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História Blue Moon (Em Hiatus) - Chapter sixteen


Escrita por: kyyyaxoxo

Notas do Autor


OLÁ MARILENE
CHEGAMOS HSAUSHAUSAUHSA

Ah, desculpa o cap gigante. A gente se empolgou.

Sem enrolação.
Boa leitura e desculpa os erros.

Capítulo 17 - Chapter sixteen


Fanfic / Fanfiction Blue Moon (Em Hiatus) - Chapter sixteen

Hoseok acordou com a luminosidade batendo em seu rosto. Soltou um suspiro exasperado, havia deixado as janelas abertas na noite anterior e, graças a isso, os feixes solares invadiam e clarearam o quarto, como também incidiram sobre sua face. Voltou a fechar os olhos, sentindo a respiração calma de Changkyun em seu pescoço. O menor estava como de costume: o usando como travesseiro, agarrado ao seu corpo como um urso, as pernas e os braços por cima e envolta de seu tronco. O Shin sorriu ao lembrar da razão para o mais novo estar ali, da conversa que tiveram ontem.

 

“— Quem é? — do outro lado da porta, Changkyun parou de bater ao escutar a voz de Hoseok. Notou a ausência de humor no tom dele, fazendo-o encolher-se, envergonhado e ressentido pelo que havia feito ao seu hyung.

— Sou eu, hyung. Podemos conversar? — a pergunta soou tremula, demonstrando o quão apreensivo estava.

O silêncio se instalou, e seus ouvidos zuniram pela falta de som. Esperava de tudo, desde um grito dizendo para ir embora e até mesmo um pedido para nunca mais aparecer na frente dele, mas torcia para obter alguma resposta. Não sabia se haviam se passado segundos ou minutos, o tempo se arrastava enquanto aguardava. Sorriu amargo, fora ignorado com sucesso. Entretanto, quando estava prestes a sair dali, a porta simplesmente se abriu, revelando o Shin.

— Sim. Entre. — deu espaço para o mais novo.

O Yoo mais novo deu alguns passos e parou no centro do quarto, ficando cara a cara com o loiro.

— Hyung, me desculpe, por favor. Eu não quis te magoar, mas eu tava chateado porque ninguém confia em mim e isso me deixou triste. Por favor, hyung. Eu não quero que fique triste por minha causa. Me perdoa, por favor. — disse tudo de uma vez, atropelando-se nas próprias palavras.

Um sorriso se estampou nos lábios de Wonho. Apesar da fala apressada, entendeu cada letra, palavra e vírgula daquela frase. Sentiu-se mais leve, como se um peso enorme houvesse sido tirado de seus ombros ao ouvir o que o menor disse. Caminhou até ele e o abraçou pela cintura, erguendo-o para que ficasse um pouco mais alto que si. Seu sorriso aumentou quando sentiu seu pescoço ser enlaçado, e deu alguns passos cegos para chegar a cama, caindo com corpo do ômega sobre o seu, não desfazendo o aperto em momento algum.

— Tudo bem. — disse o de cabelo colorido. — Só... não me assuste assim de novo, por favor. — a voz estava serena como nunca antes esteve ao proferir tais palavras. — Dorme comigo, Kkukkung.

— Claro, hyung. — afastou um pouco o torso para mostrar um grande sorriso ao mais velho. Adorava e sentia falta de fazer isso, lembrando-se que última vez que o fez foi quando passaram a semana na casa de Jooheon.

— Você já tomou banho? — questionou.

— Sim. Foi a primeira coisa que eu fiz quando cheguei. — disse, orgulhoso de si mesmo, apesar daquilo ser algo tão simples.

— Então, fica aqui que eu já volto. — deixou um selar na bochecha do seu pequeno e seguiu até o banheiro.

Não prolongou tanto o banho e voltou apenas com a toalha envolta dos quadris, algo que não era nada de mais aos olhos do mais novo. Se vestiu rapidamente com uma roupa confortável e apagou as luzes. Abriu as longas cortinas, deixando a lua banhar o quarto com sua luz levemente azulada excêntrica. Deitou ao lado do mais novo, que logo se aconchegou em seu peito. A noite de Hoseok havia melhorado drasticamente, e isso o fez sorrir antes de cair em sono profundo.”

 

Descansou uma mão na parte traseira dos fios negros do ômega, onde deixou um breve afago e entrelaçou os dedos. O olhar recaiu sobre a cômoda ao lado cama, procurando pelo relógio digital. Passava das nove horas. Precisava dar um jeito de se desvencilhar do abraço sem acordá-lo para poder ir tomar café ou mesmo voltar a dormir, sendo a segunda opção a mais atrativa para si.

Todo e qualquer pensamento, entretanto, desapareceu de sua mente ao escutar um soluço. O susto maior foi quando percebeu que o som sôfrego escapava da garganta do Yoo.

— Ei, calma. — segurou o mais novo com um dos braços e usou o outro para erguer o corpo, sentando-se na cama. Calma e pacientemente, o ajeitou entre suas pernas. — Pode me dizer o que houve agora? — perguntou ao outro, que fungava sem parar.

— Hyung, hoje é... hoje... — não conseguiu prosseguir em decorrência do choro e nem precisava. Wonho havia entendido, sabia disso.

— Tudo bem. — abraçou-o novamente. — Pode chorar o quanto quiser. — Changkyun pareceu aumentar o volume naquele instante, e Hoseok sentiu algumas pequenas lágrimas escorrerem por seu próprio rosto. — Vai ficar tudo bem, eu tô aqui.

 

(...)

 

Minhyuk acordou cedo, feliz. Das poucas vezes que isso acontecia, essa era uma delas. Sentou-se na cama e esticou os braços, o sono se esvaindo aos poucos. O sonho que estava tendo antes de despertar o arrancou vários sorrisos. Enquanto, na realidade, as coisas se complicavam entre Kihyun e Hyungwon, os dois se relacionavam como namorados em terras oníricas. Seus namorados. A mente contribuía para sua fantasia mais utópica e, às vezes, achava que esta estava a iludir seu coração, acalmando-o de forma que dissesse para ter paciência e não apressar as coisas. Afinal, de nada adiantaria pressioná-los, eles continuavam confusos enquanto era o único em plena consciência de seus sentimentos.

Esfregou um dos olhos, levantando-se e caminhando em direção ao banheiro. Ao chegar lá, mirou seu reflexo no espelho. O cabelo estava uma verdadeira zona e a cara amassada contribuía para seu estado bagunçado. Tratou de fazer sua higiene bucal e despiu-se após isso, entrando no box e tomando seu banho. Enquanto sentia a água escorrendo por seu corpo, pensou no que poderia fazer hoje. A praia era tão próxima dali e nenhum deles havia nem pisado nela ainda. Embaixo do registro, um sorriso repuxou seus lábios.

Não enrolou no banho e pegou uma das várias toalhas ali disponíveis para enxugar-se. Saiu do banheiro e vestiu uma roupa qualquer, secando o cabelo antes de sair do quarto e procurar o de Hyungwon. O mais novo iria consigo caso pedisse, sabia disso. Caminhou pelo extenso corredor, passando de porta em porta até parar em frente da que dava acesso as acomodações do castanho. Tirou o celular do bolso, checando sua franja e ajeitando os fios rebeldes. Guardou o aparelho e tomou uma longa respiração, colocando seu sorriso mais bonito no rosto enquanto batia na superfície de madeira polida.

— Hyunginie, Hyunginie, acorda! — sem parar as batidas da mão em punho, o chamou. Precisaria insistir por algum tempo caso quisesse acordá-lo de seu sono pesado. — Vamos, acorda! — elevou mais o tom, esperando que isso fizesse algum efeito. Bufou, a paciência já estava por um fio com toda aquela demora. Farto, colocou a mão na maçaneta e a girou. A porta não se moveu um centímetro. — Hyunginie? — forçou a porta outra vez e nada. — Por que a porta tá trancada, Hyungie? — a voz caiu para os agudos, a mente pensando no pior. — Chae Hyungwon, abre essa porta! — bateu na porta com mais força, não ligando se iria despertar os demais com todo aquele barulho que estava fazendo.

Minhyuk cessou as esmurradas na porta e abaixou o punho quando ouviu o som de chaves girando na fechadura, destrancando-a. Abriu-se uma fresta e de lá apareceu o rosto sonolento de Hyungwon. Ele piscou algumas vezes até seus olhos se acostumarem com a diferença de luminosidade do ambiente e o encarou confuso.

— Pra que todo esse barulho? — o Chae murmurou, a voz rouca transbordando irritação pelo modo abrupto que fora arrancado de seu sono.

— Quem deveria tá bravo sou eu! Por que a porta tava trancada? — resmungou de volta. — E se tivesse acontecido alguma coisa? Eu ia ter que derrubar isso daí! Anda, fala. Aconteceu alguma coisa pra porta tá trancada?

— Eu ainda não acordei direito, e você não tá ajudando falando rápido. — Hyungwon escorou o corpo na porta, piscando devagar como se estivesse prestes a pegar no sono novamente ali mesmo. — Eu tô bem, Min. Eu só quis trancar. — deu de ombros.

O Lee sugou o inferior, deixando a boca numa linha reta e segurando uma resposta mal educada. O amigo estava com o temperamento oscilando, mesmo que um pouco, percebeu isso e o cio dele deveria estar se aproximando para ter lhe dado uma resposta tão seca. Decidiu não se irritar e destratá-lo já que ficava tão insuportável quanto ele durante o período que antecede o cio.

— Vamos na praia, sim, Hyungie? — pediu manhoso, um biquinho involuntário se formando em seus lábios.

— Eu quero dormir. — o outro respondeu no mesmo tom.

— Ah, por favor. — puxou uma das mãos dele, tentando tirá-lo do quarto. — Vem comigo, anda.

— Quem de vocês foi o responsável por me acordar? — uma terceira voz se fez presente. Os ômegas olharam em direção a ela.

— Shownu hyung. — disseram juntos.

— Que barulheira foi essa? Ainda tem gente dormindo, sabiam? — ralhou ao se aproximar. A cara de quem acabou de acordar parecia ainda mais mal humorada em razão das sobrancelhas franzidas, o cabelo arrepiado não estava muito diferente do usual e vestia um calção de banho, o tronco forte e definido a mostra.

— Desculpa, hyung. — o castanho fez uma reverência, seu gesto sendo imitado pelo platinado. — O Min ficou batendo na porta que nem um desesperado pra me fazer acordar.

— Eu não teria feito isso se não tivesse trancado a porta. — inflou as bochechas e cruzou os braços.

— Ok, ok, vocês dois. Fiquem calmos. — tratando de acalmar os ânimos deles, suspirou ao passo que bagunçava o cabelo. Mesmo duvidando que os ômegas discutiriam, achou melhor evitar isso. — E por que veio acordá-lo, Minhyuk? Ele mal tá aguentando deixar os olhos abertos.

— Esse chato não quer vir comigo na praia. — o Lee disse emburrado por ter sido dispensado.

— Ah, era esse o problema? — o Son falou, deixando claro seu tédio. — Vem comigo então. Eu tava indo pra lá mesmo. — abriu um belo sorriso. Qualquer um que o visse, diria que estava o cantando. Kihyun ficaria louco, riu internamente só de imaginar.

— É sério? — os olhos de Minhyuk brilharam. — Espera aqui. Já volto! — e saiu correndo para seu quarto.

