História Between Angels - Monstro vibrador gigante

Memórias de retalhos, junção de duas pessoas com o mesmo corpo e almas diferentes. Passagens avulsas se juntam, o passado se conecta com o presente para gerar o futuro.

Berna,Suiça 12 de fevereiro de 2016.

Camila's point of view

Me lembro quando tinha 10 anos e estava tentando aprender a andar de bicicleta, e eu não conseguia, já tinha caído 20 vezes e nada, já estava para desistir quando Madre Ally se aproximou de mim e disse "Ore para Deus, ele sempre vai escutar suas orações e seus pedidos." Então eu orei, pedindo para que o Senhor me ajudasse e segurasse minha mão para que eu não caísse. Depois da oração tentei de novo e consegui, e engraçado porque  nunca mais caí de bicicleta a partir daquele dia.

Papai do céu, eu sei que desobedeci muitas regras mas foi por uma boa causa, eu juro. Sabe a Lauren? Então eu estava com ela agora eu tenho certeza que ela e um anjinho que o senhor mandou para cuidar de mim, ela me ensinou tanta coisa nova! e eu adorei cada momento. Ela pediu para não contar pra ninguém, mas como o senhor sabe de tudo o tempo todo eu posso contar. 

O senhor já teve um orgasmo?

É maravilhoso! Eu nem sei descrever o que eu senti mas Lauren falou que eu posso ter quando eu quiser e só pedir para ela. Viu quando ela e boa?

Sinto umas coisas estranhas quando estou com ela, meu coração dispara quando eu a vejo, e o seu sorriso? E o mais bonito do mundo inteiro! Seu cheiro é tão bom que eu poderia sentir o tempo todo.

E eu juro Papai, só desobedeci as ordens porque a Lauren me pediu.

Então eu peço que a irmã Dinah não seja tão severa comigo, eu ouvi dizer que ela e muito mal para as meninas que são mandadas pra diretoria, e talvez eu esteja com um pouco de medo.

Enfim, Eu te amo Papai do céu. Amém. 

Suspirei pela quinta vez enquanto terminava a oração encarando a grande porta de madeira fechada na minha frente. Meu coração batia descompassado no meu peito. Somente garotinhas más vão para essa sala, e eu sempre fui uma boa garota, sempre segui as regras, mas lá estava eu pela primeiríssima vez, totalmente encrencada.

Assim que pisei no orfanato fui abordada com várias perguntas, todas as pessoas que ali estavam ficaram curiosas, queriam saber onde eu havia me metido.

Não demorou muito fui chamada a sala da diretora, não deu nem tempo de falar com a Lizzie, só deixei as coisas que eu havia ganhado no meu quarto antes de ir.

Minhas mãos tremiam um pouco quando bati discretamente na porta.
Três pequenas batidas quase imperceptíveis.

-É acho não tem ninguém, melhor voltar em outra hora, pelo menos eu tentei.- Sussurrei baixinho pra mim mesmo, quando já estava me virando para sair, a porta se abre em um supetão.

Merda!

-Entre Camila.- Dinah me olhava com uma cara séria, parecia contrariada.

Passei por ela de cabeça baixa, me sentei na cadeira que ela havia me apontado.

A sala dourada é grande, possuía um grande sofá branco encostado na parede e uma mesa no centro, com vários armários espalhados.

Encarei o grande quadro de Jesus que enfeitava a parede na minha frente, ele parecia olhar diretamente pra mim.
Será que o papai do céu também está bravo comigo?

Esse pensamento me fez encolher, eu não queria ele bravo. 

-Onde você estava Camila?- Dinah disse enquanto se sentava na grande cadeira de couro.

Lolo tinha me dito para não falar a verdade, porém mentir é tão errado. Tomara que papai do céu me perdoe mas eu não poderia correr o risco de nunca mais vê-la de novo.

Pensei em um desculpa totalmente convincente.

-Fui no parque brincar e acabei me distraindo.- Isso! 

- No parque? Então quer dizer que você estava no parque todo esse tempo?- ela me olhou levantando a sobrancelha.

-Sim! Eu descobri uma brincadeira nova e me esqueci do tempo.- Bem, isso não era totalmente mentira.

- Por quase dois dias?-

- Eu gostei muito de brincar- Dei os ombros.

Ela me encarou sem dizer nada, acho que ela caiu na minha desculpa. Eu sou um gênio, Lauren ficaria orgulhosa de mim.

