1. Spirit Fanfics >
  2. Blue Moon (Em Hiatus) >
  3. Chapter Thirty One

História Blue Moon (Em Hiatus) - Chapter Thirty One


Escrita por: kyyyaxoxo

Notas do Autor


Desculpem a demora e qualquer erro que tenha passado.
Boa leitura! :)

Capítulo 36 - Chapter Thirty One


Minho tinha seus motivos para antipatizar com Hyunwoo. O primeiro estava relacionado a índole dele. O comportamento altivo e prepotente faziam dele um sujeito arrogante, difícil de lidar. O outro motivo era Hoseok. Aquele ômega passava por tantas coisas, coisas que jamais imaginou quando o conheceu, e Hyunwoo trouxe outras avalanches de problemas para a vida dele: a gravidez, inicialmente indesejada, as responsabilidades que ele precisou assumir ao carregar no ventre três filhotes de um alfa irresponsável e inconsequente e, agora, a perda cruel e injusta deles, que sequer tiveram a possibilidade de estar nos braços do pai, recebendo amor. Outra razão também tinha a ver com Hoseok, mais necessariamente no relacionamento que tinham juntos. Sempre esteve ciente de não haver reciprocidade, como também Hoseok custaria a esquecer Hyunwoo e lhe dar uma chance ao ter algo tão significativo que os ligavam, mas nunca, em momento algum, aproveitou-se dele como foi insinuado anteriormente. Se houve algo que mais respeitou durante o tempo de convívio direto com ele, foram os limites que Hoseok lhe impôs. Contudo, todas as desavenças, todo desgosto, todo o rancor que tinha por Hyunwoo desapareceu no instante que o viu cair inconsciente, a alguns metros de si.

Não houve tempo para hesitação. Em um piscar de olhos, a descarga de adrenalina gerada pela cena perpassou por todo seu corpo através da corrente sanguínea e agiu sobre seus músculos, fazendo-o correr em direção a vítima a fim de socorrê-la. Cada segundo contava, ademais por desconhecer a causa do desmaio. Teria sido por conta da má alimentação dos últimos dias? Não lembrava de ter o visto consumir nada mais do que água desde que Hoseok dera entrada no hospital após sofrer o ataque de TaeOh; seria o corpo dele reclamando por descanso? Todos os seis passaram a noite ali, à espera de notícias sobre o quadro do amigo, mas apostava que Hyunwoo, diferente dos demais, não havia se permitido dormir nem por meia hora, ansioso e aflito, provavelmente pensando nas mais diversas coisas caso não estivesse se martirizando por todo o ocorrido; seria por alguma outra razão? Se sim, qual? Era tudo que o jovem médico desejava, ou melhor, precisava urgentemente saber.

Minho praticamente se jogou de joelhos no chão, deslizando minimamente no piso ao prostrar-se ao lado de Hyunwoo. Em movimentos ágeis e precisos de alguém com bastante experiência para lidar com esse tipo de situação, virou-o de peito para cima e passou examiná-lo. Checou o pulso, a respiração, pupilas, tudo, na esperança de achar algum indicativo para o desmaio.

— Tragam uma maca! Eu preciso de uma maca aqui, agora! — Sua ordem reverberou alta, chamando a atenção que necessitava. Enquanto esperava, segurou as pernas dele e as estendeu para cima, no intuito de ajudar a circulação do sangue voltar à cabeça. — Droga, Shownu! Por que tinha que descuidar da sua saúde?! Nada pode acontecer com você agora, não agora que Hoseok precisa de você mais do que nunca! — Resmungou baixo enquanto olhava ao redor, à procura da maca.

 Algum momento depois que Minho não soube discernir se foram segundos ou minutos devido a sua preocupação, a maca a qual solicitou parava ao lado deles. Ele, com ajuda de outro médico plantonista, colocou-o corretamente nela e ergueu-se para guiá-la.

— Qual a situação? — O recém-chegado perguntou.

— Alfa, dezessete anos, vítima de síncope. — Minho repassou as informações, ainda a examinar Hyunwoo.

— Causa?

— Ainda desconhecida. — Moveu a cabeça do seu, agora, paciente e notou um leve inchaço próximo a região do supercílio esquerdo. — Provavelmente, foi da queda. — Murmurou para si mesmo.

— Não acha que está fazendo muito alarde, Choi? — Minho, pela primeira vez, deu a devida atenção para quem o ajudava. Não se surpreendeu em dar de cara com dr. Kim, seu antigo rival da faculdade, com uma sobrancelha arqueada. — Ele pode possuir um quadro de diabetes, ter ficado muito tempo de jejum ou mesmo tido uma queda de pressão.

— Sei disso, Kim. Não descartei essas hipóteses. Mas ele é um alfa de boa linhagem, e sabe tanto quanto eu que não é qualquer coisa que é capaz de derrubar um alfa de boa linhagem. — Rebateu no mesmo tom. Quem olhasse, acreditaria que não se davam bem um com o outro, entretanto era justamente o contrário. Aquela interação era reflexo da rixa saudável que nutriam desde quando estudavam e, agora, que trabalhavam juntos, apesar das áreas diferentes. — Quero que mande fazer todos os exames necessários, incluindo uma tomografia.

— Ainda acho que está exagerando. — Estalou a língua. Foi sua vez de examinar o paciente. Seu cenho se franziu ao notar algo. — Está com um inchaço…

— É justamente por isso que estou pedido a tomografia. Ele não conseguiu reagir a tempo para se proteger da queda.

— Não. — Analisou mais atentamente. — Eu o conheço. Ele se envolveu em um acidente de carro há pouco mais de quatro meses. Não foi muito sério, mas lembro de ele ter se queixado de dores cabeça e tontura, além de já estar com esse inchaço. Imaginei que fosse do acidente, mas persistiu durante todo esse tempo e aparenta estar um pouco maior do que antes.

— Você está dizendo…

— Talvez você não esteja sendo tão precipitado assim. — Concluiu a frase por ele, sabendo que estavam pensando na mesma suspeita.

— Peça ao Jonghyun hyung fazer todos os exames que pedi e, assim que saírem os resultados da tomografia, peça ao Jinki hyung analisá-los imediatamente. — Os dois citados eram, respectivamente, um biomédico imaginologista e um médico neurologista, um alfa e um beta que também haviam estudado com eles.

Dr. Kim anuiu com a ordem. Minho o auxiliou e deixou Hyunwoo nas mãos dele. Não se ocupou com outros casos, Hyunwoo era sua prioridade no momento, mesmo que não pudesse fazer muito a partir dali. Confessava que estava um pouco mais atento do que o costume, talvez por estar pensando em Hoseok. Suas chances com ele não existiam (talvez, nunca tivessem existido), contudo não significava que seus sentimentos desapareceriam de uma hora para outra. Hoseok e Hyunwoo haviam finalmente se acertado, uma complicação de saúde poderia abalar a relação recém reconstruída, então era seu dever não só como médico, mas também como alguém que prioriza a felicidade de Hoseok, garantir que Hyunwoo esteja de fato bem.

Enquanto devaneava, recebeu um comunicado para comparecer a sala de tomografia computadorizada a qual Jonghyun, o biomédico, trabalhava a maior parte do tempo. Largou tudo o que fazia no momento e dirigiu-se até lá o mais rápido possível. A ansiedade estava instaurada em seu âmago quando tocou a maçaneta, teve de respirar fundo a fim de recuperar a compostura antes de entrar.

A sala de tomografia possuía paredes grossas, paredes e vidros com capacidade absorver a radiação do local. Era compreendida em dois espaços: a sala de exames e a sala de exames. Na primeira, estavam máquinas necessárias ao exame e separada por uma parte, na segunda, era o local o qual o imaginologista trabalhava com as imagens produzidas pelo tomógrafo computadorizado. Através do vidro, era possível ver Hyunwoo sobre a mesa, dentro do tomógrafo.

— Achei que quisesse ver o resultado. — Dr. Kim fez sinal para que se aproximasse quando fechou a porta atrás de si.

— Parece que esse alfa não estava tão bem assim. — Jonghyun, sentado na cadeira, deslizou os dedos na grande tela digital, organizando as imagens reproduzidas tridimensionalmente para o computador.

— Minhas suspeitas estavam certas? — Minho perguntou ao observar a tomografia craniofacial de Hyunwoo.

— Estavam. — Jinki, ocupando a outra cadeira, foi quem falou, sem tirar os olhos da tela. Com auxílio de uma caneta, indicou a massa anormal de tecido que ficou evidente com o exame. — Tumor fronto orbitário. Felizmente, foi descoberto cedo, mas ele precisa ser submetido a cirurgia de retirada o quanto antes.

— Os pertences deles, onde estão?

— Aqui. — Dr. Kim lhe entregou os objetos. — O celular está descarregado.

— Darei um jeito de avisar a família. Levem-no para o pré-operatório. — Dr. Kim e Jinki anuíram. — Obrigado por ter feito os exames em tempo recorde, hyung. — Agradeceu a Jonghyun.

— Nós quatro ainda somos uma equipe. Não iria deixar vocês na mão. — Jonghyun sorriu para os três, lembrando os tempos de faculdade. — A minha parte já foi feita. Agora, é a vez de vocês.

Os três assentiram com um sorriso no rosto gerado pelas lembranças da trajetória que percorreram juntos até chegarem onde estão hoje. Eles deixaram a sala juntos, mas foi para a direção oposta dos outros médicos. Antes de seguir adiante, parou e virou para trás.

— Kibum! — Chamou. Jinki sequer lhe deu atenção, continuou a levar Hyunwoo inconsciente na maca, mas o dr. Kim olhou, já que quem chamou era ele.

— Sim? — Respondeu, um pouco ofegante pela corrida.

Foi como se o tempo houvesse retrocedido para a época em que se conheceram quando seus olhares se encontraram. O Kibum de antigamente contrastava tanto com o atual, que usava jaleco, cabelo preto com franja aparada a um dedo das sobrancelhas, moldando o rosto limpo, delicado e bonito. Apesar de tudo, conseguia enxergar embaixo dessa nova imagem o ômega que vivia tingindo o cabelo de loiro, usava e abusava dos olhos esfumados e lentes de contato coloridas, tagarelava sobre produtos para pele e adorava implicar consigo na primeira oportunidade que arranjava. No fundo, ele continuava o mesmo, assim como a relação deles.

— Traga ele a salvo. — Pediu, embora o outro desconhecesse o verdadeiro motivo desse pedido. — Eu confio em você.

— E quando te desapontei? — Falou, convencido, enquanto revirava os olhos. — Sabe que ele está em boas mãos. — E voltou ao seu caminho após lançar uma piscadela a ele.

Minho sorriu. De fato, Kim Kibum jamais o decepcionaria.

 

(…)

 

O sol já estava se pondo quando Jooheon desceu do carro com Changkyun ao seu lado. Durante todo o percurso, o maior se perguntava como conseguiu levar o namorado consigo sem que Kihyun surtasse, mas o irmão dele parecia tão fora de órbita após aquela visita a Hoseok que sequer deve ter notado quando saíram juntos. Já Changkyun parecia não ligar para isso. Estava com Jooheon, recebendo sua total atenção e isso já era ótimo, pois teria ele só para si por mais alguns momentos.

Ao sair do carro ao lado do alfa, ele observou o sol sumindo e fechou os olhos, respirando fundo ao sentir uma brisa leve acariciar seu rosto.

— Tão lindo. — Changkyun abriu os olhos ao ouvir aquilo. Jooheon lhe observava com um belo sorriso estampado no rosto. — Não fique vermelho. Você não sabe o quanto quero te agarrar e encher de beijos quando fica desse jeito. — Confessou, sabendo qual seria o efeito: Changkyun baixou a cabeça, envergonhado, mas não deixando de sorrir pelo o que lhe disse.

— Vamos entrar. — Murmurou, ainda tentando esconder a vermelhidão de suas bochechas. Jooheon riu enquanto colocava um braço sobre os ombros dele para guiá-lo para a entrada da casa.

— Acho que os empregados foram dispensados hoje, então se quiser algo me diga, sim? — Jooheon explicou enquanto se afastava do namorado para pegar a chave da casa em seu bolso.

Changkyun assentiu com um leve menear de cabeça e entrou na casa quando Jooheon abriu a porta e deu espaço para sua passagem.

— Jooheon, onde você esteve? — Hyejin, a mãe de Jooheon, apareceu na sala assim que ouviu o barulho da porta se abrindo. — Oh! Por que não disse que traria visitas? Eu dei folga a todos os empregados. — Disse, surpresa, ao se deparar com Changkyun, que sentiu o rosto esquentar ao ver sra. Lee se aproximar e lhe abraçar. — Ah, querido, como vai? Quer algo?

— Eu estou bem, sra. Lee. Não se preocupe. — Sorriu sem graça e retribuiu o abraço que ela lhe deu.

— Desculpe, omma. — Jooheon passou por Changkyun para que abraçasse sua mãe. Apertou a mais velha, sentindo o perfume que ela sempre usava, o que sempre combinava com sua fragrância natural e mais que isso, sentindo o calor e o aconchego de um abraço de mãe. — Como a senhora está? E eu estava no hospital, visitando Wonho hyung. — Afastou-se dela e, pela primeira vez, desde que entraram notou que ela estava vestida elegantemente. — Onde vão? — Questionou, sabendo que seu pai obviamente iria junto com ela.

— Um jantar com alguns investidores. — Explicou. — Como ele está? — Hyejin perguntou, querendo saber de Hoseok. Ela havia gostado dele, era um excelente garoto, e achou todo aquele acontecimento uma barbaridade.

— Ele está bem melhor. Está reagindo bem, na medida do possível. Ele conversou normalmente conosco hoje, mas ainda é visível que ele ainda não superou o que aconteceu. — Explicou à mais velha, que assentiu com um olhar triste, lembrando-se de quando Hana engravidou, e ela se sentiu tão injustiçada pelo mundo. Certas pessoas parecem ser destinadas a sofrer tanto para no final terem uma grande recompensa, disso ela tinha certeza. Jooheon era prova disso, era sua grande e maravilhosa recompensa. — Mas, omma, ainda não é muito cedo? — Mudou de assunto ao checar o relógio em seu pulso, indicando quase seis e meia.