Hyungwon observou o amigo até o mesmo sumir no corredor, voltando sua atenção para Hyunwoo. O alfa fazia o mesmo que si, porém manteve o olhar no mesmo ponto, observando o nada, preso em seus pensamentos. Pela primeira vez, analisou o mais velho de cima a baixo. Além das feições másculas e até mesmo frias, ele tinha uma excelente condição física, tendo assim os músculos dos braços e pernas muito bem definidos e firmes, um peitoral forte com um abdômen trincado, fora a bunda evidente na bermuda. Era, de fato, alguém muito bonito.

Mesmo se eu fosse um alfa, seria trocado facilmente por alguém como ele.

— Sabe, Hyungwon, — a voz de Shownu o tirou de seus devaneios. O ômega corou de leve por ter sido pego o encarando. — você é muito bonito. — viu o rosto do menor ficar mais vermelho. — Deveria ser mais confiante sobre isso. E também mais ciumento. Vai mesmo deixar o Minhyuk ficar sozinho comigo? — sorriu de canto, divertindo-se com as reações dele.

Os olhos de Hyungwon dobraram de tamanho.

E-ele... ele não...

— Pronto! — Minhyuk voltou correndo, vestindo uma camisa branca e uma bermuda folgada, e parou, apoiando as mãos nos joelhos para recuperar o ar. Uma vez recomposto, esticou a coluna e virou-se para falar com o alfa. — Vamos.

— Espera! — quando os dois deram seus primeiros passos, o ômega mais novo agarrou o pulso do amigo. O Lee o olhou por cima dos ombros, confuso. — E-eu vou também. — respondeu à pergunta não feita, sussurrando as palavras. E, antes que o platinado o enchesse de perguntas, entrou no quarto.

— Pode ir na frente, hyung. — o platinado disse e entrou no quarto do mais novo. A porta se abriu numa pequena fresta, e a cabeça de Minhyuk varou de lá. — Ah, obrigado por convencer o Hyungie a ir também. — a porta se fechou de novo.

Hyunwoo rumou para o primeiro andar. Enquanto descia as escadas, finalmente soltou a risada que estava contendo o tempo inteiro. Foi fácil demais provocar o castanho como previu que iria ser e hilário por ele ter levado a sério sua brincadeira. É claro que não faria nada a Minhyuk, sabia dos sentimentos que o Chae e o Yoo tinham por ele e Kihyun o mataria caso tentasse algo, mas, óbvio, não podia deixar escapar uma boa oportunidade para uma alfinetada quando resolveu incentivar o mais novo. Como se já não bastasse Wonho com suas inseguranças exageradas.

O som da televisão ligada o guiou até a sala de estar. Mesmo de costas para si, reconheceu a cabeleira negra de Jooheon no sofá. Caminhou até o estofado e jogou-se nele, deitando com a cabeça nas pernas do ex ruivo. O Lee o encarou, estreitando os olhos, e ofereceu um sorriso cínico para o mais novo.

— Bom dia, Heon. — cumprimentou.

— Bom dia, Shownu. — e, ainda estranhando sua atitude, ele respondeu, não se importando em usar o sufixo como os mais novos, exceto o Yoo mais velho, faziam. Um dia, o Son ainda iria perguntar para o amigo o porquê de ele chamar somente Hoseok de hyung.

— O que vai fazer hoje? — puxou conversa e desviou a atenção por um instante para o que passava na TV. Era algum anime infantil, como supôs, levando em consideração o horário. — Não está grandinho demais pra assistir isso, Honey? — provocou, chamando-o pelo apelido que Hoseok usava.

— O que eu quero assistir começa depois disso. — deu de ombros, não se deixando levar, como sempre, pelo tom debochado. — Não sei. Ficar assistindo TV talvez. — disse, referindo-se a pergunta anterior.

— Então, por que não vai pra praia comigo? — sugeriu. — Minhyuk e Hyungwon também vão, já devem estar descendo, e seria bom que estivesse por lá pro Kihyun não me matar.

— Achei que não tivesse medo de Kihyun. — Jooheon comentou, olhando de forma desinteressada para o programa.

— E não tenho. Só acho melhor evitar mais problemas depois do que aconteceu ontem. — agora, o de olhos pequenos parecia prestar atenção no que os personagens falavam, não ouvindo necessariamente o que dizia a ele. — Vem comigo?

— É, tô fazendo vários nadas mesmo. — suspirou e tirou a cabeça do mais velho de suas pernas para levantar.

Hyunwoo observou Jooheon caminhar até a escada e andou em direção a cozinha antes mesmo do outro sumir de seu campo de visão. Com um sorriso no rosto, abriu a geladeira e escolheu os ingredientes para o café dá manhã na praia.

 

(...)

 

— Já disse que não me acordaram. — Kihyun colocou um dos braços sobre os olhos, a mão segurando o celular contra a orelha. Havia perdido a conta de quantas vezes ouviu “Desculpe ter te acordado” vindo da outra linha. De fato, acordou com o barulho do celular tocando, mas seus pais não precisavam saber disso.

— E essa voz de sono? — Siwon o questionou. — É claro que te acordamos. Deveríamos ter ligado mais tarde, Hae. Kihyun ainda está em fase de crescimento, precisa dormir.

— Já disse que não me acordaram. — repetiu, não entrando na brincadeira do pai. Sabia que o mais velho estava tentando lhe fazer descontrair, era algo bem do feitio brincalhão dele.

— Filhote, ignore esse velho insensível. — quando Donghae falou, não sentiu vontade de alfinetar a idade dele como sempre fazia. — Como está o Kyunnie? Ele já acordou?

— Não, ainda deve estar dormindo com o Seok. Ele foi dormir ontem no quarto do hyung. — falou, a voz neutra ao proferir essas palavras.

— E você? — a voz de Siwon agora tinha preocupação notável.

— Estou bem. — disse aquilo só para acalmá-los. — Estou bem. — disse de novo para tentar se convencer disso.

— Não fique trancado no quarto, meu filho. Saia com os outros e não deixe teu irmão sozinho. — Donghae aconselhou. Conseguia imaginá-lo tenso segurando o celular, as sobrancelhas franzidas em sinal de preocupação, e com Siwon massageando seus ombros.

— Tudo bem. — um suspiro alto escapou por entre seus lábios.

Uma terceira voz surgiu ao fundo. Abafados para alguns, Kihyun conseguiu identificar graças audição apurada de alfa o timbre conhecido da mais renomada alfa daquele departamento de polícia: a chefe de seus pais. Ela disse poucas palavras, as quais não se deu trabalho de entender, e um ruído de porta soou, indicando que havia deixado a sala deles.

— Precisam desligar, não é? — a voz do rosado vacilou brevemente. Sentia-se criança outra vez, despindo-se de seus pais sem saber se eles iriam voltar por conta do perigo que o empregado deles dispunha.

— Sim. — um suspiro de ambos veio da outra linha. — Nos liga mais tarde? — Donghae perguntou.

— Ligo sim.

— Amamos vocês, filho. — os pais proferiram em uníssono.

— Também amamos vocês, appas. — confessou baixinho.

— Ah, mande lembranças ao Hoseok! Não esquece de mandar uma foto para a gente ver como ficou teu cabelo! E- — e a ligação encerrou. Siwon deveria estar emburrado por Donghae ter desligado antes de ter terminado de falar.

Jogou o celular de qualquer forma sobre a cama e deixou os lençóis na altura dos ombros após isso, virando de lado, deitando de costas para a porta. O smartphone caiu quando mexeu as cobertas, e o deixou jogado no chão, não ligando se havia danificado algo. Os outros já deveriam estar se levantando, indo tomar café e planejando o que fazer, mas, hoje, não tinha ânimo para nada, de forma que a colchão e o cobertor seriam suas únicas companhias. Mais do que nunca, era impossível não pensar no incidente de anos atrás. Ainda não lidava bem com esse fantasma e talvez nunca lidaria com um acontecimento tão trágico que foi capaz de atingir diretamente sua família e arrancou sua possibilidade de sorrir por um bom tempo.

Fingiu não ter ouvido o ruído da maçaneta e da porta. Não olhou para quem entrava pois não era necessário, sabia perfeitamente quem era apenas pelo cheiro, e permaneceu encarando a parede, o olhar perdido indo muito além delas. O colchão afundou atrás de si, e não moveu um músculo, esperando o que vinha a seguir.

— Está dormindo, Ki? — sentiu dedos deslizarem por sua nuca.

— Não, Seok. — continuou de costas para o loiro.

— Ótimo, isso me poupa trabalho. — o timbre do amigo estava mais cauteloso, como se tivesse medo de lhe machucar com suas palavras. — Eu vou levar o Kkukkung pra praia.

— Tudo bem. Se divirtam. — cobriu o rosto, ficando inteiramente debaixo do lençol.

— Ah, não. Você vem com a gente. — o Yoo não resmungou nem nada quando o Shin deitou sobre si, forçando-o a ficar de bruços. — Anda, levanta. — Wonho tentou puxar o lençol, mas foi em vão, o alfa o segurava firmemente. — Trate de levantar. Ar fresco é tudo o que precisa agora. — afagou a coberta branca, no local onde ficava a cabeça de Kihyun.

— Estou indisposto.

Escutou passos calmos se aproximarem da cama que cessaram após chegarem à sua frente. Através do edredom, enxergou uma silhueta se movimentar, agachando-se ao lado da cama. Sombras de dedos ficaram visíveis, e uma mão segurou a coberta. Não resistiu dessa vez, deixando que puxasse o lençol. Ficou cara a cara com Changkyun, que o fitava com o semblante tristonho. Os olhos do pequeno estavam um pouco vermelhos e inchados, indicando um choro recente. O Yoo mais novo colocou os braços cruzados no colchão e deitou a cabeça neles, não cortando o contato visual. O cheiro do creme dental no hálito fresco dele tocou-lhe a face, mesclando-se com o seu.

— É pro teu- pro nosso bem. Por favor, hyung. — Changkyun sussurrou. Não usaria mais palavras, estas foram o suficiente para convencê-lo.

— Kyunnie... — Kihyun ainda estava hesitante sobre levantar ou não.

— Ki, — foi a vez de Wonho falar. — lembra o que me disse quando te contei sobre mim?

— “Você tem todo o direito de estar assim. Não entendo o que sente, mas quero ajudar.” — proferiu a frase que, apesar do tempo, não se apagou de sua mente.

— Eu digo a mesma coisa pra você. — o apertou entre seus braços. — É a minha vez de te ajudar.

— Obrigado, hyung. Eu... — sorriu fraco. — Eu vou com vocês.

Changkyun e Hoseok sorriram cumplices.

Os ômegas saíram do quarto, dando privacidade para o alfa poder se arrumar. Esperaram por um curto período até que a porta se abrisse, revelando um Kihyun de banho recém tomado, vestindo peças semelhantes as deles (camisa folgada e uma bermuda). Os três desceram juntos no mais completo silêncio, o Shin com um braço ao redor dos ombros do Yoo mais novo e o outro, nos do mais velho.

— Os outros ainda estão dormindo? — o rosado perguntou quando chegaram na cozinha, estranhando a calmaria. Lembrava-se de ter ouvido uma barulheira não muito tempo depois de ter ouvido o celular tocar.

— Não sei. A gente devia ir chamar eles? — o pequeno vasculhou ao redor, procurando os demais e esperando encontrar Jooheon em algum lugar.

— Não é preciso. — os Yoo encararam o loiro. — Parece que não fomos os únicos que tiveram a ideia de ir pra praia. — movimentou o queixo, sinalizando a porta que dá acesso à área de lazer, onde seus amigos caminhavam em direção à praia. — Vamos. — andou apressado para alcançá-los, forçando os irmãos seguirem seu ritmo.

