Selena Gomez's Point Of View.
Portland, Oregon, Estados Unidos. 22 de Outubro de 2019.
"Cuide de mim. Converse o dia todo e a noite apaixone-se profundamente. Estimule-me. Eu quero você mental e fisicamente." — Belong To You, Sabrina Claudio.
Era tarde, eu sentia isso não somente em minha pele, mas também com o entardecer que caia e adentrava as janelas de vidro que rondava todo aquele salão de festa da cobertura daquele prédio coberto por luxúria e pessoas que tinham bolsos sujos e almas pesadas. Gostaria apenas de poder sair e sentir a brisa fria tocando em meus ombros nus devido ao vestido tomara-que-caia que eu vestia. Apesar do decote generoso, era comportado e elegante. Sempre comportado e elegante, Selena. Não mostre demais, garota. Isso não combinava com uma pessoa na sua atual posição. Mantenha as costas retas, com bastante compostura. Você nasceu para isso, menina. Seja uma boa garota. Sorria.
— Sorria, Selena. — ele sussurrou em meu ouvido.
Como eu era nada além de uma boa garota, eu sorri. Sorri tanto que senti minhas bochechas doerem pela força que coloquei naquele simples movimento que deveria ser fácil. Uma força desproporcional, mas era um dos meus sacrifícios para manter-me ali.
Gostaria de me distrair. No entanto, olhar para o lado atrás de qualquer coisa que pudesse divertir-me era impossível. Os rostos eram os mesmo, as risadas tinham sempre o mesmo som. O aroma era nada além de perfumes caros. Não parecia natural. Porque não era.
Homens estavam aqui por causa do dinheiro para ter poder, e as mulheres pelo poder para ter dinheiro. Não sabia se eu era uma delas. Em meu interior, eu clamava baixinho para que não fosse.
Noites como essa eram comuns em minha vida, agora que eu era a noiva do prefeito de Portland. Noites de sorrisos e champanhes caros viraram rotina em uma vida que já não era mais minha. Era deles. De qualquer um deles menos minha. Uma verdade engraçada que não conseguia fazer-me rir.
— Selena, querida. — uma mulher se materializou em minha frente, o cabelo brilhando tão forte quanto o colar de diamantes em seu pescoço. — Sua apresentação de piano foi tão divina. Você tem tanto talento. Parecia que eu estava ouvindo os próprios anjos tocando.
Não lembrava-me o nome dela, mas sabia que a mulher era alguém para estar em uma festa como essa. Por ter educação e porque eu deveria sempre sorrir para todas as pessoas, mostrei meus dentes de forma genuinamente tímida.
— Ah, aquilo não foi muita coisa. Porém, agradeço o elogio. É muito gentil da sua parte. — suavidade na voz e gestos simples e sincronizados.
Uma mão apertou de leve meu joelho e uma boca beijou a carne da minha bochecha quente.
— Selena é muito modesta. Sequer consegue admitir que ela é perfeita fazendo exatamente qualquer coisa. — os olhos azuis encontraram os meus. — Não estou mentindo quando digo que você é a mulher mais maravilhosa desse mundo, meu bem.
Mitchell Parker era um dos homens mais desejados do Estado e mesmo assim ele havia escolhido apenas a mim para chamar de sua.
Dois anos atrás eu havia terminado minha faculdade de marketing quando meu pai decidiu que daríamos uma festa para comemorar os vinte anos da sua empresa. Como uma pessoa que amava estar ao redor de pessoas importantes como ele, não negou a si mesmo o prazer de ter o candidato que estava para se tornar o prefeito da cidade em sua lista de convidados. De certa forma, eu nunca fui uma garota comum da minha idade, que provavelmente miravam seus olhos em garoto da mesma faixa etária. Pelo menos foi isso que eu pensei quando me vi caindo em uma paixão por Mitchell, com quarenta anos e um espírito livro e audacioso nos olhos claros como o azul do mar.
Ou talvez ele tenha ganhado-me com o charme que exalava dele de muitas formas. Como nesse momento, quando ele estava elogiando-me e entregando o seu maior para mim no meio de tantas pessoas. Todavia, o charme não era para mim, exatamente. Era para eles. Para quem quisesse ver.
Sorria, Selena.
— Mitch, assim você vai me deixar sem graça. — cobri meu rosto com as mãos, perguntando-me mentalmente se seria estranho ficar nessa posição até o final da festa.
