Quando o homem tatuado terminou de subir os cinco lances de escada, com uma mão firme contra o osso quebrado da mandíbula que doía como o inferno, notou um aroma diferente por todo o quinto andar — diferente, não desconhecido; e destrancou a porta e fechando-a atrás de si novamente, deixando as chaves barulhentas na fechadura. O perfume caro que jamais conseguiria usar inundou seus sentidos por alguns segundos e ele fechou os olhos, inspirando o máximo que conseguiu com o olfato aguçado; o amadeirado adocicado era quase demais para Matt.
Então, andando pelo hall, viu um bilhete dourado sobre a mesa da sala de jantar que nunca usava para nenhuma refeição. O papel caro com seu nome escrito em uma caligrafia apressada quase fez o homem rir — não por achar qualquer graça naquela ação, gargalharia somente pela ironia do ato comum e escandaloso de Tuck. Sorrir seria doloroso para os ossos que ainda estavam em reconstrução, então manteve os dentes trincados.
— Tão discreto — Reclamou entredentes, finalmente pegando o envelope de qualquer jeito sobre a superfície amadeirada; com má vontade. Ainda que o gesto fosse revigorante para lembrar que a relação entre eles não era de todo ruim, Matt ainda estava de mau-humor. Um presente de Tuck nem sempre vinha com o objetivo de melhorar suas noites, porque ainda podia sentir o punho enluvado do galês contra seus ossos, estilhaçando-os sem nenhum pudor. Sem pensar, nem por um minuto, que talvez aquilo podia afetar o ego do Sanders.
— Maldito — Resmungou, jogando o papel de qualquer jeito após ler as duas linhas.
Espero vê-lo hoje, não me deixe esperando.
—T.
Matt tinha aquele apartamento só por comodidade, não era nenhuma necessidade porque raramente precisava do imóvel para dormir e não tinha nenhum item de decoração que o pertencia; mas era interessante ter um endereço para alguns inimigos enviarem suas ameaças — para tentar armar emboscadas para quando ele chegasse em casa depois de uma longa noite com bebidas alcoólicas e homens bonitos. Matt ria só de lembrar, era divertido manter a adrenalina correndo no sangue que nem era seu. Mas, é claro, o imóvel servia como destinatário dos presentes de Matt Tuck — e sua extravagância irreparável. Primeiro, uma mandíbula quebrada no final de uma reunião marcada às pressas — e então um convite para uma festa marcada por exibicionismos. Matt nunca iria aprender a dizer não, sem que a voz denunciasse sua mentira, à rotina que criaram em volta da rivalidade que compartilhavam há tanto tempo.
[…]
O céu noturno não tinha nenhuma estrela, muito menos qualquer ameaça de chuva sobre as terras secas de Los Angeles — mas mesmo assim Matt fez questão de pegar sua melhor jaqueta pendurada em um dos poucos cabides do guarda-roupa. O tecido grosso com diversas fileiras de spikes não era apropriado para a ocasião, mas a peça era responsável por atrair olhares curiosos em sua direção e por mais que ele não fosse admitir em voz alta, a atenção recebida era prazerosa para seu ego. Vestiu a calça rasgada que tinha escolhido aleatoriamente e calçou os coturnos de sempre; o cabelo curto era extremamente prático.
Então, quando iria cair na armadilha de ler, mais uma vez, o bilhete que ainda estava sobre a mesa mesmo depois de uma semana ali, Matt lembrou que não era o responsável por seus horários naquela noite. Juntando as chaves de casa, o celular descartável do mês e a carteira com os documentos falsos, o Sanders decidiu que não queria nenhuma conversa casual com a vizinha de 79 anos da porta em frente a sua. Não tinha nada contra a mulher, mas não era tão habituado com senhoras super educadas e super interessadas em sua vida. Sendo assim, desceu pela escada de incêndio, decidindo esperar pela carona na esquina de sua rua — uma transversal, que dava para a avenida.
Encostou-se ao muro, de braços cruzados e sem paciência para o atraso costumeiro dos amigos. E só quando o relógio de pulso marcou nove e meia — longos quinze minutos de espera —, um carro de placa clonada aproximou-se de Matt; devagar e suspeito o bastante para que ele soubesse quem era. Os dois homens no carro tinham um histórico de atrasos, mas não era do costume de Matt reclamar das coisas que tinha de graça. Nesse caso, a carona.
— Já falei como eu respeito a forma que você paga suas dívidas, Sanders? Um negociador nato, de verdade. — Colocando um braço para fora da janela aberta, Brian Haner Jr. o cumprimentou com um sorriso de lado, tirando o charuto aceso dos lábios; como se não se conhecessem a tanto tempo. Ao lado dele, Zachary Baker apenas olhou para a figura de pé fora do carro. Matt não precisou responder ao charme do Haner, apenas deu um aceno de cabeça e abriu a porta de trás. — Pensei que um convite desses nunca chegaria.
— Então hoje é seu dia de sorte, cara. — Matt finalmente falou, jogando-se no banco de trás sem muita paciência para trancar o cinco de segurança.
Zachary o olhou pelo retrovisor, mas não parecia atento, muito menos curioso para os movimentos de Matt; o homem de olhos claros não falou nada, nem acenou como Brian havia feito segundos atrás — apenas continuou fumando o cigarro silenciosamente. Apesar da suposta falta de educação, Matt sabia que o Baker não tinha o comportamento falastrão de Brian; e às vezes agradecia por isso porque não precisava de outro tagarela em sua vida.
— Não entendi a oferta de carona. Nem sabia que você tinha um carro para exibir pela cidade. — Falou despreocupado, enquanto colocava o celular de volta no bolso da jaqueta porque não tinha nenhuma mensagem nova para ignorar. Brian apreciava a conversa fiada, então sorriu para o tatuado no banco de trás.
— Esse bebê é novinho. — Sorriu, olhando para o retrovisor antes de entrar na avenida principal. — Sabe, literalmente. Fiz um negócio há duas semanas e a recompensa foi essa máquina. — Exibindo-se, deu uma tapinha no retrovisor e Matt conseguiu ouvir um riso abafado de Zacky.
