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História Beyond Two Souls - O Escorpião


Escrita por: iKnight

Notas do Autor


Olá!
Eu estou gritando aqui em casa (não literalmente hehe) porque não acredito que terminei de escrever esse capítulo tão rápido. Aproveitei o feriado para escrever outro porque sei que vai demorar um pouco para um novo.
Esse é o capítulo mais diferente que já escrevi e espero profundamente que ele não seja confuso. Então, apenas para esclarecimento quando as letras estiverem em itálico quer dizer acontecimentos no passado.
Espero que gostem!

Capítulo 11 - O Escorpião


Nove anos antes

Sentiu como se tivesse simplesmente despencado dos céus diretamente ao chão. Abriu os olhos subitamente deixando que sua visão de normalizasse com o mundo em que estava. Tinha ido parar no paraíso?

- Levante-se! – Aquela voz inconfundível ordenou e imediatamente ela o fez mesmo que, aquele ponto, não achasse que fosse capaz.

O corpo ainda estava dolorido, mesmo que não houvesse uma marca sequer para provar sua dor. Gostaria de ter ficado deitada naquela areia quente tentando se adequar vagarosamente ao mundo, mas não havia espaço em sua vida para cenários ideias.

- Você foi bem rápida, não posso negar. – Ele disse com um sorriso leve nos lábios. Trajava a típica camisa branca e as calças pretas, parte de seu uniforme, no entanto. – Eu demorei bem mais para sair daquela dimensão.

- O que estamos fazendo aqui? – Perguntou arriscando ser insolente, mas ele não pareceu se importar.

- Viemos buscar um artefato. – Ele respondeu olhando para Sakura. Apesar de onde estivera a poucos segundos, sua aparência era agradável.

- Que tipo de artefato? – A garota perguntou olhando ao redor e vendo apenas areia por toda parte.

- Se coubesse a você saber dessa informação, você já saberia. – Ele retrucou, agora com um sorriso de escárnio nos lábios. Ele sempre fazia quando ela tentava dar uma de “espertinha”. – Agora vamos! Não temos tempo a perder! – Voltou a falar dando uma gargalhada desta vez. O tempo jamais poderia ser perdido.

Ele começou a caminhar e Sakura apenas o seguiu calada, não querendo irritá-lo com mais perguntas. Tinha aprendido ao longo dos anos que sua curiosidade não era um fator que agradava muito aos seus superiores.

- Como você chegou aqui? – Ele voltou a perguntar enquanto afundavam seus pés na areia quente.

- Eu me transportei. – Sakura respondeu com um tom de obviedade.

- Se transportou sozinha daquela dimensão amaldiçoada? – Perguntou retoricamente parando rapidamente para encará-la. – Muito bem! Mas o nosso querido chefe já tinha apontado seus talentos, de qualquer forma. Por isso eu te escolhi para essa missão.

- Espera, você me escolheu? – Sakura perguntou genuinamente chocada com a informação. Não era comum que escolhessem recrutas para as missões, geralmente o Superior designava.

- Claro que escolhi! – Ele respondeu devolvendo o tom que ela tinha usado anteriormente. – Ser um dos melhores Ceifadores tem seus privilégios e para essa missão não poderia ser ninguém senão você. – Disse passando os dedos gelados levemente em sua face.

- E qual a missão exatamente? – Ela voltou a perguntar, arriscando-se novamente. A curiosidade sempre falava mais alto.

- Como eu já disse, nós viemos buscar um artefato. Simples.

- Se a missão é tão simples... Por que me chamar? – Sakura questionou fazendo com que o Ceifador parasse por alguns instantes. Buscar artefatos não era trabalho de Ceifadores e muito menos envolviam recrutas.

- Porque, minha querida, esse não é um artefato comum. É algo que poucos seres podem tocar. – Ele explicou com um tom muito calmo, o que a assustava.- E eu mandei te chamar por duas razões. Primeira, se algo der errado você vai me proteger. Segundo, você deve conhecer esse lugar com a palma da sua mão.

- E que lugar é esse exatamente? – Perguntou olhando novamente para os arredores e vendo apenas montes de areia.

