Sasuke sentou-se ao lado de Ino respirando profundamente. Talvez, pelo menos ele imaginava, nunca estivera tão cansado quanto naquele momento. O cansaço, no entanto, não advinha simplesmente da noite atribulada, mas de algo muito mais profundo.
Ino dormia, assim como seu pai, enquanto o mundo afora entrava em caos. Aquela criatura, o samurai feito em pedra, tinha sido apenas a cereja no bolo de tudo o que estava acontecendo. O pensamento de que as coisas iriam sair do controle, que grandes mudanças chegavam o aterrorizavam por dentro. Ou melhor, o pensamento de que as coisas já tinham se modificado e que ele nada podia fazer a respeito.
E tudo começava com ela.
Por mais que tentasse, seu pensamento sempre voltava a Sakura e assim que o fazia um misto de raiva e admiração tomavam conta de seu corpo de forma incontrolável.
- Eu vou atrás dela. – Naruto tinha dito alguns minutos antes. – Vá até o hospital e fique com Ino. Tinham chegado a um acordo silencioso de que um precisaria ficar e o outro partir.
O amigo tinha dito antes de partir em busca, novamente, de Sakura. Não tinha ideia se Naruto sabia o que estava fazendo, mas decidiu confiar nele. Dar esse voto de confiança, que aliás, tinha sido dado muito tempo atrás para ser mais sincero.
Sabia, simplesmente, que aquilo precisava ser feito. Todas as dores que Naruto sentira por anos tinham voltado à tona e aquele era o momento de cessar todas as pendências passadas. Naquele instante, Sasuke apenas faria o que precisava.
Sasuke apenas tinha noção do que estava acontecendo na vila. As pessoas infladas pelo medo, como nunca imaginado antes, em uma época que seria simplesmente de boas celebrações. Agora, teria que confiar no poder de organização e contenção de todos os Kages. Mas mais do que isso, precisaria mostrar-se forte para aquelas pessoas. Afinal, eram a esperança para eles. Eram o que existia de mais sagrado no mundo para aquele povo, ainda que não acreditasse plenamente nisso.
No fundo, esperava que aquilo fosse suficiente. Esperava que o título e o poder que vinha com ele fossem suficientes para acabar com aquela crise. Contudo, também tinha conhecimento de que não seria tão fácil assim.
Vagarosamente, Ino abriu os olhos tomando noção do mundo. Desnorteada olhava para os lados a procura de algo e finalmente seus olhos se encontraram os orbes negras fazendo com que se acalmasse. Ela não estava tão pálida quanto antes, porém certa fraqueza era esboçada em seu rosto e corpo.
Por um instante, Sasuke lembrou-se daquela cena. Quando Kimimaro perfurou o peito de Ino e o sangue jorrava incontrolavelmente, quando a vida escorria rapidamente justamente dela que representava a vida em si. Ao encarar finalmente os olhos azuis da Yamanaka o alívio atingiu o seu corpo. De fato, ela tinha morrido em frente aos seus olhos, mas também estava ao seu lado.
- Ei... – Ela começou a dizer sentando-se na cama. Olhou para os lados mais uma vez. – Onde está todo mundo? – Perguntou firme com meio sorriso no rosto.
- Estão na vila. – Sasuke respondeu aproximando-se. – Um grande problema apareceu.
Assim que disse tais palavras, compreensão passou pelo rosto de Ino. Ela, de alguma maneira, sabia o que estava acontecendo.
- Como... Você está? – O moreno perguntou pigarreando e ainda um pouco hesitante ao falar. Não era tão bom com esse aspecto sentimental. Ainda mais tratando-se de Ino. Apesar de serem amigos, nada apagaria as marcas do antigo relacionamento que tiveram.
- Bem... Na medida do possível. – Ino respondeu alargando o seu sorriso. Apesar da expressão, Sasuke reconhecia certo desconforto em sua voz. – Foi um longo dia. – A loira disse olhando para o pai que dormia com uma expressão séria.
Ino fez menção que ia se levantar, mas parou imediatamente deitando sua cabeça no travesseiro e encarando o teto. Ela desviou o olhar para Sasuke que a encarava com o semblante taciturno típico e deu um leve sorriso.
- Não precisa se preocupar.
Sasuke arqueou a sobrancelha e com o olhar cheio de dúvida e como se lesse seus pensamentos ela finalizou:
- Você pode confiar nela.
