História Between Two Worlds - Maldito Changkyun!

–  Me conhece? - pergunta o mesmo ainda sorrindo.

–  Não, é que... O seu crachá... - respondo um pouco sem graça apontando para o pequeno crachá preso em seu blazer, enquanto me levantava rapidamente.

Péssima idéia! Pois ao me levantar tão abruptamente, acabei com que torcesse meu tornozelo direito e assim, por fim, me fazendo cair em cima do garoto a minha frente. Ótimo, agora estava com um joelho ralado e um tornozelo torcido, e tudo em uma mesma perna.

Naquele momento só sentia vontade de cavar um grande buraco bem fundo e me enfiar dentro dele. Queria que o tempo parasse e me desse à chance de desaparecer dali, assim, simplesmente do nada. Sentia-me muito envergonha com a sequência de acontecimentos de minutos atrás, primeiro o tombo, depois o portão se fechando e atingindo-me em cheio, e agora isso!

De repente acabo escutando uma risada, era ele. O tal Changkyun ria me vendo daquela forma, toda atrapalhada, ele praticamente estava se divertindo com aquilo.

Um pouco irritada me levanto novamente de forma bruta, porém agora não torcendo de alguma forma meu tornozelo. Começo a caminhar para longe dali em passos largos, que acabava sendo em uma tentativa falha, já que estava mancando devido o tornozelo e mais o joelho ralado, que ainda ardia intensamente.

– HEY! GAROTA! - o escuto gritar a poucos metros de mim já me alcançando. – ESPERA!

“Maldita sea! Lo que este chico quiere ahora? Ya no es suficiente ser el culpable de la protuberancia en mi cabeza y mi esguince de tobillo?!”

– Garota! - puxa-me pelo braço esquerdo ao me alcançar finalmente.

– ¿Que quieres?

– O que?! - indaga confuso por minha mudança de idioma repentina.

Mesmo em um país totalmente diferente do meu, ainda acabava soltando uma ou outra frase em minha língua natal, sendo o espanhol. Sabia que tinha que mudar isso imediatamente, por isso decidi criar uma meta para ainda esse ano, que seria nada menos de tentar evitar algo do tipo e dessa forma tentaria me desligar um pouco do espanhol e focar mais no coreano, já que é bem pouca a porcentagem de sul-coreanos cujo sabem o espanhol, ainda mais fluente.

– Esquece - suspira. – Você deve ter deixado cair o seu celular ao cair em cima de mim, toma. - me entrega o pequeno aparelho já soltando meu braço.

– Obrigado - agradeço, mas logo volto a caminhar.

– Hey! - segura novamente meu braço, me virando mais uma vez para sua frente.

– O que foi agora?

– Eu já pedi desculpas por aquilo, por que continua agindo dessa forma?

– ...

– O que foi? O gato comeu a sua língua? - sorri de lado, fazendo-me revirar os olhos com tal pergunta. – Mas falando sério, você esta bem?

– Olha, eu estou com um belo ralado em meu joelho direito, com um grande galo em minha cabeça e com um tornozelo doendo, sem contar que estou pra me atrasar em meu primeiro dia de aula, então digamos que não seja uma boa hora para me perguntar se eu estou bem! – descarrego toda a minha frustração e raiva para cima dele.

Ao terminar de descarregar tudo aquilo, vi o mesmo me olhar com um sorriso maroto. Sinceramente eu não conseguia entender esse garoto! Uma estranha acabou de descarregar toda a sua frustração e raiva para cima dele e ele simplesmente continuava a sorrir como se nada tivesse acontecido?!

– Ta... Você é muito esquisito - afasto-me cautelosamente dele.

– Bom, não fui eu que cai do nada, tive um portão me acertando em cheio, me joguei praticamente em cima de um belo garoto que veio me ajudar, e ainda por cima comecei a falar em uma língua desconhecida, assim do nada. Tem certeza que eu sou o esquisito? - cruza os braços sorrindo ironicamente.

– Ta! Me desculpa - falo em modo robótico. – Era isso que queria ouvir?

– Bem melhor agora - passa seu braço por cima de meus ombros, me abraçando assim de lado, e já enquanto começando a caminhar me arrastando junto consigo.

 – Mas o que...

– Você esta indo para o colégio também né?! – pergunta porem não me deixa responder. – Então, eu observei e percebi que você vai estudar no mesmo colégio que o meu, deduzi isso devido seu uniforme. Por fim, também percebi que você não sabe para onde diabos estava indo e por isso, como eu sou um belo grande cavaleiro, decidi te acompanhar até o colégio a fim de lhe mostrar o caminho - respondeu simplesmente.

– Eu sabia sim para onde estava indo... - minto.

– Sei, sabia...- ironiza.