Hyunwoo estendia a toalha sobre a areia com auxílio de Jooheon e desviou sua atenção para Minhyuk, que acenava, vendo os três que faltavam se aproximando. Hyungwon colocou a cesta de comida no centro toalha, e todos formaram um círculo ao redor dela, como num piquenique. O mais velho dos alfas foi tirando os alimentos e os deixando a disposição de todos, que olhavam maravilhados para aquele café estilo ocidental. Tudo parecia muito gostoso, e os estômagos deles roncaram alto com o cheiro delicioso.

O platinado, sentado entre o ex ruivo e o castanho, comandava a conversa, sempre puxando os mais diversos tipos de assunto, não a deixando morrer por um segundo. Shownu, ao lado do amigo alfa, se permitia rir vez ou outra do ômega tagarela, ocupado em mastigar e perturbar Wonho, que estava seriamente se arrependendo por ter sentado ao seu lado. Os irmãos Yoo permaneciam calados, sendo o mais novo o único a participar da conversa. O rosado ficou o tempo inteiro cabisbaixo, ignorando toda e qualquer tentativa do ômega Lee inseri-lo no papo. O Chae observava-o, notando os movimentos quase robóticos e perguntando-se o porquê de ele estar assim.

— Bem, não sei vocês, — o Son disse ao se levantar. — mas eu vou entrar na água. — e os deixou para trás.

— Jooheon, sabe jogar? — enquanto terminava de passar o protetor em si, Minhyuk perguntou ao mais novo, que tinha uma bola de vôlei no colo e também espalhava protetor.

— Claro. — sorriu, passando as mãos meladas nos ombros e no tronco desnudo. — Quer jogar?

— Não precisa nem perguntar. — levantou e saiu puxando o Lee.

— Vou explorar a praia! — o mais novo dos ômegas anunciou e saiu correndo.

— Ya, Yoo Changkyun! — Kihyun de repente acordou do transe que estivesse até o momento. — Volta aqui! Você ainda não passou protetor! — pegou o frasco que Minhyuk havia largado ali e disparou em direção do irmão.

— Hyungwon, vem cá. — Hoseok o chamou, sinalizando com a mão para que se aproximasse. — Deixa eu passar protetor em você.

— Eu não preciso de ajuda, eu consigo passar sozinho. — Hyungwon falou emburrado ao sentar do lado dele. A verdade era que odiava se sentir todo melecado. Não iria nem ficar no sol, então para que passar aquilo?

— Você não me engana. Eu convivo tempo o suficiente com o Kkukkung pra saber quando querem me passar a perna. — estreitou os olhos. — Não tem querer. Você já é pálido e com certeza é do tipo que, se beliscar, já fica vermelho. — demonstrou a ele, apertando-o de leve no braço, onde ficaram delineadas a marca de seus dedos. O Chae resmungou de dor e esfregou o local. — Não disse? Não duvido que vire um camarão só com o mormaço. — abriu o frasco e despejou um pouco do conteúdo na palma de uma das mãos.

— Por que fica agindo como se fosse a mãe de todo mundo, hyung? — murmurou com um biquinho formado nos lábios enquanto sentia o outro espalhar o protetor em sua face.

— Talvez porque eu realmente seja. — sorriu de canto, soando como se fosse óbvio. — Eu sou o mais velho daqui. Eu tenho que cuidar de vocês. É mais forte do que eu. — deu de ombros. — Acho que é coisa da natureza de ômega.

— Não é o que parece. — o Shin o encarou confuso. — Não consigo ver o Shownu sendo mais novo que você.

— Mas ele não é. Temos a mesma idade, mas ele faz aniversário antes de mim. — esfregou os dedos com protetor pelas bochechas do castanho, que estava de olhos fechados e nariz franzido.

— Quer dizer que vai fazer dezoito? — entreabriu as pálpebras e o viu menear a cabeça em concordância, sem parar com o que fazia. — Então, por que estuda na mesma sala que o Jooheon? Era pra estar nos últimos anos do Médio Sênior como o Shownu.

— Me dê tuas mãos. — não esperou o mais novo fazer o que pediu, pegou uma das mãos dele e despejou uma quantidade razoável de protetor. — Passe no pescoço e nos braços. — ditou, autoritário. — Sobre isso... diferente do Honey e de ti, que são adiantados, eu sou atrasado um ano na escola.

— Atrasado? Você começou a estudar tarde?

— Não, não. Acabei repetindo por conta da morte da minha mãe e... outros problemas com meu responsável. — o loiro estava surpreso por falar disso tão facilmente. Era incrível como Hyungwon o deixava confortável o suficiente para ser tão franco com ele.

— A-ah, eu não sabia. Me desculpe.

— Não, tudo bem. — afagou a cabeça do amigo. — Pelo menos, conheci o Ki no ano seguinte. — sorriu um pouco sem jeito. — É bom te ver todo falante. Deveria ser assim mais vezes com os outros.

— Mas eu converso com eles. — desviou o olhar, focando onde Kihyun e Changkyun estavam. Era verdade: por mais que ainda continuasse um tanto tímido, já falava normalmente com todos a ponto de manter uma pequena conversa. Claro, dialogava mais com Minhyuk, mas isso não deixava de ser um grande avanço.

Hoseok olhou para o mesmo local que estava centrada toda a atenção de Hyungwon e surpreendeu-se por não ser Minhyuk que estava ali. O mais novo encarava discretamente os irmãos Yoo, observando o alfa passando protetor nos ombros e nas costas do ômega. Não pode deixar de notar um leve brilho nos orbes do castanho no momento enquanto sua visão se fixava no Yoo mais velho.

O Ki ia explodir de felicidade se estivesse vendo o que eu estou vendo agora.

— Você quer falar com ele, não quer? — questionou. As bochechas do Chae coraram, e ele virou o rosto em sua direção de forma teatral. — Você não para de olhar pra ele e não pense que eu não percebi que o encarava pelo canto dos olhos durante o café. — o rubor dele se alastrou até as orelhas. Segurou um riso ao ver os olhos ômega se esbugalharem. — Tem alguma coisa a ver com o que aconteceu ontem? — referia-se ao episódio dos amigos saindo correndo para a praia.

— E-eu... — engoliu em seco. — Preciso pedir desculpas por ontem.

— E o que tá esperando? — embora estivesse curioso, achou melhor não perguntar nada. — Vai lá. Ele precisa se distrair hoje.

Hyungwon estreitou os olhos, expressando sua confusão, mas Wonho levantou e caminhou direção aos Yoo sem antes explicá-lo o que queria dizer com isso. Observou o Shin dialogar brevemente com os dois irmãos, e Changkyun se juntou a ele, ambos indo em direção a Jooheon e deixando Kihyun sozinho. Era como se o loiro houvesse dado a deixa perfeita para que fosse lá, como se soubesse que não teria coragem se alguém estivesse por perto. Olhou ao redor a procura de Minhyuk, não achando sinal algum do amigo. E, apesar de estar muito inseguro, forçou suas pernas a caminharem em direção ao alfa.

O coração parecia sair pela garganta a medida que ficava mais perto do local que ele estava sentado. Observando os três que se afastaram, o alfa estava quieto, quieto até demais, tanto que nem reagiu quando Jooheon segurou a mão de Changkyun e o levou para o lado oposto que Wonho ia. Estranho, Hyungwon pensou consigo mesmo, sabendo que, em um dia comum, Kihyun estaria dando um ataque por algo assim, e, hoje, parecia que isso simplesmente não fazia a mínima diferença para ele. O semblante pensativo dele voltou-se para si de repente, e congelou por ter sido descoberto. E, de novo, notou alguma coisa esquisita, dessa vez em seus orbes. Por que o olhar dele estava tão vago?

De alguma maneira, o ômega estava conseguindo manter contato visual por mais tempo do que o esperado e não duvidava que era capaz de o perdurar por uma duração indeterminada. Talvez porque estivesse tão inquieto por não achar nada além da opacidade nas írises castanhas escuras. Era como se procurasse por aquele brilho cativante maravilhoso que estava tão acostumado em notar nos olhos dele, que possuía a capacidade de acalentar seu coração. Qualquer cintilar estava ausente naqueles globos oculares no momento, criando-se ao redor deles uma armadura enigmática impenetrável.

Não, aquele não era Kihyun. Podia ter a mesma aparência, a mesma estatura, o mesmo cabelo recém pintado de rosa, tal como as sobrancelhas, as mesmas orelhas furadas, o mesmo tudo; mas, definitivamente, aquele não era Yoo Kihyun.

— Oi. — o ômega disse.

— Oi. — e o alfa respondeu seu cumprimento.

Ele não vai falar mais nada?

— Posso sentar aqui com você? — pediu, brincando com os próprios dedos para disfarçar o nervosismo.

— Pode.

Ele não vai sorrir como faz toda vez que fala comigo?

Mordeu o lábio inferior e abriu a boca para falar, porém não emitiu som algum. Apertou as mãos em punho ao lado do corpo enquanto se sentava. O outro desviou o olhar, mirando o horizonte, e ele sentiu um estranho aperto no peito por isso. Chocado, mas não o suficiente para questioná-lo, ficou a fitar o perfil distraído do mais velho, esforçando-se para compreender o motivo para estar tão incomodado com esse comportamento.

O que diabos tá acontecendo comigo?!

— Kihyun. — o chamou. Demoraram-se longos segundos até que ele virasse um pouco o rosto em direção ao seu. — E-eu... — o coração começou a martelar rudemente. — Me desculpe.

— Por...? — mesmo com as sobrancelhas arqueadas, seu rosto permaneceu apático.

— Por ontem. O Min veio falar comigo e me explicou tudo. Me desculpa, eu não queria julgar errado. Era só que... realmente parecia aquilo. Eu não deveria ter pensado aquilo, eu não deveria ter saído correndo, eu não-

— Hyunginie. — a mão de Kihyun pousou sobre a de Hyungwon. — Respira e não precisa aumentar o tom.

O ômega tapou a boca com a mão livre. Mal acreditava que havia levantado a voz ao falar com o mais velho e o porquê ele também não sabia. Que desespero todo foi aquele?

— E-eu só... — a voz do Chae vacilou. — Me desculpe.

— Tudo bem. — o tom dele transmitia calma. Os olhos dele pareceram retomar um pouco de brilho. Foi uma leve faísca, mas, tão rápida quanto apareceu, ela sumiu.

— Você tá bem? — perguntou receoso.

— Não. — sorriu sem verdadeiro ânimo. Aquela franqueza assustou o mais novo. — Eu não queria tá aqui agora, mas o Seok me obrigou a sair do quarto.

— O que houve? — a preocupação era palpável em seu questionamento.

— Hoje é um péssimo dia pra mim, é tudo o que posso te dizer. — seu polegar acariciou a costa da mão do mais alto. — Eu só preciso ficar quieto.

— Ah... — estava, de fato, sem palavras. Ver Kihyun daquele jeito incomum o incomodava, como se algo o mandasse fazer alguma coisa.

É assim que o Min se sente quando não falo nada pra ele?

O olhar do castanho recaiu para a mão do rosado sobre a sua. O dedão se esfregando levemente em sua pele trazia uma sensação de bem estar repentina para si.

— Mas obrigado por se preocupar. — o Yoo o tirou do transe.

— Huh? — voltou a encará-lo.

— Nada. Deixa. — o sorriso pareceu mais sincero dessa vez. — Acho que vou entrar. — encarou a mansão atrás de si e depois, Hyungwon. — Até mais tarde, Hyunginie.