Demorou alguns segundos para que ele entendesse a que ela se referia realmente, mas logo fez sentido.
- Como você pode ter certeza? – O Uchiha perguntou investido nas palavras da Yamanaka.
- Porque algumas coisas na vida são assim. – Ela disse com um balançar de ombros. – Você não tem a resposta precisa, simplesmente sente em cada fibra do seu corpo.
***
Assim que abriram a porta do refeitório todos os olhares se direcionaram aos dois.
Havia no ar aquele senso de expectativa, cada vez que alguém abria a porta o refeitório inteiro, de maneira inconsciente, virava-se para olhar simplesmente aguardando, torcendo para ser o motivo central de todas as fofocas que permeavam a vila de Konoha.
Agora, de fato, eram os dois.
Com todas aquelas pessoas os olhando, Naruto e Sakura se entreolharam para garantir que não havia nada errado com os dois. De qualquer forma, a Haruno esperava que as reações das pessoas fossem aquelas afinal até um dia atrás ela era considerada morta.
A dupla parou de se encarar e voltou a caminhar ignorando as pessoas e os murmúrios que aumentavam com o passar dos segundos. O refeitório era um local grande e espaçoso com dois andares para garantir o acolhimento de qualquer cidadão de Konoha ou não e mesmo assim parecia abarrotado de pessoas.
Talvez tenha sido um dos maiores festivais da história, considerando a quantidade de pessoas diversas reunidas. Uma pena que tenha sido o mais fracassado até agora.
Sakura olhou de soslaio para Naruto enquanto subiam as escadas até a mesa reservada a ele e seus companheiros. O loiro portava um semblante sério, muito diferente do seu comum, e isso a preocupava cada vez mais. Desde que tinha contado os supostos planos de Orochimaru a ele, a dúvida cerceava seus olhos constantemente.
- Naruto... – Sakura o chamou baixo enquanto segurava um de seus braços para que ele não fosse muito longe.
Os dois pararam no topo da escada, com certeza atraindo mais atenção. Todavia, nenhum deles se abalava muito com isso. Havia assuntos mais urgentes a serem tratados do que o simples interesse do público.
- Você está bem? – Sakura perguntou genuinamente preocupada. Apesar de ter ficado longe mais de uma década, ela lembrava-se muito bem que o loiro raramente se abalava com as coisas ao seu redor. Ele simplesmente resolvia os problemas, sem pensar muito.
Mas algo havia o perturbado profundamente. Sakura não sabia exatamente o que era, contudo conseguia ver em seus olhos azuis um medo pulsante.
- Claro. – Ele respondeu tentando soar o mais normal possível. Para algumas pessoas isso teria funcionado, mas não para Sakura. Ela enxergava além de meras palavras.
- Eu preciso que você fique bem! – A rosada disse enfaticamente aproximando-se ainda mais do loiro para que apenas os dois pudessem ouvir um ao outro. – Coisas ruins estão vindo e eu preciso saber se posso contar com você.
E pela primeira vez, Sakura viu dúvida nos olhos do antigo amigo. Talvez ele não estivesse preparado para o que estava vindo, talvez ninguém ali estivesse preparado. Porém, eles precisariam se posicionar e tomar a linha de frente porque independente de seus medos ou inseguranças o futuro iria acontecer.
Naruto estava prestes a responder quando Lee surgiu do lado dos dois interrompendo a conversa.
- Sakura-chan! – O rapaz falou no seu tom animado usual. De todas as pessoas sabia que Lee estava genuinamente feliz em revê-la e mesmo que não pudesse Sakura sentiu gratidão.
- Oi... – Ela disse dando uma última olhada para Naruto e depois voltando sua atenção ao outro rapaz. – Lee!
- Eu não acredito que você está aqui! – Disse com genuína empolgação.
- Ninguém acredita... – Sai disse basicamente se materializando ao lado do ‘sobrancelhudo’. – Afinal, todos achavam que você estava morta.
- Sai, para com isso... – Naruto interveio parecendo sair de um estado catatônico.
- Qual o problema Naruto? – O rapaz perguntou adicionando um certo tom de inocência a sua fala. – É apenas a verdade.
- E como eu disse para você, eu nunca falei que estava morta. – Sakura disse mantendo a maior calma possível. Ao longo dos anos tinha lidado com coisas muito piores do que um rapaz irritado porque as coisas não estavam saindo do jeito que ele havia planejado. – Vocês simplesmente me deram um atestado de óbito quando eu não apareci na vila.
