[Asriel]
Sua respiração estava cada vez mais ofegante conforme avançava pela floresta. Não sabia como se lembrava do caminho, uma intuição apenas o guiava, quase como uma voz sussurando em sua cabeça. Suas pernas fraquejavam mais a cada passo que ele dava. Frisk em seu colo não contribuía muito, era um peso extra que o obrigava a se deitar na lama e desistir. Algumas coisas porém faziam com que ele se esforçasse para continuar.
A primeira era a vida da sua irmã, que estava em jogo. Ele não deixaria ela morrer por causa de uma mulher louca. Aquilo era tentativa de assassinato, Muffet deveria ser presa. Ele sempre fora contra a legalização do porte de armas. Mesmo que apenas policiais o tivessem, Asgore insistira em também ter uma caso: "alguém tentasse matar o rei e sua família para instalar o caos no nosso país ou até mesmo tentar pegar a coroa para si". Deve ter sido dali que ela pegara a arma. Seu pai não a sabia guardar muito bem, ficava na primeira gaveta de sua mesinha de cabeceira juntamente com as camisinhas.
A segunda era Chara. A menina estava enfrentando sozinha uma louca armada. Era uma luta totalmente desonesta e que não poderia resultar em boa coisa. Apesar de ter sentido algo diferente em Chara, algo que ele nunca vira antes, ainda não confiava na ex-mulher. Os tiros que ouvia ao longe e arrepiavam sua alma era uma confirmação constante disso. No momento já contara três.
E a terceira era o qual longe eles já haviam chegado. Não arriscaria perder a corrida agora que já estava na linha de chegada.
Por fim finalmente avistou Undyne. Ela estava distraída, com os olhos fechados enquanto se apoiava numa árvore. Esperava que ela já não estivesse tão cheirada ao ponto de não entender o que estava acontecendo. Ele havia a visto fumando mais cedo.
–Undyne! O médico rápido!– Grita ele usando todas as forças que lhe restavam. O ar esvaía de seus pulmões cada vez mais rápido.
Por sorte a garota abriu os olhos. Assim que olhou a cena os arregalou logo em seguida e abriu a boca em choque.
– Puta que pariu– Xinga ela colocando as mãos na cabeça e logo depois indo até a van.
A partir desse momento Asriel já estava ajoelhado no chão, o sangue de sua irmã escorria devido a chuva e manchava o chão, suas mãos e roupas. Ele quase já não via sua respiração. Esperava que ela ainda conseguisse resistir.
[Chara]
– Largue isso sua covarde. Vamos vem quem ganha de mulher para mulher. A melhor vence, não é assim que dizem?– Diz Chara ainda rondando a morena. Sua franja atrapalhava um pouco sua visão já que ela estava molhada devido a chuva e ao suor. Desviar de três balas e lutar contra uma pessoa que tem uma arma a distância era algo difícil de se ganhar.
Ainda assim Muffet não retirava o sorriso do rosto. Ela cada vez enjoava mais Chara. Achava que vomitaria assim que tudo isso acabasse.
– Eu não sou idiota. Não vou largar minha defesa para lutar com alguém de tão baixo calão como você. Iria trapacear de certeza! Me admira muito que ainda não tenha aprendido a lição e fugido. Vai acabar como sua irmã se continuar assim...
Antes mesmo que ela continuasse a falar mais alguma besteira, Chara rapidamente correu em sua direção. Muffet apertou o gatilho, porém a Dreemurr foi mais rápida e com um chute certeiro arremessou a arma que caiu a metros de distâncias de ambas.
Agora desarmada Muffet parecia como um pequeno cachorro indefeso. Ainda que mantivesse a compostura, sabia que ia perder, mas ainda assim não queria demonstrar. Seu orgulho era grande e infelizmente esse também era o efeito de sua adversária.
Sem nenhum aviso prévio, Muffet disparou na direção em que a arma caiu, ainda assim Chara deu um pulo que daria inveja até mesmo nos cangurus, fazendo com que ambas caíssem no chão. Chara estava por cima e pressiona o pescoço da menina com seu braço. Ainda assim tomava cuidado para não encostar na barriga da menina. Não queria machucar seu meio irmão ainda que a sede de vingança fosse grande. Ele não tinha culpa de nada, muito menos de sua mãe ser uma puta.