Tento me desvencilhar de seu braço em uma tentativa falha, porém isso só serviu para ele me apertar ainda mais contra si. Bufando, decidi por fim ignorar isso e deixá-lo me guiar, já que de fato não sabia exatamente onde ficava o colégio e a onde diabos estava.

25 minutos depois.

– Finalmente chegamos - o vejo sorrir.

Paramos em frente ao enorme portão, cujo estava aberto para passagem de diversos carros luxuosos que traziam estudantes dali. Era bem pouco os estudantes que se via chagando a pé, então logo deduzir que esses estudantes eram bolsista assim como eu.

Mal deu tempo para admirar mais um pouco o local, Changkyun logo me puxou para dentro do enorme edifício. A cada passo que dávamos sentia como se fossemos observados, coisa que de fato era verdade, já que ao olhar ao redor pude perceber e ver diversos estudantes parando o que estavam fazendo para nos olhar. Até parecia que a gente era algum tipo de celebridade ou alguém de muita importância.

 Já estava começando a ficar incomodada com aquilo, sentia-me envergonhada, já que nunca fui e gostei de ser o centro das atenções, isso era comprovado nas minhas apresentações de trabalhos em minha antiga escola, a onde sempre, mesmo não querendo e evitando ao extremo, gaguejava e me atrapalhava toda com as palavras ao ver que muita gente me observava. Papai e Alyssa já haviam me informado e tentado me ajudar com isso, porem de nada adiantou, eu realmente não havia nascido para ser o centro das atenções nem em meus sonhos.

– Por que todos estão nos olhando? - indago a ele em praticamente um sussurro.

– ...

Percebi que com o silencio dele, mesmo não sabendo exatamente e comprovadamente o do porque de tantos olhares, era ele de fato o motivo de tudo isso. Changkyun se mostrava incomodado com aquilo, mostrando não estar gostando de nada daquilo. Continuou me arrastando junto a ele até finalmente entrarmos pela enorme porta do colégio.

Quando entramos minha boca foi simplesmente ao chão com tamanha grandeza e beleza do colégio, tudo parecia de alta qualidade, como se fosse realmente aqueles colégios de gente rica daquelas séries, doramas e filmes... A cada passo que dávamos eu necessitava parar para analisar cada detalhe dali, isso até perceber que minhas empacadas começava a incomodar Changkyun, que queria por algum motivo sair dali o mais rápido possível. Não aguentando mais, Changkyun me pega de surpresa e me joga como se fosse um saco de batata por cima de seus ombros, fazendo com que para ele aquela atitude fosse super normal.

Se antes já éramos o centro das atenções agora éramos mais. Todos, literalmente todos os estudantes que ali estavam, olhavam para nós enquanto cochichavam algo. Envergonhada e sem forças para brigar com ele, simplesmente joguei todo o meu cabelo para frente de meu rosto, afim de não ter que encarar aquilo tudo, gerando assim algumas risadas por tal cena de agora, tendo na mesma um Changkyun de cara fechada e uma garota que mais parecia a Samara de “O Chamado” sendo carregada por ele.

Não demorou muito para que seus passos diminuíssem, e só foi ao entrar em uma sala qualquer dali que Changkyun finalmente me colocou no chão.

– Você é maluco? Qual é a sua? Que vergonha! - exclamo irritada e vermelha.

– Eu não teria que fazer isso se você não parasse a cada metro andado para ficar babando nas coisas que via! - retruca.

– Eu... Eu... Ahhh! ¡Vaya Mierda!

– Ai, já começou de novo a falar nessa sua língua estranha! - aponta para mim como se tivesse me acusando de algo.

– É espanhol idiota! - retruco. – Essa língua “estranha” é espanhol! - saiu às pressas dali.

Estava a ponto de explodir, tudo que poderia dar errado nessa manhã deu, e ainda em dobro!

Comecei a caminhar para longe dali antes que me estressa-se mais e acabasse fazendo alguma loucura, porem a cada passo que dava, escutava o mesmo ser, de minutos atrás, me chamar. Estávamos em uma típica perseguição de cão e gato, mesmo que tentasse o meu melhor para despistá-lo, não conseguia. Ele parecia um verdadeiro carma em minha vida, quando finalmente pensava que tinha conseguido despistá-lo, logo o via atrás de mim quase me alcançando. Minha perna machucada também não ajudava em nada, já que a mesma acabava sempre por me atrasar e me atrapalhar a concluir tal ato.

Avistei uma sala a poucos metros dali, que aparentava estar vazia devido o silencio, e já tendo a idéia de me esconder na mesma, não demoro a chegar até ela. Entro na grande sala as pressas, não me dando conta que já havia dois garotos ali dentro. Quando finalmente percebo a presença dos dois, paro imediatamente e solto um sorriso sem graça a eles, que naquele momento só me olhavam com um ar de curiosidade pela minha presença tão repentina ali.

