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História Black X White - A história de Gun


Escrita por: KIAN-

Notas do Autor


Oieeeeeeeeee

Gente, voltei rápido de novo uhuuuu
Nunca terminei tantos trabalhos de uma vez só tão rápido sksksktem

E esse capítulo tem 11,6K de palavras ISSO MESMOOO!!!


MÚSICA TEMA DO CAPITULO NAS NOTAS FINAIS! (escutem ela, tá bom amores? De preferencia leiam a letra depois que acabarem o cap :3)


E por favor, leiam as NOTAS FINAIS, pois tenho umas coisinhas pra dizer.

Espero que gostem do cap, está bem diferente <3 e olha, dessa vez até que eu gostei da capa
Desculpem os erros <3


P.S.: O FAI LIN AGORA JÁ TEM ROSTO! Isso aí, se você não sabia como imaginar esse demônio agora saberá, e é o rosto do ator chinês Godfray Gao (só que na fanfic ele é mais velho, e só um pouco mais novo que os Oyabuns)

Capítulo 56 - A história de Gun


Fanfic / Fanfiction Black X White - A história de Gun

O barulho da explosão automaticamente fez os três rapazes se surpreendessem. Kihyun já estava controlado nos braços de Gun e seu raciocínio foi rápido.

— Hoseok. — Disse quase com desespero e se levantou.

Gun também pensou rápido e se levantou, segurando Kihyun antes que ele saísse por aí loucamente. — Espera, você não vai sozinho.

— Kihyun, a fita. — Jooheon falou, preocupado com Changkyun e os outros amigos, mas mantendo a calma.

O rosado controlou seus próprios sentimentos e foi até a mesa, entregando a fita Silver Tape cinza para o Lee. BongIn estava rindo quase descontroladamente e só parou quando teve sua boca calada pele fita. Depois disso Jooheon usou a mesma fita para prender seus pulsos atrás das costas, dando várias voltas. Mesmo o punk não conseguindo mover-se direito, era melhor prevenir. Por fim agarrou o outro pelo braço e o fez se levantar.

— Vamos. — O Nomura ditou, segurando BongIn com uma das mãos e com a outra segurando a arma.

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Quando um Oyabun vai adotar seu Kobun, normalmente são escolhidas crianças órfãs de algum lugar ao qual não farão falta. Pode ser das ruas, de algum contrabando de menores, ou até mesmo de orfanatos, embora essa opção fosse mais complicada. Com Kakuji foi a mesma coisa, e as dez crianças, entre os cinco e sete anos, foram escolhidas. O Inagawa ficava satisfeito por seu filho biológico, ainda no ventre da mulher com quem casara e amava, não precisaria passar pelos testes que os Kobuns eram submetidos.

Normalmente os kobuns, sempre filhos adotivos, eram quem herdavam o posto como Oyabun de uma família, mas somente se este não tiver um filho biológico, o que era o caso de Kakuji. Nessas situações, o kobun era treinado para ser o substituto de seu filho biológico caso aconteça algum acidente, e caso não haja, seu título assumido seria de gerente.

Quando o Inagawa começou a seleção de kobun, ele nunca imaginou que seu herdeiro biológico de fato passaria por um acidente, muito menos que tempo depois sua mulher fosse morta. Como Gun se tornou kobun herdeiro foi realmente uma história trágica, e nada fácil para o pequeno Song, de só cinco anos. Kakuji recém havia perdido o filho e não estava muito receptível para assumir esse papel, de pai, novamente.

Passou nos primeiros testes, juntos com outros seis garotos, mas Vanessa, ainda viva, havia se afeiçoado ao pequeno Gunhee. Na época Satoru já tinha seu kobun definido, Jooheon, e Vanessa, que sempre foi muito amigada ao Nomura e ia muito na Towa, conheceu o jovem Lee. A moça nunca entendeu e muito menos gostou das etapas que as crianças tinham que passar para se tornar kobuns, mas não podia argumentar contra esse velho costume, que não seria mudado tão cedo. Quando sobrou só Gun e outros três garotos, nas últimas fases para a seleção de Kobun, Vanessa estava inclinada a adotar o Song, mesmo sabendo que talvez não fosse justa com as outras crianças que competiam. Seu marido não queria escolher seu kobun por gosto pessoal, mas vendo o quanto a mulher, que recém perdeu o filho, tinha se apegado ao mais novo, ele acabou cedendo ao emocional e estava pronto para escolher Gun independentemente de seu resultado.

A última etapa em que os dois últimos garotos que sobraram competiram, mesmo sem saber que também era uma etapa, foi a da escolha final. Como de costume, lhe eram ofertados a possibilidade de deixar a Yakuza, sem nenhuma punição e ainda com benefícios, ou de permanecer e talvez poder se tornar kobun. O menino que competia junto de Gun escolheu deixar a máfia, e Gun, que também poderia ter escolhido o mesmo, não o fez.

Diferente de Jooheon e de alguns outros órfãos, ele não conhecia nenhuma outra vida além daquela. Não tinha nem lembrança de ter tido pais algum dia. Além disso, Vanessa era realmente bondosa com sigo e isso lhe trazia um sentimento materno do qual nunca experimentou. Nos dias atuais Gun quase não tem lembranças da mulher, mas em sua mente ainda habita os olhos gentis da moça.

Satoru e Kakuji já não se davam bem desde a (suposta) morte do filho de Kakuji, e isso piorou quando fatidicamente Vanessa morreu em batalha. A luta foi na Inagawa, no Japão, e a mulher morreu por Fai Lin, que a manteve como refém apenas para matá-la depois. Gun, em torno dos 6 anos, estava escondido ouvindo o terror de toda a batalha. Quando o Oyabun alcançou a mulher, esta já dava seus últimos fôlegos. No ocorrido Satoru também estava presente, e nutria amores não correspondidos pela moça a tempos, e tanto Vanessa quanto Kakuji estavam cientes desse sentimento que o outro tinha. Provavelmente foi ali, em seu leito, o último momento em que Satoru e Kakuji estavam juntos, sem lançar ódio um no outro, e compartilhando da mesma angústia e das mesmas lágrimas.

O ferimento de bala em seu peito era fatal e os dois Oyabuns sabiam disso. Ao redor a batalha continuava, os tiros, explosões, mortes e perigos, mas naquele momento tudo congelou e os três eram os únicos presentes. As últimas palavras, com tosse vermelha, da moça, foram um pedido de desculpas, uma bela confissão de amor ao seu marido, um agradecimento puro de verdadeira amizade e consideração à Satoru e um último pedido, feito com um sorriso suave. Esse pedido foi a causa de, pouco tempo depois, Gun e Jooheon se conhecerem.

Vanessa amava os dois homens, de formas diferentes, mas amava, e não queria ver a rivalidade de ambos crescer, sua esperança era aquelas duas crianças que, para ela, lembravam tanto os dois homens, mesmo não sendo filhos de sangue.

O pedido foi concebido e Gun foi mandado para a mansão Towa na Coreia, junto com Hyungwon, para cuidar de si. Mais ou menos nessa época a Inagawa começou a expandir-se para território oeste e chegou também à coreia e, assim, Jooheon também era mandado para a Inagawa, com a companhia de Shownu, e os dois Kobuns pulavam de um lugar para outro.

A primeira vez que Jooheon e Gun se viram foi um momento melancólico para os dois Oyabuns, que mesmo de frente um para o outro, não diziam nada. Mas para as duas crianças, de agora quase 8 anos, foi realmente incrível. Nenhum dos dois sabiam que existiam mais kobuns como eles por aí.

Jooheon estava um pouco encolhido atrás de Satoru, agarrado com as mãos pequenas no tecido de sua roupa, praticamente escondido atrás de suas pernas e espiando Gun com curiosidade e certo receio.

O Song, por outro lado, estava ao lado de Kakuji sem demonstrar acanhamento algum, e olhava para Jooheon com uma expressão radiante. — Então você é o Hojoon? Eu ouvi muito sobre você. É verdade que você também é um kobun como eu? Me disseram que você resgatou um cachorro e treinou ele, isso é incrível! — E estendeu a mão, com um grande sorriso. — Eu me chamo Song Gunhee Inagawa, e sou filho do meu pai.

Gun falava tão rápido e animado que o pequeno Nomura até se assustou. Satoru respirou fundo. — O chame de Jooheon. — Corrigiu o pequeno e depois olhou para o filho ainda escondido. — Ande, se apresente.

Jooheon olhou para o pai, para o Oyabun da Inagawa e então para Gun, que permanecia com a mão estendida e o sorriso inabalável. Timidamente ele se soltou de Satoru e se aproximou, apertando a mãozinha do outro. — Eu sou Lee Hoj… Jooheon. — Se corrigiu. — Lee Jooheon Nomura, e sou Kobun do Satoru.

O Inagawa (ambos) achou estranho o fato do outro chamar Satoru pelo nome, mas não comentou nada, apenas balançou a mão do menor no cumprimento, sacudindo o braço de Jooheon quase freneticamente. — Vamos nos dar muito bem.

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— Hey Gun, você tá aí? — A voz do pequeno Jooheon foi ouvida seguida de batidas na porta.

O Song estava sentado na cama, enquanto segurava uma lanterna. — Tô. — E com a deixa a porta foi aberta e Jooheon entrou, correndo e subindo em cima da cama do outro. — Ficou com medo dos raios?

