Septuagésimo Nono Concurso Nacional de Soletração, ano 2006.
Simon Laurent, um aluno do quarto ano de uma pequena escola com uma certa tradição no Concurso, havia conseguido chegar às finais e esperava sua vez de soletrar.
Vários competidores que ele vira em outros estados eram eliminados um por um, mas Simon estava confiante. Sua professora de Inglês, o diretor de sua escola e inclusive seus pais, garantiram que ele era melhor que as outras crianças, com certeza venceria.
Era sua última palavra, não tinha como ele errar agora.
— Simon Laurent, sua vez. — Disse o professor que estava apresentando o concurso.
O loiro deu sorriso levemente confiante, e foi até o púlpito. Não importava qual seria a palavra, ele com certeza não erraria.
— Soletre “compreensão” corretamente. — Disse uma das professoras que ficava nas mesinhas.
Era uma palavra difícil e ele não lembrava de tê-la estudado, mas Simon não se deixou abalar. Ele iria conseguir, não importando a palavra que fosse.
— Uso em uma frase? — Perguntou o loiro. Essa era a primeira pergunta que se deve fazer para o júri.
— “Tudo que nos irrita nos outros pode nos levar a uma melhor compreensão de nós mesmos.” — Disse uma outra professora, de forma distante.
Simon respirou fundo, e se aproximou do microfone no púlpito.
— C-O-M-P... —
O loiro começou, ficou mudo por alguns segundos. O resto da palavra era mais difícil.
— ...R-E-N...
Simon não viu, mas o rosto de seus pais e professores na plateia se contorceu e eles suspiraram. Ele já havia errado.
— Ç-Til-A-O
Ele terminou, e olhou para a plateia.
Todos estavam quietos e com uma expressão fechada, e Simon não estava entendendo o porquê.
— Incorreto. — Disse a professora, ainda no seu olhar distante.
A professora havia falado mais algumas coisas em relação ao seu erro, mas Simon não ficou para ouvir. No momento que foi anunciado que ele havia errado, ele começou a chorar e saiu correndo para fora do palco.
Simon sentia como se o mundo estivesse caindo a sua volta. Não era possível, não tinha como ele perder, ele era tão bom naquilo, ele tinha certeza que era bom naquilo!
A culpa deveria ser de sua professora que não o ensinara direito, é isso! Ela deveria tê-lo ensinado melhor. Ele era bom, não perderia se fosse ensinado direito, não é?
A culpa também poderia ser de seus pais, que não lhe deram todos momentos pra estudar sozinho, e ficaram lhe pedindo para arrumar seu quarto.
Não podia ser culpa de Simon, que era tão inteligente e esforçado!
Lágrimas de raiva e tristeza caíam de seus olhos quando ele parou e se sentou no primeiro banco que encontrou, cansado de tanto correr (era difícil fazer isso usando um chinelo com meias, no fim das contas). Ele só queria ir para o mais longe que conseguisse, e nunca mais voltar. Ele não queria ver seus pais, ou seus professores novamente.
O loiro secou as lágrimas com as mãos, e fez a menção de voltar a sua fuga, pois se ficasse muito tempo ali, iriam encontrá-lo.
Mas, antes que ele começasse a correr, um barulho bastante peculiar chegou aos seus ouvidos.
Simon ficou curioso e tentou ficar atento para ver de onde estava vindo, mas não foi necessário esperar muito tempo para descobrir.
O barulho vinha de um trem, o que era estranho, pois não havia nenhuma ferrovia por ali. No entanto, não era qualquer trem: Era o trem muito similar a um livro de fantasia que ele havia lido. Na história, o trem levava aventureiros a lugares inimagináveis...
Ele havia sido escolhido? Bem, Simon era com certeza o mais digno de ser reconhecido como um aventureiro. E isso apenas ficou mais claro quando a porta do trem abriu para ele.
Ainda com lágrimas nos olhos, o loiro não pensou duas vezes antes de entrar por aquela porta...
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.