— Você devia ser um bom amigo e me passar esse contato. — Resmungou, apoiando as costas preguiçosamente no banco de couro e olhando para o caminho livre que pegavam pela estrada iluminada. A frustração estava clara em sua voz. — Minha moto está uma porcaria depois daquela porra de acidente. Até fiz a merda de tentar um acordo com Arin, mas o maldito recusou porque era muito trabalho arrumar as peças, algo assim. Pelo preço que ele cobrou, consigo uma nova e legalizada, com um jogo de rodas do Brooks. Aquele ladrãozinho do caralho não vai ter um centavo meu.
O casal olhou para Matt pelo retrovisor, simultaneamente; Brian sorriu com a suspeita do que a escolha de palavras significava de verdade, nas entrelinhas — Zacky arqueou uma das sobrancelhas, tentando não julgar. O Haner, sempre curioso e cheio de teorias para confirmar, foi o primeiro a falar, tirando o charuto da boca e jogando pela janela.
— Cada um acredita no que quer, meu amigo. — Deu de ombros, Zacky o encarava com os olhos semicerrados como se quisesse tirar as palavras de Brian antes que elas chegassem aos lábios finos do moreno. — Mas todo mundo sabe que você fez aquilo de livre e espontânea vontade, nenhum acidente aconteceu naquela pista àquela noite. Você se jogou naquela porcaria sozinho, pode admitir.
Do banco de trás, Matt cruzou os braços, assumindo uma posição defensiva.
— Vá a merda, Haner. — Revirou os olhos, terminando a conversa abruptamente, desistindo de qualquer diálogo com o casal responsável por sua carona. Observar a cidade logo abaixo deles parecia mais interessante do que ser atacado moralmente.
— Ah, claro, Sanders. — Brian soltou um risinho, recebendo um sorriso ladino de um Zachary orgulhoso da forma como Matt estava irritado com a verdade jogada em sua cara sem nenhuma cerimônia. — Melhor terminarmos aqui, ou serei barrado da festa do ano, não é? — Matt não respondeu, Brian manobrou o carro para saírem da rodovia.
Cerca de cinco meses atrás, Matt Sanders se envolvera em um acidente; ou assim ele contou (e repetiu, para quem quisesse ouvir, sobre o fatídico dia onde sua moto tão bem cuidada quase encontrou seu fim debaixo de um caminhão carregado de mercadorias roubadas na rodovia abandonada nos limites da cidade). Era uma história sem pé nem cabeça, porque a estrada em questão não era funcional para rota de tráfico e Matt nunca seria tão descuidado com a moto que lhe custara tanto trabalho. Mesmo que, no conhecimento geral, ele tivesse um pé no azar e as duas mãos enfiadas em um poço de irresponsabilidade, o Sanders jamais colocaria o próprio pescoço na guilhotina por tão pouco. Matt Sanders amava o que lhe pertencia, isso era um fato que tinha como exemplo sua Harley Davidson com peças personalizadas.
Depois, o rumor de que nada daquilo era verdade começou a correr pelo submundo da parte baixa de Los Angeles — Matt fora vítima de uma armadilha de presente, e o remetente era Matt Tuck; seu antigo rival na disputa pela parte central da cidade. O motorista do caminhão foi encontrado semanas depois, com um bilhete e sem nenhuma gota de sangue no corpo — um aviso muito breve, mas Matt gargalhava das ameaças. Ele enviava dezenas de neófitos famintos para as terras que pertenciam a Tuck — a ordem era o caos; quanto mais destruição, melhor. E então Tuck voltava para mais uma vingança, e Matt aceitava de bom grado — era uma coisa deles, e era de conhecimento geral de que nenhum dos dois iria ganhar, mas a rivalidade nunca terminaria enquanto houvesse a diversão de competir com alguém tão ruim quanto. Matt não tinha o hábito de reclamar das coisas com as quais compactuava.
— Essa casa nunca decepciona — Brian cochichou distraidamente, girando o volante ao subir a colina de terra batida, ouvindo o cascalho derrapar sob os pneus novos. A mansão sugira gradualmente, logo atrás dos arbustos altos; adornada por uma iluminação bizarra contra suas paredes brancas; as pilastras em mármore refletiam as luzes avermelhadas e deixavam à vista a avareza de seu proprietário. O céu noturno e sem estrelas era a moldura para a construção, localizada na beira de um precipício.
— Fala como se sua presença fosse bem-vinda — Zachary resmungou de volta, com um toque de veneno entre os dentes. O lobisomem descartou o cigarro janela afora e desafivelou o cinto de segurança, olhando para Brian. Matt também olhou, mas o moreno apenas sorriu sua melhor ironia; aceitando a mordida do Baker.
— Você não sabe disso, amor — Retrucou, oblíquo. Levou o carro até a manobrista com um sorriso afiado nos lábios, consciente que Zacky estava encarando-o atentamente. Ele podia sentir o sabor agridoce dos ciúmes do lobisomem, deliciando-se com ele.
— Metade dos que estão nessa festa querem o seu pescoço, não precisa mentir para mim — Mais uma vez, a voz de Zacky foi um sussurro árduo. Apesar da visível provocação, o sorriso de Brian não vacilou.
Ao perceber o que se desenvolvia entre os dois, Matt sentiu vontade de vomitar a refeição da semana.
— Vai entregar minha cabeça numa bandeja para eles? Fico lisonjeado — Se aproximou, deixando um beijo demorado sobre um dos snakebites do lobisomem, apreciando a pele que pegava fogo. — Mas você sabe o que fazem com traidores…
Matt não esperou para ver como aquela fala terminaria, dando-se por vencido e abandonando o carro. Presenciar cenas de demonstração pública de amor-ódio, alimentado por uma rivalidade ancestral e primitiva, não era como Matt gostaria de começar sua noite — que deveria ser regada por bebida superfaturada e corpos desconhecidos.
Todos desceram do carro e o vampiro lançou a chave para a mulher de colete vermelho com um sorriso de aviso para ela cuidar bem de seu bebê. No entanto, ela não respondeu.