— Eu tava no meu quarto e fez um barulhão, depois tudo ficou escuro. — Argumentou o mais novo.

— Você pode ficar com a gente aqui. — Hyungwon quem falou, sentado na outra cama. — A gente pode chamar o Shownu e o Minhyuk.

Gun sorriu quase maleficamente. — Isso é uma ótima ideia Wonnie, a gente pode brincar de esconde-esconde no escuro. — Jooheon não pareceu gostar da ideia, mas Gun já tinha se levantado da cama. — Eu vou chamar eles.

— Eu vou com você. — O Lee se apressou e foi atrás do Inagawa, segurando sua mão.

— Eu vou junto. — Hyungwon disse, não querendo ficar sozinho, se levantando também e calçando sua pantufa.

Do lado de fora a chuva era barulhenta, com grossos pingos molhados e flashes de trovões, que iluminavam parcialmente as paredes em que tinham janelas por perto. A mansão estava no total escuro, mas estava um tanto movimentada, com membros carregando lanternas de um lado para o outro, e se comunicando quase aos berros.

Enquanto andavam pelo corredor, Seung os parou. — Vocês deveriam estar na cama.

— Estamos indo pro quarto do Shownu. — Gun foi quem falou.

— Tá legal, mas não fiquem zanzando por aí no escuro que é perigoso. — Disse por fim.

E os três voltaram a andar. Gun era o único com lanterna entre eles. O primeiro ato que o Song fez ao chegar de frente para o quarto de Shownu e Minhyuk foi abrir a porta com força, a fazendo bater contra a parede assustando Minhyuk.

— Shownu, Minhyuk, vamos brincar de esconde-esconde no escuro?

Os dois tinham lanternas também e se entreolharam, depois sorriram, e correram na direção dos três na porta.

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— Vinte e oito, vinte e nove, trinta, T1, T2, T3. — Shownu era quem contava, segurando a lanterna apagada na mão e com o rosto sobre os braços e estes apoiados na parede.

Os outros quatro se dividiram em duplas para se esconder, e cada dupla ficou com uma lanterna. Minhyuk e Hyungwon correram e se esconderam na cozinha, mas mal fizeram isso e já bateu a vontade de ir ao banheiro. Jooheon e Gun ainda procuravam um bom esconderijo, enquanto andavam pela mansão se escondendo de Seung-Hyun.

Estavam no último andar e ali não tinha quase nenhum movimento, estava silencioso e só se ouvia os barulhos da chuva e dos raios. Jooheon segurava a mão de Gun enquanto andavam no escuro.

— Hey, acho que sei o lugar perfeito para nos escondermos. — Gun sorriu, mesmo que o menor não conseguisse enxerga-lo.

— Onde?

— Na biblioteca. — Disse animado. — O Shownu hyung nunca vai nos encontrar lá.

E assim fizeram. Se meteram entre aquelas prateleiras empoeiradas e se agacharam em um cantinho.

Shownu teve dificuldade para achar eles naquela mansão enorme e no escuro, mas ele era o melhor nessa brincadeira e o mais rápido. Os primeiros que achou foram Minhyuk e Hyungwon, que iam pé por pé até o banheiro mais próximo. Minhyuk foi pego e Hyungwon correu pra sabe-se lá deus onde. Depois do Lee ir ao banheiro, foram os dois procurar os outros. Para o azar de Hyungwon, Minhyuk foi quem ficou com a lanterna quando se separaram. O Chae foi encontrado pouco depois também por Shownu, enquanto Minhyuk procurava pelos quartos. Com três pessoas procurando agora, só faltavam Gun e Jooheon, mas passaram-se meia hora e nada. Shownu até gritou que eles tinham ganhado e a brincadeira acabado, mas na biblioteca nenhum dos dois escutou e ficaram ali, achando que ainda estavam sendo procurados, quando na verdade os três desistiram da brincadeira depois de mais meia hora procurando pelos kobuns. Nisso Jooheon e Gun acabaram dormindo ali mesmo.

Quando amanheceu a luz já havia voltado ao normal e Seung quase teve um ataque quando não encontrou os dois e Shownu disse que estavam desaparecidos desde ontem. O gerente fez todos os membros procurarem por eles, até o próprio Oyabun apareceu preocupado da empresa para ver o que estava acontecendo. Satoru foi quem os encontrou, dormindo com as cabeças apoiadas uma na outra e praticamente babando. A lanterna já piscava com a luz fraca, de ficar ligada a noite toda, e ambos ainda tinham as mãos juntas.

Por um momento o Nomura viu a cena e lembrou de Vanessa e de seu possível sorriso caso visse aquilo, mas seu humor logo voltou ao rotineiro mal-humorado, principalmente depois de ter que sair do trabalho por causa de um suposto desaparecimento duplo de kobuns.

Os dois acordaram bocejando e se espreguiçando, dando de cara com o Oyabun furioso de braços cruzados. — Então é aqui que vocês estavam a noite toda? — E a reação dos dois, após congelarem momentaneamente, foi sair correndo e gritando. — Voltem aqui. — Dizia já deixando a biblioteca.

Seung estava com o celular no ouvido quando viu as duas crianças correndo em sua direção e o Oyabun furioso atrás deles. — Seung, Seung, nos protege. — Diziam enquanto agarravam seus braços em súplicas.

— Ah, mas vocês dois vão ver só. — Satoru se aproximava. — Podem vir aqui.

Novamente eles gritaram e se esconderam atrás do gerente. — Seung!

E ele não pôde deixar de rir. — Calma, calma, tá tudo bem. — Dizia para os dois garotos chorosos. — Não fique irritado, eles só estavam brincando.

— Esses dois literalmente pararam a mansão inteira. Eu tive que deixar tudo no trabalho para vir procurar. Eu já estava prestes a mandar um grupo de busca em campo atrás deles, achando que tinham sido sequestrados. — Dizia já de frente para o homem mais novo. — Eu vou dar uma lição neles.

— Relaxa, eu vou pôr os dois de castigo. Eles sabem que fizeram errado, não é? — E olhou para os dois.

E ambos balançavam as cabeças. — Sim, sim, nós sabemos.

— Viu só? — E sorriu calmo e o Oyabun o olhou, suspirando em seguida.

— Tá legal, mas é melhor não pegar leve com eles. — E olhou para as crianças. — E vocês dois: nada de aprontar mais.

E o ocorrido ficou na memória de todos os envolvidos como o dia em que Jooheon e Gun pararam a Towa inteira. Felizmente tudo acabou bem no final, mas nem sempre foi assim, principalmente para Gun.

Quando coisas do tipo aconteciam, ele sempre era punido mais ou no lugar de Jooheon. O mesmo acontecia com o Lee sempre que ia para a Inagawa, e por isso e outros motivos se entendiam mais do que ninguém.

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No segundo andar do QG da Inagawa, um grupo de oito membros estavam reunidos em volta da larga mesa de madeira, tendo um mapa em cima e algumas plantas. Gun já subia as escadas para enfrentar a primeira reunião oficial dele, logo antes de sua primeira missão. Ele tinha 10 anos agora, e estava bastante empolgado.

— Finamente. — Um membro mais velho disse assim que o viu. — Vem cá, eu vou te explicar o que você vai fazer.

E o Song obedeceu, se aproximando do círculo de seis homens e duas mulheres, todos mais velhos. Sua primeira missão era um pouco perigosa, mas era exatamente por isso que ia acompanhado de membros experientes. Ouviu todo o pano já imaginando toda a ação divertida que iria passar, mas, obviamente, não foi tão divertida pessoalmente.

Os oito membros, mais o Gun, adentraram no esconderijo de um famoso traficante da época. O kobun estava sempre acompanhado por um dos membros e ficava em lugares seguros. Ele estava ali praticamente para observar e talvez fazer tarefas pequenas e seguras, mas as coisas não saíram como o planejado.

— O que houve? — O Song perguntou um tanto assustado ao ver a expressão de espanto no rosto de seu guarda-costas, enquanto esse desligava o celular que antes estava no ouvido.

O homem se virou para o menor e segurou seus ombros, se agachando a sua frente para que ele fosse perfeitamente compreendido. — Gun, me escuta, eu preciso que você pegue isso e leve até o outro lado daquele duto. — Disse colocando um cartão de acesso na mão do outro.

— Você não vem junto?

— Eu não caibo no duto, é muito pequeno. — Explicou para o menor.

Gun olhou para o pequeno duto de ventilação que ficava no pé da parede. — O que eu faço depois?

— Shino, a moça dos cabelos loiros, vai estar te esperando daquele lado, você entrega isso para ela e a gente se vê do outro lado, tudo bem?

O menor queria parecer corajoso como nos filmes, e por isso anuiu, mesmo que estivesse com medo. E do corredor mais à frente deles foi ouvido passos corridos e vozes de comando raivosas. — Anda!

E em prontidão Gun obedeceu e entrou no duto, tapando seu buraco com a pequena grade assim que entrou. Antes de continuar a engatinhar no duto e fazer o que lhe foi mandado, o Inagawa olhou pelas frestas de alumínio, observando perfeitamente o momento em que seu guarda foi recepcionado por vários tiros. Foi a primeira morte que o mais jovem presenciou e seu grito de espanto só não foi ouvido por causa do barulho das armas. Com uma das mãos Gun tampou a própria boca, enquanto seu corpo tremia e seus olhos derramavam lágrimas.

