Ashley Purdy
10 de agosto de 2062 – 04:38 AM
Refúgio de Jacob Pitts
Região leste da cidade de Ketterscut
***
- Ahh, mas eu sabia! Sabia que mais cedo ou mais tarde os problemas iam surgir! – Jake reclama, apertando a taça tão forte que eu nem sei como não a quebrou. – Esse Jinxx é perigoso e pode ameaçar a Máscara. – ele dá a volta no balcão do bar e se aproxima de mim.
- Pois é... – concordo e me sento no sofá. – Mas o que temos que fazer agora é contar ao Andy para que ele fique alerta e decida o que fazer. – sorrio. – Inclusive, se ele quiser vender a obra de arte em forma humana, já me candidato como comprador e...
- Ashley! – ele me lança um olhar repreensivo e por um momento acho que vai jogar a taça na minha cabeça. - Eu espero do fundo da minha alma que você apenas esteja sendo engraçadinho. – me recrimina, sério. – O problema deve ser resolvido e não transferido! Mas voltando ao que interessa, sim, precisamos contar a ele! Só que devemos fazer isso pessoalmente. É melhor assim para que ele não faça nada idiota longe da gente, meta os pés pelas mãos e coloque tudo a perder. – ele diz e olha no relógio. – Hoje à noite faremos isso, agora você precisa ir embora. Está quase amanhecendo. A última coisa que eu preciso nesse momento é que você entre em combustão e se esfarele no meio do caminho até sua casa.
- É verdade. – olho pela janela. – Mais tarde te encontro então para irmos até o castelo. E não se preocupe, tudo vai dar certo. – ando até a porta.
- Até mais tarde então. – ele abre passagem para mim e me dá a mão, seguido de um curto abraço.
†
Andrew Biersack
10 de agosto de 2062 – 03:59 PM
Quarto do Castelo
Segundo piso
***
Chego até na porta do quarto de Victoria e dou duas batidas antes de entrar. Hoje quero fazer algo diferente e sair um pouco da rotina. Acho que ela merece isso.
- Acordado à essa hora? – ela pergunta, surpresa, enquanto coloca seus vestidos em cabides e depois no guarda roupas.
- Sim, levantei mais cedo hoje por três motivos. – me aproximo e ela se vira de frente para mim. – O primeiro deles é que você não estava lá comigo e assim não tem graça dormir. Já o segundo é que tenho um presente. – ergo uma sacola de papel e a entrego.
- O que é isso?
- Abra!
Black Veil puxa o lacre e despeja o conteúdo na cama.
- Roupas diferentes de vestidos? – me olha, confusa.
- Sim! Escolha uma combinação bem bonita para o terceiro motivo.
- E qual seria, sr. Biersack?
- Iremos juntos até Londres fazer compras para a sua despensa! Assim passeamos e você escolhe os alimentos que quiser! O que acha da ideia?
- Acho ótimo! – vibra, animada - Sabe que eu iria a qualquer lugar com você, não é?
- Sei sim! – dou um beijo rápido nela. – Se arrume que irei te esperar lá em baixo!
- Tá bom, eu não demoro.
Saio do quarto e desço as escadas. Tive essa ideia ontem e acho que será legal para Victoria sair um pouco daqui e mudar os ares. Foi bom também que finalmente lhe presenteei com as roupas que há tempos estavam guardadas esperando o melhor momento de serem entregues. E, como ainda faltam algumas horas para escurecer, não há riscos de nenhum Membro nos verem juntos. Mas por via das dúvidas, decidi não ir até o centro de Ketterscut para eliminar ainda mais os riscos.
Enquanto espero, vou até meu escritório e bebo um pouco de sangue que tenho estocado para reforçar ainda mais minha Fortitude. Assim que saio do cômodo, Victoria está descendo as escadas. Ela veste uma calça justa que imita couro, uma camisa de alfaiataria do pano listrado verticalmente, por cima um casaco de veludo e botas de salto baixo nos pés. Todas as peças de roupa são pretas.
- Você está linda! – elogio.
- Muito obrigada! Amei meus presentes.
