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História Beyond Two Souls - O Ritual


Escrita por: iKnight

Notas do Autor


Olá!
Olha, estou surpresa comigo mesma com as postagens mais regulares. Percebi que me empolgo muito com descrições e os capítulos ficam gigantes, então peço perdão desde já. E este foi o capítulo mais complicado de escrever porque ele tem umas coisas meio complicadas, mas espero que eu tenha conseguido passar tudo o que precisava.
Obrigada a tod@s que comentaram no capítulo passado, vocês são maravilh@s!
Espero que gostem!

Capítulo 21 - O Ritual


Naruto respirou profundamente e saiu do quarto. Depois que se certificou que o ataque de Ino havia sido contido e ela estava completamente inconsciente sentiu-se à vontade para sair e pelo menos tomar um banho.

Yugito havia trocado de posto com Gaara que alternava entre o choque e a tristeza. Ver a Yamanaka naquela sofreguidão intensa era mais doloroso do que se poderia imaginar. Eles apenas torciam para que aquele pesadelo acabasse de uma vez por todas.

Contudo, ao invés de seguir o caminho usual para a sua casa, o loiro optou pelo caminho mais longo. Gostava do vento da noite contra o seu rosto e da sensação que apenas aquele horário poderia proporcionar. Apesar de não apreciar a solidão sabia que naquele instante precisava se recolher a si mesmo e processar tudo o que vinha acontecendo.

Sentia o universo se modificando, entrando em profunda dissonância e aquilo era perturbador. Estava tão acostumado ao estático que a mudança abrupta lhe causava calafrios. Gostaria, no entanto, de encontrar mais uma vez algum tipo de paz.

Sem perceber, seus pés o levaram para uma pequena lagoa próxima a entrada da cidade propriamente dita. Ele tinha se enveredado pela floresta, preso em devaneios e divagações. Acorrentado pelo medo e pela esperança, antagonicamente.

Qual foi sua surpresa ao ver Hinata sentada à beira da lagoa. Os pés enfiados na água cristalina, até mesmo no luar, e o corpo coberto com um vestido lilás aberto nas costas. Apesar das longas madeixas azuladas cobrirem o que o decote revelava, ainda era surpreendente ver a Hyuuga com tal vestimenta.

Ela jamais usava nada que revelasse aquela parte do seu corpo e cada vez que Naruto olhava para as longas cicatrizes do chicote nas costas de Hinata uma raiva incontrolável o dominava. Tudo ocorrera muitos anos antes. Ela devia ter uns quatorze anos quando fora sequestrada por alguns membros renegados de seu clã que buscavam vingança contra Hiashi. Eles a chicotearam por uma hora e neste momento o poder da Libélula revelou-se em si. A jovem Hyuuga fora a Guardiã mais tardia entre eles.

Ainda assim, ela parecia serena. Absorta nos próprias pensamentos e presa em seu reflexo na água. Através da luz do luar, a Hyuuga ficava ainda mais bela e Naruto não pôde evitar corar silenciosamente ao pensamento.

Como se finalmente se atentasse à realidade, Hinata virou a cabeça apenas para ver Naruto recostado em uma árvore com um sorriso meio torto.

- Naruto-kun... – Ela chamou por seu nome com um misto de surpresa e satisfação.

O Uzumaki aproximou-se com seu típico sorriso caloroso e à medida que caminhava tirava o próprio casaco preto e colocava nos ombros desnudos de Hinata, que corou com a generosidade do ato.

- Está muito frio. – Ele justificou-se sentando ao lado dela e colocando, também, os pés na água. Naruto sabia perfeitamente que o contato com a água acalmava a jovem Libélula e que ela usava aqueles momentos para refletir.

- Você está tremendo. – Hinata observou ao olhar para a mão de Naruto apoiada na terra. Até aquele momento não havia notado. Realmente, estava em seu limite. Precisava de um banho e de um bom lamem. E mais do que isso, necessitava de alguma tranquilidade em sua vida.

Em um movimento inesperado, Hinata colocou sua mão sob a dele e sorriu. O toque gentil dela o acalmava.

- Como Ino está? – Ela perguntou deixando a preocupação permear os seus olhos.

Naruto, infelizmente, não pôde esconder a verdade em seus olhos. Estava mais do que claro que a Yamanaka não estava bem e apenas o silêncio dele fora suficiente para confirmar a resposta que Hinata já temia.

Os olhos claros de Hinata aparentava um leve temor que ficava ainda mais aparente quando refletido pela luz da lua.

- Não se preocupe. – Naruto falou, por fim, com o seu sorriso característico. – A Ino é forte, mais do que imaginávamos.  Ela sobreviveu a morte, não é agora que vai desistir de si. – As palavras vinham intensas e corajosas, especialmente porque o loiro acreditava verdadeiramente naquilo.

À medida que a noite passava parecia tornar-se mais gelada. O vento gélido batia contra seus rostos e a água acompanhava aquele movimento. Hinata não parecia se importar, na verdade revigorava-se toda as vezes que podia estar em contato com tranquilidade que apenas aqueles pequenos momentos poderiam lhe proporcionar.

De repente, seus olhos verteram em lágrimas silenciosas, pois era também nesses momentos em que poderia entrar verdadeiramente em contato com o que sentia. E Hinata sentia demais. Seu modo de ver o mundo a tornavam extremamente empática, todavia era mais do que isso. Era o sentido de ver o mundo sofrendo e não poder ajuda-lo.

- Por que está chorando? – Naruto perguntou em um tom tão gentil que nem mesmo ele sabia de onde havia tirado. Seu relacionamento com Hinata era mais complicado do que gostaria, porém jamais deixaria que ela carregasse o peso do mundo em suas costas.

- Você acha que poderia termos feito mais? – Ela perguntou virando-se para ele e segurando a blusa com força. – Era o nosso dever fazer mais. Não conseguimos nem proteger o nosso povo e nos proclamamos guardiões de alguma coisa.

Talvez, fosse fato. Poderiam ter feito mais. Deveriam ter feito mais. Todos inebriados pela noção de poder. Entretanto, assim é a vida. E o destino chega até mesmo quando não se quer.

- Fizemos o necessário. – Naruto respondeu olhando para o próprio reflexo e depois virando-se para Hinata, limpando suas lágrimas com o polegar. – A questão é o que faremos a partir de agora. Não adianta se prender no passado e isso vem literalmente do cara que controla o tempo. – A última frase a fez rir e consequentemente ele a acompanhou.

Apesar de poucos, Hinata adorava todos os momentos que passava com ele. Sentia-se outra ainda que a mesma.