- Suna, é claro. – Ele respondeu como se fosse completamente óbvio e Sakura tinha que admitir que realmente era. Nenhum lugar em qualquer outra dimensão tinha aquele tipo de areia em tanta quantidade.

- Mas eu nunca vivi em Suna. – Sakura voltou a falar caminhando atrás do Ceifador. – Eu morava em Konoha. – Ela disse essa última parte com ressentimento.

- Suna, Konoha... É tudo a mesma coisa. Não importa o lugar onde você morou, o que importa é que você conhece esse mundo, conhece sua energia. Isso é um ponto essencial para nossa missão.

Sakura decidiu não falar mais nada. Apenas seguiu o Ceifador pelas dunas de areia vermelha até que chegassem a um gigantesco paredão de areia. Suna foi construída por puro intemperismo quando no passado a areia se acumulou formando uma meia cúpula que protege a cidade.

Há apenas um portão para entrar na cidade e, Sakura acreditava, ele se encontrava do lado oposto em que os dois estavam.  

O Ceifador, silenciosamente, encostou as duas mãos no paredão de terra como se sentisse algo ali. Ceifadores não eram conhecidos por serem enigmáticos, mas aquele era diferente. Tão diferente que seu Superior o tinha enviado para “recuperar um artefato”.

- Não está aqui. – Ele disse logo após se afastar do paredão. – Mas está perto. Mais precisamente para aquele lado. – Falou apontando para a direção a oeste em que Sakura só conseguia ver areia.

Não questionou as palavras do Ceifador.

Voltaram a caminhar em silêncio por entre a secura do deserto. O sol estava a pino e de vez em quando a areia avermelhada formava redemoinhos com o vento abafado que vinha do norte.

Ela tinha que admitir: tinha sentido falta daquele lugar. Não de Suna, em específico, mas do planeta Terra. De todos os lugares em que estivera nenhum se comparava aquele. Havia algo de verdadeiramente especial naquele planeta.

Finalmente, chegaram a uma espécie de mercado que havia se formado logo ao lado do setor oeste do muro de areia. Mesmo para as proporções desérticas, o lugar era grande e movimentado com construções de areia e estabelecimentos adornados por fitas coloridas.

- Incrível, não? – O Ceifador a perguntou olhando a magnitude do mercado e como aquelas pessoas tinham se desenvolvido tanto logo do lado de fora da Grande Cidade Murada, como Suna era conhecida.

- A gente veio fazer compras? – Sakura o bombardeou com outra pergunta levemente irritadiça pelo tempo que estava demorando naquela missão. Ela ainda não sabia exatamente o que tinha que fazer ali e também acreditava que poderia estar treinando ou fazendo missões de mais alto escalão.

- Vocês... – O Ceifador falou de forma repreensiva. – Você tem que aprender a aproveitar mais os momentos. – Olhe esse lugar! Todos esses mortais, alheios a sua condição! Tentando formar uma vida e mal eles sabem o que os aguarda no final de tudo! É simplesmente lindo!

- Se você diz... – Ela respondeu com desconfiança, incerta do que dizer. Não via o mundo daquele modo. Em parte, porque tinha passado anos nele e de outro lado ela também tinha vivido fora dele por muitos anos.

Mortais fazem o que fazem simplesmente porque aprenderam desta maneira. Eles agarram-se as noções de vida e morte e isso vai ditar o meio com que lidam com o que está em intermédio. Mas, de qualquer forma, ela mesma não poderia garantir nada, afinal, tinha passado anos entre os mesmos.

- Vamos! Vamos! Não temos tempo a perder! - O Ceifador voltou a falar misturando-se dentro do mercado. Sakura apenas o seguia calada observando novamente as interações do mundo mortal. Era realmente de se impressionar toda a sua vivacidade, toda a sua energia.

Contudo, algo martelava em sua cabeça como se fosse um aviso. Ao mesmo tempo que gostaria de ficar admirada e se perder em um mundo que não representava apenas caos e guerra, uma espécie de aviso soava em sua cabeça.

