Recebeu um papel logo quando foi acordada por um elfo doméstico de sua rotina diária. Tinha horários fixos para todas as refeições e dizia no bilhete que ela não poderia estar fora da mansão depois das dez da noite. Ela rolou os olhos de frustração e de raiva.
Se vestiu com uma saia preta e uma blusa de manga canoa roxa escura. Penteou seus longos cabelos loiros e os prendeu em um rabo de cavalo, alguns cachos caindo para fora de seu penteado. Lavou o rosto e não passou nada nele. Tirou o bracelete da família e o guardou em uma gaveta.
Quando pode perceber, tinha uma bandeja repousada em sua cama. Não precisava se perguntar quem trouxera o café da manhã pronto, pois a resposta era óbvia. Foi algum elfo doméstico. A garota imaginou que houvessem milhares só para suprir as necessidades daquele casarão e de seus habitantes.
Comeu o café da manhã sentada em sua cama, em silêncio. Pensou no que poderia fazer aquele dia, e se Regulus iria convidá-la para um encontro ou até mesmo para um passeio.
Balançou a cabeça afastando esse pensamento. Não iria esperar muito dele ou de Sirius, pois os dois foram obrigados a se casar com suas respectivas noivas e não sair por aí em encontros.
Suspirou se levantando da cama, deixando a bandeja onde a encontra. Tinha bebido o suco de morango, comido o pãozinho recheado e as duas torradas. Sempre costumava pensar que o café da manhã era a refeição mais importante por dar energias para o resto da manhã.
Acabara de tocar na maçaneta fria e rodá-la e sair do quarto quando esbarrou em alguma coisa, ou em alguém que a fez se desequilibrar um pouco; mas logo sentiu um aperto no cotovelo evitando da loira cair.
Ela levantou o olhar que estava nos sapatos desse alguém e se deparou com olhos cinzas. Se assustou e depois conseguiu abrir um sorriso, constrangida.
–Olá- ela disse finalmente, tímida.
–Vim te roubar por algumas horinhas, posso? –ele perguntou com uma sobrancelha levantada.
Ela olhou nos olhos dele procurando alguma coisa que deveria fazê-la recusar o pedido.
–É claro– concordou após não conseguir ler a expressão dele direito. Sirius sabia esconder os sentimentos e emoções mais que Regulus, pode reparar.
Ele pegou a mão dela suavemente, a guiando por um corredor que não tinha quadros nas paredes ou decoração nenhuma. Ele parecia ser abandonado e a intenção de Sirius era de eles não serem vistos, por isso utilizar aquele caminho.
Podia escutar vozes bem distantes, e nenhum barulho de passos perto deles. Sirius abriu uma porta no lado direito do corredor, olhando antes para os dois lados, o que era desnecessário na opinião de Lyra.
O cômodo era bem iluminado, tinha três janelas abobadadas que davam perfeita entrada de luz para deixar o lugar iluminado. Porém, as paredes eram escuras e pareciam ser feitas de pedra. Se chegasse a janela e olhasse para baixo, concluiria que os dois estavam em um dos andares superiores da casa, se não o superior. As janelas não tinham visto e uma pequena camada de poeira cobria a pedra da janela.
O teto era bem gasto e nele estava pendurado um lustre que não funcionava mais. Ou ninguém quis consertá-lo com magia, pensou. O estilo da sala se assemelhava ao estilo das masmorras da Sonserina, porém as masmorras se localizam na parte inferior do castelo.
Com um aceno de varinha, música preencheu o quarto. Ela olhou de lado para Sirius, que fizera o feitiço, e reparou que ele já a olhava também.
–Concede-me esta dança, senhorita? –ele indagou com o seu sorriso mais charmoso. Não conseguiu negar pois não teria motivos para isso e simplesmente não conseguia.
Fez uma reverência um tanto exagerada que fez o Black soltar um riso pelo nariz. Ela colocou uma mão sobre o ombro dele e ele colocou uma mão na cintura dela. Eles juntaram as mãos e desse jeito começaram a dançar.
Lyra tentava não olhar nos olhos de Sirius, ele sempre a intimidava com o seu olhar. Era como se ele pudesse ver através dela. Como se ele pudesse conhecer seus medos e desejos, mesmo que a loira sempre se considerara transparente demais.
O fato é que ela experimentava tudo muito intensamente. Quando ficava triste, fica muito triste. Quando o sentimento de felicidade batia na sua porta, ela se tornava a garota mais feliz.
Seguia seu coração, assim sendo chamada muitas vezes de irracional. Seguir o coração às vezes a metia em sérios problemas ou tornava os momentos mais prazerosos de serem lembrados.