- Ouvi dizer que Kiba a pediu em casamento. – Naruto jogou o assunto que incomodava no ar, desviando seu olhar da moça de olhos perolados.

- De novo. – Ela riu. Aquela era a vigésima segunda vez que Kiba a pedia em casamento. Hinata fizera questão de contar. Apesar dos anos de amizade e companheirismo, ela jamais poderia se imaginar casando com ele. – Meu pai acredita que seria bom.

- E o que você acha? – Naruto perguntou tão rápido ela respondeu. A curiosidade queimando em seu peito. Ele poderia controlar o tempo, mas Hinata não o esperaria para sempre. Tinha consciência disso.

Seus sentimentos por ela ficaram reprimidos por anos por ele achar não ser o suficiente. Agora que achava, tinha medo de ser tarde demais. Contudo, seu medo partia principalmente do trauma. Do dia em que tentara salvá-la e acrescentara outra cicatriz a seu corpo. Do momento em que marcara a sua pele e sua alma.

Ele tentava superar aquele dia gradativamente dizendo a si mesmo que não tinha sido sua culpa. Tentando se convencer de ter se tratado apenas de um momento de descontrole. Mas todas as vezes que via as costas nuas de Hinata cobertas pelas cicatrizes do chicote e as garras da raposa amaldiçoava-se profundamente.

A morena apenas balançou negativamente a cabeça e riu para Naruto que mantinha o olhar mais apreensivo do mundo. E ele, inevitavelmente, não pôde deixar de rir também.

Aquele era o mais próximo que havia ficado dela em muito tempo e sentia-se bem. Apesar da lembrança latente e dolorosa. Superava-se a cada dia e tentava se recordar das próprias palavras de Hinata quando a visitara no hospital “ Para de se culpar por coisas que não estão no seu controle”.

Ela aproximou-se e segurou na mão dele, que depois de se retesar levemente, acostumou-se com a sensação. Os dois rindo, inebriados pela presença um do outro como se ainda fossem adolescentes. E como era bom aquele momento de genuína felicidade compartilhada em meio ao caos que virara as suas vidas.

***

O sol começava a raiar quando Sasuke abriu os olhos, os raios penetrando na janela o despertaram. Sua cabeça doía levemente e seu corpo nu estava envolto por lençóis brancos.

À medida que verdadeiramente acordava os acontecimentos da noite passada ressurgiam em sua mente e a culpa se abatia sobre o mesmo. Como pôde deixar-se levar por puros impulsos e desejos quando outros precisavam dele?

Olhou para o lado e não viu Sakura. Fechou os olhos e deitou a cabeça no travesseiro mais uma vez decidindo se aquilo era ou não uma coisa boa. Seu coração acelerava apenas no pensar em seu nome e ele ainda não conseguia decidir se tinha a ver com a vergonha, culpa ou outra coisa.

- Droga! – Praguejou baixinho percebendo o que haviam feito. O pior era o fato dele ter gostado. Seus corpos estavam uníssonos e jamais sentira-se com outro alguém.

Subitamente, ela abriu a porta do banheiro enquanto vestia uma blusa branca. Diferente dele, não aparentava estar minimamente abalada com os eventos da noite anterior. No entanto, Sakura riu ao ver o estado do Uchiha.

- Você está bem? – Perguntou sentando-se na cama e colocando a bota preta de cano curto. Seus longos cabelos róseos estavam molhados, indicando que ela acabara de tomar um banho. – É a ressaca moral ou a do álcool? – Apesar da situação, seus questionamentos vinham em forma simplesmente engraçadas. Sem sarcasmo.

Sasuke sentou-se na cama, repentinamente consciente da própria nudez e do próprio e estado. Manteve-se silencioso enquanto ela terminava de calçar os sapatos e apenas disse:

- Isso não pode acontecer de novo. – Sentia-se confuso quanto às próprias palavras, porém também sentia que aquilo era o certo a fazer. Os dois não deveriam se envolver. Estavam em uma missão altamente perigosa e urgente e deviam ater-se a ela. A culpa ainda retumbava em seu peito, assim como o fato de ter se aberto com ela noite passada. Ter-se maravilhado e jogado algumas de suas feridas mais profundas.

A sensação era de que havia se despido de todas as maneiras imagináveis e ele gostava de manter a máscara social de homem constantemente irritado com a vida. Isso evitava o envolvimento e consequentemente sentimentos.  

- Tudo bem. – Sakura respondeu se levantando. Ela olhou demoradamente para expressão irritadiça e taciturna do Uchiha, que agora voltava a seu estado natural de ser. Endireitou a postura e também se levantou pegando as próprias roupas.

- Eu estou falando sério. – Ele respondeu enquanto vestia a calça. O rosto cada vez mais sério.

- Eu também. – Sakura respondeu com tranquilidade. – Foi apenas sexo. Nada demais. – E as palavras saíam de maneira verdadeira. Apesar de ter gostado, não passara de um momento em que precisavam livrar-se de tensões. – Precisamos ir, estamos atrasados.

O Uchiha assentiu voltando ao seu estado silencioso e soturno. Vestiu-se rapidamente e pegou suas coisas. De acordo com Sakura, tanto a questão do carro quanto do hotel já havia sido resolvida.

- Você não precisa ficar todo esquisito desse jeito. – Sakura falou. – Como eu disse: só sexo, nada demais.

- Hm. – Sasuke respondeu onomatopeico inibindo o que pensava ou sentia. Era melhor e mais fácil. – Também não precisamos falar sobre isso. Vai ser melhor assim.

A rosada apenas revirou os olhos com a infantilidade do Uchiha e segurou em seu braço. O toque ainda era quente, praticamente fogo, algo que os dois decidiram ignorar deliberadamente. Entreolharam-se por alguns instantes e mais uma vez evaporaram junto ao ar.

***

Apesar da situação complicada, a mansão Yamanaka mantinha-se mais movimentada do nunca. Não apenas pela presença da comitiva do Kazekage como pelas inúmeras pessoas que cuidavam do bem-estar de Ino, ou estavam preocupados com a mesma.

Obviamente, a situação não havia sido levada a público. Os Kages faziam um bom trabalho ludibriando a população e dando a sensação de que tudo se resolvia mesmo que o mundo desmoronasse. O povo estava mais calmo, mesmo que parte daquele sentimento fosse pura falsidade. Era até mais fácil acreditar no discurso cego dos governantes.

As aparições de Sakura começavam a tornar-se corriqueiras aos olhos daquelas pessoas, contudo ainda sim causava grande comoção. De modo que, quando ela e Sasuke apareceram no meio da sala de estar dos Yamanaka as pessoas não deixaram de se surpreender.