— Até m- — paralisou ao sentir a mão de Kihyun em seu rosto. Os lábios dele descansaram em sua têmpora, num selar breve, mas que fez o coração do ômega disparar. — A-até. — gaguejou constrangido, as bochechas febris.

O Chae, ainda sem reação, viu o Yoo mais velho se levantar. Sem olhar para trás, o alfa caminhou a passos lentos para a mansão e sumiu porta a dentro, deixando um Hyungwon confuso para trás. O ômega sentiu um peso em suas costas e não precisou virar o rosto para saber que eram os braços do Lee ao redor de seus ombros. Continuou estático, as exclamações que o amigo soltava pareciam tão abafadas que não as compreendia.

— Hyunginie, o que foi aquilo? — Minhyuk perguntava entusiasmado. Hyungwon não lhe respondeu, os olhos dele não conseguiam se desgrudar do caminho feito por Kihyun. — Hyunginie, o que houve?

— Não sei. — o Chae respondeu, ainda naquele estado hipnótico. — O que acha de caminhar pela praia? — virou o rosto e forçou um sorriso, voltando a colocar sua máscara de “Está tudo bem”.

 

(...)

 

Jooheon não largava a mão de Changkyun por nada no momento. Hyunwoo continuava no seu mergulho solitário e os outros três ômegas estavam conversando sentados embaixo de uma sombra, o que significava que a atenção do pequeno estava centrada em si. Esse fato fazia seu rosto ter câimbras em decorrência do sorriso que não ousava sair dos seus lábios. Por um momento, o Yoo mais novo era só dele.

O Lee acertou um golpe forte na bola, realizando um corte. O menor olhava para si, distraído, e não notou sua ofensiva, recebendo uma bolada na testa. O alfa explodiu em risadas ao vê-lo cambalear e cair de bunda no chão por perder o equilíbrio por conta do susto. Changkyun levou as mãos ao local atingido e escondeu os olhos sob a franja.

— Desculpa! Você tá bem? — aproximou-se dele, tentando conter em vão o riso.

— Não ri de mim. — sussurrou e não o olhou, chateado por estar sendo motivo de piadas.

— Não fica assim. — ajoelhou-se em frente a ele. — Deixa eu ver. — segurou o queixo do Yoo entre o polegar e o indicador, levantando-o. Com a mão livre, afastou a franja negra, revelando a pele avermelhada da testa pelo choque. — Não foi nada demais, só ficou um pouquinho vermelho. — disse, agora olhando em seus olhos. — Desculpa, não queria ter te acertado. — deixou um selar demorado na região acertada pela bola, para ver se com isso ele o perdoava.

— N-não, tu-tudo bem. Eu tava distraído. — um sorriso repuxou os lábios mais velho quando as maçãs do rosto do ômega adquiriram o tom rubro. — Honey, vamos parar. Cansei de jogar vôlei.

— E o que quer fazer agora? — deslizou os dígitos na franja do outro, colocando-a no lugar.

— Entrar na água? — deixou que soasse como uma pergunta, esperando a reação dele. Eles não estavam tão longe da água, alguns passos e ela os molharia.

— Então, vamos.

Jooheon levantou-se, dando dois passos para frente, e Changkyun prendeu o folego ao vê-lo enfiar os polegares para dentro do cós da bermuda, abaixando-a. Seus olhos seguiram o caminho da peça até que caísse no chão, revelando a pele das pernas levemente bronzeadas. Os pés dele se movimentaram e a roupa saiu de seu campo de visão, mas não conseguia levantar o olhar por nada. A mente estava entrando em pane ao notar a situação que se encontrava. A curiosidade o fez levantar um pouco a cabeça, e quase teve um troço ao fazê-lo. Será que vestiu uma sunga boxer vermelha justo para lhe provocar? Mordeu o lábio, analisando a curva da bunda coberta pelo traje de banho, e apertou a areia entre seus dedos, tentando estabilizar a respiração.

— Puppy? — o coração de Changkyun quase pulou para fora da boca quando Jooheon se virou, o encarando. — Algum problema?

— Quê? Não! Claro que não! Por que? — abanou as mãos, afobado, e esperou que seu nervosismo não estivesse tão evidente.

— Então, por que está vermelho? — sorriu largamente.

Por tua culpa, idiota! Não se faça de sonso!

— E-eu devo tá um pouco queimado. — desviou o olhar.

— Se você diz. — o Yoo o espiou pelo canto dos olhos, vendo-o segurar o riso. — Tire a roupa.

O coração de Changkyun quase pulou para fora de sua boca pela segunda vez.

— O q-que disse? — só podia ter ouvido errado.

— Sabe, acho melhor não molhar roupa. Se entrar vestido, vai sentir frio quando sair da água. — explicou. O pequeno já ficava com frio de roupas em decorrência do vento litorâneo, que diga se estivessem ensopadas.

— A-ah... ok. — levantou-se, sem olhar para ele.

Com a cabeça abaixada, começou a despir-se. Os dedos trêmulos seguraram a barra da camisa e a subiram devagar, retirando-a de seu corpo e a deixando cair na areia. Puxou a bermuda para baixo, o tecido deslizando facilmente pelas pernas. Juntou as roupas do chão e as segurou contra seu peito, numa tentativa encabulada de esconder um pouco de seu corpo.

— H-Honey, pode entrar na água. — encarando os próprios pés, murmurou. Sentia o olhar dele sobre si, causando-lhe arrepios, e o coração acelerado dentro do peito. — Eu vou só entregar minhas roupas pro Seok hyung e já volto. — não deu tempo para ele lhe contestar, saiu correndo para onde o loiro estava.

Os passos rápidos levantavam areia sempre que seus pés tocavam ao chão. O rosto deveria estar se assemelhando a um tomate de tão constrangido que estava. Lembrar da sensação do olhar do alfa passeando por seu corpo gerou outro arrepio. De alguma forma, sabia que ele se deliciou com aquilo, como se estivesse profundamente atraído. Ele gostou do que viu? Quais foram os efeitos que causou nele por ficar, bem, seminu a sua frente? Balançou a cabeça para afastar pensamentos desse tipo.

Jogou as roupas nos braços de Hoseok e, sem lhe explicar nada, virou-se para voltar a correr. Conseguia ver que Jooheon já estava na água a sua esperava. O sorriso que ele lhe lançou quase o fez tropeçar e cair de cara no chão, mas logo se recuperou. Não aguento o olhar dele sobre si, pulou na água e nadou no fundo até chegar nele.

— Nunca vi alguém correr tão rápido na areia. — o Lee comentou. — Tudo isso era saudade?

— Eu só tava com calor. — inflou as bochechas, jogando água na cara dele. — Só isso.

— Se você diz. — disse entre risos.

O ômega, emburrado, nadou para longe, mas isso não impediu o outro de segui-lo. Assim começou uma pequena perseguição na água: o Yoo nadava na superfície e no fundo, fugindo do ex ruivo, enquanto o Lee ia atrás de si. Os dois riam e sorriam da brincadeira boba, jogando água um no outro em algumas ocasiões. Ninguém estava por perto e a única coisa que importava era que estava apenas os dois ali. Após algum tempo, o pequeno desistiu de fugir e reclamou de cansaço. O mais velho cedeu suas costas, que foram prontamente ocupadas pelo ômega, que passou os braços pelos ombros dele e se deixou ser levado. O alfa andava calmamente na direção contraria a correnteza, sem fazer qualquer movimento brusco, aproveitando a sensação de Changkyun o abraçando por trás.

— Gosto de como estamos. — confessou do nada. — Ainda estou surpreso pelo que disse.

— O que quer dizer com isso, Honey? — não precisa ver para saber que ele estava sorrindo.

— Não se lembra? — virou um pouco o rosto para encará-lo.

— Lembrar do que? — o olhou confuso.

O sorriso do alfa se desmanchou.

Ele tava bêbado, Lee Jooheon. É claro que ele não vai se lembrar do que disse naquela noite.

— Deixa. Não é nada importante. — suspirou, desviando o olhar.

— Desculpa, Honey. — colocou a mão no rosto dele, fazendo-o lhe olhar e acariciando a bochecha do alfa. — Eu não queria te magoar, mas realmente não sei do que tá falando.

— Não tem problema, Puppy. — pousou a mão sobre a dele, sorrindo fraco.

Jooheon retirou a mão de Changkyun de seu rosto. O semblante do mais novo demonstrava o quão ressentido estava por não saber do que estava falando ou por ter afastado a mão dele, não sabia ao certo. Sua atenção caiu nos lábios do Yoo. Ah, aqueles lábios... estavam tão próximos, tão chamativos, tão convidativos. Ergueu o olhar e pegou o outro fitando seus lábios descaradamente. Sorriu, e ele voltou a lhe mirar. Olhando no fundo dos olhos dele, fez um pedido mudo, ganhando um menear positivo como resposta.

Tudo ao seu redor sumiu.

A única coisa relevante naquele instante para si era o ômega.

E nada poderia arruinar.

Ledo engano.

Alguma coisa acertou em cheio o rosto do alfa. Changkyun soltou um gritinho assustado e se afastou do mais velho ao ouvir o barulho de algo molhado atingir a face dele. Perplexo, deixou o queixo cair ao notar o que era.

— Da próxima vez, — o Lee não precisou tirar o que quer que estivesse em seu rosto para saber que Hyunwoo estava com um sorriso odiosamente debochado no rosto por ter atrapalhado o momento. — não deixa as roupas perto da água. A maré sobe rápido, sabia? E eu não sou obrigado a ficar catando coisas que foram puxadas pela água.

Jooheon rosnou baixo, constatando que era mesmo seu calção ao retirá-lo de cabeça. Segurando peça com punho cerrado, procurou o Son e o encontrou rindo de sua cara. Olhou torto para ele, que simplesmente deu de ombros e nadou até a areia da praia. Voltou sua atenção para Changkyun. O Yoo estava de ombros encolhidos e cabeça baixa, escondendo o rosto possivelmente corado e evitando contato visual por estar muito envergonhado.

— Honey! Kkukkung! — quando o alfa abriu a boca, a voz de Hoseok soou ao longe. — Vamos entrar! Já é hora do almoço!

Os dois se entreolharam e nada disseram, saindo da água como o loiro havia mandando.

 

(...)

 

Os dias estavam passando rápido demais e, quando pararam para ver, o fim de semana já se aproximava novamente. Arranjavam alguma coisa para fazer todos os dias, nem que fosse somente a noite, e mal paravam em casa em decorrência disso, saindo para visitar alguns pontos turísticos, jantar em restaurantes, passear pelas outras praias locais, etc.

O humor dos irmãos Yoo pareceu melhorar com o passar do tempo e logo a melancolia que pairava sobre eles se esvaiu. Hoseok sentiu-se aliviado por isso, não queria que os amigos continuassem tristes e não aproveitassem os últimos dias da viagem. Hyunwoo e Jooheon, mais do que qualquer um ali, fingiam que a volta para Seul não se aproximava, cada um por seus próprios motivos. Minhyuk estava frustrado por cada vã tentativa de abordar Hyungwon, que estava aparecendo mais pálido a cada dia que passava, tendo de acreditar nas desculpas que eram lhe dadas pelo Chae, que, apesar do que sua aparência mostrava, aparentava estar bem e também aliviado pelo remédio lhe deixar são.

