Já era noite quando Itachi terminara de contar toda a história. Sakura estava recostada contra o móvel branco que ornava a lareira com os braços cruzados e a face atônita. O único barulho audível era o cricrilar dos grilos que anunciavam o temporal.
O Uchiha mantinha-se igualmente calado enquanto se esparramava pelo sofá. Estava exausto. Contar toda a sua trajetória era literalmente reviver todos os acontecimentos da mesma. Quase como se passasse por todo aquele inferno novamente, ele sentia todo o seu corpo entrar em estado de alerta. Adrenalina correndo pura em suas veias, unicamente pelo medo da lembrança do dia de sua morte. Ou quase morte.
Ele encarava a Haruno profundamente. O que passava por sua mente era um mistério. Os olhos esverdeados estavam turvos e a única coisa que conseguia aferir era que ela pensava. Exatamente o que, ele não tinha certeza.
Sakura deixara o punhal na mesa de centro da sala e de vez em quando o encarava. Sentia-se sufocada. Porque não sabia exatamente o que estava acontecendo e a sensação de estar perdida em sua própria história era avassaladora.
- Você contou isso a mais alguém? – Ela o questionou subitamente o fazendo se sobressaltar no sofá branco.
- Não. – O Uchiha afirmou. E como poderia contar aquilo a terceiros? Quem acreditaria nele?
- Ótimo. – Ela disse finalmente se movendo e pegando punhal. – Ninguém precisa saber sobre isso.
- Mas e o que isso significa? – Itachi perguntou curioso enquanto se levantava.
Sakura soltou um longo suspiro. Mais um diante da saga Homérica do não saber. Ela analisou mais uma vez o punhal, mas não sabia exatamente o que significava. No entanto, uma leve pontada de esperança acendera em seu peito. Alguém estava literalmente olhando por ela; não estava mais sozinha. E o que quer que o punhal significasse, sentia que logo descobriria.
A Haruno são se deu ao trabalho de responder a pergunta do Uchiha, afinal, também não saberia dizer. Ao invés disso, guardou o punhal na bota e se recostou na parede.
- Obrigada. – Disso após alguns segundos de profundo silêncio.
Itachi arqueou a sobrancelha, levemente confuso, mas assentiu. Seu trabalho estava feito, porém não tinha o sentimento de dever cumprido. Parecia que algo ainda escapava de sua percepção. Contudo, por ora, decidiu não comentar mais nada. Tinha feito exatamente o que o Anjo mandara e agora precisava de descanso.
Ele levantou-se em toda a sua altivez e encarou Sakura por mais algum tempo. Conseguia compreender exatamente o encantamento de seu irmão pela mulher. Todavia, quando pensava nos dois juntos, um aperto em seu peito surgia. A sensação permanecia por pouco tempo, mas era suficiente para incomodá-lo. Tinha medo que a história não acabasse exatamente bem para seu irmão.
Talvez estivesse sendo apenas protetivo, afinal, o irmão e a família sempre vieram em primeiro lugar e era como se estivesse recuperando todos os anos perdidos na missão. Porém, tinha uma leve desconfiança tratar-se mais do que aquilo.
De qualquer maneira, deu de ombros e afastou aqueles pensamentos. Não era hora de pensar naquilo.
- Boa sorte e obrigado. – O Uchiha falou, por fim, estendendo a mão para que a Haruno pudesse aparta-la. Ela hesitou por alguns segundos, mas cedeu ao cumprimento.
***
Sakura ficou um bom tempo dentro da mansão sozinha. Apenas escutava os barulhos da noite. Não queria encontrar ninguém mesmo que soubesse que estavam preocupados. Precisava daquele momento de solidão. Não apenas para raciocinar o que precisava e devia fazer como, também, para se reencontrar com si mesma.
Estava completamente consciente de que se envolvera demais. Não tinha planejado que as coisas se desenrolassem daquela maneira, contudo, quando percebeu já estava no meio do redemoinho, sem a possibilidade de escapar.
No entanto, envolver-se pareceu inevitável. Por mais que quisesse negar e reprimir, Konoha e aquelas pessoas fizeram parte de sua vida. Sua vida antes de compreender quem verdadeiramente era. Ensinaram-na a ter humanidade.