Estavam sentados no longo sofá branco dez dos doze Guardiões assim como alguns amigos dos mesmos. Por um instante, o que restara era apenas o susto que logo foi tomado pela dúvida. Sakura parecia inabalável e Sasuke mantinha o olhar austero de sempre.

- Pelos Deuses! – Tenten basicamente gritou levantando-se do sofá. Ainda havia de se acostumar com aquelas aparições repentinas, mesmo que Lee as fizesse múltiplas vezes. – Por que demoraram tanto? – A pergunta saia com um leve teor de desespero.

- Acidente de percurso. – Sakura respondeu naturalmente, sem olhar para Sasuke. Ele estava tornando a situação mais esquisita do que precisava.

- Conseguiram pegar a Pedra? – Naruto perguntou mais contido, desviando o assunto, enquanto se levantava. Sasuke apenas retirou o leve objeto do bolso, ainda brilhava intensamente. A Pedra, pequena na mão do Uchiha, atraiu os olhos de cada um dos presentes e por alguns instantes apenas se colocaram a observá-la. Era magnífica e diferente de qualquer coisa que haviam visto, realmente fazia jus ao nome de artefato mágico.

- O que precisamos fazer? – Temari questionou, adiantando-se ao irmão que estava prestes a fazer a mesma pergunta. O estado do Escorpião não era dos melhores e era possível notar pelas extensas olheiras e a curvatura exagerada das costas.

- Paciência. – Sakura respondeu calma enquanto saía da sala e subia as escadas em direção ao quarto de Ino. Silenciosamente os outros a seguiram. Ela parou na porta do quarto e olhou para quem a seguia.  A esperança em seus olhares misturava-se ao horror.

Ela abriu a porta do local. Yugito estava ao lado do leito de Ino, que dormia pacificamente. Se ninguém soubesse diria que ela apenas estava em um sono profundo. Assim que os viu, a representante do Dragão levantou-se. Estava tão cansada quanto Gaara e Sakura supunha que todos estavam. Gostaria de dizer que o sofrimento e cansaço desapareceriam, mas ela sabia que estaria mentindo.

- Finalmente. – Yugito disse com um sorriso cansado no rosto.

Sakura aproximou-se de Ino, ainda silenciosa, e colocou a mão em sua testa. A rosada sentia a dor que perpassava a Yamanaka, os demônios com qual lutava. Seu corpo e sua mente estavam no limite.

- Tudo bem, e agora? – Shikamaru perguntou irrompendo o silêncio.

- Agora, faremos o ritual. – Sakura respondeu virando-se para eles. – Segure-a. – Ela falou para Gaara, que atendeu prontamente. Ino remexeu-se ligeiramente, mas ainda estava presa à própria inconsciência.

- Não devíamos anunciar isso aos Kages ou até mesmo ao senhor Yamanaka? – Neji questionou olhando diretamente nos olhos esverdeados, às vezes achava que ele queria enfrenta-la.

- Não. – Sakura respondeu rapidamente. – Não há tempo.

E com o seu estalar de dedos, todos foram jogados em um espiral do tempo e espaço. Apesar de abrupto o movimento, eles começavam a se adaptar com aquele atípico meio de transporte. Alguns caíram com um baque surdo no chão enquanto outros apenas se desequilibraram levemente ao aterrissar na terra fofa e molhada da floresta.

Como era extremamente densa, a luz do sol apenas se fazia presente por entre os longos galhos e as folhas das árvores. Eles apareceram na entrada de uma longa caverna, a luz ali era tão escassa que nem mesmo sua entrada era iluminada.

- Da próxima vez.... – Neji falou enquanto segurava a mão de Tenten, que o ajudava a se levantar. A terra escura sujara um pouco de suas vestes impecavelmente brancas. - Um aviso seria bom. – A morena apenas ria da irritação do Hyuuga. Ele estava em seu limite, assim como todos. Sakura apenas revirou os olhos cansada das criancices. Não estava acostumada com cenários em que todo mundo reclamava. Geralmente, ela fazia o trabalho e pronto. Não havia razão para reclamações ou gritos.

- Primeira regra do seu treinamento. – Sakura disparou inesperadamente. – Esteja pronto para tudo. Tudo mesmo. – Ela falou a última parte de maneira mais sombria do que o necessário.

E sem dizer mais nada, Sakura adentrou a caverna fazendo com que os demais tivessem que a seguir. Seu conhecimento dos Templos era mais extenso do que poderiam imaginar, debruçara-se por muito tempo nos Arquivos dos Anciões querendo descobrir os segredos do universo. Todos eles. E aqueles que ela não havia visitado, conhecia os caminhos com a palma da mão.

O lugar era escuro demais. A Haruno estava prestes a fazer algo a respeito quando o Uchiha se colocou a sua frente. Prontamente, Sasuke iluminou o local. Em toda a sua extensão havia longos recipientes facilmente incineráveis. Uma faísca gerava outra, iluminando toda a extensão até onde os olhos poderiam alcançar. Não era surpresa que ninguém visitasse o Templo, além de malcuidado era de difícil acesso. Antes de voltarem a caminhar ele observou a rosada que possuía um sorriso no canto dos lábios.

À medida que caminhavam, algumas gotas de água caíam do teto e ricocheteavam no chão. A caverna era úmida e gelada, diferente do que o Cervo representava.

- Nota para o futuro: jamais construir um Templo em frente a uma caverna. – Lee falou repentinamente desmanchando um pouco da tensão que ainda havia no ar. O barulho das gotas contra o chão ainda ricocheteava no ar.

Depois de longos minutos no silêncio e na penumbra, uma luz no fundo da caverna se abriu. Saíram da mesma, sentindo a brisa fresca contra seus rostos. A formação rochosa os tinha levado para um grande portão metálico prateado, o símbolo do Cervo em dourado brilhando no meio. Apesar da semelhança com o Templo da Fênix, logo se via que era diferente.

O intricado de arabescos no portão imitava pequenas folhas douradas, de modo que todas se encontravam no centro do mesmo em que o símbolo resplandecia como se não tivesse sido marcado pelo tempo.

- Por que exatamente paramos de vir a esse lugar? – Hinata perguntou referindo-se de modo generalizado. Às vezes parecia que esqueciam a própria fé.

Diferente do Templo que visitara anteriormente, por mais que estivesse envolto pela floresta, a natureza não parecia intervir na fachada do prédio. Era como se apesar de serem uma unicidade, ainda sim estavam separados.

