Depois de todos aqueles dias, foi tudo um fleche confuso. Lembro-me de ver Thanatos, tenho certeza de que era ele, o homem alto de cabelos e asas negras de anjo me estendendo a mão com seu habitual sorriso gentil. Normalmente eu lutaria pela vida, recusaria sua ajuda, mas não posso mais lutar. Eu finalmente havia desistido. Eu segurei as mãos da morte.
- Foi difícil encontra-la. – Ele me ajudou a levantar. – Desculpe por demorar.
- Thanatos... – Eu me esforcei pra dizer com a minha garganta seca me lembrando de uma antiga lenda sobre uma irmã minha. – Sente falta de Macária?
- Todos os dias de minha eternidade. – Ele respondeu. – Nunca podemos ficar juntos, tínhamos prometido que quando um de nós morresse iríamos nos encontrar no Rio Estige. – Macária era a bela deusa da boa morte.
- O que aconteceu com ela? – Ousei perguntar.
- Ela escolheu renascer. – Thanatos deu um sorriso triste.
- Eu sinto muito. – Eu apertei a sua mão.
- Não sinta, ainda posso sentir o perfume doce de Macária, pode ser difícil, mas sei que ela ficará bem. – Ele me olhou gentil. – Ela ainda precisa viver.
- Obrigada, Thanatos. – Eu senti algumas lagrimas escorrem. – Por não me deixar aqui.
- É um prazer servi-la princesa. – Ele abaixou levemente a cabeça. – Algum último desejo?
- Eu queria vê-lo mais uma vez... – Eu murmurei depois de um tempo. – Tudo o que eu quero é poder ver ele mais uma vez.
- Como quiser. – Ele inclinou levemente a cabeça e tudo ficou escuro.
Eu não conseguia sentir meu corpo, só conseguia sentir a escuridão. Ela me consumia e tornava a agonia e desespero que eu sentia há dias, meses ou anos um pouco menor. Continuei na esperança de ver os outros mais uma vez. Continuei agarrada na promessa que fiz a Dorian, mas desisti de tudo, a única coisa que eu queria era para de procurar uma saída e me entregar de vez. Só o que eu queria veros olhos cinza que me enchiam de esperança e sonhos banais.
- Ayd... – Eu tentei o chamar.
Tudo estava muito claro. Era a primeira vez que eu via o sol depois de tanto tempo na escuridão. Cada centímetro de meu corpo doía e ardia, mas tudo o que eu queria era poder memorizar o seu rosto. Uma borboleta negra passou diante de meus olhos voando para longe levando minha vida junto as suas asas.
- Nina... – Eu podia sentir uma mão em meu rosto dolorido e o sangue em minha boca.
Alguém chamava o meu nome. Eu não conseguia responder, por mais que eu quisesse. Eu sentia meu sangue fluir para fora de mim assim como a vida, podia parecer sofrido, mas esse é o jeito mais fácil de falecer que eu encontrava. Sendo abraçada por alguém e isso assim como o destino era cruel, tudo o que eu podia fazer era continuar a imaginar seu rosto.
- Ayd... – Pude sentir mãos quentes sobre a minha e novamente tudo ficou negro.
Eu podia ouvir pessoas murmurarem, tudo estava gelado. Mãos percorriam meu corpo e o sangue pulsava em minhas veias assim como o meu coração pulsava loucamente. Ele batia contra o meu peito com força, ele não deveria estar batendo.
- Como ela ainda esta viva? – Uma voz desconhecida e distante disse.
- Eu não tenho ideia, parece que ela saiu de um cativeiro. – Outra voz respondeu.
- Quem é essa garota afinal? – Uma terceira voz perguntou. – Nunca a vi na cidade.
- De acordo com a recepção os documentos que apresentaram eram europeus. – A primeira voz respondeu. – Foi Aidan Teller que trouxe ela até o hospital depois de ter salvado ela de ser atropelada. Disseram também que ele amassou um para-choque com as costas.
- O que o mais novo do Teller tem haver com essa garota? – Alguém perguntou.
- Essa é a namorada dele. – Uma voz feminina respondeu.
- Ele tem uma namorada?! – A primeira voz disse surpresa.
- Até que ela muito bonita, nunca via alguém continuar com boa aparência no meio de uma cirurgia. – A terceira voz disse me desesperando.