A Haruno sabia que não deveria manter aqueles sentimentos, tentava afastá-los, mas estava cada vez mais difícil. E quanto mais ela mantinha-se envolvida naquele turbilhão de emoções, sentia que se distanciava da outra parte de sua existência. Afastava-se de seu destino.
Ela tinha ficado um longo tempo debaixo da água quente do banho refletindo. Deixou que suas tensões se afastassem, momentaneamente, e que a água inundasse todos os seus sentimentos.
Ainda sentia o fogo da Fênix queimando em seu corpo. Não havia mais marcas de queimadura, porém sentia a dor que se alastrara por cada uma de suas células. Tentava não pensar muito naquilo porque lembrar de Sasuke era ainda mais doloroso. Enxergar-se em uma relação que sabia ser prejudicial ao que estava fazendo ali. Precisava se afastar. Seus objetivos tinham que ficar mais uma vez claros. Necessitava de respostas.
Era preciso vencer.
E para isso, tinha que manter a cabeça no lugar.
Saiu do banho e enrolou-se em um roupão branco. Poderia ficar sentada na cama do quarto para sempre, se quisesse, mas estava inquieta. A água quente aquietara apenas um pouco de suas preocupações e um plano começava a se formar em sua mente. Uma saída. Uma forma de encontrar Orochimaru. Então, vestiu uma calça e blusa de mangas longas pretas e jogou o casaco cinza por cima do corpo. O punhal estava em sua mão e ela o apertava fortemente como se para garantir que ainda estava ali; precisaria dele para fazer o que queria. Assim, partiu para encarar à noite.
A madrugada era extremamente silenciosa. Até mesmo os animais noturnos haviam se calado. Estava gelado, mas Sakura gostava daquele ambiente soturno. Era quase como sentir-se em casa.
Todavia, a sua solidão e isolamento duraram pouco. De repente, se viu envolvida nos braços de Tsunade. A Hokage a pegara de surpresa e por alguns momentos Sakura apenas manteve-se parada com o olhar atônito, sentindo a loira abraça-la fortemente. Não se recordava da última vez que recebera aquele tipo de carinho. Sentia-se reconfortada, acalentada como há muito não fora.
Pouco tempo antes, discutia consigo mesma como os laços afetivos em Konoha tinham feito com que se afastasse de seus reais objetivos. Mas deixou-se ser embalada pelo abraço. Uma única e última vez.
- Todos estão preocupados. – Tsunade disse, por fim, afastando-se.
- Grande coisa. – Sakura respondeu um pouco mais seca do que esperava. – Por que está aqui? – A rosada questionou olhando profundamente nos olhos de Tsunade na tentativa de desviar o assunto frente ao seu recente mau humor. Desde que a conhecera, não tinha visto tal reação vindo da mesma. Ela nunca fora o tipo de mulher que exalava carícias ou preocupações, pelo menos não aparentemente.
- Porque eu estava preocupada. – A Hokage falou com a voz ligeiramente trêmula. – Depois do que aconteceu... Mas não apenas por isso. Vim para dizer, me desculpe.
- Desculpe pelo o que? – Sakura questionou com as sobrancelhas levemente arqueadas.
- Por tudo.
- Eu devia ter dito isso para você no momento em que voltou para Konoha, mas ainda não tinha a coragem necessária. – A Hokage continuou a explicar. – Quando você era mais nova e eu precisei cuidar de você... Era demais para mim. Eu não sabia lidar depois de perder tanto e acabei descontando em você. Não era justo. E você não precisa me desculpar, tem todo o direito de recusar, mas eu precisava dizer. Precisava que soubesse.
Sakura respirou profundamente sorvendo o ar frio. Quando sua vida tinha virado um verdadeiro melodrama?
- Isso tudo está no passado agora. – A Haruno disse dando um sorriso de canto enquanto continuava a acompanhar Tsunade na caminhada. Uma parte de si sentia-se genuinamente feliz com aquele pedido de desculpas. Representava um fechamento. Algo que sempre teve vontade de ouvir mesmo que jamais fosse admitir.
Tsunade também não pôde evitar esboçar um sorriso. Deixar aquele pedido de desculpas libertar-se significava um recomeço. Algo que almejara por uma vida inteira: a possibilidade de constituir-se enquanto família.
As duas caminharam por alguns instantes em silêncio. Absorvendo aquele novo laço formado. Ou melhor, a reconstituição do que um dia fora completamente estraçalhado.
