24 de dezembro, Chateau Raven, Irlanda.
- A neve cobria toda a paisagem criando um lençol espesso e branco pela propriedade de Chateau Raven. Toda a mansão parecia ter criado vida própria graças aos feitiços jogados por Maeve e Narcisa ali dentro. O salão onde ficariam os convidados após o casamento no segundo andar, estava sendo desempoeirado e arrumado por si só. Mesas redondas e cadeiras de espaldar alto, negras, apareciam flutuando arrumando-se em fileiras duplas de cada lado, dando um espaço mais do que necessário para que pelo menos quarenta casais pudessem dançar sem problema algum. As toalhas prateadas cobriam as mesas até o chão enquanto as verdes ficavam por cima caindo em pontas bem arrumadas, vasos com rosas brancas rodopiavam indo ficar em seus devidos lugares em seus apoios de vidro transparente. Heras subiam serpenteando pelas colunas grossas enroscando-se com as roseiras brancas criando uma espécie de revestimento. As paredes iam acomodando as tapeçarias contendo os brasões de Hogwarts, da Sonserina, da casa dos Lesley e uma das relíquias que Snape sempre houvera guardado como se esperando o dia em que fosse necessário. O brasão da família Prince.
O assoalho de madeira escura havia aos poucos ia ficando polido e brilhante, os lustres de ferro escuro em forma de corvos esvoaçantes que pendiam em suas correntes já não estavam mais cobertos pelas camadas de resíduos de muitos anos e agora brilhavam com suas velas criando uma claridade impressionante. O teto antes decorado com os mais variados animais mágicos, agora tinha o brasão de Hogwarts e da Sonserina aparecendo lado a lado. O tapete esverdeado colocado na entrada das portas pesadas de madeira estendia-se até as primeiras mesas. Ao fundo do salão o piano e os violinos arrumavam-se esperando pelo momento certo de começarem a tocar. Tudo convergia rapidamente e logo todas as coisas ocupavam o lugar em que deviam estar. Em poucas horas todos os convidados estariam ali.
Em uma das salas mais afastadas do salão, e previamente arrumada para aquele dia, Narcisa e Luna ajudavam Maeve nos últimos detalhes antes que as três se dirigissem para a clareira onde todos, inclusive Snape esperavam. Estavam ansiosas e mais ainda a morena, que aos poucos sentia seu corpo tremer involuntariamente.
Maeve sentia seu coração querer sair do peito e mal se reconhecia refletida no espelho grande e ovalado a sua frente. Respirava fundo tentando conter as pontadas de ansiedade que cortavam sua respiração em pequenos intervalos de tempo. O vestido que Narcisa e Luna haviam trabalhado para criar naqueles últimos meses brilhava a luz acinzentada que entrava pelas janelas. Ao contrário do que se era esperado, havia sido decidido que ela não casaria de verde, muito menos de preto. Uma ideia que demorou a ser aceita pela morena, mas que agora fazia sentido aos olhos verdes que iam de detalhe em detalhe como se certificando-se de que estava de fato arrumada. Narcisa parecia ter sempre razão quando o assunto era a escolha dos detalhes.
O vestido em sua brancura, tinha o corpete desenhado especialmente para o corpo de Maeve, fechando-se apertado e bem ajustado dando atenção a cintura fina e ao busto. O corpete era de cetim coberto por uma renda mais espessa com seus padrões intrincados que criavam movimentos parecidos com o que as serpentes faziam. Tinha o decote em formato de coração, cujo V descia até um pouco mais abaixo ficando no meio do vão entre os seios. A saia era dividida em pelo menos seis, a de baixo e mais longa, e as subsequentes que iam ficando em alguns palmos menores até chegar a última mais curta, criando camadas que deixavam o vestido mais armado. As mangas assim como o corpete, também era de cetim cobertas pela mesma renda, iniciavam-se alguns dedos abaixo de seus ombros e seguiam até a altura dos pulsos abarcando seus braços longos de forma apertada. A capa começava na altura do início das mangas presa ao vestido, descendo longa e bem mais pesada do que o resto para trás criando ondas. Em seu colo pálido o colar que Snape havia lhe dado em seu aniversário ficava em evidência com as iniciais dos dois. O cabelo estava solto, tendo apenas as primeiras mechas presas para trás com um broche prateado apenas para dar mais visão ao seu rosto. Descia longo e espesso como uma segunda capa. Havia sido deixado liso por Luna, e agora reluzia com seu brilho azulado que lembrava as asas de um corvo. O único ponto de cor eram seus lábios que estavam cobertos com uma camada generosa de batom vermelho em um tom um pouco mais escuro. Não levaria buquê de flores simbolizando que naquela união ela não levaria nada além dela mesma, seu amor e a vontade de reiniciar uma nova vida ao lado de Snape.