— Não, querido. Nós iriamos te levar, mas marcamos de ir mais cedo para o local e já estamos atrasados. Você também não atendia o celular. Imaginamos que estava fazendo algo importante, mas não deixe de atender sua velha mãe, sim? — Falou emburrada. Jooheon riu enquanto voltava a lhe apertar num abraço forte.

Changkyun sorriu com a cena. Ver a mãe de seu namorado resmungar que ele iria bagunçar seu cabelo e amassar sua roupa era engraçado e, mesmo com as reclamações, Jooheon não a largou.

— A maquiagem, Jooheon! AAAAAH! — Hyejin mais ria do que realmente reclamava, o que incentivava Jooheon a continuar o que fazia.

Era algo bonito de se ver. Por um momento, observando toda aquela interação, Changkyun passou a se lembrar de EunHyuk. Seu sorriso foi morrendo aos poucos. Céus, como sentia falta de seu omma. Graças a cena de mãe e filho a qual presenciava, lembrou-se de quando Siwon e Donghae carregavam Eunhyuk pela casa depois de correrem atrás dele por alguma brincadeira. Seus pais, não importava a idade, nunca perdiam esse espírito brincalhão. Isso não durava muito, pois, em seguida, os três iam ao chão devido seu irmão e ele se agarrarem nas pernas dos pais alfas para que pudessem libertá-lo. E, como sempre, logo Eunhyuk dizia aos maridos após ser solto graças aos filhotes:

— Estão vendo? Esse é o poder dos meus filhotes. Sempre salvando o omma, obrigado! — Depois sorria gentilmente antes de Siwon e Donghae ameaçarem iniciar uma nova corrida pela casa.

— Changkyun! — O menor sobressaltou-se ao ser chamado. Olhou para o namorado e percebeu os pais parados dele logo atrás de si. Quando o sr. Lee tinha chegado? Fez uma reverência em sinal de respeito e ficou completamente sem graça. Ele deveria estar ali há um bom tempo.

— Não precisa disso. — Junho ofereceu-lhe um sorriso, e Changkyun coçou a nuca, rindo amarelo.

— Desculpem, eu estava pensando em outra coisa. — Justificou o motivo para estar aéreo.

— Tudo bem, amor. — Jooheon veio até si para lhe abraçar. Mesmo gostando, ficou receoso em fazer aquilo na frente dos pais dele. E se eles não gostassem?

— Meu filhote cresceu. — Hyejin fez seu filhote rir baixo pelo o que disse.

— Temos que ir agora. — Junho ajeitou o terno que já estava perfeitamente alinhado ao seu corpo. — Qualquer problema, me ligue, sim? — Disse ao filho. — Voltamos antes da meia noite. — Completou, piscando furtivamente para Jooheon e arrancando uma risada dele.

— Pare com isso. — Hyejin, envergonhada pela insinuação, bateu nas costas do marido e o puxou pelo braço, deixando o casal sozinho na mansão.

— Então… — Jooheon voltou-se para o menor. — O que meu namorado estava pensando que o fez ir tão longe?

— Ah… — Changkyun não queria acabar com seu momento a sós com ele, então resolveu mudar de assunto. — Nada demais. E eu quero água. — Pediu. Jooheon o puxou pela mão, parecendo ignorar o assunto pelo menos naquele instante. Foi guiado até a cozinha, onde foi servido com um copo d’água.

— O que você quer fazer? — Seu namorado, que ainda bebia o líquido, interrompeu-se com o copo ainda encostado aos lábios e o encarou ao fazer tal pergunta. — Ver um filme? Jogar vídeo game? Já está anoitecendo, mas podemos ir para a piscina também. — Changkyun pareceu pensou por um momento. Aproveitou essa brechar para surpreendê-lo retirando o copo que ainda estava rente os lábios dele e substituir o objeto por sua boca, dando-lhe um selar rápido.

— Você adora me deixar com vergonha. — Resmungou. Jooheon riu enquanto colocava o copo na pia.

— Acho que tenho uma ideia melhor do que podemos fazer. — Sorriu.

Changkyun entendeu o ponto daquilo e devolveu o sorriso ao namorado. Não demorou muito para que se visse encurralado pelos braços dele, preso entre Jooheon e a bancada da cozinha. Os dois ficaram se encarando por um longo período até Jooheon decidir se inclinar para unir novamente seus lábios um no outro. Começou com um pequeno selar, que fez ambos sorrirem felizes, mas não tardou para Jooheon pedir passagem com a língua, esfregando-a de leve sobre o lábio inferior do Changkyun, que rapidamente os entreabriu para dar o espaço necessário.

O beijo era único, como tudo entre aqueles dois. Nada do que já tivessem experimentado nessa curta vida se comparava, ou melhor, não chegaria aos pés da sensação indescritível que os invadia quando suas bocas se conectavam. Jooheon já sentia o ar fazer falta nos pulmões, então cessou o ósculo, deixando que o menor também respirasse, mas não deu trégua. Levou a boca a mandíbula de Changkyun, raspando os dentes ali para observá-lo fechar os olhos, aproveitando as sensações. Então, seguiu caminho rumo ao lóbulo direito dele, mordendo e puxando entre os dentes com certa força que fez o estremecer.

— Tão sensível. — Sussurrou no ouvido alheio, a voz rouca fazendo efeito massivo sobre o corpo de Changkyun, que nada sabia dizer, apenas continuava com os olhos fechados, sentindo a boca dele deslizar sobre seu rosto e voltar a dar atenção aos lábios já maltratados pelos próprios dentes.

Jooheon escorregou o lábio inferior de Chankyun entre seus dentes e abriu os olhos para ver a expressão deleitosa bem próxima de seu rosto. Aproveitou que o tinha encurralado entre si e a bancada para avançar um pouco mais, vendo que o namorado não havia rejeitado nada até o momento. Suas mãos, antes repousadas na bancada atrás de Changkyun, seguiram para o quadril dele. Apertou o local com força e recebeu um empurrão como resposta.

— Desculpe! — Jooheon pediu, respirando fundo para que acalmar seu lobo que parecia choramingar pela interrupção do contato entre eles.

— Não! — Changkyun elevou o tom, chamando a atenção dele. O que ele pensaria se desse para trás justo agora? Iria deixá-lo, com certeza, afinal, que alfa quer um ômega que o rejeita?

“Ele vai te deixar por isso, idiota!”.

Ouviu e sabia que iria surtar se não se acalmasse. Jooheon não iria lhe querer se surtasse de novo ou se o rejeitasse. Contudo, não era novo demais! Tinha só quinze anos, quase dezesseis. Ainda assim, talvez não fosse o momento. Mas o que diria ao namorado?

— Ei, puppy! Calma. — Jooheon o tranquilizou, colocando rosto de entre as mãos e descansando suas testas uma na outra. — Você não precisa fazer nada, tudo bem?

Changkyun mordeu o lábio e acenou positivamente, recebendo um sorriso do namorado. Embora Jooheon tenha dito isso, tinha convicção do que pensava: se não fosse até o fim, seria deixado, e ele não queria isso.

— Só… — buscou coragem de onde não tinha para prosseguir. — Vamos para o seu quarto. — Pediu, envergonhado.

Jooheon não deixou de sorrir. Talvez Changkyun quisesse, mas estava com vergonha de estarem na cozinha, era isso. Sendo assim, puxou o namorado pela mão até seu quarto.

Changkyun podia sentir a empolgação exalando dele, quase como se estivesse sentindo-a na própria pele, e não tinha o que dizer, ele só tinha que ir até o fim. Assim que chegaram na porta do quarto, Jooheon lhe deixou entrar primeiro. Adentrou o cômodo pela primeira vez e observou a cama de casal completamente arrumada, observou o ambiente todo, os porta-retratos com fotos suas e de sua família, com Hyunwoo e mais um homem que não sabia quem era, mas se prendeu numa foto que notou ser ele mesmo dormindo abraçado a alguém.

— Foi o Wonho hyung que tirou essa e me mandou. — Jooheon disse atrás de si.

Changkyun poderia ter observado o quarto com maior cuidado, mas sentiu os braços de Jooheon ao seu redor e fechou os olhos, suspirando. O cheiro do alfa era forte ali, não só por ser o quarto dele, mas por ele mesmo estar tão próximo. Podia sentir ele passar o nariz por sua nuca, inalando sua fragrância natural adocicada.

O menor foi virado delicadamente pelo namorado e, ao estarem frente a frente, Changkyun abriu os olhos, deparando-se com o mesclar de cores incessante nos orbes do alfa. Ele via o desejo ali e queria se bater por estar tão inseguro. Jooheon parecia sentir um desconforto que sabia não ser seu, mas observava ele parecer determinado a seguir em frente. Teria cuidado, não era nenhum idiota para fazer algo que não agradasse o outro.

— Mostre a sua língua. — Changkyun ficou vermelho, mas obedeceu ao seu pedido. Jooheon sorriu e encostou a sua língua na dele, fazendo-o estremecer um pouco pelo contato. Seu namorado o surpreendia com certas coisas, e aquilo com certeza era explícito demais. Então, ele chupou a língua do menor, o que gerou um gemido baixinho de sua partem, agraciando os ouvidos dele, que não demorou a soltar a língua do namorado para apenas deixar a própria deslizar sobre os lábios alheios, primeiro sobre o inferior e depois o superior, com movimentos circulares.

Changkyun se deixava levar, queria se entregar a Jooheon, mesmo não estando cem por cento confiante de que ele iria gostar do que iria ver. Apesar de ter voltado às artes marciais, seu corpo ainda não estava bom o suficiente para o namorado.

Iniciaram um beijo intenso. Changkyun sentia as mãos dele em seu quadril, ele apertava e acarinhava, buscando lhe relaxar. Jooheon notou bem seu desconforto, bem até demais. Então, teve uma ideia de como mostrar que também queria aquilo, mesmo não querendo de verdade, pelo menos por enquanto.

Empurrou Jooheon, que pensou que o namorado não queria mais aquilo, mas ele continuou lhe empurrando e só percebeu o que faria quando a articulação de seus joelhos bateu na cama, fazendo-o cair sobre ela. O mais novo subiu sobre si, segurando ambas as mãos acima da cabeça e encaixou o quadril sobre a sua pélvis, voltando a beijá-lo. Jooheon sorriu entre o beijo, surpreendendo-se novamente. Ah, seu namorado queria lhe enlouquecer.

Changkyun começou a rebolar ali. A fricção fez um gemido seu escapar. Não fazia aquilo com frequência, apenas durante o cio, e era bastante sensível. Só pedia aos deuses que não fizesse besteira e perdesse o maior para outra pessoa, essa possibilidade o assombrava.

— Que brincar, Puppy? Eu vou entrar no seu jogo. — E rolou, parando em cima do namorado, tomando o controle da situação. Não se preocupou com as mãos dele, levou suas mãos abaixo da articulação do joelho dele e levantou ambas, encaixando-se ali.

Changkyun tencionou os músculos, não esperava que Jooheon fosse tão rápido. Era óbvio que estava sentindo seu membro enrijecendo sob o tecido de sua roupa e podia sentir que o mesmo ocorria com Jooheon, mas Changkyun já não estava confortável ali desde o início. Sua lubrificação natural não se fazia presente, seu cheiro não estava forte o suficiente para mostrar que estava realmente excitado, e só pensava a todo momento que, se parasse, o maior ficaria com raiva ou o deixaria. Entretanto, tinha a segunda opção e talvez a pior: ser rejeitado por não ter o corpo que o outro achava bonito.

Jooheon baixou o tronco sobre o de Changkyun, voltando a beijá-lo enquanto mexia o quadril devagar. Levou as mãos para dentro da camisa de Changkyun, que lhe deixou fazer o que quisesse. Estava empolgado, finalmente sozinho com seu pequeno Puppy, tendo algo mais íntimo, estava imensamente feliz.

Changkyun controlava sua respiração enquanto observava Jooheon se erguer sobre si e retirar a camisa. Tão lindo, pensou ao observar o tronco levemente delineado por músculos. Não conteve as mãos ao tocar o abdômen alheio. Ganhou um sorriso e foi puxado para se sentar.

— Gosta do que vê? — Perguntou despudoradamente, baixo e rouco.

Changkyun não respondeu. Seu Honey era lindo, e não o deixaria por nada, mesmo que tivesse que matar ou morrer por ele. Aproximou seu rosto do peitoral de Jooheon e deixou um selo ali. Percebeu-o fechar os olhos para lhe deixar aproveitar seu corpo, e Changkyun beijou cada canto com devoção. Era seu namorado, não deixaria ele triste ou desapontado, ele era lindo e merecia ser cuidado. Changkyun selava o peitoral e abdômen com verdadeiro apreço. Era seu alfa, era só seu, a sua alma gêmea, mesmo que não tivesse noção disso. Raspou os dentes ali e ouviu um arfar de Jooheon, continuou seu carinho adicionando lambidas por toda aquela obra de arte, aos seus olhos, que era o corpo alheio e além da boca, usava suas mãos para acarinhar o namorado.

Jooheon também queria dar carinho ao namorado, então o empurrou para que ele voltasse a se deitar. Changkyun soube que não tinha mais volta, sabia que ele o rejeitaria por seu corpo ser feio demais. Seu lobo parecia sofrer em antecipação pelo abandono eminente. Changkyun sentiu os olhos ficarem úmidos e os fechou rapidamente para que o namorado não visse. E no momento em que Jooheon voltava a ficar sobre o seu corpo, um celular começou a tocar.

Changkyun quase gritou em agradecimento aos deuses e se levantou rápido para que Jooheon não visse seus olhos, qualquer um notaria que ele estava prestes a chorar.

— Não é o meu. — Jooheon, irritado, rolou na cama e enfiou o rosto em um travesseiro. Por que alguém sempre tinha que atrapalhá-los?

Changkyun pegou seu celular e estranhou.

— É o Minho. — Olhou para o namorado, que rapidamente se levantou. Teria acontecido algo com Hoseok?