Tudo aquilo, todo aquele esquema. Nada fazia sentido de sua perspectiva. E o mais frustrante era que ela certamente não teria qualquer tipo de resposta, simplesmente precisava continuar a seguir ordens.

Ninguém parecia nota-los. Na verdade, ninguém conseguia vê-los. Uma das vantagens de se trabalhar para o Submundo era a facilidade com que se tornavam invisíveis aos olhos de qualquer um, especialmente seres finitos.

Havia alguma beleza naquilo tudo. Olhou para o céu mais uma vez. Estava claro e límpido com o sol irradiando luz, uma gigantesca bola de fogo. Mas o que chamou sua atenção não foi a vivacidade dos céus, mas que ao lado do sol a figura da lua se formava.

Aquilo não era um bom sinal.

Voltou a prestar atenção no caminho que deveria seguir quando notou que o Ceifador tinha desaparecido. Ela tinha ficado tão presa em devaneios e observações que haviam se separado.

- Droga! – Bradou mesmo que ninguém conseguisse escutar. Se colocou a caminhar entre as várias tendas observando atentamente, desta vez para tentar achar seu “companheiro”.

Poderia rastrear sua energia, mas Ceifadores eram quase impossíveis de serem rastreados. Eles eram literalmente coletores de alma que trabalhavam para a Morte.

Gradativamente a gigantesca feira ia diminuindo. As barracas, ao final, tornavam-se mais distantes e pequenas. A feira chegava ao seu fim depois de muita caminhada e quando as últimas barracas, com os vendedores basicamente entediados com a falta de movimento, havia um grande monumento tombado ao chão.

Era uma cabeça humana, feita também em areia, e parte do corpo do que parecia ser uma estátua também estavam no chão, porém cobertos por areia. Era gigantesca e Sakura tinha a impressão que estava naquele lugar há muito tempo. A areia trazida pelo vento lentamente ia escondendo o monumento.

Sakura aproximou-se da estátua. A cabeça era oca por dentro e ao entrar parecia uma gigantesca caverna. O lugar era escuro, mas seus olhos podiam ver além da escuridão.

- Quem está aí? – Uma voz grave perguntou e Sakura pôde ver uma figura entre as sombras. Mas o que a surpreendeu não foi a presença do menino e sim o que estava dentro dele.

Aquela energia, aquela assinatura era distinta em qualquer dimensão possível.

- Vejo que encontrou nosso artefato. – O Ceifador disse subitamente aparecendo a seu lado. Sua aparência, contudo, estava diferente do que tinha visto anteriormente. Ele estava com vestes pretas, uma espécie de túnica, e seu rosto antes com uma aparência humanoide tornara-se roxo e parecia em estado de putrefação.

O garoto, porém, não podia vê-lo. E por alguma razão misteriosa conseguia vê-la.

Imediatamente, Sakura entendeu o propósito daquela missão. Não por completo, claro, mas ao ver o garoto e o que estava conectado a ele... Ela compreendeu.

O rapaz era um Jinchuuriki. Por isso o Ceifador estava ali e ela era um plano de contenção. Iriam tirar o Bijuu de dentro dele. O porquê ainda era um mistério.

- Quem é você? – Ele perguntou mais ferozmente daquela vez aproximando-se dela.

- Eu... Eu sou só uma viajante. – Sakura respondeu tentando manter a calma. Geralmente, suas missões não envolviam seu lado diplomático. Tudo o que ela tinha que fazer era matar. Isso era o que ela sabia.

- E o que está fazendo aqui? – Ele falou mais calmo enquanto a observava atentamente. A única fonte de luz que existia no lugar era proveniente das bifurcações nos olhos da estátua.

- Nada! – Respondeu tentando desviar do assunto. – Só estava passeando e achei esse lugar legal...

O garoto aproximou-se da luz deixando em evidência seus cabelos cor de fogo e os olhos de um verde impressionante. Sua aparência era desdenhada e nas costas carregava uma cabaça cheia de areia.