- E onde você estava então? – Sai perguntou mais uma vez com naturalidade. Ele definitivamente estava muito interessado na volta de Sakura, mesmo que não admitisse.
- Isso não é da sua conta. – Sakura respondeu e não deixava de ser verdade, a vida dela não era assunto dele.
- Já chega! – Naruto basicamente rosnou encerrando o “bate papo” dos dois. – Foi uma longa noite e tudo o que eu quero fazer é comer um bom lamem. – O loiro completou com uma ferocidade incomum.
- Naruto-kun está certo! – Lee complementou tentando acalmar os ânimos. – Esse deveria ser um dia de celebração, mesmo com todas as coisas que aconteceram. – Ele finalizou com um tom sombrio e logo voltando ao seu estado natural.
- Eu acho que vou checar como a Ino está... – Sakura disse tentando se esquivar do fatídico momento em que teria que conhecer todos os Guardiões, ou melhor, se reapresentar a eles. Mesmo que precisasse e devesse, essa era a parte do trabalho que ela não gostava.
- Não seja boba! – Lee falou agarrando a mão dela antes que pudesse voltar a descer as escadas. – Ela está bem e o Sasuke está cuidando dela. Você tem que conhecer todo mundo, eles estão super empolgados para falarem com você! – Falou enquanto a arrastava para a mesa em que todos os Guardiões se sentavam.
- Aposto que estão... – Sakura disse quase sussurrando enquanto deixava ser arrastada por Rock Lee. Bem, se uma hora ou outra teria que fazê-lo, então que fosse naquele instante.
Olhou rapidamente para o local em que se sentavam todos os Kages, espécies tronos modernos configuravam os assentos das cinco pessoas mais poderosas, pelo menos politicamente, de toda a Nação. Nenhum deles se encontrava presente.
Não podia deixar de notar que as atenções sempre voltavam a ela. Se eles soubessem que ela conseguia ouvi-los, se eles soubessem o que ela poderia fazer a eles... Ninguém estaria falando tão despreocupadamente. Mas até o momento, manteria a fachada de “garota comum”. Não poderia se revelar, não naquele momento. Talvez, nunca.
***
- O que eu quero dizer é que tudo isso é muito suspeito. – A Mizukage disse pela milésima vez desde que tinham se sentado naquela mesa.
Estavam todos os Kages, e alguns de seus subordinados mais confiáveis, no prédio da administração da vila. Mais especificamente na sala de reuniões. Os Kages sentavam-se na mesa redonda enquanto os outros presentes mantinham-se de pé, apenas atentos a cada palavra que os líderes emitiam.
- Eu entendo o que quer dizer... – Tsunade retrucou apoiando os dois cotovelos na mesa e cruzando as mãos em frente ao rosto em um movimento que poderia ser entendido como autodefesa.
Depois de todos os eventos, todos os Kages decidiram fazer uma reunião de emergência não apenas para discutir o futuro do festival como também discutir a recente insurgência de Orochimaru e seus ataques.
Contudo, naquele instante estavam discutindo outro assunto: Sakura.
Nenhum dos quatro Kages comprava a ideia de que a garota simplesmente havia reaparecido em um momento tão oportuno. Alguns deles, Tsunade desconfiava, acreditavam que ela estava de conluio com o Mestre das Cobras.
- Pela última vez, Sakura não tem relação com o que está acontecendo. – A Hokage enfatizou novamente. – Eu praticamente criei aquela garota e ela não seria capaz de tal coisa.
- Há rumores pela vila que ela havia sido declarada como morta. – O Raikage falou recostando-se na cadeira. – E mesmo que tenha desaparecido ou fugido ninguém sabe o que ela estava fazendo durante todo esse tempo.
Tsunade fez menção de que iria contra argumentar, mas calou-se imediatamente. Porque não havia o que ser feito contra fatos e a verdade era que, realmente, a loira não sabia o que Sakura estivera fazendo durante todos aqueles anos.
Lembrava-se da garota inocente de cabelos rosas que mal conseguia ir para a escola sem sofrer ataques ou agressões, da menina que sonhava em ser uma médica no mundo humano, da criança que perguntava insistentemente quem eram os seus pais mesmo que não houvesse resposta certa.