— Atenda. — Disse, e o mais novo atendeu, mas não conseguiu nem dizer “alô”, pois Minho começou a falar rapidamente.

— Changkyun, eu não sabia para quem ligar, me desculpe! Mas aquele cara, o Shownu, ele caiu desmaiado e vai entrar em cirurgia agora. O celular dele estava descarregado, e eu não sei quem são os pais dele. Pode pedir aos seus pais para virem aqui? — Changkyun ficou calado por instante após ouvir tudo. Shownu? Cirurgia? O que estava acontecendo? Eles haviam deixado o hospital há pouco mais de uma hora!

— Me dá aqui, Puppy! — Jooheon pegou o celular, já preocupado pela cara que o namorado estava fazendo. — Oi, Minho. Aqui é o Jooheon. O que aconteceu? — o beta repetiu a situação, dessa vez, mais rápido. Precisava voltar ao trabalho, além de ser o responsável pelo alfa enquanto nenhum responsável chegasse. — Eu estou indo aí. — Finalizou a ligação.

— Desculpe. — Changkyun pediu.

— Por que está se desculpando, amor? — Jooheon perguntou enquanto vestia sua camisa e pegava suas chaves, carteira e celular.

Changkyun deu de ombros e ajeitou suas roupas.

— Ei, nós não temos tempo pelo que o Minho disse. Mas saiba que eu vou sempre esperar por você. Nós temos a eternidade, temos a vida além dessa e de muitas outras. Minha alma sempre vai achar a sua e nos amaremos sempre e de novo, e de novo consecutivamente. — Selou os lábios dele.

Uma forte sensação de bem-estar perpassou Changkyun após ouvir aquilo. Jooheon estava lhe prometendo em voz alta que nunca o abandonaria, nunca.

— Vamos, eu não sei o que aconteceu, mas o Shownu vai ser operado. — Changkyun o encarou assustado. — Eu vou te deixar em casa antes.

— Não, eu vou com você. — Disse e deixou claro que não mudaria sua posição, fazendo-o suspirar derrotado e se virar para sair do quarto. — Hã… Honey. — Chamou. Jooheon logo voltou, mas parecia estar avoado. — Bem, é que… você não tem que resolver algo antes? — Indicou com a cabeça.

Jooheon olhou para baixo e percebeu o volume em sua calça.

— Ah, isso. — Riu sem graça. — Vai passar. Vamos. — Puxou o namorado pela mão, fazendo-o rir pelo claro nervosismo. — Não ria disso, Puppy! — Fez birra enquanto iam descendo as escadas. Ele brincava com o namorado, mas estava preocupado com o amigo e em como informaria a mãe dele sobre o ocorrido.

 

(…)

 

— Boa noite! Qual o estado do paciente Hyunwoo? Son Hyunwoo. — Jooheon disse enquanto encarava a recepcionista daquele turno do hospital. Ela lhe observou seriamente, era uma senhorinha com cara de poucos amigos.

— E quem é o senhor? Não tenho autorização para dar informações de pacientes a ninguém que não seja um familiar ou responsável por ele no hospital. — Ela disse tudo sem tirar os olhos de Jooheon.

Ele suspirou pesado. Já havia precisado pensar um muitas nojentas para se livrar da ereção durante o caminho até ali e, agora, aquela senhora estava tirando sua paciência lhe negando as informações que buscava.

— Changkyun! — Jooheon se virou ao ouvir o nome do namorado e viu Minho se aproximando deles. — Por que demoraram?

— Desculpe, estávamos um pouco longes daqui. — Changkyun sorriu para o médico que tinha o cansaço estampado no rosto.

— Tudo bem. — Minho disse enquanto passava pelos namorados, indo falar com a senhora. — Solar, meu anjo. Pode me passar a situação do paciente que desmaiou aqui no saguão? Acho que o número do caso era 314. — Pediu. A senhora sorriu para si ao ir buscar o prontuário, e Jooheon se perguntou o que tinha de errado com aquela mulher.

— Um dos internos levou o prontuário dele. — A senhora retornou ao balcão e explicou a situação. — Mas pelo que li antes de levarem, ele estava a caminho de uma neurocirurgia.

— Ok. Obrigado, Solar. — Minho agradeceu antes de se despedir dela e seguir rumo ao elevador com os dois adolescentes em seu encalço.

— Por que queria o prontuário? Já estamos aqui, você não pode me dizer o que aconteceu? — Jooheon disse.

Minho respirou fundo, estava sendo um dia puxado.

— Eu ia atualizar as informações que esperava de vocês, ligar para um responsável dele, algum parente. — Explicou.

— Entendo, vou ligar para a mãe dele. — Jooheon fez cara de nojo ao se referir a mais velha enquanto tirava o celular do bolso.

— Ela é tão ruim assim? — Minho cochichou para Changkyun enquanto o namorado dele estava com o celular no ouvido já fazendo a ligação.

— Nem sei como explicar, só vendo mesmo. — Changkyun deu de ombros, vendo-o assentir.

A porta do elevador se abriu, e os três saíram da caixa metálica, Jooheon ainda falando com a mãe de Hyunwoo. Estavam no andar dos quartos, não o da cirurgia, Changkyun sabia disso, pois havia dado uma volta pelo local enquanto os amigos não estavam por perto.

— Minho hyung, por que estamos no andar dos quartos, e não o da cirurgia? — Esperou a resposta do mais velho. Sabia que seria um bom motivo, porque quando estava andando pelo hospital e chegou no andar cirúrgico, um enfermeiro o expulsou de lá.

— Bem, em primeiro lugar, o andar da cirurgia é restrito a qualquer um que não seja paciente, cirurgião ou da equipe de cirurgia, então eu não levaria vocês para lá nem se eu quisesse. Em segundo lugar, seus pais estão aqui e, pelo horário, eles não devem estar cientes de onde o filho deles deve estar. Assim, achei correto te levar até eles. — Changkyun ficou nervoso por um instante, não tinha avisado os pais que estava com o namorado, com certeza levaria uma bronca. Mas o que os mais velhos estariam fazendo ali naquele horário?

— Pronto. — Jooheon disse ao se aproximar do namorado e do médico. — Ela já está vindo.

— Acredito que esteja nervosa, não? — Minho disse, qualquer mãe entraria em pânico ao receber uma notícia assim.

Jooheon não disse nada, apenas pensou no quão estranho soou o tom de voz de Hana. Talvez fosse implicância de sua parte, principalmente depois que soube o que a mulher havia feito; talvez fosse impressão sua, Hana era fria quase sempre, foi fria quando conheceu a si quando era pequeno, foi fria quando o pai de Hyunwoo morreu e, provavelmente, continuaria a ser daquele jeito tão asqueroso para sempre.

— Hyung, onde eles estão? — Changkyun quebrou o silêncio com sua pergunta. Minho sorriu.

— Na recepção desse andar, vocês sabem onde fica. Eu preciso ver um paciente, mas logo vou encontrar vocês. — E saiu andando a passos apressados dali.

— De quem vocês estão falando? — Jooheon soou confuso.

— Os appas. Eles estão aqui. — Explicou enquanto era abraçado por ele. — Vamos atrás deles, antes que o Ki ligue e aumente a estória. — Ambos riram com o comentário de Changkyun e se dirigiram até o local informado por Minho sem se desgrudarem, era gostoso para ambos ficar agarrado daquele jeito.

O casal foi até a recepção do andar e, como Minho disse, Donghae e Siwon estavam ali. Changkyun só não esperava encontrar Zhoumi e Henry junto com eles.

— Henry oppa! — Soltou-se do namorado e correu o restante do caminho até estar frente a frente com o ômega grávido, que o puxou para um abraço apertado.

— Como você está? — Henry perguntou, mas não houve resposta já que o menor, ainda agarrado a si, encarava os pais que tinham as sobrancelhas arqueadas em sua direção. — Vejo que está encrencado. — Grávido sussurrou no ouvido do menor enquanto ria dele.

— Posso saber o que meu filhote, que, por um acaso, deveria estar em casa, faz aqui neste hospital a essa hora da noite? — Foi Siwon quem perguntou, estava com os braços cruzados sobre o peito, o cabelo estava um tanto bagunçado, ele estava cansado.

— Appa, que saudade! — Changkyun deu seu melhor sorriso e se soltou de Henry, que ainda ria da cena que os Yoo protagonizavam a sua frente. Aqueles alfas eram terríveis, terrivelmente idiotas. E o grávido soube que não haveria bronca ali quando Donghae e Siwon desfizeram as caras de “pais responsáveis e super preocupados” e sorriram ternamente para o menor.

Henry se virou ao ouvir alguém limpar a garganta com um pigarro bem alto.

— Posso ajudar? — Perguntou ao alfa atrás de si, ele fez o barulho estranho para chamar sua atenção, era óbvio. Além disso, não tinha muita gente além dos funcionários ali, eles eram os únicos que estavam visitando alguém.

— Bom, é que o meu namorado me largou, saiu atrás de você e te chamou de oppa! Acho deveria checar quem é você. — Jooheon não disse mais nada, já que o tal “Henry oppa” começou a rir de forma escandalosa.

— Henry? O que houve? — Um cara alto se aproximou do garoto que ainda ria. — Henry, dá para parar? Está chamando atenção desnecessária. — Ele pediu. Era um alfa, Jooheon sabia disso pelo cheiro forte que exalava dele.

— Desculpe. — Enxugou uma lágrima que descia pelo rosto. Ele estava chorando de rir, mas Jooheon não via graça alguma ali. — MiMi, eu acho que o namorado do pequeno Chang caiu de paraquedas aqui e ainda acha que eu posso roubá-lo de si. — Ele falou de forma carinhosa com o alfa, que sorriu e o abraçou.

— Desculpe, meu marido é problemático às vezes. — O tal “MiMi” disse sem soltar o ômega grávido que agora sabia ser seu marido.

— Eu não sou problemático, esse garoto que é ciumento. — Henry se defendeu.

— Agora, já sei porque está aqui. — Donghae encarou o filho, que lhe sorriu antes de soltar Siwon, a quem estava agarrado, e ir até o casal que conversava com o namorado.

— Zhoumi hyung, o que vocês estão fazendo aqui? — Changkyun perguntou enquanto se aproximava de Jooheon, que observava calado.

— Pelo jeito, sou eu quem deveria perguntar isso. — O psiquiatra lhe olhou sério, o que lhe fez corar. Jooheon não sabia o que dizer. Além de estar sobrando ali, estava vendo outro alfa deixar o seu namorado todo envergonhado. — Quer nos apresentar ele? — Zhoumi indiciou Jooheon quieto atrás do menor.

— Ah, esse é meu namorado, Jooheon. Jooheon, esses são Henry e Zhoumi. — Indicou os dois na ordem em que os apresentou. — Eles são amigos dos appas e… — Changkyun mordeu o lábio, pensando se dizia que o alfa era seu médico.

— Ai! — Todos se viraram para o casal Yoo, que parecia discutir ali e, pelo resmungo, Siwon havia acabado de receber um beliscão, ou algo do gênero, do marido. Changkyun agradeceu mentalmente pela idiotice dos pais começar naquele instante, não teria que finalizar sua frase.

— Já conversamos sobre isso. — Donghae disse. Siwon passou a mão no braço tentando amenizar a dor.

— Mas é a verdade, esse garoto quer acabar com a minha família. — Siwon fez Donghae revirar os olhos.

— Ignorem ele. — Sorriu. — Mas você ainda não disse o motivo para estarem aqui? Devo me preocupar? — A pergunta era direcionada ao filho, que se lembrou de explicar o motivo.

— Shownu está sendo operado aqui. — Jooheon foi mais rápido. — Minho ligou para o Changkyun, como não tinha o número de mais ninguém próximo de Shownu. Ele pediu para virmos aqui, mas eu já liguei para a mãe dele, então podem ir quando quiserem.

— Operado? Mas ele estava bem hoje à tarde. — Siwon disse.

— Eu também não sei o que aconteceu. Minho disse que ia resolver uma coisa e que já voltava, a mãe de Hyunwoo deve estar chegando. — Jooheon explicou.

— Desculpem a demora. — Minho apareceu meio afobado. — Minha paciente está com contrações com intervalos de cinco minutos. Ela vai entrar em trabalho de parto, e não vou poder ficar aqui com vocês. — Minho dizia tudo enquanto escrevia num prontuário que provavelmente pertencia a tal paciente.

— Vejo que gosta do que faz. — Zhoumi disse ao jovem obstetra, que levantou o olhar pela primeira vez ali.

— Minha nossa! Dr. Zhou Mi? Eu li alguns artigos seus sobre a detecção de distúrbios neurais e psíquicos durante a formação dos fetos. Achei muito interessante. — Minho adquiriu um brilho nos olhos ao encarar o alfa chinês. — É um prazer conhecê-lo! — O outro sorriu feliz quando foi cumprimentá-lo. É um fato que todos gostam de reconhecimento, entre médicos isso era ainda mais estimado.

— Tem interesse por psiquiatria? E o prazer é meu, dr…

­— Minho, Choi Minho. — Apresentou-se. — E sim, tenho interesse pela psiquiatria e afins, mas a obstetrícia tem meu coração. Colocar vida neste mundo é muito gratificante.

— Ótimo, ótimo! — Zhoumi sorriu, e eles entrariam em uma conversa profissional se Henry não fosse mais rápido.

— Nem pense nisso, Zhoumi. Eu já vim até aqui, nesse horário, e você disse que não íamos demorar. Não comece a se exibir agora. Nós só viemos pelo Hoseok. — Reclamou com chateação na voz. Zhoumi sorriu para si.

— Pelo Hoseok? — Minho perguntou, mas sua resposta veio de Donghae.

— Sim. Como você já sabe, ele é psiquiatra, então queríamos que ele conversasse com Hoseok. — O clima ficou tenso ali. — Desculpe não ter avisado e sabemos que há excelentes médicos aqui, mas queremos que Zhoumi cuide dele.

— Sem problema algum, mas ele deve estar dormindo. — Minho revezou o olhar entre todos ali.

