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História Black Cat - Não sou obrigada.


Escrita por: Thatavisk

Notas do Autor


Boa leitura.

Capítulo 12 - Não sou obrigada.


Namjoon estava andando pela casa, anotando coisas que observava no bloco que havia usado em nossa consulta. Jungkook permanecia dormindo sobre o sofá ainda preso com a fita adesiva enquanto eu permanecia agarrada a Jimin no chão, ouvindo a canção suave que sussurrava calmamente em meu ouvido.

Empurrei o rapaz após algum tempo, levantando e seguindo para a cozinha, Namjoon me observou mas não se pronunciou. Lavei o rosto, apoiando-me na pia para pensar no que fazer antes de retornar até a sala. Voltei com uma faca em mãos e o Namjoon ergueu a postura, enrijecendo os músculos ao me observar aproximar de si, mas pareceu relaxar ao me ver passar direto.

— Leva ele para o quarto — pedi cortando a fita que prendia os pés de Jungkook primeiro, depois as das mãos e as tirando com cuidado, com medo de acordá-lo.

— Com você nós podemos lidar, mas esse garoto pode nos dar problemas — disse segurando minha mão quando tateei a ponta da fita que estava enrolada na cabeça de Jungkook.

— Eu encontrei Jungkook caído no jardim — murmurei empurrando o loiro com o antebraço. — Estava desmaiado e trouxemos ele para dentro por estar febril — digo puxando com cuidado a fita, Namjoon havia dado duas voltas na cabeça do rapaz, por sorte ele não acordou mesmo perdendo alguns fios de cabelo na cola.

— Entendo... — Observou-me amassar a fita usada e jogá-la no chão.

— O que vocês fazem além de ameaçar as pessoas na própria casa? — perguntei observando Jimin vir até mim, pegando Jungkook e o pondo sem esforço algum sobre o ombro. Se Namjoon fossem tão forte quanto o moreno, não era difícil de acreditar que apenas os dois conseguiram causar todo aquele estrago na sala.

— Apenas o necessário. — Namjoon disse olhando o rapaz adormecido sobre os ombros de Jimin, segui para o quarto observando Jimin carregar Jungkook feito um boneco de pano e suspirei fundo ao vê-lo jogar o rapaz no colchão sem delicadeza alguma.

— Me dá uma resposta concreta — reclamei indo até a cama ajeitar Jungkook ou o rapaz acordaria todo dolorido.

— Nós estamos tentando descobrir o que desencadeia esse evento... E como funciona. — Namjoom respondeu me ajudando a pôr o rapaz de corpo todo na cama, Jimin havia o deixado com quase metade do corpo para fora.

— Então, Ayira, com quem está sua base? — Jimin, perguntou se sentando na beirada da cama, não sabia se eram apelidos ou seus nomes de fato, se Jimin reclamava do nome que o dei, provavelmente estava acostumado com outro.

— Desde que você deu sua voltinha para respirar de sete anos, Adrian morreu e eu precisei recomeçar. Estou conseguindo dividir o corpo com Namjoon — disse olhando as marcas fundas de meus dentes em seu antebraço. — Me diz como eu vou explicar isso. — Mostrou-me a ferida.

— Você parece bom em mentir, dá um jeito — Deu de ombros e me levantei. — Ayira... É o seu nome? — perguntei indo até Jimin e olhando a mancha vermelha na lateral de seu rosto, Namjoon também não estava lá muito inteiro, a camisa estava parte rasgada e o arranhão que possuía no pescoço estava em vermelho vivo.

— Sim, meu primeiro, o desse animal aí foi Erick. — Meneou a cabeça em direção a Jimin.

— Continua me chamando de Jimin, por favor. — Enlaçou minha cintura e apoiou a cabeça em mim. — Carinho — pediu abaixando um pouco as orelhas.

— Erick pedindo carinho?! Você comeu erva de gato? — perguntou rindo soprado.