Mesmo atordoado com o que viu, Gun seguiu aquele duto até chegar ao seu final. Empurrou a portinhola e saiu do duto, com o cartão de acesso ainda em mãos. A sala em que parou era o laboratório onde fabricavam-se as drogas e ao olhar ao redor, só enxergou bagunça e nada da moça que deveria estar ali. Ele já estava quase desesperado e começou a procurar atrás dos balcões, passando pelos cacos de francos de vidro quebrados. As paredes eram brancas quase como um hospital, e o piso era igual.

Quando foi para trás do terceiro balcão avistou os cabelos loiros da mulher. Ela estava sentada escorada no balcão e Gun sentiu quase um alívio.

— Eu tô com o cartão. — O Song disse, pondo a mão em seu ombro e a virando de leve. A cabaça da moça pendeu para o lado e foi possível ver seu rosto pálido, seus olhos opacos e vidrados e sua garganta cortada.

Com um grito o pequeno caiu sentado para trás, aterrorizado. Fora daquela sala ele podia escutar tiros um pouco longe, alguns gritos e as luz piscando no corredor. Ele não sabia o que fazer, se ficava ali e esperava alguém lhe resgatar, ou saía para procurar algum membro da Inagawa que pudesse o ajudar e tirar dali. Ele estava sozinho e perdido.

Gun vomitou com a visão do pescoço aberto e exposto da mulher, sujando o chão e parte da sua roupa. Ele não se atrevia nem a olha-la novamente. Mesmo com medo, ele se levantou e saiu da sala. Olhou para os dois lados do corredor, não avistou ninguém, e então avançou, em um misto de pressa e cautela.

O Inagawa não sabia para onde estava indo, mas abria todas as portas por onde passava.  Podia até mesmo estar andando em círculos. Nem mesmo o treinamento que recebeu e a arma que carregava pareciam ser úteis agora.

Os barulhos pareciam se aproximar de si, ou talvez fosse sua imaginação, mas ele saiu correndo pelos corredores, dobrou a direita e continuou correndo. Na dobra com uma bifurcação no corredor, trompou com tudo com um homem, caindo no chão pelo contato. Imediatamente viu a arma do inimigo apontar seu rosto e se encolher, fechando os olhos com força e só ouviu um disparo, mas ele vinha detrás do homem.

— Gun! — E o Song abriu os olhos, vendo um dos membros da Inagawa. O homem a sua frente estava morto ao seu lado e seu rosto ficou respingado pelo sangue dele.

O homem se aproximou, seu braço esquerdo estava pendurado ao lado do corpo e sangrando. Gun se levantou e abraçou o homem chorando, mesmo que nem ao menos o conhecesse de fato.

— Onde está a Shino? — O homem perguntou, se referindo a mulher loira.

— Ela tá morta. — Dizia chorando. — E o Bom-Hwa também.

O homem xingou sozinho e afastou o menor. — Eu vou te tirar daqui, não chore.

Gun fungou ainda com o choro e estendeu o cartão para o mais velho. — O Bom-Hwa me disse pra dar isso pra Shino.

— Isso é ótimo! — E pegou o cartão, com imensa esperança. — Agora podemos sair daqui. Vem, vamos nos apreçar.

Gun seguiu de perto o outro homem, que só não segurava sua mão para correr porque uma estava machucada e a outra carregava a arma. O mais velho parecia saber onde ficava a saída e Gun estava quase aliviado, mas isso não durou muito. O grito de um dos membros da Inagawa foi ouvido próximo e o homem parou de andar, destrancando uma porta do corredor com o cartão de acesso e empurrando Gun para dentro, depois se agachou a sua frente.

— Gun, fica com o cartão, eu já venho.

O pequeno segurou sua blusa antes desse se levantar. — Não quero ficar sozinho, eu tô com medo.

— Não se preocupe, vai ficar tudo bem, eu só preciso que você fique aqui escondido até eu voltar. Você consegue fazer isso? — Os olhos do menor já estavam cheios de água, mas ele anuiu. — Quando eu voltar eu vou bater na porta e você abre, se alguém entrar você atira. Cadê sua arma?

E em resposta, o menor pegou a arma atrás das costas, a segurando tremulamente. O homem acariciou seus cabelos, tentando o tranquilizar, depois saiu da sala e fechou a porta.

Gun se encolheu no escuro daquela pequena sala e se afastou até ter as costas na parede. Aparentemente aquele cômodo estava vazio, mas ele não prestou atenção e agora estava escuro demais para enxergar. Os barulhos de tiros e gritos estavam bem próximos agora. Gun segurava a arma apontada para porta, se concentrando apenas se ela abrisse ou se alguém batesse. Passaram-se poucos minutos e o que aconteceu foi a primeira opção.

O coração do pequeno Gun bateu ainda mais acelerado no peito e assim que a porta se abriu ele atirou, fechando os olhos com força. Quando o abriu viu um homem caído no chão. Ele continuou ali agachado, mas pela porta estar aberta, os barulhos do tiroteio estavam muito altos, fazendo ele cobrir os ouvidos com as mãos e se lembrar de quando tinha cinco anos e estava escondido no armário do quarto de Vanessa, enquanto uma batalha mortal ocorria do lado de fora.

Alguém entrou na sala e quando ele foi apontar a arma para atirar, viu que era o membro da Yakuza. — Gun, sou eu. Vem.

O Song se levantou e correu até o outro. Ele estava agora sem arma e segurou na mão do pequeno. Quando os dois saíram do cômodo, passando por cima do cara morto na porta, Gun viu outro membro da Inagawa, uma moça de cabelos escuros e picotados, que carregava uma metralhadora.

— Vamos, o JC distraiu eles para o outro lado.

E com isso eles saíram correndo, enquanto a mulher dava cobertura. Os três conseguiram entrar no carro e, de nove, só quatro estavam vivos. Eles saíram o mais rápido possível dali Gun chorou o caminho inteiro.

Era para ser uma missão simples, sem tiros, sem mortes e sem traumas. Estavam no Japão e lá o território da Inagawa era muito maior. Os membros se localizavam em um bairro escuro, ao lado de uma estação de trem abandonada, com vários containers vazios. Os quatro dirigiram até a casa de Kakuji, onde ele se encontrava em seu escritório. Assim que Gun o viu, correu e o abraçou, chorando em sua roupa.

— O que foi que aconteceu? — O homem olhou para os três membros a sua frente.

A história foi contada em seus mínimos detalhes, e os três pareciam decepcionados pelo fracasso da missão, e, principalmente, pela morte de companheiros. Kakuji suspirou e afastou Gun pelos ombros, o olhando severo. — Chega de choro Gunhee, homens nãos choram.

Isso só o fez chorar mais. — Senhor, o Gun passou por muita coisa hoje. — O rapaz argumentou, sentindo pena do kobun.

— Ele passou pelo que tinha que passar para crescer. — Disse o outro, ainda severo. Não é como se ele gostasse de tratar Song assim, mas seu modo conservador de ensino, o mesmo modo que foi criado e o mesmo modo que se exigia dos Oyabuns, o obrigava a ser duro. — Façam o relatório da missão ao Tobirama, amanhã tentarei recuperar os corpos dos que morreram. — Os três se reverenciaram com expressões tristes e saíram. Gun ainda chorava. — Vá tomar um banho e trocar essas roupas vomitadas.

E assim ele fez, mas mesmo depois do banho continuava chorando baixinho em seu quarto. Kakuji entrou no cômodo e viu o menor sentado encolhido na cama. — Ainda está chorando?

— Eu não quero nunca mais ir em missão. — O menor disse com a voz embargada e os olhos já ardendo.

O homem se aproximou. — Você não tem escolha, terá que ir mais vezes. — E então parou de frente para o kobun. — O que aconteceu hoje foi difícil, mas é por esse tipo de coisa que os kobuns passam, para se tornarem fortes líderes um dia. Você é um Inagawa.

— E um Inagawa deve agir como um Inagawa. — O mais novo completou, já conhecendo decorado a sentença. — Mas eu não quero passar por esse tipo de coisa.

— Gun, você é meu kobun e eu não admito que seja fraco, está ouvindo? — Disse com mais autoridade. — Amanhã seu treinamento começará a ficar mais puxado e eu quero que fique firme. — E antes no mais novo começar a chorar de novo, seu pai quase gritou: — Chega de choro! Eu não quero ouvir mais um soluço, senão vou vir aqui te bater, está me entendendo?

E o menor prendeu o choro, anuindo com a cabeça. O Oyabun suspirou e saiu do quarto do outro. Ele sentia a enxaqueca atacar por ter que ser duro. Foi para seu escritório e mandou uma mensagem para a mãe de Hyungwon, para que o filho viesse ver Gun.

Pouco tempo depois, Gun não chorava, mas estava deitado com os olhos abertos sem conseguir nem mesmo bocejar de sono. Se levantou da cama apenas quando ouviu batidas na janela, e quando foi até lá viu o Chae com uma escada, a que ficava no quintal, de frente para o vidro. Quando Gun abriu o vidro, Hyungwon imediatamente entrou e fechou a janela, como se estivesse com frio.