- Quero fazer uma pergunta. – Sakura disse subitamente fazendo com que Tsunade voltasse sua atenção a ela.
- Qualquer coisa.
- Por que me deu esse nome? – O questionamento sempre estivera em sua mente. Poderia escolher qualquer nome, denominar-se Senju, se quisesse. Mas a Hokage tinha lhe dado um nome, uma identidade.
A loira alargou ainda mais o sorriso e respondeu:
- A ideia todo partiu de Sarutobi e Jiraya. Todos precisam de um nome, afinal. Eles sabiam que uma pessoa forte precisava de um nome de igual poder. Sakura representa a delicadeza das flores de cerejeira e Haruno é em homenagem a uma das maiores generais dos tempos antigos. – Ela terminou de responder enquanto olhava de esguelha para a rosada. – Acho que combina.
Sakura esboçou mais um sorriso e disse:
- Concordo.
***
Já era o quinto vaso que Fugaku quebrava em um ataque de fúria. A noite corria de forma perfeita até que aquela... criatura estragasse tudo. Ele se encontrava rodeado pelos resquícios do que tinha sido a épica noite, circundado por um mar de destroços e poças de sangue.
Vidros e porcelanas quebradas espalhadas por toda a extensão do local, mesas e cadeiras reviradas. O Uchiha ainda conseguia ouvir os gritos de pavor, o vento congelante e as chamas crepitando em seu jardim.
Ele sentava-se no meio da escada decorada. A postura levemente recaída, porém o homem jamais esquecia do posto e papel que havia concedido a si mesmo: rei. Rei de reino nenhum com uma coroa de plástico.
O seu ódio e profundo desprezo esparramavam-se por todo o ambiente. Ele simplesmente desejava o bem da vila, de todas as nações. Será que era tão difícil de compreender?
- Pelos Deuses Fugaku. – Alguém falou acima de si, a voz ecoando pelo salão em repreensão. A voz tão familiar ao atual patriarca Uchiha que sequer precisou-se virar a cabeça para identificar seu detentor.
- O que quer Danzou? – Fugaku questionou tentando recompor-se da melhor forma que podia. Detestava que outros o vissem em posição de tanta vulnerabilidade ainda mais algum membro de seu Clã.
O homem apenas sorriu de lado descendo as escadas, com ajuda de sua bengala, enquanto colocava-se frente a frente ao Uchiha mais novo. Metade do rosto queimado e o braço confinado a uma tala não concediam sequer um ar de simpatia a um homem naturalmente apático.
- Eu quero exatamente o que você quer.- O mais velho respondeu com profunda sinceridade e um leve toque de ironia. – Quero o melhor para essa nação, mas não acredito que nosso atual estado esteja apto para tal.
- O que está sugerindo Danzou? – O Uchiha mais novo questionou enquanto levantava-se juntamente com toda a sua empáfia. Embora Danzou fosse mais velho, Fugaku jamais hesitara em desafiá-lo. Este sempre odiara levar ordens, muito menos curvar-se a alguém.
- Estou apenas verbalizando aquilo que pretende fazer há muito tempo. – Ele respondeu. – Sei que possui aliados em sua...empreitada, mas não o suficiente. Eu, por outro lado, tenho o apoio necessário para que Tsunade deixe de ser Hokage e outro líder mais apropriado preencha seu cargo.
- Você não é conhecido por seus planos brilhantes Danzou. – Fugaku rebateu com ironia e propositalmente olhando para a cicatriz de queimadura no rosto do mesmo. Os dois sabiam o que havia ocorrido para que ele conseguisse tão indescritível marca.
- Pode até ser. – O mais velho falou dando de ombros. – Mas você precisa desse apoio. Você tem apoio do Clã e de algumas famílias tradicionais de Konoha, porém isso não basta.
- O que sugere? – Fugaku questionou com interesse. Ele sabia que a situação na vila estava fora de controle e que ele precisava fazer alguma e se Danzou estava sugerindo um plano que o fizesse atingir sua meta de forma mais rápida, ele aceitaria.
- Qualquer revolução, garoto...– Danzou voltou a falar enfatizando a última palavra, pois sabia que Fugaku a odiava. Ele sempre detestara o som inferiorizado com que o mais velho enunciava. – Precisa não apenas de apoio do povo comum, mas, também, do exército.