— Não é minha culpa se nem em dezenas de vidas você ainda encontrou alguém que goste de você. — Jimin disse fitando sério o homem que desfez o sorriso, parecendo ficar levemente chateado.

— Você sabe que eu já havia encontrado... De qualquer forma, eu não quero isso novamente, é perda de tempo — murmurou suspirando fundo. — Eu vou ligar para o senhor Kim e dizer que você não poderá ir — disse tirando o celular do bolso e seguindo para a porta. — Ligue para Hoseok também e diga que amanhã não terá nossa sessão, não quero que mais pessoas sejam encontradas desmaiadas no jardim. — Deixou o cômodo.

— Eu não vou ser levada para algum tipo de laboratório, vou? — perguntei puxando levemente as orelhas de Jimin.

— Se eu tiver de ir, você também vai, mas eles não vão te machucar, pode ficar relaxada, Ayira fala muito e faz nada — disse beijando meu tórax por cima do tecido. — Desculpa te trazer tantos problemas. — Ergueu o rosto, acariciando levemente minhas costas.

— Problemas foi Hoseok quem me trouxe, Jimin, você 'tá destruindo minha vida  — digo afastando-me do rapaz. — Põe a touca, se Jungkook acordar e vir isso, será apenas mais dor de cabeça — peço deixando o quarto para procurar meu celular, Namjoon encostou na parede ao meu lado ao me ver tirar o aparelho da bolsa.

— Hoseok, apenas para Hoseok — disse fazendo-me suspirar fundo antes de procurar o contado de Hoseok, estava na aba "E" de "Energúmeno", era o adjetivo que melhor o descrevia segundo meu humor quando terminamos.

— Ah, oi, desculpa te acordar agora — digo ao ouvir o som da chamada sendo atendida.

— Eu não estava dormindo... Pode dizer — respondeu num tom monótono.

— Não precisa vir para cá amanhã... Namjoon disse que nossa sessão de amanhã foi cancelada... — digo ouvindo-o assentir num murmuro. — Hoseok... 'Tá tudo bem? — perguntei vendo Namjoon revirar os olhos, estalei a língua no céu da boca, me afastando do homem.

— Sim, apenas não estou com sono... E está um pouco tarde para você estar acordada também, aconteceu alguma coisa? — perguntou parecendo se levantar.

— Não... Também estou sem sono... — digo indo até a cortina, vendo as luzes da sala de estar de Hoseok acesas, ele estava andando pelo cômodo com o celular no ouvido.

— Sobre o que você disse... Desculpa, eu devia ter ido atrás de você antes, me perdoa... — Passou a mão livre pelos cabelos, jogando-os para trás. — Eu só achei que seria melhor 'pra nós dois assim... — diz literalmente jogando-se no sofá.

— Depois vocês discutem a relação... — Namjoon resmungou num sussurro, tapei o outro ouvido e me encostei na parede, queria me distrair um pouco e até discutir com Hoseok pareceria melhor que voltar a embaralhar minha cabeça com o que estava acontecendo.

— Tudo bem... Meio que 'tá sendo — digo sentando-me no chão, Namjoon seguiu Jimin que foi para a cozinha, provavelmente com medo de o rapaz sair pela varanda dos fundos.

— Não está... Me dá mais uma chance, eu quero consertar as coisas — pediu num tom chateado, suspirando ao ser seguido por alguns segundos de silêncio.

— Acho que estamos bem como amigos — comento olhando o machucado em minha panturrilha, o sangue que molhou a gaze estava começando a ficar gelado.

— Nem sei se podemos nos considerar amigos. — Riu fraco. — Só uma chance. Vamos conversar, tomar um café juntos, qualquer coisa... Mas se você não se sentir à vontade com isso, eu entendo perfeitamente — diz parecendo se levantar novamente, estava inquieto. Eu sabia que Hoseok era ansioso e saber que ele mantinha suas manias me deu um leve sorriso.