— O que tá fazendo aqui? — O mais novo perguntou e Hyungwon sorriu.

— A minha mãe disse que era para mim posar em um amigo porque ela ia chamar uns amigos lá pra casa, então eu vim aqui. — Explicou o mais alto, sem nem saber do real motivo de sua mãe lhe mandar ali, inventando uma história.

Gun voltou para cama e se sentou, se cobrindo com as cobertas até as pernas. Hyungwon subiu na cama e se sentou à sua frente. — E como foi a sua primeira missão?

Com a pergunta ele sentiu a vontade de chorar voltar, mas se controlou. — Foi horrível! Eu achei que seria divertido, mas não foi.

Hyungwon já havia saído em missão duas vezes, e entendia o que o outro queria dizer. — Fica melhor depois.

— Fica mesmo? — Perguntou, a procura de um consolo.

— Sim. A minha primeira missão foi muito assustadora, e a segunda também, mas foi um pouco menos assustador. — Dizia se embaralhando nas palavras. — E você saiu em missão antes do Jooheon, então vai poder se achar pra ele.

Gun antes achava que seria muito divertido contar para Jooheon sobre suas incríveis batalhas na missão, mas aquilo não era como o anime que assistiam. — Ele também vai ir em uma missão como a minha? — Disse com certa preocupação. — Ele vai chorar muito.

Hyungwon pareceu pensar e sorriu. — Então você deve ficar bem pra poder ajudar ele.

— Ajudar ele?

— Isso. Você tem que ser forte, assim ele vai querer fazer igual você e não vai chorar.

— Mas eu chorei. — Disse envergonhado.

O pequeno Chae pensou rápido. — M-Mas ele não sabe disso.

E Gun ficou inquieto. — E se eu não conseguir ser forte?

— Você já é forte só por tentar, não é? — O mais velho tentava ajudar, mas não sabia exatamente como fazer isso.

— Eu sou um Inagawa… então eu sou forte. — Disse mais para tentar convencer a si mesmo.

Hyungwon sorriu e se aproximou, se cobrindo com a coberta e se deitando ao lado do outro. — É sim, e vai ser mais forte ainda quando crescer.

Gun suspirou com os ombros murchando e se deitou também. — Então eu quero crescer logo. — E abraçou Hyungwon. — E vou ficar maior do que você.

Hyungwon riu, devolvendo o abraço. — Não vai não, eu sempre vou ser maior.

E só na presença do amigo Gun conseguiu dormir, mas teve uma noite atormentada por pesadelos.

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— Gun, eles levaram o Jooheon! Meu deus, o que a gente faz? — Minhyuk tinha as mãos na cabeça desesperado e prestes a chorar.

— Hyungwon, você está bem? — O Song perguntou ao mais velho, vendo o sangue em seu braço.

O Chae concordou, embora o corte feito por faca ali ardesse. — Estou bem.

— Isso não era para ter acontecido. Merda! — Shownu bateu na porta amassada do caro, irritado. — Como eles sabiam que estaríamos em missão em Daegu?

Os três se viam com um carro amassado e furos de tiro, em uma estrada árida e praticamente deserta. — Não podemos ficar sem fazer nada, temos que ir atrás do Jooheon. — Gun disse atordoado. — Sabe-se lá o que os chineses vão fazer com ele.

— É arriscado irmos atrás deles, vocês viram quantos eram? — Shownu tentava raciocinar. — Precisamos abandonar essa missão e chamar reforços.

— Não temos tempo para isso. Até os reforços chegarem em Daegu pode ser tarde. — Gun estava decidido. — Eu vou atrás dele.

Minhyuk ainda estava apavorado, afinal nunca esperou que uma simples missão de entregar uma encomenda e negociar uma parceria com as gangues locais sairia tanto dos planos.

Hyungwon segurava o próprio braço. — Eu vou com você.

— Não. Vocês dois estão loucos? — Shownu ainda contestava. — Estamos falando de Fai Lin, não tem como vocês conseguirem resgatar o Jooheon.

Mas Gun já estava entrando no carro. — Eu não vou deixar ele sozinho.

— Vocês dois vão chamar reforços enquanto nós tentamos trazer o Jooheon de volta. — Hyungwon disse e já deu a volta no carro, se sentando ao lado do banco do motorista.

— Gun! — Shownu protestava.

Mas o Song apenas entrou no carro. — O rastreador do meu celular está ligado. Nos encontre.

E assim deu a partida, sem se importar se não tinha idade para dirigir, ainda com seus 15 anos.

A van que sequestrou Jooheon não tinha partido a muito tempo, e por a estrada ser pouco movimentada e ainda arenosa, era fácil seguir as marcas dos pneus. Aquela rua era realmente deserta, andaram alguns quilômetros avistando só terra e areia, pedras e poucas arvores. Passaram um posto de gasolina apenas.

As marcas que seguiam não eram muito visíveis, por isso demoraram para encontrar o lugar, mas após entrarem em um terreno de arvoredo, em uma estrada fina, finalmente encontraram o lugar. Um prédio de quatro andares, com as estruturas de cimento meio gasto.

Desceram do carro armados com apenas uma pistola cada. Hyungwon tinha um pouco de dificuldade para segurar a arma com ambas as mãos e Gun pensou que teria sido melhor ele ter ido sozinho, assim não colocaria mais alguém em perigo.

O prédio escondido pelas arvores não parecia muito tecnológico, então não se preocuparam com câmeras. Entraram pela lateral, em uma porta vermelha dupla de metal meio enferrujada, que rangeu ao ser aberta.

Os dois andavam com cautela, se escondendo dos chineses que encontravam no caminho. Para suas infelicidades, realmente tinham muitos chineses ali. Conseguiram passar despercebidos, checando sala por sala, até o segundo andar apenas. Foram encurralados e apanhados assim que pisaram no andar superior, e mesmo matando uns cinco ou seis, eles ainda estavam em desvantagem. Ao menos encontraram Jooheon, mas agora estavam presos como ele.

A primeira coisa que Gun notou quando o empurraram para dentro daquele porão, foi Jooheon com os tornozelos presos com correntes, de cabeça para baixo, os braços amarrados atrás das costas e os cabelos e rosto úmido, enquanto tossia. Abaixo de sua cabeça tinha um tonel de água meio acinzentada. Gun se espantou, assim como Hyungwon.

— Jooheon!

O Lee parecia atormentado, e o Song sabia do trauma com água que ele tinha, e o porquê. — O que vocês estão fazendo aqui, seus idiotas?!

Ambos foram amarrados a pilares e os homens que o traziam deixaram o porão. — Viemos te resgatar. Você está bem?

Uma risada afiada foi ouvida e só então os dois rapazes notaram a presença do homem que estava nas sombras. Fai Lin. — Resgatar? Vocês e mais quantos? — E se aproximou dos prisioneiros.

— Fai Lin! — Hyungwon estava terrivelmente surpreso. Ele sabia que eram chineses a mando de Fai Lin, mas não imaginou que iria encontrar o próprio ali.

— O prazer é seu. — Disse sorrindo e se agachou de frente para Gun, com uma expressão um tanto estranha. — Quem diria, até que é parecido. — E se levantou, deixando o Inagawa confuso com a fala. — Jooheon, você se lembrou de algo interessante que queira compartilhar?

— Vai se foder! — Xingou com raiva.

— Ah, não era o que eu estava esperando. — E girou a manivela, fazendo as correntes que prendiam Jooheon de ponta cabeça se afrouxarem o suficiente para que sua cabeça ficasse submersa no tonel.

Jooheon se debateu como um peixe preso em um anzol e Gun tentou se soltar do pilar, mas sem sucesso. — Para com isso! Deixa ele em paz!

Fai Lin riu prazeroso e só depois de mais um tempo ele girou a manivela em sentido oposto, trazendo o Lee de volta para cima. Jooheon tossiu engasgado com a água, e mais do que a dor nos seus pulmões, seu trauma já estava ativo.

— Não se preocupem, vocês terão a vez de vocês. — E parou de pé, de frente para ambos. — Hmm… qual seria a tortura perfeita?

— Seu doente! — Hyungwon também fazia força para se soltar, mesmo sabendo que era inútil. — O que é que você quer?

E então o chinês estalou os dedos. — Ah, é claro! — E saiu da sala por um momento ignorando os dois e voltando pouco tempo depois com dois homens. Sem falar nada os dois chineses apenas desamarraram Gun e o amarraram de novo, mas dessa vez de pé e abraçado ao pilar.

— Ótimo, assim está perfeito, agora tragam a cadeira. — Os dois anuíram e saíram. Fai Lin foi até uma mesa de ferro cheio de ferramentas em cima e pegou um chicote de lá.

— O que vai fazer, seu filho da puta?! — O Song já estava novamente tentando se soltar.

Fai Lin não usou palavras, mas Gun foi respondido quando sentiu o chicote estalar em suas costas e ele gritar em dor e surpresa. As chicotadas lhe acertavam uma atrás da outra com força e sem piedade, lhe rasgando o tecido da blusa branca e criando, inicialmente, vergões em sua pele. Aquilo doía muito mais do que Gun um dia sequer imaginou. Jooheon continuava a tossir e Hyungwon gritava protestos para que o outro parasse, o que só aconteceu, de fato, quando os homens apareceram com a tal cadeira.