Mas havia mais. Um garoto realmente cheio de surpresas. Não apenas ele possuía o Shukaku selado em seu corpo, o símbolo gritante do Escorpião gritava dentro de si. Ele era uma rara combinação do poder de Deuses e Demônios. E nada mais propício para o Escorpião do que um lugar repleto de areia.

Existia um tom de desespero no modo como se portava. Um tipo de desespero marcado pela angústia, pela tormenta... Pelo sofrimento. Ele sofria. Ter poder vivo em suas mãos não o distanciava de alguma dor e tormenta.

Sakura se reconhecia neste olhar. Toda vez que olhava em um espelho ela conseguia enxergar em si mesma essa mesma dor. Talvez por aspectos diferentes, mas era um sentimento parecido, um sentimento de conflito.

- Você precisa ir. – Ele disse dando as costas para Sakura. De certa maneira ela não queria estar naquele lugar, mas não era ela que dava as ordens.

Esperou que o Ceifador dissesse alguma coisa, porém ele mantinha-se calado com sua face derretendo ao lado dela. Ele estava mais calado do que nunca e se precisasse realmente fazer aquele serviço já teria feiro. Contudo, algo o impedia. Ele mantinha-se estático e contemplativo.

- Ele é filho dos Doze Deuses. – O Ceifador finalmente disse soando enigmático. – Eu não esperava por isso.

- O que tem isso? – Sakura perguntou esquecendo da presença do garoto escorpião.

- O que disse? – Ele perguntou não surpreso com o fato da garota ainda estar naquele lugar. – Eu já não disse para ir embora?

- Você não manda em mim. – Ela respondeu por impulso soando absolutamente infantil. Tinha muito tempo que não falava daquela maneira, mas, novamente, havia algo diferente naquele mundo. Algo que a tornava mais humana do que gostaria.

- Como disse? – Perguntou irritado voltando a se aproximar. Ela conseguia ver e sentir a areia mudando ao seu redor, tornando-se arisca. Resultado claro do poder do garoto Escorpião com a areia.

Ao olhar para o lado o Ceifador não estava mais lá.

- Aquele maldito! – Falou mais alto do que esperava e sem se importar com a presença do garoto saiu da cabeça da estátua. O céu não estava mais límpido como antes e tomava um tom avermelhado atípico. A lua e o sol estavam em contraste claro no céu e Sakura conseguia ver que as pessoas olhavam chocadas para a paisagem não natural.

- Quem é você? – Ele perguntou subitamente agarrando-a pelo braço antes que se afastasse. A Haruno apenas olhou para o movimento audacioso do garoto se controlando o máximo possível não quebrar o braço dele.

- Ninguém. – Respondeu secamente soltando-se do aperto do ruivo que até o presente momento não tinha reparado em seus arredores.

O vento também trabalhava de forma mais intensa do que o normal para aquela região e olhando ainda mais atentamente para o céu no horizonte ela podia ver pesadas nuvens amarronzadas formando-se.

De repente, um raio lilás cortou os céus e as pessoas começaram a gritar em desespero.

- Que porra... – Gaara disse finalmente prestando atenção aos seus arredores. Outro raio cortou os céus. Uma tempestade estava vindo, mas aquela não era qualquer tempestade.

Sakura tinha visto aquilo antes. Aquele tipo de poder. Não era nada mundano, os Deuses não estavam felizes com o que estava acontecendo e ela desconfiava que tudo se conectava ao garoto Escorpião.

- Nós precisamos terminar o que viemos fazer. – O Ceifador voltou a aparecer finalmente com o rosto completamente desfigurado. – Não há muito tempo. – Ele disse mais enigmático do que o normal.

- Onde você estava esse tempo todo? – Sakura perguntou indignada sem se importar com a presença de Gaara ao seu lado que, aliás, prestava atenção a garota que conversava “sozinha”. Outro relâmpago rasgou os céus e o vento estava fora de controle jogando barracas ao ar e areia para todos os lados.

- Os Deuses não... – O Ceifador falou, mas ficou por isso mesmo. Tudo o que ele fez foi pegar a sua foice e mirar em Gaara.

 

Gaara puxou Naruto para o lado, um sinal claro de que queria conversar em particular. O loiro o encarou por alguns minutos e saíram da sala em que todos conversavam.