De repente, um sentimento de culpa perpassou por Tsunade. Por ter deixado que tudo aquilo acontecesse, por ter abandonado uma garota quando tudo o que ela pedia era carinho e compaixão. Não havia um dia, desde seu desaparecimento, que ela não havia se amaldiçoado por suas ações passada e agora com sua volta aquela verdadeira avalanche de sentimentos a preenchia.
Contudo, a Hokage também tinha visto o poder da jovem Haruno. A maneira como ela simplesmente pareceu ter se materializado no campo de batalha ou como foi fácil acabar com a vida de Kimimaro e, principalmente, em sua habilidade de trazer alguém de volta a vida. Aquela extensão de poderes... Nem mesmo os seletos Guardiões possuíam.
Onde e como ela tinha conseguido aqueles poderes e habilidades Tsunade não tinha certeza. Ainda assim, algo dentro dela se remexia incansavelmente dizendo que Sakura não era um inimigo e sim o mais valioso dos aliados.
Mesmo que não houvesse como comprovar.
- Eu compreendo os argumentos da Mizukage. – O Tsuchikage interveio voltando as atenções para si. – Ninguém estava preparado para esse tipo de acontecimento e é nosso dever garantir a proteção de nosso povo e nação, mesmo que você confie cegamente na garota Tsunade.
- O sensato neste momento é garantir a continuação do Festival. – Rasa, o Kazekage, disse enquanto cruzava os braços contra o povo. – Garantir as pessoas que estamos lidando com essa crise. Colocar nossos protetores como a face da solução dos problemas.
- O Kazekage tem razão. – O Tsuchikage reiterou. – Em momentos de crise saber da existência e do poder dos Doze Guardiões foi essencial para a manutenção da estabilidade em todos os territórios.
- E o que sugerem? – A Hokage perguntou.
- Bem, como os eventos desse ano foram atípicos... Acho que no Torneio dos Campeões quem deve competir são os nossos mais primorosos guerreiros.
- Isso é completamente contra as regras e tradição! – Tsunade interveio indignada, ciente dos caminhos que levavam aos pensamentos do velho Tsuchikage.
- Como eu disse: nada está normal esse ano.
- Onoki está certo. – O Raikage concordou com um semblante austero. – Nada mais impactante do que ver os nossos guerreiros em ação.
- Isso seria completamente injusto com quem quer que competisse com eles. – Tsunade tentou intervir mais uma vez.
- Por isso mesmo. – O Tsuchikage falou. – Nada melhor para a autoestima de alguém.
- Eu não compreendo como isso vai nos ajudar com alguma coisa, especialmente contra Orochimaru. – Desta vez a palavra não estava com os Kages e sim com Kakashi.
- Isso é apenas uma manobra para aliviar a tensão entre a população. – A Mizukage explicou. – O medo faz as pessoas cometerem atos de impulso e em um momento de guerra iminente isso nunca é bom.
- Mas se a ameaça de Orochimaru é grande não deveríamos usar os Guardiões como forma de enfrenta-lo? – Kakashi perguntou mais uma vez enquanto olhava de soslaio para a sua Hokage. Ele entendia as preocupações da loira.
- Não se esqueça Kakashi... – Onoki voltou a tomar a palavra. – Que nossos Guardiões nunca estiveram realmente em uma guerra, eles não sabem o peso desta palavra. Nós vamos fazer isso não apenas em função do nosso povo, como deles. Eles precisam acreditar que são os guerreiros invencíveis que nasceram para ser.
Um silêncio monstruoso se abateu sobre o recinto enquanto o Tsuchikage dava suas últimas palavras.
- Então está resolvido. – A Mizukage falou quebrando o silêncio. – Enquanto isso, o que vamos fazer sobre a garota? – A ruiva voltou a perguntar enquanto olhava discretamente para Tsunade que parecia enfurecida com tudo aquilo. Terumi entendia as preocupações da loira quanto a sua antiga “filha”, mas não poderia permitir que nada mais saísse do controle.
- Vamos trazê-la para interrogatório. – O Kazekage afirmou e nada mais foi dito. Aquela reunião tinha sido dada por encerrada e Tsunade nunca tinha desejado uma garrafa de saquê como naquele momento.
***
- Então... Onde você esteve todos esses anos? – Neji perguntou quebrando o clima estranho que havia se instaurado desde que Sakura tinha se sentado naquela mesa. Os olhares insistentes das pessoas ao seu redor e suas fofocas incansáveis não ajudavam muito.
