História Black And Green - Confusões e Detenção

- Essas são as instruções que deverão seguir. – Acenou a varinha para o quadro onde todas as instruções da poção daquele dia apareceram enumeradas em uma letra fluída e rebuscada. – Terão até o fim da aula para me entregarem, e espero que façam valer o que aprenderam nesses últimos anos.

Sentou-se tranquila à mesa analisando seu plano de aulas, enquanto os alunos do último ano pegavam seus ingredientes e começavam a trabalhar seguindo o que havia sido pedido. A grande maioria parecia feliz e disposta, conversavam baixinho sem deixar suas mãos pararem sobre as raízes de mandrágora ou a medição dos pós que deveriam ser postos a cada oito mexidas no sentido anti-horário.

O primeiro dia para Maeve estava sendo de fato tranquilo. Somente os mesmos problemas com Grifinórios eufóricos, não só pelas novas lições mas pelo fato de que não veriam mais Snape naquela disciplina, nem levariam mais as livradas costumeiras pela falta de cuidado. Alguns caldeirões explodiram do lado dos Lufanos mas nada que fosse grave. Alguns pontos foram retirados.

Todavia para um clima tão proveitoso de fim de tarde, havia um grupinho que não parecia nem um pouco disposto a cooperar.

Pansy e seu grupo de amigas conversavam sem a mínima vergonha ou medo de possíveis punições. Coisa que não passou despercebido por Maeve que levantou-se para observar o andamento das poções que borbulhavam.

- Eu achei que esse ano fosse o Snape quem nos daria aula de poções. É bem mais qualificado. – Pansy revidara os olhos exageradamente.

- Só sei que tive sorte, também reprovei em Defesa Contra As Artes das Trevas. – A loira que fazia dupla com ela retrucou sorrindo.

- Sortuda. Enquanto isso temos que aturar as aulas dessa...

- Dessa o que, senhorita Parkinson?

A sonserina quase caiu da cadeira ao perceber que a morena estava perto o suficiente para ouvir a conversa. Tentou disfarçar descaradamente.

- Dessa excelente professora. – Sorriu cínica.

Maeve sorriu em desdém.

- Sugiro que mantenha em sua cabeça de porco espinho montanhês que eu não sou mais uma simples aluna e que qualquer deslize seu aqui será punido de forma severa. – Ela se aproximou um pouco mais farfalhando a capa por entre as bancadas. – E não digo severa apenas pela palavra.

- Você não vai retirar pontos da Sonserina. – Desafiou. – Você não vai fazer isso com sua própria casa.

Alguns sonserinos evitaram olhar para trás, os corvinais ignoraram e continuaram cortando as ervas e mexendo seus caldeirões a fogo baixo.

- Senhora, Parkinson. Senhora. – Crispou os lábios.

- A senhora não pode fazer isso. – Repetiu de mal gosto.

- Claro que não. Mas há outros modos de punir você e qualquer outro que queira passar por cima da minha autoridade. Não preciso lembrar a você que o Diretor da Sonserina não é nem de longe piedoso com arruaceiros. Então sugiro que se ponha em seu lugar e faça a poção ou irá continuar reprovando para o resto da sua vida, Parkinson.

A morena virou-se para o grupinho mas este já havia avançado e muito em suas poções depois que a pequena discussão começara. A loira ao lado cutucava a amiga para que começasse logo temendo algo mais do que uma simples chamada de atenção. Pansy pensou em desobedecer, não queria dar o gosto de vitória a morena, mas não queria arrumar confusão com Snape. Sabia bem que faltava pouco para uma detenção e bem menos para expulsão. Burlaria as coisas de outra forma.

Começou a mexer em seu caldeirão fazendo cara de repulsa para as costas de Maeve.

- Menos dez pontos para a Sonserina. – Houve murmúrios de indignação contra a autora da perca. – E qualquer outro que tente dar uma de engraçadinho farei passar o resto do ano em detenção.

A sala voltou a se afundar no silêncio quebrado apenas pelo som de mãos trabalhando. De vez em quando um ou outro aluno perguntava algo a morena em voz baixa, e ela ajudava no que era necessário. Evitou que um dos Sonserinos explodisse seu caldeirão por pouco. Ou melhor evitou que alguém explodisse de propósito, e não era o dono dele.

Terminada a aula, todos encheram seus vidros com suas poções e um a um deixaram suas amostras na mesa de Maeve. Grande parte havia feito um bom trabalho e se despedia da professora acenando simpaticamente. Ela retribuía contidamente e acenava com a varinha rotulando os vidros cujos donos esqueceram de por o nome. Pansy e seu grupinho entregou algo que seria tudo menos a poção exigida naquela aula. Maeve fingiu que não havia se irritado, mas já tomava as medidas chamando uma pessoa em particular enquanto ordenava a aluna que ficasse.