- Pelo que me lembro, esse não é o Templo. – Shikamaru falou olhando aos arredores. Lembrava-se claramente de visitar o local com sua mãe quando mais novo. E tanto aquele percurso quanto aquele local não faziam parte de suas memórias.

- Este é o verdadeiro. – Sakura respondeu. Por muito tempo, réplicas dos Templos foram construídas, assim como o da Fênix. Um para os humanos, outros para os cósmicos. Aqueles destinados aos cósmicos perderam-se quando a realidade foi alterada. Em Konoha ainda se acessava a duplicata e o real ficara escondido. Quase como se os próprios Deuses não quisessem que se acessasse parte daquela realidade.

Todavia, ela não iria dar mais explicações. Não precisavam delas para prosseguir. A Haruno apenas pediu para que Gaara aproxima-se Ino da porta do Templo e o mesmo se abriu, apenas com o leve toque de sua mão.

E se a floresta não tinha tomado conta da porta era porque tinha se infiltrado dentro dele. O teto era feito em vidro, permitindo a passagem da luz do sol, que iluminava o grande pátio. Flores multicoloridas cresciam pelas paredes assim como a folhagem esverdeada. E árvores se infiltravam por toda a sua extensão, especialmente ao redor da fonte no centro do pátio. Inacreditavelmente, água limpa ainda corria na mesma. O local imitava a atmosfera de uma grande estuda ou um jardim botânico.

Na parede central, a grande estátua da Deusa Ilíria da Cura em mármore branco. E ela era exatamente igual Sakura se recordava: esbelta e esplendorosa. Parecia a imagem semelhança do que se mostrara no dia em que salvara Ino de Kimimaro. Atrás da estátua havia um intricado de imagens na parede imitando constelações, em uma maneira arredondada, de modo que aparentava ser um círculo de luz que iluminava a Deusa.

- É simplesmente incrível! – Hinata falou observando cada detalhe do Templo. – Como pudemos deixar isso se perder? – Perguntou para si mesma, mas o questionamento refletia em cada um deles.

Sakura se aproximou da estátua, uma variedade de velas se estendia aos pés da figura dando a impressão de que por muito o lugar tinha sido visitado. E dois grandes cervos haviam sido entalhados ao lado da Deusa.

- Qual o próximo passo? – Sai perguntando olhando atentamente para cada canto do Templo como se quisesse gravar perfeitamente o lugar em sua memória. Precisaria desenhá-lo mais tarde.

A Haruno virou-se para eles e disse:

- Vocês vão realizar o ritual.

- Como assim? – Temari perguntou. – Achei que você faria isso!

- Eu vou fazer parte, mas não posso realiza-lo. – Sakura respondeu negando com a cabeça. – Apenas vocês têm esse poder.

- O que você quer dizer exatamente? – Sasuke perguntou olhando diretamente para os olhos esverdeados de Sakura.

- O Ritual vai afastar tudo que estiver ligado a Ino que não pertence a ela. – A rosada explicou, de costas para eles, e olhando mais uma vez para a estátua. Pensava consigo mesma como as coisas seriam diferentes caso a Deusa não tivesse intervindo naquele dia. – E isso me inclui. Nosso elo espiritual vai se quebrar e por isso não posso realiza-lo. Além do mais, o ritual exige a energia de cada um de vocês. Minha interferência acarretaria apenas catástrofe.

- E isso não é perigoso? – Naruto perguntou, alternando seu olhar de Sakura a Ino. A preocupação permeava o seu tom de voz.  

A rosada apenas deu de ombros voltando a encará-los.

- Há riscos em qualquer coisa que façamos e acredito que vocês estão prontos para encarar estes. – Ela respondeu caminhando pelo Templo. Pelo seu olhar vigilante procurava por algo.

O lugar possuía uma forma oval e se concentrava basicamente no pátio em que estavam. Contudo, duas alas se espreitavam fora daquele arranjo: uma a direita outra a esquerda.

A da esquerda desembocava em uma sala levemente menor em uma espécie de mini santuário havia sido formado. Assim como no Templo da Fênix havia um púlpito, porém este era feito de cobre e jasmins brancos haviam tomado conta de toda a sua extensão.

A ala da direita, no entanto, era a que mais lhes interessava. Existia ali uma espécie de piscina retangular, com água levemente esverdeada, coberta por folhas. Ao longe uma grande árvore azulada resplandecia.

- Que lugar é esse? – Tenten perguntou enquanto observava tudo. A sensação que viviam no local era quase mágica.

- No passado, antes da guerra entre humanos e cósmicos, muitos homens e mulheres vinham até aqui para serem purificados nessa câmara. – Sakura explicou observando a árvore. Conhecia excepcionalmente bem aquela espécie. – Cura sempre esteve associada com purificação. Muitos humanos foram curados de males aqui.

- Mas nunca foi apenas isso, certo? – Yugito perguntou e a rosada apenas assentiu positivamente com a cabeça.

- Acontece que o conhecimento pode ser muito limitante. Parte de seus antepassados e os humanos daquela época acreditavam que o Templo servia apenas para esse propósito, além da adoração. – Sakura continuo a explicação enquanto tocava a água da piscina. – Mas Templos, especialmente mágicos, servem a muitos outros propósitos. Basta conhecê-los.

- Como, por exemplo, a purificação de uma alma. – Sasuke complementou entendendo a dinâmica. Era complexo e profundo, e todos eles perceberam que o mundo jamais é como aparenta ser. Sempre existem e existiram razões escondidas. Mistérios prontos para serem revelados.

- E como faremos tudo isso? – Gaara perguntou ainda com Ino nos braços. Ele havia se sentado na câmera afim de se tranquilizar, mesmo que minimamente e evitar de ficar carregando o corpo inerte da loira para todos os lugares.

- Primeiro, temos que limpar a água. – Sakura explicou olhando para Hinata. – Você consegue fazer isso? – Ela perguntou para a Libélula que assentiu positivamente. Aquele era um dos primeiros “truques” que havia aprendido quando adquirira suas habilidades.

Seus movimentos com as mãos eram habilidosos. Movimentando-se com a elegância de uma bailarina, causando leves redemoinhos na água, que logo se estabilizou, brilhando azul e cristalina. A água era como fio condutor de toda a energia e precisava estar mais pura possível.

- A Pedra. – Sakura falou estendendo a mão para Sasuke, que ainda guardava o objeto no bolso. Ele pareceu relutante em entregá-la, mas ainda o fez. A Haruno retirou um cordão do bolso e o enrolou na Pedra, formando uma espécie de colar. Assim que o fez, encaminhou-se até Ino e o colocou em seu pescoço.