O homem responsável pela recepção dos convidados não respirava, sequer piscava os olhos opacos e esbranquiçados. O colete preto contrastava com a franja loira e, como muitos que trabalhavam para Matt Tuck, não tinha expressão alguma em seu rosto — no entanto, o braço estava esticado para receber os convites. Atrás dele, a porta de madeira escura se destacava graças às luzes coloridas dentro da casa — o som alto reverberava, Matt conseguia sentir o cheiro de tudo o que acontecia lá dentro.
— Seja bem-vindo. — Sorriu vidrado ao receber o convite dourado. Ao lado de Matt, Brian e Zacky surgiram aos palavrões e grunhidos.
— Estou começando a acreditar que, na verdade, você me odeia de todas as formas imagináveis — Brian bradou, arrumando a jaqueta de couro sobre os ombros. Zacky, do outro lado, apenas sacou outro cigarro e o acendeu sem pressa.
— E ainda está errado, porque te odeio até nas formas inimagináveis, não duvide de mim. — Retrucou, observando o recepcionista encarar o convite com olhos brilhantes. Ao chegar à parte inferior do papel dourado, a boca do homem se abriu em um sorriso largo; os cabelos lisos ergueram ao redor de sua cabeça como se uma brisa viesse do chão.
Matt quis revirar os olhos até enxergar o próprio cérebro, mesmo que fosse impossível.
— Você chegou — O rapaz prestou uma reverência antiquada, como um garçom pronto para atendê-lo — Meu senhor está à sua espera. — Era como se os dois ao lado de Matt não existissem; mas ele já esperava por uma reação parecida.
— Soberbo de merda — Disse sob a respiração fumegante contra a noite fria. Ignorou o mantra de “meu senhor está à sua espera” repetidos enquanto o homem flutuava em possessão.
As portas foram abertas sem a ajuda de ninguém, deixando que os três entrassem na mansão. A pintura plana da fachada escondia uma decoração completamente diferente uma vez que estavam no hall — destacando a volúpia material sustentada por seu rival.
Alguns olhos vazios encararam o Sanders, acompanhados por sorrisos largos e sugestivos — ele sentiu as mãos suarem contra o jeans, pela primeira vez na noite. De fato, ele não conhecia aquelas pessoas; nenhum rosto chegava a sua memória, mas Matt conhecia aquela situação como a palma da própria mão — o controle mental exercido por Tuck era inconfundível, ele usava e abusava de seu dom até o fim para conquistar os territórios que queria.
Não deixou de ser observado enquanto atravessava o curto corredor adornado por espelhos gigantescos — parou sob um lustre, os convidados brilhavam em vermelho, azul, roxo e verde; expostos aos prazeres da carne, à bebida inebriante e aos desejos dos sanguessugas que só esperavam para dar o bote. Matt sentiu uma leve vertigem diante de tantos estímulos, mas logo se acostumou com todos os aromas diferentes que mesclavam entre si.
— O que está planejando para o resto da noite? — Brian perguntou sobre a música, com os dedos enfiados no couro da jaqueta de Matt, nos espaços onde não havia spikes. A voz alta e a proximidade do moreno só confirmavam a falta de respeito que o Haner tinha para com o espaço pessoal alheio. Do sotaque solto pingava um flerte descarado.
Matt quis olhar para ele de cima para baixo e cuspir sangue.
— Ficar longe das grosserias românticas de vocês dois me parece a melhor opção — Falou, olhando para a mão que ainda apertava seu ombro. Brian sorriu para as palavras e tirou a mão assim que percebeu o olhar seco de Zacky. — Ainda não sei, mas não vou ser babá de ninguém.
— Você já foi o nosso convite dourado, pode ir dar sua atenção para quem necessita dela — Haner sorriu, soltando uma piscadela para a sugestão. Abandonou Matt e deixou um beijo na mão de Zacky antes de puxar o lobisomem de olhos bicolores para a pista de dança; o Baker foi de bom grado. Sanders tinha certeza que só veria o casal no dia seguinte.
Seguiu para o bar. Os planos da noite se limitavam a desfrutar dos requintes do bar — completamente financiado por Matt Tuck, com sua extensa coleção de bebidas caras e lacaios bonitos. Havia cinco pessoas no balcão, todas com maquiagem pesada em volta dos olhos cintilantes e roupas escuras. Ele aproveitou a deixa de estar livre do casal de amigos e se aproximou de uma mulher de cabelos verdes e olhos completamente negros.
— Macallan, por favor — Disse como se fosse acostumado a bebericar uísques caríssimos por diversão, mas a barista sequer expressou qualquer surpresa, virando-se e pegando a garrafa de bourbon com as mãos enluvadas. Ele observou com interesse enquanto ela manuseava a bebida, colocando o líquido escuro no copo e então arrastando o copo largo até ele. Havia garras sobre as luvas, ele notou isso com um sorriso.
— Se importa de dividir uma dose comigo? — Perguntou, ganhando um sorriso igualmente ladino. Logo quando a mulher iria responder, as escleras escuras ganharam um tom leitoso; os cabelos flutuavam ao redor do rosto dela.
— Oh! Meu senhor está esperando por você — Disse, sem emoção alguma. Como se nada houvesse acontecido, ela voltou ao normal e devolveu a garrafa de bourbon para a prateleira.
— E quando não está? — Resmungou para si mesmo, desgostoso, quase caindo na tentação de virar o copo de uma vez só. A mulher não respondeu, e quando Matt ergueu o olhar, a barista já estava atendendo outra cliente.
Mas havia um bilhete dourado ao lado de seu copo.
“Suas rejeições são terrivelmente dolorosas, mas não mais que seus dentes”
— T.
Ele quis rir, mas sua garganta estava seca; tinha quase certeza de que o anfitrião podia vê-lo através dos espelhos — sorrindo de suas reações despreocupadas enquanto sentia o bater do coração semimorto. Matt considerava ir embora levando o pouco que restava da própria dignidade, mas arrastou o corpo para a pista de dança — seus dentes rangeram com o cardápio farto e ele decidiu que, o que quer que Tuck tivesse para tratar com ele, ficaria para outro dia. Se havia algo que o vampiro apreciava profundamente, era se vangloriar às custas alheias — e a festa era o lugar perfeito para isso.