Gun olhou para o objeto de tortura e seu desespero aumentou. Ele não pretendia realmente usar uma cadeira elétrica, não é?

— Agora é a sua vez. — Disse olhando para Hyungwon, que arregalou os olhos. — Eu particularmente acho que o seu é o mais divertido, você deu sorte.

E os homens desamarraram Hyungwon. Gun não estava acreditando naquilo. — Não! Deixa ele!

Hyungwon até tentou lutar, mas não conseguiu nenhum resultado. Ele foi sentado a cadeira e seus pulsos e tornozelos foram presos pelas algemas de ferro da própria cadeira, assim como sua cintura. Só o que não prenderam foi sua cabeça, por algum motivo. Quando já estava bem preso, os homens passaram a se ocupar em ligar aquela cadeira, o que era mais complicado do que parecia. Quando terminaram, Fai Lin os mandou que ficassem na sala, para o ajudar.

Fai Lin pegou uma mordaça de borracha e colocou na boca de Hyungwon, que já estava desesperado. — Pronto?

— Para, não faz isso! Me diz o que você quer! — Gun tentava o impedir, mas o homem nem se prestava a responder.

Yang regulou a voltagem e ligou o instrumento, fazendo Hyungwon dar um grito contido apenas pela mordaça, mas que ainda podia ser ouvido no fundo de sua garganta. Gun continuava gritando para que ele parasse, e se debatia tanto tentando se soltar que seus pulsos já começavam a criar feridas.

Fai Lin não fez pergunta alguma no início, não disse nada, apenas torturou os três, parando de tempo em tempo apenas para que se recuperassem para a próxima dose. Jooheon as vezes era solto e deixado no chão, ainda amarrado, depois o penduravam de novo. Quando um era torturado, os outros dois assistiam, tornando tudo duplamente doloroso, pois eles não podiam fazer nada para evitar. Teve até o momento em que os três foram torturados simultaneamente, com a ajuda dos capangas. Depois de algumas horas nessa rotina, finalmente as perguntas começaram a ser feitas.

Onde ficavam guardadas as armas da Yakuza, qual a localização do esconderijo subterrâneo que a Yamaguchi criou a anos, quem era o responsável pelo contrabando das armas dentro da facção, quais os contatos tinham com a polícia e com os políticos. Essas e outras perguntas eram feitas e nenhuma poderia ser contada, em hipótese alguma. Jooheon e Gun, sendo kobuns, eram os que mais sabiam, e ambos tinham a plena consciência das consequências que traria se contassem o que o chinês queria saber, e não era a punição que receberiam o real problema, e sim o fato de que, com essas informações, a Yakuza seria completamente tomada, as armas, os contatos legais e políticos estariam todos nas mãos dos chineses, que poderiam dizimar todos em questões de minutos. Até gente inocente, fora da máfia, estariam em risco, pois eles sabiam que Fai Lin, mais do que tomar posse de toda a máfia, iria usar o armamento para atentados no Japão e possivelmente na Coreia.

Por esses e outros motivos eles não contaram, mesmo diante de tamanhas torturas. Eles não conseguiam nem dormir por causa da dor que sentiam, e se descansaram meia hora era muito.

O tempo ali corria estranho, sem nenhuma iluminação solar. Tudo parecia passar lentamente, segundos viravam minutos e minutos viravam horas, mas mesmo tudo sendo sofregamente lento, eles tinham a sensação de estarem a bastante tempo ali, talvez uns três dias.

Estavam todos os três desgastados física e emocionalmente, mas ainda resistiam o máximo que conseguiam. Deixaram escapar coisas importantes, mas não tão fatal, nada realmente muito prejudicial era dito, e a única coisa que os mantinham motivados era pensar que Shownu apareceria com reforços a qualquer momento. Essa era a esperança desesperada deles.

Suas vidas foram ameaçadas, mas não cederam. Hyungwon já tinha espasmos por todo o corpo, parecia as vezes até ter uma convulsão; Jooheon estava tonto e fraco, e depois daquilo era certo que pegaria uma pneumonia grave, e o seu emocional e psicológico só se voltavam para o acidente dos pais; Gun sentia as pernas doerem em cansaço de tanto tempo em pé, suas costas agora, depois de tantas chibatadas, estavam rasgadas como se um animal selvagem o dilacerasse a carne. Aquilo tudo era pior do que o inferno e Fai Lin já não parecia se divertir com a tortura, uma vez que não conseguia nenhuma informação que queria.

— Vocês não se rendem mesmo eu ameaçando a vida de vocês. — Disse andando de um lado para o outro no porão. Jooheon estava novamente sentado no chão e seu rosto estava vermelho pelo sangue que subiu à sua cabeça. — Eu vou ter que optar por uma nova tática. O ponham sentado. — Disse para os capangas, que foram logo até o Song. — Eu quero que ele veja.

Gun quase agradeceu por finalmente poder se sentar, mas a dor que sentiu por suas costas estarem escoradas no pilar era ainda pior.

— Não iremos contar nada, não importa o quanto nos torture ou ameace. — Foi Jooheon quem falou e sua voz estava fraca.

E em resposta ele sorriu e andou até o Chae, que tinha a cabeça pendida para baixo, com os cabelos no rosto e espasmos nas mãos. — Ah, eu sei como vocês, adolescentes, são sentimentais. Mas dessa vez irão me contar, porque senão eu mato o seu pobre amigo, aqui.

Gun arregalou os olhos olhando para Hyungwon, que ao ouvir aquilo levantou a cabeça e olhou apavorado para o chinês ao seu lado. — Você não me mataria.

— Ah, mataria sim. Você não é kobun e nem ninguém importante, não tem porque eu não o fazer. — Disse com um sorriso calmo e vitorioso.

— O que eu quero saber. — E olhou para Jooheon. — É onde a Towa guarda os estoques de trinitrotolueno.

Gun ficou chocado com a informação desconhecida para si. Ele nunca imaginou que a Towa teria tal tipo de armamento e se Fai Lin conseguisse, não era nada bom, mas mesmo assim, eles não podiam deixar Hyungwon morrer.

— Eu não vou contar. — O Lee respondeu.

O mais velho entre eles suspirou e levou a mão até a aparelhagem que ligava a cadeira. — Vocês acham que eu estou brincando, não é? — E com a fala ele ligou o aparelho mais uma vez. — Sabe com quantos volts uma pessoa pode morrer? 110. Essa cadeira tem 2 000 volts. — Disse enquanto o Chae atormentava com as cargas elétricas e enquanto os outros dois protestavam para que parasse. — Claro que também depende na tensão e de como a pessoa vai receber essa descarga elétrica, mas por que não testamos até onde ele aguenta? — E aumentou a voltagem.

— Jooheon, fala logo! — Gun gritava desesperado.

— Eu não posso! Não posso! — Dizia com lágrimas.

Fai Lin desligou o aparelho por um instante. — Estamos nos 50 volts. Vamos aumentar?

— Jooheon!

Mas o Lee tinha os olhos cerrados com força, se negando a falar. Fai Lin ainda parecia calmo. — Sabe, o choque no corpo humano pode ser realmente fatal. Pode causar queimaduras, paradas cardíacas, várias sequelas diferentes físicas e mentais, além de, claro, levar a morte. — Hyungwon tinha novamente a cabeça pendida para baixo e arfava descompassadamente, mostrando que seus batimentos já estavam acelerados. Ele nem ao menos conseguia dizer algo. — Parece que seu amigo não se importa muito com vocês. A rivalidades entre as duas famílias sempre vai existir, e essa será a sua ruína. Ele nunca se sacrificaria por alguém da Inagawa. — Disse o Yang e novamente ligou o aparelho, dessa vez em uma voltagem mais alta.

— Jooheon, por favor conta pra ele logo. — Gun dizia com a voz já embargado pelo medo.

O Lee negava com a cabeça, derramando lágrimas. — Não posso. Eu não posso contar.

— Chegando aos 90 volts. — Fai Lin pilhava.

— Por favor Jooheon, eu tô te implorando!

O Nomura não conseguia nem olhar para o rosto de Gun. — Me desculpa Gun, eu não posso falar.

— 100 volts. — Fai Lin informou.

— O Hyungwon vai morrer! Jooheon!

O Nomura chorava, mas não contava, porque contar seria destrutivo. Porque aquilo nas mãos de Fai Lin seria catastrófico à um nível surreal.

— Eu acho que eu não tenho opção senão aumentar lodo para os 200. — Mas antes dele fazer isso a porta do porão se abre com força e um de seus capangas aparece.

— Fai Lin, a Yakuza entrou no prédio!

O chinês franziu o cenho. — Como assim a Yakuza entrou no prédio?

— Eles estão aqui! Todos eles! — O outro estava alarmado. — A Towa, a Inagawa, a Sumiyoshi e a Yamaguchi.

E aquele foi o raro momento em que o demônio parecia preocupado. Ele desligou a cadeira elétrica e Hyungwon estava inconsciente. Fai Lin pegou o celular e começou a gritar comandos em chinês e agora Gun e Jooheon não conseguiam entender o que era dito.

Fai Lin tinha uma expressão fria no rosto e se virou pra Jooheon, se agachando a sua frente e sussurrando em seu ouvido: — Eu sei quem matou os seu pais. — Jooheon pareceu fantasmagoricamente surpreso e o encarava perplexo. Após isso o chinês apenas se retirou.