Não demorei muito também para perceber que aquela sala na verdade era uma biblioteca, que por sinal era tão bela e bem organizada que de primeiro momento me deixou abobalhada ao olhar tudo aquilo, porem logo me lembrei o que estava acontecendo e de quem estava fugindo, fazendo-me dessa forma endireitar minha postura na hora, voltando meu olhar novamente aos dois garotos que ali estavam.

Estava a frente da porta já fechada. Tentava formular alguma mentira ou explicação para aquilo tudo, quando de repente sou praticamente jogada para frente ao sentir algo me empurrar com tudo, me fazendo assim tropeçar em meus próprios pés e cair quase praticamente em cima de um dos garotos, que me segurou a tempo, impedindo-me de ir ao chão logo em seguida.

Não demorou muito para assimilar tudo que havia acontecido segundos atrás, já que simplesmente se encontrava um Changkyun parado na porta todo ofegante, então deduzi que ao abrir a mesma, com tamanha brutalidade e a minha procura, acabou com que tudo isso acontecesse.

– Você... Você... Por que esta fugindo de mim?! - indaga na maior cara de pau ainda com sua respiração descompensada.

– Changkyun?! O que esta acontecendo aqui? - pergunta com uma grande calma o outro garoto.

– Bom, não me surpreende que uma linda garota como essa esteja fugindo dele - fala dessa vez o garoto que ainda me segurava.

Saio de seus braços às pressas quando percebo o pequeno espaço que nos separávamos, mas só foi ao fazer isso, que logo sinto meu joelho direito ir em direção a uma das cadeiras que ali tinham, e assim me fazendo soltar um pequeno grito de dor devidos o ralado de antes.

– Você esta bem? - vejo o garoto que havia perguntado se aproximar de mim. – Céus! Olha só esse ralado em seu joelho! E esse tornozelo inchado!? O que aconteceu?

– Eu apenas...

 – Ela caiu em frente de casa - Changkyun me interrompe. – Por isso do joelho ralado, o mesmo aconteceu com o tornozelo.

– E você não ajudou?

– Ora, Hyuk, é claro que ajudei! Mas ela de repente decidiu dar uma de fugitiva e começou a correr de mim.

– Você a ajudou com sua delicadeza? Porque se ajudou com tal delicadeza, não se espanta nada ela ter fugido de você - ri o único garoto, cujo ainda não sabia o nome.

– Sehun! - adverte o tal Hyuk. – Vamos?...

– Mia - completo.

– Vamos Mia. Vou te levar para enfermaria para cuidar disso - mais uma vez sou surpreendida com alguém me pegando, porem dessa vez no colo e não me jogando por cima dos ombros como se fosse algo qualquer.

– Não precisa disso! Eu posso ir andando - tento sair de tal situação embaraçosa.

Não me escutando, Hyuk continua a me carregar no colo até a enfermaria, enquanto é seguido por Changkyun e Sehun, que discutiam algo logo atrás. Novamente voltava a ser alvo de olhares, já que antes estava sendo carregada feito um saco de batata por Changkyun e agora como uma princesa por Hyuk.

Envergonhada mais uma vez apenas fiz o que costumava fazer em tais situações, simplesmente desviei o olhar, abaixando o mesmo, e logo depois tratei de jogar todo meu cabelo para frente do rosto, para assim ter a certeza de que não veria todas aquelas pessoas me olhando e dessa forma me acalmar um pouco. Feito isso, escuto risadas vindo de Sehun e Changkyun com minha atitude, e percebo o mesmo com Hyuk, que de modo mais educado tentava segurar a risada.

Quando finalmente chegamos à enfermaria, Hyuk me colocou delicadamente em uma maca, enquanto já ia conversar com uma mulher já de idade, informando mais ou menos o que havia acontecido comigo.

– Qual é a dessa de colocar todo o cabelo para frente do rosto como se fosse a Samara de O Chamado? - indaga Changkyun ao meu lado rindo e me fazendo virar a cara para o outro lado mesmo.

– Não é da sua conta...

– Você é realmente uma garota estranha, nunca na minha vida imaginaria uma garota fazendo isso - fala dessa vez Sehun também rindo, parecendo assim em meu outro lado.

– Me deixem em paz - afundo meu rosto no travesseiro fofinho dali.

“Yo quiero ir para casa...”, lamento em meus pensamentos soltando um longo suspiro, enquanto amaldiçoava em particular Changkyun, que foi o principal motivo de tanta vergonha que passei só nessa manhã.

“Me pagas Changkyun! Ah si paga!”