Na sexta, após um dia inteiro na praia detrás da mansão, os sete retornaram pouco depois do início da tarde e, uma vez limpos e com roupas livres de areia, se encontravam jogados nos largos sofás da sala de estar, exaustos. Um dos empregados adentrou o recinto, avisando a Jooheon sobre alguém a procura do alfa. O Lee estranhou (não esperava receber visitas, muito menos em outro país), contudo deu a ordem para deixá-lo entrar.

Todos sentaram de forma correta, curiosos para descobrir quem apareceria. A surpresa foi grande por Jooheon ao notar o rosto conhecido de seu vizinho surgir dos corredores da entrada. Lembrava-se vagamente de que brincava com ele durante as férias sempre que ia para aquela casa com seus pais na infância e mais nada fora isso.

— Honey, quanto tempo! — o rapaz disse, em coreano, entrando na sala com um sorriso de orelha a orelha. O alfa lhe olhava sem esboçar reação alguma e tinha certeza que estava tentando lembrar seu nome, porém não se abalou nem um pouco com isso. Percebeu o olhar dos outros que também estavam ali sobre si, achando curioso um daqueles ômegas mover os olhos na direção do Lee e na sua continuamente. — Ah, Honey, sou eu, Yesung. Não lembra? Nós brincávamos quando você vinha passar as férias aqui.

— Ah, sim, Yesung. Claro que lembro. — respondeu, educado, sem realmente se lembrar de muita coisa. Não queria soar rude apesar de não querer seu vizinho ali. Mesmo sendo um ômega, algo lhe dizia para se livrar dele o mais rápido possível. Notou como a presença dele estava deixando seus amigos desconfortáveis. Todos, exceto Hyunwoo, que olhava com certo apresso o rapaz de cabelos negros, que devolvia as olhadas furtivas do alfa. — O que te traz aqui? — questionou, querendo acabar com aquilo.

— Ah, eu soube que estava aqui e vim te ver. Sabe, passar um tempo com você como fazíamos antes. — revelou sem rodeios.

Changkyun levantou-se, farto daquela conversa, e rumou em direção as escadas, saindo o mais rapidamente possível. Jooheon desviou seu foco do que quer que seja que Yesung estivesse falando para olhar o Yoo mais novo, fazendo-o sentir-se culpado por aquele ato dele. Foi então, com essa reação, que sua mente deu um estalo, lembrando-o do motivo para não gostar de seu vizinho. O rapaz tinha um comportamento detestável e insuportavelmente arrogante, causando sempre esse tipo de cenário sem fazer muito esforço.

— Eu deveria me sentir honrado? — brincou, ácido, claramente tocado pela saída de Changkyun. Yesung era alguns meses mais velho pelo que se bem lembrava, mas não merecia ser tratado como tal.

O ômega riu, não achando aquilo nada demais. Viu um platinado subir as escadas, puxando um outro alto e estranho, ao seu ver, junto consigo. Fez uma cara de desgosto para o de cabelo castanho. A aparência dele estava fora de qualquer padrão que conhecia, mesmo notando que era um ômega, ele não parecia nem alfa, nem ômega, e os betas se sentiriam ofendidos caso o comparasse com eles em sua opinião; para si, aquele rapaz não encaixava em nenhum perfil.

Mudou o foco de sua atenção quando ouviu um grunhido, deparando-se com a aura forte emanando de cara de cabelos rosa. Um alfa com feições de ômega rosnando para si, quem diria! Tudo isso por causa do garoto esquisito? Ah, Yesung pouco se importou ao receber aquele olhar torto e muito menos com o fato de ele ter saído, provavelmente indo atrás dos outros que deixaram a sala.

— Nossa. — sussurrou desgostoso para si mesmo. — Então, Honey, — voltou a sorrir. — mais tarde vai ter um jantar na minha casa e eu vim te convidar. — Hoseok observava todas as ações do garoto, que sentou ao seu lado como se fosse a coisa mais normal do mundo. Só o fato de estarem respirando no mesmo ambiente estava desagradando o Shin. — Pode levar o bonitão aí. — com um movimento de cabeça, indicou Hyunwoo sentado ao lado do Lee.

Hoseok revirou os olhos no mesmo instante.

— Eu vou. — declarou sem cerimônias.

— O quê? — Yesung se virou para o Shin, que o fitava. — Ah, olá. Não tinha visto você. — sorriu internamente, sabendo que havia o irritado.

— Tanto faz, eu vou. — disse, fazendo pouco caso das palavras dele. — Sou o mais velho responsável pelo Jooheon. — levantou-se e deu as costas para o ômega, que ficou enfurecido, rumando para as escadas.

— Jantar formal, correto? — Jooheon perguntou, a frieza estampando seu semblante. Yesung concordou com rápido movimento de cabeça. — Já que é tudo, vou ter que sair para providenciar roupas. Te vejo a noite. — o Lee se despediu e parou antes de caminhar em direção as escadas. — Vamos, Shownu. — o chamou.

— Vou acompanhá-lo até a porta, Heon. — respondeu, sem nem olhar para o amigo.

O ex ruivo revirou os olhos, aborrecido, ao vê-lo se afastar com Yesung e continuou seu caminho. Aquela tarde agradável havia sido completamente arruinada graças ao vizinho que resolveu dar o ar de sua graça. Andou pelo corredor a procura do quarto do irmão e, ao encontrá-lo, colocou-se de frente para porta, dando duas batidas nela.

— Pode entrar. — o Shin gritou.

— O que foi aquilo, neném? — o alfa perguntou, direto como preferia ser, ao entrar, indo se sentar na beira da cama onde o loiro estava deitado.

— Não foi nada, mas eu acabei de lembrar que não tenho roupa pra ir nisso. — suspirou, chateado, o olhar fixo no teto.

— Vamos comprar e não aceito não como resposta. Você se meteu nisso e, agora, você vai. — ditou, autoritário, recebendo uma risada do mais velho.

— Olha, você deveria estar preocupado com o Changkyun. Ele, sim, ficou bem chateado com aquele garoto. — Hoseok se levantou da cama, caminhando em direção a porta, uma atitude óbvia para evitar mais questionamentos. — Eu vou te esperar lá em baixo. Pode ir falar com ele, leve o tempo que precisar. Ah, só acho bom aquele Yesung ficar bem longe de mim e de você também, porque eu não me responsabilizo pelos meus atos. — já no corredor, disse a última parte num grito.

O alfa suspirou alto e levantou-se, rumando para o fim do corredor, onde ficavam os aposentos de Changkyun. Escolheu as palavras para seu discurso previamente feito em sua mente, entoando-o para si mesmo em pequenos murmúrios para ver como as frases soavam, enquanto, em um passo de cada vez, esbanjando uma estranha calma para situação atual, dirigia-se para o quarto do ômega. Diferente do semblante mostrando serenidade, a apreensão o dominava graças ao mar de confusões das sensações em seu âmago. Sensações estas que não pareciam derivar do próprio Lee. Ao chegar em frente a porta, descartou todas as palavras selecionadas a dedo anteriormente. Não adiantava arranjar um discurso perfeito, era pura perda de tempo, sabia disso, e precisava enfrentar o mais novo, então, com isso em mente e sem mais hesitar, desferiu duas batidas na superfície de madeira.

Furioso.

Constatou o quanto o Yoo estava irritado quando este abriu a porta e lançou a si um olhar cortante que exalava toda raiva e até mesmo antipatia por ter lhe “agraciado” com sua presença. Em partes, tinha absoluta certeza que todo aquele rancor era para com Yesung, que muito provavelmente já estava fora da mansão dos Lee. Notar isso trouxe um alívio leviano a Jooheon, embora qualquer afirmação de tal fato sequer tenha sido dita ainda. Changkyun deu-lhe as costas e voltou para o cômodo a passos duros, deixando a porta escancarada. Apesar de não ter recebido convite para entrar, adentrou o quarto e fechou a porta atrás de si, evitando plateia.

— Então... — começou, incerto. Seria tarde demais para recorrer ao discurso premeditado?, pensou consigo mesmo.

— Por que está aqui? — o outro, de braços cruzados, questionou, não se dando trabalho de virar-se para encará-lo.

— Vim ver como estava. — proferiu, cauteloso, ao caminhar até ele, somente cinco passos de distância os separando.

— Não pedi pra que viesse. — soltou num bufo. — Você tem visita, Honey. — pronunciou o apelido carinhoso com uma ênfase irônica. Deuses, como abominou ouvir a alcunha na voz daquele ômega, que foi capaz de o tirar do sério. — Por que não faz companhia a ele? — debochou, olhando-o por cima do ombro.

— Eu não queria ele aqui. — vestiu sua máscara de impassibilidade, escondendo o quão se sentiu afetado por estar sendo tratado daquela forma. — Nem lembrar dele eu lembrava, Puppy. E, quando lembrei, a primeira coisa que fiz foi-

— Chega. Eu não quero saber. — interrompeu-o, ficando frente a frente com ele para fitá-lo, a frieza adornando seus orbes.

— Puppy, por favor, se acalme e me deixe explic-

— Eu disse chega! — o cortou novamente, assustando-o por ter levantado o tom. — Não me chame assim agora. Eu mal estou suportando escutar a tua voz. — dessa vez, as sobrancelhas de Jooheon levantaram em sinal claro de espanto. Mesmo sendo Changkyun ali falando, a pessoa diante de seus olhos parecia outra. — Não quero saber o que esse ômega queria com você, contanto que ele esteja longe de mim. Se era só isso, pode ir embora. — o escárnio estava incrustado em cada letra de cada palavra daquela frase.

— Caralho, me deixa explicar! — o alfa finalmente explodiu, farto desse temperamento hostil. — Pelos Deuses, Changkyun, olhe pro que está falando! Nem parece você! — o ômega revirou os olhos com o que disse. — Entendo que esteja bravo, mas vai adiantar descontar tua raiva em mim ou em Yesung. — abrandou mais o tom, recuperando a calma.

— Você gosta dele. — o Yoo falou de repente, os olhos esbugalhados em verdadeiro assombro, mudando o comportamento de um segundo para outro. O Lee também arregalou os olhos com tal acusação, pasmo. — Você gosta dele. — deu um passo vacilante para trás com a garganta apertada, evitando contato visual e mirando um ponto vazio ao seu lado.

— Changkyun, pare com isso! — segurou o rosto dele entre suas mãos e encostou suas testas, forçando-o lhe encarar. — Ouviu o que acabou de dizer? Viu o quão cego a raiva está te deixando? — sussurrou, sôfrego. Aquele não era ele, não era o seu tão amado Puppy. — Eu não queria que ele tivesse aparecido. Quando me lembrei quem ele era, fiquei frustrado por não conseguirmos aproveitar a viagem sem que ele tivesse notado que estávamos aqui. Eu não o suporto, brincava como ele por respeito aos meus pais e nada mais. Eu não gosto dele. — disse. Não entendia porque, mas se via obrigado a deixar isso bem explícito.

— Mas... mas... — olhou para o lado, como se procurasse alguém. O mais velho seguiu o olhar dele, não encontrando nada.

— “Mas” nada. Eu não gosto dele e ponto. — acariciou as bochechas dele. — O que eu ganharia mentindo pra você? Me diz. — o questionou.

— Promete não mentir pra mim? — o respondeu com outra pergunta, ganhando um movimento positivo de cabeça. — Eu... — ergueu as mãos e segurou a camisa dele. — Desculpa ter falado daquele jeito.