- Podemos comprar mais roupas para você também, se quiser. No centro de Londres tem várias lojas legais que você irá gostar.
- Eu adoraria! – ela sorri, animada.
- Então vamos! – coloco meus óculos escuros e seguimos rumo à garagem para pegar o carro.
Na estrada, ficamos conversando sobre várias coisas. Victoria me confessou que nem se lembra da última vez que andou numa cidade a passeio e eu senti um aperto no peito. Eu farei o possível para que ela leve uma vida normal, ainda que seja ao meu lado. Quero que ela faça tudo que um ser humano comum gosta e não medirei esforços para isso.
Ela merece ser feliz.
Continuo dirigindo por mais alguns minutos, até que chegamos no nosso destino. Ela olha para a janela, maravilhada com as construções, pessoas e tudo mais.
- É tudo tão... – tenta se expressar. – Diferente, grandioso.
- Sim! – digo, terminando de estacionar. – Vem comigo, vamos no melhor e maior mercado da cidade!
Saímos do carro e pego a mão dela, para conduzi-la. Ao entrarmos no local, Victoria fica deslumbrada. Na maioria das vezes, enquanto vamos passando pelas prateleiras dos setores, ela me pergunta o que são alguns produtos e eu tento explicar. Muitos, eu nem sabia da existência e fico tão surpreso quanto ela, quando leio as embalagens.
- Não acredito que enlataram isso! – ela exclama e nós dois rimos.
- Nem eu!
- Tem muita coisa aqui que eu nem sei para que serve. Isso parece ser gostoso – ela levanta uma espécie de pão embalado a vácuo e depois coloca no cesto de compras.
- Na internet tem uma infinidade de receitas que você pode seguir.
- Boa ideia!
Depois de andarmos por todos os setores, nos dirigimos para pagar e depois voltamos até o carro para deixarmos as compras. Ainda quero ir à alguns lugares e não seria confortável ficar segurando sacolas. Passo meu olho por todos os locais e um chama a minha atenção.
- Está com fome? – pergunto.
- Um pouco.
- Vamos resolver isso então! Já esteve num café antes?
- Não. Quando eu morava na rua só passava em frente. Ficava sem graça de entrar com roupas sujas e rasgadas.
- Agora isso mudou. – digo e dou um beijo na sua testa.
Atravessamos a rua e entramos no local. Escolho a mesa mais discreta para nos sentarmos e a garçonete vem até a gente com o menu.
- Fiquem à vontade. Daqui a pouco volto para pegar os pedidos de vocês. – ela diz e nos deixa em seguida.
- Pode escolher o que quiser.
- Esquisito... – ela faz uma cara de confusa olhando o cardápio.
- O que?
- Aqui não tem a opção de milk-shake com cobertura de sangue da carótida. – me olha por cima do cardápio e ri. – O que você vai pedir então?
- Não tem mesmo? – entro na brincadeira, fazendo uma cara de desapontado. – É uma pena... Mas infelizmente não poderei te acompanhar nessa refeição. Aceite minhas desculpas.
A garçonete volta e Victoria faz o seu pedido.
- Você não vai querer nada, senhor? – vira-se para mim.
- Não, estou satisfeito. Obrigado. – agradeço e ela sai.
- Aceito suas desculpas. – Black Veil retoma a conversa interrompida pela moça. - Você me observar comer está de bom tamanho.
- Na verdade eu queria te observar fazendo outras coisas, mas me contento com isso por agora. – lanço um sorriso perverso e ela cora.
- Mais tarde, talvez... – responde com um risinho abafado e olha pela janela. Faz uma breve pausa. – Sabe, você anda me influenciando muito.
- Como assim?
- Amo o dia, mas agora estou começando a achar que tudo parece melhor quando o sol se põe e a lua vermelha aparece no céu.
- Ah é? Isso se deve ao fato de um certo alguém que só aparece à noite?
- Com certeza. – ela assente.
- E desde quando eu venho te influenciando? – pergunto, curioso.
- Acho que desde que me mostrou todas aquelas coisas que eu não deveria saber.