- Preciso falar com você. – Gaara começou do mesmo modo sombrio de sempre.

- Isso eu já percebi. – Naruto respondeu tentando acalmar os ânimos, talvez até os dele. Toda aquela história com eles competindo no Torneio e com a volta de Sakura e Orochimaru, tudo estava uma bagunça. – O que foi? – Perguntou, desta vez de maneira séria.

- Aquela sua amiga... – O ruivo começou, mas deixou que a frase morresse no ar. Não sabia como abordar aquele assunto.

- A Sakura? – Naruto perguntou como se completasse os pensamentos de Gaara.

- Sim.

- O que tem ela? – O loiro questionou com uma curiosidade maior do que esperava.

- Vocês falaram que ela morreu há alguns anos, certo? – Ele perguntou com certa vergonha, algo atípico em seu comportamento. – Isso foi há quanto anos?

- Há uns doze anos. – Naruto respondeu como se tivesse dúvidas sobre a data, mas sabia exatamente o dia em que sua amiga tinha desaparecido. Ou melhor, o deixado.

- E ela só voltou agora? Não voltou outras vezes? – Gaara perguntou sentindo aquele vazio em sua cabeça claramente se preencher. Lembrava-se da tempestade, de estar na estátua em homenagem a sua mãe. Aquele vazio que vinha alimentado em sua cabeça, finalmente começava a fazer algum sentido.

- Não. – Naruto respondeu ainda mais curioso. – Teve uma vez há uns dez, nove anos em que eu achei que tinha visto ela e que ela tinha voltado. Mas foi tudo coisa da minha cabeça. Por que?

Quando Naruto suas últimas palavras uma espécie de luz formou-se na cabeça de Gaara. Aquele sentimento de estar faltando alguma coisa finalmente fez sentido e as memórias gradativamente voltavam.

A Tempestade. A Estátua. Sakura.

 

Outro raio brilhou nos céus. A tempestade estava chegando e rápido.

- Nós temos que sair daqui! – Gaara gritou agarrando o braço de Sakura instintivamente antes que o Ceifador começasse seu trabalho.

Sakura olhou diretamente para o Ceifador percebendo alfo diferente. Precisou prestar mais atenção, mas assim que o fez notou que aquele não era o mesmo que a acompanhara por Suna durante todo esse tempo.

- Quem é você? – Ela perguntou se referindo ao Ceifador e por um instante ela achou que ele estava rindo, mesmo que não tivesse boca.

- Eu sou o Ceifador. E vim aqui buscar esse Bijuu que está no corpo do garoto. – Ele disse com uma impassibilidade impressionante. – E antes que me pergunte, o outro está longe daqui. Ele simplesmente não era capaz de cumprir o serviço.

- Por que ele não era capaz? – Ela perguntou livrando-se de Gaara que àquele momento gritava tentando controlar a areia. Ele não entendia as ações da moça e estava considerando fortemente deixa-la sozinha no meio daquela tempestade profana.

- Quando removermos dele... Ele perecerá. – Respondeu e desta vez ela tinha plena certeza de que ele sorria. – E os Deuses... – Disse apontando para os céus. – Não estão nada felizes com isso.

E por alguma razão, o Ceifeiro se fez presente. Gaara estava ocupado com desviar a areia, mas finalmente notou a presença com que Sakura conversava. Aquele ser demoníaco que carregava uma foice.

 

- Quando eu tinha dezesseis anos eu quase morri. – O ruivo disse ainda sem soltar o braço dela. – Foi você que me salvou aquele dia Sakura.

 

Sakura não tinha notado, porém impedia o Ceifador de continuar o trabalho porque estava segurando parte de sua foice. Gaara subitamente caiu no chão e olhava diretamente para o Ceifador.

Ele finalmente tinha se feito presente. O garoto não sabia se ficava mais preocupado com a tempestade ou com aquela figura a sua frente.

- O que são vocês? – Perguntou tentando se afastar, inutilmente. A tempestade de areia era muito forte, até mesmo para ele. Os Deuses o tentavam proteger de uma forma que nem mesmo o Escorpião conseguia lidar.