Circulou algumas pessoas, recebeu toques descompromissados e conquistou alguns beijos antes de encontrar um alvo perfeitamente posicionado próximo aos banheiros. O homem de cabelo escuro estava distraído com um cigarro e o celular; a expressão fechada de quem estava esperando alguém que não vinha.
— Aceita? — Ofereceu um cigarro, vendo que o que o estranho fumava já estava chegando ao filtro. Iniciou-se uma conversa cortada por olhares e movimentos suspeitos; Matt gostava como os cabelos negros desciam nos ombros bonitos, emoldurando o pescoço apetitoso. Sabia que existia um padrão quase perfeito na figura daquele homem — e reconhecia a própria derrota ao ter ido até ele, mas sua fome falava mais algo e o ego sentia-se agraciado por conquistar um tão bonito.
— Quer sair daqui? — Perguntou, mas o rapaz apenas sorriu, puxando-o pela gola da jaqueta para um daqueles lavabos luxuosos com pia de mármore.
— Não me importo em foder aqui — O rapaz sem nome disse, apressado em jogar o cigarro fora. Matt não protestou, colocando-o sobre o batente da pia e beijando-o imediatamente; com força, com dentes e língua.
A adrenalina de tocar alguém sem nome, que provavelmente nunca mais veria, era renovadora — o poder que crescia em seu âmago ao surpreendê-lo com suas mãos e lábios era algo que Matt nunca viveria sem. Com a ajuda do outro, tirou a camisa dele e desceu os beijos pelo pescoço, clavícula, ombros — voltando para a veia jugular com um gemido contido ao ter o joelho do rapaz contra sua ereção. Quem dera pudesse realizar esse desejo dele — Matt só pensava no sangue correndo em suas veias.
Sentindo os beijos virarem chupões e marcas ganharem dentes, o rapaz agarrou Matt para si, suspirando.
— Isso é tudo o que consegue sentir quando não está comigo? — Uma voz, que não era a do homem em seus braços, sussurrou no ouvido de Matt, zombando dele em um gemido afoito — Está fracassando miseravelmente se sua missão é me substituir.
Confuso e inebriado pelo sangue que pulsava nas veias do humano, Matt gemeu para as palavras — uma parte primitiva de seu cérebro reconhecendo imediatamente a voz de Tuck, cravando os dentes na pele macia e cheirosa. O rapaz agarrou seus ombros, puxando a jaqueta de Matt com as unhas curtas, mas o vampiro não se importou com o gemido entrecortado na voz do outro vampiro.
Quando o anfitrião da festa tomava o corpo de seus convidados, o humano tornava-se um simples vassalo das vontades de Tuck — atendendo às necessidades dele. Em resumo, o que o rapaz sentia não era real; tudo seria uma lembrança esquisita na manhã seguinte.
— Vai deixá-lo te usar dentro da minha casa? — Sussurrou, sendo interrompido por um gemido surpreso ao que Matt começou a sugar o sangue com afinco. — Não deixe cicatrizes nesse humano…
O sangue, que sempre tinha o mesmo sabor, desceu-lhe a garganta do vampiro como fel; queimando todo o esôfago. Sanders quis insistir, mas rendeu-se cambaleante, afastando-se com a boca manchada de vermelho.
— Previsível — Tuck sorriu através do rapaz, correndo o dedo pelo pescoço marcado; o sangue viçoso manchou os lábios do humano — Venha me ver.
Então, como se não estivessem prestes a transar em um banheiro (e como se Matt não tivesse sorvido o sangue do rapaz) ele acordou do transe — os olhos arregalados ao notar o sangue no rosto do vampiro.
— Ah, meu Deus! O que aconteceu com você? Por que meu… o que estávamos fazendo? Que tipo de coisa você é? — Berrou, levantando-se da bancada. Iria continuar xingando e gritando, mas desmaiou sobre o vampiro.
[…]
Um tom de azul frígido entrecortou a mente de Sanders ao que ele retomava seu posto no bar, e o olhar de Tuck sobre seus ombros foi o estopim para o vampiro perceber que uma dose de Macallan não seria o bastante. Para engolir todo rancor que emanava de suas entranhas, ele pediu a garrafa toda, consciente do efeito pífio do álcool. A barista sequer olhou para seu rosto, realizando movimentos mecânicos ao realizar o pedido. Ele não teve tempo de agradecer e isso realmente não importava nem um pouco.
Havia uma fagulha de vergonha em seu rosto, causada unicamente pela forma como fugiu do rapaz que o levara até o banheiro. Não teve a paciência necessária para esperar o rapaz acordar do desmaio sintético — e não estava em condições de explicar-se para um infeliz cuja existência pouco importava. Apenas fez o possível para curar a cicatriz, usando seus poderes. Na manhã seguinte ele teria certeza de que havia bebido demais, passado dos limites; Matt não existiria.
No entanto, humano nenhum conseguia comer, pouco a pouco, a mente do vampiro: corroendo cara espaço de seu cérebro; cortando ligações neurais, rastejando na pele como um verme —, então um lampejo azul surgiu no espelho do bar, encarando-o fixamente como um pedaço de vidro quebrado refletiria o rosto de Matt.
— Você sempre será um péssimo perdedor? — A voz rouca perguntou, agora na cabeça dele — Perdeu a chance de uma vitória no momento em que me aceitou em sua vida.
A garrafa se espatifou, Tuck riu no reflexo. O rosto dele fundindo à imagem de Matt, que era pura fúria.
O uísque doce secou dolorosamente ao redor da garganta do vampiro, e lhe deu o ímpeto necessário para atravessar o pandemônio de convidados dançantes e seus respectivos caçadores — e quando deu conta, com um suspiro pesado demais para os pulmões apodrecidos, estava no corredor extenso que terminava em duas escadas grandiosas. Matt sentia o peso dos próprios pés, carregando o pecado de conhecer aquela mansão como a palma da mão.