— Tudo bem, meu amor. Não irei colocar sua timidez no limite nessa noite. Você já fez um grande trabalho tocando piano para os convidados de uma festa que nem é sua. — beijou minha cabeça.
Tirando as mãos do meu rosto, notei que as pessoas já estavam entretidas em suas próprias conversas.
Até quando eu poderia esperar para que pudesse fugir sem ninguém perceber?
Mostrando que alguém do andar de cima estava ouvindo meus pedidos de socorro. Um dos deputados ergueu-se para caminhar para o palco que havia sido posto na única parede que não estava coberta por grandes janelas de vidro. Este era o meu momento cinderela.
Aproximando minha boca do ouvido do meu noivo, tive o cuidado de manter minhas palavras em um tom baixo.
— Não estou me sentindo muito bem, quando podemos ir para casa? — tratei de respirar fundo, para provar o meu ponto.
Não havia mentiras em minha frase. Cada vez que tinha que comparecer à festas como essa, sentia que todas as energias em meu corpo eram sugadas para um buraco negro sem volta. Não lembrava o momento exato que descobri que festas como essa iriam servir como minha kryptonita.
— Tenho que conversar com alguns deles mais um pouco antes de pensar em ir para casa. — ele tocou em meu rosto, captando o desespero dos meus olhos castanhos escuros. — Tem certeza que precisa ir? Não gosto de ficar sozinho em lugares como esse.
Sabia do que ele estava falando melhor do que ninguém. Até porque, eu era o seu troféu. Sua própria jóia rara. Mitchell não tinha problema algum para socializar com outras pessoas. Sua único preocupação era que todos notassem a mulher ao seu lado.
— Sinto que minha cabeça irá explodir. — toquei em minhas têmporas, recebendo algumas pontadas de dor como resposta. — Não serei útil agora. Já fiz o que tinha que fazer.
Nada daquilo agradava ele, era evidente. No entanto, como conhecia-me bem, tinha plena consciência que era melhor não tentar impedir a minha partida, porque eu conseguiria deixá-lo pior se resolvesse exigir para que eu ficasse.
— Seu segurança está no corredor, ele irá levar você para casa. — sorriu gentil para mim, tocando seus lábios nos meus. — Não espere por mim, meu amor. Irei demorar.
Eu nunca esperava.
Saindo de fininho, sorrindo gentilmente quando era pega por algum olhar diferente, saí para o corredor que estava tomado por seguranças particulares vestidos de preto. Os meus saltos faziam um barulho sincronizado quando batiam no piso totalmente preto. O meu vestido vermelho arrastava pelo chão por conta da calda que possuía na parte de trás. Eu era como uma boneca vestida com perfeição. Porque no mundo em que eu vivia, se você não era perfeita, então não era nada.
Não foi difícil de achá-lo, estava com o corpo ereto preto de um dos elevadores. O rosto com a mesma máscara serena que eu encontrei em seu primeiro dia de trabalho, há sete meses. O homem olhou rapidamente para mim quando notou minha presença, levando seus olhos caramelos para o caminho que percorri, provavelmente tentando encontrar Mitchell.
— Senhorita Gomez, pretende ir para algum lugar? — o som da voz dele era algo que deixava-me tensa e com medo.
Não medo dele, porque sempre foi muito profissional e gentil da sua própria maneira. Contudo, medo do que meus próprios hormônios eram capazes de fazer com o meu corpo quando ele estava por perto.
— Mais uma vez, Bieber. Irei dizer apenas mais uma vez. Gostaria que você me chamasse apenas de Selena, ao menos sou mais velha que você para tamanha formalidade. — eu costumava pensar em cada palavra que minha boca iria saltar para o homem.
Ele assentiu, incapaz de negar qualquer pedido, ou ordem em sua mente, que eu dissesse.
— Desculpe, Selena. Acabo fazendo isso por força do hábito, para manter as coisas mais profissionais. No entanto, se incomodar de verdade, então eu estou parando nesse exato momento. — ele mexeu os ombros, dando passos paro o lado até tocar no botão do elevador. — Para onde estamos indo?
Deixei um suspiro escapar dos meus lábios, olhando para a enorme porta de onde eu tinha saído. Bastante grata por finamente respirar longe daquelas pessoas horrendas e falsificadas.
— Para casa, por favor.
Justin deu passagem para mim quando as portas do elevador se abriram para mostrar o interior vazio que me aguardava. Agora sem o calor da emoção que eu sentia porque estava louca para sumir rapidamente daquela festa, os meus braços desprovidos de proteção estavam arrepiados com o frio daquela gaiola de aço que levava-me para baixo.