Jooheon sorriu, contagiando Changkyun que também o fez. Agora que tudo foi esclarecido, não precisavam dizer mais nada, podendo apreciar o fato de estar juntos. O carinho na bochecha do ômega não parava por um segundo, os olhares não se desgrudavam por nada. A proximidade fazia com que as respirações se mesclassem e tocassem a face um do outro, arrepiando as peles com o toque morno de seus hálitos. Parecia loucura, ambos, sem saber, podiam jurar que se corações estavam batendo no mesmo ritmo, numa perfeita harmonia.

O ruído da porta se abrindo os impediu de fazer o que tanto ansiavam. Jooheon, sem mover um músculo, fechou os olhos e respirou fundo, controlando-se para não voar no pescoço do alfa. Não precisava virar para constar que era Hyunwoo quem estava ali, muito menos para saber que o mais velho estava com um irritante sorriso de canto estampado nos lábios. Ele ainda ouviria poucas e boas suas por ter aparecido num momento tão inoportuno. Outra coisa que notou ao dar uma longa inspirada foi sentir o cheiro característico de Yesung ali, misturado ao do Son. De repente, pegou-se pensando se Hoseok também notou e, se houvesse a mínima possibilidade de isso acontecer, esperava do fundo de sua alma que não.

— Opa, parece que eu atrapalhei algo. — o tom sarcástico irritou o Lee.

— O que você quer aqui? — afastou-se de um Changkyun completamente ruborizado para lançar seu olhar mais mortal ao alfa.

— Nada. — falou com falsa ingenuidade e alargou um sorriso debochado, vendo que o ex ruivo estava se segurando para avançar pra cima de si. — Só vim te chamar pra irmos comprar as roupas juntos e pra você ir curar o mal humor daquele ômega ranzinza lá em baixo. — se referiu ao Shin com certo desdém.

Lampejos vermelhos passaram pelos olhos de Jooheon, que sentiu seu sangue ferver. Aquelas palavras soaram como uma verdadeira afronta. Deu um passo em direção a Shownu, mas teve seu pulso agarrado por Changkyun. Olhou para ele, surpreso com a atitude inesperada, e acalmou-se ao olhar no fundo dos olhos do menor.

— Shownu hyung, — o ômega desviou sua atenção para o alfa mais velho ao passo que soltava o braço do mais novo. — eu tava gostando de você, mas tô pensando seriamente sobre isso. Agora saiam daqui, eu quero ficar sozinho. — jogou-se em sua cama. Um sorriso repuxou seus lábios ao sentir a boca de Jooheon deixando um selar em sua bochecha.

— Vamos, Hyunwoo. — passou pelo amigo e segurou a porta para que ele saísse. O mais novo fechou a porta do quarto do seu pequeno, seguindo o Son a alguns passos de distância.

 

(...)

 

Passava das sete e quarenta e cinco da noite quando Wonho desceu as escadas. Trajava um terno cor de vinho, contrastando com a camisa social preta que vestia sob o paletó. A gravata, da mesma tonalidade que o paletó, era ajeitada enquanto caminhava em direção a cozinha. O loiro sorriu vendo os mais novos ali reunidos, os irmãos Yoo fazendo o jantar e os amigos ômegas sentados à mesa, babando pelo alfa que supervisionava os conteúdos das panelas. Com um pouco de dificuldade e paciência, conseguiu dar o nó na gravata. Arrumou os punhos da manga da camisa e pôs as mãos no bolso, pigarreando para chamar atenção dos demais.

— Crianças, a omma vai sair. — embora eles já soubessem, avisou, brincando com “seus filhotes”.

— Nossa, Seok, você... — Kihyun o olhava sem palavras.

— Acho que me apaixonei. — o Shin riu com o comentário de Changkyun.

— O hyung está muito bonito. — Minhyuk colocou os cotovelos na mesa e a cabeça, entre as mãos, olhando diretamente para o ômega mais velho ao elogiá-lo.

— Sim, muito bonito. — Hyungwon concordou, sorrindo tímido.

— Wonho hyung está maravilhoso. — Hoseok se sobressaltou quando escutou a voz de Jooheon atrás de si. Virou-se para encará-lo, deparando com o irmão usando um terno preto. O Lee se aproximou e ajeitou o nó da gravata do Shin, colocando-a no lugar após isso. — Vamos indo, neném. Shownu tá esperando lá na sala. — disse, dando uma olhada nos que estavam na cozinha. Seu olhar caiu em Changkyun, que corou e fingiu estar ocupado cozinhando, e sorriu, achando uma graça a reação do menor. — Até mais tarde. — despediu-se dos amigos e saiu com o irmão a sua cola.

Contando os minutos para frouxar a gravata, Hyunwoo, sentado de forma relaxada no sofá, girou o pescoço em direção ao pequeno corredor que conectava a sala e a cozinha. O terno negro básico estava perfeitamente alinhando em seu corpo, o cabelo arrumado para a ocasião. Esperou por alguns minutos até que surgiram as figuras do Lee e do Shin. Permitiu-se analisar o ômega: o tom dégradé do loiro na raiz e o azul nas pontas ficava mais bonito com o cabelo dele penteado topete bem feito, dando assim destaque e um ar de classe a sua feição; a parte superior da roupa estava bem arrumada e confortável, enquanto a inferior (o foco da atenção do alfa) estava um pouco justa, a calça social delineando muito bem o formato das coxas. Aquela vestimenta, o Son pensou consigo mesmo, de fato, caía bem no corpo dele.

Wonho e Shownu sequer trocaram olhares, seguindo calados Jooheon que ia alguns passos mais a frente. A mansão dos Kim não era tão longe, então dispensava a necessidade de chamar um táxi para ir até lá. Alguns minutos de caminhada, dominada por um completo silêncio, bastaram para chegarem ao seu destino.

A grande porta se abriu, revelando o interior tão elegante e magnifico, ostentando poder e riqueza, quanto a parte externa da residência. Hoseok estava começando a se arrepender de ter vindo, era como se sua presença estivesse maculando um lugar tão fino. O que estava pesando ao se convidar para ir ali? Mordeu o lábio para tentar conter o nervosismo.

— Fique calmo. Estou aqui com você, hyung. — Jooheon pôs o braço a disposição do irmão, que agradeceu e o segurou.

Os três adentraram local movimentado. Outros convidados dialogavam entre si, enchendo o recinto com conversas dos mais variados tipos. Hyunwoo tentava ignorar a todo custo o alfa e o ômega de braços dados e se concentrar nas conversas paralelas ocorrendo ao seu rosto, contudo estava sendo difícil, parecendo que algo o forçava sempre a voltar sua atenção para eles. Ao longe, um casal e seu filho, os donos da casa, estavam cercados por várias pessoas que pareciam disputar por sua atenção. O único herdeiro de tudo aquilo, Kim Jonghoon, falou algo aos pais e aproximou-se dos recém chegados.

— Vocês vieram. — Yesung sorriu, puxando Jooheon para um abraço.

O alfa de olhos pequenos manteve o semblante sério e correspondeu a ação anterior por mera educação. O anfitrião passou pelo ômega, fingindo que o mesmo não estava ali, e se deixou agarrar pelo Son, sorrindo como um idiota. Hoseok baixou a cabeça com tudo aquilo, sentiu-se desconfortável demais naquele lugar. Uma mão pousou em seu ombro e o apertou, o toque passando tranquilidade para si.

— Não se preocupe, não vamos demorar. — o irmão sussurrou em seu ouvido. O ômega apenas assentiu e voltou a segurar no braço do Lee como se fossem um casal.

— Podem entrar e se divirtam. — Jonghoon despediu-se de todos, deixando uma piscadela para o Son e voltando para perto dos pais.

— Quero acabar logo com isso. — o ex ruivo, sem saco, confessou aos mais velho. — Pare de pensar besteiras. Vamos comer e ir embora daqui. — disse a fim de animar o loiro, que sorriu sem um verdadeiro humor.

O Shin tentou, tentou muito, se encaixar com essa realidade. Mesmo com o irmão ali consigo, isso não foi o bastante para deixar de se sentir deslocado. A quem estava enganando? Usou a viagem como um meio para fugir de seu responsável. Estava no lugar errado, aquele não era o seu mundo, aquele não era um ambiente para si, um simples ômega de classe média e fora dos padrões que um ômega deveria ter. Apesar de tudo o que já passou, não tinha inseguranças com seu corpo, porém, ao observar Yesung (que tinha o corpo bonito e não tão musculoso como o seu e o rosto com traços delicados bem diferente dos do Shin), percebeu que estava longe de ser o tipo perfeito de ômega.

Quando o jantar foi servido, Shownu sumiu. Wonho fazia uma ideia de onde ele estava, mas desviou a atenção para os demais sentados à mesa. Jooheon comia usando sua mais perfeita etiqueta assim como todos ali presentes, etiqueta esta que era desconhecida para o Shin, que suspirou e decidiu apenas esperar o Lee terminar para irem embora.

— Não vai comer? — perguntou o alfa, recebendo um aceno de cabeça em negativa.

— Parece que você decidiu fazer dieta. — o ômega se assustou com o Son sussurrando em seu ouvido. — Calma, ômega. — entre risos baixos, sentou-se para aproveitar o jantar.

Hoseok tentou ignorar o cheiro que estava misturado ao do Son, algo que parecia impossível. Mesmo o olfato dos ômegas não sendo tão apurado para designar fragrâncias de outros ômegas, o perfume natural de Jonghoon estava claramente impregnado ali, e o loiro ficou meio indignado e até mesmo meio chateado por constatar tal fato. O ômega anfitrião apareceu não muito tempo depois que o alfa, sentando-se ao lado do mesmo. Ignorando tudo ao máximo, o Shin contava nos dedos quanto tempo faltava para irem embora.

— Nem tocou na comida... Isso é falta de educação, sabia? — Yesung dirigiu-se a Wonho, recebendo a atenção de todos ali, falando alto propositalmente.

O loiro se encolheu. Perguntou-se internamente o motivo de não conseguir rebater as provocações, talvez fosse por estar na casa dele ou simplesmente por ter os holofotes voltados para si naquele momento.

— Ele não está se sentindo bem e prefere não comer para evitar algo pior. — explicou o Lee, tentando tirar o amigo daquela situação.

— O que você tem? — havia um toque de preocupação nas palavras do Son.

O ômega deixou um sorriso cínico adornar seus lábios de forma discreta. O outro só estava fazendo o papel de bom moço na frente de todos, sabia disso. Em momento algum, acreditou nas palavras dele.

— Não é nada. — levantou-se, cansado daquela encenação de Hyunwoo. — Honey, se já acabou, podemos dar uma volta? — perguntou ao irmão, que se levantou no mesmo instante, e saíram dali, deixando o Son com sua companhia.

— Me desculpa te trazer aqui. — Jooheon falou quando julgou ser longe o suficiente. O sentimento de culpa se apoderava de seu ser.

— Tudo bem. Eu que insisti. — Hoseok sorriu para confortá-lo.

— Vamos dar um tempo por aqui. Depois retornamos para pegar Shownu e irmos embora daqui. — sinalizou a porta que dava acesso a área aberta.

Hoseok se deixou ser guiado por Jooheon naquele lugar. A porta escondia um extenso jardim muito bem cuidado, onde as mais várias espécies de plantas enfeitavam o local. A paleta de cores variava conforme andassem pelo corredor de flores, que exalavam perfumes agradáveis. A lua azul dava um aspecto singular a aquela área magnífica, deixando-a infinitas vezes mais atrativa aos olhares de qualquer um, e grilos zuniam numa sinfonia noturna. O contato com a beleza da natureza realmente possuía toque terapêutico, e era tudo o que ômega necessitava no momento.