Ele era capaz de chegar ao quarto principal na ala leste de olhos vendados, estripado de todos os sentidos — usando apenas o mais primordial de seus instintos. O cheiro de seu maior inimigo estava impregnado em cada uma daquelas paredes, e Matt sentiu que poderia afogar no aroma amadeirado. Fumaça, dinheiro e perfume caro.
Quando ziguezagueou o bastante dentre os corredores largos e bem decorados, Sanders evitou a todo custo qualquer pensamento ruidoso que tentava acordá-lo para a realidade. A quem estava tentando enganar com toda aquela percepção errônea? Queria tanto estar na presença de Matt Tuck que seus membros atrofiariam com a ideia de ir embora.
Sempre perdia, sempre rastejava — sempre voltava .
Nenhum lacaio ocupava os corredores, e Matt andou rápido sobre os tapetes sem empecilhos — a porta do quarto que tanto frequentava estava entreaberta, mas ele fez questão de empurrar pela maçaneta, revelando uma figura na enorme varanda na extremidade do cômodo. A lua minguante, tímida, iluminava o cabelo escuro do outro vampiro, cintilando o tom dos fios conforme Tuck virou o rosto para encarar o convidado.
Matt trancou a porta com um estalo discreto, encostando-se à madeira.
— Já pensou em como a lua é diferente, quando vista do deserto? As luzes da cidade ofuscam o brilho natural, é uma maldição — Disse com a voz rasgando na garganta, indicando que ele havia fumado minutos antes. Matt não respondeu, fazendo pressão sob a porta e sorvendo a presença do outro.
— Vi que trouxe seus… amigos — A palavra parecia estranha nos lábios dele — Eles sabem como deixar uma impressão interessante, espero que não causem pânico generalizado entre meus convidados. — Continuou falando, virando-se novamente para o parapeito da varanda.
Matt desceu os olhos nas costas nuas, tateando o desenho que cobria as costelas do lado esquerdo; quis afundar os dedos na pele macia. O cabelo terminava pouco antes da tatuagem; Sanders quis enfiar as mãos entre os fios.
— Suas festas são conhecidas por isso, eles estão te ajudando. E não são meus amigos, estou pagando uma dívida — Deu de ombros, se arrepiando com o sorriso dado em retorno.
Nenhum dos dois moveu um músculo na direção certa, permanecendo em seus espaços. Havia coisas no quarto que despertariam a atenção de Matt se ele estivesse com outra pessoa — as joias douradas, roupas alheias jogadas no chão, garrafas de bebida e o cheiro de sangue misturado ao aroma natural da pele do outro vampiro. Tuck acabara de se alimentar.
— Você tem dívidas com a parte leste? Haner realmente não sabe onde está se metendo… — Riu sozinho, — Quando pretende entregá-lo de bandeja para os concorrentes? — A voz melodiosa era sórdida, Tuck estava se divertindo. — Lembra quando tentou me jogar nas mãos da facção que controlava o centro? Ainda acho que você fez aquilo só para conquistar minha atenção.
Matt revirou os olhos.
— E você explodiu meus carregamentos e jogou a porra de um caminhão pra cima de mim pelo mesmo motivo? — Perguntou, provocativo. As palavras não surtiram o efeito esperado e Matt arriscou alguns passos curtos, deixando claro que só se aproximaria se Tuck fizesse o mesmo.
— Diferente de você, penso logicamente nos meus negócios. Apesar de estar aqui, ainda é meu concorrente. — Disse, finalmente virando-se para o vampiro convidado — Você montou um circo e queria me vestir de palhaço para fornecedores importantes, vendendo mentiras que não tem como provar. Sua moto, pela minha dignidade, foi uma troca justa já que você não tem respeito próprio.
Os músculos de Tuck estavam contraídos ao fim da fala, provando que ele estava realmente furioso. Segurava no parapeito a ponto de entortar o metal, olhando diretamente para Matt — o carmesim engolindo o azul-celeste por completo.
— Se eu sou seu inimigo mais cruel, por que me chamou até aqui? — Perguntou, meramente hipnotizado pelo corpo alheio. Existia um certo cansaço na figura de Tuck, algo impregnado sob a pele dele, que demonstrava uma vulnerabilidade obscura que Matt nunca teve o prazer de notar. Sanders imaginou o que aconteceria se puxasse o outro vampiro para seu colo e o envolvesse em seu calor.
Tuck suspirou, erguendo o rosto; o pomo de adão ficou totalmente exposto enquanto ele olhava pra o céu noturno. Matt desejou estar mais perto — rasgar a garganta dele com os dentes, ouvi-lo gemer por isso, sentir Tuck agarrar-se nele com as unhas.
O mais velho suspirou.
— Quero propor um acordo — Voltou a olhar para Matt — Meus homens detectaram uma onda de desaparecimentos em massa no subúrbio oeste, famílias inteiras sumiram sem deixar nenhum rastro e, muitas vezes, os números de identificação também desaparecem dos registros da polícia.
— E desde quando você se importa com vida humana? — Cruzou os braços.
— Eles não fazem distinção, raptaram vampiros e sequestraram lobos de suas alcateias. Meus clientes estão sendo prejudicados pelo pânico generalizado que está começando a afetar a cabeça das pessoas. Ninguém frequenta o distrito comercial, muito menos as boates, se existem sequestros acontecendo por todo o condado.
— E onde eu me encaixo nisso? Por que acha que eu vou ajudar? Tudo o que eu quero, é que seus negócios caiam por terra.
Tuck sorriu, finalmente se afastando do parapeito, dando passos lentos até estar em frente ao vampiro. Os olhos vermelhos desceram até os lábios de Matt e ele fez questão de traçar o piercing que existia ali antes de falar.
— Se os meus negócios caírem por terra, você é o próximo. Duvido que fornecerá seus contrabandos para qualquer loja se não tiver ninguém para comprar — Riu, segurando a mandíbula tensa de Matt entre os dedos. O Sanders segurou-o pelo pulso, puxando o braço com força.