— Quando eu sair do repouso, podemos ir naquela cafeteria perto da empresa — digo ouvindo-o resmungar.

— Nós já vamos lá quase todos os dias, vamos 'pra um lugar que não envolva trabalho...

— Esse final de semana podemos sair, então — suponho olhando Jimin me trazer outro analgésico, estava começando a ficar com medo de baixar minha pressão tomando tantos comprimidos.

— A que lugar você gostaria de ir? — perguntou enquanto eu engolia o comprimido com a água que Jimin me trouxe.

— Não sei... Você quem convidou, pode escolher — digo vendo Jimin franzir levemente o cenho ao me ouvir.

— Tem certeza? Podemos ir em qualquer lugar que você quiser — disse enquanto eu segurava o peito de Jimin que tentava se aproximar para ouvir com quem eu falava.

— Qualquer lugar está bom. — Passei o celular para o outro ouvido, afastando-me de Jimin que sacudiu a cauda e baixou levemente as orelhas em sinal de irritação.

— Estava pensan-

— Amor, volta 'pra cama... — Jimin resmungou manhoso, fazendo a linha ficar muda. Ergui a postura olhando o rapaz que exibiu um sorriso largo ao me irritar, voltando minha atenção para a ligação ao ouvir Hoseok respirar fundo.

— Até o final de semana eu penso em algo — disse soando mais sério. — Boa noite. — Suspirou pesado novamente.

— Boa noite... — sussurro encerrando a ligação um pouco contrangida. — E, Jimin... —Chamei passando pelo próprio enquanto seguia para a cozinha. — 'Tá doendo? — perguntei vendo-o pender a cabeça um pouco confuso.

— Já está par- Argh! — Jimin quase foi ao chão, segurando o próprio pé quando chutei com força a parede. Não sabia se havia quebrado algum dedo, mas já que enfaixaria novamente a perna agora, aproveitaria para checar isso também.

Passei para o cozinha sendo acompanhada pelo olhar um pouco surpreso e talvez assustado de Namjoon.

Senhor Kim se ofereceu para me ajudar a trocar os curativos, limpando o sangue dos pontos que eu havia aberto. Jimin pediu um segundo para respirar antes de Namjoon começar a tirar os pontos para refazê-los, mas eu pedi que começasse logo, recebendo um olhar incisivo do rapaz que puxou a manga do moletom que usava para morder até que Namjoon acabasse.

— É simples, é como se... Fôssemos duas pessoas operando uma mesma máquina, ele não se move sem meu consentimento e eu não movo ele sem consentimento dele — explicou enquanto puxava a linha para deixar mais firme, não era a linha mais indicada para pontos em carne, mas quebraria um galho apenas até eu poder retirá-los definitivamente.

— Nossa... Deve ser difícil, se Jimin dividisse corpo comigo, andaríamos em círculos até furar o chão — comento observando o rapaz que estava sentado no canto da cozinha, apoiando a testa nos próprios joelhos e contendo os espasmos doloridos de sua perna.

— Eu e Namjoon tivemos uma convivência meses antes de Adrian acabar vindo a óbito, existem voluntários para o nosso sistema e Namjoon foi o melhor indicado para mim. Somos uma mente muito unida — diz dando-me um sorriso meigo, olhando se haveria necessidade de costurar algum outro ponto. — Eu vou enfaixar agora, se voltar a sangrar, provavelmente vou ter de costurar de novo — disse fazendo Jimin resmungar apenas de ouvir isso.

— Ayira é um nome bem diferente... O que significa? — perguntei movendo um pouco a perna, checando se estava muito apertado.

— A respeitada e sem dono. — Comprimiu levemente os lábios ao me ver fitá-lo surpreso.

— Era uma mulher? — indaguei vendo-o assentir.

— Antes de morrer eu era, mas não tem muitas voluntárias compatíveis comigo, dificilmente eu consigo um corpo feminino para viver. — Inflou levemente uma das bochechas.

— Como é viver num corpo de homem? — perguntei curiosa.