- Será que ela é alguma modelo? – A segunda voz perguntou. – Como ela foi acabar com um garoto tão problemático?
- Aidan não é um garoto ruim. – A voz feminina respondeu.
– E quem quer que seja a garota teremos que salvar ela ou nos é que seremos é que estaremos na sala de cirurgia. – Uma voz riu nervosa. – O braço dela mexeu.
- Você deve ter atingido um nervo. – Outra voz disse calma.
- Não estou mexendo em seu braço. – A mesma disse surpresa. – A pressão arterial esta subindo.
- Thanatos... O que... Aconteceu... – Eu tentei falar abrindo meus olhos.
- Ela esta acordada! – Um médico disse nervoso junto com os outros.
- Thanatos... – Eu estava com medo.
- Aumente a morfina! – Um doutor disse.
- Não podemos! Se fizermos isso a perdemos, vamos ter que operar com ela consciente. – Uma doutora rebateu. – Hey, preciso que você fique calma, esta bem? – Ela colocou sua mão em minha testa. – Pode fazer isso? – Me esforcei para balançar a cabeça. – Você vai ficar bem, mas para isso vamos ter que deixar você dormindo...
- Ayd... – Eu não queria “dormir” novamente. – Onde?...
- Seu namorado esta lá fora esperando por você. – Ela respondeu me distraindo. – Você ainda esta viva Carina, precisa lutar por sua vida.
- Estou viva? – Isso era impossível, meus olhos estavam pesados. – Mas... Thanatos...
- Quem é Thanatos que ela tanto repete? – Alguém que eu não conseguia ver murmurou.
- Deus da morte Grega. - A mulher murmurou.
- Ela esta delirando? – Alguém perguntou.
- Não tenho certeza. – Alguém respondeu. – Precisa distrair ela, Tara.
- Carina, posso te chamar de Carrie? – A mulher acariciou meus cabelos e eu mexi a cabeça sem abrir meus olhos. – Quantos anos tem Carrie?
- 16... – Respondi.
- Me conte sobre sua família, acha que consegue? – Ela perguntou e foi como se algo acendesse em minha mente.
- Minha mãe... Morreu no incêndio... Dorian me salvou. – Senti meus olhos arderem. – Eu tinha 4 anos.
- Meus pêsames.
- Tenho Draco, meu primo. Meu tio Sirius... – Eu sentia falta deles. – Dorian, Nico e Hazel são meus irmãos temos o mesmo pai. – Eu queria saber se eles estavam bem. – Sinto falta deles.
- Pessoas chamadas Dorian e Draco Black doaram dois litros de sangue pra você. – Ela disse me fazendo ter calma. – Um deles tinha os cabelos castanhos como o seus e o outro tinha os cabelos quase brancos. – Eram eles. – Qual é o nome de seu pai Carrie?
- Hades. – Eu respondi.
- Como o deus grego da morte? – Alguém perguntou.
- Esse é Thanatos. – Eu somente respondia. – Hades é deus soberano do Mundo Inferior e deus dos mortos.
- Por que seu pai recebeu esse nome? – Alguém perguntou. – Ele é grego?
- Combina com ele. – Fazia sentido. – Hades significa “O Invisível” em grego. Acho que herdamos esse “dom” dele.
- Carina, Sirius e Draco, são nomes diferentes e estranhamente comuns. – Alguém disse.
- Constelações. – Respondi sentido uma leve pontada na costela. – Minha mãe era Lyra, a Lira, seu irmão gêmeo Sirius o cão maior. Draco o dragão. Carina representa a quilha do navio dos Argonautas.
- Você tem amigos?
- Alguns. – Eu respondi. – Ayd é meu melhor amigo. Pra ele eu nunca fui invisível.
- Há quanto tempo se conhecem? – Ouvi alguém perguntar curioso.
- 12 anos. – O que quer que eles estavam fazendo comigo parecia estar acabando. – Ele nunca me deixou sozinha, por anos foi o único que se importava comigo... – Eu tinha motivos incontáveis pra amar ele.
- Quem diria que alguém pudesse ter essa visão dele.
- Eu amo ele. – Minhas bochechas estavam molhadas outra vez. – Tudo o que eu queria era ver ele outra vez.
- O procedimento foi um sucesso, logo você vai poder ver seu namorado.
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