— Hyungwon! — Gun continuava fazendo força para se soltar. O Chae não respondia e nem reagia e os dois temeram que ele estivesse morto. — Por que você fez isso?! Por que não contou?!

Jooheon tinha uma expressão dolorosa no rosto, olhando verdadeiramente preocupado para Hyungwon. — Eu… não podia.

A porta se abriu mais uma vez, mas dessa vez era Shownu que entrou junto de Minhyuk.

— Meu deus! — Minhyuk estava catatônico com o que viu e correu para desamarrar os dois kobuns.

Shownu se apressou até Hyungwon e segurou seu rosto com as mãos e ele entreabriu os olhos. O Son o desprendeu da cadeira e tentou o levantar para o ajudar a andar, mas ele mal conseguia se manter em pé. — O que aconteceu com vocês? — Perguntou com pesar. — Eu sinto muito, eu deveria ter evitado tudo isso.

— Gun, as suas costas! — Minhyuk disse assim que o soltou, vendo o tamanho e a profundidade dos machucados.

— Vamos, temos que sair daqui. — Gun disse apressado.

Jooheon também foi solto e Shownu teve que carregar Hyungwon no colo, e assim os cinco saíram do porão, indo para o cenário de verdadeiro caos e guerra.

A Yakuza e os chineses estavam entre tiroteios, granadas e facadas, e tudo era uma explosão de poeira, chamas e destroços. Os dois kobuns, mesmo machucados, foram ajudar. Conseguiram espólios de armas pelos corpos abandonados no chão. Eles entraram na batalha e lutaram pelas suas famílias, lutaram pela Yakuza.

A Yakuza estava em maior número, mas os chineses tinham forte munição. Hyungwon já conseguia se manter em pé, mas era só. Jooheon e Gun lutavam lado a lado e por um momento o Song apenas ignorou a negligencia de Jooheon naquele porão.

Um estava defendendo a guarda do outro, de costas se tocando e encarando o fogo cruzado. O prédio começou a cair em pedaços, os chineses estavam recuando e a Yakuza começou a fazer o mesmo, vendo que aquilo tudo iria desabar. Entretanto, Jooheon parou de atirar ao avistar Fai Lin e sem pensar duas vezes correu em sua direção.

— Jooheon! — Mas ele não lhe deu ouvidos.

Gun se virou para Shownu atrás de si. Seu rosto sujo de fuligem. — Leva os dois para fora, eu vou atrás do Jooheon.

E pela primeira vez Shownu o obedeceu sem questionar, mas nem Hyungwon nem Minhyuk estavam felizes com aquilo.

— Você vai se matar! Gun! — Hyungwon tentou o impedir, mas Shownu o segurou. Minhyuk se movimentou para seguir o Inagawa, mas o Son foi mais rápido e também o segurou.

— Chega de pessoas se ferindo por hoje. — Shownu disse e pegou Hyungwon, que esperneava com a pouca força que ainda lhe restava, e o colocou sobre um ombro.

Mas Minhyuk tentava se soltar da mão do outro. — Shownu, me larga!

O maior saiu andando carregando Hyungwon e puxando Minhyuk pelo pulso, ambos tentando o impedir.

Gun correu na direção de Jooheon o mais rápido que pode, mas em seu caminho encontrava com chineses que o tentavam parar. Ao longe Gun podia ver Fai Lin de frente para o Lee, segurando uma maleta.

— Jooheon, volta! — Gritou para o outro, enquanto ainda abria fogo contra alguns chineses. — Isso aqui vai desmoronar!

Mas Jooheon não o ouviu, ou o ignorou. O fogo dançava pelas paredes e teto e toda a estrutura de concreto daquele covil tremia, caindo e desmoronando aos poucos. No meio da batalha acabou as munições de Gun, mas felizmente seus inimigos estavam mais preocupados em fugir do que em atirar em si. O mais velho notou que Jooheon estava desarmado, e presenciou o momento exato quando o Nomura entrou em uma briga de socos com o chefe da máfia chinesa. Ele conseguiu pegar a maleta do outro e correu para onde Gun estava. Só depois daquilo eles finalmente começaram a ir para a saída, mas no meio da corrida o chão se rachou e Gun se desequilibrou, caindo sentado. Jooheon olhou para trás a tempo de ver parte do teto desmoronar e criar uma barreira entre os dois. O Lee também tinha caído e na sua queda deixou a maleta cair, que deslizou pelo chão até parar na ponta de um enorme buraco de fogo.

Gun sentia a fumaça negra e tóxica invadir seus pulmões e não consegui respirar direito. Um pedaço de concreto caiu sobre seu tornozelo e ele não conseguia se levantar. Jooheon olhou para a maleta a beira de sua queda e o desespero bateu. Ele não podia perder aquilo.

— Jooheon, socorro! — Gun tossiu, sentindo as bochechas arderem no fogo que o rodeava. — Me ajuda!

A cena a seguir pareceu em câmera lenta. Jooheon foi até a maleta, sumindo da visão de Gun. O Inagawa não conseguia nem mais puxar o ar sem tossir, sua visão estava seca e turva e sua pele sentia aquelas brasas querer beijar-lhe mortiferamente. Possivelmente aqueles minutos presos nos escombros, sem conseguir respirar, logo após ter passado por três dias consecutivos de tortura, sendo abandonado pelo amigo e tendo as labaredas o cercando foram os mais terríveis de sua vida. Ele nunca sentiu tanto medo quanto naquele momento.

O fogo a sua frente o amedrontava, pareciam línguas bifurcadas saídas da garganta do diabo, do próprio inferno. Eram quentes, doídas, e não tinha escapatória. Ele não podia lutar contra o fogo e aquelas chamas iriam o engolir inteiro, de forma lenta e dolorosa. Ele estava tão apavorado que parecia petrificado olhando a flama que derreteria sua pele em um futuro muito próximo, que o faria sofrer sentindo o gosto de cinzas na boca. Gosto esse que já sentia. Era tudo tão claustrofóbico, tão demoniacamente perturbador. E o pior de tudo, é que não tinha esperança nenhuma de sair dali vivo. Ele tinha a convicta certeza que era seu fim e não conseguia fazer nada para impedir.

A fumaça o trancou a garganta e ele perdeu o ar, junto com sua consciência. Quando desmaiou, não conseguiu ver o momento em que a maleta esquecida caiu no buraco flamejante e Jooheon tomou distância para poder pular através do buraco no chão que tinha entre eles.

Jooheon, cheio de água nos pulmões, e agora fumaça, começou a tirar escombro por escombro, cavando naqueles quentes pedaços de cimento, queimando as palmas das mãos até finalmente alcançar Gunhee. Estava tudo despencando e foi com grande dificuldade e perigo que o Nomura conseguiu colocar o mais velho em suas costas. O fogo consumia tudo e a única saída que Jooheon encontrou foi passar rápido pelas chamas. Por pouco o prédio não desaba sobre sua cabeça, mas conseguiu sair e uma vez do lado de fora, caiu de joelhos e uma mão no chão, derrubando Gun ao seu lado. Jooheon tossia e se sentia tonto e só viu quando Kakuji se aproximou correndo e então ele desmaiou.

Quando Gun acordou estava em um quarto de hospital com agulhas em seus braços, tubo de oxigênio ligado ao nariz e diversos curativos pelo corpo. A primeira pessoa que viu foi seu pai, que estava sentado no pé de sua cama e o olhou surpreso.

— Você acordou.

Gun se sentou na cama, soltando caretinhas de dor, e olhou em volta, avistando apenas Tobirama, o gerente, de pé. Sua memória voltando aos poucos. — O que aconteceu? Como eu vim parar aqui? E o Jooheon?

Seu pai franziu o cenho. — Eu não sei como você conseguiu sair de lá, mas o importante é que você está bem. — Disse, mentindo os fatos. — Jooheon está bem, ele te abandonou lá dentro e saiu antes de você.

— Ele fez isso mesmo? — Gun não parecia querer acreditar.

— Sim. — Confirmou o mais velho. — Eu sabia que cedo ou tarde isso iria acontecer.

Assim que o Oyabun e o gerente saíram do quarto hospitalar, Tobirama o encarou confuso. — Por que mentiu para ele?

— É melhor assim. — Suspirou. — Era questão de tempo até Jooheon o trair, melhor agora de mentira do que mais tarde de verdade.

Gun recebeu alta em dois dias e Hyungwon teve que passar por exames mais específicos, para ver se sua atividade cerebral não sofreu nenhum dano. Seu pai gastou muito dinheiro com isso e depois ainda teve que pagar um psicólogo, o qual o Chae não frequentou nem um mês.

Os dois já tinham voltado para o Japão e desde então nenhum dos dois teve contato com os meninos da Towa. Jooheon não o visitou no hospital e nem o ligou, e o Song só foi receber sinal de vida do outro, mais de duas semanas depois, e fez questão de não atender.

Tinha vezes que até pensava em conversar com o Nomura e esclarecer as coisas, mas quando lembrava de tudo o que aconteceu e do que seu pai lhe contava, sendo verdade ou não, essa vontade diminuía cada vez mais. O que o fez decidir-se por vez que aquela amizade tinha acabado definitivamente, foi em uma tarde, quando estava na casa de Hyungwon discutindo sobre assuntos políticos associados a Yakuza e, apenas por ouvir o barulho de um taser em um filme policial na TV, o Chae começou a ter um ataque de pânico.