Dinah levou a mão na testa e começou a esfregar o local. Parecia pensar em algo.

-Dinah, posso te perguntar uma coisa?- Uma súbita curiosidade havia me invadido. É como já estávamos sozinha, não vi problema em perguntar.

- Claro.- ela sussurrou ainda perdida em pensamentos.

- Liz me disse que viu você e a senhorita Normani se beijando na sala do zelador. Vocês iam fazer sexo?-

A mulher de cabelos loiros demorou quase 20 segundos para assimilar a pergunta.

-Como Elizze viu isso? Eu não fiz nada!- ela disse se levantando de supetão com os olhos arregalados.

Seu longo vestido preto tinha ficado preso  na cadeira.

Oh, não.

Dinah até tentou segurar mas foi em vão, ela caiu com tudo no chão, e a cadeira foi junto, virando em cima dela.

-Meu Deus Dinah! Você está bem?- corri em sua direção, levantando a cadeira logo em seguida.

Rapidamente Dinah se sentou no chão, parecia meio tonta.

Agachei ao seu lado a olhando preocupada com o que havia acontecido.

-Por favor, nunca diga a ninguém!- foi a primeira coisa que ela disse.

Comecei a sorrir

-Dinah não seja bobinha! Cair é algo normal, eu mesmo já levei vários tombos. Teve aquela vez que eu tropecei no meu próprio pé e acabei batendo na mesa que estava as panelas do almoço as derrubando tudo no chão. Lembra que quando eu comecei a chorar você me disse que cair era algo normal? O problema foi que tivemos que almoçar mais de 16:00 da tarde aquele dia. E todo mundo me olhou feio. -Disse estremecendo na última frase.

Dinah me encarou como se eu tivesse algum problema.

-Não é disso que eu estava falando, era sobre...- antes que ela pudesse terminar a frase o telefone da mesa começou a tocar.- Espere um momento.-

Ela atendeu, parecia algo urgente pela forma que ela respondia.

Ela encerrou a chamada, parecia aflita com algo.

-Eu preciso ir, depois conversaremos melhor.- ela já estava saindo pela porta quando eu a segurei.

- Hey, eu posso fazer uma ligação?- ela me olhou por alguns segundos.

-Sim, claro.- ela disse se soltando e correndo corredor a fora.

Saltitante fui em direção a mesa me sentando na cadeira de couro.

Era macia e quente, não consegui segurar e comecei a me girar de um lado para outro enquanto gargalhava.

E sem querer bati o braço em um jarro de flor que estava em cima da mesa. Que caiu com tudo no chão se espatifando.

Merda, merda, merda.

Parei todos meus movimentos e meu sorriso se fechou.

Dinah vai me matar.

Rapidamente me levantei da cadeira e empurrei com cuidado todos os cacos do jarro para debaixo do tapete branco.

Pronto! Ninguém vai notar, e eu vou continuar viva.

Comecei a sorrir novamente com a ideia brilhante que eu tive. 

Duas ideias infalíveis em um só dia.

Me sentei novamente na cadeira tentando lembrar dos número do telefone da Lolo.

324-587-78 o último número e talvez 9 ou 2 acho que era 6.

Merda.

Acho que vou ter que ir tentando todos os três números.

Puxei o telefone para perto de mim e comecei com o 2.

Depois de 3 toques a pessoa atendeu.

-Lolo e você?- perguntei.

- Que Lolo o que menina, eu sou a Márcia.-

Rapidamente desliguei o telefone na cara da Márcia.

Sem Lolo, sem conversa.

Vamos tentar o 9 agora.

No primeiro toque a pessoa atendeu.

-Sex shop " Puro prazer", bom dia.- a moça parecia agradável.

Mas o que era um "Sex shop"? Talvez seja uma nova forma de cumprimentar alguém.

-Minha Lolo está aí?-

- Eu não sei o que é um " Lolo" mas temos ótimas marcas de novos vibradores e plugs anais, acho que você deveria experimentar o "Monstro do prazer" orgasmo garantido em menos de 7 minu...-

Desliguei o telefone antes que ela terminasse de falar.

Estava extremamente chocada. Encarava o telefone na minha mão, meus olhos estavam arregalados.

Como alguém tem a capacidade de vender monstros? É ainda que vibra? Deve ser uma loja de coisas de terror.

Um arrepio passou pelo meu corpo quando imaginei um monstro vibrador gigante. Meu Deus Lolo precisa saber disso. 