- E então... – O Ceifador voltou a falar e desta vez olhava para Sakura. – De que lado você está? Dos Deuses ou do seu Superior? – Ele perguntou e aquela não era uma dúvida que precisava ser conflitante. Por alguma razão, contudo, era.

Seu contrato era com o seu Superior, mas matar um dos Guardiões e enfrentar a fúria dos Deuses...

Lembrou-se de como acordou quando tinha doze anos. Achou que estava morta, mas ELE tinha lhe dito que ela possuía o mundo inteiro aos seus pés. Disse que ela seria grande e a acolheu quando Sakura acreditou que estava perdida.

Sua vida, literalmente, estava nas mãos DELE.

 

- Eu não sei do que você está falando! – Sakura respondeu se desvencilhando de Gaara e tentando sair de perto dele, mesmo sabendo que não seria tão fácil.

- Eu me lembro de tudo agora. – Gaara falou encarando os olhos esmeraldinos de Sakura como se enxergasse através deles. – Nós encontramos dentro da estátua da minha mãe, depois veio a tempestade e você estava lá. Junto com aquele Ceifador. – As últimas palavras tinha dito de forma hesitante, não gostava de lembrar daquela figura.

Sakura estava se amaldiçoando naquele exato momento. Não acreditava que de tudo o que poderia acontecer... Gaara lembrar era o que menos esperava. Ele não deveria lembrar.

- Você salvou a minha vida aquele dia. – O rapaz da Casa do Escorpião voltou a falar. Ainda que estivesse com o semblante austero havia determinada empolgação em sua fala. – Eu te devo a minha vida.

 

Mesmo assim, Sakura soltou o Ceifador para que ele fizesse seu trabalho. Não devia obediência aos Deuses e certamente não devia sua vida aos mesmos.

O Ceifador aproximou-se de Gaara, que naquele instante estava estático na areia. Por mais que estivesse cercado pelo seu elemento de controle, ele nada podia fazer. Estava paralisado por medo. Nunca tinha visto nada como aquilo em sua vida.

Sem hesitar, o Ceifador enfiou sua foice no corpo do garoto lhe arrancado um grito. Sangue começava a se espalhar e como se não houvesse gravidade, o líquido escarlate voava misturando-se a areia.

Outro relâmpago irrompeu no céu. O céu era uma mistura deslumbrante e catastrófica de vermelho e roxo.

Era possível ver a aura do Shukaku pairando, inicialmente no ar, e depois indo para a foice do Ceifador. Gaara estava meio inconsciente no chão e surpreendentemente não gritava de dor. Sakura achou que sua vida estava terminada ali.

Mas ela estava enganada.

De repente, ele começou a se mexer. Parecia estar tendo uma convulsão e Sakura notou que o Ceifador estava tendo dificuldade em retirar a essência do Shukaku. E por isso ela estava ali. Para impedi-lo de perder o controle e tornar-se o ser demoníaco que estava aprisionado nele.

Sakura aproximou-se impassível com o “show” que estava ocorrendo. Gaara gritava parte pela dor e parte pela falta de controle, porém ela conseguia ver que ele ainda estava ali, que ele conseguia ver tudo o que estava acontecendo mesmo que não entendesse por completo.

Ela segurou a foice parando o movimento do Ceifador.

 

- É aqui você se engana. – Ela falou subitamente aproximando-se de Gaara. A rosada colocou a mão gentilmente no rosto dele e sorriu. – Eu não estava tentando de salvar.

- O que? Mas não é possível... Eu me lembro...

- Eu estava tentando te matar.

 

Sakura deixou que o Ceifador tirasse mais um pouco do Shukaku enquanto ela colocava seu próprio poder na foice para que o ruivo ficasse parado. E aquele poder, aquela sensação... Era tudo magnífico. Sakura poderia alimentar-se daquilo, manter-se daquilo. Seus pensamentos eram voltados ao poder e ao garoto estirado na areia.

Gaara estava basicamente inconsciente, mas o Ceifador parou antes mesmo que ele pudesse desmaiar.