- Para iniciar o ritual, vocês precisam colocar Ino na água... – Sakura sequer terminou de falar e Gaara a interrompeu.

- Não mesmo. Ela vai morrer afogada! – O desespero latente em sua voz. O rapaz estava no limite da perda total de sua linha de raciocínios.

- Claro que não. – Ela rebateu como se acusação do Escorpião fosse completamente descabida, porque verdadeiramente era. – Não nesta água. Não neste lugar. Apenas confie em mim. – Ela olhou rapidamente para o grupo e reconheceu-se, em parte, neles. Querendo fazer tudo sem ter ideia de nada. – Eu sei que estão preocupados, mas vocês têm que confiar em mim.

- Sakura está certa. – Hinata intercedeu. – Ela nos ajudou até agora, não haveria razão para mentir. Além do mais, a vibração da água... Não é normal. É completamente diferente de tudo que já senti.

- Depois que a colocarem na água, precisam canalizar a toda a sua energia na Pedra com a união de cada um. – A Haruno prosseguiu. Ela havia aprendido aquele ritual muito tempo atrás quando devastara parte de um povo céltico e sua religião. – Através de um cântico.  

“Filha dos sonhos vá agora

Corra e abra a porta.

Escute seus segredos

Onde a vida começa e não termina.

Corra, pois o tempo voa

Atravesse de novo a porta.

A lua ilumina o caminho sagrado.

Toque seu coração.

E abrace os seus sonhos.

A tua mão alcança além a ilusão.

Traga-a de volta”.

 

Sakura entoou rapidamente o cântico, as palavras e os processos guardados apenas em sua cabeça e nos Arquivos. Olhou-os brevemente percebendo o medo e a confusão em seus olhares. A partir daquele instante, tudo se tornaria ainda mais difícil.

- Escutem. – Ela voltou a falar afastando-se lentamente. – Vocês podem fazer isso. Apenas vocês podem fazer isso. Seu nascimento e escolha não foram ao acaso. O Destino os escolheu e ele acredita em vocês. Aqui se inicia a salvação.

Quando terminou de falar, Sakura estava no extremo oposto da sala os encarando. Eles se entreolharam e em consenso silencioso prosseguiram com os processos do ritual. Não havia nada mais a ser feito.

Gradativamente, Gaara colocou Ino na piscina e assim como a rosada previra ela não se afogou. Pelo contrário, parecia ainda mais imersa na profundidade da inconsciência.

- Estejam preparados. – Sakura disse, por fim, enquanto encostava na árvore azulada.

Depois, o que fizeram foi puramente intuitivo. Reunindo um senso de coletividade, cada um pareceu preencher-se com o espírito de seus Deus e assumiam a si mesmos que aquilo era necessário. Ainda mais do que isso: Ino precisava deles.

O mundo precisava deles.

Cada um tomou uma posição ao lado da piscina. Cinco do lado direito, cinco do esquerdo e um na ponta. Naruto era o elo que unia os outros, a Raposa nascera para lidar mesmo que ainda não acreditasse ou soubesse daquilo. Seguraram na mão do outro e entoaram o cântico.

A música e as palavras simplesmente saíam de suas bocas, mesmo que sequer tivessem tempo para decorá-las. A vontade pulsava em seus corpos. O que faziam não podia ser explicado por racionalidade, era literalmente mágico.

A princípio nada aconteceu. O mundo mantinha-se estático.

Todavia, depois de alguns instantes, partículas de poeira começaram a ficar cada vez mais suspensas. O mundo pareceu desacelerar e a energia que compartilhavam começou a fluir por entre seus corpos. A essência de um mesclando-se a do outro, agindo em unicidade como devia ser.

O sol deixara de brilhar e tinha sido tomado por nuvens carregadas e cinzentas. E eles continuavam a entoar a música. O vento batendo contra seus corpos, a natureza se remexendo. O processo significava ressurreição mesmo que não houvesse morte.

A Pedra começava a brilhar no peito de Ino e consequentemente Sakura sentia a queimação advinda do Ritual. Lidava com forças antagônicas demais, até mesmo para ela. O objeto, antes azul esverdeado, tomava um tom arroxeado. Pulsava como se houvesse vida. Inundava a água antes cristalina.

Sakura precisou sentar-se, sentindo a energia modificando-se nela mesma, perdendo o elo com Ino enquanto o poder da Pedra reverberava nela mesma. O vento, agora intenso, bagunçando seus cabelos e por alguns segundos enxergou ao longe a alma de Ino despedaçando-se apenas para ser aglomerada mais uma vez.

E ela conseguia sentir. Aquela força... A energia saindo do corpo da Yamanaka e mostrando-se verdadeiramente. Lembrou-se do dia em que fora atacada, ainda na infância, e depois do embate contra Kimimaro. Tudo se encaixando na grande engrenagem conhecida como Destino. As vozes deles misturando-se com as vozes do além, o cântico antigo quebrando a energia.

Até que finalmente aconteceu. Sombras saindo da piscina... De Ino e envolvendo o ambiente. Sakura levantou-se, sentindo todo o seu corpo ruir em dores e sua mente estraçalhar-se em fragmentos, e olhou para aquela energia. Sentia que a observava, mesmo amorfo. Parecia possuir olhos vermelhos e brilhantes capazes de sugar qualquer um que parasse para observar.

Antes que pudesse entender, um grande feixe de luz irrompeu da Pedra desfazendo a fumaça no ar. Os onze foram jogados para longe, com a “explosão” e, por alguns instantes, um clarão de luz intensa tomou todo o local.

O sol voltara a brilhar, a natureza corria normalmente e o ressoar dos animais fazia-se mais uma vez presente. Como se nada tivesse ocorrido. Existia mais uma vez vida, esta que um dia ousaram tentar roubar.

Eles demoraram alguns instantes para se acostumarem novamente ao ambiente. Suas cabeças doíam e as palavras entoadas segundos antes desapareceram tão logo surgiram. O Ritual quando realizado perdera-se mais uma vez, pois não poderia ficar na mente de quem não suportaria carrega-lo.

Quebrando o silêncio, Ino emergiu da água recuperando o fôlego. Os olhos se acostumando com a claridade da manhã, que há tanto não via. Na verdade, parecia não ver nada desde que morrera e ressuscitara. A vida tinha outro significado.

Ela tossiu levemente, expulsando a água dos pulmões, enquanto todos se levantavam para ir a seu encalço. Sentia-se, primordialmente, diferente. Não mais a garota de antes e muito menos aquela que possuía a maledicência em seu corpo. Emergira uma nova pessoa daquelas águas, voluntariamente ou não.