Fugaku parou por um segundo apenas encarando Danzou e depois começou a rir. Uma risada de escárnio.
- Não é possível que acreditei em você por um segundo. Todo mundo sabe que o exército é completamente leal a Hokage. – Ele disse com verdadeiro desprezo.
- Todos sabem isso, de fato. – Danzou respondeu calmamente, como se apenas estivesse apreciando a brisa gelada no meio daquela noite. – Mas quem disse que o exército precisa necessariamente vir de Konoha?
Fugaku conteve-se por um momento esperando que Danzou terminasse de falar ainda sem compreender onde ele queria chegar.
- O que estou dizendo é que se tivermos os aliados certos não precisamos do exército da nossa nação. Podemos fazer o nosso próprio.
***
O cômodo estava cheio, mas havia espaço suficiente para que todos se acomodassem. Uma reunião de emergência havia sido convocada por todos os Kages, com exceção de Tsunade, que havia simplesmente desaparecido.
Não apenas as maiores lideranças do planeta estavam naquela sala, como o Guardiões – com exceção de Sasuke – os generais e parte da ANBU assim como Sarutobi e Jiraya. O cômodo, um antigo refeitório que ficava nas imediações da cidade, era iluminado com apenas algumas labaredas vindas de velas penduradas ao redor das paredes.
- Acho que podemos concordar que isso tudo já passou dos limites. – O Raikage disse fazendo com que os burburinhos desaparecessem e todos prestassem atenção nele.
- Tenho que concordar. – A Mizukage reiterou cruzando os braços. – Perdemos tempo demais deixando as crianças brincarem de casinha. – Ela disse olhando diretamente para os Guardiões presentes.
- O que estão sugerindo? – Neji questionou em nome de seu grupo. Não sabia que uma reunião havia sido convocada para humilhá-los em um momento tão difícil.
- Nós entendemos que o destino de vocês representa a nossa salvação, mas talvez devêssemos intervir mais precocemente. Deixamos vocês entrarem em uma aventura e isso nos está causando ruína. – O Kazekage explicou.
- Do que vocês estão falando? Nós estamos trabalhando duro para conseguir parar Orochimaru! – Ino rebateu irritada enquanto levantava-se de sua cadeira.
- Não o suficiente, aparentemente. Nós sabíamos que ameaça era poderosa demais para vocês liderarem sozinhos. – O Tsuchikage disse enquanto olhava para cada um dos presentes. – Então, mandamos grupos de busca por todas as Cinco Nações para achar Orochimaru. – Ele disse causando um pequeno espanto. – E nós o achamos. A informação chegou agora há pouco.
Esta afirmação começou com o estardalhaço. Um falando acima do outro, uma atmosfera de terror e dúvida espalhando-se pelo ar.
- Impossível! – Naruto bradou fazendo com que as atenções se voltasse a ele. – Nem mesmo a Sakura conseguiu acha-lo.
- Vocês têm que parar de confiar nessa menina! – O Raikage respondeu com ainda mais intensidade sendo apoiado pelos outros Kages. Na opinião deles, ela era a grande responsável por tudo o que estava ocorrendo mesmo que indiretamente. Tudo tinha começado com a chegada dela.
- Não podemos depender de uma desconhecida tão imprevisível. – A Mizukage explicou tentando acalmar os ânimos do Raikage assim como dos Guardiões. – E de qualquer forma, está feito.
- Os serviços de inteligência de todas as nações procuraram incessantemente nos últimos dias por Orochimaru e temos uma localização. – Rasa disse.
- Daqui a algumas horas, ao amanhecer, vocês vão até ele e acabar de uma vez com todo esse circo. – O Tsuchikage finalizou referindo-se aos Guardiões. O trabalho estava feito, apenas precisava de uma finalização. - Finalmente teremos paz.
- É melhor se preparem para a batalha. – O Raikage retomou a conversa. – Partiremos ao amanhecer.
***
Tsunade e Sakura passaram um bom tempo apenas caminhando. A Haruno havia perdido completamente a noção de tempo, assim como a Hokage. Tudo o que não havia sido dito em todos aqueles anos tinha sido despejado. Um sentimento de generalizado alívio perpassava o corpo das duas.
- É melhor irmos. – Tsunade disse subitamente interrompendo o assunto apontando para uma estrutura de madeira logo a frente.