- Entendi. Há mais algo que eu te desperto?
- Você me faz querer morrer... – ela sussurra. - Ainda mais com a oportunidade que tenho disponível para a eternidade... Eu poderia pertencer à noite. Adoraria, para ser bem sincera. – ela ri.
Eu deveria me preocupar mas sei que está apenas jogando comigo e acho graça.
- Também adoraria. Mas, na certa você acharia monótono. Sem contar que nunca mais comeria bacon! Imagine só uma vida sem bacon! – digo e ela inclina a cabeça para trás, rindo. Sei que é sua carne preferida, pois compramos muito no mercado.
- Agora você jogou sujo. Muito sujo! Ótimo argumento, devo admitir.
- Sei bem do que estou falando, por experiência própria. Essa é a maior frustração da minha vi... – paro no meio da palavra e sussurro. – morte.
- Sim, você venceu! – se rende.
- Falando nisso, lembro-me que há umas décadas atrás vendiam um milk-shake de bacon.
- Você está mentindo! – faz uma careta.
- Juro que não! Se quiser, posso pedir para reproduzirem essa edição especial para você.
- Nossa, eu dispenso! Muito obrigada mas essa combinação não é nada legal. Deve ter um gosto esquisito.
- Você está acostumada com esquisitices. Inclusive, convive e gosta muito de um esquisito... – digo e ela ri.
Depois que Victoria terminou seu lanche, saímos da cafeteria e seguimos andando pelo centro. Passamos em frente à algumas vitrines, entramos em outras lojas até que paramos na porta de uma masculina que me chamou atenção pelo que estava exposto no mostruário.
- Acho que vou entrar aqui. – digo, interessado. – Quer me acompanhar?
- Será que enquanto você está lá eu poderia ficar por aqui olhando pelo vidro dessas outras do quarteirão? – Victoria pergunta. Percebo que ela está interessada numa confeitaria.
Olho de um lado para outro e não vejo ninguém suspeito na rua.
- Claro! Veja a que mais te agrada que quando eu sair daqui entramos para comprar o que quiser. Não demoro, prometo! – dou um beijinho rápido nela e entro na loja.
†
Christian “CC” Coma
10 de agosto de 2062 – 05:17 PM
Área central
Londres
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Saio da barbearia e ajusto meu paletó. Meu carro está estacionado a três quarteirões daqui e sei que até chegar lá passarei por uma loja de cigarros. Jinxx ama charutos e comprarei uma caixa para ele, afim de fazer uma média com o chefe.
Ando um pouco e quando avisto meu carro estacionado na esquina do outro lado da rua, vejo uma mulher na calçada. Ela está andando despreocupadamente e apreciando as vitrines. Paro antes de atravessar e a observo por alguns segundos. Nesse momento, um dos carros que passa na avenida buzina para outro. Isso chama sua atenção e faz com que ela olhe para trás. Então, eu consigo ver claramente seu rosto. Paraliso sem acreditar.
É ela, a favorita de Jinxx, Black Veil.
Sem chamar muita atenção e com cuidado para que não me veja, atravesso discretamente a rua e paro trás de um carro. Pego o lenço de seda que está no meu paletó e pingo algumas gotas do clorofórmio que sempre anda comigo, para casos de avistamento de possíveis produtos na cidade. Agora ela está parada de costas para mim, olhando a vitrine de uma confeitaria. Vou chegando devagar e vejo através do vidro que uma vendedora vem em nossa direção. Por causa disso, sou rápido e num impulso coloco o pano no nariz de Victoria que leva um susto e tenta se debater, mas logo desmaia em meus braços.
A mulher dentro da loja vê tudo, mas fica paralisada e não reage. Sem me importar com isso e nem com as poucas pessoas por perto, saio correndo com Black Veil nos braços. Abro meu carro que está próximo, a coloco dentro, sento no banco do motorista, dou partida e piso fundo no acelerador. Sorrio, vitorioso com a certeza que serei muito bem recompensado.
Quero só ver a cara do chefe quando eu chegar com essa surpresa.
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