História Bilhetes Na Geladeira - Chanyeol estava decidido!

Chanyeol passou a manhã toda no parque com as crianças, as meninas sentiam-se livres, sem a gritaria dos pais e se divertiam com os pássaros que buscavam pedaços de biscoito em suas mãozinhas. 

— Chan, você tem mesmo certeza do que está fazendo? — Maria estava preocupada com o patrão que olhava perdido as filhas se divertindo. 

— Eu tô cansado desse egoísmo dele, Maria. Poxa, nós tivemos três filhas, quase uma atrás da outra. Eu estava quase no final da faculdade quando engravidei dele e mesmo assim fui até o fim e conclui. 

Baekhyun e Chanyeol se casaram cedo, logo após completarem dezoito anos. Os pais tinham medo de que Chanyeol engravidasse antes de completar o ensino médio, contudo, mesmo com o casamento precoce, só tiveram os filhos após cinco anos de casados. Ele acabou perdendo a mãe pouco antes de se casar, seu maior sonho, era vê-la com as pequenas no colo, mas aquilo se tornou um sonho impossível, mesmo sabendo que a mãe o guiava de onde estava. 

Baekhyun tinha um ótimo emprego, era muito bom no que fazia, mas Chanyeol também era e de fato, ganhava muito bem, inclusive para se sustentar sozinho, longe das grosserias do marido. 

A situação do casal estava passando de todos os limites e ele já não sabia qual seria a melhor solução para resolver tudo, se não o divórcio. 

— Eu sei, trabalho com vocês há seis anos, desde que a Dada nasceu. O senhor Baek sempre foi assim, sempre trabalhou muito para cuidar de você e das meninas. 

— Mas eu também sempre trabalhei muito, Maria. Você sabe disso. 

— Claro que sim. Vocês se amam, eu sei que se amam. Tentem dialogar mais, resolver as coisas sem brigar pelo menos perto delas. Essa semana, a Dada me perguntou porque vocês brigam tanto. 

Aquilo caiu como uma farpa no coração de Chanyeol. Saber que a filha estava sofrendo o deixava péssimo, todavia, não era apenas culpa dele. Baekhyun tinha muito o que mudar também. 

— Eu não sei o que vou fazer. Vou conversar com o doutor Minseok sobre isso e saber qual a melhor solução. 

— Faça o que for melhor para a família. Você não está sozinho, o senhor Baek não está sozinho. Vocês têm três filhas lindas que precisam dos dois, mas no meio dessa confusão toda, elas sofrem muito mais do que imaginam. 

Maria tinha toda razão, quem mais sofria com toda a confusão entre eles, eram as crianças que não entendiam nada. 

— Eu preciso pensar no que fazer. 

Chanyeol pensaria bastante. 

Ficaram por mais um tempo no parque. O rapaz avisou ao seu supervisor que não estava bem mentalmente para trabalhar naquele dia e foi dispensado sem que houvesse problemas ou risco para seu emprego. No fim do dia eles voltaram para casa, as crianças estavam exaustas, Maria ajudou com o banho, com a comida e o sono, colocando cada uma em sua cama e Momo em seu berço. 

— Tome um banho, deite-se um pouco e descanse. Não se preocupe com elas, vou ficar aqui. 

Chanyeol abraçou a empregada e por pouco não chorou. 

— Você é como uma mãe pra mim, Maria. Muito obrigada por cuidar das minhas meninas e de mim também. 

— E eu cuidarei de vocês sempre, meu amor. Agora vá dormir um pouco. A Momo não te deixou dormir noite passada. 

Sorriram um para o outro e o garoto foi para o quarto. Ao abrir a porta, ele viu o marido na varanda tomando um suco observando as nuvens que andavam vagarosamente no céu nublado. Percebendo que o marido havia entrado, Baekhyun o olhou sem dizer uma única palavra, deixando o ambiente em completo silêncio. Eles não esboçaram qualquer reação então, Chanyeol pegou seu roupão e foi para o banheiro. 

Chanyeol estava decidido. Queria o divórcio de qualquer maneira, já não aguentava mais o descaso de Baekhyun que não fazia o mínimo esforço para consertar o que estava se quebrando. Decidiu arrumar o quarto de hóspedes para que não dormissem na mesma cama. Não queria mais viver ao lado de alguém que não o ajudava, não o apoiava nem mesmo na educação das filhas e, até que criasse coragem o suficiente para conversar com o seu advogado, Chanyeol decidiu optar pelo silêncio enquanto estivesse em casa, na presença do marido. 