— Ai, é muito estranho, podem se passar décadas que eu não consigo me acostumar a acordar com uma ereção — reclamou fazendo uma careta. — Mas não preciso me preocupar em comprar absorvente... Nem passar uma tarde inteira chorando por motivo nenhum... — disse gesticulando.

— E nem de sofrer preconceito dessa vez. — Jimin comentou deitado de barriga no chão.

— Isso também. — Apontou o rapaz.

— Preconceito? — Cutuquei Jimin com o pé, ouvindo-o resmungar. Eu deveria estar começando a ficar com pena, mas não estava conseguindo.

— Sim... Jimin já contou a primeira vida dele? — perguntou se levantando do chão e puxando uma cadeira.

— Já... Ele era uma criança... — sussurro ficando um pouco chateada de lembrar disso, agora a pena estava florescendo. — Me dá outro analgésico, por favor — pedi apontando o armário onde guardava os remédios.

— Faz apenas meia hora que você tomou o outro — avisou procurando a cartela de analgésicos na caixa.

— Dá logo isso 'pra ela... — Jimin resmungou com o rosto colado no chão.

— Eu era uma lésbica na década de sessenta, tudo estava caminhando bem. Nós tínhamos o feminismo, o movimento pela comunidade homossexual e contra o racismo, o governo estava começando a nos ouvir e tudo mais... Mas tinha quem discordasse, sempre tem — disse enchendo um copo de água para mim. — Eu achei melhor ficar mais um pouco na manifestação, estava voltando mais tarde para casa naquele dia e, bem... Eu não voltei. — Sentou-se ao meu lado, apoiando o cotovelo na mesa.

— Você também foi assassinada? — perguntei vendo-o assentir. — Sinto muito — digo engolindo o comprimido, vendo-o se levantar ao ouvir alguém bater na porta.

— Ele provavelmente vai estar puto contigo, então fica quieto — advertiu Jimin enquanto seguia para a sala, balancei levemente a perna pondo o copo na mesa e olhando da cozinha Namjoon abrir a porta para um homem.

— Não precisa ficar nervosa, eles não vão te obrigar a nada. — Jimin disse segurando meu tornozelo para que eu parasse de mover a perna machucada.

Assim que Namjoon entrou com o homem, não me senti surpresa, apenas um pouco incomodada ao ver o mesmo rapaz de cabelos negros, que decidiu fazer um tour por minha casa sem pedir, vir até nós e puxar Jimin pela camisa para que se levantasse.

— Parecem dois animais — reclamou olhando os ferimentos em ambos. — Levanta, Erick. — O homem disse entre os dentes, Jimin revirou os olhos se pondo de pé.

— Eu iria levá-lo, mas o boçal fez base na própria dona. — Namjoon resmungou fazendo o homem me fitar.

— Ah, Erick, você sempre faz merda... — murmurou soltando a camisa do rapaz e vindo até mim. — Eu já te conheço — disse me estendendo a mão. — Min Yoongi. — Olhou-me cumprimentá-lo um pouco confusa.

— Você também não é policial? — perguntei ao Min, fitando Namjoon por um segundo.

— Sou — disse pegando a folha que Namjoon destacou de seu bloco de anotações e o estendeu. — Só faltou quebrarem as paredes também — reclamou observando o loiro fitar o chão, meio decepcionado.

— Eu queria ter quebrado a cara dele... — sussurrou fitando Jimin.

— Vem. — Jimin provocou.

— O que aconteceu contigo? — perguntou apontando minha perna enfaixada.

— Um cachorro me mordeu — digo erguendo-a um pouco, vendo Jimin encarar meus movimentos de forma ávida.

— Ela decidiu testar o quanto a vitalidade estica. — Jimin reclamou vindo até meu lado e se sentando no chão, abraçando minha cintura e abaixando minha perna antes que eu a batesse em algum lugar de novo.

— E o quanto conseguiu? — Yoongi perguntou fitando o rapaz que apoiou o queixo em minha coxa.