- Irmos para onde? – Sakura questionou olhando-a de esguelha e em seguida para o refeitório que estava a alguns bons metros de distância, tentando compreender do que aquilo se tratava.
- Para a reunião. Todos os Kages se reuniram junto aos Guardiões e algumas outras pessoas.
- E essa reunião serve para discutir exatamente o que? – A Haruno questionou logo percebendo algo atípico no ar. Ela achava que a temperatura baixa era apenas um sinal da noite, algo corriqueiro. Mas havia algo mais pesado pairando, pronto para entrar.
Uma força. Muito parecida com a que sentira na floresta, mas ainda mais profunda. Vinda de um lugar de escuridão.
Sakura conseguia ouvir as vozes. Pequenos sussurros vindos de um local muito distante, permeando as árvores da floresta e chegando aos seus ouvidos. Saindo da terra úmida e invadindo território que não lhes pertencia.
- É uma reunião para...
- Algo está acontecendo.
Tsunade fora interrompida pela própria fala de Sakura, que encarava o horizonte em busca de respostas. As vozes se intensificavam até que ela compreendeu do que se tratava. Um canto de guerra.
O canto finalmente tornara-se tão poderoso que quem o enunciava se materializara. A mulher com sangue cobrindo a sua face gritava as palavras em um idioma antigo evocando os mortos que saíam da terra como verdadeiros mortos vivos. Mas eles não eram feitos de matéria, tratavam-se quase de uma projeção. Figuras humanoides completamente feitas de escuridão.
Não se tratava de centenas. Eram milhares saindo do solo enquanto a mulher gritava. Poças de água negra formavam-se no chão e arrastavam para as profundezas do mesmo tudo o que estivesse em seu caminho.
- Corre! – Sakura gritou para Tsunade enquanto a impedia de ser engolida. – Avise os outros, estamos sendo atacados! Orochimaru conseguiu entrar aqui!
- Mas e você? – A Hokage questionou enquanto tentava não se afastar.
- Eu cuido dela. – Sakura disse referindo-se a mulher no meio do pandemônio evocando as criaturas. – Avise a todos, a guerra começou!
Tsunade apenas assentiu correndo em direção ao refeitório que não estava distante.
A mulher continuava a cantar e cada vez mais intensamente, chamando do caos as criaturas que saíam aos montes e tomavam conta do lugar, a cercando. As criaturas emanavam um som quase demoníaco de suas bocas preenchendo o ar.
Não poderia vencê-los na força bruta porque a Madre sempre evocar mais. Então, fez a única coisa que lhe restava: fazer um canto que contrapusesse o que estava sendo jogado na natureza. E assim ela fez.
Usando o seu poder contra o Caos. Por um momento, na figura da Madre, viu Bahamut sorrindo para ela. O sorriso cadavérico debochando da Filha da Morte, os olhos derramando sangue. Ele no centro sendo abarcado pelas figuras vindas da escuridão. O vento agitando-se errática e profundamente. Sakura com um dos braços apontado para a Madre, agora Bahamut, gritando as palavras vindas de uma língua antiga e morta.
Bahamut verdadeiramente se fazia presente. Caos dominando tudo. A natureza se desfazendo junto aos seus olhos, árvores entrando em combustão espontânea e o fogo alastrando-se com o vento gélido do quase amanhecer. A escuridão se perpetuando por todos os lugares. As pequenas vozes se intensificando.
Mas Sakura não permitiria que aquilo acontecesse.
Ela fecharia o portal que trazia a escuridão para aquele mundo. Então, ela evocou um canto ainda mais poderoso, vindo das antigas civilizações vikings. Um canto para chamar o poder dos deuses antigos. Deuses que morreram quando sua religião morrera, mas que deixaram sua força no universo para quem soubesse usá-la. E ninguém melhor do que a Filha da Morte para utilizar de um poder que não mais parece viver.
Sakura gritou o canto até que a Madre não aguentasse mais; até que o poder da Haruno fosse mais forte, sólido. O canto tomando o lugar da escuridão, as criaturas desaparecendo e o símbolo das quatro foices aparecendo na atmosfera levando consigo aquilo que o Caos havia trazido. A Madre restara por último gritando em agonia enquanto as quatro foices fechavam definitivamente o portal.