— Fazer um acordo com você é o mesmo que pedir por uma facada nas costas. Eu posso organizar meus esforços e solucionar tudo isso sozinho sem te dirigir uma palavra — Sussurrou entredentes, puxando Tuck pelo braço que ainda segurava com firmeza. — Por que veio me pedir ajuda? Está tão desesperado assim?
Tuck não respondeu, deixando-se ser guiado até ter a jaqueta de Matt contra seu peito despido. A atmosfera tornou-se insuportavelmente pesada, intragável para pulmões humanos, infestado pelo cheiro da fome que os dois nutriam por qualquer toque, qualquer ação impensada que os levasse ao céu em segundos.
— Deixar que tente resolver tudo sozinho é tentador, porque eu sei que vai falhar miseravelmente — Sorriu, aproximando-se do rosto de Matt; os lábios se tocando superficialmente ao que ele voltava a falar — Mas não tenho paciência para joguinhos. Se pensar que eu estou desesperado te ajuda a pensar racionalmente, então sim, eu estou.
Matt não lutou contra o arrepio que sentiu, precisando de um pouco mais para tirar o peso que existia em seu peito. Soltou o pulso marcado do outro vampiro, guiando as duas mãos até a cintura bonita, traçando as costelas, apertando a pele até o quadril. Queria beijá-lo até conseguir provar o sangue de sua vítima anterior.
— Se me trair, eu acabo com você — Sussurrou contra o ouvido de Tuck, recebendo um sorriso e uma mão serpenteando dentro da jaqueta.
— Estou contando com isso. — Sibilou, provocando-o com um beijo no canto dos lábios. O vampiro chupou o piercing, usando os dentes para puxar o metal. Sanders suspirou pesadamente, o peito subindo e descendo conforme deixava-se envolver nas próprias fraquezas. — Temos um acordo?
— Sim, o que você quiser — Disse por fim, puxando Tuck pela cintura, enfiando as unhas na carne macia sobre a lombar. Suas ações não condiziam com o que ele pensava ser o certo, mas tudo o que ele desejava no momento estava em seus braços.
Beijou-o como a muito não fazia — puxando-o pela nuca, com os dedos enfiados no cabelo longo; todo o corpo correspondendo imediatamente ao êxtase que era sentir a língua de Tuck contra a sua. Não havia espaço para fôlego algum dentro do ósculo, e os dentes mordiam mais do que deveriam — puxando a pele, chocando-se entre si. As mãos de Tuck apertavam os spikes da jaqueta, puxando-a para fora do corpo alheio em questão de segundos.
Gemeu contra os lábios de Matt ao sentir a pele morna sob os dedos — arranhando-o inconscientemente enquanto tinha a língua chupada com vigor. Rolou os olhos sob as pálpebras, sentindo o quarto girar ao redor da cena, deixando que o Sanders manipulasse seu corpo como bem entendia.
— Ainda consigo sentir o cheiro dele em você — Resmungou, afastando-se da boca que o fazia tão bem. Matt, que demorou um pouco para registrar as palavras, moveu os lábios para o pescoço imaculado, chupando a pele até quebrá-la em marcas vermelhas.
— Desde quando se importa com isso? Você premeditou tudo — Riu sozinho, puxando a pele entre os dentes. Com um gemido surpreso, Tuck teve as costas contra uma das paredes do quarto; o rosto de Matt a meros centímetros do seu. — Me vê reclamando sobre os homens com quem você dorme? — Perguntou, de olhos vermelhos.
— Eles são alimento, não confunda as coisas. — Revidou, xingando baixinho quando Matt enfiou um joelho sob o meio de suas pernas.
— É bom continuarem assim — Sorriu, observando como os quadris de Tuck tentavam ganhar qualquer fricção contra seu corpo. Deixou-o livre por um momento, ouvindo-o suspirar diante de uma frustração crescente e impaciente, mas logo cravou os dedos na cintura alheia, prendendo o corpo de Tuck contra a parede com voracidade.
— Só pode exigir isso se for melhor que todos eles — Não existia mordida na fala, principalmente pelo tom maleável de sua voz, tremendo nos poucos movimentos que o joelho de Matt realizava sob sua ereção. — … Se vier quando eu chamo.
Sanders sorriu, erguendo o rosto do vampiro para beijá-lo sem nenhuma ressalva. Arrancou gemidos lamuriosos quando puxou o quadril dele para baixo, fazendo-o se esfregar em si, sem o controle do próprio corpo. Tuck mordeu os lábios de Matt, puxou-o com tudo o que tinha, gemeu seu nome.
— Me morde — Suspirou, falando as palavras mágicas que o Sanders tanto gostava de ouvir. Com a mão sobre o peito do homem que transformava suas ações em erros, Matt soube que estava realmente perdido. Tuck ergueu o rosto, expôs o pescoço para bel-prazer alheio, e olhou para Matt com os olhos embriagados de ansiedade. — O que está esp- … ah, porra.
Não teve tempo para responder, agarrando-se ao corpo maior ao que Matt perfurava a pele morna com as presas afiadas — um gemido gutural morrendo contra o pescoço de Tuck enquanto Sanders sorvia o sangue com vontade. Era um hábito ruim, que começou com as piores intenções e transformou-se em rotina — para Matt, nenhum sangue era tão satisfatório quanto o que corria nas veias do galês.
— Matt… — Chamou uma vez, nutrindo forças o bastante para puxá-lo de si. Matt olhou para ele com o carmim escorrendo pelo pescoço. — Está tentando me matar antes da hora? — Riu, fraco, limpando o sangue dos lábios dele.
— Talvez — Sorriu, beijando-o novamente. As roupas escaparam do corpo enquanto os dois andavam aos tropeços pelo quarto. Sapatos pelo meio do caminho, calças e meias pelo chão. A boxer que Tuck usava foi puxada até rasgar, a de Matt foi tirada quando chegaram à cama.
Apesar de não existir uma pressa verdadeira nos movimentos, a sede falava mais alto quando os corpos se tocaram sem nenhum obstáculo. Poderiam ficar ali durante toda a noite, a ânsia seria a mesma a cada resvalar de pele. Estando sob o amontoado de músculos e tatuagens, entre as pernas de Matt, Tuck compreendia porque nenhum dos humanos que levava para a cama podiam ser comparados ao poder exercido pelo outro vampiro.