Ela sabia que teria que responder aquela pergunta mais de uma vez, mesmo que tentasse se esquivar.
- Por aí... – Começou a dizer bem ciente de que uma resposta vaga como aquela não a ajudaria em nada. – Morei a maior parte do tempo no Japão trabalhando como médica.
- Espera... Você trabalhou como médica? – Naruto perguntou com metade do lamem na boca. Ele tinha formulado aquele plano de que iria ajuda-la, mas as palavras simplesmente saíram da sua boca quando ela mencionou aquele fato. Iria tentar livrá-la daquele interrogatório, posteriormente.
- Sim. – Respondeu como se fosse extremamente óbvio arqueando as sobrancelhas para a atitude de Naruto.
E ela não estava mentindo. De fato ela tinha atuado como médica em alguns hospitais do Japão, embora suas habilidades médicas envolvessem um toque ligeiramente mágico, e ela possuía até mesmo um apartamento em Tóquio. Mas seu treinamento tinha sido muito mais longo e em regiões que nem mesmo ela conseguiria descrever. Discorrer sobre o que ela tinha feito naqueles últimos anos era mais complicado do que se poderia imaginar.
- No mundo humano? – Hyuuga Hinata perguntou com uma espécie de fascínio e choque.
- Onde mais poderia ser? – Sakura respondeu percebendo logo em seguida que tinha soado mais rude do que o necessário. Outra verdade era que voltar ao convívio daquelas pessoas, soar como um ser normal era mais complicado ainda. – Desculpa. Sim, foi no mundo humano.
- Por que? – Sai perguntou inclinando-se na direção de Sakura. – Por que fugir para aquele lugar horrível?
- Bem, não era como se eu fosse tratada às mil maravilhas por aqui. – Sakura respondeu com certo desprezo. – Lá, pelo menos, eu não era maltratada.
E mais uma vez o silêncio se instaurou na mesa. Porque se eles procuravam verdades, aquela era a maior que conseguiriam achar.
- Foi mal. – Shikamaru interveio com seu jeito calmo. – Não devíamos fazer tantas perguntas... Não agora que você acabou de voltar.
Sakura olhou diretamente para os olhos do Nara confirmando que, de todos, ele era o que mais gostaria de perguntar, entender toda aquela situação. Mas ele tinha decência o suficiente de não fazê-lo. Isso e ele sabia que ela mentia descaradamente.
- E por que você voltou? – Sai voltou a perguntar ignorando as palavras de Shikamaru. O rapaz parecia particularmente implicante com a rosada. Talvez fosse apenas o jeito dele, porém ela desconfiava que havia algo mais. Também não se recordava muito dele para fazer essa afirmação.
- Saudades. – Respondeu com ironia gritante enquanto recostava-se na cadeira.
- De qualquer forma... – Lee interrompeu o fuzilamento pelo olhar de Sakura e Sai. – Estou feliz que você está de volta! – O garoto era tão genuíno que doía.
- Obrigada. – Sakura agradeceu sendo verdadeira.
Ela estava prestes a dizer mais alguma coisa quando tudo ficou estático. A conversa cessou e todas as pessoas ficaram paradas como se o tempo tivesse sido congelado e apenas ela tivesse sobrado.
A princípio ela achou que Naruto havia feito aquilo, mas a energia que emanava do refeitório era diferente. E ao olhar para o loiro ele também havia sido pego naquela espécie de feitiço do tempo.
O portal se materializou tão perto de Sakura que ela achou que iria ser sugada direto para ele. Aquela explosão de energia amorfa azul e lilás tomava cada vez mais contraste finalmente revelando a figura de alguém.
Ele estava com a típica roupa de batalha e com o capacete ainda na cabeça. Sakura apenas revirou os olhos pela entrada teatral e levantou-se para encará-lo.
- O que você quer? – A rosada perguntou impaciente. Tinha muito com o que lidar ainda e não queria adicionar mais nada a sua lista.
- Que tipo de tratamento é esse? – Ele falou retirando o seu capacete prateado mostrando o largo sorriso que ele portava. – Não é assim que você deve falar com seu irmão.
- Corta essa palhaçada. – Sakura respondeu ainda mais irritada. Não gostava quando um de seus irmãos a visitavam, especialmente naquela realidade. Eles eram um mau sinal em qualquer realidade possível.