— Nós só tivemos tempo agora. — Zhoumi explicou-se enquanto viu Minho assentir, olhando o relógio.

— E mais uma contração. — Ele ainda cronometrava as contrações da paciente. Iria levar o psiquiatra até o quarto de Hoseok quando uma mulher altiva chegou naquele andar.

— Que porcaria de hospital! — Hana reclamava, chamando a atenção dos médicos e enfermeiros que passavam por ali, até um senhor que cuidava da limpeza parou o que fazia para encarar aquela mulher.

— Eu disse que era só vendo. — Changkyun sussurrou. Minho entendeu os olhares desgostosos que os adolescentes deram ao falar da mulher, mas tinha que tomar conta da situação. Sendo assim, suspirou e foi até a mulher.

— Boa noite, sra. Son. — Cumprimentou formalmente a mulher. Tudo o que ganhou foi um olhar avaliador.

— Só se for para você. — Ela resmungou e viu Jooheon se aproximar. — Onde ele está? Aquele inconsequente. Que idiotice ele fez dessa vez? — Hana reclamava aos quatro ventos e estava sendo difícil aturar, mesmo com todo profissionalismo do mundo.

— Ele está na sala de cirurgia, passando por uma operação delicada. Preciso que a senhora preencha alguns formulários. — Hana revirou os olhos e se dirigiu ao balcão dali, onde Siwon, Donghae, Henry, Zhoumi e Changkyun observavam as suas ações.

— Aquele irresponsável. — Ela permanecia xingando o filho em seus sussurros e todos começaram a entender, pelo menos, um pouco do comportamento de Hyunwoo. Fazia todo sentido com uma mulher daquelas como mãe. — Diga logo onde tenho que assinar e quanto custa tudo isso. Tenho coisas a fazer.

— Honey, não precisa ela falar assim com o Minho. — Changkyun sussurrou para Jooheon, que já estava ao seu lado novamente.

— Não posso fazer nada, amor. Ela não trata nem o Shownu bem, quem dirá um desconhecido. — Abraçou o namorado.

— Jooheon, meu querido. — Hana lhe chamou de forma doce. Jooheon a encarou, sorrindo por educação. — Você não se casaria com a herdeira da família Kim? Fariam um ótimo casal, dariam lindos filhotes também. — A acidez na voz dela fez Changkyun travar. O que ela estava insinuando? — Herdeiros de grandes impérios devem se casar com semelhantes para aumentar tais riquezas, por isso vou arrumar uma noiva para Hyunwoo logo, logo. — Ao dizer aquilo, Hana levantou o olhar dos papéis que Minho havia lhe entregado e sorriu para Jooheon. — Ah, quem é esse? — Referia-se a Changkyun nos braços dele, ainda chocado com as palavras rudes.

— É meu namorado. — Respondeu simplesmente e viu Siwon avançar em Hana no momento que a primeira lágrima escorreu pelo rosto de Changkyun.

— Deuses, que ignorância! — Ela disse ao ver Zhoumi segurando Siwon.

— Ignorância você vai sentir. — Donghae vociferou antes de tentar alcançar a beta, que deu um gritinho histérico ao ver Minho segurar Donghae.

— Se acalmem, ou eu vou precisar chamar a segurança. — Minho pediu.

— Olha aqui, minha senhora, você já se olhou no espelho hoje? Se não, deveria para ver se encontra a vergonha na cara e o respeito que, segundo a senhora, ninguém aqui possui. Também deveria procurar uma cera para passar nessa sua cara de pau, nojenta! — Henry saiu em defesa de um Changkyun chorando. Talvez a mãe de Shownu estivesse com a razão, Jooheon merecia alguém melhor, mas amava aquele alfa e não queria deixá-lo.

— Calma, amor. Não liga para ela. Vamos para a lanchonete, ok? — Changkyun assentiu, e eles seguiram para o elevador.

Zhoumi observou tudo, desde o efeito das palavras em Changkyun até o nervosismo quase imperceptível aos outros, mas não a ele. Talvez estivesse na hora de outra consulta.

— E quem você pensa que é? Eu posso te processar, sabia? — Hana se dirigia a Henry, que já estava puto o suficiente. Zhoumi soltou Siwon ao ver que Donghae estava mais calmo e que seguraria o marido.

— Henry, vá até o quarto de Hoseok e fique lá. — Zhoumi pediu. Estava com medo dele atingir o bebê com seu nervosismo. — Não reclame, por favor. Pelo nosso filhote. — Ele concordou, mesmo a contragosto.

Henry saiu dali e se dirigiu a um dos corredores. De longe, viu os Yoo olharem de forma nada amigável para Hana e Zhoumi colocar uma mão na cintura e uma na cabeça buscando calma.

 

(…)

 

— Ai, Ki. Você não precisa nem chamar um táxi para eu ir embora. Só me chuta pela rua, porque depois desse jantar, eu só vou conseguir rolar por aí. — Minhyuk disse em tom dramático, fazendo os namorados rirem. Estava nos seus planos ir embora assim que Kihyun contivesse seu choro e o clima se tornasse ameno novamente entre eles, mas Kihyun insistiu que jantasse ali, então aceitou o convite, recebendo um beijo dele e um sorriso de Hyungwon.

— Estou ficando preocupado, o Chang ainda não veio para casa. Os appas vão brigar, e já passou da hora dos remédios dele. — Minhyuk encarou Kihyun. Ele não parecia estar inconsciente da ausência do irmão, muito pelo contrário, parecia mais que havia deixado ele ir propositalmente. Somente parou para pensar de que remédios o namorado falava. Não lembrava de Changkyun ter qualquer tipo de doença ou algo do tipo. Talvez ele devesse estar com a imunidade baixa. É, pensou, talvez fosse isso.

— Jooheon vem trazer ele aqui, não se preocupe. Ele não é um inconsequente. — Hyungwon se afastou da pia, donde havia acabado de lavar a louça. Ele sempre pedia para fazer isso, pelo menos, não se sentia um completo inútil ou um peso na casa do namorado. Kihyun já havia pego ele fazendo faxinas pela casa, o que resultou em algumas discussões sobre ele não ser empregado ali e o mesmo rebatendo com o argumento de que precisava fazer alguma coisa para não se sentir um tipo de usurpador ali.

— Que horas são, Ki? — Kihyun procurou o celular no bolso para responder Minhyuk.

— Quase nove. — Falou, sério.

— O que foi? — Hyungwon questionou ao perceber a mudança na feição de dele.

— O Chang tá ligando. — Encarou os ômegas ali.

— Atende, ora. Não estava preocupado com ele? — Minhyuk disse. Hyungwon o encarou acusadoramente, fazendo-lhe responder um “Que foi?” e dar de ombros.

— Chang? — Os dois voltaram suas atenções para Kihyun no meio da ligação.

— Desculpa não ter ido direto para casa. — O mais novo falou do outro lado da linha. A voz dele parecia abatida, e isso não passou despercebido aos ouvidos de Kihyun. — Mas eu estou com os appa, vamos para casa daqui a pouco. Só liguei para você não ficar preocupado comigo.

— O que aconteceu? — Foi direto, sabia que tinha coisa nessa estória. Onde o menor havia encontrado os pais? Onde estava Jooheon? Ele viu os dois irem embora e, por mais incrível que pareça, não quis se meter dessa vez. Estava tentando dar o espaço que o irmão queria. Ainda se lembrava da discussão que teve com Jooheon, das palavras dele:

“Eu sei que quer proteger seu irmão, mas pelo amor dos deuses, afastar ele dos próprios problemas não vai ajudar em nada!”

— Estou no hospital, o Jooheon também está aqui. Não se preoc-

— HOSPITAL?! — Kihyun já havia se posto em pé no meio da sala. — Qual? Onde você está? O que aconteceu? Me diz onde é que eu vou até ai. — Ele estava alarmado, a culpa o abatendo por ter deixado o irmão sem sua proteção.

— Não, Ki, eu tô bem. O Minho que ligou pra mim-

— O Minho? Aconteceu algo com o Seok? — Ele estava nervoso, e os namorados sentiam isso, não precisava de marca para sentir, só de ver o olhar vagando por todos os cantos em busca da carteira e a chave da casa.

— Para de me interromper! — Changkyun pediu com o tom sôfrego. Sabia que o irmão surtaria quando dissesse onde estava, mas já estava ficando chato.

— Me dê aqui. — Kihyun ouviu alguém pedir o celular do irmão e logo a voz conhecida falava consigo. — Querido, sou eu.

— Hae appa. — O sorriso saiu sem ele perceber. Se seus pais estavam lá, estava tudo bem, certo?

— Aconteceu um imprevisto com Hyunwoo, um imprevisto bem grave, aliás. — Donghae disse a última parte apenas para si, mas o filho ouviu.

— Dá pra me dizer o que houve? E por que o Chang está aí e vocês também? — Kihyun voltou a se sentar, ainda sob os olhares de Minhyuk e Hyungwon.

— Shownu desmaiou na porta do hospital, e acabaram descobrindo algo sério, então ele está em cirurgia agora. — Donghae deu o resumo, até porque não iria explicar tudo o que o médico disse, além de estar estressado para tentar detalhar o fato.

— Cirurgia? — Franziu as sobrancelhas, confuso. O que aquele idiota tinha?

— Que cirurgia? — Hyungwon perguntou. Kihyun pediu para que esperasse, voltando a ouvir o que o pai dizia.

— Nós vamos para casa daqui a pouco. Viemos trazer Zhoumi para ver Hoseok. — Explicou. — Seu irmão está com a gente, não se preocupe.

— Tudo bem. — Disse, agora mais calmo. — Appa, o que aconteceu com Changkyun? — conseguiur ouvir o suspiro que o mais velho soltou do outro lado.

— Em casa, eu explico. Vou desligar agora. — Despediu-se e encerrou a ligação.

— O que aconteceu? — Foi Minhyuk quem perguntou.

— Aconteceu alguma coisa com Shownu, ele está passando por uma cirurgia agora. — Explicou. — Eu ainda não entendi porque chamaram o Chang, e não a mãe daquele idiota. — Não queria desejar o mal a Hyunwoo, mas quem sabe não fosse só o universo castigando ele por tudo que fez com o Shin.

— Vamos até lá. — Hyungwon se levantou rapidamente, o nervosismo de Kihyun parecia ter passado para si. Estava preocupado com Hyunwoo, sem querer havia criado uma ligação com ele, principalmente após ver o lado do alfa que poucos conheciam.

— O que? — Minhyuk se levantou e olhou, abismado, para o namorado. — Enlouqueceu? Nós não vamos lá. — Minhyuk parecia chateado. Havia se lembrado de algo que talvez fosse besteira, mas depois do modo como Hyungwon reagiu, a lembrança passou a incomodar.

— O que? Por que? Kihyun! — Hyungwon recorreu ao namorado alfa, mas Kihyun apenas encarava a discussão, tentando entender o motivo.

— Depois de tudo o que ele fez, você está preocupado com ele? Você acha que ele se preocupou quando engravidou Hoseok? É claro que não. Ele sentiu alguma coisa quando percebeu que ia perder ele. É sempre assim: as pessoas só dão valor a algo depois que perdem. Ele viu que ficaria sem Hoseok e tratou de reverter a situação. Eu não gosto dele tanto quanto Kihyun, mas não deixo à mostra como ele. Mas agora não deu, Hyungwon. Por que está preocupado com ele? Se fosse Hoseok ou até o Changkyun, eu entenderia, mas você? Você não tem nada a ver com ele! — Explodiu, dizendo tudo de uma vez.

Hyungwon ficou sem palavras diante daquilo.

— Ele é nosso amigo. — Não tinha certeza do que falava, não depois do discurso do namorado e sendo observado tão atentamente por Kihyun.

— Então é isso? Você o considera alguma coisa? Amigo? Alguém próximo? Ou-

— Ou o que?! — Levantou a voz diante da insinuação iria ser proferida. Seu tom assustou os dois namorados, mas não deixaria que Minhyuk terminasse sua fala. Era isso que ele pensava? Que era um qualquer? Que seria capaz de ficar com o cara que sabia ser a paixão de Hoseok? E mesmo que não fosse ele, que seria capaz de trai-los? — Você também acha isso, Kihyun? — Perguntou com a voz vacilante.

Kihyun lhe encarou. Sua súbita mudez o incomodava, e tudo pareceu piorar quando o olhar dele oscilou entre si e Minhyuk.

— Eu vi, Hyungwon, você e ele se olhando de um jeito estranho. — Minhyuk soltou a lembrança da visita a Hoseok. — Eu vi você ficar todo envergonhado. Você acha que eu sou idiota ou só cego mesmo? — Toda sua exaltação estava deixando Kihyun ainda mais confuso.

— Quando? — Perguntou a Hyungwon.

— Você estava preocupado com o Hoseok e não percebeu, mas eu vi. Durante a visita, assim que entramos no quarto, eles se olharam e Hyunwoo sorriu para ele. — Kihyun não desviou de Hyungwon quando Minhyuk respondeu por ele. Tentava entender a situação, mas continuava muito confuso. Hyungwon tinha desapontamento em seus olhos, além de perceber outros sentimentos ali: raiva, constrangimento, medo.

— É isso que você acha de mim? — Hyungwon perguntou com a voz falha. Ele queria chorar, mas não faria ali, no meio de uma discussão idiota que envolvia ciúmes, preocupação, olhares sugestivos somente na cabeça de Minhyuk e um Kihyun se sentindo perdido com o que acontecia ali. — É isso que vocês acham de mim?!

— Não distorce o que eu disse. — Minhyuk se jogou no sofá novamente e cobriu os olhos com o braço. Era a primeira vez que brigava assim com Hyungwon. Não queria nem ter começado aquilo, mas se sentiu deixado por um instante e sua personalidade impulsiva acabou colaborando na criação da situação entre os três naquele momento.

— Hyunginie. — Kihyun tentou se aproximar, mas Hyungwon recuou um passo no mesmo instante.