Era a Black mais incomum que alguém já havia acontecido. Colecionava fotos em uma caixinha que mantinha antes debaixo de sua cama. Não era amarga como suas irmãs e vê cada ser humano como um mundo a ser conhecido. Olha o céu estrelado a noite e vê que há luz até nos dias mais escuros.
A mão de Sirius era áspera e grande comparada a dela, que era pequena e macia. Deduziu que a dele era áspera pelos anos gastos jogando Quadribol. Druella morreria, no caso mataria as filhas, se alguma se alguma de suas filhas tivesse mãos áspera, ela dizia que uma dama não poderia ter as mãos calejadas.
A melodia é suave e rápida como batimentos cardíacos. Diante dela, o sorriso de Sirius aumenta; seu pé se move ao ritmo da música. Lyra não consegue resistir, e seus pés acompanham a batida. A batia acelera e o garoto se agita, começando a cantarolar a melodia. Pela primeira vez parece relaxado. Lyra também relaxa um pouco e fica com a sensação de que seus medos e preocupações voaram para longe, pelo menos por alguns minutos.
–Por que laranja? –pergunta ao ver o garoto usando laranja como cor de gravata. Nunca tinha visto alguém usando essa cor de gravata, e não pode negar que despertou sua atenção.
–Laranja é uma cor que remete a entusiasmo e combina com a estação do ano que estamos- respondeu como se soubesse que ela faria essa pergunta. –Aliás, foi algo bem aleatório, a sua pergunta.
–Entendi– ela balançou a cabeça –Consigo ser aleatória às vezes.
–Percebi– ele riu. –Acho que para nossa conversa continuar, devo ser aleatório também.
–Não tanto, Black– disse ela sorrindo. –Eu sei manter as conversas fluindo.
–É mesmo, senhorita? –ele perguntou curioso, levantando uma das sobrancelhas em desafio.
–Sim, meu caro– assegurou Lyra. –Qual era a sua matéria favorita em Hogwarts? Por exemplo, a minha era Poções. É meio clichê eu ser da Sonserina e gostar de Poções, mas sempre gostei de coisas mais práticas. –ela quase pôs a mão na boca por ter cortado ele e falado um pouco rápido e um pouco demais. –Desculpe, às vezes eu falo demais.
–Não tem problema– ele deu de ombros, fazendo ela relaxar. –Quadribol como matéria serve? –ela riu, balançando a cabeça em negação. –Deveria ser, oras! Ou pelo menos você deveria gostar, não é uma coisa teórica.
Ela abriu um sorriso triste.
–Eu sempre gostei de Quadribol- disse com um olhar distante.
–Mas...? - ele a estimulou a contar seja lá o que estava pensando.
–Minha mãe não deixava eu jogar– ela explicou.
–Entendo- disse sem ao mesmo entender. Ele sempre praticara Quadribol sem o menor dos problemas. –Gostaria de um dia jogar comigo?
–Sério? –perguntou sem acreditar.
–Sério- ele repetiu.
–Seria...ótimo!
–Então combinado– ele sorriu. –Você deveria ser uma das preferidas do Slughorn, certo?
–Nem tanto, na verdade– falou sem animação. –Eu era boa na matéria dele sim, mas ele era mais interessado em minhas irmãs.
–Nelas? –ele retrucou. –Elas eram melhores que você?
–Humildemente falando? Não. –respondeu, sentindo cada vez compaixão ao se lembrar de Regulus, o irmão que sempre ficava na sombra. –Ele me chamava para as reuniões por causa das minhas notas e porque, eu acho, ele deveria se sentir obrigado.
–Então ele não sabia o que estava perdendo- respondeu e ela sentiu as bochechas corarem com o pequeno elogio. –Mas eu mal percebia você na Sonserina.
–Bom, eu não era muito de fazer amigos nessa casa– fez uma careta. –Era amiga geralmente do pessoal da Corvinal. Eles realmente conseguiam ter alguma conversa inteligente.
–Sabe que isso é preconceito com a sua própria casa, não? –ele disse com uma expressão no rosto severa. Porém, ele sorriu, o que denunciara ele.
–Não ligo– comentou amistosamente –Se você acha que a Sonserina é a melhor casa, está enganado.
–Nunca afirmei isso– disse convicto com um sorriso maroto no rosto. –Mas, está certa. De fato, a Sonserina não é a melhor casa.
–Wow –Lyra falou com surpresa fingida na voz –Sirius Black falar isso? Devo estar sonhando.
–Talvez esteja –Sirius murmurou e a loira rolou os olhos. –Você achava realmente que eu iria ser 100% da Sonserina? Não, é claro que não. Eu quase fui para a Grifinória.
Lyra abriu a boca e a fechou, pensando antes em uma boa resposta.