- Parkinson. Para a sala do professor Snape, agora.

✥✥✥

“ Severo, está ocupado?”

“ Não, acabei de dispensar as turmas do quarto ano. Aconteceu alguma coisa?” – Ele parou de olhar os relatórios escritos as pressas pelos alunos da Grifinória.

“ Temos uma aluna problema aqui.” – Conseguia sentir a voz dela vibrando de irritação em sua mente.

“ Não me diga que a Corvinal já começou este ano com sua mania de retrucar ao que lhe parece estranho...” – Bufou jogando o pergaminho em sua mão na mesa.

“ Na verdade temos uma Sonserina.” – Foi seca e direta.

“Que?!” – Franziu a testa incrédulo. “ Traga essa insolente para cá agora.”

“Estamos a caminho.”

Esperou de cara amarrada até ouvir os passos nas escadarias de mármore. Estava ficando irritado com a conduta dos alunos da sua própria casa, já não bastavam as aprontas tinham que logo no inicio do ano procurarem confusões. Antes de Maeve entrar se deparou com uma Parkinson emburrada e com cara de quem faria teatrinho para se aproveitar da situação. Seu rosto antes apenas franzido voltou para a mesma carranca habitual. Maeve entrou e fechou a porta ficando perto dela como se evitando o pensamento de fuga de Pansy.

- E então, senhorita Parkinson? O que foi desta vez? – Indagou irritado.

- Não fiz nada. Apenas comentei que queria o senhor como professor de poções ainda. – Ela fez cara de desentendida.

- Conversas em sala, desrespeito, quase explosão de um caldeirão de um colega de casa, e... – Acenou a varinha e fez aparecer a frente de Snape o vidrinho de poção arroxeada. – ... Se isto devia ser um poção para desaparecimento instantâneo não me parece que foi feita com vontade. – Maeve manteve-se impassível, o olhar frio ficou fixo as costas de Pansy.

Snape examinou o vidrinho e seu conteúdo e comprovou totalmente que aquilo poderia facilmente explodir se não fosse manuseado com cuidado. Parecia mais uma simples poção para aturdir com a coloração de amortentia.

- Como você me explica isso?

- Ah professor... Por isso eu prefiro suas aulas, não entendi nada com ela. – Tentou apaziguar a expressão zangada dele que piorou. Suas sobrancelhas estavam tão franzidas que sua expressão mais parecia com a de uma ave de rapina, pronta para estraçalhar a presa.

- Não me venha com desculpas esfarrapadas! Eu expliquei esses mesmos princípios o ano passado inteiro! Já deveria estar velha de saber. – Ele se levantou rodeando a mesa. – Sabe o que isto me parece? Incompetência e vontade de ser expulsa.

A expressão de deboche da Sonserina esmaeceu.

- Não professor! Não! Eu não posso ser expulsa! – Ela se aproximou perigosamente dele. Maeve respirou fundo. – Faço tudo que o senhor mandar! – Havia um duplo sentido ali.- Mas não me expulse, por favor.

- Eu deveria fazer isto imediatamente! Contudo, já que está tão prestativa assim, irá ficar em detenção durante um mês. – Murmurou malicioso. Aparentemente ela caíra nessa malícia.

- Com o senhor? – Ela quase sorriu.

Ele sentou-se e cruzou as mãos.

- Maeve, se importaria de lhe ensinar como parar de achar que vai ganhar alguma atenção sendo uma aluna ruim? Ah, sem contar o fator de que está envergonhando a nossa casa.

A cara de Pansy entrou em choque.

- Irei consultar os melhores métodos com Filch. – Maeve sorriu de canto.

- Mas ela tirou pontos da Sonserina! – Apontou para a morena, incrédula.

- Se você não estivesse fazendo por onde nada seria retirado. – Ela retrucou. – Seus próprios colegas não apreciaram suas ações.

- Isso é injusto! Falarei com Dumbledore! - Esganiçou-se.

- Dumbledore tem mais o que fazer a ficar ouvindo as lamúrias de uma repetente. Ele já lhe deu outra chance, irá pedir o que a ele? – Snape conservava-se frio. – Um gorro de lã para o natal?

Maeve sentiu a resposta passar pela cabeça da outra fazendo seu corpo estremecer. Segurou a varinha com mais força do que devia e lhe lançaria um Crucio ali se ela não tivesse baixado a bola.

- Tudo bem. Ficarei em detenção. Mas eu reportarei isso para os meus pais. – Retrucou tentando parecer ameaçadora.

- Também reportarei. Terei o prazer de contá-los sobre a sua conduta. – Ele voltou a segurar o pergaminho que estava analisando. – Agora vá para o jantar. Sua detenção se inicia amanhã, as nove.