- Não seja tão grossa irmãzinha. – Ele disse aproximando-se e lhe dando um beijo na bochecha que Sakura fez questão de limpar imediatamente expressando seu nojo. Seus irmãos eram bons em batalhas, em todo o resto Sakura preferia nem olhar para a cara deles.
- O que você quer? – Ela perguntou novamente enquanto ele ria da própria ironia. – Não está vendo que eu estou no meio de um negócio... – Disse enquanto gesticulava para a mesa que estava sentada.
- Ah... Isso. – Falou com um desprezo latente enquanto olhava ao seu redor. – É o que eu sempre digo, a sua convivência com esse mundo a estragou. Você poderia alcançar coisas tão maiores do que isso.
Sakura apenas revirou os olhos em resposta. Ele sempre vinha com aquela história.
- De qualquer forma... – Ele voltou a falar com aquela arrogância cordial de sempre. – Eu vim para alertá-la.
- Sobre o que?
- Seu queridíssimo chefe pediu para avisar que o seu Selo está desfazendo e é preciso que alguém te marque novamente. – Respondeu com uma empolgação sádica, afinal a rosada já sabia o que isso queria dizer. – Como você bem sabe irmãzinha... O efeito dessa dimensão em você é muito grande, maior do que a média. E não queremos você perdendo o controle como da última vez, queremos?
- Não, não queremos. – Ela respondeu cerrando os punhos tentando conter a raiva. - E eu suponho que esse alguém seja você.
- Se você me der essa honra! – Disse ainda mais empolgado com a possibilidade de marcá-la novamente. Ele tinha razão, o Selo se desfazia muito mais rápido na realidade em que se encontrava, especialmente depois dela usar seus poderes.
- Eu prometo que este vai ser mais... Permanente. – Falou retirando os longos cabelos rosas das costas dela enquanto lentamente passava as mãos pela pele branca do seu pescoço. Sakura odiava seu toque profundamente e ele sabia disso.
Então, ela rapidamente tirou a blusa deixando a mostra suas costas nuas. O Selo ainda estava lá, mas estava desbotado. Mais do que tinha ficado em todos os anos de sua existência.
Seu irmão passou lentamente as mãos pelo símbolo fazendo com que ela arquejasse em raiva.
- Anda logo. – Sakura disse tentando evitar que aquilo se prolongasse por mais tempo do que o necessário. Embora o tempo estivesse literalmente parado.
- Não se apresse irmãzinha. Até parece que você gosta de sentir dor.
- Eu só não quero... – Ela ia continuar quando sentiu a fincada dos dedos de seu irmão em suas costas e a dor que se seguiu através dele. Aquele Selo, aquela marca não era algo fácil de se colocar no copo de alguém, nem mesmo alguém como Sakura.
Os dedos dele pareciam penetrar a sua alma e irradiavam para cada célula de seu corpo. Sakura soltou um grito profundo enquanto caía de joelhos tentando recuperar o ar. Ela raramente sentia qualquer tipo de dor, mas aquilo era uma coisa completamente diferente. Algo tão antigo e poderoso que ia além de meras palavras.
Algo sombrio que a mantinha longe da sua própria loucura.
O Selo da Morte, era seu nome.
Seu irmão retirou os dedos ensanguentados de sua coluna e de maneira sádica os lambia. Sakura não aguentou e caiu ao chão recuperando o ar que lhe faltava. As costas sangravam e vagarosamente o símbolo tomava cor novamente. Aquele intricado de linhas que formavam uma flor e uma mandala, tão lindo e ao mesmo tempo tão perverso.
- Viu? – Ele disse agachando-se para sussurrar no ouvido dela. –Não foi tão ruim. – Completou com seu típico sorriso sádico estampado no rosto.
- Já terminou o serviço... – Ela disse se levantando e voltando a vestir a blusa. – Agora vai embora.
- Nossa irmã! - Voltou a falar fingindo estar em choque - Eu não entendo porque me trata tão mal. Nos vemos em breve...– Disse voltando a colocar o capacete com sua típica empáfia e abrindo novamente o portal.
Tão logo chegou seu irmão se foi.
Poderia odiá-lo por fazer aquilo, a verdade era que ela tinha escolhido aquela realidade. Ela tinha decidido ajudar Ino em primeiro lugar desencadeando aqueles eventos todos. De fato, era o sacrifício que ela tinha escolhido e teria que aturá-lo até o fim daquela jornada.
Poderia culpar seu irmão por outras coisas.
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