Justin manteve uma distância segura, bem de frente para à porta para me proteger de qualquer coisa ou quem tivesse interesse em me machucar. Nem me importava com isso quando a sensação de finamente poder ir para casa estava fazendo de mim uma alma sonhadora.
Do lado de fora, o frio da madrugada foi ainda mais violento comigo. Involuntariamente, meus dentes bateram alto um sobre os outros, deixando meu rosto duro assim que caminhávamos até o carro preto.
No instante em que Justin segurou a porta de trás para que eu pudesse entrar, neguei com a cabeça.
— Prefiro o banco da frente. O aquecedor funciona bem melhor nessa parte. — sem esperar qualquer ato dele, eu mesma abri a porta do passageiro e adentrei o interior confortável do carro.
Não demorou dois segundos para que o homem ocupasse o lugar vago do motorista.
— Onde está o seu casaco? Posso pegar para a senhorita. Digo, para você. — ele se corrigiu quando viu meu olhar de reprovação.
Apertei ainda mais meus braços ao meu redor depois da pergunta dele, tentando calcular quanto tempo eu teria que esperar para que o aquecedor fizesse efeito.
— Não trouxe dessa vez. Nenhum dos meus casacos iria combinar com esse vestido. — afastei meus braços rapidamente para que ele pudesse olhar, mas como eu sabia, não o fez. — Mitchell queria que o meu colar e meu busto estivesse à mostra. Dois milhões no colar da primeira dama. Interessante, você não acha?
Justin estava focado na estrada e de vez em quando ele olhava para o retrovisor, tentando captar qualquer sinal de perigo. Afinal de contas, esse era o trabalho dele.
— Desculpa minha ignorância genuína, o que eu deveria achar interessante, exatamente? — não obtive nenhuma expresso quando olhei para o rosto dele.
Justin Bieber tinha um belo e bem desenhado rosto. Nada estava fora do lugar. Nada era grande demais ou pequeno demais. Um belo homem feito na medida certa da perfeição.
— O fato interessante é que um único homem tem dois milhões de dólares para comprar um colar inútil como esse, enquanto milhares de pessoas no mundo sequer tem como pagar para ter o que comer. — minha voz saiu tão suave que era como se eu estivesse cantarolando.
Do meu lado, senti o corpo dele ficar tenso com a perspetiva do rumo daquele conversa. Era do patrão dele que estávamos falando.
— De fato, é uma situação bastante interessante. — foi tudo o que conseguiu dizer. — No entanto, é você quem está usando o colar. O poder agora de como e o que irá fazer com os dois milhões de dólares está em suas mãos.
Rapidamente, virei meu pescoço na direção daquele homem que muitas vezes não falava mais que três frases para mim durante todos os dias que ficávamos juntos. Surpresa era o sentimento evidente em meu rosto que até um segundo atrás estava pobre de emoções.
— Será que você está sugerindo o que eu estou pensando? — meus lábios cresceram em um sorriso com a idéia que ele havia colocado em minha cabeça, uma lâmpada bem posta em minha recente escuridão.
— Na verdade, não. Selena, eu não fiz nada além de dizer exatamente o que você estava pensando. Em momento algum eu deixei explicito que iria sugerir qualquer ideia que talvez não faça o seu marido feliz. — não conseguia compreender exatamente como ele conseguia dizer todas aquelas coisas sem mudar a serenidade do seu rosto. — No entanto, o colar é seu agora, não é? Assim que um presente é dado, fica por decisão da pessoa presenteada fazer o que quiser com ele.
Assenti com tanta afirmação que por um momento cheguei a pensar que meus movimentos fariam-me parecer como uma louca que não sabia controlar as próprias emoções. Ondas de idéias inundaram em minha cabeça com tantas possibilidades que havia sido jogadas em meu colo no momento em que Justin Bieber mostrou a verdade que estava bem em minha frente e eu não consegui perceber.
Durante os quarenta minutos que precisou para chegarmos até o condomínio de mansão de Portland, eu tentei a todo custo fazer com que o Bieber falasse alguma coisa para mim novamente. Porque eu gostava do sotaque canadense dele e também gostava de ver como ele não tratava-me como uma garotinha burra e superficial quando estávamos sozinhos e ele tinha maior liberdade para isso.
Quando o carro parou, eu saltei para o lado de fora, encarando agora a porta de entrada da casa que eu dividia com o meu noivo. Lugar para onde eu queria fugir alguns minutos atrás, mas que agora era uma opção incerta sobre o que eu deveria fazer.