— O que está olhando? — Perguntou, acariciando a nuca do mais velho antes de puxar o cabelo pela raiz, aproximando o quadril do rosto de Tuck, que sibilou. Matt aproveitou a boca aberta em adoração, traçando os lábios partidos com o dedão e pressionando a presa humana, porém pontiaguda, até o osso furar o dedo. O moreno gemeu, trêmulo e desolado pelo sabor do sangue dele.
A ereção quente contra a bochecha do galês era um lembrete de nenhum daqueles jogos era o bastante — aquele filete de sangue não era o suficiente para saciar a fome de Tuck, mesmo que distraísse seus sentidos.
— Quero você… Eu quero você, por favor — Suspirou, calando-se ao chupar o dedo que ainda sangrava minimamente. Matt nunca fora tão benevolente em toda a sua vida, até encontrar este lado do outro vampiro; este Matt Tuck embriagado de desejo era o que ele queria ter para sempre.
Deixou a boca alheia livre para recebê-lo, guiando o próprio pau até que os lábios de Tuck o envolvessem com um gemido interrompido. A mandíbula do vampiro cedeu ao redor de Matt, recebendo uma estocada lenta até o fundo da garganta — inquietando-se ao sentir cada centímetro da excitação dele. Os movimentos lentos foram sucumbindo às verdadeiras motivações de Matt e logo ele estava fodendo a boca bonita, preso aos cabelos de Tuck; sentindo as mãos do vampiro afundarem em suas coxas para ter o mínimo de suporte, ouvindo os gemidos abafados por sua pele.
— Tão obediente — Gemeu, fechando os olhos para as sensações que tomavam seu corpo. Quando os arrepios revelaram que ele estava chegando ao orgasmo, Matt obrigou Tuck a se afastar em um som molhado. O galês encarou-o de baixo novamente, lambendo os lábios vermelhos. — Eu poderia devorar você agora.
— Você faz isso toda vez — Suspirou, ajeitando o corpo ao que Matt mudava as posições. Quando teve o Sanders em sua frente, Tuck não resistiu em puxá-lo para um beijo lento; preguiçoso e intenso, com a intensão de ter o que queria.
Matt aproveitou as mãos livres para tocar no corpo abaixo de si — apertou as coxas e segurou a bunda bonita, afastando os lados para enfiar-se no meio das pernas dele. O contato entre as ereções fez Tuck mordê-lo com força.
— Caralho … — Tuck sibilou, suplicando por um pouco mais. Se estivessem em seus termos, já estaria sentando nele sem nenhuma ressalva. O ritmo empregado por Matt queimava a pele do galês, mas essa era a melhor parte. Sem ver, ele esticou o braço e trouxe o lubrificante para a cama.
Com destreza e uma paciência que existia apenas na intenção de enlouquecer o vampiro que o tinha entre as pernas, Matt lubrificou os dedos com o gel — formando um anel ao redor do pau teso de Tuck; sorrindo ao vê-lo tremer sobre a cama. Ajudou-o a erguer os quadris, observando-o foder seus dedos com uma ânsia infindável, com o nome de Matt perdendo o significado do tanto que repetia.
Quando percebeu que o ritmo mudou, tornando-se rápido e desolado, Matt soltou-o para a frustração de Tuck, que escondeu o rosto no antebraço — mordendo os lábios ao que se recuperava do que poderia ter sido um orgasmo devastador.
— Posso? — Matt perguntou, sorrindo maldoso quando a resposta não veio em palavras, mas em um aceno imediato. Puxou as pernas de Tuck até tê-las em volta da cintura, abrindo espaço para mover-se entre elas. O primeiro dedo entrou até o segundo nó e o vampiro gemeu baixinho com a invasão. — Não me diga que você não…
— Sim, ninguém — Respondeu rápido, sem vergonha do que aquilo significava, erguendo o quadril na expectativa de ter um pouco mais. — Cala a boca e continua… por favor, continua — Gemeu baixinho quando Matt voltou a entrar e sair, logo colocando mais um e finalizando com três dedos dentro dele. Os dígitos alargavam o suficiente para Tuck estremecer a cada novo movimento, mas só quando Sanders contraiu as falanges, pressionando fortemente contra ele, que o galês jurou ver estrelas. Prendeu os calcanhares na cintura de Matt.
Não teve tempo para xingar de fato, com meio palavrão e meio gemido escapando da garganta.
— Se continuar assim… — Matt falou, a voz pesada de desejo, erguendo o corpo até a boca estar rente aos lábios de Tuck, puxando o rosto dele pelas bochechas — vou pensar que está se apaixonando por mim.
O galês não tinha meios para respondê-lo, agarrando-se ao corpo forte como se sua vida dependesse disso. O toque pesado das mãos de Matt desceu novamente até seu quadril, impedindo que Tuck sentasse sobre os dedos. Antes que pudesse reclamar, sentiu as estocadas voltarem com força e rapidez, fazendo-o tremer de verdade contra a cama — agarrando os braços de Matt como forma de suporte.
— Matt… Matt — sussurrou, arranhando-o com tudo o que tinha — Porra, Matt… eu vou… Matt, por favor — Uma névoa espessa tomava conta de seus pensamentos toda vez que o Sanders dobrava os dedos contra si, deixando-se tomar pelo orgasmo que veio sem consentimento, sujando peito e barriga em ondas grossas. Sem tempo para avisá-lo, sofrendo ao que Matt continuou alargando-o, indo até onde os dedos permitiam. Um som patético escapou dos lábios de Tuck.
— Tão bonito… — Disse, finalmente soltando os quadris alheios e aliviando a velocidade com que os dígitos entravam e saiam do outro. Tuck não respondeu, alheio demais para dar-se conta do que acontecia. — Está satisfeito agora?