Ele ficou ofegante e suas mãos começaram a ter espasmos. Gun ainda não tinha presenciado a crise do outro e não imaginou que estivesse tão mal. — Hyungwon, o que houve? — O Chae, que antes segurava um copo de água, o deixou cair, espatifando-se. Gun olhou para a televisão e alcançou o controle em cima da mesa de centro da sala, a desligando rapidamente e se levantando do sofá, indo até o amigo, que tremia ainda mais e caiu no chão, com as costas no outro sofá, e a mão sobre um caco de vidro. — Hyungwon!

O mais velho começou a chorar e seus ombros se sobressaltavam como se levasse um susto por segundo. Gun sentiu tanto pesar ao ver seu hyung, que sempre foi forte, naquele estado. — Hyungwon, tá tudo bem. — Falava com a voz mansa e um pouco embargada, segurando a mão machucada no Chae e com sua destra na nuca do outro. — Você está bem, está salvo agora. — Hyungwon pareceu voltar a realidade, mas desabou a chorar mais, ainda com espasmos nas mãos.

— Eu não quero me machucar mais, Gun, eu tô cansado disso.

O Song o puxou para um abraço, sentindo os próprios olhos marejarem. — Ninguém mais vai te machucar, eu prometo.

E aquela foi a gota d’água para Gun. Ele não conseguiria perdoar Jooheon, não conseguiria perdoar a Towa.

.

— Mas que droga! Cadê o Eun-Tak? — Gun estava furioso. Não fazia nem um ano desde o incidente com os chineses e a Towa e a Inagawa já se atacavam.

Teddy acabou de entrar na sala e soltou a arma em cima da mesa. Seu rosto estava sujo assim como as roupas. — Ele foi pra quarta avenida.

— Tudo bem, eu quero o grupo três na 4ª avenida junto. — Dava as ordens enquanto os membros já obedeciam. — Teddy, você e o seu grupo comigo, defendam esse estoque.

E assim todos saíram da sala com as armas na mão. A mesa central daquela pequena sala era de madeira e só tinha um mapa em cima, o mapa de Daegu. Nas paredes armas estavam penduradas e no teto a iluminação era precária. O mapa tinha alguns rabiscos de canetão vermelho e cartuchos de arma serviam de peso nas extremidades do papel. Gun olhava para o pedaço comprido de folha pensando em estratégias. A avenida quatro tinha um número considerável de Towenses, Eun-Tak não conseguiria lidar com todos sozinho, e até o reforço chegar lá poderia já ser tarde, ele precisava pensar em uma solução.

A porta foi aberta abruptamente por um homem que segurava o celular em uma das mãos. — Gun!

— O que foi? — Perguntou um tanto ríspido, já esperando as más notícias.

— Os Towenses na 4ª avenida foram detidos.

Gun franziu o cenho. — Foram mortos? Como isso é possível?

O homem entrou na sala com o celular. — Eun-Tak ligou agora avisando que um garoto entrou no meio da luta.

— Me dá o celular. — Estendeu a mão e o outro entregou o aparelho. — Eun-Tak, o que está havendo aí?

— Gun, eu também não tô entendendo. Apareceu um garoto do nada e se meteu no meio da briga.

Mas o Song só estava mais confuso. — Que garoto? Como ele pode ter lutado contra os seis?

— Eu disse que tem 15 anos. — Explicou o rapaz de 17. — Ele está a três anos na rua. Eu não sei, mas ele é realmente muito ágil. Ele matou quatro membros da Towa sozinho.

— E os outros dois?

— Eu matei. — Disse. — O que eu faço com ele?

Gun pareceu pensar e se decidiu rapidamente. — O grupo três deverá chegar aí a qualquer momento, traga ele para cá.

— Certo.

Gun desligou e devolveu o celular ao homem e ele se retirou. Com a caneta vermelha ele marcou um X sobre o círculo que marcava a quarta avenida. Isso era ótimo, seja lá quem fosse o rapaz, ele salvou o andamento daquela missão. Agora Gun só precisava se preocupar em defender aquela base. O estoque que a Towa estava tentando saquear era de propriedade da Inagawa, que tinha sua base em Seoul e o estoque de armas no interior de Daegu.

Quando Eun-Tak voltou com o garoto e com a equipe, Gun logo ordenou para que se juntassem ao restante dos membros na extremidade daquela área, onde Teddy fazia a frente na defesa. Gun foi até a pequena sala do esconderijo e viu um garoto sentado quase encolhido no sofá de couro. Seus dois guardas estavam no cômodo também. Gun terminou de dar suas ordens no celular e o guardou, indo até o rapaz e se agachando a sua frente. O Inagawa notou que o garoto tinha a calça rasgada não propositalmente e as roupas meio sujas, realmente como se morasse na rua. Vestia um casaco azul escuro de capuz e este tinha com as mangas sujas de sangue. Gun notou que ele parecia assustado, quase que encolhido e com a cabeça baixa, olhando para as mãos vermelhas, assim como parte do rosto. Em sua bochecha tinha um band-aid com desenho de bichinhos, que talvez Eun-Tak tenha o dado, e o conjunto inteiro faziam Gun duvidar que tinham a mesma idade, afinal o outro era mais baixo que si, magro e parecia uma criança.

— Não tenha medo, você está seguro com a gente. — Gun disse com um sorriso suave. — Meu nome é Song Gunhee Inagawa, como você se chama?

— K-Kihyun. — Falou baixo. — Yoo Kihyun.

O Song sorriu mais, tentando tranquilizar o menor. — Woah, que nome bonito. Temos a mesma idade, não é? Sou de junho, e você?

— Novembro.

— Então eu sou seu hyung. — Falou e Kihyun parecia um pouco mais calmo. — Eu soube que você está a três anos na rua, é verdade? — O Yoo assentiu. — Não precisa mais se preocupar com isso, agora você tem uma casa e uma família.

O mais novo sorriu. — Obrigado.

Gun achou um pouco estranho, afinal nunca ouviu alguém agradecer por entrar na máfia. — Você sabe quem nós somos? A Inagawa? — Perguntou.

— Eu sei.

O fato dele saber só tornava mais estranho. Provavelmente o pequeno Yoo teve uma vida difícil. — Então… como você fez aquilo? Eles estavam em maior número.

— Hmm… com isso. — E tirou da coxa uma faca com a gravura de um Oni no cabo.

— Você matou os quatro, sozinho, só com essa faca?

Kihyun não parecia entender a surpresa do mais velho. — É.

— Nossa, isso é surpreendente. — E de fato era, e talvez por isso cinco anos depois Gun reconheceu Kihyun assim que o viu. — E por que você os atacou?

O Yoo parecia ofendido. — Eles me atacaram primeiro, eu só me defendi.

— Certo, certo, não estou brigando. — Deu uma risadinha. — Na verdade tenho que te agradecer. Você salvou um dos meus membros e também uma missão muito importante.

Kihyun pareceu meio surpreso e seus olhinhos brilhavam. Ele sorriu.

.

Gun e Hyungwon finalmente tinham terminado de arrumar as roupas no roupeiro, que antes estavam em sacolas, e arrumar os móveis na sala. Eles passaram quase uma semana organizando e mobiliando a nova moradia no bairro da Inagawa em Seoul.

Hyungwon se sentou no sofá e suspirou. — Finalmente.

— Ah, isso foi mais cansativo do que eu imaginava. — Gun se sentou ao seu lado, e mal suspirou quando seu celular começou a tocar.

E foi com aquela ligação que ele quase cometeu um erro muito grande, talvez o maior de sua vida.

Foi em missão, novamente se tratava de Towa vs. Inagawa. Em combate foi onde viu Jooheon depois de mais de um ano longe, e como Gun imaginava, o Lee não parecia nem um pouco arrependido com nada, aliás, parecia tão irritado com o Song quanto esse já estava com o Lee. Com certeza a morte de alguns membros da Towa em Daegu não o agradou nada, nem o fato de Gun estar o ignorando a tanto tempo, mas o que fez Jooheon definitivamente desistir de qualquer amizade que ainda poderia ter com Gun, foi quando o Song apontou sua arma para a cabeça de Seung-Hyun, em um momento caloroso de batalha.

O Nomura não acreditou que Gun seria capaz de matar Seung, que além de sempre tratar Gun bem enquanto estava na mansão, era quem Jooheon considerava como pai, mais do que qualquer um. Mas o Inagawa estava magoado e com raiva, e as mortes que presenciou aquele dia, os membros que perdeu, alimentaram a combustão que era Song Gunhee.

E ele disparou contra a cabeça do gerente do clã Towa, e aquele ato desencadearia a maior guerra na Yakuza, porque ele era gerente e sua morte seria o último dos desrespeitos, porque era como pai de Jooheon e não havia perdão para isso, porque Satoru já nutria sentimentos por Seung e ele não admitiria perder mais ninguém que amava, muito menos para um Inagawa. Para a sorte de todos, a arma estava sem bala. Mesmo não matando o gerente do clã, Jooheon viu a clara tentativa de fazê-lo, e aquilo o fez cortar laços com Gun completamente.