- Está tão linda, Ma. – Luna sorriu com os olhos um pouco marejados.
- Obrigada, Luna. Obrigada, Narcisa, nem sei como agradecer todo o cuidado que tiveram comigo durante o dia de hoje.
- Você merece, Maeve. E mais do que nunca. – Narcisa sorriu.
Tanto Luna quanto Narcisa, estavam em seus lindos e longos vestidos vermelhos. As outras madrinhas, Hermione e Gina também estariam de vermelho, simbolizando todos os votos de amor e felicidade que os padrinhos desejariam ao casal.
- Preparada? Já estamos quase em cima da hora de sair. – Luna perguntou levantando.
- Sim, só estou um pouco nervosa. Narcisa e Snape estão muito misteriosos hoje. – Sorriu desconfiada.
- Você irá gostar, agora vamos indo que a hora está chegando. – A loira sorriu presunçosa segurando no braço da morena enquanto a outra levantava a capa para que não arrastasse no chão. A cada passo que dava seu coração martelava.
Lembrou-se do início daquela relação. Ela nunca imaginaria que conquistaria Snape tendo em vista seu mal humor e seu temperamento forte e fechado. Haviam passado por vários momentos tensos, por coisas que poderiam de fato ter feito os dois se afastarem de imediato, mas que ao contrário do que se esperaria, os uniram ainda mais. Naquele momento enquanto caminhava tremula descendo as escadarias ao lado das duas loiras, ela enfim tinha noção de que havia conquistado uma das pessoas mais difíceis do mundo bruxo. Uma das pessoas que mais precisavam de atenção, e que agora ela trabalharia ainda mais para fazê-lo se sentir mais amado do que nunca.
A felicidade que sentia extravasava qualquer limite que um dia já tivesse colocado para si, e pensar que em poucos minutos estaria caminhando para a união dos dois a fazia sorrir amplamente, um sorriso de fato tão verdadeiro quanto o momento em si. A clareira ficava a pelo menos quinze minutos da propriedade, e Narcisa assim como Dumbledore haviam feito questão de que carruagens fossem dispostas para levar os convidados para o local e os trazer ao fim da cerimônia. Leonard havia se angariado a ser o guia de todos, e tinha passado o dia tão feliz que era provável que enquanto esperava Maeve chegar estivesse batendo o pé e andando de lá para cá, mais ansioso do que o próprio noivo.
Dumbledore celebraria a cerimônia. Havia sido o responsável pelo encontro e acobertamento do que os dois sempre fizeram, assim como cuidar para que nada tivesse sido revelado antes do tempo. Nada mais natural do que ser ele a unir para sempre aqueles dois corações que mesmo sem saber batiam no mesmo passo acelerado.
Snape tinha passado o dia sem ver Maeve, e estava carrancudo quando foi para a clareira junto com todos os outros. Estava ansioso, mas claramente perturbado por não vê-la perto. Tinha passado a cuidar de Maeve como se fosse uma jóia que a qualquer momento alguém pudesse se atrever a pegar. E tinha mais razão do que a maioria achava. Sirius havia enchido Hogwarts com suas cartas repetitivas sobre ela não cometer aquele erro, ou não fazer aquilo por pressão. O moreno assim como Leonard tiveram o cuidado de evitar e verificar a propriedade nos dias anteriores sem descanso para que nada desse errado e aquela insistência viesse a atrapalhar o momento tão esperado.
Maeve atravessou a porta depois de acenar para os fantasmas de Philippe I e II que desejaram a ela milhões de anos de felicidade e que tomasse cuidado com a floresta. Algo bem sem nexo, mas que só ela entendia o porquê de eles terem dito aquilo.
- Segure-se em mim. – Luna pediu quando soltou a capa dela e a ajudou a subir na carruagem negra, puxada por dois corcéis também negros e com a aparência feroz. Quando conseguiu puxar todo o vestido e capa para dentro, Narcisa e Luna entraram tomando o cuidado de se manterem distantes de todo aquele tecido. Não foi preciso sinal algum para que os cavalos começassem a andar com a carruagem dando a volta pelo pátio coberto de gelo e pegando um dos caminhos mais abertos um pouco mais à direita da propriedade.
As árvores passavam um pouco mais lentas do que esperava, já que havia gelo demais na pequena estrada, e as rodas afundavam cada vez mais, porém nada que impedisse de seguirem em frente.