- O que você está fazendo? – Sakura perguntou irritada tentando recuperar a foice que estava nas seguras do Ceifador. – Temos que terminar o serviço!

- Já terminamos. – A rosada respondeu com o semblante sério. –Já retiramos a quantidade que precisávamos. Agora é hora de ir.

- Do que você está falando? Essa não era a missão? – Gritou irritada com toda a situação e a tempestade parecia estar cada vez mais próxima.

- Essa era parte da missão. – O Ceifador respondeu olhando de soslaio para Gaara. – A outra parte era ver o quanto você aguentava sem enlouquecer nesse mundo. Até agora não muito.

- O que? – Sakura começou a questionar, desta vez furiosa, porém o Ceifador a interrompeu.

- O nosso Superior tem grandes planos para você e você é uma das guerreiras mais fortes que existem... Talvez uma das mais fortes das que já existiram. – O Ceifador explicou convicto. – Mas você ainda é fraca. Não sabe se controlar nos mundos em que seus poderes são mais fracos, em que você fica mais sensível. Você é fraca. Precisa treinar mais.

- Você tá sacanagem? – Ela questionou e logo sentiu a foice do Ceifador entrando em seu peito. O ar lhe faltou por alguns segundos e durante esse tempo tudo o que ela pôde fazer foi encarar o Ceifador. A foice tinha atravessado o seu corpo e saía justamente onde estava o seu Selo.

- Silêncio! – O Ceifador falou com imponência. – A sua sorte é que sei como controla-la.  Apague as memórias dele para que possamos ir. – Finalizou tirando rapidamente a foice do corpo dela.

Sakura não precisou de muito para que seu corpo se recuperasse. Rastejando pelo chão de areia ela aproximou-se e Gaara que tinha virado a cabeça levemente para encará-la.

- Você se machucou? – Ele perguntou quase que um sussurro e Sakura apenas pôs as mãos na cabeça dele, fazendo com que tudo o que tinha se seguido no lugar sumisse.

A tempestade finalmente os alcançou. Mas era tarde. Ela tinha colocado o Escorpião em sua gaiola: dentro da Grande Cidade Murada.

 

- Mas eu me lembro... – O ruivo falou inconformado, descrente que as palavras da garota pudessem ter o mínimo de credibilidade ou verdade.

- Você se lembra do que eu escolhi que você se lembrasse. – Sakura falou colocando novamente a mão na testa dele. – E para o nosso bem... Você precisa esquecer novamente.

Um raio cortou os céus e quase imediatamente começou a chover. Os dois ficaram ali por alguns instantes sendo encharcados pela chuva. Gaara alheio ao que realmente estava acontecendo. Seu olhar era vago e sua boca estava entreaberta, mas naquele momento, enquanto Sakura drenava suas lembranças, era como se sua alma tivesse viajado para o dia em que os Deuses criaram aquela tempestade de areia.

De repente, tudo tinha desaparecido.

***

Gaara acordou subitamente. Seu coração estava acelerado e o suor escorria por seu corpo, a garganta estava seca e a sensação de um mau presságio pairava sobre o ar.

Havia algo faltando. Ele conseguia sentir.

Levantou-se rapidamente da cama e olhou pela janela constatando que já era noite. Tinha dormido esse tempo todo? Essa pergunta rodeava sua cabeça insistentemente.

Atipicamente, chovia em Konoha. Mas não era para chover em Konoha naquela época do ano. No entanto, tempestades de areia sempre se formavam em Suna naquela época do ano.


Notas Finais


Tô muito ansiosa com esse capítulo porque não sei o que vocês vão achar e espero realmente que não tenha ficado confuso. Tentei o meu máximo para fazer uma narrativa que englobasse uma mistura de eventos passados e presentes
E na cena da tempestade de areia eu imaginei bem no estilo MAD MAX FURY ROAD (se vocês não assistiram esse filme, assistam porque é muito bom!)
Qualquer erro me avisem para que eu conserte! Comentários são sempre bem-vindos e me incentivam muito
Espero que tenham gostado, beijos e até mais!


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