— Você está com ciúmes ou queria fazer isso comigo de propósito? — Perguntou a Minhyuk. Não obteve resposta. Não se sentia tão mal há meses e sentir tais sentimento naquele instante, ainda por cima provocados pelas pessoas em quem mais confiava, foi duro, seu lobo se encolhia choramingando.

Minhyuk continuava no sofá, ele chorava em silêncio. Não tinha intenção nem dizer coisas que ofendessem o namorado, como havia feito, mas não conseguiu se segurar. Desejava pedir desculpa, mas também havia seu orgulho, então ficaria quieto por enquanto, mesmo sabendo o quão sensível Hyungwon era. Ele só queria ficar quieto ali.

— Hyungwon, olha para mim. — Kihyun tentou se aproximar de novo.

— Não chega perto. — Tornou a recuar. — Você concorda com ele, não é?

— Eu nem sei o que está acontecendo. Me explica. — Tentou falar, mas ele simplesmente baixou a cabeça. Acabou se calando diante disso. — Minhyuk. — No momento em que se virou para tentar chamar o outro namorado, Hyungwon saiu correndo pela porta da frente da casa. — Hyungwon! Aonde você vai? Hyungwon! — Tentou ir atrás e, ao perceber o que faria, estancou no lugar. Então, era isso? Teria que escolher? Ficar com um ou ir atrás do outro?

Ambas as marcas começaram a formigar e doer, como se estivessem enfiando várias agulhas ali. Kihyun gemeu baixinho e levou as mãos sobre cada uma delas tentando em vão amenizar a ardência.

— Kihyun. — Minhyuk apareceu ao seu lado, o rosto molhado pelas lágrimas e um olhar preocupado.

— Eu não quero escolher. — Murmurou, dolorido.

Então, ter um relacionamento como o deles significava isso? Um deles sempre sobraria? Haveria sempre uma situação como aquela, onde teriam de escolher com quem ficariam? Ele não queria passar por aquilo, eles se amavam como um, eles eram um, nem mais, nem menos: eles se completavam.

— Nós vamos atrás dele, só se recomponha antes. — Minhyuk disse baixo, mas talvez quem precisasse se recompor fosse ele.

— Eu estou bem. — Kihyun se levantou, mas antes de saírem, voltou a encarar o namorado e levou as mãos ao rosto dele, limpando as lágrimas da face bonita. — Não levante essas hipóteses de novo. Você conhece ele melhor que ninguém, sabe que ele não seria capaz disso. Eu amo vocês dois, quero cuidar dos dois, mas, para isso dar certo, nós precisamos conversar. Um relacionamento não existe a base de suposições e desconfiança, mas de diálogo e companheirismo. Antes de sermos namorados, somos amigos e em breve, pelo menos eu espero, que sejamos uma família. — Beijou-o demoradamente.

Minhyuk, que não tinha o que responder, só aceitou o carinho e pensou no quão idiota havia sido e no resultado daquela discussão. Kihyun tinha razão: conhecia Hyungwon melhor que qualquer um. Sabia o efeito de palavras rudes ou doces sobre ele, o impacto daquilo tudo causaria e as possibilidades nada agradáveis surgiam em sua cabeça, fazendo-o estremecer de preocupação.

 

(…)

 

Hyungwon saiu correndo da casa do namorado e já estava a dois quarteirões de distância quando decidiu parar de correr pelo cansaço. Nunca teve uma saúde boa, sem falar que era sedentário. Puxou o ar rapidamente, tentando recuperar o fôlego, mas o choro também lhe roubava o oxigênio.

Estava inquieto, assim como seu lobo, e ambos choravam de tristeza. Nunca esperou aquilo de Minhyuk. Era seu Min, seu primeiro porto seguro, quem tinha dado cor a sua vida, que agora, longe dele e de Kihyun, havia se tornado uma grande escala de cinza.

Tentava conter as lágrimas enquanto se afastava ainda mais da casa dos Yoo. Virou a esquina e seguiu em frente. A rua estava vazia, era tarde e aquele bairro era tranquilo, e mesmo que fosse perigoso, ele não se importava. Talvez aquele fosse o fim, talvez aquilo nem devesse ter começado, talvez a melhor saída fosse sumir e deixar Minhyuk e Kihyun sozinhos. Eles seriam felizes sem ele, sabia disso. E pela primeira vez em meses, as palavras de seu pai lhe invadiram a mente. Como se deixou levar? Sorriu amargurado e pensou em sua mãe, como ela estaria?

A brisa gelada da noite fazia sua pele se arrepiar. Não estava devidamente agasalhado, mas também não se importou. Parou de andar quando viu uma mulher na calçada do outro lado da rua com uma criança. Ela segurava o menor pelos braços o balançando do jeito que podia, tirando gargalhadas da criança, até que ela se cansou e carregou o garoto girando com ele como sua mãe um dia fez consigo. Acabou sorrindo com a lembrança.

A mulher percebeu que estava sendo observada e sorriu para ele, que retribuiu o gesto envergonhadamente por ter sido pego. A criança acenou, então também lhe retribuiu. Ela entrou numa casa grande, provavelmente sua residência. Hyungwon continuou seu caminho, caminho esse que nem ele conhecia, só estava andando sem rumo certo.

Seus pensamentos retornaram a sua mãe. Ela teria acordado? Depois de tantos anos, achava aquela possibilidade impossível. Yoona estaria cuidando dela, mas ela teria sofrido algo depois que saiu da casa? Provavelmente, sim. Seu pai era cruel com seus empregados, era consigo também. Então, sacudiu a cabeça a fim de tirar aqueles pensamentos de sua cabeça. Pensar no pai o deixava mal e, no estado atual, se perguntava se poderia piorar.

Passou em frente a um bar e notou como já estava bem longe da casa do namorado. Viu seu reflexo no vidro espelhado do local e observou o rosto magro, os lábios estranhos ao seu ver. Fazia meses que não se analisava daquela forma, até porque Minhyuk e Kihyun estavam sempre dizendo o quão bonito ele era. Mas agora, longe deles, sua insegurança dava as caras depois dessa discussão idiota, por um motivo mais idiota ainda. Hyungwon pensou se não seria isso apenas um pretexto para terminarem.

Fazia todo sentido em sua cabeça. Eles haviam se dado conta do peso que carregariam e estavam tentando se livrar disso. Olhou seu reflexo mais uma vez antes de sair dali a paços lentos. Olhou ao redor, havia algumas casas por ali, e além daquele bar, só havia uma loja de conveniência na esquina. Não tinha para onde ir, nem onde quisesse ir. Sua cabeça dava voltas, sempre nos mesmo assuntos: Minhyuk, Kihyun, sua mãe, Yoona e o pai.

Sentou-se no meio fio. Até choraria só que suas lágrimas pareciam ter secado, apenas a tristeza se fazia presente, acompanhada por algo que ele não sabia o que era. Talvez raiva por Minhyuk ter duvidado de sua fidelidade, indignação por Kihyun não acreditar em si, ódio do pai, saudades da mãe e dos cuidados de Yoona. Ela, com certeza, o deixaria chorar em seu colo.

— Se eu for lá, ele é capaz de me matar sem pensar duas vezes. — Pensou alto e encostou a testa no joelho ficando encolhido ali, sentindo-se sozinho e com uma certa vontade de ir até sua antiga casa. Nem sabia o motivo certo, talvez fosse só a solidão, mas apanhar de seu pai o desestimulava e lhe roubava a coragem.

Hyungwon levantou o rosto e olhou suas mãos. Encarou o punho que havia usado para quebrar o espelho de seu antigo quarto. Ainda haviam cicatrizes ali.  Apoio o queixo no joelho e tornou a observa as mãos, eram grandes. Também pensou como mais alto que Kihyun, talvez o alfa não gostasse disso. Mas Minhyuk também era maior que ele. Em compensação, era muito bonito. Ambos eram lindos para si, eles eram perfeitos. Queria ser abraçado pelos dois naquele momento, onde até suas lágrimas o abandonarem.

— Hyungwon! — Os deuses atenderam suas preces mais rápido do que o esperado. Ele hesitou em direção as vozes e mesmo que tivesse ignorado, ambos vieram até si para logo lhe abraçarem.

— Meus deuses, você está congelando! — Aquilo não era mentira. Já fazia algum tempo que estava fora de casa mal agasalhado, tinha noção dos seus lábios trêmulos e arroxeados, assim como as unhas de igual coloração denunciando seu frio. — Vista isso. — Hyungwon olhou de esguelha Minhyuk lhe estender o casaco que vestia.

— Eu posso dar o meu pra ele. — Kihyun sugeriu.

— Não. Eu saí com um casaco extra, você não. Vou ficar bem só com o suéter da escola. — Minhyuk tornou a sinalizar para Hyungwon pegar o casaco. — Hyunginie, por favor, veste. Está fazendo menos de treze graus agora. Não quero que fique doente.

— Assim como não quer acreditar em mim e prefere ficar me acusando de algo que não fiz por causa de ciúmes? — Falou pela primeira desde que chegaram, ainda sem encará-los.

Minhyuk mordeu o lábio, receoso sobre invadir o espaço pessoal dele, porém, no final, colocou seu agasalho envolta dos ombros de Hyungwon.

— Eu sei o que disse. — Suspirou enquanto ajeitava a roupa de frio nele. — Era só que…

— Você preferiu ver coisas onde não existiam por ciúmes. — Ressaltou as duas últimas palavras, olhando nos olhos dele. — Depois de dizer o que eu sinto por você durante todo esse tempo que a gente se conhece, você se deixou levar por uma suposição ciumenta criada pela sua cabeça! — Disse o que estava entalado na garganta. Estava ferido com tudo aquilo, doía pensar que a pessoa a qual ama há tanto tempo não confiava em si. — Eu olhei mesmo para o Shownu, mas só o fato de olhar para ele quer dizer que traí vocês? — Perguntou num misto de chateação e incredulidade.

— Não é isso. Eu sei que você não é assim. — Minhyuk ficou cabisbaixo. Hyungwon nunca havia falado assim consigo, sentia-se a pior pessoa do mundo por ter causado tudo aquilo.

— Se você sabe, então por que me acusou? — Não houve respostas por parte dele. Voltou-se para Kihyun. — Você também pensa que sou assim? — Pela primeira vez, notou como Kihyun aparentava sentir dores, provavelmente causadas pela marcação.

— Claro que não. — Respondeu sem hesitar. As marcas continuavam a arder e pulsar. — Eu realmente não sabia do que vocês estavam falando, por isso não consegui reagir. Eu só quero entender o que aconteceu. — Tocou o rosto dele, mas Hyungwon logo se esquivou do toque. A marca que ele deixou em seu pescoço doeu como se houvesse levado uma ferroada ali. Tentou ao máximo não deixar transparecer. — Hyunginie, eu sei que está bravo com nós dois, mas vamos conversar direito.

— Eu nunca pensei em trair vocês. — Esclareceu de uma vez por todas. — Eu não gosto de falar o que sinto, mas já disse que amo vocês dois. Por que não acreditam nisso? — Perguntou sufocado.

— Nós acreditamos. Nós também te amamos. — Kihyun segurou as mãos dele. Estavam geladas, então começou a aquecê-las com as suas.

— Me desculpa, Hyunginie. — Minhyuk não ligou se ele não queria contato, abraçou-o forte. — Eu não queria causar tudo isso.

— Eu sei que você não deve querer nem olhar para a gente agora, mas precisamos voltar para casa. — Kihyun disse. — Está muito frio, e você pode ficar doente. Nós conversamos melhor amanhã quando tudo estiver mais calmo.

— Sim. Por favor, Hyunginie. — Minhyuk pediu.

Hyungwon anuiu com um movimento de cabeça. Kihyun colocou a mão na base de sua coluna a fim de lhe guiar durante o trajeto. Não repudiou o toque, mas ficou a encarar seus pés para sinalizar que não queria papo no momento. Minhyuk caminhava a seu lado, e podia sentir que ele estava se contendo para segurar sua mão. Algo que havia se tornado tão comum a ponto de virar hábito, mas que agora não faria questão de retribuir.

Um silêncio pesado pariu sobre os três no caminho todo, nem mesmo quando retornaram a casa de Kihyun pareceu aliviar. Kihyun abriu a porta e deu espaço para Hyungwon entrar e ao estar prestes a fazer o mesmo, Minhyuk segurou a manga do seu suéter escolar.

— Eu não vou entrar. Tenho que ir para casa. — Avisou ao passo que umedecia os lábios.

— Tem certeza? Você pode ficar mais um pouco. — Kihyun tentou convencê-lo, mas estava irredutível.

— Eu preciso dar um pouco de espaço para ele agora. — Suspirou. Aproximou-se para dar-lhe um beijo demorado. — Até amanhã.

— Até. — Sussurrou.                     

Minhyuk olhou por cima do ombro de Kihyun e percebeu Hyungwon ainda ali, observando-os. Sua vontade era ir até ele e roubar um beijo, mas o clima não propiciava isso. Ao invés disso, foi em direção a ele e beijou-o na bochecha. Hyungwon desviou o olhar quando afastou os lábios da pele dele, ato que fez seu coração apertar.

— Até amanhã. — Não esperou respostas. Fez sinal para o primeiro táxi que passou e entrou nele.

Kihyun fechou a porta assim que o automóvel acelerou rumo a casa do namorado, ele podia sentir o clima tenso pairando sobre os três.

— Eu vou tomar banho. — Hyungwon subiu as escadas enquanto pensava no ocorrido. Nunca havia brigado com os namorados, e mesmo sabendo que nenhum relacionamento é perfeito, aquilo tudo machucava.

Definitivamente, seria uma longa noite.

 

(…)

 

Ao deixar aquela confusão para trás, Henry seguiu o caminho até o corredor, onde viu um ômega de jaleco com um livro nas mãos. Ele estava tão concentrado que fazia surgir sinais de expressão em sua testa.

— Licença, você pode me dizer é o quarto de Shin Hoseok? — Henry perguntou e o ômega lhe encarou.

— Desculpe, pode repetir. Eu não entendi o que falou. — O garoto fechou o livro grande e grosso e o colocou sob o braço.

— O quarto de Shin Hoseok. — Repetiu.