— Ao ponto de rachar... — Jimin sussurrou relaxando um pouco os músculos, o analgésico deveria estar fazendo efeito.

— E ela não morreu? — O Min perguntou um pouco surpreso. — Sortuda... — Apertou levemente meu ombro.

Sortuda... Eu quase entrei em combustão de tanto correr... — Jimin murmurou pegando minha mão e pondo-a em seu pescoço. — Sabia que atenção é legal e eu gosto? — perguntou dando um sorriso meigo.

— Erick pedindo atenção — debochou o Min.

— Eu 'tô dizendo, ele 'tá estranho... — Namjoon me observou coçar levemente o maxilar de Jimin, fazendo-o rir abobado com as cócegas.

— Eu não posso querer um pouco de carinho mais?! — reclamou fazendo-me o soltar com seu tom rude. — Por que parou? — perguntou me fitando confuso.

Yoongi se desculpou pela agressividade de Ayira e Erick, dizendo que nunca se deram muito bem e que se pudessem sair se matando por motivo qualquer que fosse, o fariam. Afinal, Ayira respeitava muito essa pesquisa, como uma mulher estudiosa e focada que sempre foi, para ela seria um avanço absurdo a ciência se mesclar com o espiritual, já Jimin era um dos mais antigos nesse meio e simplesmente não aguentava mais servir de cobaia, mesmo que não tivesse o direito de sair uma vez que aceitou.

O homem riu fraco quando perguntei o que ele era antes de morrer, mas Yoongi era uma pessoa normal, apenas se voluntariou após  receber uma visita esquisita. Pelo visto, as pessoas que podiam se voluntariar eram bem selecionadas, não era qualquer um que poderia saber da iniciativa e ele também achou um absurdo quando vieram o falar sobre isso, achando ser algum tipo de piada de alguma emissora para gravar um programa de pegadinhas, chegou a expulsar os homens que vieram o apresentar o projeto sob ameaça de voz de prisão por desacato.

Mas após uma visita junto de uma cobaia, acabou aceitando visitar o laboratório, ficou cético ouvindo as histórias das pessoas que assim como Ayira e Jimin, viveram após a morte. Porém um homem descreveu tudo o que Yoongi havia vivido durante a época da escola, até coisas que Yoongi contou apenas três pessoas no máximo e esse alguém foi Jimin, que na época se chamava Alex e estudou com Yoongi.

O Min acabou aceitando ajudar indiretamente, não queria um deles o usando como base nem se envolver muito, mas acabou ajudando na localização de novos voluntários ou, assim como caso de Jimin, alguns que deixaram a unidade de estudo sem aviso prévio.

— Estamos em outros países também, mas ainda é algo muito pequeno e parece que vai continuar sendo, se isso tomasse conhecimento popular, provavelmente acabaria ruindo até desistirem. — Namjoon disse olhando o pedaço de torta no prato, havia sobrado algumas fatias e ofereci aos rapazes, com exceção de Jimin que ficaria algum tempo sem comer besteira pelo simples fato de eu sentir necessidade de puni-lo por ter me feito base sem consentimento.

—  Não sabemos exatamente se a pessoa é ou não um desses... Seres... — disse meio confuso, se referindo a Ayira e Jimin.

— Provavelmente devem ter mais por aí com medo de nós, achando que somos algum tipo de laboratório maligno onde eles serão dissecados vivos. — Namjoon comentou me fazendo sorrir constrangida, a imagem que me veio à cabeça foi exatamente essa.

— Se fosse, seria mais divertido. — Jimin resmungou emburrado, olhando os rapazes comendo e ele não. — Sorvete pode? — perguntou olhando o pote sobre a mesa, peguei o pote para guardar no freezer, ouvindo Jimin reclamar.

— Bem... Como você acabou não tendo muito escolha... Nós não queremos te obrigar a estar lá, mas precisamos que Erick colabore e para isso você vai precisar estar ao menos próxima do local — disse olhando o rapaz que estava com a testa encostada na mesa.