E foi naquele fatídico dia, antes das duas famílias recuarem para não haver mais perdas, que Jooheon e Gun se encararam friamente, sem mais o olhar que um dia era de amizade e irmandade.

Depois disso foi ataques atrás de ataques, em sua maioria indireto. A Yamaguchi estava atenta para as rixas das duas famílias e possivelmente isso era o principal motivo para os ataques não serem mais diretos. Mas as espionagens começaram, ou roubos e as traições, e tudo estava um caos.

Gun reviu Minhyuk depois de cinco anos e o chantageou para conseguir informação da empresa POSCO, afim de descobrir exatamente o mesmo que Fai Lin tinha interesse anos atrás. O Song não tinha nada contra Minhyuk, possivelmente ele era a única pessoa da Towa que o Inagawa pensava prestar, mas isso foi até receber dois tiros deste e parar em um hospital. Ali ele pensou que se até Minhyuk era capaz daquilo, a Towa inteira era só lixo.

Ao abrir os olhos no hospital e olhar para si, viu roupas finas que os internados usavam. Recém havia acordado e o medicamento que o mantinha inconsciente durante a cirurgia ainda fazia efeito. Ele se sentia sedado e sua mente estava confusa. Ele só pensava no tiro que levou e que estava em perigo. Se Minhyuk atirou em si, agora ele deveria estar preso ou sendo monitorado pela Towa, ele tinha certeza disso.

Sua desordem mental era tamanha, que ele arrancou as roupas brancas e finas de seu corpo, a procura do que vestia anteriormente. Quem via dizia que estava paranoico, e talvez estivesse. Se acalmou somente depois que um médico, que não estava vestido a caráter, o explicou toda a situação. Gun se vestiu com as roupas oferecidas, se sentindo um pouco envergonhado por ter estado nu, mas seu foco de pensamento era outro. Ele precisava sair dali, pois sabia que logo mandariam gente atrás dele.

Não deu outra. Em um minuto estava tentando convencer o médico que estava bem para ter alta e, no outro, Shownu, Minhyuk e Jooheon já tinham as armas apontadas para si.

Foi naquele dia que Changkyun entrou na vida da máfia e deixou tudo uma bagunça. Gun não fazia ideia que pouco mais tarde teria que sequestrar o médico que o salvou e muito menos que ele, a quem tratou mal por achar ter vínculo com Jooheon, na verdade tinha vínculos era com sigo, mesmo que indiretamente. Lim Changkyun era filho de Kakuji e Gun só conseguia pensar que agora, depois de anos treinando para assumir o cargo de Oyabun, seria rebaixado a gerente.

Era extremamente frustrante saber que passou por tanta coisa, durante esses anos todos, para simplesmente ser descartado. Gun sabia muito bem o quanto Changkyun era importante para Kakuji, e lidou com o fato de ser um substituto para o filho morto durante seu crescimento. Lidou com as expectativas de Kakuji sobre si e lidou com o fato de que provavelmente o Oyabun não o via como filho, mesmo este tendo esse título. O culpe por ter necessidades banais, mas diferente de Jooheon, que tinha lembrança, mesmo que pouca, dos pais, Gun não o tinha e também não conhecia o sentimento de paternidade e maternidade que deveria conhecer. O mais próximo disso foi com Vanessa, mas nem isso sua memória parecia querer guardar. Ele queria ser Oyabun, porque seu objetivo e, talvez, sonho, era liderar aqueles que considerava como família.

Jooheon passou parte da infância, e talvez adolescência, negando o posto de Kobun. Fez a escolha de ser apenas por causa de Seung, mas mesmo assim não queria aquele título até pouco tempo, mas Gun queria. Desde o início, mesmo com muitas coisas negativas, ele queria ser Oyabun. Quando criança ele costumava achar seu pai incrível e o que mais queria era ser como ele, e o que começou como um sonho bobinho de infância se tornou seu objetivo de vida. Ele queria e deveria cuidar da Inagawa, porque sentia que nasceu para isso. Gun não conhecia uma realidade diferente e, para além do querer ser Kobun, ele também queria uma outra coisa. Queria o que todo filho quer dos pais. Sim, ele queria ser amado como filho e ser reconhecido assim.

Por muitas vezes simplesmente odiou seu pai, mas para Gun ele continuava sendo seu pai. Se desentendiam, brigavam, discutiam, mas não importava, o Song ainda queria ser aceito pelo homem como seu filho, mas durante os anos sentiu que Kakuji apenas queria que ele fosse alguém que não era. Que fosse Lim Changkyun.

Parecia que nada do que ele fazia estava certo, que ele não era bom o bastante. E isso era para tudo. Quando criança, tinha inveja de Jooheon porque via que Satoru, apesar do péssimo humor, o amava, assim como Seung. A medida que o tempo passando, a inveja foi aumentando, porque olhava para o Lee e sentia que era naturalmente bom em tudo que fazia, enquanto ele tinha que se esforçar o dobro de todos para conseguir ao menos ficar no mesmo nível.

Ele viu o garoto que o admirava o superar com tanta facilidade. Jooheon tinha quem o amasse como filho, tinha talento nato, um posto garantido como Oyabun e tinha reconhecimento. Gun se sentiu ficando cada vez mais para trás, se sentiu perdendo tudo o que tinha e se tornando alguém que não reconhecia. Ódio, rancor, vingança, insegurança, fraqueza. Ele estava coberto de defeitos.

Sua surpresa ao descobrir que na verdade Jooheon não havia o abandonado, e sim aberto mão da maleta com a informação que procurava a anos para o salvar, foi enorme, mas não necessariamente boa. Ele apenas se sentiu um inútil idiota, que quase matou Seung, que fez ataques por ódio, contra aquele que se arriscou por si. O sentimento de não fazer nada certo voltou. Ele simplesmente era uma bola de defeitos e culpa.

Gun podia listar o tanto de coisa que fez de errado, e Kihyun foi uma delas. O Yoo gostava de si e demonstrava o suficiente para Gun perceber, mas mesmo assim, olha só, ele fez merda de novo. E se tratando de Kihyun, Gun só sabia fazer isso: merda atrás de merda.

O que parecia mais surreal, era que o Inagawa não entendia e não tinha nem ideia de o que Kihyun viu nele, principalmente para continuar alimentando o sentimento durante 13 anos. O mais surpreendente é que o outro não desistiu de si mesmo depois de tantas mancadas.

Só com Kihyun a lista de coisas erradas que fez era grande, mas Gun queria acertar com ele. Depois de assumir e entender os próprios sentimentos em relação ao mais novo, ele decidiu que iria dar tudo de si para tentar não estragar tudo mais uma vez (porque foram muitas vezes).

Gun é e sempre foi o tipo de pessoa transparente, que fala o que pensa e não pensa o que fala, e não consegue esconder o que sente. Se estiver incomodado, você vai saber; se estiver irritado, você vai saber; se gostar de algo, você mais saber. Simplesmente é alguém que não consegue fingir, que não consegue mentir e que, também, não consegue se expressar. Ele provavelmente não irá contar se estiver triste, assustado, ou qualquer outra coisa, mas também não irá negar.

É difícil de ofende-lo, porque você só se ofende com o que discorda, e, na maioria das vezes, ele concordava com os insultos. De todas as pessoas que pode falar mal de Gun, quem mais o faz é ele próprio. E esse, complicado e talvez um pouco lerdo, é Song Gunhee Inagawa, o cara que está aprendendo a ser melhor que ontem.


Notas Finais


MÚSICA TEMA

Tate McRae - Dear person who doesn't understand me (Tradução): https://www.youtube.com/watch?v=KEAXXbUTJ7A&list=PLlxhemIUdU3ovKLgQpZEitW1ZJeTStZ8H&index=5

Imagem do Gun bebê :3 : https://pbs.twimg.com/media/ClzkQdpXEAEKprD.jpg
Outra imagem pq ele é muito fofo: https://pbs.twimg.com/media/ClzjMLlWMAA1DP1.jpg

IMAGEM DE FAI LIN: http://images6.fanpop.com/image/photos/36900000/Godfrey-for-Brand-Magazine-godfrey-gao-36952653-640-960.jpg
Gif de Fai Lin: https://78.media.tumblr.com/eff3bac6b397a44af6749c4ef45e7102/tumblr_okthtoTeh11reli55o2_540.gif
Outra Gif: https://i.gifer.com/HCn4.gif

Então gente, o que acharam do capítulo? Gostaram?
Ele ficou um pouco mais comprido do que eu pretendia, mas espero que não seja um problema.

O QUE EU QUERIA FALAR PARA VOCÊS, é que esse capítulo foi um FILLER. SIm, um filler do Gun e sim, terão outros fillers de outros protagonistas <3
Mas não se preocupem, no cap que vem (que não vai demorar, prometo) vai aparecer que treta aconteceu na mansão.

O que vocês acharam desse filler? Gostaram desse outro formato na fic? Ficou bom? Cansativo? Interessante? Me digam.
Também me digam o que acharam da música <3 eu achei que combinou muito com o Gun, principalmente depois desse capítulo.

Bom, eu só acho que depois desse capítulo dá para entender melhor o Gun e sua mente :3

Não vou falar muito pq vcs já devem estar cansados de ler, mas me deixem a sua opinião nos comentários <3 é muito importante para mim <3333

Obrigada a quem chegou até aqui e a quem vai comentar <333

Beijosssss <333


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