Os dois pararam sua agradável caminhada quando notaram que a festa que sucedia o jantar começava a dar seus primeiros sinais de vida. Seguindo a deixa para não ficarem presos ali, saíram à procura de Hyunwoo. Não importava o quanto procurassem, não o achavam em lugar algum. Vendo isso, resolveram se separar para agilizar a busca.

Wonho seguiu até próximo de uma grande árvore, de onde curiosamente vinham sons de gemidos arrastados e respirações pesadas. Mesmo com medo do que veria, aproximou-se.

E foi pior do que pensou.

Shownu e Yesung estavam tão ocupados se beijando e se esfregando que não perceberam o Shin ali. O alfa estava com as mãos por dentro da camisa do ômega, que tinha seu paletó no chão agora. Os cabelos do Son estavam uma bagunça, e ele arfava entre o beijo de língua que acontecia. Wonho cansou de ver aquilo e saiu correndo dali. Não tinha motivos para tal atitude pois não tinha nada com o alfa e nenhum tipo de sentimento também, não era?

Tudo ao seu redor era um mero borrão. A corrida não cessava por um segundo, precisava sair dali o mais rápido possível. Uma mão agarrou-lhe o braço, e encarou seu dono, deparando-se com o Jooheon ostentando uma enorme interrogação no rosto.

— Eu vou na frente, Honey. — disse com a voz um tanto embargada para não haver sentimento nenhum. — Shownu está atrás daquela árvore. Espero vocês em casa. — não esperou resposta do moreno e saiu dali rapidamente.

Jooheon estranhou o comportamento do mais velho e seguiu até onde ele havia dito estar o mais velho. Ao chegar lá, se deu conta do que estava acontecendo: o Son estava com o peito colado as costas do ômega Kim que gemia manhosamente sentindo a mão do alfa o massageando por dentro da calça.

— Vamos embora, Shownu. — disse o Lee, assustando o par. Hyunwoo empurrou Yesung com certa força, fazendo-o ir de encontro ao chão e reclamar de dor. Jonghoon olhou feio para os dois alfas, sendo completamente ignorado pelo ex ruivo. — Como eu disse antes, Son, Hoseok merece muito mais. — e assim saiu, seguindo para fora da mansão. Não queria mais olhar pra cara do amigo naquele dia.

— Você ficou louco de me empurrar assim? — perguntou o Kim ainda sentado no chão, sua face transbordando indignação.

— Você foi só mais um. — disse rapidamente, para cortar qualquer outra coisa que o ômega fosse tentar proferir. — Eu tava mesmo precisando relaxar e você serviu. Agora, vê se não enche. — foi o mais frio possível, a personalidade filha da puta do Son estava ali. — Ah. — se virou antes de sair dali. — Obrigado pela hospitalidade. — ofereceu um sorriso irônico.

Deixou o ômega enfurecido para trás, divertindo-se com quantidade de nomes que era chamado. Solitário, tirou o maço de cigarros do bolso e o isqueiro, levando um a boca e acedendo-o. A rua estava tão silenciosa para aquele horário que estranhou, escutando os próprios passos ecoando alto. Deu uma última tragada e jogou o cigarro pela metade no chão, apagando-o com pé antes de entrar na mansão dos Lee. Evitaria encontrar qualquer um até o dia seguinte pois sabia que o menor atrito desencadearia uma estrondosa confusão. A merda do peso de consciência estava o importunando. Se Jooheon o encontrou, será que Hoseok também havia visto aquela cena? Rosnou frustrado sem motivo aparente e seguiu para seu quarto depois de trancar a entrada da casa.

 

(...)

 

O Chae tomou um susto ao mirar sua imagem no espelho. Perplexo, tateou o próprio rosto, vendo seu reflexo de olhos esbugalhados imitando suas ações. Quem o visse agora, o confundiria com um vampiro ou fantasma. Aquele dia parecia ser o estopim para sua palidez, nem mesmo seus lábios, cujos se encontravam ausentes de cor, saíram impunes dessa. Por outro lado, era um dos últimos de seu tormento. Deu um sorriso fraco e pegou o frasco de remédio, abrindo-o, e despejando algumas cápsulas. As levou a boca e, com auxílio do copo que havia deixado perto da pia, as engoliu com água.

Suspirou e voltou a olhar o espelho, beliscando as bochechas para ver se trazia um pouco de cor a face. Agilizou sua higiene matinal ao ouvir Minhyuk o chamando e logo seguiu com ele para irem tomar café.

 

Na cozinha, o ar estava extremamente estava pesado. Não era por conta do tempo e, sim, pela situação desconfortante em que todos naquela mesa se encontravam. Uma tensão pré-instalada veio à tona no momento que Hyunwoo se juntou à mesa para tomar café com os demais. Hoseok não ousava desviar o olhar do próprio prato, todos os seus movimentos eram minimamente estudados pelo Son. Ninguém tinha coragem de falar nada, parecia que, se tentassem abrir a boca, o início de uma guerra mundial seria decretado. Estava ruim até mesmo para respirar ali, como se qualquer repuxar de ar fosse causar o estouro de uma bomba ou algo muito pior. O único que, de fato, sabia o real motivo para tudo aquilo permaneceu calado o tempo inteiro, gerando ali um silêncio sufocante por minutos que mais pareciam horas.

— Podem continuar me olhando estranho. Eu tô não nem ai. — disse o Son, pegando uma maçã da mesa e saindo da cozinha indo para a praia.

O café da manhã dos outros não durou muito tempo e logo todos estavam sobre a areia da praia. Aquele dia parecia carregar uma calmaria estranha, mas ninguém falaria nada. Queriam somente aproveitar seus últimos dias ali já que retornariam para a Coréia na quarta.

Hyungwon estava sentindo algo estranho. Desde que chegaram naquele lugar, não havia entrado no mar por motivos de vergonha; agora, ele não entraria por estar se sentindo mal. Olhou para água calma, não havia ondas nem nada do tipo, tudo estava realmente tranquilo. Decidiu então se concentrar em seu livro, mesmo com uma certa dor de cabeça e cólicas, esta última sendo ignorada por saber o motivo e que logo passariam pela quantidade de remédios que havia ingerido. Teve que aumentar as dosagens no decorrer da semana, pois parecia que não estava surtindo efeito o fazendo correr para seu quarto várias vezes durante o dia, fora dos horários para ingerir pílulas a mais.

— Ei, Hyungie! — a cabeça de Minhyuk surgiu na sua frente, impossibilitando-o de continuar a leitura e também o assustando.

— Hyung! — o platinado sumiu de seu campo de visão antes que pusesse as mãos nele.

— Desculpe, desculpe! — pediu em meio a risadas enquanto sentava-se na toalha de praia junto com ele. — Shownu hyung e Hoseok hyung precisam de um no time deles. Não quer jogar vôlei com a gente? — perguntou, limpando com a camisa um pouco do suor que escorreu das têmporas. Estava ofegante e com sede, a franja grudava na testa, e mal aguentava aquelas roupas agora que parou de jogar.

— Não. Eu não sou bom em esportes, você sabe. — entregou uma garrafinha a ele que pegou e começou a bebê-la de forma desesperada.

— Ah, não seja assim. — Minhyuk enxugou a boca usando a costa da mão, reclamando. — Você tá sentado aí sozinho faz tempo, fazendo o que? Lendo um livro! Levanta essa bunda daí e vem pegar um pouco de sol!

— Ah, não, hyung! — a fala de Hyungwon veio arrastada, um bico involuntário se formando nos lábios carnudos. O tempo não estava tão quente, mas preferia continuar lendo embaixo da sombra a ficar todo queimado. — Aqui tá bom.

— Já entrou na água pelo menos? — o outro indagou.

— Não.

— Então é isso. — o Lee bateu nas próprias coxas, levantando-se.

— Min, o que vai fazer? — o Chae tentou não ficar olhando quando o platinado, de costa para si, começou a tirar a camisa, mas o esforço foi em vão. As costas do ômega cobertas por uma camada razoável de suor chamavam demais a sua atenção.

— Entrar na água. — virou-se para o mais novo, falando como se fosse óbvio. — E você vem comigo.

Hyungwon travou ao ouvir a frase. É claro que queria, mais do que tudo, ficar um tempo a sós com Minhyuk e aceitaria a proposta numa boa caso não fosse tão, digamos, difícil para si. Entrar na água? Isso significava que teria de tirar a camisa? Todos iriam ver seu corpo! Não, não, não, isso absolutamente não pode acontecer!

— Min... — o castanho umedeceu os lábios. Precisava escolher bem as palavras, não queria que o platinado pensasse que estava o enxotando. — Eu... não posso entrar na água.

— Por que não? — disse um tanto emburrado pela teimosia dele. — Só tá a gente aqui. Os meninos tão jogando e o Kihyun — passou os olhos pela praia, encontrando o alfa nadando sozinho. — tá lá. A gente pode fazer companhia pra ele. Você nem precisa tirar a camisa, só vem.

— É vergonhoso. — sussurrando a frase, abraçou ao si mesmo, como forma de esconder o corpo.

— Hyunginie, por favor. Eu não quero ir sozinho. — insistiu e pegou a mão dele para fazê-lo levantar.

— Vai lá, Min. — Hyungwon se manteve estático e acabou fazendo Minhyuk bufar e largar sua mão. — Eu fico aqui te esperando.

O Lee franziu os lábios, chateado. Toda aquela insegurança do mais novo estavam impedindo que o moreno se divertisse, além de estar começando a irritar Minhyuk. Achava que, com aquela viagem, Hyungwon iria ficar mais solto e deixar seus medos de lado, afinal o objetivo de estarem ali era aproveitar o tempo com os amigos e relaxar.

Parece que eu tava errado.

Hyunginie, porque você não vê que não tem nada de errado com seu corpo?

— Ok. — o platinado sorriu o seu melhor sorriso, torcendo para não demonstrar nada. — Mas a gente vai caminhar na praia quando eu voltar, tá?

— Tá bom. — o castanho assentiu, esboçando um sorriso fraco.

Hyungwon assistiu Minhyuk correr em direção água e mergulhar nela. Um suspiro pesado escapou de seus lábios. Vontade não lhe faltava, mas não sabia como deveria agir caso algum deles o visse sem camisa. E se lhe achassem estranho? Céus, não suportaria ouvir comentários maldosos e nem aguentaria os olhares tortos que provavelmente iriam lhe lançar. Naquele momento, só queria que as palavras do amigo ômega e as do alfa de cabelo rosa fossem verdades, as palavras que dizem que não havia ali um corpo estranho que somente o Chae conseguia ver.

 

Minhyuk voltou a superfície quando o ar lhe faltou. Diferente da areia quente, a água ainda estava um pouco fria. Todo o seu calor se dissipou no primeiro mergulho e o deixou quase que imediatamente num estado de relaxamento. Logo quando entrou, Kihyun sumiu de sua vista, então estava ali, sozinho, flutuando de costas enquanto pensava num plano de fazer Hyungwon começar a perder suas inseguranças naquela viagem.

— Ai, Hyungie... — ele descansou as pálpebras.

O sol estava parcialmente coberto, mas alguns feixes escapavam dentre as nuvens, ficando sobre o rosto do platinado. Ele não se incomodava, seu estado de letargia só o permitia ficar ali flutuando na mais completa serenidade. Sentia a correnteza calma perpassando seu corpo, deixando seus pelos levemente eriçados. Abaixo de si, uma estranha movimentação das águas, mas resolveu ignorar, achando que era apenas sua imaginação e, se fosse algum peixe, ficaria quieto para deixá-lo passar. Algo esbarrou em sua cintura, e ele se sobressaltou, remexendo-se quando foi puxado para baixo d’água.