— Onde fica? — pergunto acariciando os cabelos de Jimin, que permanecia de mau humor. — Você precisa lavar o cabelo — resmungo notando-o estar com a cabeça um pouco oleosa.

— É num hospital da cidade vizinha, daremos um local para que more perto e-

— Eu não vou me mudar, quero continuar no meu emprego e na minha vida, como o senhor disse, eu não sou obrigada a nada — digo abraçando as costas de Jimin, que estava sentado.

— Teremos de levar Jimin de qualquer forma, vai acabar morrendo se não ficar num local onde a distância seja segura — disse observando Jimin erguer o rosto para beijar minha bochecha.

— Eu vou com ele em alguns dias que vocês quiserem, mas não vou restringir minha vida a um raio de sei lá quantos metros para vocês brincarem de laboratório — nurmuro erguendo minha postura, segurando os ombros de Jimin.

— Vai acabar se machucando por palhaçada... — Namjoon avisou me fitando sério.

— E quem vai me machucar? Você, Ayira?  Além de que, até onde eu sei, Jimin é posse minha até o fim dessa vida, ele é meu gato, levar Jimin daqui sem meu consentimento seria furto de animal. Namjoon deve saber  como a perda de alguém tão querido pode abalar o psicológico e... Ele é meu gatinho... — digo apertando levemente os ombros de Jimin, apoiando meu queixo em sua cabeça e forçando um tom meigo. — E eu duvido que seu departamento saiba que você usa a credencial de oficial fora da farda — comento fitando o Min.

— Conseguiu alguém bem ao seu nível... — Yoongi murmurou fitando Jimin.

— Seria mais fácil levar Jimin de uma vez e pôr ele num voluntário que colabore... — Namjoon supôs olhando os próprios pés de forma desinteressada.

— E quanto tempo levariam para encontrar Jimin novamente? Foi uma saidinha para pegar ar de sete anos, certo? Já pensou se ele consegue um corpo humano só dele... — comento forçando um tom surpreso, fazendo Yoongi parecer levemente irritado.

— Não entendo como Hoseok não se sentia coagido morando contigo. — O loiro comentou fitando-me por um segundo.

— Ele praticamente morava no escritório. — Suspirei fundo. — Não vou negar colaborar, em parte, com a pesquisa de vocês, mas não quero que isso afete minha vida mais que já afetou. Eu não tenho culpa desse imbecil não ter me dito nada durante dois anos, acha que se eu não tivesse como simplesmente esquecer tudo e continuar, eu não faria? — perguntei observando Namjoon passar a língua pelo interior da bochecha.

— Os voluntários que cedem a base recebem uma pensão muito generosa, você viveria bem, poderiam ceder a vocês tempo para viajarem ou ficarem um pouco juntos já que vocês parecem ter um relacionamento... — Yoongi comentou um pouco confuso.

— Não temos um relacionamento e eu não quero o dinheiro de vocês, simplesmente estou presa nisso, ou eu lido da melhor forma possível ou eu enlouqueço — reclamo andando inquieta pelo cômodo, estava sentindo um pouco de cansaço, mas estava começando a amanhecer e aparentemente eu não poderia pôr uma sapatilha e ir trabalhar, quebrei dois dedos do pé esquerdo, provavelmente precisaria ir ao médico. Foi um chute muito bem dado.

— Vocês dormem juntos? — Namjoon perguntou parecendo surpreso.

— Claro que não — digo franzindo o cenho.

— Ela 'tá de gracinha ainda... Não! Desculpa! — disse desesperado ao me ver abaixar levemente para tocar os dedos do pé.

— Quantos dias da semana você está disponível para comparecer? — Yoongi perguntou passando a mão na testa.

— Sábado e domingo eu estou sempre de folga... — Mordi levemente o interior da bochecha, também não queria perder meu final de semana e nem os descanso de domingo, mas perder a vida também não parecia interessante.