– Tudo bem, você venceu. Não me mate, eu posso ser útil para você– Diz logo a menina se mantendo rígida em baixo dela. Chara ergue uma das sombrancelhas em descrença enquanto aperta um pouco o braço no pescoço dela.
– E quem disse que eu quero algo que venha de você? Duvido que tenha algo verdadeiro dentro dessa podridão que você é.
– Porque eu sei o motivo pelo qual Asgore te odeia. Sei como ocorreu a traição e sei sobre sua família. Não acha estranho seu pai biológico ter desaparecido de repente?
Por um momento ela fraqueja, desafrouxando o aperto. Sua cabeça lateja com qualquer esforço de se lembrar dessa época. Aquilo realmente poderia ser algo interessante de se ouvir. Era muito pequena para se lembrar de algo na época e a dúvida sempre fora uma lacuna em branco na sua história de vida.
– Como vou saber que está dizendo a verdade?
– Eu te juro. Li no diário de seu pai adotivo, o Asgore. Eu havia terminado de me deitar com ele e o velho foi até a cozinha pegar um copo de água. Não resisti e fui explorar o cômodo. Era o primeiro livro da primeira prateleira.
– Certo, você está soando convincente. Pode começar. Mas saiba você que eu tenho métodos de saber se está mentindo e se estiver o resultado não vai ser nada bom– Rosna Chara se aproximando da menina que engole em seco e confirma com a cabeça. Achava que ela não teria coragem de aprontar nada, mas tinha que estar sempre com um pé atrás quando se tratava de Muffet.
– Bem, tudo começou num dia de normal domingo. Como sempre Toriel havia ido no mercado comprar o que faltava em sua casa. Sua rotina estava a mesma, passou pelas mesmas lojas, mesmas ruas e pelo mesmo parque. Foi aí que ela te viu.
" Você estava sentada num balanço, em suas mãos havia um grande sorvete de chocolate. Tentava ao máximo não se sujar, mas a tentativa era falha demais. Toriel se encantou com aquela cena, fazia um tempo que estava pedindo para seu marido para ter um segundo filho. Ele queria porém que Asriel completasse 7 anos primeiro.
Foi a partir daí que ela começou a reparar. Você estava sempre no parque, cada dia fazendo algo diferente. Os dias de domingo acabaram sendo algo esperados pela senhora, que pouco a pouco tomou coragem para ir falar contigo.
Assim como se encantou com você, o mesmo foi com o resto da família. Frisk não precisou nem piscar para conquistar o coração de Toriel e com seu pai não foi tão diferente. Ele era atencioso e carinhoso, sabia falar como ninguém. Um viúvo cuja esposa morrera no parto, mas que ao contrário de outros tentava ao máximo cuidar das crianças que sua mulher trouxera ao mundo.
Quando Toriel pode perceber já estava apaixonada pelo seu pai. A atenção que dava para Asgore era mínima e ela vivia perguntando para Asriel como seria a sensação de ter uma irmã.
Não tardou porém para que Asgore descobrisse que estava sendo chifrado. Num dos domingos, ele seguiu a mulher é o que viu foi como uma apunhalada no coração.
Não pensou duas vezes e contratou alguém para matá-lo. A tarefa foi feita com a eficiência de um profissional e o crime foi dado como um simples acidente. Tudo foi coberto e jogado por debaixo dos panos. O que Asgore não esperava porém seria que Toriel adotasse vocês duas. Ele não sabia que o homem tinha filhas."
– Certo– Começa Chara sentindo um nó na garganta. Mesmo que não lembrasse de seu pai, ouvir Muffet falando sobre ele mexia com seu coração e o fazia sentir saudades– Mas o que isso tem a ver com o fato dele me odiar? Frisk também estava na jogada.
– Apesar de vocês duas serem gêmeas Frisk puxou os olhos amarelos da mãe. Você puxou os olhos rubros de seu pai, pode não saber disso, mas de acordo com Asgore "você é a cara dele". E para nosso querido rei corno, ver você era como uma constante lembrança da traição. Ainda mais porque você sempre o desafiou, mesmo com 5 anos de idade.
– Ainda assim não é um motivo plausível para se odiar alguém– Diz Chara pensando em voz alta. Muffet porém nada disse. Ela estava ansiando sua liberdade.
Mesmo sentindo um gosto amargo na boca, a deixou ir. Ela havia comprido sua parte do acordo. E mesmo que fosse uma golpista suja e de baixo calão, ela tinha alguém mais importante com que se preocupar naquele momento.
Sua irmã.
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