Ela assentiu e passando por Maeve a olhando como se fosse amaldiçoa-la, abriu a porta fingindo superioridade mas claramente abalada. A morena apenas respirou fundo, visivelmente irritada. Por que aquela garota não se tocava de vez e parava com aquela insistência idiota? Teria de aguentar outro ano com ela fazendo aquilo?

No fundo começava a entender por que Snape aparentemente odiava todos os alunos e era tão rígido. Evitava situações ridículas como aquela.

- Eu avisei que não seria nem um pouco interessante lidar com esses cabeças ocas. – Murmurou vendo Maeve franzir a testa numa expressão irritada que criava um vinco parecido com o seu na sua testa.

- Na verdade o único problema real do dia foi ela e sua horda. Não sabia que tinha tantas admiradoras. – Retrucou calmamente enquanto caminhava até ficar as costas dele como fazia quando estava na monitoria.

Ele agradeceu por aquilo segurando as mãos dela em seus ombros.

- Está com ciúme, professora? – Alfinetou sorrindo malicioso.

- Talvez.

- Acho que terei de lembrar a você sobre sua multidão de admiradores também. O senhor Nott pareceu estar ansioso demais para sua aula, demais pro meu gosto. – Ele trincou o maxilar.

- Eu não sei. Mas, caso ela continue com isso ou tente alguma gracinha vai ver o que se tornará esta detenção. – Crispou os lábios.

- Deveria dizer para não fazer isso, mas não estou nem um pouco incomodado desde que não vá contra a diplomacia de Dumbledore. – Retorquiu displicente enquanto arrumava a mesa acenando a varinha. Faltava poucos minutos para o jantar começar.

- Não se importa? – Maeve arregalou os olhos incrédula.

- Nem um pouco. Agora... – Levantou-se.

Maeve o soltou e consultou seu relógio no bolso do vestido.

- O jantar. Está na...

- Ainda não. – E tendo dito isso a guiou para sua cadeira deixando-a sentada. Segurou o queixo dela a encarando de forma intensa enquanto a outra mão se apoiava na perna dela. – Iremos discutir nossos horários.

Maeve assentiu sentindo arrepios percorrerem seu corpo.

- A mudança de horários não afetou nossas disciplinas. Não sei se graças a Dumbledore ou Minerva, então, estarei em sua sala pelas manhãs livres... Para lhe desajuizar um pouco mais.

- Todas? – Sorriu de canto.

- Vou pensar no seu caso. – Riu presunçoso. Ela sabia que ele iria sem falta.

- E quanto as minhas vindas a sua sala, professor? – Alfinetou cruzando as pernas.

Snape sorriu torto de forma maliciosa puxando-a pela mão para que ela se levantasse. Passou os braços pela sua cintura por baixo da capa e encontrando o caminho para o ombro livre dela, mordeu levemente. Subiu dando mordiscadas calmas e sem a mínima pressa até sua orelha.

- Todas as noites antes do horário da detenção, e quando o mês acabar ficaremos aqui até a hora de irmos dormir. – Sorriu.

- Muito esperto... – Estremeceu com a voz rouca e baixa em seu ouvido. – ... Está disposto a me ouvir reclamar dos alunos?

- Eu sei como lidar com isso.

- Como?

Alcançou seus lábios voluptuosamente, beijando-a sem se importar com a hora do jantar que avançava. Maeve escorregou seus braços pelos ombros dele aprofundando o beijo enquanto sentia as mãos percorrendo seu corpo, brincando com seus botões, ameaçando retira-los. Foi girada e acabou sentada na mesa.

- Vão suspeitar do nosso sumiço... – Arfou quando ele beijou sua clavícula descendo um pouco mais.

- Está preocupada com isso? – Perguntou respirando sobre sua pele.

- Não mas temos que manter as aparências ainda. Sabe como a maioria é.

Sorriu soltando ela.

- Vai me desacostumar?

- Não. Vamos continuar mas nos horários que não sejam suspeitos. – Murmurou segurando o rosto dele. Ela queria tanto quanto ele aquilo, mas tinham regras, já não estavam de férias em Chateau Raven para fazer o que quisessem a qualquer hora e em qualquer lugar.

Ele segurou o rosto dela e trouxe para perto do seu, murmurando contra os lábios de forma pausada.

- Espero que esteja preparada para o que irei fazer.

Desceu-a da mesa e saiu de mãos dadas com ela em direção ao salão principal. Ao chegarem a mesa dos professores, notaram que nada havia começado ainda. Dumbledore os estava esperando para dar os novos avisos sobre a carga disciplinar para cada ano e as matérias extras. Conversaram por alguns instantes com o diretor e esperaram. Snape estava carrancudo como sempre e Maeve conservava a expressão calma.

Entretanto alguns olhares estranhos os observavam da mesa Sonserina.

Alguns acontecimentos ainda estavam para acontecer.