Gaara fora o primeiro a levantar e rapidamente segurou a Yamanaka pelos ombros, ajudando-a sair das águas.

- Que porra está acontecendo? – Ela perguntou um pouco irritada, mas no fundo existia divertimento em sua voz. Conseguia sentir o alívio de finalmente estar inteira. Não mais duelando com terceiros.

- Você nos arrumou muitos problemas, Ino. Uma chatice. – Shikamaru respondeu ajudando, também, a amiga levantar-se.

- E vocês decidem me afogar? – Ino perguntou divertidamente apoiando-se em Gaara. Suas pernas tremiam levemente e fraquejavam, mas ainda assim, encontrava-se inteira. Precisava apenas acostumar com a sensação.

O grupo juntou-se ao redor dela como se necessitassem daquilo para garantir que ela estava bem e que os problemas haviam cessado. Existia no recinto uma alegria e o sentimento de dever cumprido. Eles finalmente mostrando a que vieram.

Sakura levantou-se e olhou para o horizonte. A dor retumbava por todo o seu corpo. Algo havia sido brutalmente arrancado dela, mesmo que não quisesse. Olhou rapidamente para o grupo e sua felicidade. No fundo, sentia que ainda não tinha acabado. A luta estava longe de ser ganha.

Dentro de si, algo gritava desesperadamente que o perigo estava bem a sua frente. A sensação de advertência crescia em seu peito. Não poderia dizer que tinha sido fácil chegar aquele ponto, ainda sim sentia que tudo havia sido mais fácil do que realmente era.

Subitamente, Ino apareceu a sua frente e lhe deu um abraço. O movimento tinha sido inesperado e pegara Sakura desprevenida. A rosada desviou o seu olhar do horizonte e focou na loira.

- Obrigada por não desistir de mim. – Ela disse olhando diretamente nos olhos de Sakura, que ainda se mantinha desconcertada. Não estava acostumada a manifestações de carinho tão espontâneas.

Sakura estava pronta para responder quando no ar irrompeu uma forma atípica. A fumaça negra e densa em uma metamorfose, circundando o local como uma verdadeira serpente. O emaranhado de sombras e fumaça formara um longo e esguio dragão que alcançava o teto, impedindo a luz do sol entrar.

- Mas que porra... – Ino praguejou soltando-se da rosada olhando para o dragão. Os olhos carmesins dele brilhando na escuridão. Os outros uniram-se as duas, olhando para a criatura.

- Não acharam que iriam se livrar de mim tão facilmente, não é mesmo? – Sua voz era grave e causava desconforto, claramente não pertencia àquele local ou sequer deveria estar em solo sagrado.

- Já estava na hora de aparecer. – Sakura falou sem deixar de encarar os olhos avermelhados enquanto caminhava a frente dos doze. Sentia que aquele, acima de tudo, era o seu problema.

Um problema que tinha se iniciado treze anos atrás. O dragão gargalhou. A fumaça em suas asas consumindo todo o lugar. Sua forma amorfa tomando toda a extensão do Templo fazia parecer que o sol havia sido consumido tornando-se um eclipse. Existia claridade ao mesmo tempo que tudo parecia estar escuro.

- Faz muito tempo. – Ele dizia e seu olhar era direto a Sakura. Era como se nenhum dos outros doze existisse. – E tempo é precioso. Não temos muito mais. Temos grandes planos para você, criança.

Antes que ela pudesse fazer qualquer coisa, o dragão se desfez. A fumaça densa, no entanto, pairou no ar por alguns instantes e como em uma rajada de vento adentrou o corpo de Sakura através do coração.

O impacto das energias fora tão grande que lançara todos os doze para o canto da câmera enquanto Sakura fora arremessada contra a piscina, batendo o pescoço na borda, e caindo na água.

Depois disso, restara apenas escuridão.

***

Quando recobrou a consciência, Sakura ainda estava deitada em um chão molhado. O cabelo róseo espalhado no meio da água. Não precisou abrir completamente os olhos para saber que não se encontrava mais no Templo.

O lugar era completamente preto, sem paredes, e a claridade, de alguma forma se fazia presente. Ela levantou-se olhando para o chão molhado. Assim como as paredes ele se estendia até perder a vista. Não havia começo ou fim.

Logo, ela percebeu, tratar-se da projeção de algum lugar fora do espaço ou tempo, poderia ser até mesmo a sua consciência. Não tinha certeza. Estava levemente confusa e ainda absorta no torpor que a brusquidão do impacto lhe causara.

- Devo admitir, mais persistente do que eu imaginaria. – A voz ecoou pelo recinto enquanto Sakura se levantava. À sua frente, um “homem” estava sentado em um banco branco. Quando ela parou para observar mais calmamente notou não se tratar de uma figura propriamente humana.

Tratava-se de uma figura esguia e branca, tão esquelética quanto possível. O pescoço alongado sustentando a cabeça esguia que terminava em longas pontas, imitando uma coroa de ossos. Os dentes pontiagudos e os olhos mínimos e negros deixavam a figura ainda mais assustadora.

- Bahamut, eu suponho. – Sakura disse lembrando de seu encontro anterior. Por alguma razão, o nome e aquela presença lhe pareciam excessivamente familiar.

- Uma de minhas muitas formas, sim. – Ele respondeu ainda sem olhá-la. A Haruno conseguia ver um líquido viscoso escorrendo de sua boca. – Não a principal. Esta é apenas a que quero mostrar, acredito que combine com a decoração do local.  – A última sentença fora dita olhando diretamente para ela, como se deixasse pistas.

- E o que você quer, exatamente? – A rosada perguntou sem aproximar-se de sua figura. Seus olhos vigilantes escaneando o local, tentando compreender onde verdadeiramente estava e quem enfrentava. – Você está se dando muito trabalho. Ligar-se a Orochimaru é particularmente específico.

Ele riu, um riso de escárnio e perigoso. Seus dentes ficando cada vez mais evidentes como se fossem abocanhá-la.

- Existir dá muito trabalho, criança. Trabalho duro. – Bahamut respondeu ainda rindo levemente. – Mas ficar tanto tempo no corpo do Cervo me deu, com toda a certeza, perspectivas.

Sakura deu de ombros concordando e prosseguiu:

- Então, vamos minimizar o trabalho um do outro e parar de jogar o “jogo dos pronomes”. O que você quer? O que Orochimaru quer?