— Precisa de ajuda para mais alguma coisa, Selena? — a voz dele lançou-me ondas de choque quando percebi que ele estava perto demais, analisando meu rosto para tentar descobrir porque eu estava parado como uma pateta olhando para a minha própria casa daquela forma.
Fechei os olhos quando uma rajada de vento passou por meu rosto, bagunçando os meus cabelos e fazendo o vermelho do meu vestido ventilar em danças sensuais.
— Preciso de um cigarro, Justin. — como eu não obtive resposta, abri meus olhos ver que ele estava perdido em sua própria intensidade. — Sei que você fuma três vezes ao dia e em certos dias não fuma sequer uma vez. No entanto, nesses dias você fica com as mãos inquietas e leva sempre os dedos até os lábios para apertá-los na esperança de diminuir sua vontade de fumar aquilo que pode ser a causa da sua morte. Mas que você fuma mesmo assim porque a morte para você não é nada. Nada além de mais uma etapa estúpida das nossas vidas de merda. Então, por favor. Pode me dar um cigarro?
Por um momento, ele permitiu-se ficar surpreso com a minha observação cheia de detalhes. Não queria que ele percebesse que eu sabia essas coisas sobre ele porque ficava o observando de maneira obcecada quando ele estava por perto.
Sabia que isso, apenas o pensamento de interesse por outro homem, já era um pequeno passo para a traição, levando em conta de que eu era noiva de um outro cara. Eu apenas não conseguia me conter, pelo menos não com o meu segurança particular. Como eu havia dito antes, não era qualquer homem que conseguia chamar minha atenção. Justin Bieber com certeza não era um homem comum, ou saberia se fosse.
Também havia o fato de que eu desconfiava de algumas traições por parte de Mitchell. O meu querido noivo tomava sempre bastante cuidado para não deixar pistas, no entanto, homens eram homens. E homens políticos eram piores ainda.
— Isso é uma ordem, Selena? — o corpo dele estava parado ereto em frente o meu.
— Se não for, você irá negar?
Justin balançou os ombros e olhou por cima dos meus, refletindo nas possibilidades dessa nossa conversa.
— Não sabia que a Senhorita fumava. Como muito bem disse, o cigarro não faz bem para a saúde. — jogou com as minhas próprias armas. — Eu, como o seu segurança, tenho o dever de manter qualquer coisa que coloque em risco sua vida, o mais longe de você.
Olhando para os meus sapatos caros, deixei uma risada verdadeira dominar todo o meu ser. De repente eu não estava tão necessitada do cigarro assim e o frio também já não incomodava.
— Esse é um bom ponto, tenho que concordar. Apesar de achar que um cigarro não irá me matar. — levantei meu olhar para ele novamente, passando uma mecha de cabelo que havia caído em frente ao meu rosto para trás. — Só queria alguma coisa que pudesse me distrair. Se me permite dizer, a noite foi uma completa tortura.
Justin assentiu, como se compreendesse.
— Trabalho para você, Selena. Ouvirei tudo o que você quiser dizer.— revelou.
Aquilo não me deixou um pouco mais contente, porque parecia que por mais que ele não quisesse me ouvir, faria mesmo assim por não ter escolha.
— Escutar minhas reclamações não está em sua lista de tarefas. Tenho certeza que você tem coisas melhores para fazer. — abracei meus braços. — Desculpe por isso, Justin. Obrigada por me trazer em segurança e tenha uma boa noite.
Não suportando a ideia de ter que continuar uma conversa onde apenas eu estava ansiosa para ter, girei meus pés para seguir até a escadaria que levava para as grandes portas de entrada. Os meus sapatos fizeram um barulho oco enquanto eu subia os degraus de mármore. No entanto, assim que toquei na maçaneta, meu nome foi chamado.
— Selena, espera. — a voz dele saiu rouca e deslumbrante, assim como o céu estrelado e banhado pela lua em nossas cabeças. — Tenho certeza que não há nada melhor para fazer hoje à noite além de dividir um cigarro com a mulher mais bonita do estado e compartilhar algumas conversas para saber se ela é tão interessante como eu pensei.
Sorri porque eu já tinha recebido elogios como aquele. Sobre uma suposta beleza em mim. Porém, ninguém me fez acreditar que eu era bela da forma como aquele homem vestindo um terno preto havia feito. Justin Bieber havia acendido uma chama em meu peito que eu poderia jurar que estava apagada.
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