— Não… — Respondeu em um sussurro rouco, recuperando-se do alto, erguendo o quadril até o próprio pau tocar a ereção de Matt. Ambos estremeceram pela sensibilidade, por motivos diferentes. Tuck estava embriagado por tantas sensações — Quero você, quero devorar você. Quero fazer o que aquele cara não fez por você, me fode.
Com as duas mãos no rosto de Matt, Tuck beijou-o novamente — línguas e dentes, paixão e desilusão lutando para ganhar uma guerra já perdida há muito tempo. Os sentimentos se envolveram em um só, e Matt só notou o que fazia quando gemia entrecortado entre os lábios alheios — o calor de querer afundar naquele corpo, possuí-lo tanto quanto era possuído. Tuck tinha ideia do poder que exercia sobre ele, e abusava abundantemente disso.
— Só você… — Repetiu, abraçando-o possessivamente, deixando beijos e mordidas por onde passava. Pescoço, clavícula, peito, abdomen, cintura; enfiou os dentes nas coxas, mas não arrancou sangue. Lambeu o membro alheio, que já começava a endurecer novamente, até chegar ao períneo. Não fez cerimônias ao passar a língua na pele sensível, mas a pressa no olhar de Tuck o fez desistir da ideia. Guiou o próprio pau até conseguir penetrá-lo com calma, revirando os olhos a cada centímetro de tensão que era engolido pelo outro vampiro.
Tuck estava perdido quando teve Matt todo para si, cheio até o fim. Novamente, o vampiro começou devagar — apreciando a resistência, sentindo Tuck se acostumar a sua volta. Ele xingava baixinho como se sentia bem enquanto era preenchido. As palavras despertaram a fome de Sanders, fazendo-o esquecer o saudosismo e estocar com uma vontade louvável. O movimento fez o corpo de Tuck tensionar.
— De novo. Porra… faz de novo — Gemeu lânguido, ondulando o quadril para encontrar o outro vampiro no meio do movimento, perdendo-se nas sensações brutais que atingiam todo o corpo. Matt envolveu-o pela cintura, rosnando contra a pele dele, puxando Tuck até que o galês estivesse em seu colo. A posição acrescentou pressão às estocadas, atingindo-o mais fundo, fazendo o moreno perder a cabeça.
Matt sibilou quando sentiu as presas de Tuck perfurarem sua pele, misturando dor ao prazer, fazendo-o gemer em deleite quando ele sugou o sangue para si. O estímulo causou uma onda de calor no corpo do galês, que rebolou com força no pau alheio, gemendo contra o pescoço do Sanders — puxando a pele, arranhando suas costas, esfregando-se a ele com um desespero palpável.
— Vou gozar, vou gozar… se continuar assim eu vou… — Gemeu surpreso com a mão de Matt em seu pau, masturbando-o entre os corpos, apertando-o deliciosamente entre os dedos. Escondeu o rosto no pescoço alheio, sentindo o cheiro do sangue, o cheiro de Matt, o cheiro de sexo. O segundo orgasmo veio melhor que o primeiro, impossibilitando que Tuck continuasse sentando sobre as coxas de Matt.
No entanto, quando o corpo quente e corado do galês voltou ao colchão; frágil devido aos efeitos do orgasmo forte que ainda atingia seus membros com tremores, Matt seguiu-o como um amante desesperado.
Sentou-se sob as pernas do vampiro, fazendo o quadril bater com força contra as nádegas avermelhadas de Tuck — procurando o próprio orgasmo incansavelmente, segurando-o pela cintura. O moreno revirou os olhos, sentindo-o na garganta tamanho vício.
— Você não sabe... Ah, caralho, você não tem ideia do que faz comigo... Toda vez que me olha assim... — Sussurrou, enterrando o rosto no pescoço de Tuck, grunhindo e gemendo, marcando a pele como queria, apertando o corpo menor contra si. Equilibrou o peso do corpo em um braço, usando o outro para afastar o cabelo do rosto suado e bonito, beijando-o com fome, arrancando grunhidos desesperados do homem de olhos azuis.
Tuck estava fascinado pela estimulação em excesso — tudo era demais, as estocadas fortes erguiam seu corpo no colchão. O olhar de Matt sobre ele era intenso demais, não havia espaço para nada.
Matt percebeu, com um sorriso incrédulo, que Tuck pressionava a pele logo abaixo do umbigo. Havia um leve relevo ali — e, querendo um pouco mais de desespero, Sanders pressionou junto a ele, fazendo o galês jogar o rosto contra os lençóis, completamente perdido; chamando seu nome como um mantra.
Ele mordeu o próprio pulso, e Matt precisou apenas daquilo. Seus músculos contraíram com tanta força que ele tremeu. Continuou metendo rápido até que o orgasmo romper em seu baixo ventre — e só parou com as estocadas quando percebeu que a porra escapava da entrada de Tuck a cada vez que seu pau entrava.
Quando finalmente parou, notou lágrimas nos olhos do vampiro abaixo de si — catou cada uma delas, e beijou um Tuck hipersensível que gemia a cada movimento mínimo contra si, mas não deixava Matt se afastar.
— Cheio... — Resmungou, segurando Matt pelos ombros, totalmente fora de si durante alguns instantes.
Sanders achou aquela visão delirante, e beijou-o lentamente para curtir o final da letargia trazida pelo orgasmo.
Sem falar nada, ainda entrelaçados por pernas e braços, Matt saiu devagar de dentro do galês — suspirando para o gemido baixinho que ele soltou pelo vazio, deixando um rastro espesso de porra entre as pernas dele e o lençol. O ar continuava denso, por motivos diferentes. Ninguém se moveu durante um bom tempo.
O Sanders deitou sobre o peito de Tuck, acariciando as coxas dele. O galês não reclamou, aceitando o corpo maior sobre si, morno e arrepiado — aconchegante e sereno.
— Você tem razão — Matt pronunciou depois de um tempo, erguendo o rosto para Tuck, que parou de acariciar os cabelos do Sanders para ouvi-lo —, a lua realmente brilha diferente vista daqui. — Sussurrou, mirando os olhos azuis, como se o brilho deles fosse hipnotizante.
Tuck entendeu que, na verdade, Matt não estava falando da lua.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.