— Ah, o ômega dos trigêmeos. — Henry sorriu com as palavras do garoto, mas estava triste pelo ocorrido com o Shin. — É primeiro quarto virando à esquerda no fim desse corredor.

— Obrigado! — Henry agradeceu e seguiu o caminho.

Ao ficar em frente a porta do quarto, ele respirou fundo ainda pensando em Changkyun. Não podia, ou melhor, não devia se estressar, fazia mal ao seu bebê. Suspirou, batendo três vezes antes de entrar.

— Hyung? — Hoseok estava claramente surpreso de vê-lo ali. — O que faz aqui? — Perguntou. Henry tentou manter a calma, ainda queria enfiar a mão na cara da mulher por ter menosprezado Changkyun.

— É uma longa estória. — Caminhou até o leito de Hoseok, aproveitando para tirar o casaco que usava e deixá-lo sobre a poltrona que havia no quarto. Ficou apenas com sua camiseta social, que era bem larga, mas pelo tecido branco delicado, era perceptível o pequeno volume em seu abdômen.

Henry se sentou na beira da cama. Ele ainda o encarava questionador, então começou a explicar o ocorrido, mas parou quando viu que não tinha a atenção dele. Ele estava disperso e encarava sua pequena protuberância, então preferiu se calar.

Hoseok tinha sua cabeça longe dali. Lembrou de seus falecidos filhotes, da conversa com Hyunwoo e das declarações que ele lhe fez. Foi inevitável não lembrar da mãe e da irmã, que sofreram tanto para no fim não conseguirem a felicidade que Hoseok idealizava para elas. Tudo que já havia passado caiu sobre si como um prédio desabando, e ele não podia fazer nada se não correr, era coisa demais e estava soterrando-o.

— Hoseok. — Henry o chamou, e ele percebeu o que fazia, notou também seus olhos marejados.

— Desculpe, é que eu… — não conseguia falar, nem teria o que falar. Estava sofrendo, nada poderia curá-lo naquele momento. Tudo o que tentava segurar a dias, parecia estar vindo com força. Mesmo depois de tanto choro, ainda está cheio de mágoas, de dor, de desespero.

— Tudo bem. — Henry disse calmo. — Eu vou para o sexto mês. Já, já ele vai estar aqui comigo. — Sorriu ao fim da frase enquanto acariciava a barriga. — Quer tocar? — Sua sugestão deixou Hoseok nitidamente envergonhado. — Ele chuta forte, mas geralmente eu estou sozinho quando ele faz isso. MiMi nunca sente ele chutar direito. — Riu ao lembrar da chateação do marido que nunca consegui sentir a força do chute do filhote.

Hoseok sorriu ao imaginar o casal tentando sentir o chute do bebê e ainda por saber que Henry ficava perturbando Zhoumi por causa disso.

— Qual o sexo biológico? — Hoseok questionou. Nos últimos tempos, antes dessa loucura toda, ele havia descoberto muita coisa enquanto pesquisa sobre bebês, assuntos como os diferentes gêneros, desde não binários até outros que nunca soube da existência até aquele momento. Ele abriu sua mente para a diversidade de gêneros e sabia que independente do que seus filhotes se identificassem, ele os amaria.

— Não sabemos. Eu pedi para o médico não nos contar, vai ser surpresa. — Henry parecia cheio de luz ao falar do pequeno filhote dentro de si.

— Mas já pensaram nos nomes? — Hoseok continuou perguntando. Gostava daquele assunto, além de fazê-lo esquecer outros problemas.

— Também não. — Riu. — Disse ao MiMi que quando nosso filhote nascer, eu vou olhar para ele dar o primeiro nome que vier. Vai ser especial. Não quero escolher com antecedência… Nossa! — Exclamou e segurou a mão de Hoseok.

— O que foi? Está sentindo algo? — Ficou preocupado ao ver o outro de olhos fechados, mas Henry sorriu. Juntou as sobrancelhas, confuso.

— Eu estou bem! — Garantiu, ainda sorrindo. — Acho que meu bebê gosta de você, Hoseok. — Henry segurou com cuidado a mão enfaixado dele e a levou até sua barriga. Naquele momento, o pequeno chutou, e Hoseok não conseguiu conter o sorriso.

— Que forte! — Ele sentia, mesmo que precariamente, o bebê chutar com força.

— Henry, ele está acordado? — Zhoumi passou pela porta, seguido por Donghae e Siwon. Hoseok já havia puxado, com certa violência, sua mão da barriga de Henry no momento da entrada deles. Os três alfas observaram Hoseok fazer uma cara estranha de dor, ele havia puxado o braço muito rápido.

— Não puxe o braço assim, vai se machucar. — Henry reclamou e se levantou da cama. — Eu vou esperar lá fora! — Pegou seu casaco e abriu a porta. — E só para você saber, Zhoumi, ele chutou bem forte quando Hoseok tocou minha barriga. — E saiu dali. Aquele era seu jeito de dizer que ele havia atrapalhado o momento.

Zhoumi olhou para a porta e choramingou.

— Meu filho é forte, Hoseok? — Hoseok encarou o psiquiatra se aproximando da cama com ansiedade no olhar. Riu e mexeu a cabeça positivamente, fazendo-o sorrir largamente.

— Nós também vamos esperar lá fora. — Siwon disse antes de se aproximar de Hoseok e deixar um beijo na testa do ômega. — Ele vai ajudar, você sabe. Seja sincero. — Ele assentiu com seu pedido. Donghae fez o mesmo que si, mas não disse nada, apenas sorriu para o mais novo antes de ambos saírem do quarto.

— Vamos conversar, Hoseok. — Zhoumi disse enquanto se arrumava na poltrona. — Vamos superar tudo isso juntos.

Hoseok suspirou já sabendo quão longa seria essa conversa.

 

(…)

 

Após Hyungwon subir as escadas, Kihyun foi até o sofá e se jogou ali respirando fundo. Uma pequena dor de cabeça se instalou, distraindo-lhe das marcações doendo. Não queria que aquela discussão tivesse acontecido, ainda mais por estar ciente do quão frágil Hyungwon era.

— Eu nunca vou escolher entre eles. — Murmurou para si mesmo.

Ele ficou ali, pensando no ocorrido e em todo clima pesado que ficou sobre eles. Esperava que Minhyuk houvesse chegado em casa em segurança, que Hyungwon houvesse tomado um longo banho quente para não ficar resfriado e que tudo se resolvesse logo, pois não só a sensação que as traziam para si eram ruins, o clima pesado entre eles também era.

Não soube quanto tempo se passou, mas se sentou ao ouvir o som da porta se abrindo. Logo, viu os pais e o irmão entrarem na residência. Changkyun entrou cabisbaixo e não falou consigo, seguiu direto para as escadas.

— O que faz aqui? — Siwon se aproximou e beijou o topo da cabeça de Kihyun, sendo seguido por DongHae. — Onde estão Hyungwon e Minhyuk?

— E que cara é essa? — Donghae se sentou ao lado do filho.

— A gente discutiu por um motivo idiota. Eu não queria que isso acontecesse. E eu me senti encurralado. — O mais novo explicou. — Vocês tiveram que escolher quando Eun omma estava aqui? Amavam em intensidades diferentes?

— Não, filhote. O que aconteceu é normal. Discussões e desavenças por motivos bobos é mais comum do que você pensa. Mas não é possível medir o sentimento. Eu posso dizer que amo Siwon tanto quanto amo Eunhyuk. Eu ainda o amo, mesmo depois desses anos. — Donghae explicou, e o filho lhe viu fechar os olhos. Falar de Eunhyuk os levava a aquele clima melancólico.

— Pelo que disse, a briga foi entre eles dois. — Siwon disse, e o menor concordou. — Deixe que eles se acertem. Se você não teve culpa, eles vão ver isso e vão deixar passar. Todo relacionamento passa por isso, filhote. Você tem que aprender a lidar com seus ômegas.

— Mas eu sinto como se eu tivesse que escolher qual deles merece mais amor que o outro. Eu não consigo, não posso fazer isso. — Kihyun parecia sofrer com aquilo.

— Filho, converse com eles amanhã. Se for real, vai dar tudo certo. — E Kihyun assentiu, seus pais tinham razão.

— Agora, — Siwon chamou sua atenção. — Tente ajudar Changkyun.

—O que aconteceu? — Kihyun já estava preocupado desde a ligação do mais novo.

— Amanhã, nós contamos tudo. Mas ele não está bem, cuide dele. Acho que eu e Donghae não seremos bons o suficiente hoje. Você fará isso melhor que nós dois. — E os pais de Kihyun se levantaram para irem ao quarto deles após desejarem boa noite ao filho. Eles não estavam com fome, só queriam deitar e dormir.

Kihyun trancou a casa devidamente e desligou as luzes, dirigindo-se para o segundo andar da casa. Foi até o quarto irmão e viu ele enxugando os cabelos com uma tolha de forma lenta.

— Quer ajuda? — Perguntou ao menor que o encarou e assentiu.

Ele pegou a toalha e secou com cuidado os fios do irmão. Não seria invasivo ali, só queria ficar com ele.

— Posso dormir com você? — Changkyun o olhou sob a toalha. Percebendo que ele iria perguntar sobre Hyungwon, logo respondeu sua pergunta não feita: —Nós brigamos. — Changkyun entendeu a situação. Apenas sorriu triste diante do olhar de “Eu sinto muito, hyung” que ele ostentava.

Kihyun esperou o irmão se deitar e foi até o quarto. Hyungwon já estava deitado, não iria mexer com ele. Foi direto para o banheiro, tomou um banho rápido e vestiu uma roupa confortável para dormir. Ao estar pronto, olhou para a cama, onde Hyungwon permanecia deitado na mesma posição e se aproximou.

— Hyunginie. — Deslizou os dedos pelos fios negros. Hyungwon continuou de costas para si, agarrado ao seu travesseiro. — Kyunnie não está bem, então vou dormir com ele. Tudo bem se você dormir sozinho hoje? — O silêncio foi sua resposta. — Ok. — Suspirou. Em seguida, inclinou-se sobre ele para que pudesse beijá-lo longamente na têmpora. — Boa noite. Eu te amo. — Sussurrou a última parte no ouvido dele antes de levantar.

Quando a porta do quarto se fechou, Hyungwon olhou para trás. Não teria sua ligação com Minhyuk hoje, nem mesmo Kihyun iria dormir ali. Seria apenas ele e o travesseiro com o cheiro do alfa naquela noite.

 

(…)

 

Minho atravessou o hall principal do hospital, caminhando em direção ao refeitório. As pessoas que passavam por si, alguns funcionários, visitas e pacientes, cumprimentavam-no, e ele educadamente os respondia. Apesar de sorridente, as olheiras sob seus olhos denunciavam seu cansaço. Estava mantendo-se acordado a base da cafeína, nem lembrava mais quantos copos já havia tomado. Não estava nos seus planos passar a noite ali, aliás era para ser a sua folga hoje, entretanto a chegada de várias pessoas feridas envolvidas num acidente entre dois ônibus o obrigou a ficar. Claro, aquele era seu dever, sua profissão. Ainda assim, precisava dormir.

Agradeceu a senhora que preparou seu café, exibindo seu tão costumeiro sorriso, e seguiu em direção a sala de descanso. Precisava aproveitar o momento de tranquilidade para tirar ao menos um cochilo de trinta minutos já que a cafeína já não fazia mais efeito e programar a visitação para discorrer um caso clínico com os novos internos, fora seus pacientes que precisava verificar o estado. Pelo visto, seria um dia bem atarefado, nada que já não estivesse acostumado.

A sala de descanso estava vazia quando chegou, assim como seu copo de café que bebeu durante o trajeto. O som da movimentação característica do hospital parecia distante no momento e possibilitava um clima propício para descansar. Soltou um suspiro longo ao sentar em uma das camas beliche e suspirou ainda mais quando retirou seus sapatos após tanto tempo calçado. Esticou-se no colchão, procurando uma boa posição para ficar e quando a encontrou, colocou um dos braços sobre os olhos para deixar o ambiente mais escuro. Enfim, um pouco de sossego.

Minho acordou, ou melhor, foi acordado por alguém. O estado recém desperto lhe deixou perdido e precisou de alguns instantes para se situar. A luminosidade do recinto lhe obrigou a piscar continuamente até que seus olhos se acostumassem. Quando sua visão deixou de ser um aglomerado de focos de luz, o rosto de Kibum surgiu em seu campo de visão.

— Hora de voltar ao trabalho, Ming. — Minho soltou uma risada preguiçosa.

— Faz anos que não te ouço me chamar assim. — Comentou ao que se espreguiçava.

— Não vai se acostumando, Choi. — Franziu as sobrancelhas. — Vamos, levanta. Você conseguiu dormir por quase duas horas já que foi dormir “cedo”.

— Duas horas? — Verificou o celular. — Dei sorte.

— Agora, quero ver se eu tenho essa sorte. — Kibum sentou ao lado dele para retirar os sapatos.

— Se o Kibum que eu conheci na faculdade te visse com essas olheiras, surtaria e ainda iria te obrigar a fazer um monte de procedimentos estéticos. — Minho esticou o braço para tocar as bolsinhas formadas sob os olhos dele.

— Estou tão acostumado com elas que já nem me incomodo mais. Pelo menos, os jovens de hoje acham isso um charme, vai entender. —Empurrou seus calçados para baixo da cama. Em seguida, voltou-se para ele. — Está esperando que eu te expulse ou o que?

— Há outras camas aqui, majestade. Ou será que quer dormir sentindo meu cheiro? — Sorriu de canto.

— Você é beta. Seu cheiro não exala tanto. — Revirou os olhos.

— Mesmo assim, você não perde a oportunidade de fazer parecer que dormimos juntos. — Provocou e ganhou uma risada debochada.

— Vai sonhando, Choi. — Passou a empurrá-lo até que ele estivesse a ponto de cair no chão. — Anda, sai. Eu quero dormir um pouco.

— Já estou saindo, calma. — Levantou-se e puxou com o pé seus sapatos debaixo da cama. Calçou-os logo, mas antes de deixar o recinto, encarou Kibum por cima dos ombros. — Ainda tem dificuldade para dormir?