A rosada segurou-se por um segundo até desabar no chão. Aquele tipo de encanto exigia um esforço inimaginável, nem mesmo ela estava preparada. A Haruno estava com dificuldade de respirar, sangue que ela não sabia se pertencia a ela ou não manchava seu pescoço e seus braços. Sakura olhava ao redor para verificar se realmente tinha conseguido finalizar o encanto.
Tudo parecia silencioso, quieto.
Ela, no entanto, sequer teve tempo de descansar. Levantou-se e correu em direção ao refeitório porque ela tinha completa certeza de que aquele era apenas o primeiro ataque. O pior ainda estava por vir.
***
Tsunade abriu as portas duplas do refeitório com violência e ímpeto. Qualquer que fosse a discussão que estava acontecendo tinha sido completamente silenciada por sua entrada dramática. Seu rosto possuía uma expressão de completo pavor.
- Precisamos nos preparar! Agora! – A Hokage disse enquanto caminhava em direção as pessoas reunidas.
- Tsunade, o que está acontecendo? – Jiraya questionou com preocupação em sua fala. Fazia tempo desde que vira a Hokage e toda vez que ela esboçava aquela expressão, definitivamente algo trágico estava para acontecer – Onde estava?
- Isso não importa! Precisamos preparar nossos exércitos, a guerra está já está entre nós. – A loira disse rapidamente enquanto tentava organizar os pensamentos sobre o que deveria fazer em seguida. Não sabia se apenas Konoha estava sendo atacada, – muito provavelmente sim- mas precisava ter certeza que as outras nações estavam seguras ainda mais considerando que todos os seus líderes estavam reunidos em um lugar. Se qualquer coisa ocorresse, as Cinco Grandes Nações ficariam órfãos e sem a coesão que precisavam para superar o desafio a frente. – Inoichi, preciso que passe um comunicado para as outras quatro nações para garantirmos sua segurança.
A Hokage explicou para o patriarca da família Yamanaka que assentiu prontamente deixando o recinto, não sem antes olhar para filha que tinha um olhar de terror. Os olhos azulados transmitiam o medo que o Cervo sentia. Ela sabia que algo de muito errado estava para acontecer, a tragédia era quase tangível.
- Do que está falando? – O Raikage perguntou com sua típica expressão irritada. – Você não pode simplesmente desaparecer por horas, reaparecer com meias palavras e esperar que entendamos.
- Orochimaru está aqui com o seu exército. Ele quebrou as barreiras que faltavam e ninguém notou. – A Hokage explicou com calma desta vez. Precisava manter-se serena se fosse lidar com aquela crise.
- Impossível! – O Tsuchikage rebateu relutante. – Acabamos de receber informações de todas as dezenas de unidades que mandamos para observá-lo, ele continua na caverna ao norte do País do Som.
Tsunade calou-se por alguns segundos tentando fazer sentido da situação até que, finalmente, falou:
- E vocês realmente acreditaram nisso? – Ela perguntou de forma retórica tentando não soar tão debochada. – Depois de todo esse tempo que estamos brincando de gato e rato, vocês verdadeiramente acreditaram que ele seria tão fácil de encontrar? E que ele se manteve absolutamente inerte todo esse tempo naquela caverna?
Um silêncio desconfortável pairou no ar enquanto todos os presentes se entreolhavam. Realmente, não fazia sentido algum tal descoberta. Os Guardiões tinham ido a outras dimensões para acharem respostas que nem mesmo os Deuses foram capazes de resolver.
- Apenas uma distração. – Tsunade voltou a falar enquanto organizava em sua mente um plano para proteger os cidadãos. – Kakashi, Gai e Kurenai. Preciso que evacuem toda a cidade imediatamente. – A Hokage ordenou fazendo com que os mesmos saíssem rapidamente. Cada segundo era crucial naquele instante.
***
Sakura já estava completamente recuperada quando se aproximava do refeitório. Ela conseguia sentir: a realidade se desfazendo diante dos seus olhos. O medo flutuando por toda a atmosfera. Caos se espalhando sorrateiramente.
A rosada caminhava resoluta até o ponto de encontro quando se deparou com Sasuke no meio do caminho, próximo ao refeitório. Ele parecia ter vontade de entrar – as duas mãos estavam encostadas na porta – contudo, incapaz de realizar o ato.
- O que você pensa que está fazendo? – Ela perguntou apressada enquanto ele lentamente virara a cabeça para encará-la.