Bahamut olhou para outro lado, seus pés brincando na poça de água que era o chão. Ele ainda sorria, mas não mais como outrora. Não havia escárnio ou deboche, apenas um sentimento pernicioso.

- O que queremos é muito simples. Fazer com que as pessoas enxerguem a realidade. – Orochimaru respondeu subitamente se materializando ao lado da figura cadavérica que era Bahamut. Os dois, lado a lado, pareciam dois lados de uma mesma moeda. – Aquela que você felizmente consegue enxergar.

- Você quer que os humanos enxerguem o outro mundo? – Sakura perguntou tentando completar o quebra-cabeças. – Por quê? É muito mais conveniente deixar as coisas como realmente são.

- Eu admiro seu pensamento, mas não é essa a verdade que quero alcançar. A Verdade é muito maior do que os olhos veem. – Orochimaru. – Ou melhor queremos. Pense no que viu durante a sua existência, quando compreender tudo fará sentido. – Ele parecia referir-se a entidades muito além de Bahamut. O Mestre das Cobras ainda não revelava seu real objetivo.

- Mais uma vez desviando de minhas perguntas. – A rosada respondeu. – Como cita a minha existência, acredito que tenho direito de perguntar: o que eu tenho a ver com tudo isso? A princípio achei que todos os eventos que decorreram com Kimimaro haviam sido aleatórios... Produtos do Destino. Mas à medida que o tempo passa percebo que existe um propósito.

Enquanto ela falava recordava-se de sua vida em Konoha e como ela havia sido arrancada abruptamente. Inúmeras vezes, Sakura tinha sido arrancada e recolocada em diferentes mundos. E desde que retornara a Konoha, esse movimento tornara-se particularmente intenso.

- Você é a peça chave que move tudo isso. – Orochimaru respondeu. Sua voz ficando cada vez mais rouca. – Sua existência nunca foi mera coincidência, assim como seu papel em tudo isso.  Ironicamente, você é necessária ao mesmo tempo que não é.

Sakura riu, desta vez. Uma gargalhada forte e espontânea. Algo que até mesmo assustou os outros dois que ali se encontravam.

- Devo admitir, você é impressionante. Um verdadeiro mestre na arte do enigma. – Ela disse olhando fixamente para os olhos amarelados dele. A sensação era de que sua pele desmanchava e ele, assim como as serpentes, tornava-se outro. – Eu estava começando a acreditar nas coisas que dizia, mas agora tudo me parece uma grande falácia.

- Sua descrença é tocante. – Orochimaru respondeu com um sorriso de canto no rosto. – Depois de tudo que enfrentou achei que teria um pouco mais de fé. Não há problemas, no entanto. Em breve, todos enxergarão.

Mesmo percebendo que o homem continuaria no jogo de charadas, a Haruno voltou a falar:

- Por que, então, precisa de Ino? Queria extrair o máximo de informações que conseguisse antes que a aquela projeção se desfizesse.

- Para alcançar a verdade, antes precisamos nos desfazer da realidade. – Orochimaru respondeu. Sua voz, agora, tornava-se um eco distante e tanto a sua figura quanto a de Bahamut desfazia-se em pó.

Sakura era capaz de ouvir Naruto gritando em seu ouvido e como se estivesse fora do próprio corpo, via a cena que se desenrolava no Templo. Sasuke e Naruto haviam pulado na piscina de modo que o Uchiha a segurava e o loiro tentava acordá-la.

O líquido antes azulado e purificado por Hinata agora encontrava-se completamente avermelhado. Ela havia perdido sangue que sequer sabia que existia em seu corpo. Aquela reação fisiológica definitivamente não era normal, ela jamais sangrava. Não daquela maneira.

- Não há nada de errado com ela. – Ino falava enquanto tocava no ombro da Haruno. – Eu não entendo porque não acorda.

A voz da loira começava a soar cada vez mais próxima assim como as súplicas de Naruto em seu ouvido. Ela olhou para trás e tudo o que conseguiu enxergar foram as partículas de poeiras que um dia tinham sido aquelas duas criaturas com quem conversara.

Percebendo que o seu estado inconsciente a prejudicava, Sakura voltou ao próprio corpo. Seus olhos esverdeados abriram-se abruptamente e ela tentou recuperar o fôlego que sequer havia perdido. Seu corpo parecia diferente, não conseguia explicar de que maneira.

Por um momento, todos fizeram silêncio como se aquilo os fizesse compreender o que estava acontecendo.

O mundo girava e uma dor incessante perdurava em seu peito. Conseguia ouvir Orochimaru gritando dentro de si, era como se ela conseguisse enxerga-lo exatamente a sua frente rindo escandalosamente. Bahamut era uma figura ao fundo e fora de foco.

Violentamente, ela soltou-se de Sasuke e de Naruto e saiu da piscina ficando na borda oposta a dos outros. Ela estendeu a própria mão e a espada flamejante se materializou na mesma. Sakura fincou o objeto cortante no próprio abdômen arrancando gritos de seus expectadores.

- O que você tá fazendo? – Naruto gritou em horror.

Sakura apenas ignorou a todos, mantendo-se de joelhos e deixando a sensação de alívio espalhar-se por todo o corpo. As chamas esverdeadas corriam dentro de si, expulsando algo que não lhe pertencia. Por um momento, acreditou ter visto a figura de Orochimaru mais uma vez, projetando-se para fora de seu corpo.

A Haruno cuspiu sangue, no limite de toda a sua sanidade. O Selo pulsando em suas costas, querendo libertá-la mesmo que ela não pudesse usufruir daquele tipo de liberdade. Precisava manter a compostura.

Olhou para o líquido avermelhado enquanto retirava a espada de si. Sua roupa ficara manchada com o mesmo. Sakura olhou para as próprias mãos, que tremiam. Seu corpo estava enfraquecendo? Era o que conseguia pensar. Não faria sentido, muito pelo contrário.

Por mais que o Selo mantivesse seu controle, tanto dos seus poderes quanto de si mesma, consequentemente diminuindo a quantidade de energia e poder que poderia usar naquele mundo ela não devia ficar tão debilitada. O que significa que seu prazo era curto. Aquele era um aviso do próprio universo lhe dizendo: você não pertence a esse lugar.

Sakura olhou para o ferimento, que agora se fechava e encarou todos os Doze. Seu tempo naquele mundo tornava-se cada dia mais limitado e do modo que Orochimaru falara eles também não tinham segundos a perder.

- Mas que porra! – Neji xingou. – Como essas coisas esquisitas continuam acontecendo? – De todos, ele era o que mais tinha dificuldade em aceitar todos os eventos atípicos que ocorriam desde o Festival dos Kages. Acostumara-se coma normalidade e a rotina.