— Sempre tive. Isso não é novidade para você. — Ele, já deitado, deu de ombros.

— Tem uma máscara de dormir debaixo do travesseiro. — Viu o amigo e rival enfiar a mão sob onde sua cabeça repousava e retirar o objeto de lá. — Sei que meu querido Bummie não quer que a claridade estrague seu sono da beleza.

— Não me chama assim, idiota! — Sentiu o rosto avermelhar pela vergonha de ouvir seu antigo apelido e, num acesso de raiva, jogou o travesseiro nele.

Minho riu quando fechou a porta, bem a tempo de se safar da ofensiva. Não importava quanto tempo passasse, Kim Kibum continuaria sendo o mesmo ômega que adorava atazanar.

Assim que deixou a enfermaria, Minho retornou ao trabalho. Amava sua profissão, mas seu corpo estava exigindo um descanso decente, embora houvesse dormido um pouco. Ainda era cedo, então conseguiu fazer seus afazeres a tempo. Faltava programar a visitação dos novos internos a um dos pacientes, e mesmo sabendo que deveria agendar isso o quanto antes, já que isso aconteceria em pouco menos de uma hora, assim que conseguiu uma brecha, encaminhou-se ao quarto de Hoseok.

O sol entrava pela janela e nem mesmo a claridade parecia atrapalhar o sono pesado dele. Minho sorriu, sentindo um pouco de inveja por vê-lo dormindo tão bem. Entrou de forma cautelosa, fazendo o mínimo de barulho possível. Aproximou-se da cama. O rosto sereno repousava no travesseiro, a franja castanha e longa deslizava preguiçosamente para o lado, os lábios rosados entreabertos expeliam a respiração calma. Bonito até mesmo dormindo. Minho precisou conter sua vontade de tocá-lo no rosto.

Aproveitou que já estava ali para examiná-lo. Não deixava de ser uma desculpa para ficar um pouco mais de tempo perto dele, ainda que fosse um procedimento necessário. E apesar de todo o cuidado, após um determinado momento, as pálpebras de Hoseok começaram a se remexer.

— Bom dia. — sussurrou enquanto sorria para o rapaz sonolento. — Desculpe ter te acordado.

— Oi, Minho. — A voz dele saiu rouca e um sorriso preguiçoso repuxou seus lábios. — Que horas são?

— Não deve ser mais do que sete e vinte. Não quer dormir mais um pouco? Posso vir te examinar depois.

— Não. — Bocejou. Minho se aproximou e mexeu na cama para que ficasse parcialmente sentado. — Já está trabalhando tão cedo?

— Eu ainda não terminei meu plantão, na verdade. — Sorriu da careta que ele fez. — Prometo que vou ir descansar logo. — Garantiu. Não havia esquecido das vezes que Hoseok reclamou sobre não estar dormindo direito por causa dos plantões, isso quando ainda dormia com ele.

— Acho bom mesmo. — Resmungou. Ouviu uma risada baixa dele, mas não mudou sua expressão. — Ah… Minho. — Chamou baixinho. — Você — umedeceu os lábios. — Viu o Shownu por aí?

Minho sentiu-se encurralado. Hoseok estava lidando com tantas coisas, será que deveria soltar outra bomba para ele? Não deveria contar, claro, isso iria contra a ética do sigilo médico, mas era Hoseok, não gostava de mentir ou esconder algo dele. Aquela dúvida martelava em sua cabeça: contava ou não contava? Essa era uma pergunta a qual não sabia como responder.

— Minho? — A voz de Hoseok o despertou de seus devaneios.

— Desculpe, estou um pouco cansado do plantão, não queria te deixar falando sozinho. — Hoseok balançou a cabeça como se estivesse dizendo que estava tudo bem. — Bem, estava ocupado tentando agendar uma visitação para os novos internos. Não lembro de ter visto ele pelo hospital.

Hoseok soltou um “Ah” que pareceu murchá-lo um pouco. Naquele segundo, Minho sentiu-se a pior pessoa do mundo por estar mentindo para ele.

— Preciso voltar a trabalhar antes que notem meu sumiço. — Usou a primeira desculpa que veio em mente. Precisava sair logo antes que a culpa começasse a lhe remoer. — Ah, Hoseok. — Quando estava prestes a deixar o quarto, parou na porta. Hoseok lhe encarou, curioso. — Eu poderia trazer os internos aqui? Para a visitação. — O olhar confuso dele lhe fez explicar: — Pelo que parece, você é único paciente meu que pode receber visitação de internos no momento. Mas eu só os traria aqui se estivesse tudo bem para você.

Sua insegurança e receio eram tão óbvios que Hoseok não precisou se esforçar para perceber.

— Não tem problema. Pode trazer eles. — Sorriu.

— Ok. — Minho passou a mão no cabelo para disfarçar o nervosismo. — Volto mais tarde com eles. Até logo.

Minho fechou a porta atrás de si e soltou um suspiro pesado. Precisava se ocupar até o momento da visitação, senão era capaz de ficar se martirizando por ter pedido algo assim a Hoseok. Ele não estava recuperado do trauma recente, e havia pedido para discorrer o caso clínico dele para uma visitação? Não sabia o que tinha na cabeça para fazer algo assim a ele.

— Ah, por que eu fiz isso? — Resmungou consigo mesmo.

Seu plano de manter-se ocupado para distrair sua mente deu certo, logo estava esperando a chegada dos internos. A pequena turma foi chegando aos poucos, mas dentro do horário previsto. Sorriu, eles eram bastante pontuais de uma forma geral e não lhe causavam problemas. Não era uma turma pequena, muito menos grande, porém bastante dedicada. Entre eles, havia três pessoas que destacavam: Do Jihan, um alfa que soube ser da sua idade e que só estava concluindo o curso agora por ter entrado na faculdade relatividade tarde, sendo o mais velho da turma; Kim Taehyung, o mais novo da turma, mas super dedicado e esforçado, um ômega que conquistava todos com seu jeito brincalhão, até mesmo o interno Do Jihan; e Lee Taemin, o segundo mais novo, tímido, porém bastante aplicado, gostava de falar que ele era o interno mais perspicaz dali. Os três juntos eram chamados de prodígios.

— Prestem atenção todos. — Minho falou ao chegarem à porta do quarto. — Estamos aqui para uma visitação. Quero que todos prestem atenção ao caso clínico, assim como os outros que vocês irão se deparar nesse estágio. Qualquer dúvida durante a explicação, levantem a mão, não interrompam. E vou exigir o máximo de compostura, estamos indo visitar um paciente. Alguma pergunta? — Perguntou. Todos negaram com a cabeça. — Vou avisá-lo. Esperem aqui.

Minho entrou no quarto. Hoseok olhou em expectativa, mas logo ela sumiu, conseguiu perceber o desapontamento ao lhe ver. Supriu um suspiro e caminhou até ele.

— Hora da visitação? — Ele perguntou.

— Sim. — Aproveitou que a porta estava fechada para segurar a mão dele. — Se você se sentir incomodado em qualquer momento, por favor, me avisa. Eu não vou continuar a visitação se você estiver desconfortável.

— Ok. — Ofereceu-lhe um sorriso.

Minho deixou um beijou no topo da cabeça dele e sentiu-se feliz por Hoseok não ter lhe impedido de fazer isso. Caminhou em direção a porta e, quando sinalizou para os internos entrarem, saiu da pose de amigo de Hoseok voltou a ser o médico responsável por seu paciente.

A visitação se sucedia de forma calma. Minho discorria os pontos importantes do caso clínico com clareza e objetividades, respondia às perguntas quando surgiam e elogiava comentários pertinentes que surgiu vez ou outra. Hoseok, devia dizer, parecia estar se segurando para não rir do seu ar totalmente profissional diante dos alunos, mas não demonstrou que não eram apenas médico e paciente. Todos ouviam sua explicação de forma concentrada, o interno Lee Taemin até demais, já aparentava estar completamente hipnotizado com tudo o que falava.

Bem, nem todos estava prestando atenção, na verdade. Desde o início da visitação, notou os internos Do Jihan e Kim Taehyung aos cochichos. Sabia que os dois eram namorados, afinal, eles nunca esconderam o relacionamento deles. Não sabia dizer se eles estavam lhe ouvindo, pois ambos não deixavam sussurrar um para o outro um segundo sequer. Aquilo não era um problema para si, mas o fato de estarem fazendo isso era uma falta de respeito.

— Kim Taehyung. — Chamou a atenção do interno. — A minha explicação do caso clínico está entediante e repetitiva?

— Não, senhor. — Taehyung respondeu, tentando recuperar a compostura.

— Acha que as visitações não são importantes? — Encarou-o fixo, sério.

— Claro que não, senhor. — Apertou os punhos, mas manteve ou tentou manter a expressão indiferente.

— Ou será que o fato de ser um dos internos que mais se destaca te deixa seguro o suficiente para ficar conversando com Do Jihan enquanto estou lecionando? — Silêncio. — Eu não ligo se são namorados. A partir do momento que chegam aqui, vocês são internos sob minha supervisão e avaliação. Pensem nisso antes de resolverem cochichar sobre seus problemas de relacionamento enquanto estão no estágio curricular obrigatório. Isso é, caso você e o interno Do Jihan, que também estava disperso graças a você, queiram ser bons profissionais. — Falou com toda calma e classe. Viu Jihan ficar cabisbaixo, constrangido, enquanto Taehyung, ao lado dele, enrubesceu, enrubesceu de raiva. Em seguida, voltou-se para outro interno. — Lee Taemin, poderia continuar de onde parei? — Ofereceu-lhe um sorriso.

— C-claro. — Taemin corou por aquele gesto ter sido direcionado unicamente para si.

Taemin, com auxílio de Minho, continuou a relatar o caso clínico. O clima ficou pesado sob os internos após a repreensão, nenhum deles ousou respirar um pouco mais alto para evitar um olhar torto. Jihan não respondeu mais aos cochichos do namorado, já Taehyung, de braços cruzados e cara fechada, passou a fuzilá-lo de esguelha. A conversa não havia acabado, iriam resolver isso assim que deixassem o estágio, e Taehyung tinha quase certeza que não seria nada pacífico.

 

(…)

 

A morte sempre foi algo que levantou muitos questionamentos a todos, mesmo quando os primórdios da humanidade que antecederam os híbridos existiram. Apesar de não ser alguém muito religioso, Hyunwoo, assim como a maior porcentagem da população mundial, acreditava nos deuses da natureza, que possibilitaram eficientemente experimentos genéticos com genes de espécies distintas em prol de uma nova e mais forte raça, e tinha sua própria concepção a respeito do assunto. Para ele, durante o tempo necessário para se reencarnar, a essência de um indivíduo permaneceria no plano pós-morte, algo similar ao que os extintos humanos chamavam de “céu”, um local sem limitações que possuía durante a vida: carne, espaço, tempo. Lá poderia ser e não ser uma projeção do local que antes viviam, para não o deslumbrar a ponto de o espírito ficar preso e não seguir fluxo da reencarnação. Caso isso acontecesse, ficaria numa forma de limbo, que também era outra incógnita. E parecia justamente o que estava acontecendo consigo.

Talvez todo o azar de seus “eu” passados estivesse sendo focalizado nessa vida. Mal havia se acertado com Hoseok, e, infelizmente, a chance que conquistou se perdeu graças ao o que quer que tenha lhe acontecido. Talvez, pensava ele, fosse melhor não insistir e deixá-lo seguir em frente… com Minho. Só de pensar nisso, sentia o sangue ferver, assim como a vontade de forçar-se a reviver por pura teimosia e não permitir.

Que pensamento ciumento, pensou. Nesse ponto, percebeu que era incerto dizer que estava morto, mesmo tudo ao redor estivesse lhe parecendo tão etéreo. A luz em seus olhos machucava, ainda assim parecia ser artificial, e não sobrenatural ou divino. As paredes brancas pareciam reais, o teto de igual cor idem, o cheiro de limpeza, até mesmo o som irritante do que sabia ser um medidor de frequência cardíaca.

Analisou os arredores. Não precisava de muito esforço para reconhecer um quarto de hospital. Por qual motivo estava nele? Tentou repassar os acontecimentos recentes em sua cabeça, em busca de alguma pista. Lembrava-se dos pais de Kihyun, dos amigos que vieram visitar Hoseok, da promessa que fez com ele… um sorriso surgiu em seu rosto instantaneamente ao recordar disso. Havia, afinal, uma verdadeira chance de se redimir de seus erros apesar de tudo o que aconteceu.

O som da porta do quarto se abrindo o despertou de seu devagar. Ainda entorpecido pelo recente despertar e também pela anestesia, encarou, um pouco absorto naquele estado, quem entrava. Não sabia se era ironia ou se os deuses gostavam de testar sua paciência, mas nem de longe esperava encontrar com Minho tão cedo. Definitivamente, a vida gosta de tirar graça com a minha cara, concluiu com um meio sorriso. E sua ação pareceu chamar a atenção dele.

— Finalmente acordou. — Minho se aproximou e apertou um botão do controle da cama para que ficasse meio deitado meio sentado. — Como está se sentindo?

— O que… — a voz falhou na primeira tentativa.

— Aqui. — Pegou o copo d’água disposto no criado-mudo. Em seguida, ajudou-o a beber e surpreendeu-se por Hyunwoo não ter recusado o gesto. — Melhor?

— Por que… não está… de jaleco? — A fala saiu um pouco arranhada. Pelo menos, estava compreensível. Estava sendo um pouco difícil de falar, parecia que, mesmo fazendo esforço, sua voz não estava formando direito as palavras.

— Não era isso que iria me perguntar. — Minho levantou uma sobrancelha. — Até médicos plantonistas merecem um descanso.

— O que… aconteceu?

— Não posso te contar em detalhes, já que eu quebrei algumas normas do código de ética ao te ajudar. — Hyunwoo sorriu fraco, mas debochado. Não imaginava que o Sr. Perfeito que todos vangloriam fosse capaz de burlar regras. — Bom, você não estava tão bem. Quando deixou o quarto de Hoseok, desmaiou antes de sair do hospital.