Submerso, abriu os olhos por um segundo e virou o rosto, encontrando Kihyun com um sorriso formado nos lábios. A cabelo se movimentando de acordo com a correnteza calma dava a ele um aspecto bonito, fazia parecer que voava em câmera lenta. Céus, e o modo que ele o olhava só o deixava cada vez mais hipnotizado.

Não, eu não vou fazer isso.

Ele ainda tá confuso, assim como o Hyungie.

Os dois voltaram a superfície quando o ar lhes faltou. Minhyuk deixou o cabelo para trás, seus movimentos sendo observados por Kihyun. O ômega notou que, em momento algum, o alfa tirou as mãos de sua cintura, mas não era como se não estivesse gostando. Apesar daquele clima entre eles estar propício para um beijo, o Lee jogou água na cara do Yoo mais velho, fazendo-o lhe soltar.

— Você quer me matar? — Minhyuk ralhou com o outro, deixando nítido sua raiva pelo susto que levou. — Eu podia ter me afogado!

— Mas não se afogou. — Kihyun também jogou água no ômega, rindo da carranca que se formou no rosto do mesmo. — E eu faria um boca-boca se tivesse. — sussurrou essa parte.

— O que disse? — o platinado arqueou as sobrancelhas ao ver um sorriso suspeito no rosto do alfa.

— Nada, nada. — abanou as mãos e ficou apenas com a cabeça para fora da água. — Por que tá aqui sozinho?

— Eu não tô sozinho, eu tô com você. — falou o óbvio, imitando o alfa. — O Hyungie não quis entrar na água comigo.

— Ah... — olhou em direção à praia, onde enxergou Hyungwon sentado na areia debaixo de uma sombra. — Não é pra ele ficar sozinho lá.

— Eu falei a mesma coisa, mas ele me disse não.

Kihyun encarou a expressão triste de Minhyuk que olhava para Hyungwon ao longe.

— Acho que consigo convencer ele a entrar na água.

O Lee olhou o Yoo, um tanto curioso com o que o outro falara.

— Eu duvido. Ele vai negar na hora.

— Ele não sabe nadar? — questionou enquanto já pensava num método de trazer o outro ômega para a água mesmo se ele recusar.

— É. — não diria o real motivo, embora isso também fosse verdade. — Desiste, Kihyun. Já disse que ele vai dizer não. — falou ao vê-lo voltar a ficar em pé.

— Quer apostar? — o alfa arqueou as sobrancelhas, dando um ar sugestivo as suas palavras.

— Tudo bem. — o ômega estendeu a mão. — Você não vai conseguir mesmo.

— Não duvide de mim. — apertou a mão dele, selando o acordo. — O Hyungwon vai entrar na água.

Kihyun mergulhou novamente, nadando até a parte rasa. Olhou para trás e sorriu, Minhyuk estava o observando. Caminhou a passos calmos, sentindo a diferença de temperatura na areia. Jooheon e Changkyun gritavam, um pouco mais ao longe, por terem acabado de fazer um ponto, aparentemente empatando o jogo contra Hyunwoo e Hoseok. Hyungwon olhava distraído para a partida de vôlei, abraçava as pernas e apoiava o queixo em um dos joelhos. O Yoo mais velho se aproximou sorrateiro, sentando ao lado dele.

— Quem tá ganhando? — perguntou, fazendo o Chae soltar um gritinho assustado.

O castanho se afastou um pouco por instinto e o encarou com os olhos arregalados.

— Aish, hyung! — o alfa desviou de um tapa, surpreso com a reação do ômega. Hyungwon tentou acertá-lo mais algumas vezes até que conseguiu segurá-lo pelos pulsos. — Por que todo mundo tá me assustando hoje?!

— Desculpe, Hyunginie, mas você fica uma graça bravinho desse jeito. — disse em meio uma risada baixa.

Hyungwon sentiu a temperatura de seu rosto subir subitamente com o comentário dele. Kihyun ficava ainda mais bonito quando sorria daquele jeito, fazendo seus olhos se transformarem em dois risquinhos adoráveis. Água pingava de todo o corpo do alfa, o Chae mordeu o lábio observando o trajeto de algumas gotículas que escorriam do cabelo molhado, desciam pelo pescoço e deslizavam pelo tronco não muito definido, parando na bermuda vermelha que o outro usava. Levantou o olhar para que ele não achasse que estava o secando, não sabendo o quanto o alfa estava gostando de todo o embaraço do ômega que fazia isso tão descaradamente.

— O que tá fazendo aqui sozinho? — o castanho corou mais, segurando um suspiro quando o outro deixou o cabelo para trás. Ele fica mais bonito assim, pensou enquanto analisava os traços destacados pelo modo que o cabelo estava. — Então?

— Huh? — Hyungwon voltou a prestar atenção. Kihyun estava aparecendo demais em sua cabeça para seu gosto, estava ficando cada vez mais difícil controlar seus pensamentos a respeito dele. — O que disse?

— Por que tá sozinho? — repetiu sem importar com o quão distraído o mais alto estava. — Não quer jogar com eles? Parece muito interessado no jogo deles.

— Ah, isso... — apertou o enlaço ao redor das pernas, olhando para os pés para evitar contato visual. Os orbes do mais velho exibiam um brilho diferente ao falar consigo e ele não sabia dizer o que significava. Lembrou-se do sábado, quando a ausência deste o fez falta, e ficou feliz por vê-lo novamente. — Eu não sei jogar vôlei. Se eu entrasse pra jogar, ia quebrar o ritmo.

— Então, o que acha de ficar na água comigo e o Min? — tombou de leve a cabeça para direita, sorrindo. — Não é pra ficar sozinho, todo mundo tem que aproveitar a viagem.

— Eu não sei nadar. — falou de repente, mas aquilo não pareceu convencer o alfa insistente.

— Não tem problema. — Kihyun se levantou e estendeu a mão para o mais novo. — A gente fica na parte mais rasa contigo.

— Eu tô bem aqui. — sussurrou, só de pensar na possibilidade de Kihyun ver seu corpo outra vez fazia seu estômago embrulhar.

O ômega voltou a olhar para os próprios pés. Pode ouvir um suspiro sair da boca do mais velho devido a sua atitude evasiva. O Chae, entretanto, surpreendeu-se ao sentir o Yoo encaixar um braço embaixo da dobra dos seus joelhos e o outro, em suas costas, as mãos o segurando firmemente. Foi erguido do chão num movimento rápido, e logo o outro saiu correndo em direção a água.

— KIHYUN! — gritou, assustado, e, com medo de cair, colocou os braços ao redor do pescoço dele para se segurar. — ME COLOCA NO CHÃO! — o alfa apenas riu em resposta, ignorando seu pedido e mantendo o ritmo da corrida.

Olhou desesperado a procura de ajuda, estavam todos concentrados no jogo de vôlei. O moreno sentiu a água respingar em suas pernas quando o mais baixo, que lhe carregava sem a menor dificuldade, enfiou os pés na água. O ritmo desacelerou um pouco, mas o Yoo continuava a avançar. A imagem de Minhyuk estava cada vez mais próxima, o platinado rindo da audácia de Kihyun (que também ria) para fazer aquilo.

Entretanto, o que parecia ser uma brincadeira inocente para Yoo e para Lee era totalmente o contrário ao algo que se passava na mente do Chae.

Os dois estavam rindo dele.

Como poderia isso acontecer? Seu amado Minhyuk estava rindo de tudo aquilo e Kihyun também. Depois de tudo...

— Joga ele na água, Kihyun! — escutou o amigo elevar o tom para que o outro ouvisse.

— Como quiser! — e o alfa respondeu no mesmo tom.

Ele freou a corrida, parando com a água já quase chegando em seu quadril, e jogou o corpo trêmulo do mais alto na água. Hyungwon afundou, engolindo boa quantidade de água. Submerso, debateu-se até fixar os pés no chão. Voltou para superfície, tratando de tentar oxigenar seu corpo novamente. Estava uma verdadeira bagunça, raiva, medo, tristeza, magoa e, acima de tudo, humilhação o definiam. Como puderam fazer aquilo consigo? Não aguentou mais manter o choro preso na garganta e deixou as lágrimas rolarem por sua face.

— Wonnie... — Minhyuk tentou se aproximar e foi empurrado.

Hyungwon queria, mais do que tudo, poder se divertir apropriadamente com os dois amigos, contudo estava receoso com a possibilidade do alfa sentir sua fragrância acentuada por conta do cio, mesmo com as doses altas de remédios que estava tomando. Se sentia inseguro e preferia manter uma distância segura para ambos, mas, agora, nada disso importava.

— Não... — Hyungwon tentava falar entre os soluços e as tossidas, os pulmões ardendo pela invasão da água e sua cabeça latejava. — Me deixa... — e saiu, andando com dificuldade para sair do mar.

O Lee e o Yoo mais velho estavam com o coração apertado e uma culpa enorme por não terem respeitado o que o Chae havia decidido.

— Hyun- — o rosto de Kihyun virou para o lado quando recebeu um tapa estalado em sua bochecha direta. Levou a mão ao local atingido, sentindo a ardência e dormência se alastrando pela pele.

Hyungwon havia lhe acertado uma bofetada.

— NÃO! FICA LONGE DE MIM! — todos que jogavam na praia pararam para olhar o que acontecia quando o castanho gritou em plenos pulmões. Interiormente, sentia-se mal por ter feito aquilo ao ver a marca de palma na pele alva do mais velho, mas foi um ato reflexo. Balançou a cabeça e deu as costas a eles, sem saber que isso os deixou ainda pior do que já estavam.

O corpo de Hyungwon tremia em decorrência dos soluços que escapavam alto de sua garganta. Conseguia ouvir as vozes de Minhyuk e Kihyun em suas costas, chamando-o e implorando para que deixasse-os explicar, para lhe pedir desculpa, porém não ligava, fingia que os incessantes chamados não eram dirigidos a si. Abraçava o próprio tronco, a cabeça abaixada numa tentativa que sabia ser inútil para esconder as lágrimas grossas sob franja molhada. Sentia-se tão dolorido apesar da ferida não atuar nos limites impostos por sua estrutura física, era algo que afligia bem no fundo de seu âmago, fazendo-o aturar coisas que não podia suportar.

Arrastou-se para fora da água até chegar na areia, a visão embaçada não focava qualquer coisa que estivesse à sua frente. Os pés afundavam na areia fofa a cada passo dado. Quem o chamava agora? Seria Minhyuk e Kihyun ainda? Ou aquela era voz de Hoseok? Ele já não sabia mais e nem queria, não ousava olhar para trás para descobrir. Ergueu a cabeça a procura da entrada da mansão e, apesar das lágrimas terem cessado um pouco o fluxo, a vista permaneceu turvada. As pernas vacilaram, e caiu de joelhos, o torso indo de encontro ao chão num baque surdo. Seu nome foi chamado por muitas vozes, e tudo ao seu redor escureceu.


Notas Finais


IAIN?
hsuhuhdusudhs
Gostaram? não?
Foi bem novela das 9?
tipo os finais de cap de AVENIDA BRASIL?
dhusahduahduishauida

ah, sobre as postagens regulares: bora ver como vai ser, porque a RAPMONSTRAXXX aqui vai voltar a estudar pro nosso amado ENEM.
Sim, eu acho que não vou passar, mas isso não vem ao caso.
(Unicornio vai passar, certeza u.u)

BJS no coração azul de vocês e até o próximo.


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