Os orbes ônix geralmente tão misteriosas carregavam um novo sofrimento. Culpa.
- Sakura... – Ele ia começar a dizer quando reparou no sangue escorrendo em seu corpo. – Pelos Deuses! O que aconteceu com você? – E ela percebeu a culpa e o remorso se alargando em seu rosto. Ele sentia-se mal pelo que tinha feito a ela e para ser sincera, a mesma quase nem se lembrara do fato. Muita coisa já tinha ocorrido e o que tinha acontecido na floresta sequer era culpa do Uchiha.
Ela se colocou em situação de fragilidade. Ela permitiu que ele adentrasse a sua vida. Em consequência, a Haruno tornara-se desatenta, vulnerável.
- Isso não é importante agora! Não é hora de entrar em culpa eterna. Temos problemas muito maiores para resolver. – Ela respondeu apressada esperando que ele compreendesse logo a gravidade da situação. Eles não tinham tempo para histórias açucaradas de romance. O mundo literalmente estava em suas mãos.
- Do que você está falando? – O Uchiha questionou enquanto a seguia até o refeitório.
- Nós literalmente... – Sakura parou de falar e caminhar subitamente quando sentiu algo gelado atingir o seu rosto.
- Que porra é essa? – Sasuke perguntou de forma retórica quando percebeu neve caindo ao seu redor ao mesmo tempo que a manhã se iniciava e o sol começava a aparecer no horizonte. – Por que diabos está nevando?
Os dois se calaram por alguns instantes apenas observando os flocos brancos caindo aos montes no chão formando uma espessa camada rapidamente. O tempo que a rosada levou para perceber fora rápido, mas não o suficiente. Ela olhou para Sasuke, que mantinha as sobrancelhas arqueadas, e olhava ao redor como se tentasse provar que o que estava acontecendo era realidade. Ele ainda estava alheio ao que estava por vir.
Finalmente, seus olhares se encontraram. Fora esse tempo em segundos o suficiente para que tudo desmoronasse.
- Droga! – Foi a única coisa que Sakura conseguiu dizer antes de ser lançada no ar indo parar dentro do refeitório, em sua extremidade mais distante.
Todos se calaram sem entender o que estava acontecendo. Uma camada de poeira fora lançada ao ar com o impacto impedindo que as pessoas vissem o que tinha acabado de ocorrer. O único som dentro do recinto era de pedaços da parede desmoronando.
De repente, uma figura alta e imponente aparecera entre o espaço que tinha sido feito com o corpo de Sakura. Ele era majestoso, esta era a única forma de descrevê-lo. Longos cabelos prateados pairavam no ar e balançavam com o vento emoldurando sua figura pálida e esguia. Seu olhar, no entanto, era perverso. Os orbes esverdeados eram tão claros que pareciam, por vezes, cinza, todavia traziam perversidade inenarrável.
- Ah! Como eu senti saudades irmãzinha. – Ele disse adentrando o refeitório. A armadura prateada com detalhes dourados ricocheteava por todo o ambiente tornando-o o ponto de atenção.
- Não posso dizer o mesmo. – Sakura respondeu irritada saindo da parede como se simplesmente tivesse apenas levado um arranhão. A sua típica armadura e a espada flamejante estavam em mãos e quando se olhava bem atentamente tanto as duas armaduras eram extremamente semelhantes. Ela já havia compreendido o que estava acontecendo. O ataque com Madre não passara de uma mera distração para rosada; para que não percebesse seu irmão chegar.
Havia, no entanto, algo diferente na Haruno. Como se algo dentro dela estivesse prestes a explodir. Ela estava mais raivosa, parecia, até mesmo, mais sanguinária.
- Finalmente, o grande dia chegou. – Ele disse alargando seu sorriso sádico. A voz melódica espalhando-se por todo o recinto. – O fim dos tempos, enfim, começou. Assim como o prometido.
- Isso é o que vamos ver. – Ela afirmou indo em direção ao irmão tão rapidamente que olhos mundanos jamais seriam capazes de perceber. Ouviu-se um estrondo alto, de alguém colidindo intensamente contra algo.
O que se seguiu foram os gritos vindo do centro da vila. As criaturas emergindo de escuridão do chão. O ataque a Sakura e Tsunade havia sido apenas a preparação. O verdadeiro exército estava chegando trazendo consigo a essência do Caos.
O Apocalipse havia começado.
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