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Bilhetes espalhados por todo canto. 

Era algo que Chanyeol estava acostumado a fazer na época da sua adolescência, quando queria surpreender o namorado. Na escola, deixava bilhetes sobre sua mesa, no armário, ou dentro da mochila de Baekhyun, que sentia seu coração palpitar com cada "eu te amo" vindo do garoto mais bonito da escola. 

Chanyeol era um belo pedaço de mal caminho. Muitos não tinham uma queda, mas um penhasco pelo grandão que adorava ficar no refeitório ou na arquibancada da quadra de vôlei cantando com os amigos de classe. Arrancou muitos suspiros com a sua voz potente e impecável, inclusive de Baekhyun, por quem tinha uma paixão correspondida desde cedo. 

"Seu jantar está no micro-ondas. Estou no play com as meninas." 

Avisou através de um bilhete preso à porta da geladeira, Baekhyun estava trabalhando em modo híbrido na empresa, ia à cada dois dias e voltava ao final da tarde para não precisar mais ouvir a gritaria das filhas enquanto estivesse em alguma reunião. 

Baekhyun chegou em casa por volta das quatro horas da tarde, estava tudo silencioso, então imaginou que o marido estava no escritório trabalhando e as filhas no quarto brincando com a babá, porém, o abismo que existia entre o casal impossibilitou Baekhyun de saber que Chanyeol havia trocado seu horário de trabalho para quando o marido não estivesse em casa. Ele trabalhava na parte da manhã enquanto as pequenas bagunceiras ainda dormiam. 

Foi até o escritório e não encontrou o marido, então foi até a cozinha e viu o bilhete na geladeira, concluindo que aquele abismo só aumentava cada vez mais. Desistiu do jantar, indo para o banheiro tomar banho. Sabe-se lá o que passava em sua cabeça, mas sabia que as coisas tenderiam a piorar. 

Chanyeol entrou com as crianças por volta das cinco e meia da tarde, em meio às risadas das gracinhas de Naeyon, a palhacinha da família. Tirou Momo do carrinho levando as três para o quarto com a ajuda de Maria, que foi até o banheiro preparar o banho das pequenas. 

Dahyun correu até o quarto dos pais, vendo Baekhyun deitado na cama enquanto assistia TV, sorriu para o pai e subiu na poltrona. 

— Papai, por que você não pode levar a gente no parquinho? Só o papai Yeol que leva. 

Baekhyun sentiu a garganta apertar, sabia que era negligente com as filhas e com o marido. Ele já não fazia mais tanta questão do casamento, mas as crianças não tinham nada a ver com a vida ruim dos pais. Por que tinham que pagar pelos erros dos outros? 

— Me desculpe, amor. O papai vai levar vocês no sábado. Tudo bem? 

— No sábado eu vou pra casa do vovô. 

Baekhyun sentiu no peito a dispensa da filha, porém, não estava nem um pouco afim de competir com o sogro, que parecia odiá-lo mais a cada dia que passava. Tinha certeza de que Chanyeol vivia reclamando com o pai sobre sua conduta em casa. Que não era presente, que estavam brigando mais do que o necessário, que não aguentava mais a vida que levava e bla, bla, bla. 

— Cadê o seu papai? 

A pequena Dahyun desceu da cama, indo correndo para fora do quarto gritando que tinha que tomar banho, deixando Baekhyun sozinho naquele lugar enorme. 

Dias e mais dias se passavam, Chanyeol não falava mais com Baekhyun, nem mesmo o necessário. Descontava tudo em bilhetes colados na geladeira e sabia que tinha algo de errado, afinal, o marido sempre tentou resolver as brigas bobas de casal, mas agora, ele não recebia sequer uma palavra de bom dia do esposo. Chanyeol havia se informado com o seu advogado sobre um possível divórcio e o doutor Minseok explicou-lhe superficialmente como tudo funcionava, a questão da guarda das crianças, pensão alimentícia e ressaltou que Baekhyun deveria pagar pensão para o marido também, contudo, Chanyeol não aceitaria. 

Era um rapaz independente, sabia se virar sozinho e o advogado disse que lhe enviaria um documento com todos os detalhes pelos correios. 

"Fui até a casa do meu pai, volto no final da tarde."