Maeve respirava o ar frio que chegava até ela de forma profunda. Estava se esforçando para se manter calma, mas até mesmo suas mãos a traiam. Estavam tão entrelaçadas que seus nós dos dedos ficavam mais brancos do que já eram. Luna brincava com uma mecha do seu cabelo ansiosa, porém mais parecendo estar aproveitando a viagem com seu ar aluado e eternamente espantado.
Narcisa sorria imaginando qual seria a reação dela ao ver o que ela e Snape haviam preparado. Era notável o nervosismo da morena, mas não podia deixar de sorrir ao pensar em como ela ficaria ao ver tudo da forma como havia sido organizado. Passara o mês de novembro todo indo e vindo ali, pensando no que seria ou não melhor naquele momento, até que teve uma ideia de última hora, e com a ajuda do moreno organizara tudo com perfeição.
- Maeve? – Luna chamou.
- Sim? – Ela respondeu alertando-se. Estava tão envolta em seus pensamentos que não percebera de imediato a outra chamar.
Luna pegou a mão da amiga e colocou em sua barriga que já estava enorme. Maeve sentiu imediatamente seu afilhado se mexer dando pequenos chutes contra sua mão, movendo-se como se também estivesse animado com a data.
- Scorpius meu amor, está sabendo que dia é hoje? – A morena começou a conversar com a barriga de Luna. Sentiu novamente outro pequeno chute contra sua mão, como se fosse uma resposta. – É o casamento dos seus padrinhos, não é legal? – Outro movimento, parecia ser a mão do pequeno contra a barriga e contra a mão da madrinha. – Em breve vamos te conhecer, coisa mais linda.
- Toda vez que eu falo o seu nome ele responde assim. O Draco ficou com ciúme. - Luna riu.
- Fomos ao médico semana passada. – Narcisa sorriu para Maeve lembrando-se da época em que estava grávida de Draco. – Provavelmente nosso pequeno virá no fim do próximo mês, isto é se ele não quiser se adiantar.
- Estou ansiosa por isso. Está ansioso para ver a madrinha também? – Luna perguntou a barriga alisando-a. Outro movimento. Parecia um sim.
Maeve sorriu observando a sua melhor amiga e imaginando como seria seu pequeno Malfoy. Entretanto assim que parara de observar a carruagem parou. A porta se abriu imediatamente revelando um Leonard polidamente vestido com seu terno preto e sua gravata cor de sangue. Os cabelos loiros estavam revoltos, e o sorriso inundava não só seus lábios mas seus olhos.
- Está pronta, minha filha? – Perguntou estendendo a mão para Maeve.
- Sim, eu estou. Pai.
O loiro sentiu seu coração despencar dentro do peito. A última vez que Maeve o chamara de pai já fazia mais de seis anos. Era como se sua pequena estivesse ali dividindo espaço com a mulher que vira crescer e se tornar tão bela e dedicada. Segurou-a com cuidado e desceu ela tomando cuidado para que ela não escorregasse no gelo. Sorriu para Narcisa que agora ajudava Luna a descer com dificuldade.
As duas foram na frente para anunciar que ela chegaria em pouco tempo, enquanto Maeve ficou esperando com Leonard atrás das árvores.
- Eu nem sei o que dizer. – O loiro começou. – Nunca imaginei que estaria aqui nesse momento levando você para o altar. Significa muito para mim, muito mesmo. – Seus olhos marejaram.
- Vem cá. – Maeve o abraçou forte acariciando os cabelos revoltos e sentindo aquele cheiro tão familiar que sempre significara que o seu porto seguro nos tempos de aflição estava perto. – Eu te amo, e a partir de hoje não se sinta somente como melhor amigo meu, mas como meu pai. Não escolheria outra pessoa para esse momento, assim como também não escolheria outro para celebrar o casamento que não Dumbledore. Vocês são muito, mas muito importantes para mim, e eu quero que a todo minuto vocês se lembrem disso.
- Ah minha filha. – Leonard a soltou segurando o rosto risonho e de olhos marejados. – Estou orgulhoso. E eu sei que fez a melhor escolha da vida escolhendo o Snape. Não iria querer outro genro. – Ele fez cara de pai aprovando a escolha. Maeve riu.
- Partidão né? – Riram juntos.
Esperaram só mais alguns minutos de expectativa, e logo se puseram a caminhar. O coração de Maeve havia voltado a palpitar feito um louco, e ao passar pelas árvores que impediam a visão do lugar, teve realmente certeza que seu coração havia dado um tranco.
Não acreditava no que estava vendo.
Seus olhos a estavam enganando.
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