- Sakura-san, você está bem? – Lee perguntou ignorando a irritação do Lobo.

A rosada apenas se levantou, estendendo o dedo para que todos se calassem.

- Amanhã, ao sinal do primeiro raio de sol. – Ela começou a falar. – Estejam na arena próxima aos rochedos marinhos. Seu treinamento vai começar.

- Sakura, o que aconteceu? O que foi aquilo tudo? – Naruto perguntou tomando a coragem de se aproximar e com preocupação legítima. A cena presenciada anteriormente parecia ter saído de um filme de terror de possessão. – Você está bem? – Refez a pergunta de Lee tentando garantir o bem-estar da amiga.

- Depois. Eu explico tudo depois. – Sakura respondeu tocando levemente no ombro da Raposa e indo até Ino. – A Pedra. – A rosada disse estendendo a mão, ainda com certa dificuldade para falar. Apenas naquele instante, a Yamanaka tomara conhecimento do objeto brilhante e novamente esverdeado em seu pescoço.

A loira assentiu, retirando o colar improvisado e entregando a Sakura. A Haruno foi até a ala principal do Templo, mais especificamente até a estátua da Deusa. Ela estendeu o objeto brilhante frente à estátua e como mágica, no coração da mesma, um compartimento se abriu.

A Pedra parecia atraída como ímã para o local e saiu das mãos de Sakura, encaixando-se perfeitamente no espaço que tinha sido aberto. O objeto brilhou levemente e no instante que tocou a estátua, as velas acenderam-se e o entalhe ao redor passara a brilhar.

- O que é isso? Por que está fazendo isso? – Ino perguntou se colocando ao lado da Haruno sentindo-se mais uma vez revigorada. O Templo lhe dava forças.

- Proteção. – Sakura respondeu.

Templos também representavam proteção, especialmente os relacionados à Cura. E, naquele momento, eles precisavam de qualquer ajuda extra.

Tempos sombrios estavam por vir.

***

Sakura saiu do banho com a toalha branca ainda enrolada no corpo. Parou em frente ao espelho e deixou que o pano macio caísse no chão. Ela vestia uma calcinha preta e lentamente afastou as longas madeixas róseas, que cobriam toda a extensão de suas costas, afim de ver o Selo.

Parecia estar intacto. Ela dedilhou levemente o intricado de desenhos avermelhados sentindo a ponta dos dedos queimarem ao seu toque. Estava mais sensível do que o normal.

A Haruno deu um longo suspiro colocando uma blusa cinza, apenas, no corpo. Já era noite e ela tinha passado a maior parte do tempo dentro quarto, refletindo tudo o que tinha acontecido.

 Tinha saído brevemente para dar explicações aos Kages sobre o Templo, apenas para novamente explicar o que tinha visto em seus momentos de inconsciência. Deixara de lado a parte que Orochimaru falara de sua crucialidade para seus planos, aquela era uma questão que gostaria de lidar sozinha. 

A imagem de Orochimaru ainda queimava em sua mente. Suas palavras tinham sido marcadas. Ela sabia que precisaria consultar os Arquivos para entender verdadeiramente o que acontecia, especialmente para compreender quão profundamente o Mestre das Cobras havia modificado a estrutura daquele universo, daquela dimensão.

Seu fluxo de pensamento fora interrompido com batidas na porta. Ela sequer precisou abrir para saber de quem se tratava.

Sakura abriu a porta lentamente revelando a figura de Sasuke, que estava escorado no batente branco. A rosada o olhou demoradamente, com as sobrancelhas arqueadas, e um sorriso irônico.

- O que você quer? – Ela perguntou, quebrando o silêncio insistente da noite.

O Uchiha desviou o olhar e limpou a garganta. As mãos estavam dentro da calça em um claro sinal de desconforto. Pigarreando, disse:

- Você está bem? – A pergunta saía atrapalhada.

Sakura deu de ombros e cruzou os braços e respondeu:

- Sim. – O silêncio mais uma vez tomara conta do ambiente, então ela prosseguiu. – Você veio até aqui para saber do meu bem-estar? – O questionamento saíra levemente irônico e com certo divertimento. Ela gostava quando o Uchiha perdia a fachada soturna de sempre.

- Precisamos conversar. – Ele falou, por fim, soltando um suspiro aliviado. Como se um peso tivesse sido tirado de seu peito.

- Sobre o que, exatamente?

- Noite passada. – Sasuke respondeu relutante. Ele fazia um esforço imenso ficando frente a Sakura. Não gostava de mostrar-se tão aberto e fragilizado, mas recentemente, era apenas aquele lado dele que a mesma via.

- E o que aconteceu com toda aquela história de “não podemos falar sobre isso”? – Sakura rebateu se divertindo ainda mais enquanto o provocava, ela adorava ver até onde os limites dele poderiam chegar. A proximidade de ambos causava faíscas. Era quase palpável.

Sasuke não respondeu a provocação, apenas segurou-a pela cintura, juntando seus corpos mais uma vez. Ele a beijou vorazmente, quase como se sua vida dependesse daquilo. O fogo ainda crepitava em seu ser, incapaz de ser apagado.

- E o que aconteceu com “isso não pode acontecer de novo”? – Sakura prosseguiu com a provocação enquanto ria e passava suas mãos ao redor do pescoço. Não se importava com a presença dele, na verdade ansiava por aquilo. Era eletrizante e precisava esquecer de todos os problemas do mundo. Lidaria com os mesmos depois.

- Cala a boca. – Ele riu minimamente voltando a beijá-la enquanto fechava a porta do quarto. Agia por impulso e desejo, verdadeiramente sem se importar com todo o resto. Apenas sentia que precisava estar ali e gostava da sensação que seus corpos em conjunto passavam.

Os dois tinham entrado em um caminho sem volta, viciados um no outro. O incêndio que haviam iniciado, começara a ficar fora de controle. Nenhum dos dois se importava. Precisavam desfrutar dos prazeres que cada um poderia oferecer.

A verdade era que gostavam de queimar nos braços do outro. Presos na própria perdição.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


Muitas coisas!
Revelei um pouco mais sobre a relação do Naruto e da Hinata e também parte do passado deles. O que será que aconteceu?
E, claro, a parte do Ritual (que foi verdadeiramente difícil). Revelei várias dicas nesse capítulo.
Qualquer erro me avisem, por favor.
Comentários são sempre bem-vindos <3
Espero que tenham gostado, beijos e até mais!


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