso!

- Mãe...

- Não, Judy – Ella apontou para a porta – Vai pro seu quarto!

Esperou que Judith saísse da biblioteca antes de olhar para Alcina.

- Ela ainda não vai – Alcina disse em tom autoritário – Não importa o que diga.

- Veremos – Ella bufou e balançou o bebê que gemeu incomodada - Isso aqui não acabou!

E Alcina não tinha ideia do quão longe estava disposta a levar aquela discussão.


Notas Finais


"Essa ação trará consequências"

Espero que tenham gostado! Por favor comentem e me deixem saber, esses dias tem sido muito difíceis e só escrever e ler os comentários de vcs tem me ajudado a superar.

É agora que a treta começa hein... 👀 Vcs já sabem o que esperar


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