— Podemos agendar os encontros com antecedência então, mas precisamos ter certeza de que você comparecerá sempre que necessário, além de que... Não confiamos no Er-

— Jimin, eu não conheço Erick algum, então quero que chamem Jimin pelo nome que eu o dei — digo vendo o homem respirar fundo, céus, eu estou retrucando um policial, eu poderia ser presa por isso.

— Não confiamos em Jimin, portanto, esperamos que leve isso a sério, é algo muito importante para a ciência e também para a teologia — diz se levantando. Achei que finalmente iriam embora, mas o homem veio até mim, estendendo a mão para que eu a pegasse e não para um cumprimento. — Creio que hoje você não irá ao serviço, por que não conhecer a instituição um pouco? — perguntou fazendo Jimin me fitar sério.

— Eu não confio em vocês ainda... Espero que entenda... — digo abaixando sua mão devagar, não iria entrar no carro de um estranho assim.

— Entendo... — Recolheu a própria mão, fitando Namjoon.

— Como dissemos, é um hospital na cidade vizinha, pode pedir a Hoseok para te acompanhar, vai precisar engessar isso de qualquer forma... — Apontou meu pé enfaixado.

— Esse sábado eu vou sair com ele — digo observando Namjoon arquear as sobrancelhas, abrindo um sorriso animado.

— Então a terapia está dando resultado? — perguntou parecendo satisfeito.

— Nós só vamos conversar, nada demais. — As orelhas de Jimin penderem e erguerem-se novamente, chamando minha atenção por um segundo.

— Aproveite o dia de hoje para pensar sobre o que eu falei, estariam dispostos a te dar a casa que quisesse próxima do local, além de uma boa vida. — Yoongi disse me cumprimentando antes de sair.

— Na sessão de domingo eu vou querer ouvir tudo. — Namjoon acenou para mim antes de seguir para a porta. — E, Jimin, vou avisar que você já pegou ar fresco o suficiente para o restante — diz antes de seguir para a sala, deixando a casa junto de Yoongi.

— Você não vai mesmo colaborar com isso, não é? — Jimin perguntou me observando pegar um pedaço da torta, guardaria o último para quando Jungkook acordasse, de boca cheia ele perguntaria menos.

— É uma pesquisa que parece muito importante e eu só vou precisar te esperar do lado de fora — digo dando de ombros, não era muito esforço e não devia levar muitas horas.

— Aquele lugar é um porre e eles vão me comer vivo lá, eu sumi por muito tempo — reclamou me olhando surpreso quando pousei o prato à sua frente. — É pra mim? — perguntou sorrindo largo, ele não havia comido o doce até agora, e como ele me ajudou a fazer, achei injusto não o dar nem um pedaço.

— Eu não quero ter de me mudar e nem acabar sendo morta, eu não conheço esse pessoal... — reclamo vendo-o enfiar um pedaço da torta na boca.

— Não iriam te matar, você não é obrigada a colaborar, mas eles não te deixariam ter muita paz... Insistem bastante... — disse dando um sorriso meigo quando limpei a massa que esfarelou no canto de seus lábios, fitanto surpresa a sala ao ouvir a porta do quarto ranger.

Corri até a pia pegando a primeira coisa que vi, joguei um pano de prato na cabeça de Jimin assim que ouvi a porta do quarto bater. Empurrei Jimin para a varanda enquanto o próprio reclamava por eu não deixá-lo levar a torta consigo e sentei na mesa dando alguns tapinhas em minhas bochechas, suavizando a expressão r fingindo surpresa ao ver Jungkook aparecer na porta da cozinha com a cara amarrotada de sono e os olhos semicerrados por conta da claridade do cômodo. O padrão retangular da almofada na qual dormiu sobre estava em relevo na lateral de seu rosto.

— Onde eu 'tô? — perguntou confuso.


Notas Finais


Obrigada por ler até aqui.


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