Bem, agora só falta um número para tentar.

-Por favor que dê certo.- sussurrei para mim mesma.

Já estava quase desistindo pessoa atendeu.

-Lolo?- Sussurrei

-Camz?- Era a minha Lauren. Obrigada papai do céu.

-Sim! E você mesmo Lolo?-

-Claro que sou eu, como você está me ligando Camz?- Ela parecia surpresa.

-Com o telefone.- disse simplesmente.

-Lolo você não vai acreditar, sabia que existem monstros vibradores? E que eles são vendidos? Uma mulher me ofereceu.-

-Que mulher?-

-Eu errei o seu número e liguei para outra pessoa, uma tal de Sexy Shop atendeu.- Lauren começou a rir do outro lado.

-Eu imagino o monstro vibrador que ela queria te vender.-

-Não é horrível Lolo? Imagina uma coisa grande, vibrando e tentando te comer?- Minha voz saiu um pouco assustada.

A gargalhada da Lauren foi maior dessa vez.

-Minha Camz bobinha.- ela sussurrou.- Vou tentar te ver amanhã, nem que eu precise entrar aí escondido novamente.-

Meu coração se enche de felicidade com a ideia, já sinto tanta saudade da minha Lolo.

-Simm, eu adoraria. E aí podemos fazer aquelas coisas novamente, certo?-

-Isso significa que você gostou de fazer aquelas coisas?- Sua voz saiu meio engraçada.

-Uhum, poderia fazer isso em mim toda hora que eu não me importaria.-

-Vou anotar isso.- Ela disse rindo.

Me acomodei melhor na cadeira, o couro que já começava a esquentar a minha bunda.

-Eu preciso ir agora, Já estou muito tempo aqui.- disse tristemente.

Meu coração se apertava por ter que desligar. Se fosse por mim falaria com Lauren o dia todo

-Tudo bem. Se tudo der certo te vejo amanhã depois do almoço, me espere na porta.-

-Okay, esperarei.-

-Tchau Camz, Um beijo.-

- Pode ser dois?-

-O que?-

-Dois beijos, É que se eu não falar com você amanhã, eu já tenho um beijo guardado.-

Ouvi Lauren suspirar do outro lado.

-Quantos beijos minha Camz quiser.- dei uma risadinha

-Até amanhã BooBoo.- disse fazendo um barulho de beijo e desligando o telefone logo em seguida.

Comecei a andar em direção a porta tomando cuidado para não pisar em cima dos cacos embaixo do tapete.

Quando já estava chegando no corredor, escuto a Madre Ally conversando com outra pessoa que eu não pude ver quem era.

-Ela já deu o primeiro passo, está acontecendo mais rápido que imaginamos e você não está fazendo absolutamente nada.- A baixinha parecia revoltada com algo.

Me aproximei lentamente para ver quem era a outra pessoa.

Eu sei que ouvir a conversa dos outros é errado, mas havia algo naquele lugar, algo poderoso, eu podia sentir.

-Talvez se não ficasse escondido e colocasse esse ser nojento de olhos verdes longe da sua menininha, ela não precisaria sofrer esse destino. Qual é, todo esse poder para NADA?-

Teve um momento de silêncio.

-Me desculpe senhor, eu me exaltei, me perdoe, vou me colocar em meu lugar.- a voz de Ally estava mais baixa.

Repleta de curiosidade me atrevi a olhar quem era essa outra pessoa.

E para minha surpresa não havia ninguém com Ally.

Ela estava ajoelhada no canto sozinha com a cabeça baixa, literalmente falando com a parede.

Lauren's point of view

"Até amanhã BooBoo" essas palavras ficaram rondando em minha cabeça e junto com elas várias memórias de uma pessoa.

Eu ainda consigo a imaginar usando sua linda lingerie preta e seus Scarpin vermelhos, mexendo em seus cabelos ondulados e castanhos enquanto cada palavra sai lentamente de sua boca manchada com batom vermelho.

"Ate amanhã BooBoo" ainda lembro de quando escutei pela ultima vez, enquanto ela morria. Seus lindos olhos castanhos perdendo o brilho. Quando ele a matou.

Eu tinha 14 anos quando isso tudo aconteceu, exatamente naquele bar.

"Ate amanhã BooBoo" foi a primeira e última coisa que a extraordinária  Karla Estrabão me disse.