— Eu… não tinha… apetite. — Tentou justificar o incidente.

— Sua má alimentação não foi a maior culpada disso. — O ar mal-humorado sumiu do rosto debilitado do paciente. — Há quanto tempo estava sentindo dores de cabeça, tontura e a visão falhar?

— Como você… — Hyunwoo desviou o olhar por um breve instante, constrangido. Sentia-se totalmente exposto para ele naquele segundo. Suspirou. — Não… lembro direito, mas isso… começou tem alguns… meses. Por que… está me… perguntando isso?

— Porque esses indicativos nos fizeram te levar para a sala de cirurgia. — Os olhos de Hyunwoo dobraram de tamanho.

— O… que? — Sua voz soou assustada. — Eu fui… operado? — Seu olhar passou a procurar por pontos em seu corpo.

— Fique calmo. Você ainda precisa de repouso. — Minho parou os movimentos agitados com cuidado, ouvindo um suspirar nervoso. — Você está procurando no lugar errado. — Indicou os pontos.

— O que… eu tinha? Um… tumor? — Perguntou enquanto dedilhava os pontos. Até mesmo gesticular estava parecendo difícil, assim como formar fazer. O que estava acontecendo consigo? — Pra… eu ter… passado por uma… neurocirurgia, só pode… significar isso.

— Não é meu dever te explicar isso. A única coisa que posso dizer é que tudo correu bem, e você ficará totalmente recuperado da cirurgia logo. — Ouviu outro suspiro nervoso. Já havia percebido o incômodo dele por não estar sendo capaz de realizar direito ações simples como falar e gesticular graças a disfunção gerada pela retirada do tumor.

— Por… que está… aqui? — Minho juntou as sobrancelhas, confuso. — Achei… que me… odiasse.

— Tenho diversos motivos para te odiar. — Não negou tal fato. — Mas não odeio. Apenas repudio suas atitudes de quatro meses atrás. E também fui eu quem te socorreu.

— Você poderia… simplesmente… ter me deixado… morrer. — Havia um humor ácido incrustado em suas palavras.

— Isso vai contra minha profissão. Além que — foi a vez de Minho suspirar e desviar o olhar. — Hoseok jamais me perdoaria caso fizesse isso.

Hyunwoo enrugou a testa numa carranca ao ouvir as palavras dele. Ver Minho falar de Hoseok ainda lhe trazia certo desconforto. De início, acreditava que tudo o que ele fazia era para se aproveitar e tentar algo com Hoseok, mas depois de vê-lo fazer tudo isso, sua concepção havia mudado um pouco. Ele não o ajudou para obter chances, afinal não haviam. Sabia que Minho presenciou, atrás da porta, quando se acertou com Hoseok. Minho não era egoísta apesar de tudo, e espantava-se por ver isso.

— Eu precisei ligar para o Changkyun. — Minho voltou a falar.

— Por que ligou… pro filhote? — O outro estranhou o modo como chamou Changkyun, mas pareceu logo deixar de lado.

— Você, querendo ou não, ainda não tem maioridade, então era necessário notificar seus responsáveis.

— O filhote… não é meu… responsável.

— Mas era a única pessoa mais próxima de você que eu conhecia. — Não se importou com a resposta atravessada. — Jooheon estava com ele e avisou a sra. Son depois de chegar ao hospital. — Hyunwoo bufou. — Você não parece gosta dela.

— E… você gosta? — Rebateu na defensiva.

— Simpatizo mais com você do que com ela. — Confessou com um estalar de língua por relembrar do pequeno transtorno causado por ela. — Depois de vê-la, até entendo por que seu temperamento é assim. — Murmurou.

— Por que… não estou… surpreso? — Riu debochado. Minho havia esquecido que era um alfa de boa linhagem, logo seus sentidos eram naturalmente mais aguçados. — Ela te fez… algo para te… fazer pensar… assim?

— Para mim, não. Foi para o Changkyun. — Coçou a nuca. Quando viu que ele estava para perguntar, adiantou-se: — Ela insinuou que Jooheon deveria achar um pretendente digno para se envolver, e não qualquer ômega. E ainda disse que deveria honrar o nome da família Lee, mesmo que essa “boa ação” lhe trouxesse uma boa imagem, por assim dizer.

— Essa… mulher é… inacreditável! Changkyun já… não está tão… bem ultimamente, e ela… ainda faz questão de… pisar ainda mais… nele. Inferno! — Sentiu vontade de socar algo, mas suas limitações só lhe permitiram suspirar exasperado.

Minho observou a reação com certa curiosidade. Não imaginava que Hyunwoo fosse ficar assim pelo incidente, ainda mais pelos outros terem se afastado dele também devido a tudo o que aconteceu com Hoseok. Na sua cabeça, por conta do temperamento forte, ele iria guardar uma espécie de mágoa ou rancor diante de toda aquela implicação para cima de si, mas mostrou-se exatamente o contrário. Hyunwoo, mesmo sofrendo toda aquela discriminação, importava-se com eles, e não somente com Hoseok. Ele parecia estar disposto a tentar recuperar o que tinha com os outros cinco antes de toda a confusão.

— O que… aconteceu… com o filhote? — O tom preocupado do seu paciente fez surgir em seu rosto um meio sorriso.

— Ele ficou sentido com o que sua mãe disse e acabou chorando. Se Jooheon não estivesse ocupado o consolando, era bem capaz que se juntasse a Donghae, Siwon e Henry para tentar avançar nela.

— Eu teria… feito… a mesma… coisa. — Respirou fundo, tentando não se deixar levar pela raiva. — Preciso me… desculpar com… o filhote por isso.

Um breve momento de silêncio se instaurou no quarto até que Hyunwoo tornasse a falar.

— Quanto… tempo eu… dormi?

— Um dia inteiro praticamente. A cirurgia foi ontem, próximo ao final da tarde. Ouvi que você acordou por uns segundos, mas logo voltou a dormir por conta do efeito da anestesia. Você é um alfa de boa linhagem, então foi preciso usar uma quantidade maior que o comum de anestesia para operá-lo, por isso só acordou agora. — Explicou. Em seguida, limpou a garganta e ajeitou a postura. — Hoseok perguntou de você.

— Você… contou?

— Não. Não queria deixá-lo preocupado com mais uma situação estressante, ele ainda precisa de descanso. Eu não queria esconder dele, mas dei a desculpa de estar ocupado com os novos internos para mudar de assunto. Fiz certo?

— Não… sei. — Fechou os olhos, suspirando. — No seu… lugar, acho que… teria feito… o mesmo.

— Você se preocupa com ele de verdade, não é? — Minho sabia que estava entrando em um campo desconhecido ao tocar nesse assunto.

— Sim. — Ainda de olhos fechados, respondeu. — Sei que, pra… você, é difícil de… acreditar, mas sei… que errei, que… ele errou, que… nós dois erramos… em muitas… coisas. Eu… quero- eu… vou fazer… certo dessa… vez, quero fazer… Hoseok feliz.

— Eu acredito em você. — Minho atraiu total atenção de Hyunwoo. — Eu gosto de verdade dele, mas sei que ele nunca te esqueceu e não poderia me corresponder. Mesmo não sendo comigo, quero que ele seja feliz.

— Sr. Perfeito, senhoras… e senhores. — Debochou, mas, pela primeira vez, Minho riu. — Sem mais… ressentimentos?

— Me diga você. — Levantou uma sobrancelha.

— Eu continuo… sentindo ciúmes… de como você… age perto dele. — Minho sorriu amarelo. — Mas vocês… dois são amigos, você… o ajudou nos… últimos tempos, cuidou… dos meus filhotes… e até… de mim. — Ele precisou engolir todo seu orgulho e além de esforçar para poder dizer sem muitas pausas: — Obrigado, Minho.

— Não precisa agradecer. — Levantou-se da cadeira. — Eu preciso ir antes que acabem me chamando para trabalhar de novo.

— Ok.

— Vou avisar o meu amigo que te operou para vir te examinar e explicar tudo direito. — Hyunwoo assentiu.

— Minho. — Chamou antes que ele saísse. — Poderia… — umedeceu os lábios. — Avisar o Hoseok… o que aconteceu… por mim?

— Tem certeza disso?

— Tenho.

Minho saiu do cômodo, deixando-lhe o sozinho. Com o som do “bipe” do monitor, repassou todos os últimos eventos em sua cabeça. Precisava começar a adiantar logo com Junho os pormenores referentes ao testamento deixado por seu pai. Além disso, precisava cuidar da própria recuperação e dar um jeito na escola, já que havia perdido a maior parte das provas de final do semestre devido a entrada de Hoseok no hospital. E se tudo desse certo, seu plano de morar com ele se tornaria possível o quanto antes.

Apesar de saber que precisava repousar, Hyunwoo não conseguia pregar os olhos. Sua cabeça estava repleta de pensamentos corroborando ainda mais para ficar desperto. De tantas coisas que poderiam lhe acontecer, quem diria que um tumor seria o culpado por todos os mal-estares que estava sentindo ultimamente. Ao menos, segundo Minho, tudo ocorreu bem. De certa forma, aquele susto serviu para mostrar que não estava livre das mazelas apesar de ser um alfa de boa linhagem e ter uma resistência mais alta que os demais. No final, esse seu antigo pensamento soava bastante ingênuo agora.

A maçaneta se movendo fez seu olhar se desviar da parede para a porta. Não sabia quanto tempo havia se passado, aliás estava muito distraído para ligar para esse mero detalhe. Esperou que fosse o tal médico amigo de Minho a abrir a porta, mas quem realmente passou a cabeça pela fresta foi o próprio Minho.

— Te fizeram… voltar a… trabalhar? — Sorriu de canto.

—Não exatamente. — Minho riu baixo com o comentário. — Só vim trazer uma visita sua até o quarto.

Hyunwoo estreitou os olhos, imaginando quem seria. Jooheon? O amigo com certeza brigaria consigo se fosse ele. Ou era Changkyun? Não duvidava que ele teria convencido o namorado a vir consigo para lhe ver, o filhote era alguém doce, afinal. Mas e se fosse sua mãe? Ah, essa era a última pessoa que desejava ver no momento.

Minho abriu totalmente a porta e sinalizou para que a visita entrasse. Surpresa definiu o rosto de Hyunwoo ao ver quem veio lhe visitar. Era a primeira durante todo aquele tempo que Hoseok saiu do leito. Ele não fazia questão, o que corroborava para a atmosfera melancólica que pairava ao redor dele. Vê-lo de pé era como ter recebido a maior das recompensas.

A porta se fechou, e ficaram apenas Hyunwoo e Hoseok ali. A expressão preocupada estampava o rosto de Hoseok, que tinha o olhar marejado voltado para Hyunwoo. Ele se aproximou a passos lentos como se tivesse medo ou por seus músculos não estarem respondendo direito aos seus comandos por lhe ver assim. Os braços continuavam enfaixados e, agora, tinham duas tipoias simples para sustentá-los, uma medida provavelmente tomada para não haver uma nova abertura dos pontos. Todos esses aspectos contribuíram para o coração de Hyunwoo se apertar.

Quando Hoseok parou ao lado da cama, Hyunwoo arredou-se para o lado, fazendo um pedido silencioso para ele sentasse ali. E quando ele sentou, não foi trocada uma só palavra. Aquele momento em silêncio dizia muito do que a mera interpretação que os olhos poderiam fazer. Os olhares conectados um no outro transmitiam tantas coisas do que palavras, frases que diriam. Hyunwoo ergueu a mão com certa dificuldade e tocou o rosto macio dele, e as lágrimas começaram a escorrer dos olhos de Hoseok.

— Desculpe… por te… deixar… preocupado. — Sussurrou, limpando, em vão, as lágrimas do lado que sua mão estava encaixada.

— Eu achei que fosse te perder. — A voz embargada de Hoseok soou tão sofrida quanto quando ele mencionou os filhotes falecidos. — Eu tive tanto medo de te perder de verdade. — Soluçou.

— Shh, eu… estou aqui. Nós estamos… juntos, e eu… não vou… te deixar só… nunca mais. — Após algumas tentativas conseguiu fazê-lo deitar em peito, aconchegando-o da melhor forma que conseguia.

— Promete? — Ele ergueu o rosto úmido, parecendo mais frágil do que o de costume.

Com esforço, Hyunwoo inclinou o rosto e juntou seus lábios num selar simples e longo que os fez aproveitar de olhos fechados até o último segundo.

— Pro… meto. — Murmurou rente aos bonitos lábios fartos dele.

Um sorriso se despontou no rosto de Hoseok, que voltou a deitar no peito alheio. Ali, conseguia sentir-se completamente em paz.


Notas Finais


É isso, esperamos que tenham gostado, apesar eu achar que foi cap bem calminho e monótono.
Blue Moon está caminhando para seu fim, mas ainda tem coisa pra rolar, só digo isso. kkk <3

O que acharam desse ShowHo interagindo cheio de amorzinho? kkk
A interação deles em Dramarama tbm foi pesada, né nóm?
Que que foi aquele Hoseok no chuveiro? Quase eu tive um derrame diante de tanta beleza.
Hyungwon sendo senhor do tempo. e.e
na moral eu entendi vários nadas desse MV kkkk
Mas ficou loko com o refrão. É pra bater cabelo!

Enfim,será que nosso 3some vai se acertar?
E esse Jookyun que é sempre empatado por alguém?
Mas e se tivesse rolado mesmo com Chang desconfortável? Sei não, hein.

Aqui o link do tipo de cirurgia que o Shownu passou:
https://www.youtube.com/playlist?list=PLB086699D403FD256

Obs: Acho que já perceberam nossa paixão por essas coisas coisas né? A medicina é linda.
kkk Ah, se vc não curte muito sangue e cabeças abertas, não assista kkk só avisando.

Mais uma coisa, a ruiva vai começar a semana de provas dela, mas assim que ela sair, vai entrar de férias e vamos TENTAR postar tudo de forma regular, TENTAR.
é isso, beijos no core, até logo <3


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...