–Eu não sabia- disse um pouco surpresa ainda. –Grifinória? Duvido que seus pais iriam te deixar entrar mais em casa.
–Foi a mesma coisa que eu achei- Sirius fez uma pausa. –Desde pequeno eu sabia que deveria ser eu quem viria a trazer orgulho a família Black. Se eles me abandonassem, seria horrível.
Era estranho ver o seu primo, até então um desconhecido para ela, se abrir assim. Mas, no fundo, ela o entendia.
–O chapéu te pôs na Sonserina, mesmo querendo ter por na Grifinória, por que você foi corajoso e pediu para o chapéu te por na casa dos seus pais?
–Espera...como você sabe? –ele perguntou curioso. Lyra não precisou responder, o seu olhar triste a denunciou. –Merlin...
Seus dedos levantaram o queixo dela com cuidado para que os olhos deles se encontrar. Ela desvia o olhar rapidamente, sentindo as bochechas corarem. Porém, não deixou de fazer um comentário.
–Não, é Lyra mesmo- a jovem brincou o que fez ele dar um riso nasalado.
–Senhorita, o que faz da vida? –perguntou, mudando logo de assunto.
–Respirar serve? –ela disse ironicamente. –Ainda nada, na verdade, terminei faz pouco tempo a escola. E você, Black?
–Ah, senhorita Rosier, eu sou o secretário sênior do Ministro, um cargo muito importante- disse pomposamente.
–Como você se importasse! –retorquiu dando um risinho.
–Está certa- concordou balançando a cabeça. –Eu realmente não me importo. Sempre quis ser Auror.
–Sério? –perguntou Lyra curiosa.
–Sim –confirmou Sirius. –Investigar crimes relacionados as Artes das Trevas, e prender bruxos ou bruxas das trevas...é bem melhor que ser ajudante do idiota do ministro.
–Concordo.
–Queria ter conseguido o cargo não por privilégio–confessou Sirius e a loira apertou o seu ombro levemente, onde estava sua mão esquerda, para dar apoio a ele.
–Aposto que minha mãe, se não Walburga, vai conseguir também para a mim. –supôs sem muito entusiasmo.
–Walburga com certeza irá. Ela não deixaria a futura esposa do meu irmão em algum cargo medíocre. Sabe como ela é com esse negócio de aparências...
–Você fala ‘’Walburga’’ como se ela não fosse a sua mãe. –observou Lyra.
–Você é bem esperta, Lyra –Não soube o que mais teria a surpreendido, o elogio ou ele ter a chamado de Lyra. Achava que era o elogio mesmo.
–Não sou- negou sorrindo de leve. –Só sou muito observadora.
–Muito observadora, então- corrigiu-se o Black.
–E amigos, tinha algum fora da Sonserina?
–Sim! Eu tinha e ainda tenho –falou feliz. –Eram todos da Grifinória.
–Ah, eu me lembro. –afirmou, após se arrepender de fazer uma pergunta ao qual já sabia a resposta. –Vocês até tinham um nome....eram os Marotos!
–Sim, os Marotos –o nome do grupo de amigos quando jovem era a melhor lembrança que ele tinha. –Somos quatro.
–Quatro! –ela exclamou –Só me lembrava de conhecer o Remus.
–Remus sempre foi o mais racional de nós –ele comentou. –Ele sempre nos tirava dos problemas. Resumindo: o cérebro do grupo.
–Imagino. Ele deveria ter um trabalho enorme contendo vocês três!
–Ainda mais eu e James –acrescentou Sirius –Céus, como éramos impulsivos. E rebeldes também.
–Vocês eram adolescentes. Adolescentes podem ser rebeldes e impulsivos muitas das vezes.
–Está certa –concordou, e ela reparou que eles ainda estavam dançando.
Escutou um sino bater cinco vezes, e na quinta vez ela trocou um olhar com Sirius.
–O que isso significa?
–Que estamos atrasados para o almoço –mordeu o lábio inferior. Eles trocam um olhar para a porta e nos próximos segundos eles estavam correndo pelo corredor abandonado, descendo algumas escadas. Eles estavam atrasados, todos já deveriam estar no salão enquanto isso. E deveriam ter percebido a ausência dos dois, e devem ter desconfiado de algo. E, por um momento, Lyra não se importou. Sentiu o vento que vinha das janelas abertas bater em seu cabelo amarrado.
Os dois pararam na porta que dava para o salão que eles teriam que ter entrado fazia uns dez minutos. Ele estava ofegante e ela também. Com um aceno da varinha, Lyra fez um feitiço que limpou o suor deles, senão, iria criar suspeitas ainda piores.
Antes de deixa-la entrar primeiro, ele abriu o sorriso galanteador típico de Sirius Black e disse, depois piscando:
–Oito horas.
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