"Quando você irá fazer as compras? Momo precisa fazer a troca do leite antes que a alergia piore." 

Mais e mais bilhetes deixados na geladeira, aquilo estava fazendo Baekhyun ter um colapso. Por que que, quando Chanyeol estava em casa, não dava os recados pessoalmente? Talvez, por pura picuinha com o marido e Baekhyun já estava cansado. Só ouvia a voz do outro quando estava em reunião por videoconferência no trabalho, ou quando conversava com Maria na cozinha. Chanyeol definitivamente levou a sério o silêncio que se propôs e Baekhyun estava farto com aquela palhaçada. 

"Não tenho tempo para fazer compras. Já que você sai todos os dias, pode ir ao mercado e comprar o que precisa." 

Essa foi uma das respostas malcriadas que devolveu a um dos recados de Chanyeol que ficou possesso, todavia, não responderia à altura, já que sabia como atingir o marido no meio daquela guerra. 

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Chanyeol estava na lavanderia, colocando as roupas de cama para lavar quando sentiu a presença de Baekhyun no local. O mais velho pigarreou chamando a atenção do marido, mostrando um envelope que segurava. 

— Então, você realmente vai se divorciar de mim? 

Chanyeol virou-se rapidamente, tomando aquele envelope de suas mãos, o encarando com seriedade. 

— E desde quando você mexe nas minhas coisas sem me pedir? 

— Você está fazendo isso pelas minhas costas, Chanyeol! Eu realmente pensei que você estivesse blefando — suspirou profundamente engolindo em seco e o mais novo o encarou sem saber como conduzir aquela conversa. 

— E-eu não sei, Baekhyun. Não está mais dando certo. É melhor para nós dois e principalmente para as meninas. 

— Você acha melhor que elas cresçam longe de mim? 

A verdade era que Dahyun, Naeyon e Momo já cresciam sem a presença do outro pai, mesmo que estivesse morando debaixo do mesmo teto.

— E você acha que é melhor elas presenciarem nossas brigas o tempo todo? 

Pronto. Foi exatamente o que Baekhyun precisava para iniciar outra briga sem noção. 

— Mas que droga, Chanyeol! Você sempre vem com esse drama sem sentido, eu só te peço um pouco de paz para trabalhar. Olha a merda dessa pandemia? Lá no escritório, eles flexibilizaram os funcionários para que todos possam sair de suas casas um pouco para terem paz, sabe por quê? 

Novamente, Chanyeol sentiu aquela maldita vontade de chorar, mas esperou que o marido concluísse. 

— Por que, Baekhyun? Diga logo, por que seu chefe deixou que trabalhassem no escritório em dias alternados? 

— Desde o dia em que ele presenciou a nossa briga porque você simplesmente não dá conta da Momo. 

Sem esperar, Chanyeol sentiu seu rosto molhado pelas lágrimas que escorriam, foi o estopim para ter certeza do que queria. 

— Então realmente não há mais motivos para continuarmos casados. Minhas filhas e eu somos um estorvo em seu caminho. Peço perdão em nome das três — a voz saiu falhada e mais baixa do que o normal e Chanyeol saiu da lavanderia com a cabeça abaixada, chorando baixinho pelo caminho até chegar ao quarto. Pegou o celular, ligando para o seu advogado imediatamente. 

— Doutor Kim, eu tomei a minha decisão. Quando o senhor pode me atender em seu escritório? 

— Amanhã eu tenho dois horários vagos, às nove da manhã e às três da tarde. 

— Ok, marque às três da tarde, por favor. 

Park combinou com o advogado, sem perceber que Baekhyun estava parado na porta ouvindo a conversa. 

— Você tem certeza disso, Chanyeol? — Byun perguntou baixo, fazendo o garoto assustar-se, o advogado estava do outro lado da linha aguardando que seu cliente desligasse, contudo, Chanyeol estava olhando para Baekhyun sem conseguir dizer uma só palavra e o doutor Kim desligou, em nome da ética e dos bons costumes. 

— Baek… eu… 

Baekhyun suspirou sentindo os olhos encherem de lágrimas e ergueu a cabeça olhando para o teto tentando evitar que o marido o visse vulnerável. 

— Não precisa dizer nada. Eu sinto muito — saiu do quarto, se trancando no escritório e ali, teve a certeza de que perdeu o marido para o seu egoísmo.